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766 TERRA VERMELHA, BRAÇOS NEGROS: TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS DA POPULAÇÃO ESCRAVA NO ESPAÇO ORIENTAL MISSIONEIRO (VILA DE SÃO BORJA, RIO GRANDE DE SÃO PEDRO, 1828 – 1859) LEANDRO GOYA FONTELLA Mestrando pelo PPGH/UFRGS [email protected] Resumo: A integração do espaço oriental missioneiro aos domínios luso-brasileiros ocorreu em duas etapas: a primeira (1801 a 1828) foi marcada pela exploração predatória do gado e do próprio espaço; e a segunda, que vai de 1828 até meados do Oitocentos, caracterizou-se pela consolidação da propriedade privada dos rebanhos e da terra, e pelo estabelecimento da agropecuária comercial (MENZ, 2001). Ao longo deste processo, estabeleceu-se uma matriz produtiva agropastoril escravista, assentada na escravidão de africanos e seus descendentes. O estudo em foco recai sobre a Vila de São Borja. O exame quantitativo-serial das informações obtidas nos assentos de batismos da Matriz da São Francisco de Borja e nos inventários post-mortem abertos nesta Vila expressa que: o batizado de cativos foi constante ao longo do período considerado; a população escrava foi predominantemente crioula; isto, por sua vez, sugere que o crescimento vegetativo da população cativa foi o principal fator de manutenção de um núcleo populacional escravo naquela localidade. Palavras-chave: população escrava; registros de batismos; inventários post-mortem. INTRODUÇÃO São Borja, vens de longe, de mil seiscentos e oitenta e dois, do guarani, do jesuíta, do espanhol, e do domínio português, depois. [...] Minha São Borja, terra vermelha como um coração, [...] 1 A terra vermelha sobre a qual se passa a trajetória histórica das sociedades que até então habitaram (e habitam) a região que desde o século XVII se denominou de São Borja já foi inúmeras vezes exaltada em prosa e verso. Até mesmo no hino municipal ela é reverenciada, assim como, alguns grupos sociais que fizeram parte da sua história. Contudo, muitos dos homens e mulheres que viveram e trabalharam sobre este rubro solo não tiveram a mesma fortuna de receber algum tipo de lembrança histórica. Dentre estes, está à significativa quantidade de escravos de procedência ou ascendência africana que 1 Trechos do Hino do município de São Borja (RS); letra de Apparício Silva Rillo. [grifos meus]

XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS - inTrodução...da população escrava no espaço orienTal missioneiro (vila de são borja, rio grande de são pedro, 1828 – 1859)

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Terra vermelha, braços negros: Tendências demográficas da população escrava no espaço orienTal missioneiro (vila

de são borja, rio grande de são pedro, 1828 – 1859)

Leandro Goya FonteLLa

Mestrando pelo PPGH/[email protected]

Resumo: A integração do espaço oriental missioneiro aos domínios luso-brasileiros ocorreu em duas etapas: a primeira (1801 a 1828) foi marcada pela exploração predatória do gado e do próprio espaço; e a segunda, que vai de 1828 até meados do Oitocentos, caracterizou-se pela consolidação da propriedade privada dos rebanhos e da terra, e pelo estabelecimento da agropecuária comercial (MENZ, 2001). Ao longo deste processo, estabeleceu-se uma matriz produtiva agropastoril escravista, assentada na escravidão de africanos e seus descendentes. O estudo em foco recai sobre a Vila de São Borja. O exame quantitativo-serial das informações obtidas nos assentos de batismos da Matriz da São Francisco de Borja e nos inventários post-mortem abertos nesta Vila expressa que: o batizado de cativos foi constante ao longo do período considerado; a população escrava foi predominantemente crioula; isto, por sua vez, sugere que o crescimento vegetativo da população cativa foi o principal fator de manutenção de um núcleo populacional escravo naquela localidade.

Palavras-chave: população escrava; registros de batismos; inventários post-mortem.

inTrodução

São Borja, vens de longe,de mil seiscentos e oitenta e dois,

do guarani, do jesuíta, do espanhol,e do domínio português, depois.

[...]Minha São Borja,

terra vermelha como um coração,[...]1

A terra vermelha sobre a qual se passa a trajetória histórica das sociedades que até então habitaram (e habitam) a região que desde o século XVII se denominou de São Borja já foi inúmeras vezes exaltada em prosa e verso. Até mesmo no hino municipal ela é reverenciada, assim como, alguns grupos sociais que fizeram parte da sua história. Contudo, muitos dos homens e mulheres que viveram e trabalharam sobre este rubro solo não tiveram a mesma fortuna de receber algum tipo de lembrança histórica. Dentre estes, está à significativa quantidade de escravos de procedência ou ascendência africana que

1 Trechos do Hino do município de São Borja (RS); letra de Apparício Silva Rillo. [grifos meus]

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viveram nestas paragens ao longo do século XIX, e que, até então, obtiveram pouquíssima visibilidade histórica, seja entre o público leigo, seja entre a própria comunidade acadêmica. Mas o fato é que, nesta terra vermelha foi derramado muito suor de braços negros.

Neste pequeno texto, através da conjugação dos dados oriundos de registros de batismos e inventários post-mortem, procuramos organizar um perfil social com algumas características demográficas sobre a população cativa da Vila de São Borja entre os anos de 1828 e 1859.

Segundo Sheila Faria (1998), se referindo à sociedade colonial brasileira, o batismo era “amplamente disseminado por toda a população” (p. 304). O mesmo pode ser considerado para o período imperial, em que a Igreja Católica ainda dominava o registro da vida dos sujeitos históricos. No tocante aos cativos, conforme Schwartz (2001),

considerava-se responsabilidade de todos os senhores o batismo dos escravos, já que uma das principais justificativas da escravatura era a conversão dos pagãos e a salvação das almas. A principal legislação do império Português, as Ordenações Filipinas (1603), exigiam que todos os senhores batizassem seus escravos africanos com mais de dez anos de idade no máximo em seis meses, e os que tivessem menos de dez anos em um mês após a compra, caso contrário a Coroa os confiscaria. Os filhos de escravas nascidos em terras do rei de Portugal eram batizados na mesma época e da mesma maneira que as outras crianças recebiam o sacramento. Deixar de batizá-los resultaria no confisco pela Coroa (p. 268) [grifos do autor].

Como a burocracia eclesiástica fazia parta da própria estrutura administrativa do Estado, os livros paroquiais assumiam caráter de registro religioso e civil. Percebidos desta forma, os assentos de batismos se constituem em documentos massivos, isto é, que abrangiam a grande maioria da sociedade, e, portanto, fontes primárias privilegiadas para a composição de estudos de demografia história, já que todas as camadas do tecido social estão ali fartamente representadas.

A utilização dos registros de batismos, matrimônio e óbito foi desenvolvida com a demografia histórica, basicamente francesa, na década de 1950. Conforme Sheila Faria (1997), “foi com um demógrafo, Louis Henry, no Institut National d’Études Démographiques (INED), em Paris, junto com o historiador Michel Fleury, que, em 1956, se consubstanciou, inicialmente, uma metodologia específica para o tratamento das fontes paroquiais” (p. 244). No Brasil foi Maria Luiza Marcilio, na década de 1970, que utilizando-se de assentos paroquiais de batizado, casamento e óbito, aplicou o método de Henry, com adaptações a realidade brasileira. Para o século XIX as fontes existem, em diversas localidades, em estado de conservação relativamente bom, seriadas e acessíveis ao pesquisador (FARIA, 1997).2

2 O sítio www.familysearch.org, mantido pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que disponibiliza microfilmes de registros paroquiais e civis de diversas partes dos mundo.

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No caso específico do processo histórico colonial e imperial do Rio Grande de São Pedro, nos últimos anos, alguns autores vêm utilizando os registros eclesiásticos para investigar sobre temas diversos, mas conectados, como: a formação de hierarquias sociais, o desenvolvimento de estratégias sociais e familiares por meio do parentesco e das redes de sociabilidade.3 Estas fontes também tem dado suporte para estudos sobre o sistema escravista nas paragens sul rio-grandenses.4 Por meio delas, os estudiosos sobre o escravismo no Rio Grande de São Pedro tem conseguido entre outras coisas: mapear redes de sociabilidade entre escravos e entre estes e outros grupos sociais, perceber a presença de famílias escravas nucleares e extensas, examinar a constituição de hierarquias interna as escravarias e, também, apreender tendências demográficas da população cativa.

Os inventários post-mortem, por sua vez, devido à riqueza dos dados que fornecem, têm sido amplamente utilizados pelos pesquisadores da história social da escravidão. Através deles é possível caracterizar as principais atividades econômicas da região estudada, assim como averiguar a estrutura de posse escrava – tamanhos dos plantéis, e em quais atividades os escravos eram mais empregados. No entanto, é importante levar em consideração que os inventários trazem como limite o fato de que tendem a sobre representar os estratos mais favorecidos da sociedade, já que os parcos bens dos pouco aquinhoados só muito raramente eram inventariados.

Enfim, o texto divide-se em duas seções. Na primeira, localizamos o espaço e contextualizamos a trajetória político-administrativa da localidade que serve de sítio de pesquisa, além disso, buscamos em documentações diversas dados censitários para esboçarmos uma primeira aproximação com o universo demográfico da Vila de São Borja. Na segunda seção, lançamos mão das informações de cunho demográficas dos assentos de batismos e inventários post-mortem para elaborarmos um quadro demográfico da população escrava da dita Vila. Por fim, reservamos um pequeno espaço para as considerações finais.

1 de província de missões a vila de são borja

1.1 TrajeTória políTico-adminisTraTiva

A anexação do espaço oriental missioneiro em 1801 representou mais um episódio do processo de definição dos limites fronteiriços na região platina, o qual vinha ocorrendo, ao menos, desde meados do século XVIII (GARCIA, 2007), e se desenrolaria ainda pelas

3 HAMAISTER (2006), KÜHN (2006) SIRTORI (2008), FARINATTI (2010; 2011a; 2011b).4 SANTOS (2009), PETIZ (2009), PERUSSATO (2010), ZETTEL (2011).

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três primeiras décadas do século XIX. Segundo Maximiliano Mac Menz,

o espaço oriental missioneiro compreendia boa parte da atual fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Era formado pela província de Missões e pelos campos ao sul do Ibicuí. A primeira correspondia, segundo Silva (1916), ao território limitado pela barra do Ibirapuitã, seguindo o Ibicuí em direção leste até a confluência com o Toropy e por este até a Serra Geral. Em 1834, foi submetida ao recém-criado município de São Borja. Já ao sul do Ibicuí, limitados a oeste pelo Ibirapuitã e a leste pelos rios Vacacaí e Camaquã, estavam os preciosos campos ocupados pelas grandes estâncias missioneiras que mais tarde fizeram parte do município de Alegrete (2002, p. 160) (nota 1),

Já a integração deste espaço à economia sul rio-grandense ocorreu em duas etapas:

a primeira que vai, grosso modo, de 1801 até 1828 marcada por uma exploração predatória do gado e do próprio espaço, em que as diversas campanhas militares que se seguiram ao colapso da monarquia espanhola em 1808 [...] serviam de pretexto para saques de parte a parte [...]. Já a segunda, que iniciou em 1828 e vai até a metade do século XIX, caracteriza-se por um desenvolvimento mais seguro da propriedade privada dos rebanhos e da terra e pelo estabelecimento e fixação da agropecuária comercial privada (MENZ, 2001, p. 62).

A conquista desta região aos domínios luso-brasileiros, e sua manutenção, engendraram significativas transformações naquele espaço, dentre elas destacou-se o estabelecimento de uma matriz produtiva agropastoril escravista, assentada na escravidão de africanos e seus descendentes.

Ao nos referirmos ao espaço oriental missioneiro estamos fazendo menção específica aos territórios identificados no mapa abaixo com os números “1”, “2” e “3”. O território “1”, denominado como Província de Missões, a partir de 1834, veio, grosso modo, a formar a Vila de São Borja, espaço de interesse específico desta investigação. Por sua vez, os territórios “2” e “3”, conhecidos como Campos ao sul do Ibicuí, onde selocalizavam boa parte das estâncias dos Sete Povos Orientais do Rio Uruguai5 e também de outros povos do departamento de Yapeyú,6 após 1831 viriam a constituir o espaço da

5 Os Sete Povos das Missões Jesuíticas Guaranis Orientais do Rio Uruguai foram: São Francisco de Bor-ja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio. Eles fizeram parte de um conjunto maior de trinta outras reduções fundadas por jesuítas no Paraguai, entre os séculos XVII e XVIII, e não representavam uma divisão administrativa seja na administração jesuítica, seja na espanhola. Essas trinta reduções estavam administrativamente submetidas a Buenos Aires, e uma de suas funções estratégicas era de guarnecer as fronteiras do Império espanhol na América frente às investidas expansionistas dos portugueses. Essa barreira estabelecida pelos trinta povos missioneiros tinha como principal componente os guaranis reduzidos. Ao ser conquistada, em 1801, pelos luso-brasileiros, a partir de uma aliança com os guaranis reduzidos, a região dos Sete Povos das Missões passou a representar uma divisão administrativa, porém sob o nome Província de Missões. Entretanto, embora a região tenha passado a ser chamada de província, ela foi diretamente submetida ao governo da Capitania do Rio Grande de São Pedro (1807), a qual após a emancipação política da América portuguesa passou a ser uma das Províncias do Império do Brasil. Ver: MENZ (2001); GARCIA (2007).6 O pueblo de Yapeyú localizava-se a margem direita do Rio Uruguai em território argentino, um pouco

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Vila de Alegrete.

Mapa “1” Localização aproximada do espaço oriental missioneiro

Fonte: Adaptação de apresentado por MENZ (2001).

De acordo com Elisa Garcia (2007), o significado da conquista do espaço oriental missioneiro ainda não foi satisfatoriamente dimensionado. A autora argumenta que com a anexação deste vasto território, o Rio Grande de São Pedro aproximadamente dobrou a sua extensão territorial a época, definindo, grosso modo, suas atuais dimensões. Garcia coloca ainda que tão importante quanto à extensão territorial dos domínios luso-brasileiros foi o acréscimo populacional com a incorporação dos guaranis missioneiros ao Império português. Estima-se que cerca de 14.000 guaranis residiam no espaço oriental missioneiro num período em que a população sul rio-grandense girava em torno de 50.000 habitantes.7 Ou seja, além de praticamente dobrar o território do Rio Grande de São Pedro, a Coroa portuguesa aumentava significativamente a sua quantidade de súditos – em torno de 28% –, ao mesmo tempo em que diminuía o número de vassalos do Rei de Espanha, numa região limítrofe onde as fronteiras estavam constantemente sendo disputadas e redefinidas. No entanto, talvez o principal ganho da conquista do território missioneiro tenha sido o acesso irrestrito ao patrimônio dos guaranis, isto é, a expressiva quantidade de gado existente nas estâncias ali localizadas. Quando os luso-brasileiros incorporaram

ao sul da barra do Rio Ibicuí. No Mapa “2”, exposto mais adiante, indicamos as localização aproximada deste pueblo, assim como de outras localidades vizinhas da região em foco, e que são importantes para a inteligibilidade da pesquisa, para as comparações e para o diálogo com a literatura já existente.7 Sobre os dados sobre os guaranis missioneiros (SALDANHA apud GARCIA, 2007, p. 168); sobre os dados referentes aos habitantes do Rio Grande de São Pedro (FERNANDES apud GARCIA, 2007, p. 169).

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a região missioneira, se apossaram não apenas das estâncias do departamento de São Miguel, mas também das do departamento de Yapeyú que estavam situadas na margem oriental do rio Uruguai.8

Passamos a partir daqui a abordar especificamente a organização espacial e administrativa da região denominada pelo mapa “1” de Província de Missões, a qual, como já colocamos, em 1834 passou a ser designada de Vila de São Borja, tendo como sede administrativa o povoado homônimo e compondo a Província do Rio Grande de São Pedro.9 Contudo, as complexas divisões jurídicas, eclesiásticas e políticas do processo administrativo desta província torna difícil precisar a situação institucional da região missioneira, que muitas vezes foi bastante confusa, ao longo da primeira metade do século XIX. Assim, apresentaremos de forma sucinta a trajetória político-administrativa desta região, para isso, recorremos principalmente ao estudo realizado por João Rodolpho Amaral Flôres (1996).

Em primeiro lugar, conforme Flôres (1996), os documentos emitidos pela administração militar luso-brasileira a partir de 1801 deixam claro que aquela região recém anexada aos domínios luso-brasileiros era tida pelos contemporâneos como uma província à parte, situação que, como já referido, permaneceu até meados do século XIX. O próprio Rio Grande de São Pedro foi alçado à condição de Capitania Geral somente no ano de 1807, sendo que, apenas em 1809, por meio de uma Provisão Imperial, foram estabelecidos seus quatro primeiros municípios, Rio Grande, Santo Antônio da Patrulha, Porto Alegre e Rio Pardo. Mesmo não sendo visto como parte do território do Rio Grande de São Pedro, o território da Província de Missões fora “anexado ao município de Porto Alegre e assim conservou-se até o ano de 1809. Nesse ano, por provisão do Desembargo do Paço de 7 de outubro, foi criado o termo de Rio Pardo, passando a pertencer-lhe todo aquele território” (Silveira, [1909] 1979, p. 104). Mesmo que a subordinação administrativa da região missioneira à Vila do Rio Pardo pareça não ter sido realizada praticamente como coloca Flôres (1996), haja vista que, “nos documentos analisados, [...], como no caso das atas da Câmara da Vila São Borja e no livro de registros da sua Igreja Matriz, há referências à ‘Província das Missões’ como unidade autônoma, não sendo considerada na dependência administrativa ao município de Rio Pardo” (p. 92-93) [grifos do autor], esta situação só foi oficialmente alterada com a criação da Vila de São Borja em 1834. Segundo Flôres,

8 Embora os Sete Povos sejam tratados de forma genérica como uma unidade, não constituíam um conjunto administrativo na época da conquista. Enquanto o Povo de São Francisco de Borja compunha o departamento de Yapeyú, os outros seis pertenciam ao departamento de São Miguel.9 É importante ressaltar que embora depois de 1834 a Província de Missões tenha oficialmente deixado de existir, para dar lugar a Vila de São Borja, foi recorrente entre os contemporâneos se referirem aquela região como em Missões e Província de Missões. Até a década de 1850 não são raros os documentos em que encontramos as referências a estas nomenclaturas.

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com a criação dessa Vila, deixava de existir oficialmente as ‘Missões’, designada até aquela época como ‘província’. A partir desta data, os povoados de São Luís, Itaqui, Santiago, São Francisco de Assis, entre outros, ficaram sob a jurisdição da Vila de São Borja, sendo designados nos registros oficiais como ‘termos’ do novo município (1996, p. 94) [grifos do autor].

No mapa “2” exposto na sequência, podemos ter uma noção mais clara de como ficou disposta a divisão municipal da província do Rio Grande de São Pedro entre 1833 a 1859. Sob a jurisdição da Vila de São Borja ficou praticamente todo o espaço anteriormente denominado como Província de Missões. Já o território compreendido sob a denominação de Campos ao Sul do Ibicuí acabaram quase que todo compondo a partir de 1831 a Vila de Alegrete.

Mapa “2”Divisão municipal da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul (1833 – 1859)

Fonte: Adaptação de Mapas Temáticos do Rio Grande do Sul: Divisão Municipal – 1841; Miron Zaions, 1979.

Das localidades expostas pelo mapa “2”, precisamos destacar o distrito de São

Patrício de Itaqui. Este distrito esteve vinculado a Vila de São Francisco de Borja até o ano de 1859 quando efetivamente foi elevado a condição de Vila (FOLETTO, 2003). Embora boa parte dos documentos notariais e todos os registros paroquiais produzidos nesta localidade entre 1828 e 1859 estejam junto aos da Vila de São Borja, os processos de inventários post-mortem abertos neste mesmo período não foram arquivados juntamente aos daquela Vila. Entretanto, por se tratar de uma vasta região que compunha o espaço sob jurisdição da Vila que nos serve de sítio de pesquisa, os incluímos nas análises quantitativas e qualitativas.

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No mapa “3”, exposto logo abaixo, colocamos em destaque o espaço que ficou sob jurisdição da Vila de São Borja entre 1833 e 1859, apontando a localização dos outros seis povos e de outras localidades que a compuseram aquela Vila. Após a instalação da Vila de Itaqui em 1859, a Vila de São Borja acabou perdendo uma ampla faixa territorial ao sul e a sudeste, já que, localidades como São Francisco de Assis e Santiago foram submetidas à jurisdição de Itaqui.

Mapa “3”Divisão municipal da Vila São Borja e Vila de Alegrete (1833 – 1859)10

Fonte: Adaptação de Mapas Temáticos do Rio Grande do Sul: Divisão Municipal – 1841; Miron Zaions, 1979.

1.2 aproximações demográficas

Ao longo de toda a primeira década do século XIX quase não contamos com

informações censitárias para Vila de São Borja. Além disso, os dados demográficos que temos acesso, oriundos dos censos de 1846 e 1858, são bastante imprecisos. Mesmo conscientes que as informações contidas nos levantamentos estatísticos do período são bastante frágeis, entendemos que podem nos ser úteis, senão para estabelecermos um perfil exato, ao menos para termos uma ideia aproximada do universo populacional da Vila.

No ano de 1846, o Quadro da população nacional livre da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, organizado pelo encarregado da estatística, segundo as listas paroquiais

10 Embora a localidade de Santo Ângelo esteja indicada no mapa, de acordo com a Fundação de Eco-nomia e Estatística (FEE), ela fazia parte da jurisdição da Vila de Cruz Alta. Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul - Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981, p. 35.

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e de delegados provinciais [doravante Quadro populacional de 1846] apontava que em Missões – ou Vila da São Borja – havia 7.131 pessoas livres, sendo 3.522 homens, e 3.609 mulheres, distribuídos pelos seus cinco distritos.11 Não há, infelizmente, antes do censo de 1858, dados sobre o número de escravos e libertos, mais adiante buscaremos preencher esta lacuna recorrendo aos registros paroquiais de batismo da Matriz de São Francisco de Borja e aos inventários post-mortem abertos nesta vila. No tocante a população livre, não houve, no Quadro populacional de 1846, referências à cor de pele. A tabela “1” abaixo reproduz as informações prestadas pelo Quadro populacional de 1846 para cada distrito da Vila de São Borja.

Tabela “1”População livre da Vila de São Borja em 1846

Homens Mulheres Total1º Distrito da Vila de São Borja 1094 1325 24192º Distrito da Cruz de Itaqui 1047 692 17393º Distrito de Camaquã 673 1009 16824º Distrito de São Francisco de Assis 285 379 6645º Distrito de São Xavier 423 204 627 3522 3609 7131

Fonte: Quadro da população nacional livre da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em 1846. Organizado pelo encarregado da Estatística, segundo as listas paroquiais e de delegados da mesma província. In: Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul - Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981, p. 60.

Um ano antes, o Levantamento do número de fogos por distritos das cidades e vilas da Província do Rio Grande [doravante levantamento de fogos de 1845], assinado em 15 de junho de 1845 pelo juiz de paz, João Lopes Lenciano, pelo pároco, Marcellino Lopes Falcão, pelo fiscal, Cândido José Guimarães e pelo escrivão do juiz de paz, Carlos Correia Vasques, mostrou que na Vila de São Borja havia 1.106 fogos.12 A tabela “2” abaixo especifica o número de fogos por distrito da vila.

11 Quadro da população nacional livre da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em 1846. Orga-nizado pelo encarregado da Estatística, segundo as listas paroquiais e de delegados da mesma província. In: Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul - Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981, p. 60.12 Fundo Estatística, Maço 01, AHRGS. “O termo fogo seria equivalente a família nas sociedades do Antigo Regime” (BLUTEAU apud KÜHN, 2006, p. 65 [nota 74]). Tomo aqui a mesma definição que Fá-bio Kühn (2006) adotou para o termo, ou seja, como sinônimo de unidade doméstica ou unidade de censo.

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Tabela “2”Número de fogos na Vila de São Borja em 1845

fogos1º Distrito da Vila de São Borja 4162º Distrito da Cruz de Itaqui 2203º Distrito de Camaquã 1784º Distrito de São Francisco de Assis 1605º Distrito de São Xavier 132 1106

Fonte: Fundo Estatística, Maço 01, AHRGS.

Ainda no Quadro populacional de 1846, o encarregado da estatística alertava sobre as fragilidades dos dados que compunham o Levantamento de fogos de 1845. Em determinado trecho, o estatístico coloca que, “faltando-me a lista dos fogos para 1846 nada poderei dizer a respeito, e menos assinar o número de habitantes correspondente a cada um. De nada pôde servir-nos a relação de 1845 tirada à pressa, e com a maior inexatidão”.13 Todavia, mesmo desaconselhados pelo responsável estatístico do Quadro populacional de 1846 a não confiar nas informações existentes no Levantamento de fogos de 1845, resolvemos utilizá-la para estimarmos a média de pessoas livres por fogo em meados da década de 1840 na Vila de São Borja, e em cada um de seus cinco distritos relacionados nos levantamentos censitários. A tabela “3” abaixo nos apresenta as médias que foram calculadas.

Tabela “3”Média de pessoa livre por fogo na Vila de São Borja (1845 – 1846)

pessoas livres fogos pessoas livres/fogos1º Distrito da Vila de São Borja 2419 416 62º Distrito da Cruz de Itaqui 1739 220 83º Distrito de Camaquã 1682 178 94º Distrito de São Francisco de Assis 664 160 45º Distrito de São Xavier 627 132 5 7131 1106 6

Fonte: Quadro da população nacional livre da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em 1846. Organizado pelo encarregado da Estatística, segundo as listas paroquiais e de delegados da mesma província. In: Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul - Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981, p. 60; e Fundo Estatística, Maço 01, AHRGS.

No ano de 1858, quase ao final de nosso recorte temporal, passamos a contar com o Mapa estatístico da população da Província classificada por idades, sexos, estados e condições com o total de livres libertos e escravos [doravante Mapa estatístico de 1858].

13 Quadro da população nacional livre da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em 1846. Orga-nizado pelo encarregado da Estatística, segundo as listas paroquiais e de delegados da mesma província. In: Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul - Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981, p. 60. [grifos meus]

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Este Mapa estatístico se trata de um censo com dados mais completos e confiáveis do que os constantes no Quadro populacional de 1846, entretanto, nem mesmo por isso pode ser tomado como um retrato exato do perfil demográfico da Vila de São Borja, ou até mesmo, da Província do Rio Grande de São Pedro. Porém, dentro do período pesquisado, este é o primeiro levantamento demográfico que nos informa sobre a população escrava e sua representatividade no conjunto total da população da Vila. Cremos, portanto, que os dados apresentados pelo Mapa estatístico de 1858 nos fornecem um quadro bastante informativo do perfil demográfico da região em análise. Na tabela “4” apresentamos os números que o Mapa estatístico de 1858 aponta sobre contingente populacional da Vila de São Borja segundo a condição jurídica dos indivíduos. Mais abaixo, na tabela “5” expusemos os dados sobre a população escrava segundo o sexo dos cativos.

Tabela “4”População da Vila de São Borja segunda a condição jurídica (1858)

Livres Libertos Escravos Total Nº % Nº % Nº % Vila de São Borja 8059 86 64 1 1240 13 9463São Patrício de Itaqui 5554 84 63 1 1014 15 6631 13613 85 127 1 2254 14 16094

Fonte: Mapa estatístico da população da Província classificada por idades, sexos, estados e condições com o total de livres libertos e escravos. In: Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul - Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981, p. 69.

Tabela “5”População escrava da Vila de São Borja segunda o sexo (1858)

Homens Mulheres Total

Nº % Nº % Vila de São Borja 609 49 631 51 1240São Patrício de Itaqui 524 52 490 48 1014 1133 50 1121 50 2254

Fonte: Mapa estatístico da população da Província classificada por idades, sexos, estados e condições com o total de livres libertos e escravos. In: Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul - Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981, p. 69.

De acordo com o Mapa estatístico de 1858, escravos e libertos representavam em torno de 15% da população total da Vila de São Borja (ver tabela “4”). Por seu turno, os números da tabela “5” indicam o equilíbrio entre a quantidade de homens e mulheres escravos. Esta circunstância pode ser um indício de que em São Borja, quase ao fim da década de 1850, a população escrava era composta predominantemente por cativos crioulos.14 A

14 O desequilíbrio entre os sexos fora estimulado pelo ingresso de homens africanos via tráfico negreiro. Assim, populações cativas onde predominavam africanos tendiam a contar consideravelmente mais com

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falta de informações censitárias sobre a população escrava para as décadas anteriores nos impede, no momento, de averiguarmos se houve transformações significativas nas taxas de equilíbrio entre os sexos da população escrava. Da mesma forma, a ausência de discriminação da procedência dos escravos (africanos ou crioulos) considerados no Mapa estatístico de 1858 impõe, por ora, sérios limites a nossas reflexões. No entanto, como já colocamos anteriormente, estas mesmas carências de informações censitárias abre-nos a possibilidade de buscar as tendências demográficas, e suas transformações ao longo do tempo, recorrendo aos dados constantes nos assentos de batismo e aos inventários post-mortem.

2 conTornos demográficos da população escrava

Nesta seção, por meio da articulação das informações existentes em registros de

batismos e inventários post-mortem, procuramos elaborar um quadro informativo com algumas características demográficas sobre a população escrava da Vila de São Borja entre os anos de 1828 e 1859. Começamos analisando os dados trazidos pela quantificação e serialização dos assentos batismais da Matriz de São Francisco de Borja, e na sequência buscamos enriquecer a análise com as informações provenientes dos inventários.

2.1 escravos na pia baTismal da maTriz de são francisco de borja

As primeiras informações que passamos a analisar são oriundas dos assentos de

batismos da Matriz de São Francisco de Borja, e que foram lavrados em 05 livros: o livro 1-B (1829 – 1837), o livro 3-B (1845 – 1850), o livro 4-B (1851 – 1855), o livro 5-B (1855 – 1858) e o livro 6-B (1858 – 1871), do qual, extraímos dados apenas dos anos de 1858 e 1859.

Devido ao avançado estado de deterioração do livro 2-B (1838 – 1844), não tivemos como incluir os registros deste documento em nossa pesquisa. Por consequência da lacuna deixada pela ausência das informações deste livro, definimos que nossa análise seria pautada por dois períodos dentro de nosso recorte temporal (1828 – 1859): o primeiro abrange o espaço de tempo que vai de 1829 até 1837, e o segundo que se estende de 1845 até 1859. Estes períodos também se conformaram em balizas para o tratamento dos dados retirados dos inventários post-mortem.

homens do que com mulheres. Em contrapartida, populações escravas predominantemente crioulas, devi-do ao crescimento vegetativo, tendiam ao equilíbrio entre homens e mulheres, uma vez que não se podia escolher o sexo das crianças que nasciam.

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Dos cinco livros de batismos que dispomos, quantificamos um total de 7.301 assentos de batizados. Destes, 603 são de escravos, o que representa 8% do total de batismos. Com os dados do primeiro período (1829 – 1837), ou seja, contado apenas com os registros do livro 1-B, averiguamos que do total de 1.041 assentos, 113 deles são de cativos, número que representa 11% do total de registros do sub-recorte temporal.

O percentual de 11% de batizados de escravos nos parece ser um número bastante razoável para uma região de fronteira com recente povoamento luso-brasileiro inserida em um contexto com frequentes tensões bélicas. Sobre este último aspecto, cabe lembrar que o período coberto pelo livro de batismos (1829 – 1837) praticamente coincide com o interstício de tempo sem conflitos deflagrados na Província do Rio Grande de São Pedro, que vigorou entre o fim da Campanha da Cisplatina (1828) e o início da Guerra dos Farrapos (1835). Entretanto, mesmo nos períodos em que não havia contendas ativas, a mobilização de tropas e milícias em toda a província se mantinha constante, situação que parece não ter sido diferente na região da Vila de São Borja. Em inventário aberto no ano de 1832 é declarado em uma

conta que em 1829, o finado João Manoel Pereira do Valle contraio com Manoel da Silva Pereira do Lago, e por ella mostra o dicto Valle dever o seguinte: Suplª. de 40 novilhos que supri para fornecimento das praças que se achavão destacadas no passo de S. Nicolao, Sto. Izidro, e Ibaroquê; [e] despezas feitas com os mesmos novilhos por treis vezes. Villa de S. Francisco de Borja, 1º de Agosto de 1835.15

Além disso, no ano de 1832, em cópia de uma ata de sessão extraordinária do Conselho Administrativo realizada no dia 21 de julho de 1832, anexada a uma correspondência, datada do dia 24 do mesmo mês e ano, remetida por Manoel Antônio Galvão a Sebastião Barreto Pereira Pinto, se fez referência a um Regimento de Cavalaria de 2ª linha, composto por índios, que estava estacionado na fronteira de Missões. Vejamos um trecho desta ata:

Leram-se todos os papéis algumas reflexões expendidas pelo Conselho e pelo Exmo. Marechal Comandante das Armas a quem o senhor Presidente convocou para assistir a sessão e prestar os devidos esclarecimentos na matéria. Submeteu o esmo senhor à resolução do Conselho os seguintes quesitos. Primeiro, se convinha retirar o Regimento nº 25 de Cavalaria de 2ª Linha estacionado em Missões por ser todo composto de índios que pela sua volubilidade pode tomar parte em alguma empresa que projetem os chefes e oficiais do estado vizinho que se asilarem nesta Província.16

15 Inventário de João Manoel Pereira do Valle e sua mulher Marianna Antônia de Araújo. Fundo 003, Comarca do Rio Grande do Sul, localidade: Itaqui, Subfundo: Vara de família, ano: 1832, processo: nº 02; APERS.16 Coleção Varela (CV – 5024); GALVÃO, Manoel Antônio. Publicado em Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS), Vol. 09, p. 112 – 113. [grifos meus]. A referência da carta é CV – 5023; GALVÃO, Manoel Antônio. Publicado em Anais do AHRS, Vol. 09, p. 111. Agradeço ao Professor Edu-

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Assim, acreditamos que a representatividade de 11% de batizados de escravos não é nada desprezível para um espaço fronteiriço condicionado pela a constante possibilidade da eclosão de disputas bélicas. Logicamente que estas duas variáveis não esgotam a questão, mas se constituem em sólidos indícios que nos levam a crer que o trabalho escravo, de africanos e seus descendentes, foi uma importante forma de mão de obra utilizada nas unidades produtivas constituídas no espaço oriental missioneiro ao longo do processo de estabelecimento da matriz produtiva agropastoril. Como constatou Paulo Afonso Zarth ([1994] 2002) para a década de 1850, a proximidade da região missioneira com os Estados da Confederação Argentina e o perene contexto de guerra antes de negarem a presença de escravos neste território, reforçam o argumento de que este tipo de trabalhador foi imprescindível para atender a demanda de mão de obra em seus estabelecimentos produtivos.17

Para o nosso segundo sub-recorte (1845 – 1859), contabilizamos 6.240 assentos de batismos, dos quais 490 são de cativos. Este número, por sua vez, atinge o percentual de 8% do total de registros. Embora o segundo período apresente uma queda de 03 pontos percentuais em relação ao primeiro, podemos perceber que, ao longo dos 30 anos de nosso recorte temporal, houve um fluxo constante de registro de escravos na Matriz de São Francisco Borja, fato que indica que havia um núcleo populacional estável de cativos na Vila. O gráfico “1” nos apresenta um comparativo entre os dois períodos.

Gráfico “1” Distribuição dos assentos de batismos segundo a condição jurídica dos

batizandos (Vila de São Borja, 1829-37 e 1845-59)

Fontes: Arquivo da Diocese de Uruguaiana (doravante, ADU), livros de batismos: 1-B (1829 – 1837); 3-B (1845 – 1850); livro 4-B (1851 – 1855), o livro 5-B (1855 – 1858) e o livro 6-B (1858 – 1871).

ardo Neumann pela gentileza de ter me indicado e disponibilizado cópias catalogadas destes documentos.17 Paulo A. Zarth comprovou a existência e a relevância da mão de obra escrava na pecuária e nas pequenas indústrias artesanais naquela localidade no fim dos anos 1850 por meio da análise dos seguintes documentos: Relação das estâncias que contém o termo de São Borja com as declarações dos nomes de seus proprietários, número de crias vacuns e cavallares que marcarão no anno de 1857, e as pessoas empregadas com capatazes e piães e o Mappa demonstrativo das officinas, estabelecimentos e fábricas no município de São Borja.

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No tocante a procedência, há uma franca predominância de batizados de cativos crioulos. Enquanto no primeiro período, 73% dos assentos de batismos são de crioulos, no segundo este índice só não chega a 100% pois ocorreu somente um batizado de uma escrava africana no ano de 1849. O gráfico “2” ilustra o predomínio de batizados de crioulos na pia batismal da Matriz de São Francisco de Borja.

Gráfico “2” Distribuição dos assentos de batismos segundo a procedência dos escravos

(Vila de São Borja, 1829-37 e 1845-59)

Fontes: Arquivo da Diocese de Uruguaiana (doravante, ADU), livros de batismos: 1-B (1829 – 1837); 3-B (1845 – 1850); livro 4-B (1851 – 1855), o livro 5-B (1855 – 1858) e o livro 6-B (1858 – 1871).

Os dados expostos até aqui apresentam duas características basilares da população escrava na Vila de São Borja: primeira, havia um movimento estável de registro de cativos na Matriz de São Francisco Borja, e, segunda, o amplo predomínio de batismos de escravos crioulos, especialmente, no segundo período considerado. Mesmo que de forma preliminar, acreditamos que estas informações começam a apontar que havia uma população escrava estável na Vila, e que o crescimento vegetativo desta se constituía como o seu principal fator de manutenção.

Para reforçar nosso argumento, daqui em diante, partiremos para a exposição e análise de algumas informações oriundas dos inventários post-mortem.

2.2 esTimaTivas demográficas por meio dos escravos invenTariados

Tendo em vista que havia na Matriz de São Francisco de Borja um fluxo constante de batismos de escravos, e que significativa parte destes era de cativos crioulos, procuramos por meio dos inventários post-mortem averiguar quais foram as proporções de escravos africanos e crioulos arrolados nos dois períodos considerados. Por conseguinte, para refinar um pouco mais nosso exame, buscamos identificar a característica etária dos

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cativos segundo as procedências (crioulos ou africanos). Deste modo, pudemos perceber se houve, ou não, em cada um destes grupos, a tendência de envelhecimento ao longo do período abordado.

Gráfico “3” Distribuição dos escravos inventariados segundo a procedência

(Vila de São Borja, 1829-37 e 1845-59)

Fontes: Inventários post-mortem da Vila de São Borja (1828-37 e 1844-59), APERS.

O gráfico “3” nos apresenta que do primeiro para o segundo período houve uma considerável redução na proporção de escravos africanos inventariados. Se no primeiro período os africanos atingiram o percentual de 34%, no segundo não passaram de 25%, uma queda de nove pontos percentuais. Este dado nos parece coerente com as informações exibidas pelo gráfico “2”, que indica que os batismos de africanos ficaram quase que absolutamente restritos ao primeiro período. Se considerarmos os batismos como um indício do ingresso de africanos na região, pode-se perceber que a população de cativos africanos de um período para o outro passou a não ser reposta. Situação que acabou refletindo na redução de africanos inventariados do primeiro para o segundo período. Logo, estes dois dados interpretados em conjunto sinalizam para uma tendência de diminuição da população de escravos africanos.

Para complementar nosso exame é necessário averiguar como se comportou a estrutura etária dos escravos (africanos e crioulos) inventariados ao longo do tempo. Para verificar se as populações de africanos e crioulos inventariados apresentaram ou não uma tendência de envelhecimento no decorrer das três décadas consideradas, levantamos em cada um destes grupos o número de cativos adultos e idosos. Para isso, nos utilizamos da classificação etária empregada por Stuart Schwartz ([1988] 2011). Este autor definiu

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as faixas etárias do seguinte modo: de 0 a 14 anos, escravos crianças, entre 15 e 44 anos, adultos ou idade produtiva, e acima de 45 anos, escravos idosos. Dos 1031 escravos inventariados, conseguimos identificar a idade de 998 deles. Em nossa análise excluímos da amostragem as 350 crianças inventariadas. Por meio da proporção de adultos e idosos no conjunto das diferentes populações percebemos dois comportamentos distintos. O gráfico “4”, abaixo, nos mostra a tendência de envelhecimento da população de escravos africanos.

Gráfico “4”Proporção de escravos africanos adultos e idosos no conjunto da população escrava

inventariada

(Vila de São Borja, 1828 – 1837 e 1844 - 1859)

Fontes: Inventários post-mortem da Vila de São Borja (1828 - 1859), APERS.

Exceto por uma pequena variação no intervalo entre 1854 e 1856, a proporção de idosos na população de escravos africanos inventariados aumentou paulatinamente ao longo do tempo. Entendemos que o significativo envelhecimento da população africana inventariada também vai de encontro ao que nos sugeriu os dados sobre o batizado de africanos na Matriz de São Francisco de Borja (gráfico “2” e “3”), isto é, como a população de escravos africanos não era reabastecida, também, era natural que envelhece.

Com a população de escravos crioulos inventariados, a representatividade entre adultos e idosos ao longo do tempo apresentou conduta diversa. Os idosos crioulos somente no intervalo de 1857 a 1859 ultrapassaram a barreira dos 20%, chegando a 21% da população crioula inventariada. A população de crioulos, portanto, manteve-se jovem no decorrer das décadas de 1830, 1840 e 1850. Naturalmente, esse processo foi consequência do crescimento vegetativo da população escrava. O gráfico “5” ilustra este comportamento.

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Gráfico “5”Proporção de escravos crioulos adultos e idosos no conjunto da população escrava

inventariada(Vila de São Borja, 1828 – 1837 e 1844 - 1859)

Fontes: Inventários post-mortem da Vila de São Borja (1828 - 1859), APERS.

A análise conjunta dos gráficos “4” e “5” nos permite perceber que, enquanto a população de africanos envelhecia de forma gradual, a população de crioulos se mantinha jovem devido ao crescimento vegetativo da população escrava. Essa tendência, por sua vez, fez com que paulatinamente a população escrava da região fosse se caracterizando por um relativo equilíbrio entre o número de homens e mulheres.

Na comparação entre os dois períodos examinados, a população de escravos crioulos inventariados apresentou uma tendência de equilíbrio entre homens e mulheres (ver gráfico “6”, que apresenta a razão de masculinidade18 nos distintos conjuntos documentais segundo a procedência dos escravos). Entendemos que este fato constitui-se em outro indício de que o crescimento vegetativo era o principal fator de manutenção das escravarias na Vila de São Borja. Isto porque, se houvesse um movimento de ingresso ou saída de crioulos via comércio interno ao Estado imperial, 19 era de se esperar que tivesse havido maior entrada ou perda de crioulos do sexo masculino. Assim, se de alguma forma o comércio interno de escravos tivesse tido um fluxo significativo que pudesse ter, de alguma forma, ocasionado alguma modificação na estrutura demográfica da população cativa crioula, esta não teria tendido ao equilíbrio entre o número de homens e mulheres inventariados, como mostra a taxa de razão de masculinidade no gráfico “6”.

18 Calcula-se a razão de masculinidade multiplicando por 100 (cem) o resultado da divisão entre o nú-mero absoluto de homens pelo número absoluto de mulheres. Ver: SCHWARTZ [1988] 2011, p. 287.19 Infelizmente, o sub-registro das notas de compra e venda de escravos nos impede de avaliar o impac-to do comércio intra e interprovincial na Vila de São Borja. Até o ano de 1859 foram registradas apenas 06 registros de compra e venda de cativos nos cartórios da Vila.

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Gráfico “6”Razão de masculinidade em dois períodos distintos

(Vila de São Borja, 1828 – 1837 e 1844 - 1859)

Fontes: ADU, livro de batismos 1-B (1829 – 1837); 3-B (1845 – 1850); livro 4-B (1851 – 1855), o livro 5-B (1855 – 1858) e o livro 6-B (1858 – 1871).Inventários post-mortem da Vila de São Borja (1828 - 1859), APERS.

Pelos dados do gráfico “6”, a razão de masculinidade entre escravos crioulos inventariados no segundo período (1844 – 1849) foi de 100, ou seja, 100 homens para cada 100 mulheres, inferior a razão de 130 verificado para o período anterior (1828 – 1837). Por outro lado, entre os escravos africanos inventariados, esta taxa alcançou a importância de 198 entre 1844 a 1849, bastante menor do que o do primeiro período que chegou a 280. Em geral, de um período para outro houve uma tendência de queda na razão de masculinidade, entre os escravos inventariados ela passou de 177 para 118, enquanto que para os cativos batizados a taxa caiu de 151 para 104. Ao nosso entender esses dados, sobretudo, aquele que se refere aos escravos crioulos inventariados, corroboram com a hipótese da importância do crescimento vegetativo para a manutenção do trabalho escravo na Vila de São Borja.

considerações finais

Neste espaço faremos a síntese de algumas conclusões que vieram sendo apresentadas no decorrer do texto. Cabe ainda ressaltar que nossa pesquisa encontra-se em curso, e que, portanto, as considerações feitas podem até mesmo virem a ser revistas com o andamento da investigação.

Ao longo de nossa análise destacamos que: 1) o constante batizado de escravos na Matriz de São Francisco de Borja nos leva a crer que havia na Vila de São Borja, ao

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longo do período abordado, um núcleo populacional estável de cativos; 2) o ingresso de africanos na região foi consideravelmente restrito; 3) a população africana inventariada envelhecia, enquanto que a crioula se mantinha jovem; 4) o comércio de escravos intra e interprovincial, também, parece não ter sido significativo a ponto de causar transformações na estrutura demográfica da população cativa, haja vista que a tendência demográfica da população crioula inventariada foi de atingir o equilíbrio entre homens e mulheres.

Enfim, a interpretação em conjunto destes dados demográficos nos faz acreditar que o crescimento vegetativo foi o principal responsável pela manutenção daquele núcleo estável de escravos, assim como da própria estrutura escravista da Vila de São Borja.

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