Xamas na cidade

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  • 7/31/2019 Xamas na cidade

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    Xams na

    cidade

    JOS GUILHERME CANTOR MAGNANI

    JOS GUILHERMECANTOR MAGNANI professsor doDepartamento de

    Antropologia da FLCH-USP

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    Talvez possa soar como exotismo a meno

    de xams no contexto urbano, mas o fato que

    a presena de prticas conhecidas como xam-

    nicas j no causa estranheza no atual panorama

    da religiosidade contempornea, principalmente

    em grandes metrpoles como So Paulo. De

    certa maneira, algumas das formas no-conven-

    cionais de religiosidade que eclodiram nos anos

    90, com ampla repercusso na mdia, foram

    incorporadas e atualmente so oferecidas e pra-

    ticadas com regularidade. Como acontece com

    toda novidade, porm, aps um momento de

    auge no h como esquecer, naquela dcada,

    os adesivos que circulavam nos carros com os

    dizeres eu acredito em duendes , houve um

    refluxo, mas algumas modalidades subsistiram,

    como o caso do xamanismo que este texto se

    prope analisar.

    O CONTEXTO

    A identifi cao e descrio do xamanismo

    urbano na cidade de So Paulo deu-se por oca-

    sio de uma pesquisa mais ampla que desenvolvi

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    1 Escolhi o termo esotrico paracompor a expresso neo-esot-rico, destinada a englobar deforma mais direta todas essasprticas, servios e espaos, emvirtude de sua difuso e imediatoreconhecimento no meio em quecircula. Esse termo, contudo,apresenta tambm um sentidotcnico: no campo do estudodas religies e sistemas inici-ticos,esotricorefere-se quelesritos ou elementos doutrinriosreservados a membros admiti-dos a um crculo mais restrito,opondo-se, assim, a exotrico,a parte pblica do cerimonial.Para evitar ambigidades, usoento o prefixo neo com opropsito de estabelecer emarcar a diferena com relaoa esse sentido.

    sobre formas de religiosidade no-institu-

    cionais agrupadas sob o termo Nova Era

    ou neo-esoterismo, como prefiro deno-

    minar, e que foi concluda em 1999. Esse

    termo, neo-esoterismo, j foi apresentado

    em outros trabalhos (Magnani, 1999; 2000)

    para caracterizar o fenmeno das crenas,

    prticas e espaos de vivncia comumente

    denominados ora de msticos, ora de esot-

    ricos, ou de Nova Era e que incluem desde

    a oferta de livros de auto-ajuda, passando

    por uma ampla gama de orculos e sistemas

    divinatrios, rituais ocultistas, prticas cor-

    porais de inspirao oriental, at as terapias

    alternativas, juntamente com o consumo de

    produtos naturais (1).

    Geralmente visto sob o prisma de suafragmentao e de uma suposta ausncia

    de princpios ordenadores, esse fenmeno

    j foi considerado como uma espcie de

    religio ps-moderna. Desprovido de

    uma hierarquia centralizadora, de uma

    doutrina apresentada como revelada e um

    corpo unificado de rituais, aparecia como

    uma imensa bricolagem, resultado da livre

    escolha e juno (regida apenas pela criati-

    vidade de cada participante e encerrada nos

    limites de sua individualidade) de elementos

    tirados, aleatoriamente, das mais diversas

    tradies e filosofias.

    Deslocando, porm, o eixo da anlise do

    campo religioso para o da dinmica urbana

    pude verificar, nos trabalhos acima citados,

    que sob a multiplicidade das propostas,

    sistemas e experimentos havia, no entanto,

    princpios ordenadores na distribuio

    espacial pela cidade, na programao dos

    eventos conformando um calendrio, num

    discurso genrico que servia de fundamen-

    tao. A partir dessa recorrncia foi possvel

    identificar a presena de um estilo de vida

    mais amplo que inclua, como um dos fatoresde desenvolvimento das potencialidades

    pessoais e autoconhecimento, a busca por

    novas formas de espiritualidade e tambm

    de religiosidade.

    Servindo de ncora para todo esse

    processo est o que denominei de circuito

    neo-esotrico, rede no contgua no espao

    urbano que, por meio da articulao de es-

    paos para os cursos, terapias, treinamentos,

    rituais, venda de produtos e pontos de encon-tro, permite a circulao dos interessados

    pelos mais variados sistemas, conformando

    uma totalidade plenamente reconhecvel

    na paisagem da cidade acessvel, aberta,

    sem mecanismos exclusivistas ou sectrios

    de adeso.

    Considero que o xamanismo urbano

    no apenas parte integrante desse circuito

    como tambm constitui, ele prprio, uma

    espcie decircuito derivado em seu interior

    (Magnani, 1999, p. 68). No se trata, porm,

    de mais uma variante nesse ecltico caldei-

    ro: no contexto altamente cosmopolita e

    globalizado do universo neo-esotrico em

    que est inserido, representa uma impor-

    tante vertente de tal fenmeno, ao lado de

    prticas e sistemas religiosos enfeixados na

    ampla categoria de filosofias orientais,

    das correntes teosfico-espiritualistas, das

    tradies do ocultismo europeu e de alguns

    paradigmas do discurso ecolgico. prin-cipalmente por intermdio das verses do

    xamanismo urbano que alguns elementos

    das culturas de povos indgenas contem-

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    porneos e de seus ancestrais, principal-

    mente das Amricas ndios da plancies

    norte-americanas, do Mxico, da Amrica

    Central, da regio andina e da Amrica do

    Sul (2), so incorporados na agenda doneo-esoterismo.

    Isso transparece no caso brasileiro pois,

    na busca de linhagens como fundamen-

    to para sua prtica e vocao, muitos dos

    xams urbanos que fizeram sua iniciao

    nos Estados Unidos, Peru ou Mxico, ou

    que mantm vnculos com mestres nativos

    nesses pases, pretendem fundar uma linha

    de continuidade com tradies dos ndios

    brasileiros. Comeam, assim a partir de

    uma leitura bastante particular , a descobrir,

    valorizar e incorporar em suas atividadeselementos da pajelana, dos mitos, danas e

    farmacopia de muitos grupos indgenas (3),

    no sendo poucos os encontros e workshops

    com pajs, lderes e membros escolarizados

    desses grupos (4).

    AS ORIGENS

    De uma maneira geral, as fontes que

    fornecem a inspirao, base doutrinria e

    elementos rituais so bastante dspares: vo

    desde obras de autores consagrados (e de

    reas to distintas) como Mircea Eliade,

    Joseph Campbell e Carl Jung, entre outros,

    passando por tradies e cosmologias atri-

    budas a povos indgenas (atuais e passados),

    a culturas pr-histricas, a supostos cultos e

    religies j desaparecidos e em alguns casos

    incluem at mesmo formulaes de determi-

    nadas cincias como a biologia molecular,

    a gentica e a fsica quntica. Em todos os

    casos parte-se sempre do pressuposto de que

    se trata da busca de ligao com tradies

    imemoriais e do resgate de uma sabedoria

    perdida ou restrita a pequenos grupos que

    ainda manteriam um modo de vida em

    contato com a natureza.

    Mais concretamente pode-se remontar

    o incio da divulgao de prticas xam-nicas fora das comunidades tradicionais

    aos tempos da contracultura nos Estados

    Unidos e seu contexto de busca de estados

    no ordinrios de conscincia: nesse sentido

    cabe mencionar a influncia das obras de

    Carlos Castaeda, controvertido antrop-

    logo cujo aprendizado e experincias com

    plantas psicoativas, a partir de 1961, junto

    a Juan Matus, um xam yaqui de Sonora,

    Mxico, comearam a ser difundidos com

    o livro The Teachings of Don Juan (1968),

    o primeiro de uma srie (5).

    Outro autor que contribuiu para a di-

    vulgao e consolidao dessas prticas foi

    Michel Harner, que se dedicou pesquisa

    em moldes convencionais antes de voltar-se

    para a prtica e ensino de rituais xamnicos:

    pesquisador com trabalho etnogrfico e

    percurso acadmico reconhecidos no meio

    universitrio (6), posteriormente escreveuOCaminho do Xam: um Guia para Manter

    a Sade e Desenvolver o Poder de Curar

    (1980), de ampla difuso entre neo-xams

    ou xams urbanos, como so designados al-

    guns praticantes em determinados crculos,

    principalmente de camadas mdias.

    Em suma, o referente principal e mais

    imediato para o atual xamanismo urbano

    uma prtica complexa, ou melhor, um con-

    junto de prticas encontradas entre povosindgenas e populaes rurais, pr-histri-

    cas ou contemporneas, que recebe vrias

    denominaes (pajelana, curandeirismo,

    feitiaria, bruxaria, etc.) mas que terminou

    sendo divulgado por uma das denomina-

    es nativas (7). O que se prope, aqui,

    entender a lgica desse particular arranjo, o

    xamanismo urbano, em que o qualificativo

    xamnico muitas vezes mais evocati-

    vo do que realmente constitutivo de uma

    prtica clara e especificamente demarcada,

    procurando inicialmente mostrar sua inser-

    o processos de produo, circulao e

    consumo no contexto onde se manifesta

    de forma recorrente e significativa.

    De uma maneira geral, pode-se caracte-

    rizar o xamanismo nas sociedades indgenas

    como uma instituio direta e organica-

    mente ligada s suas cosmologias e que

    rene, cumulativa ou separadamente, vrios

    atributos, funes e domnios de atuao: acionada para explicitao e resoluo

    de conflitos interpessoais e intergrupais,

    fonte de conhecimentos, fundamenta pro-

    2 Sem falar nos povos do norte dasia, cujas prticas xamnicas base de obras clssicas sobreo tema, como as de Mircea Elia-de ([1951]1986) voltaram aganhar visibilidade.

    3 Alm de plantas de uso me-dicinal, alguns fazem uso daayahuasca, mantendo contatoscom diversos cultos ligados a ela(Santo Daime, Unio do Vege-tal, etc.); outros se utilizam dessaplanta de forma independente,em sesses e ritos privados.

    4 Kak Wer Jecup, que seapresenta como um txukarramecriado e nomeado entre osguaranis da aldeia de Krukutu,em So Paulo (Jecup, s/d., p.8), um desses personagens,entre outros, com trnsito emcentros xamnicos urbanos eespaos dedicados ao neo-esoterismo. Daniel MundurukuCosta, Siridiw Xavante, RenNhambiquara so citados nofolheto da Assessoria Peda-ggica Indgena e EcolgicaMekukradj, ento coordenadapor Daniel Munduruku poca

    da pesquisa.5 Ver, a respeito de Castaeda:

    Pasquarelli, 1995; Paz, 1974;Sharon, 1988, pp.182 e segs.;Marcus & Fischer, 1986, p.69.

    6 Sua etnografia citada na litera-tura antropolgica The Jivaro:People of the Sacred Waterfalls(1973).

    7 Deve-se s obras de MirceaEliade a popularizao doprprio termo xamanismo, ori-ginrio dos tungsios, povo daSibria Oriental, e que terminou

    sendo utilizado para designarprticas similares de qualqueroutra cultura ou perodo hist-rico; como se sabe, o termocomumente utilizado no Brasil,por exemplo, pajelana.

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    cessos de cura e serve de base para sistemas

    oraculares. Seu desempenho supe a mani-

    pulao de vrias tcnicas, instrumentos e

    objetos como os tambores rituais, a sweat

    lodge, o uso do tabaco, do chocalho, de

    ervas, danas, evocao de animais de

    poder e substncias psicoativas, conforme

    os diferentes povos e contextos culturais.

    Ademais, trata-se de uma especialidade:

    nem todos o so, nem querem ser; o esco-

    lhido (identificado por uma srie de marcas,

    indcios, etc.) passa por longos processos

    de aprendizado e iniciao.

    Concluindo, pode-se propor uma ca-

    racterizao do xamanismo a partir de um

    de seus traos: o xam o especialista em

    (re)estabelecer contato entre domniosseparados, como o profano e o sagrado, a

    sade e a doena, o conhecido e o desco-

    nhecido, o agressor e o ofendido, o natural

    e o sobrenatural, etc. Se fosse possvel

    buscar um paralelo com especialistas dessa

    natureza nas sociedades ocidentais, seria

    preciso desdobrar cada uma das funes,

    que seriam exercidas ora por sacerdotes, ora

    por professores, juzes, mdicos, terapeutas,

    cientistasEntretanto, o dito xamanismo urbano

    no uma atualizao, modernizao ou

    transposio, para a sociedade ocidental,

    dessas prticas indgenas. outra coisa,

    uma nova construo, em cujo processo

    de elaborao entram elementos e traos

    tanto do referencial indgena como de ou-

    tras vertentes.

    O XAMANISMO URBANO COMO

    NOVO SISTEMA

    O elemento central do xamanismo em

    suas variantes urbanas , sem dvida, aquele

    trao mais genrico, tambm estruturador

    dessa prtica tal como encontrada em

    populaes tradicionais e descrita nos re-

    latos etnogrficos, nas quais o xamanismoencontra-se intimamente articulado no

    apenas s vicissitudes da vida cotidiana,

    como tambm ancorado em suas cosmo-

    logias, como foi afirmado mais acima:

    trata-se de um conjunto de operaes que

    se propem estabelecer (ou restabelecer,

    quando rompida) a ligao entre domnios

    que por alguma razo encontram-se se-

    parados. No caso do xamanismo urbano,

    entretanto, tal trao assume caractersticas

    particulares, pois essa funo no neces-

    sariamente atribuda ou encomendada a

    um especialista: todos podem exerc-la.

    Essa particular leitura e apropriao deve-

    se a um dos fatores mais insistentemente

    apresentados como pressuposto da Nova

    Era: a experincia do sagrado do mbi-

    to do indivduo, cabendo-lhe perscrutar,

    continuamente, os diversos planos de sua

    vida interior, buscar a harmonia entre elese quando necessrio estabelecer os devidos

    contatos entre, por exemplo, seu eu bsico

    e seu eu superior.

    Essa nfase na reflexividade da experi-

    ncia pessoal e ntima de cada um faz da

    prtica xamnica uma das possibilidades

    sua disposio para tal busca: nesse sen-

    tido, todos podem ser xams, todos tm o

    potencial para empreender a viagem xa-

    mnica em busca de contatos com planossuperiores: basta aprender e pr em prtica

    determinadas tcnicas disponveis nos in-

    meros cursos,workshopse assessoramentos

    oferecidos no circuito dos espaos neo-eso-

    tricos (8). Dessa forma, o xamanismo

    entendido como uma espcie de patrimnio

    universal da humanidade, sabedoria ances-

    tral cultivada ao longo das geraes, s que

    mais bem preservada em comunidades que

    ainda mantm (segundo outra idia mestra

    da Nova Era) vnculos mais estreitos com

    a natureza, suas energias, seus guardies,

    seus espritos protetores, seus animais de

    poder. A propsito, vale como ilustrao a

    resenha feita no folheto de uma livraria do

    circuito neo-esotrico, Zipak, em So Paulo,

    do livroTar dos Animais Arutam Wakani,

    o Orculo Sagrado dos Xams:

    Houve um tempo onde estivemos recep-

    tivos aos ensinamentos transmitidos pelosanimais, mas isso foi-se distanciando e,

    aparentemente, deixou de existir. Na ver-

    dade, o elo de ligao dos humanos com

    8 Eu acredito que o xamanismo um estado do ser humano [].No fundo, todos ns somos xa-ms, afirmou Csar Scheurich,numa mesa-redonda em queparticiparam diversos xams,publicada na revista MundoMgico/Destino Especial, dedezembro de 1993.

    Reproduo

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    a sabedoria dos animais no desapareceu,

    apenas foi mantido em segredo pelos

    guardies espirituais das tribos, que so os

    Xams, Pajs, Curandeiros Este livro

    uma poderosa ferramenta para a retomada

    de contato com as energias primais; uma

    forma moderna de transitar em tradies to

    antigas quanto o Xamanismo e trazer todo

    o seu conhecimento para o nosso dia-a-dia,

    para a nossa busca constante de felicidade

    e de autocompreenso.

    Essa retomada do contato, entretanto,

    supe algumas concesses aos tempos mo-

    dernos e uma delas a rapidez: diferentemen-

    te dos longos perodos de iniciao previstos

    nas formas clssicas, aqui se oferece umproduto de maneira mais rpida, de acordo

    com o ritmo e necessidades da sociedade

    moderna. Michael Harner assim respondeu

    s crticas dirigidas contra seus cursos inten-

    sivos sobre xamanismo, logo aps o acidente

    nuclear de Chernobyl, em 1986:

    [] se as grandes naes do mundo tra-

    balham dia e noite em seus prprios cursos

    intensivos para nossa aniquilao mtua,no podemos permitir-nos ir mais devagar

    em nosso trabalho, que na direo oposta.

    O pausado ensinamento que foi possvel

    nas antigas culturas tribais deixou de ser

    apropriado. As foras de destruio nucle-

    ar e ecolgica avanam apressadamente e

    ns tambm devemos faz-lo. preciso

    despertar as pessoas, do contrrio podero

    dormir eternamente. E no apenas pre-

    ciso que despertem para o conhecimento

    da realidade ordinria, como tambm para

    uma compreenso pessoal, profundamen-

    te espiritual, da interconexo de tudo que

    existe. Trabalhemos unidos e to rpido

    quanto nos seja possvel (in Towsend,

    1993, pp. 120-1).

    Alberto Villoldo, por sua vez, na vivncia

    que conduziu em So Paulo em dezembro

    de 1997, foi mais enftico para ressaltar a

    rapidez na obteno de resultados: O queo budista zen busca encontrar durante trinta

    anos de meditao no mosteiro, o xam con-

    segue, em seis segundos, frente ao jaguar.

    Um dos recursos em busca da eficcia

    e rapidez a utilizao, no de uma ou

    outra tcnica, mas de vrias delas, cumu-

    lativamente, potencializando seu poder e

    invocando as tradies associadas a cada

    uma: dessa forma comum encontrar em

    espaos dedicados prtica do xamanismo

    urbano o uso simultneo do tambor, do

    chocalho, das danas, de plantas psicoativas,

    de mandalas, etc. Essa estratgia refor-

    ada com a invocao da autoridade das

    cincias ocidentais, com fartas citaes de

    termos tcnicos da neurolingstica, da fsica

    quntica, de terapias de distintas vertentes,

    etc. Uma das vindas de Rowland Barkley ao

    Instituto de Pesquisas Xamnicas Paz Geia,

    em So Paulo, assim foi anunciada no fo-lheto de divulgao: Xam australiano com

    especializao em reprogramao do DNA

    sutil, PNL, Terapia Hologrfica da Linha do

    Tempo, Terapia do Eu Superior (9).

    Uma ltima caracterstica do xamanismo

    urbano e que tambm o distingue das verses

    tradicionais, o principal objetivo a que se

    destina: trata-se da busca do aprimoramento

    do eu por meio de tcnicas que levam ao

    autoconhecimento, ao desenvolvimentodas potencialidades pessoais e autocura.

    Se essa preocupao com a dimenso do

    crescimento pessoal um ponto de inflexo

    com respeito s formas xamnicas tradicio-

    nais, tambm o com relao a algumas

    modalidades de xamanismo que ocorrem em

    segmentos populares tanto urbanos como

    em reas rurais, onde sistemas com elevado

    grau de sincretismo juntam elementos de

    culturas nativas e de religies de origem

    europia, do tipo descrito por Sharon (1988)

    e Taussig (1993) (10).

    Os males que se procura debelar e que

    constituem o motivo recorrente, nessas

    populaes, para procura dos servios de

    xams (ou, conforme os diferentes termos

    nativos, nem sempre coincidentes bruxos,

    feiticeiros, curandeiros, adivinhos) so

    em grande parte atribudos inveja (11).

    Dificuldades e infortnios nas relaes

    pessoais, afetivas e de trabalho corremao longo de redes envolvendo parentes,

    vizinhos, conhecidos, colegas, patres,

    empregados, autoridades: estar ciente dos

    9 Carminha Levy, diretora doInstituto, assim o recomenda-va, nesse mesmo folheto: APaz Gia, em sua misso depromover o ensino acadmicoe prtico do Xamanismo, maisuma vez traz ao Brasil o Xamaustraliano Rowland Barkley.Rowland um Mestre Xam queconcilia, com rara habilidade,o ensino de conhecimentosarcaicos e secretos da MeTerra com tcnicas de cura damodernidade. Seu trabalhoteraputico permite ao cliente-aluno a reconexo de partesferidas do Ego com a foracurativa do Self. Como mestree curador, Rowland privilegia

    a parte sadia do ser humano,sua capacidade criativa e oConhecimento conquistado.

    10 Provavelmente tambm ocaso do xam kaxinau Carlito,em Rio Branco, capital doAcre, referido por ManuelaCarneiro da Cunha (1999, p.230): [] misturando tcnicasemprestadas dos Jawanawae Katukina do Gregrio e doTarauak, combinadas comrituais tomados da umbanda,aprendidos em Belm e Ma-naus. Sua clientela formadapor sua prpria e grande famlia

    e por antigos seringueiros dosbairros mais pobres de RioBranco.

    11 Como tambm ocorre emterreiros de umbanda (Magnani,2002, p. 10).

    Reproduo

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    perigos, adiantar-se a alguma investida,

    contra-atacar e saber a quem atribuir as

    responsabilidades fundamental para

    haver-se em cenrios marcados por uma

    crnica escassez de recursos materiais e

    financeiros.

    No somente a terra, mas o gado, os s-

    tios e as fazendas tambm so atingidos

    pela feitiaria que se segue ao despertar

    da inveja. Pequenos negcios tambm to

    sujeitos a ela e, nesse sentido, vale a pena

    relatar que Santiago, durante pelo menos

    um ano, se viu s voltas com um homem

    que aguardou pacientemente seus servios,

    numa cidadezinha prxima. Era um negro

    do litoral do Pacfico, que ganhara algumdinheiro e comprara um bar. Agora queria

    ver seu estabelecimento comercial curado

    (Taussig, 1993, p. 328) (12).

    No o que ocorre nas verses do

    xamanismo urbano inserido no circuito

    neo-esotrico e difundido principalmente

    entre as camadas mdias: aqui, os perigos

    no advm dos outros, mas do interior de

    cada um, e a prosperidade que se almejadepender do conhecimento das prprias

    potencialidades ou da correo de distr-

    bios internos. O mal resultado no de

    desarmonias decorrentes da vida diria,

    de desequilbrios em redes sociais, mas de

    um nvel csmico, da falta de respeito com

    as demandas da Me-Terra, da desordem

    entre os vrios planos do universo e que

    se refletem em cada indivduo, enquanto

    microcosmo (13).

    Diferentemente do que acontece naquele

    xamanismo caboclo ou popular, falta aqui o

    terreno formado pelas redes de sociabilidade

    com suas oportunidades (e falta) de trabalho

    e sustento e por onde transcorre o cotidiano

    dessas populaes. As comunidades que

    se formam para o aprendizado e exerccio

    do xamanismo urbano so descoladas do

    dia-a-dia de cada um dos participantes;

    so efmeras, constitudas em funo de

    semelhanas de estilo de vida (e portantomais no plano do consumo) e no por um

    cotidiano que se compartilha e que consti-

    tui o palco onde se compete. Na realidade,

    tais comunidades subsistem ou apresentam

    alguma continuidade por estar ancoradas

    numa rede mais duradoura, a do circuito

    neo-esotrico.

    Essa perspectiva de auto-referncia,

    entretanto, no exclui a especializao: se

    algum sente que pode vir a exercer seus

    poderes de forma profissional, para a cura

    de outros, por exemplo, a sim torna-se

    necessrio seguir um processo de aprendi-

    zado mais sistemtico e, principalmente,

    estar filiado a alguma linhagem, a alguma

    ancestralidade especfica.

    O CIRCUITOToda essa elaborao, entretanto, no

    o resultado da inventividade de alguns

    visionrios, mas de uma intensa atividade

    desenvolvida ao longo de um circuito de

    trocas entre personagens membros de

    naes indgenas com trnsito na cidade e

    por ONGs, terapeutas alternativos, rema-

    nescentes do movimento da contracultura,

    participantes de outras associaes da NovaEra, que se movimentam no plano regio-

    nal, nacional, internacional (14).

    E a estreita interconexo entre as ati-

    vidades do xamanismo urbano e os canais

    proporcionados pelo circuito neo-esotrico

    que caracteriza no apenas sua insero

    nesse meio, como sua estruturao na forma

    de um subcircuito. A pesquisa de campo

    mostrou vrios planos de articulao: no

    interior de cada linha; entre as diferentes

    orientaes; entre estas e os espaos do

    circuito mais geral; e, finalmente, o trnsito

    de xams globalizados, xams nacionais e

    seus auxiliares, simpatizantes, clientes.

    possvel mesmo detectar um padro

    de conexes: os xams com residncia

    fora da cidade de So Paulo acionam, an-

    tes mesmo de sua chegada, toda uma rede

    composta por: a) um Centro Integrado ou

    Centro Especializado (15), que serve decontato, local de inscries, de palestrase celebrao de ritos; b) um stio rural nas

    imediaes, para as vivncias e workshops

    de fim de semana; c) a clnica/consultrio

    12 Douglas Sharon (1988) retomao papel da inveja e sua contra-partida, a bruxaria, no estudoque fez do xam Eduardo, emTrujillo, no norte peruano.

    13 Trata-se, evidentemente, de umacaracterizao geral, de umpadro explicativo: no querdizer que nesses sistemas asaflies no possam ser atri-budas a distrbios no planodas relaes pessoais, detrabalho, etc.

    14 Durante a pesquisa pude entrarem contato, sem contar os

    brasileiros e alm dos j citadosna nota 4, com Rowland Barkley(Austrlia); Foster Perry (Esta-dos Unidos), Alberto Villoldo(Cuba/Estados Unidos), NadiaStepanova (Sibria); MateoArevalo Mayna (Peru), RomnQutchua (Bolvia).Ver tambm,a propsito, a tese de doutoradode Wesley Arago de Moraes,Xams na Metrpole o Paje a Nova Era (2004), emque analisa o trnsito do pajSapaim Kamayur no Rio de

    Janeiro e Juiz de Fora.

    15 Os espaos do circuito neo-

    esotrico foram classificadosem cinco grupos: grupo I sociedades iniciticas: carac-terizam-se por apresentar umsistema doutrinrio com baseem princpios filosfico-religio-sos definidos, com um corpode rituais prprios e nveis deiniciao codificados; possuemgraus de hierarquia interna,permitindo distinguir ao menosentre o conjunto de seguidorese os mestres/dirigentes; grupoII centros integrados: soaqueles que renem e organi-zam, num mesmo espao, vriosservios e atividades como

    consultas atravs de algum dosdiferentes sistemas oraculares,terapias e tcnicas corporaisalternativas, palestras e cursosde formao, venda de produ-tos, vivncias coletivas; grupoIII centros especializados:incluem associaes, institutos,escolas, academias e clnicasvoltados para pesquisa e ensinode algum tema especfico, assimcomo treinamento e/ou aplica-o de algumas das tcnicascorrespondentes dana, artesmarciais, artes divinatrias,prticas teraputicas; grupoIV espaos individualizados:so aqueles onde se oferecemalgumas das mais conhecidasmodalidades de prticas neo-esotricas, como massoterapiae consultas oraculares, porexemplo, a cargo de uma ou

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    onde do atendimento individual; d) a rede

    de auxiliares e contatos que, de posse de

    uma mala direta e/ou telefones de possveis

    candidatos s diversas atividades, fazem a

    divulgao da agenda.

    Assim, no caso do xam Zezito Duarte,

    que vem do Stio Riachinho, na Chapada

    Diamantina (BA), a So Paulo, as atividades

    e os pontos do circuito que acionou em sua

    estada de agosto de 1997 foram:

    a) vivncia: A Dana Interior, dias

    15, 16 e 17. No Stio Anhang, municpio

    de Cotia (regio metropolitana de So

    Paulo);

    b) workshop: A Dana Interior, dia

    19, na clnica da Rua dos Macunis, bairroAlto de Pinheiros;

    c) atividade: Contando histrias, dia

    20, na Narayana Escola de Yoga, bairro

    Higienpolis;

    d) mesa-redonda: Super Homem: o

    mito, dia 20, na Livraria Spiro, bairro

    dos Jardins;

    e) mesa-redonda: Cura, dia 22, no

    Espao Emanez, bairro de Perdizes;

    f) workshop: Mandala Cristalina: umaroda de cura, dia 23, na sede da Fraternida-

    de Pax Universal, bairro de Santana;

    g) workshop: Mandala Cristalina: uma

    roda de cura, dia 24, na Chcara Potira,

    Itapecerica da Serra (regio metropolitana

    de So Paulo).

    Jorge Menezes, tambm de fora de So

    Paulo de Porto Alegre , circulou pela

    seguinte rede:

    a) Fraternidade Pax Universal, no bairro

    de Santana (palestra e primeiro contato);

    b) Consultrio Dentrio e de Terapia

    Floral, Quiropatia (contato, ponto de reu-

    nio, atendimentos);

    c) Parque gua Branca, bairro de Per-

    dizes (palestra);

    d) Espao Universalista Templo Dhar-

    ma Alpes da Cantareira, em Mairipor,

    SP (palestra e vivncia);e) Stio Refgio dos ndios, Km 52

    da Rodovia Ferno Dias (para vivncia e

    workshop).

    Note-se a utilizao de um ponto recor-

    rente no circuito, utilizada tambm pelo

    xam anterior: a Fraternidade Pax Universal

    que, alis, nada tem de xamnico trata-se

    de uma instituio classificada no grupo I

    sociedades iniciticas (16).

    Mas no s a insero nesse circuito que

    mostra a integrao do xamanismo urbano

    no universo do neo-esoterismo. Apesar do

    ecletismo de cada um dos arranjos, resultado

    das leituras e experincias individuais de seus

    mentores, possvel distinguir a presena de

    uma matriz bsica, subjacente s principais

    modalidades descritas e a algumas de suas

    derivaes. E essa matriz no seno a que

    d o suporte discursivo mais geral ao prprio

    universo do neo-esoterismo, a despeito dasvariantes de cada sistema. Lembrando o

    tringulo que organiza as diferentes verses

    dos discursos neo-ess:

    Numa ponta est o Indivduo, em suas

    diversas denominaes e graus de profun-

    didade eu interior/eu superior, lenda

    pessoal, self, inner spirituality, self-spiri-

    tuality, inner voice,na outra, o plo de

    onde emanou, do qual faz parte e para ondetende esse indivduo, ou seja a Totalidade

    (Transcendncia, Absoluto, Cosmos, o

    Princpio Superior, a Natureza, conforme

    cada verso). A histria da humanidade no

    seria seno a longa caminhada, matizada

    pelas idiossincrasias de cada cultura para

    restabelecer o contato pleno do mltiplo

    com o uno e isto s possvel porque

    aquele sempre foi parte deste ltimo. Tendo

    em vista, porm, o carter societrio do

    modo de vida do ser humano, entre Indi-

    vduo e Totalidade medeia um tertium, a

    Comunidade depositria e guardi decada tradio particular e dos meios que

    possibilitam a seus membros, em cada con-

    texto histrico, alcanarem sua verdadeira

    natureza. O modelo ideal, portanto, supe

    o indivduo, tomado em sua integralidade

    (corpo/mente/esprito), que pertence a e

    se aperfeioa no seio de uma comunidade

    considerada harmnica, ambos imersos eintegrados numa realidade mais inclusiva e

    total, da qual preciso tomar conscincia

    (Magnani, 1999, p. 93).

    duas pessoas, mas sem umaidentificao particular ouproposta mais geral; grupo V pontos-de-venda: em virtudede seu carter claramente co-mercial so os que mantm como universo do neo-esoterismouma relao mais instrumentale pragmtica que doutrinria. constitudo por livrarias,farmcias homeopticas e deervas, agncias de turismoecoesotrico e produtoras deeventos, feiras e entrepostosde produtos orgnicos, lojasde comercializao de instru-mentos e insumos de trabalho,imagens, incensos, talisms,fitas de msica new age, etc.Para maiores detalhes, cf.Magnani, 1999.

    16 Mais recentemente, em marode 2005, a Fraternidade PaxUniversal patrocinou e abrigou,em sua sede no bairro paulista-no de Santana, o I Encontro deXamanismo do Brasil.

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    As referncias discursivas colhidas em

    campo nas vivncias e workshops, pales-

    tras, entrevistas, eventos , ainda que frag-

    mentrias, acoplam-se a esse modelo, com

    as devidas nuanas. Assim, por exemplo,

    no plo da Totalidade, o que aparece com

    mais freqncia nas propostas xamnicas

    a Natureza e suas variantes como a Me-

    terra, o Planeta, o que est em consonncia

    com a perspectiva imanentista corrente no

    universo neo-esotrico, segundo a qual

    a idia de um deus pessoal substituda

    por uma noo abrangente e divinizada da

    prpria natureza.

    O plo da Comunidade ocupado de

    vrias formas: em primeiro lugar pelas

    prprias populaes indgenas, s vezescomo uma vaga referncia, mas tambm

    de forma realista, por meio da presena

    de algum de seus membros nos encontros

    e sesses do xamanismo urbano, o que

    sentido como uma garantia de autenticidade

    para essas reunies. Em segundo lugar, em

    virtude da trajetria dos facilitadores das

    sesses que passaram por algum processo

    de iniciao conduzida por um xam de

    determinada linha e que eles consideramseu mestre, garantindo a legitimidade da

    linhagem.

    Outro tipo de comunidade nesse vrtice

    do tringulo constitudo pelos prprios

    participantes dos encontros, membros de

    uma comunidade que se dissolve ao trmino

    de cada vivncia podendo ou no voltar a

    reunir-se, no todo ou em parte, no prximo

    evento; nesse sentido corresponde idia

    de comunidade que caracteriza a dinmica

    do circuito neo-esotrico em geral: efmera,

    transitria, aberta.

    O plo do Indivduo que nos estudos

    voltados para o fenmeno da Nova Era, da

    espiritualidade contempornea e das prti-

    cas alternativas, apontado como aquela

    dimenso em que a modernidade deixou

    suas marcas sob as formas da psicologiza-

    o, reflexividade, autonomia (17)

    especialmente enfatizado nos crculos do

    xamanismo urbano. Como foi mostrado, acapacidade xamnica atributo de cada um:

    os ritos, as tcnicas e os exerccios desenvol-

    vidos nas diferentes linhas so considerados

    meios suficientes e capazes de modificar a

    direo dos fluxos internos, de transmutar

    o peso de eventos pessoais traumticos, de

    redirecionar pulses negativas, de atingir os

    recnditos da subjetividade.

    CONCLUSO: A LGICA

    Como foi mostrado, o xamanismo urba-

    no tem como principal referncia e inspira-

    o as prticas xamnicas das sociedades

    indgenas e vai buscar sua fundamentao

    no apenas nas cosmologias desses povos

    como tambm na mitologia clssica e em

    obras acadmicas ou de divulgao sobreesses temas. No se trata, contudo, de uma

    suposta transposio modernizada de tais

    prticas para o ambiente cosmopolita das

    grandes cidades: o xamanismo urbano

    um sistema em cuja elaborao entram

    outros elementos constitutivos, uma

    nova proposta que persegue seus prprios

    objetivos e tem como base de sustentao

    outros pressupostos. E, sobretudo, regido

    por outra lgica. No se pode consideraro xamanismo urbano como uma espcie

    de contrafao das modalidades estudadas

    pelos antroplogos s voltas com socieda-

    des tradicionais, indgenas ou camponesas

    (essas sim, autnticas), e mesmo com

    segmentos populares urbanos.

    O xamanismo urbano se insere na

    lgica e circuito mais geral da Nova Era

    e seu pblico constitudo preponderan-

    temente pelas camadas mdias urbanas

    escolarizadas, afeitas ao consumo dos

    bens e servios (livros, objetos de culto, de

    decorao, cursos, atendimentos, formas de

    lazer, etc.) oferecidos ao longo do circuito

    neo-esotrico.

    O xamanismo urbano constitui, por con-

    seguinte, mais um arranjo no interior desse

    circuito e, a exemplo de outros sistemas

    que o integram, construdo por meio da

    agregao de elementos das mais diversas

    origens, contextos culturais e perodoshistricos. Os resultados desses construc-

    tos no so homogneos: alguns so mais

    elaborados e coerentes, em razo do maior

    17 Ver Russo, 1993; Heelas,1996; DAndrea, 1998; Ca-rozzi, 1999; Amaral, 1999.

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    grau de compatibilidade entre os elementos

    formadores; outros no vo alm da juno

    de fragmentos nem sempre compatveis

    entre si o que no impede, entretanto, que

    se apresentem como representantes desta ou

    daquela tradio, tida como ancestral.

    Seja como for, as pessoas que freqen-tam os espaos dedicados a essas prticas,

    que assistem s palestras, cursos e confe-

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    rncias oferecidos, comparecem aos rituais,

    concorrem s vivncias e buscam as sesses

    de atendimento, esto em busca de mais

    uma alternativa para a expresso e cultivo

    da dimenso da espiritualidade, procura

    essa que est em consonncia com as ex-

    pectativas e representaes contemporneassobre o exerccio da religiosidade, em seu

    sentido mais amplo.