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IV Congresso Argentino do Cuaternário y Geomorfologia XII Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário II Reunión sobre el Cuaternário de América del Sur 222 O CONHECIMENTO GEOLOGICO COMO FERRAMENTA DO MONITORAMENTO COSTEIRO E APOIO AO USO E OCUPAQAO DO LITORAL: ESTUDO DE CAS0 NO LITORAL DE SERGIPE, BRASIL Guilherme dos Santos Teles*; Liana Matos Rocha* e Antonio Jorge Vasconcellos Garcia* *Núcleo de Geologia — Universidade Federal de Sergipe - UFS [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta os resultados do monitoramento de processos erosivos nas praias do litoral do Estado de Sergipe, nordeste do Brasil, identificando locais críticos no que diz respeito à ocorrência do fenômeno de recuo da linha de costa. Tais eventos oferecem sérios problemas, associados aos problemas ambientais, e às ocupações humanas no litoral. As atividades se desenvolveram no âmbito de Projeto de Pesquisa denominado "Projeto Aberto em Geologia”, onde o litoral de Sergipe foi detectado como parte de um "Litoral em Risco". Foi investigado o trecho do litoral compreendido entre os estuários do Rio Japaratuba, a norte, e do Rio Vaza—Barris, a sul, com o estuário do Rio Sergipe em situação intermediária, constituindo—se uma região com grande ocupação humana, envolvendo complexos portuário, industrial, turístico e habitacional. A área de estudo caracteriza-se pela ocorrência de manguezais, campos de dunas, vegetação xerófita e de restinga e por praias arenosas, o que conduz a uma forte sensibilidade a qualquer variação do equilíbrio dinâmico costeiro. Os resultados deste trabalho demonstram que todo o trecho susceptível à ocupação humana está afetado por perturbações na posição da linha de costa. As áreas onde esta situação fica mais evidente são os estuários do Rio Sergipe e do Rio Vaza- Barris, sendo que nos anos de 2007 e 2008 não apenas uma rodovia asfaltada, mas também casas habitacionais e comerciais foram parcialmente tragadas pelas águas do mar, observando-se uma variação média na linha de costa em torno de 60 m. Fica evidente que o conhecimento geológico tem sido ainda pouco utilizado. INTRODUÇÃO As praias são ambientes litorâneos com depósitos de material inconsolidado, formados pela interação continente-oceano, e que são retrabalhados por processos envolvendo ondas, marés, correntes e ventos. São ambientes altamente dinâmicos e sensíveis a sutis variações das interações dos agentes que sobre elas atuam, sendo em parte responsáveis pela sustentação dos ecossistemas adjacentes, além de representarem o local de diversas, e por vezes, intensas atividades antrópicas (Souza et al., 2005). O uso intenso dos ambientes praiais tem provocado situações de desequilíbrios que resultam na degradação ambiental, e contribuem de algum modo para a erosão costeira. Apesar de a ocupação humana poder ser considerada um dos fatores influentes para a degradação do litoral, fatores naturais também colaboram para a ocorrência dos fenômenos degradantes. Dessa forma, faz-se necessário o conhecimento da dinâmica sedimentar das praias e dos mecanismos naturais e antrópicos que interferem nos processos costeiros (Angulo, 2004) para que assim seja alcançada a preservação desses ambientes tão importantes. O estado de Sergipe segue a mesma tendência mundial de ocupação e utilização do litoral para diversas atividades, conforme observam Carvalho e Fontes (2006). Na zona costeira sergipana, principalmente no trecho onde estão compreendidos os estuários dos rios Japaratuba e Vaza-Barris, estão localizadas a maior concentração de atividades geradoras de renda a maior densidade demográfica do estado. Nesse trecho que compreende pouco mais de 50km de costa, estão localizados complexos industriais, portuário, turístico e habitacionais. Esta região se caracteriza pela presença de ambientes de mangues, campos de dunas, vegetação xerófita e de restinga e por praias arenosas, ecossistemas que acabam por se constituir nos ambientes muito sensíveis as variações introduzidas na dinâmica costeira. Diante disto, mostra-se necessário c oportuno, a fim de evitar danos possíveis, a realização de estudos sistêmicos continuados das re1ações entre os condicionantes antrópicos e naturais na zona costeira sergipana, avaliando o impacto resultante da interação de ambos. Este trabalho apresenta os resultados do acompanhamento dos processos atuantes nas praias entre os estuários do Rio Japaratuba e Vaza-Barris (Figura 1) ao longo de pelo menos um ano. Esta

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O CONHECIMENTO GEOLOGICO COMO FERRAMENTA DO MONITORAMENTO COSTEIRO E APOIO AO USO E OCUPAQAO DO LITORAL: ESTUDO DE CAS0 NO

LITORAL DE SERGIPE, BRASIL

Guilherme dos Santos Teles*; Liana Matos Rocha* e Antonio Jorge Vasconcellos Garcia* *Núcleo de Geologia — Universidade Federal de Sergipe - UFS

[email protected]; [email protected]; [email protected]

RESUMO Este trabalho apresenta os resultados do monitoramento de processos erosivos nas praias do litoral do Estado de Sergipe, nordeste do Brasil, identificando locais críticos no que diz respeito à ocorrência do fenômeno de recuo da linha de costa. Tais eventos oferecem sérios problemas, associados aos problemas ambientais, e às ocupações humanas no litoral. As atividades se desenvolveram no âmbito de Projeto de Pesquisa denominado "Projeto Aberto em Geologia”, onde o litoral de Sergipe foi detectado como parte de um "Litoral em Risco". Foi investigado o trecho do litoral compreendido entre os estuários do Rio Japaratuba, a norte, e do Rio Vaza—Barris, a sul, com o estuário do Rio Sergipe em situação intermediária, constituindo—se uma região com grande ocupação humana, envolvendo complexos portuário, industrial, turístico e habitacional. A área de estudo caracteriza-se pela ocorrência de manguezais, campos de dunas, vegetação xerófita e de restinga e por praias arenosas, o que conduz a uma forte sensibilidade a qualquer variação do equilíbrio dinâmico costeiro. Os resultados deste trabalho demonstram que todo o trecho susceptível à ocupação humana está afetado por perturbações na posição da linha de costa. As áreas onde esta situação fica mais evidente são os estuários do Rio Sergipe e do Rio Vaza-Barris, sendo que nos anos de 2007 e 2008 não apenas uma rodovia asfaltada, mas também casas habitacionais e comerciais foram parcialmente tragadas pelas águas do mar, observando-se uma variação média na linha de costa em torno de 60 m. Fica evidente que o conhecimento geológico tem sido ainda pouco utilizado. INTRODUÇÃO As praias são ambientes litorâneos com depósitos de material inconsolidado, formados pela interação continente-oceano, e que são retrabalhados por processos envolvendo ondas, marés, correntes e ventos. São ambientes altamente dinâmicos e sensíveis a sutis variações das interações dos agentes que sobre elas atuam, sendo em parte responsáveis pela sustentação dos ecossistemas adjacentes, além de representarem o local de diversas, e por vezes, intensas atividades antrópicas (Souza et al., 2005). O uso intenso dos ambientes praiais tem provocado situações de desequilíbrios que resultam na degradação ambiental, e contribuem de algum modo para a erosão costeira. Apesar de a ocupação humana poder ser considerada um dos fatores influentes para a degradação do litoral, fatores naturais também colaboram para a ocorrência dos fenômenos degradantes. Dessa forma, faz-se necessário o conhecimento da dinâmica sedimentar das praias e dos mecanismos naturais e antrópicos que interferem nos processos costeiros (Angulo, 2004) para que assim seja alcançada a preservação desses ambientes tão importantes. O estado de Sergipe segue a mesma tendência mundial de ocupação e utilização do litoral para diversas atividades, conforme observam Carvalho e Fontes (2006). Na zona costeira sergipana, principalmente no trecho onde estão compreendidos os estuários dos rios Japaratuba e Vaza-Barris, estão localizadas a maior concentração de atividades geradoras de renda a maior densidade demográfica do estado. Nesse trecho que compreende pouco mais de 50km de costa, estão localizados complexos industriais, portuário, turístico e habitacionais. Esta região se caracteriza pela presença de ambientes de mangues, campos de dunas, vegetação xerófita e de restinga e por praias arenosas, ecossistemas que acabam por se constituir nos ambientes muito sensíveis as variações introduzidas na dinâmica costeira. Diante disto, mostra-se necessário c oportuno, a fim de evitar danos possíveis, a realização de estudos sistêmicos continuados das re1ações entre os condicionantes antrópicos e naturais na zona costeira sergipana, avaliando o impacto resultante da interação de ambos. Este trabalho apresenta os resultados do acompanhamento dos processos atuantes nas praias entre os estuários do Rio Japaratuba e Vaza-Barris (Figura 1) ao longo de pelo menos um ano. Esta

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atividade resultou na constatação de locais com grave ocorrência de erosão costeira c degradação ambiental. A causa mais evidente observada desses problemas foi a interação de fatores naturais com as intervenções antrópicas na área. Este fato chama a atenção para a necessidade de uma maior utilização do conhecimento geológico para que, a partir do entendimento dos processos no espaço e no tempo, possam ser tomadas medidas e mitigação da erosão e elaboração de planos de gestão para o litoral.

Figura 1. Localização da área de estudo com indicação do trecho litorâneo em questão.

METODOLOGIA O acompanhamento dos processos atuantes nas praias da área de estudo foi realizado através de saídas de campo periódicas, as quais furam registradas com fotografias dos processos degradantes. Os campos foram realizados de forma que pudessem ser registrados eventos de calmaria (ventos fracos e marés baixas) e situações com energia maior (ventos fortes e marés altas). Em complemento aos dados de campo, foram utilizadas fotografias aéreas para a comparação dos processos atuantes nas praias ao longo dos últimos anos.

RESULTADOS Neste item serão tratados os aspectos considerados como os mais importantes para a tomada de medidas de planejamento no litoral sergipano. Foz do Rio Japaratuba O estuário do Rio Japaratuba está localizado entre os municípios de Pirambu e Barra dos Coqueiros (Figura 2). O sistema estuarino deste rio se caracteriza pela presença de mangues em ambas as margens, dunas e restingas nas proximidades da desembocadura, mas o que marca este sistema é a forte pressão antrópica.

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Figura 2. Foz do Rio Japaratuba. (A) Imagem de satélite do ano de 1979. (B) Imagem aérea do ano

de 2004. Este estuário apresenta constante mudança da geometria de sua desembocadura. Segundo Carvalho e Fonte (2006) este e um processo comum da sua foz, este esta associado as mudanças de maré, intensidade das ondas e ventos, e condições hidrodinâmicas do rio. A dinâmica da foz altera a posição da linha de costa e o balanço sedimentar da região, o que por vezes faz aflorar beach rocks (Figura 3A), que dificultam a saída de pescadores para o oceano. Neste estuário é notável a indevida ocupação humana do litoral, o exemplo disto é a cidade de Pirambu, que está na margem esquerda do Rio Japaratuba (Figura 3B). Na margem direita localiza-se o povoado conhecido como Ilha do Rato. A cidade de Pirambu trouxe graves problemas ambientais para o estuário do rio. Dentre os principais estão a destruição dos manguezais para atividades de aqüicultura, destruição de dunas e da vegetação de restinga para a construção de habitações e escoamento indevido de esgoto doméstico nas águas do rio (Figura 3C). O povoado Ilha do Rato esta localizado na margem direita do rio, faz parte do município de Barra dos Coqueiros. Em condições de maré alta este povoado fica completamente isolado, e as habitações ficam inundadas (Figura 3D). Além deste problema, a população sofre de graves problemas de conotação ambiental. O uso indevido da água subterrânea proveniente das dunas pela população do povoado ocasionou a poluição desta água, que deixou de ser potável.

Figura 3. Contextos da foz do Rio Japaratuba. (A) Beach rocks que afloram durante os períodos erosivos. (B) Vista geral da cidade de Pirambu na margem esquerda do rio. (C) Canalização de

esgoto que deságua sem tratamento no rio. (D) Povoado Ilha do Rato em período de maré elevada.

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Praia do Jatobá e Praia da Costa Estas praias encontram-se entre as desembocaduras dos Rios Japaratuba e Sergipe, no município de Barra dos Coqueiros. Estas praias apresentam relativa estabilidade da linha de costa, no entanto existem problemas em relação à manutenção da integridade do ambiente costeiro. Estas praias têm sido alvo nos últimos anos do mercado imobiliário, este fato tem levado a um crescimento desordenado de habitações. Este fato já tem apresentado suas conseqüências, como o descarte inadequado de resíduos sólidos, contaminação de água subterrânea, e na Praia do Jatobá, destruição dos campos de dunas. Em condições ambientais adequadas, na Praia da Costa ocorrem processos erosivos moderados. Foz do Rio Sergipe O estuário do Rio Sergipe localiza-se entre os municípios de Aracaju (capital do estado) e Barra dos Coqueiros (Figura 4). Constitui a área mais complexa e mais alterada pelo ser humano em toda a faixa costeira considerada por este trabalho. A ocupação deste local se deu desde o final da década de 70, 0 que causou a destruição dos seus manguezais e a construção de molhes (Carvalho e Fontes, 2006). Os molhes constituem uma medida da engenharia costeira para proteção do litoral (Alveirinho Dias, 1993). São considerados obras estáticas e pesadas, que podem modificar a dinâmica costeira adjacente ao seu local de construção. No estuário do Rio Sergipe eles foram construídos tanto na margem esquerda quanto na direita. Figura 4. Foz do Rio Sergipe. (A) Imagem de satélite do ano de 1979. (B) Imagem aérea no ano de

2004. Observar as mudanças ocorridas na morfologia da desembocadura do rio.

Em ambas as margens da foz estão ocorrendo processos erosivos, possivelmente em função da colocação dos molhes. Na margem do município da Barra dos Coqueiros, na praia da Atalaia Nova, o mar destruiu diversas casas e avançou dezenas de metros (Figura 5A). O molhe colocado nesta praia deve ter barrado as correntes litorâneas que vêm do norte do estado, este fato somado à ação direta das marés e das ondas ocasionou a constante retirada de sedimentos da praia (figuras 5B e 6). O molhe na margem do município de Aracaju nos últimos anos não tem sido capaz de segurar a forca do rio. O braço mais forte do rio bordeja as praias dos Artistas e da Coroa do Meio, e a sua tendência atual é se direcionar mais para o sul (Figura 6). A passagem do braço principal do rio, somado aos eventos de maré alta, ventos e ondas fortes, causou em pouco tempo a erosão de centenas de metros de praia. A erosão alcançou um nível de destruição tão alto que arrasou diversos bares, coqueiros, dunas e parte da estrutura da praça de eventos da orla local (Figura 7).

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Figura 5. Erosão costeira na Atalaia Nova. (A) Avanço do mar sob as habitações. (B) Molhe instalado na praia.

Figura 6. Dinâmica atual da foz do Rio Sergipe.

Figura 7. Erosão nas Praias dos Artistas e da Coroa do Meio. (A) Destruição de bar na Praia dos Artistas. (B) Destruição da praça de eventos da orla.

Praia de Atalaia - Praia da Aruana - Praia dos Náufragos - Praia José Sarney Estas quatro praias situam-se entre a foz do Rio Sergipe e Vaza-Barris. Este trecho litorâneo possui é de grande importância para o estado, pois possui grande potencial turístico e habitacional. Quase a totalidade do setor hoteleiro e das opções de lazer de Aracaju está nestas quatro praias.

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Atualmente elas têm sido alvo do interesse imobiliário, pois elas fazem parte da zona de expansão da capital. Em relação at variações da linha de costa, este trecho apresenta relativo equilíbrio. No entanto, o atual interesse imobiliário, e os empreendimentos já existentes nesta área podem gerar graves problemas ambientais, caso não haja um bom planejamento na utilização deste espaço. Foz do Rio Vaza-Barris A foz do Vaza-Barris localiza-se ao sul de Aracaju. É considerada uma área muito dinâmica (Figura 8), a ação das ondas e correntes costeiras impede o desenvolvimento de manguezais na foz, o que facilita a grande movimentação de areias na sua desembocadura e adjacências (Carvalho e Fontes, 2006). Nos últimos cinco anos vem se desenvolvendo um forte processo erosivo na área adjacente à foz do rio. Este processo já causou a destruição de um trecho com cerca de um quilômetro de uma rodovia asfaltada (Figura 9A e B). A construção desta rodovia revela a total desconsideração da dinâmica do ambiente litorâneo, a pista foi construída em cima de dunas, que são consideradas como importantes estruturas litorâneas, das quais são utilizados sedimentos para a alimentação das praias. Como conseqüência do processo erosivo no local, além da destruição da rodovia, a vegetação local está sendo suprimida pela ação marinha (Figura 9C). Figura 8. Foz do Rio Vaza—Barris. (A) Imagem de satélite do ano de 1979. (B) Imagem aérea do

ano de 2004. Notar as diferenças na desembocadura do rio.

Figura 9. Processos erosivos nas adjacências da foz do Rio Vaza-Barris. (A) Vista transversal ao trecho da rodovia que foi destruído. (B) Vista de detalhe da destruição da pista. (C) Vegetação

sendo suprimida pela ação marinha.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados obtidos neste trabalho foram comparados com o trabalho de Bittencourt et al., (2006), no qual foram analisados aspectos de erosão e progradação do litoral sergipano. Este trabalho classificou as praias sergipanas considerando quatro aspectos: elevada variabilidade, equilíbrio, erosão e progradação. Para o trecho entre a foz dos Rios Japaratuba e Vaza-Barris foram encontradas diferenças gritantes sobre as condições das praias. A figura 10 faz uma comparação entre as informações divulgadas por Bittencourt et al., (2006) e no presente trabalho. Os dados obtidos no presente trabalho mostram que a zona costeira possui um frágil equilíbrio, o qual pode ser quebrado facilmente pelas intervenções humanas. Os locais onde a atuação humana se mostra mais intensa foram as áreas classificadas como as mais críticas, tanto no aspecto de conservação ambiental e problemas de erosão costeira. O estágio atual dos processos degradantes dos pontos críticos da área estudada poderia ser evitado. Caso fosse levada em conta a complexidade dos processos atuantes no litoral, a necessidade do monitoramento da linha de costa, além de fatores ambientais, não seriam observadas tantas situações de degradação ambiental e de erosão costeira. Diante deste cenário, a utilização do conhecimento geológico somado a outras ferramentas de trabalho, a nível de planejamento e de mitigação das condições atuais de degradação, se faz necessário para uma utilização do litoral consciente e sustentável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Angulo, R.J., 2004. Aspectos Fíicos das dinâmicas de ambientes costeiros, seus usos e conflitos. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 11. 10. P. 175-180. Editora UFPR. Bittencourt, A.C.S.P., Oliveira, M.B., Dominguez, J.M.L., 2006. Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro - Sergipe. Ministério do Meio Ambiente - Brasil. 5p. Carvalho, M. E. S. & Fontes, A. L, 2006. Estudo ambiental da zona costeira sergipana como subsídio ao ordenamento territorial. Geonordeste. Ano XV, V 2; p. 10-30. Alveirinho Dias, J .M, 1993. Estudo de avaliação da situação ambiental e proposta de medidas de salvaguarda para a faixa costeira portuguesa. 137 p. Liga de Proteção à Natureza. Portugal. Souza, C. R. de G., 2005. Quaternário do Brasil. Holos Editora. 377 p. Ribeirão Preto. Brasil.

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Figura 10. Mapas ilustrativos do trabalho de Bittencourt et al., (2006) e deste trabalho, respectivamente. Ambos os mapas ilustram o comportamento da linha de costa.