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Xique Xique #3 Couro

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Terceira edição da Revista de Cultura de Moda Xique Xique - especial Couro.

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Historia,06

,Sumario

Moda08

Acessorios09

Perfil11

Comportamento14

Dicas60

Figurino50

Fotografia56

Cronica54 ,,

Antiguidade historica

Do bruto ao delicado

Inseparaveis no dia a dia

,

,

Dedicacao ao couroO inquieto artista do couro

Economia10Producao Comunitaria,,

~

,

Motociclismo

Editorial16Cangaco do asfalto,

,

~

Comportamento24O couro e rock !Vaquejada: a festa do couro

,

Tecnologia30Couro ou nao, eis a questao !~ ~

Curiosidades32ExoticosPerfume de couro

,

Editorial36A pele do fetiche

Economia44Tecnocouro

Decoracao48 , ~

Personalidade e Requinte

Traje Impactante

Economia52O couro bem calcado,

A viagem

Aventura fotografia entre couros e lajedos,

Economia32Do anumal ao uso

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ExpedienteUniversidade Estadual da ParaíbaCentro de Ciências Sociais AplicadasCurso de Comunicação Social - Jornalismo

Xique XiqueRevista de Cultura de ModaAno 3, Número 3, 2016

Professora Orientadora/Agda Aquino

Produção de Moda/Káio Lenno Araújo

Assistentes de Moda/Aline Herculano/André Luis Macedo de Sousa/Erika Lima/Gabriela Raposo/Rafael Galdino/Soraia Medeiros/Eloyna Alves/Amy Nascimento/RonaldoMonteiro Júnior/Leandro Targino

Assistente de Produção/Ambiara Cardoso/Djair Alves Ferreira/Fellipe S. de Oliveira/Fernanda Cabral Bezerra/Lucineide Farias/Leandro Targino

Fotos/Agda Aquino/Antônio Cláudio da Silveira Alves/Antônio Carlos de Andrade Silva/Bruna Duarte/Eduardo Philippe/Ivan Andrey Costa/Jéssica Oliveira/Maria Clara Monteiro

Assistentes de Fotografia/Josivan Silva/Kaliandro André/Marcos Beserra/Rafael Galdino/Samanta Almeida

Modelos/Jéssica Oliveira/Marcia Lima/Joelinthon Barros/Aline Galdino/Elvis Guimarães/Eduardo Monteiro

Maquiagem/Sulamita Oliveira

Textos/Agda Aquino/Ambiara Cardoso/Amy Nascimento/Antônio Carlos de Andrade Silva/Antônio Cláudio da Silveira Alves/Caio César Beltrão/Eduardo Philippe/Eloyna Alves/Gabriela Raposo/Josivan Silva/João Saraiva Neto/José Celson Marques/Jéssica Oliveira/Kiara Duarte/Leandro Targino/Lucineide Farias/Maria Clara Monteiro/Rafael Galdino/Soraia Medeiros

Projeto Gráfico/Gêniton Coutinho Sarmento

Diagramação/Tratamento de imagens/Colagens/Ivan Andrey Costa

ISSN 2357-9579

Endereço: Rua Baraúnas, 351 –Bairro Universitário –Campina Grande-PB, CEP 58429-500

www.issuu.com/revistaxiquexiquewww.facebook.com/Revistaxiquexique

O couro e nosso ! Quando escolhemos o couro para trabalhar na terceira edição da revista a gente sabia que tinha em mãos um tema especial e diversificado, que renderia muito material, mas não pensávamos que terminaríamos com a maior das edições da revista até agora. Um trabalho de fôlego, e olha que ainda tiramos muita coisa. O couro nos surpreendeu e esperamos que surpreenda você também. Queremos também dividir uma grande alegria com vocês. Esta é a primeira edição depois da premiação que recebemos no Intercom Regional de 2015, em junho do ano passado, quando ganhamos o primeiro lugar da categoria Revista-laboratório impressa (avulso/conjunto ou série), con-correndo com as duas edições anteriores: a de chita e a de renda. Além de felizes, nos sentimos com o compromisso redobrado de fazer um material dedicado e empenhado. Na Revista Xique Xique, a moda serve de ponto de partida para pensar a cultura e suas ramificações. Ela é a linha que amarra as editorias, alinhavando textos, fotos, legendas, mensagens. Assim, nos juntamos ao coro de pesquisadores de moda que defendem que ela é muito mais do que tendências: é um sintoma da cultura de um povo. Nas próximas páginas você vai encontrar assuntos como livros, roupas, artistas, curiosidades, cangaço, motoclubes, vaquejada, curtumes, moda, sensualidade, música, perfume, teatro, móveis, decoração, artesana-to, fotografia, cultura, economia... tudo envolvendo o universo do couro. Como já é tradição por aqui, trazemos dois editoriais fotográficos espe-cialíssimos: um sobre a tradição erótica do couro, com fotos em preto e branco e que tiveram como locação o bucólico Lajedo do Pai Mateus, no município de Cabaceiras, no Cariri paraibano; e outro com o espírito aventureiro dos motoqueiros, incorporados aqui de forma poética como cangaceiros contemporâneos e urbanos. Para dar conta do trabalho, a revista, que é um Projeto de Exten-são vinculado ao curso de Jornalismo da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), contou com dezenas de colaboradores, entre estudantes do curso nas mais diversas funções, fotógrafos, artistas, lojistas, modelos e muitos voluntários que se tornaram amigos. Para conhecer cada um desses espe-ciais ajudantes basta conferir o expediente, os créditos nas reportagens e a lista de contatos ao final da revista. É uma honra para nós ter trabalhado com todos eles, porém é uma honra maior ainda ter a sua leitura das pági-nas a seguir.

Agda AquinoJornalista e professora da UEPB

,

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Historia,06

Antiguidade histórica

O couro e a pele dos animais inauguram o hábito dos seres humanos se vestirem

Agda Aquino e Maria Clara Monteiro

Repr

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Hist

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07

Quem vê os desfiles de moda com cole-ções incríveis com couros delicados, macios, renda-dos, bordados e afins nem imagina que esse material está presente na vestimenta dos seres humanos desde a pré história e sua existência ajuda a delimitar a dife-rença entre o homem moderno e os seus antepassados. No início, os trajes de couro eram usados para proteção do corpo das intempéries da natureza. De fá-cil acesso e boa durabilidade, a pele dos animais era de simples manuseio e servia para produzir diversos tipos de peças, de calçados a casacos. Especialmente usado em regiões frias, ele deu ao homem pré histórico mais chan-ces de sobrevivência. No período paleolítico, as roupas eram feitas de pele de animais. Elas eram coloridas e ti-nham vários enfeites. O couro ela limpo e curtido até fi-car macio e as costuras eram feitas com agulhas de osso e os fios eram tendões, tripas secas ou tirinhas de couro. Ao longo do tempo, vários povos usaram, a seu modo, o couro em roupas e adereços. Os egípcios, por exemplo, tinham adornos feitos com o material e utensí-lios dos faraós eram produzidos com ele, como coroas e partes das indumentárias. Até em armaduras gregas e per-sas o couro foi usado: como base para aplicação de esca-mas de bronze ou outro metal para que protegesse o cor-po. Durante a idade média o uso do couro continuou se fazendo presente nos trajes da plebe à corte. Ele também aparece nas vestes de povos orientais, como chineses e ja-poneses, tanto em roupas como em acessórios, muitas ve-zes com bordados e detalhes cravejados. De lá pra cá, essa matéria prima nunca saiu totalmente de uso. Houve épo-cas em que era mais utilizada pelos trabalhadores braçais do que pelos ricos, em outras foi sinônimo de juventude e de revolta, em alguns momentos virou símbolo de mo-vimentos musicais e artísticos. O certo é que a história do couro na vestimenta continua sendo construída até hoje.

A história do couro na Paraíba se inicia quan-do o Brasil ainda era colônia, com a introdução do gado no país. Enquanto a indústria canavieira fazia girar a economia paraibana, os currais de gado cresciam de ma-neira paralela, pois geravam uma economia secundária e serviam de suporte para o comércio açucareiro. Os animais, além de servirem como força motriz, também forneciam carne, pele e couros, este último muito utili-zado em objetos de uso cotidiano, como peças de mon-taria, mobília doméstica e malas. Essa produção ajudou de certa forma a economia da época e criou o cenário perfeito para que Campina Grande, A Rainha da Borbo-rema, se tornasse uma importante cidade nesse contexto.

O couro na Borborema

No início do século XX, com A Grande Depres-são e a Primeira Guerra Mundial, houve um crescimento na indústria nacional, fazendo com que a economia flo-rescesse. Foi então que a indústria de tratamento de pele e couros começou a dar seus primeiros passos. Campina Grande, por ser uma cidade no meio do estado, ficava entre a zona canavieira e as fazendas do sertão, se tor-nando o principal ponto de beneficiamento de couros. Apesar de outras cidades, como Itabaiana e João Pessoa já possuírem Curtumes, foi em 1926 que surgiu um dos principais locais de beneficiamento de peles e couros em Campina Grande, a Fábrica de Beneficiamen-to de Couros Motta & Irmão. Com o passar dos anos, o negócio acabou sendo apelidado de Curtume dos Mot-ta e se tornou um dos maiores pontos de referência do setor de couros por muito tempo. Em 1936, o segun-do curtume foi criado em Campina Grande por Antô-nio Villarim. Os dois negócios foram, durante os anos seguintes, os mais importantes da cidade, exportando produtos como solas e vaquetas para o sudeste do Brasil. Com a criação da Superintendência do Desen-volvimento do Nordeste – a SUDENE, localizada em Recife - houve um investimento nas indústrias existen-tes na cidade e também a criação de outras. Em 1962 haviam oito curtumes no estado da Paraíba, que em-pregavam cerca de 500 pessoas, sendo cinco destes só em Campina Grande. No começo da década de 70, o processo de industrialização acabou sendo freado por conta do governo militar, cujas ideologias políticas en-volviam alianças com grandes capitais multinacionais. Em 1974, o número de curtumes caiu para quatro, todos localizados na cidade de Campina Gran-de e cujo sistema de trabalho era essencialmente tradi-cional-familiar. Durante os anos 1980, o “Curtume dos Motta” e o Curtume Villarim Teixeira tiveram fim, mas no final da década, outros pequenos curtumes surgi-ram, como a Indústria e Companhia de Sandálias Cam-pinense, a INCOSAL. Nessa época, toda a produção de couro era exportada para outros estados do Brasil. Somente os remanescentes desse comércio fica-vam no estado, eram produtos de segunda qualidade que eram usados em indústrias caseiras de calçados e artefatos. Esse material era produzido pelas chamadas “gangorras”, as pequenas oficinas que oscilavam entre estar em alta e baixa na economia da cidade. Em 1975, todos os equipa-mentos da indústria do couro já estavam obsoletos e, sem capital e cultura para atualização e manutenção do ma-quinário, houve o declínio da produção. Ao final da déca-da de 70, apenas 10% do consumo de calçados do estado era produzido na Paraíba e foi nos anos 1990 que houve o declínio total dos curtumes e da produção do couro.

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Do bruto ao delicadoTrabalho deixa o couro com aspecto rendado, singelo e feminino

Quando pensamos em couro a primeira as-sociação feita ao material é a de peças que aquecem o corpo e possuem grande durabilidade. O que pouca gente sabe é que apesar de ser considerado um mate-rial invernal, diferentes cortes e tramas podem o deixar com aparência leve e feminina. Desta forma, o cou-ro rendado surge como uma nova proposta, capaz de trazer feminilidade e charme para qualquer estação. Transformar a pele animal em tecido delicado é uma verdadeira obra de arte, que exige desde o minucioso trabalho de modistas até a operação de maquinarias de alta tecnologia. A mistura da renda com o couro acontece nos curtumes, onde uma peça de pele passa por uma série de procedimentos até ficar com uma espessura fina, sendo en-viada para uma máquina de corte a laser que imprime for-matos e desenhos, pré-definidos em computador, no tecido. A textura feminina e delicada ganhou as passa-relas de várias marcas nacionais, como a assinada pela estilista Patricia Motta. Em 2014 a marca mineira levou às passarelas do São Paulo Fashion Week uma coleção re-pleta de flores, em couro tingido, inovando com a pro-posta de utilizar o material nas peças de verão. Patricia, que sempre utiliza o couro em suas criações, também apostou no material vazado para sua apresentação de outono/inverno 2015 do Minas Trend, e diz se inspirar na natureza para fazer o couro vazado de suas roupas. Vitrines de lojas como Iódice, Pat Pat’s e Animale também adotaram a textura. Assim como a marca Con-verse, conhecida por seus modelos do tênis All Star, que lançou uma linha de sapatos exclusiva trabalhada em cou-ro rendando. Rompendo com a barreira de artigo de luxo, os tênis dão um ar democrático ao material, mostrando que o couro pode estar presente nos mais variados estilos. Por exigir grande mão de obra, o custo, que já é caro por sua matéria-prima original, se torna ainda mais alto. Peças em couro rendado exigem um trata-mento especial, porém, se bem cuidadas, podem du-rar muitos anos e fazer valer a pena o investimento.

08 Moda

Foto

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Amy Nascimento

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A estudante de letras Jéssica Alves adora postar sel-fies nas redes sociais. Sempre com um look despojado e, em algumas vezes, levemente andrógino, ela costuma dar ênfase aos acessórios que usa: carteira, relógio, pulseiras, óculos, bolsa e, até mesmo, a chave do carro que dirige, carinhosamente apelidado por ela de “pretinho”. Quando sai para o Centro de Cultura Dragão do Mar, em Forta-leza, cidade onde mora, sempre está com seus acessórios de couro. Segundo ela, eles a acompanham em todas as ocasiões: “meu cordão tem um significado muito grande, ele é uma espécie de amuleto. Não tiro nem pra tomar banho”.

O cordão a que Jéssica se refere é feito de couro com um pequeno leme na ponta, que significa “mudança de rumo”. A estudante faz questão de que o couro seja legítimo, por isso evita comprar os acessórios na inter-net, pois considera que os objetos à venda na rede sejam de couro sintético. Amante do artesanato, ela compra as peças em feirinhas da capital cearense, as quais considera baratas: os preços variam de R$5,00 a R$ 25,00.

Na Vila do Artesão, situada na Estação Velha de Campina Grande, há uma sessão especial dedicada à cultura do couro. No chalé 18, por exemplo, é possível encontrar algumas peças do artesão paraibano João Ave-lino, conhecido por sua técnica de pintura e gravação em couro.

Em uma manhã calma de sábado, o artesão Wa-ndilson Alves, também da Vila do Artesão, mal levanta os olhos para ver quem acabou de entrar no chalé. Ele está bem concentrado terminando uma sandália, técnica que domina há 22 anos. Entre os produtos de Wandilson, estão pulseiras e acessórios menores, todos de couro, mas a predominância é mesmo das sandálias e chinelos, com preços que variam de R$ 20,00 a R$ 50,00. O artesão revela que usa o couro de bode da cidade de Cabaceiras, à 196 km da capital João Pessoa. Alguns acessórios pa-recem um híbrido de tendência western com o cangaço nordestino. Para quem tem estima por acessórios básicos, certamente um de couro irá atraí-lo.

Inseparáveis no dia a dia

Kiara Duarte

09

Foto

/Jés

sica

Oliv

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Acessorios,

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Cabaceiras, cidade do Cariri paraibano, nacio-nalmente conhecida como a Roliúde Nordestina, palco de produções audiovisuais, tanto no campo da teledra-maturgia como do cinema, possui uma cooperativa que produz peças artesanais em couro, a Arteza, cuja sede fica no distrito de Ribeira, a 14 km da cidade. Criada em 31 de julho de 1998 por um grupo de 28 produtores da área do curtume e do artesanato, a Ar-teza - Artefatos em Couro & Curtume Ltda., surgiu pela necessidade de acompanhar as mudanças sociais ocorri-das na época: era preciso adaptar-se ao “novo” homem do campo. “A gente trabalhava com o couro rústico e fazia peças mais pro homem do campo, só que isso foi acaban-do, o homem deixou de andar a cavalo e começou a andar de moto. Com essas mudanças, muita gente estava paran-do”, explica José Carlos de Castro, diretor presidente da cooperativa. A ideia de criar a cooperativa deu certo, o grupo cresceu e atualmente são mais de 270 artesãos. As peças produzidas, além de serem comercializadas no território paraibano, são exportadas para vários estados da região nordeste, sul, sudeste e centro-oeste do país. “A gente vende para quase todo o Nordeste: Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, além de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Minas Gerais”, revela. Além do couro de bode e de carneiro, a Arteza também utiliza o couro de boi e de porco na confecção

das roupas, calçados e acessórios. José Carlos explica que apenas o couro do porco não é produzido no curtume da cooperativa, “o de porco a gente não produz aqui, vem de Minas Gerais, já o de boi a gente faz uma parte e a outra vem de fora”. Ao todo são cerca de 8 mil peles e 30 tone-ladas de couro de boi por mês. As 52 famílias responsáveis por produzir aquilo que é comercializado pela cooperativa, como bolsas, san-dálias, carteiras, chaveiros, bonés, tapetes e tantos outros artefatos, trabalham de forma coordenada. “A produção é determinada, quem faz o chapéu de couro é uma famí-lia, quem confecciona a sandália já é outra, quem faz as carteiras já é outra família, e assim por diante”, conta o presidente da cooperativa. Segundo Carlos de Castro, todos os artesãos fize-ram cursos para aperfeiçoar suas habilidades. Ele explica que essas capacitações foram fundamentais para o cresci-mento da cooperativa. “Através do SEBRAE e de vários outros órgãos, a gente começou a se capacitar, tanto na parte do artesanato como na parte do curtume. Com es-ses cursos a gente começou a andar e os parceiros começa-ram a acreditar em nós e a gente foi conseguindo”. Da sua criação até hoje, a Arteza conseguiu se desenvolver e se estabelecer no mercado, como resultado dessa conquista, as suas peças estão presentes nas vitrines dos grandes centros comerciais do país.

Produção comunitária

João Saraiva

Cooperativa capacita homem do campo e vira fonte de renda para moradores do interior

10 Economia

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Eloyna Alves

11

A cena é até comum no Nordeste: uma casa cercada de plantas e com duas cachorras em frente aos portões observando quem passa na rua. O curioso estava no interior do ambiente, com lustres, móveis e espelhos antigos de todos os tamanhos e formatos fazendo parte da decoração da morada do artesão João Avelino, de 67 anos. O artesão dedica sua vida à produção de peças em couro de boi e de bode, confeccionadas no seu ateliê, nos fundos da sua residência, que fica no bairro do Cruzeiro, em Campina Grande. João Avelino está há 40 anos atuando no merca-do como artesão. O seu envolvimento com o couro surgiu da necessidade de conseguir dinheiro para ajudar a pagar as despesas da universidade, quando cursava Serviço So-cial, aproximadamente em 1974. Após aprender algumas técnicas com vizinhos, ele começou a produzir pulseiras, sandálias, bolsas e pastas, vendidas às colegas de curso e às professoras, que se encarregavam de fazer o marketing das peças, segundo ele. Formado desde 1976, o artesão não quis ser as-sistente social e passou a dedicar-se inteiramente ao arte-sanato. Em 1977 organizou sua primeira exposição, no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande. Dentro da programação do Festival de Inverno da cida-de, levou 32 peças em couro para a mostra e vendeu 29. “Fui apadrinhado pela primeira dama do município, Pilar Virgínia, esposa do então prefeito Enivaldo Ribeiro, que se encarregou de divulgar um trabalho. Nesse ano eu de-colei”, ressalta. “De lá para cá nunca mais precisei correr atrás. Fiz várias exposições e viajei o Brasil todo mostrando meu trabalho, que graças a Deus deu certo”, conta. Das cinco regiões brasileiras, a única que João Avelino ainda não vi-sitou foi a Centro-Oeste. O artesão informou que gosta

de estar sempre viajando, expondo seu material e conhe-cendo feiras para ter novas ideias. A mais recente viagem foi à Argentina, onde visitou uma feira de couro e ficou cheio de inspirações. Com carreira já consolidada, o artesão fez do seu sobrenome sua marca: Avelino Couro. A confecção de baús, caixas, carteiras, chaveiros, estandartes, luminárias, painéis, pufes, porta anéis e porta trecos, envolve o tra-balho de cinco pessoas, consideradas por João como uma família. As peças custam entre R$ 5 e R$ 1800, vendidas na Vila do Artesão e também por encomenda. Elas são produzidas pelo próprio João Avelino, acompanhado de João Ortêncio, George Valença, Isis Albuquerque (sobri-nha legítima) e Rosicleide de Albuquerque, que fazem do artesanato uma fonte de renda. Como relata a “faz tudo” Rosicleide, conhecida por Cleidinha, que é recém chegada à equipe, mas conse-guiu a independência financeira após trabalhar na confec-ção das peças de couro. “Eu trabalho aqui há quatro anos e antes estava desempregada. É o meu primeiro emprego e uso o que recebo para me manter”, destaca. A ajudante deixou a casa dos pais e foi dividir apartamento com outra pessoa, depois de poder se sustentar com o dinheiro do próprio trabalho. Aposentado pela idade, João Avelino e sua equi-pe são alguns dos portadores e construtores da identidade cultural nordestina, que representam a Paraíba por onde passam. Amante do artesanato em couro, João respon-de sem titubear que nunca pretende se afastar desse tra-balho. “Só deixo quando eu morrer. É um passa tempo para mim, sempre foi minha profissão e eu não me canso. Quanto mais faço, mais tenho vontade de fazer, de criar” finaliza. Para mais informações acessar o blog do artesão: http://www.avelinocouro.blogspot.com.br/

Dedicação ao couroUma vida de trabalho transformando pele de animais em arte

Perfil

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12

Em um fim de tarde aconchegante, daqueles de temperatura amena e que o ambiente está todo amarela-do pelo pôr-do-sol, numa sua sala confortável e de bela decoração, Angelo entra e sai várias vezes para atender chamados de dentro do museu que dirigia à época desta entrevista, antes de conseguir parar e então falar com en-tusiasmo sobre seu livro que conta a história do couro: Os homens do couro - memórias poéticas de um ofício. Angelo Rafael Bezerra de Farias é artista plásti-co e escritor. Se considera um cidadão do mundo, um desbravador com o auxílio do conhecimento, o que tem

forte influência em suas origens. “Foram seis filhos e to-dos tiveram a grande herança dos pais, que foi o estu-do, mesmo numa família humilde. Mas minha mãe foi uma mulher à frente do seu tempo, nos anos sessenta já era uma professora e estava na Universidade Federal da Paraíba, na superintendência de desenvolvimento do ar-tesanato. Então eu me criei dentro dessa perspectiva de artes”. Mesmo com uma base sólida de educação em casa, a mãe de Angelo acreditava que sendo ele uma criança que se destacava, precisava de mais estímulo. “Com 14 anos fui estudar num colégio interno em São Paulo, onde tive as primeiras lições de latim, grego e filosofia”. Uma decisão difícil para ambos, mas a permanência no colégio foi uma escolha do pequeno Ângelo, considerado pela sua versão adulta, um menino precoce. “Tive uma base muito boa para quando voltasse encarar um vestibular, sempre voltado para o lado artístico. Fui da primeira turma de Educação Artística em 1983, na UFPB em João Pessoa”. O curso foi essencial para que se encontrasse nas artes plásticas, o que nem sempre foi aceito, pelo menos não num primeiro momento - “Meu pai pensava que eu ia fazer arquitetura, todos os filhos eram engenheiros, e eu não fiz, fiz vestibular pra educação artística, isso me valeu uma surra”, conta ele, com uma risada nostálgica. Durante os anos na UFPB, surgiu uma oportu-nidade que o colocaria definitivamente no caminho das artes. “Em 85, quando estava terminando meu curso, depois de passar por uma seleção, recebi uma bolsa da Organização dos Estados Americanos, e fui estudar design e couro na Itália”. Em uma época sem celulares e fácil acesso a comunicação como temos hoje, o futuro artista teve dificuldades com detalhes simples, como entrar em contato com a escola italiana. “Naquela época eu recebi um telefonema na vizinha do consulado italiano, pra ir a Recife, foi quando me comunicaram, e em quinze dias me arrumar pra ir. Tive que mandar um telex, não tinha fax na época, confirmando minha presença na escola, e aqui em Campina só tinham duas indústrias com telex, ou Correio, onde era muito caro. Me lembro que fui pra

O inquieto artista do couro

Jéssica Oliveira

Foto/Jéssica Oliveira

Perfil

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13Cotecil e mandei esse telex dessa fábrica que era de um amigo da família”, recorda. Já bem longe de casa, os estudos sobre arte e design o levariam para uma área até então inesperada: a moda. “O sapato italiano naquela época e até hoje é considerado o mais interessante, do ponto de vista de design, qualidade e conforto. Eles importam nosso cou-ro e devolvem o sapato pronto”. O período na Itália fez Angelo acompanhar de perto a alta costura europeia. “A Itália sempre foi essa ‘Meca’ para artistas, só que eu não esperava enveredar pelo campo da moda, mas não poderia desperdiçar a oportunidade de estudar num pais onde foi o berço do renascimento. Vivenciei o auge de Giorgio Ar-mani, de Versace, de Prada”. Ele também trabalharia em respeitáveis escritórios de design, onde desenhava sapatos para as principais grifes italianas. Os escritórios recebiam pedidos a partir de uma demanda para uma coleção espe-cífica das grifes, então Angelo iria ver, mais de uma vez, suas peças exibidas em influentes revistas, porém assina-dos com outros nomes. “De repente você abre uma Vogue e tá ali o nome de outra pessoa”, afirma. O curador destaca como foi enriquecedor estu-dar artes convivendo com pessoas de mais de 150 países, durante um período sem crises econômicas na Itália, onde continuaria sua trajetória em direção a moda. “Foram meus primeiros contatos com o design, a preocupação com ergonomia, cores, calçados, modelagem e linhas. E depois me aventurei também no vestuário, sempre volta-do para o couro”. Angelo se tornou um designer de cal-çados oferecendo serviços de consultoria para o Brasil, o que o trouxe várias vezes de volta à terra natal nos anos em que morou na Itália. “Vinha nas minhas férias, forne-cia assessoria e consultoria para as empresas de calçados aqui da Paraíba e de outros Estados também, porque ca-reciam de técnicos especializados nessa área. Não tenho formação, não sou designer industrial, sou praticamente designer por natureza, sai de uma escola de artes e fui catapultado para design, uma das melhores do mundo”, ressalta. As visitas e amizades na Europa acabariam lhe proporcionando um olhar sobre seu próprio país que até então ele não tinha. “Eu vim conhecer o Brasil mesmo de fora, foi um olhar alienígena, eu não gostava daqui. Foi quando voltei com o time das escolas, do politécnico de design da Itália, que viam no Brasil um potencial, fica-vam encantados conosco, com tudo que viam aqui. De repente, passei a gostar de abacaxi, melancia, caju, cajá”, relembra. As experiências que o ensinariam tudo sobre couro surgiriam do seu processo de criação como artista plástico. “Nas minhas pesquisas como artista, o utilizei como suporte. Eu não usava tela, usava o couro cinzelado como suporte pra pintura, o acrílico sob o couro. Vieram exposições no exterior e aqui. Atualmente faço umas 6

peças por ano, mando pra Europa, depois viajo, pego o dinheiro, gasto todo, volto sem dinheiro e aqui não vendo nenhuma peça, ninguém quer”, conta. A intimidade com o couro cresceria também da experiência vivida na época da faculdade de Educação Ar-tística em João Pessoa, quando precisando de renda para se manter, confeccionava produtos em couro e ia vender na rua. “Existia uma feirinha em frente ao hotel Tambaú. Não era artesão, éramos chamados de hippie. Eu fazia pulseiras, porta moeda, sandálias, coisas para cabelo. Co-locava a esteira no chão e vendia meus produtos. Passá-vamos os sábados e domingos, me sustentava com isso, e era muito bom. Conheci pessoas maravilhosas, grandes artistas da época, Chico Cesar estudou comigo, ele era de Comunicação e eu de Educação Artística, pessoas que hoje estão aí, artistas, compositores, cantores, um período dos anos 80 com uma efervescência cultural fantástica”, conta. “Você não escreve todas essas experiências - co-mecei a juntar material e contar um pouco da história da tradição coureira de Campina Grande”. Seguindo conselhos de pessoas próximas e que acompanhavam seu trabalho artesanal com pintura e couro, Angelo Rafael começaria a acumular material para o livro que narraria a história sobre a tradição coureira de Campina Grande, lançado em 2008. “A gente fez um mergulho dentro da história do couro, das manufaturas”. Uma tarefa que pre-cisou de afinco e entrega de sua parte, mas ele garante se sentir completamente recompensado por essa busca que o levou a outros países, trouxe descobertas históricas sobre o tema, sobre a Paraíba e Campina Grande, e afirma que deu uma boa contribuição para a cultura local de sua terra natal. “O livro foi uma grande conquista, porque não é fácil escrever, publicar, distribuir, vender, convencer, pes-quisar. Foi um divisor de águas”, assegura. Os homens do couro foi marcante para este ar-tista, aventureiro e um dos dois brasileiros contemplados pelas bolsas oferecidas na América do Sul para estudar na Itália, numa época que esse tipo de iniciativa no país era escassa. “Foi quando tive minha grande injeção de auto-estima, percebi que eu era capaz de fazer aquilo que eu sonhasse, que eu quisesse, bastava trabalhar e estudar, ar-regaçar as mangas”. Angelo ainda enfrentaria um enfarto, por não conseguir vencer a burocracia italiana e entrar no país a tempo de sua exposição já com data marcada, e por isso ficou hospitalizado durante o evento. “Não sou uma pessoa de me estabelecer, morrer artista plástico, morrer designer de calçados. A mesmice me incomoda”. Por fim, ele pegaria em uma gaveta seu mais recente livro, o copi-lado de poesias A casa das bocas pintadas de encarnado, que seria devidamente autografado: “Para Jéssica Oliveira, numa bela tarde de dezembro. Abraço do autor, Angelo Rafael”.

Page 14: Xique Xique #3 Couro

Motociclismo:um estilo que

ultrapassa gerações

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Lucineide Farias

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Comportamento

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O couro existe desde os tempos mais remotos, sendo utilizado na confecção de várias peças do vestuá-rio, tanto masculino como feminino. Foi na década de 50, com o surgimento das ‘tribos’ de motoqueiros, que algumas peças ficaram mais em evidência. Principalmente após as produções hollywoodianas que mostravam e gla-mourizavam os motoqueiros rebeldes, como James Dean e Marlon Brando, que ficaram eternizados na memória das pessoas, servindo como referência dessa geração. Com um estilo marcante, os motoqueiros vêm fazendo história ao longo das décadas. Suas motos perso-nalizadas e suas roupas pretas tornam-se o seu modo de vida, o que marca a sua personalidade. As principais peças que fazem parte desse estilo são as jaquetas de couro, os coletes descontraídos, os lenços, as botas, os tênis pesa-dos, as luvas e as calças mais incrementadas, sem esquecer o capacete claro, que é uma parte de grande importância para a complementação do look e para a segurança do motociclista. Nos últimos anos o perfil dessas pessoas foi mu-dando. Os antigos motoqueiros rebeldes que ajudaram a definir esse estilo, pilotando as suas motos sempre em grupos, e personalizadas com o seus símbolos de cavei-ra, as suas tachas, spikes e coturnos, foram substituídos por pessoas comuns, com trabalho e residências fixas, que encontram nos motoclubes um hobby e uma forma de interação social, preservando mais a estética e o espírito de aventura do que a rebeldia. Em Campina Grande, Paraíba, temos alguns exemplos. Antônio de Vasconcelos é contador e fundador do Moto Clube Lobos Rebeldes. Ele nos conta que dei-xou a bicicleta de lado para se aventurar no mundo das motos, juntamente com seus filhos e que sempre participa dos eventos realizados por motoclubes de todo o país, tro-cando e colecionando os símbolos de outros grupos. As jaquetas tanto ajudam na proteção do frio nas estradas, como também servem para reforçar a identidade de quem as usa. E essas peças características das tribos de duas rodas são facilmente adaptadas para o uso no dia a dia, especialmente no período do inverno. E por mais estranho que possa parecer, aquele estilo considerado marginal virou um padrão no mun-do todo. Não que os motoqueiros estivessem lançando

moda, mas eles se mantiveram fiéis a algo único, se ves-tindo da maneira como gostavam. Outro motoqueiro de final de semana é Thiago Evaristo, um apaixonado por motos e pela velocidade, que se caracteriza com todos os acessórios de um fiel mo-toqueiro, coloca a sua esposa na garupa da moto e pega a estrada. “Vou em busca de novas emoções e de conhecer pessoas que têm a mesma paixão que eu pelas duas rodas”, afirma. O estilo despojado e ao mesmo tempo charmoso faz com que a jaqueta seja uma peça coringa do guarda roupa de cada pessoa.

Foto/Alan Glauber

Antônio de Vasconcelos e filhos, companheiros de estrada.

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Cangaço

Texto/Agda AquinoProdução de Moda/Káio Lenno AraújoMaquiagem/Sulamita OliveiraModelos/Jéssica Oliveira/Marcia Lima/Joelinthon BarrosFotos/Agda Aquino/Eduardo Phillippe/Maria Clara MonteiroPeças/Furlão-Arte em Couro/Arteza/Cangaço Urbano por Agda Aquino/AcervoAgradecimentos/Moto Clube Os Cabra da Peste/AlphaVille Campina Grande

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Resitente, forte, protetor, tradicional, moderno e, principalmente, marcante. Essas são características que podem ser usadas tanto para o couro quanto para os aventureiros que rasgam o asfalto em suas motos. Para eles, tradição e emoção andam juntos, como o couro na pele e o vento no rosto. Mais do que uma tendência de moda, um estilo de vida. Recordando o espírito livre dos cangaceiros e somando à liberdade da estrada, esses homens e mulheres sabem que a beleza está também na identidade e na verdade contida naquilo que vestem.

do Asfalto

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O couro é Rock!

Jéssica Oliveira

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Poucos casos de amor na história da moda foram tão intensos quanto a relação do couro com o rock. Uma parceria baseada em reciprocidade: o estilo musical influenciou as ruas e as passarelas res-ponderam. Cada fase do rock’n’roll ditou tendências específicas de uma época e do momento político, econômico e social pelo qual a sociedade estava pas-sando. E para cada período, um vestuário próprio dessa música transgressora e muito associada a con-tracultura, trazia peças recorrentes ou que marcariam uma década. Para o artista paulista Thiago Pethit, o cou-ro combina com o rock por suas peculiaridades de resistência e agressividade. “O couro é um material resistente e que quanto mais gasto vai ficando, mais vai ganhando personalidade. Não sei exatamente o porque ele foi tomado pelos roqueiros mas eu acredi-to que a vida em estrada, em turnês, tenha bastante a ver com isso. Ele simboliza pra mim uma certa agres-sividade, uma crueza, um lado ‘selvagem’ da persona-lidade e da música.”, ressalta. A jaqueta de couro já era a queridinha dos motociclistas e pilotos de avião, mas foi no período pós-guerra, no início dos anos 50, que ela passou a ter status de rebeldia. Elvis Presley foi o grande íco-ne rock desta década - estrela do Rockabilly que tra-zia no som as influências do country e rhythm and blues. Ele popularizou peças até hoje indissociáveis do estilo rock’n’roll, que não é nada extravagante: calça jeans, camisetas brancas ou listradas, acompa-nhados de sapatos ou botas de couro. “Elvis Pres-ley chegou a fazer um show maravilhoso, acústico,

e filmado, em que ele vestia um conjunto de calça e jaqueta de couro pretas.”, lembra Pethit. Os filmes O Selvagem (The Wild One) de 1953 e Juventude Transviada (Rebel Without a Cause) de 1955 e seus protagonistas - os astros do cinema Marlon Brando e Jean Dean respectivamente - foram essenciais para reforçar o jeito rebelde sem causa, porém cheio de atitude. O músico Pethit reforça a influência do ci-nema, de Dean e movimentos sociais: “James Dean, que embora só tenha usado jaqueta de couro em um filme, foi o filme que cravou a ideia de rebeldia dos anos 50 e nos Black Panters, o movimento negro dos anos 60-70 que tinha o couro como um uniforme de guerra.”. A jaqueta estilo perfecto, que Elvis Presley, Brando e Dean tanto usaram, foi criada em 1928 pe-los irmãos Irving e Jack Schott da companhia Schott NYC, que era especializada em roupas duráveis e resistentes à chuva e ao vento. A peça de couro foi desenvolvida a pedido da marca de motos Harley Davidson. O final dos anos 1960 e começo dos anos 1970 foram intensos social e culturalmente. Hippies, ativistas, feministas, estavam unidos com a música e o rock. Neste período de roupas mais coloridas, floridas e de tecidos leves e fluídos, para os hippies o couro foi mais presente nos acessórios e detalhes. Colares, pulseiras e cintos compunham um estilo mais confortável. Jaquetas, coletes e bolsas de camur-ça (tipo de couro mais suave) marrom, muitas vezes acompanhadas de franjas. Estão entre os ícones mu-sicais, talentos que morreram aos 27 anos: Jimi Hen-drix, Janis Joplin e Jim Morrison do The Doors, este

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último que gostava de calças e jaquetas específicas, e costumava usar um visual totalmente em couro. “Jim Morrison usava o couro de um jeito particular, sem-pre com um tecido muito leve por cima, e que tradu-zia um pouco o espírito dos tempos psicodélicos e da sua música.”, Pethit enfatiza. Já no cinema, no longa Easy Rider (no Brasil, Sem Destino) de 1969, vemos um retrato da contracultura, da busca pela liberdade longe de padrões impostos, protagonizado por dois motociclistas vestindo muito couro enquanto cru-zam os Estados Unidos ao som de “Born to be wild” do Steppenwolf. Os anos 70 ainda tinham muito a oferecer para a moda. Foi a década em que despontaram as primeiras bandas de heavy metal, como Led Zeppe-lin, Black Sabbath e Deep Purple, que para sempre influenciariam uma legião de metaleiros e bandas como Judas Priest e Iron Maiden, que arriscavam trajes inteiros de couro. Os últimos anos trouxeram o movimento punk, que apesar de se declarar con-tra a alta costura, ditou muitas tendências. A jaqueta de couro volta e é inseparável do figurino de bandas como Ramones, Sex Pistols e The Clash. Nos pés, os coturnos e creepers ganharam mais ainda conotação de rebeldia. E continuaram assim nos anos 80, mes-mo em meio as rendas e elementos medievais dos gó-ticos, principal vertente do rock desta década, regida por The Cure, Bauhaus e Siouxsie and the Banshees. Em todos esses três movimentos - metal, punk e gótico - o couro era customizado com aplicações e spikes, e com exceção dos Ramones, todas as ban-das são britânicas. Já na década de 1990 foi a vez do Grunge e da cultura norte-americana estar presente novamente no rock. Surge em Seattle (Washington), de estilo mais despojado, o gênero rock que bebia das fontes do rockabilly, metal e punk, e foi encabeçado pelas bandas Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden, entre outras. No Brasil, o rock esteve em evidência na Jo-vem Guarda dos anos 60, na Tropicália da década de 70 e numa explosão de bandas populares nos anos 80, num período posterior ao fim da ditadura militar no país. Pelo mundo, nos anos 2000, em uma socie-dade cada vez mais conectada online, criariam-se os indies, que lançavam seus próprios discos em selos independentes, sem gravadoras, e se vestiam com simplicidade e despreocupação, usando básicos jeans e camiseta. Surgiriam outros pequenos movimentos

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- “emos”, hipsters - e as passarelas sempre estão res-gatando inspiração no legado deixado pelo rock. As peças de couro onipresentes em todas as épocas e gê-neros do estilo musical, sem dúvida, foram as jaque-tas e botas, itens muito característicos na composição de um visual rock’n’roll. Símbolos próprios do estilo rock são visíveis no trabalho e na identidade visual de Thiago Pethit, que conta como se trata de um misto de quem ele é com suas referências. “Minha identidade visual é fruto da combinação entre a minha personalidade, quem eu sou, o que gosto e não gosto, com uma pesquisa profunda de ícones e mitos e ideias que sur-giram antes de mim. Cada trabalho tem um recado a ser dado, e a forma visual ela é a mais cheia de simbo-logias. Então eu vou atrás destes símbolos e isso aca-ba resultando no conteúdo visual do meu trabalho.”, afirma.

Qual será a próxima tendência dessa parce-ria? Thiago Pethit acredita que o espaço que temos agora na internet ajuda e muda nossa percepção de quem são os influenciadores. “Acredito que hoje em dia, mais do que nunca, a verdadeira influencia não se dá mais de artistas para público, ou de músicos, atores, como se os artistas fossem especiais nisso. As redes sociais tornaram possível que todos nós en-quanto pessoas físicas, comuns, pudéssemos ter voz e isso tem feito um imenso barulho na sociedade. Sin-to cada vez mais que meu poder de influência é tão capaz quanto o de qualquer pessoa com uma conta em redes sociais e que saiba como gerenciar e dar voz aos seus sentimentos e ideias. Nem mais, nem menos especial”, assegura o artista. Não há como prever a revolução seguinte dessa parceria, pode acontecer a qualquer momento. Mas temos certeza de que virá acompanhada de boa música e um figurino inconfundível.

Fotos/Gianfranco Briceño

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Para o povo nordestino, o couro é mais do que a pele do animal, é historicamente uma questão de sobrevivência. A imagem clássica do vaqueiro de gibão e chapéu de couro está ligada ao traba-lho, à lida, à proteção do corpo, principalmente da vegetação cortante da caatinga. A cena do vaqueiro ficou, então, ao longo do tempo, marcada como uma identidade do Nordeste. Personalidades impor-tantes do Brasil, como Luiz Gonzaga e Assis Chateubriand, ajudaram a imortalizar essa vestimenta que se tornou praticamente um símbolo cultural. As chamadas festas de vaquejada ganharam espaço e perse-veraram ao longo do tempo como uma forma de trabalho e, porque não dizer, também lazer e entretenimento para o povo da região. O couro está presente não apenas nas vestimentas dos vaqueiros, como também nos acessórios, ferramentas e no próprio boi, cla-ro, origem da matéria prima. O vaqueiro Jurandir José de Figueiredo, que corre em vaquejadas desde criança, conta que suas roupas e utensílios são heranças que passaram de pai para filho. Seu pai e seu avô eram vaqueiros e corriam na pega de animais no mato. Eles utiliza-vam vestimentas e arreios de couro, hoje herdados por Jurandir para prática esportiva da vaquejada. “Meu pai produzia essas pe-ças, um trabalho difícil de ver hoje em dia”, disse. No município de Cabaceiras, no Cariri paraibano, ainda existem pequenas fábricas desses artefatos de couro. As peças são vendidas para Campina Grande e para a região Su-deste do país, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. Mas a maior parte da produção é destinada às vaquejadas da região, que apesar de gerarem certa polêmica em tempos de mobilizações contra os maus tratos de animais, não têm previsão de acabar..

Vaquejada:a festa do couro

José Celson Marques e Agda Aquino

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Do animal ao uso29

Cuidar bem dos calçados é algo essencial para conservação da sua estética. A beleza dos pés à cabeça não tem preço, mas deve ter qualidade. Esse é o primeiro re-quisito para comprar uma peça, especialmente de couro. Durabilidade, proteção, beleza são sinônimos dessa ma-téria-prima extraída dos animais. Tudo começa no campo, seja no mais simples curral ou até mesmo no mais aperfeiçoado matadouro. O couro é matéria de desejo, a pele que mais tarde es-tará embelezando os pés, as mãos e o corpo de homens e mulheres. Para que um bom couro seja apreciado pela indústria da moda uma coisa é essencial: qualidade, e é no cercado onde tudo começa. Para seu Francisco, um pequeno criador da zona rural de Areial, município do Brejo paraibano, é pelo couro que o lucro ou o prejuízo podem existir. Um bom couro pode render muito quan-do bem preparado. Para ele o maior desafio na vegetação da caatinga é zelar por um couro com a qualidade exigida pelo mer-cado: sem rasgões, cortes ou perfurações. Os animais no mato estão expostos a tudo, conta o criador. Arame far-pado, vegetação espinhosa, brigas entre os próprios ani-mais... tudo isso contribui para a depreciação do couro, o que pode gerar prejuízo na venda. O couro é a matéria-prima para diversos acessó-rios. Uma vez bem trabalhado encanta os mais requin-

tados espaços e satisfaz os mais curiosos desejos. Um jo-gador de futebol de pelada, por exemplo, não consegue permanecer por muito tempo em um campo duro, cheio de pedras se não for com uma chuteira de couro. Antônio (conhecido como Toinho, na região) é atleta de finais de semana. Ele diz que sua chuteira é “pau pra toda obra, sem ela estou morto”. Devido a qualidade do material e o repuxo nos pés de um peladeiro, “somente o couro suporta por mais de três meses o rojão”, conta o jogador amador. Como tudo na vida tem um fim, o couro se não for bem conservado, tem sua durabilidade reduzida. Não expor diretamente a água é o primeiro passo para garantir um bom produto. Guardar em ambientes sem umidade é também um meio de proteger os acessórios desse ma-terial. Para conservar de forma mais efetiva, um hábito essencial é engraxar sapatos, tamancos, chapéus e outros utensílios feitos a partir do couro. O engraxate José Tadeu, há mais de quinze anos leva a vida dando brilho ao couro. Para ele, esse serviço não é apenas estético. Um couro engraxado ganha vida e dura mais, relata o trabalhador. “Sou procurado todos os dias para escovar sapatos de couro. Fico feliz quando além de ganhar dinheiro com o meu trabalho, dou brilho e ilumino os passos que toda semana voltam para serem alisados pelas minhas escovas”.

Leandro Targino

Conheça o ciclo do couro, da natureza até as peças finalizadas

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Tecnologia

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Couro ou não, eis a questão!Produtos ecológicos e sintéticos atendem

a diferentes demandas de mercado

Gabriela Raposo

Desde o antigo Egito o couro tem sido utilizado para adornar o homem e ao longo dos tempos passou a ser uma peça essencial no vestuário feminino, que vai do sapato a uma simples pulseira. Mas com o aumento do seu uso, ampliou também os questionamentos sobre sua produção e que tipo de couro seria mais apropriado para o uso. Para abordar essa questão, vamos conhecer as dife-renças entre o couro natural e os sintéticos e ecológicos. Além de ser um produto derivado de animais, o seu processo de fabricação agride o meio ambiente. Quan-do falamos em couro natural, logo remetemos à matança de animais e várias organizações não-governamentais vêm lutando contra isso, dentre elas a que se destaca é a PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais). Em vários lugares do mundo ela luta contra a utilização desse tipo de couro, fazendo diversos tipos de protestos a fim de acabar com esse mercado. A estudante Ana Beatriz Caldas, que aos 13 anos tornou-se vegetariana, é totalmente contrária ao uso de qualquer peça de origem animal. “Acho a ideia altamente retrógrada, antiquada e cruel. Desde que parei de comer carne parei também de usar qualquer tipo de acessório de couro (fui, inclusive, doando os que tinha) e sempre che-co várias vezes nas lojas se o sapato, a bolsa, o cinto que quero são de couro animal”, disse Ana Beatriz. É tanto que quando ela vai a alguma loja de calçados e questiona a origem do material utilizado na confecção dos produtos, vários vendedores acham diferente seu comportamento e principalmente sua preocupação com os animais. Como alternativa, foram criados outros tipos de couros, o ecológico e o sintético - embora seja importan-te salientar que é proibido por lei o uso da palavra “couro” para qualquer material que não seja de origem animal, de acordo com a lei 11/211 de 2005. No primeiro caso, foi desenvolvido nos anos 80 pelo professor da Universidade

Federal do Acre, Francisco Samonek. Ele misturou sabe-res populares com as técnicas industriais e criou o couro vegetal a partir do látex extraído da seringueira, embora ainda utilize fibras de couro bovino, mas o processo de fabricação é que a torna diferente, já que gera menos im-pactos ao meio ambiente pois são utilizadas substâncias biodegradáveis em sua composição além de haver uma economia de água se comparado processo tradicional. Já o no couro sintético não contém pele animal em sua composição, sendo 70% de policloreto vinílico (PVC), 25% poliéster e 5% de poliuretano. O poliure-tano é que oferece melhor aparência nas texturas e uma temperatura mais agradável e adequada às peças. O ponto negativo desse tipo de produto é que ele é feito a partir da utilização do petróleo, por isso é considerado poluente. Mas para a indústria da moda ainda é difícil ade-rir a esses materiais alternativos. A designer e empresária Juliana Ribeiro explicou que em suas coleções são usados couro natural, mas em algumas peças são acrescentadas couro sintético, palha e até mesmo tecidos, para detalhes que estiveram na moda. De acordo com Juliana, “traba-lhamos com este produto, pois nossa clientela gosta desse tipo de material. Eles valorizam o couro animal, ele não é de maneira nenhuma mais econômico, seu valor é bem mais alto do que o couro sintético e para conseguimos matéria prima de boa qualidade compramos em curtumes do sul e do sudeste, o que contribui para o aumento do valor”. Seja qual for seu gosto, nos últimos tempos o mercado vem se adaptando conforme a demanda. Para os vegetarianos temos o couro sintético, para os preservado-res do meio ambiente temos o ecológico e para os aman-tes do couro temos o natural. Uma variedade de produtos para todos os tipos de consumidores.

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Exoticos O couro de tilápia, que antes servia apenas para ali-mentar as mesmas, hoje é muito valorizado por sua beleza, alta resistência, flexibilidade e propriedade térmica. É ideal para aplicação em calçados e acessórios.

O couro de arraia tornou-se uma nova tendência da moda. Ela oferece inúmeras possibilidades para a criação de seus desenhos originais de carteiras, bolsas, cintos, sapatos, ves-tuário e todo o tipo de acessórios. Seu desenho perolado faz toda a diferença. Não existe nada no mundo de peles exóticas que se compare a este tipo de couro.

O javali tem um couro de altíssima durabilidade e mantém suas características, como flexibilidade e permeabili-dade, por muitos e muitos anos. Produzido em Tapejara/RS, este tipo de pele tem uma infinidade de usos, incluindo tape-çaria, calçados, roupas, luvas, etc.

A pele de avestruz é uma das que representam um grande desafio ao ser tratada, porém é uma das mais suaves. É abundante em óleos e gorduras naturais, evitando que resseque, quebre ou se torne rígida. Nenhuma outra pele no mundo é tão completa, já que seu desenho é único.

A pele de iguana conta com uma extraordinária distin-ção em estilo e qualidade. Ela brinda versatilidade e elegância aos produtos de pele exótica, tais como pulseiras de relógio, botas, cintos, carteiras, bolsas, etc. Esta pele é tradicionalmente utiliza-da para a confecção de artigos de luxo nos países mais ricos do mundo.

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Soraia Medeiros

Foto/LevMe

Foto/Lolita Pimenta

Foto/Agua Pé

Foto/Silverado Botas

Foto/Loja Cowboys

,Curiosidades

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Perfume de Couro

Caio César Beltrão

Poder, sexo, moda, cultura e algo mais

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O couro verdadeiro é a matéria prima extraí-da a partir da pele de animais, e sem a adição de outros aromas, possui um cheiro desagradável e bem diferente daquele com o qual estamos acostumados a caracterizar como tal. O próprio elemento animalesco e rústico é tam-bém resultado desse processo, do qual nada resta do seu primitivo odor original. A fragrância do couro contida em perfumes e essências é na verdade a combinação de materiais aromáticos, como quinolinas, castóreo, bétula, ládano, saffraleina, óleo de bétula, tanino e outros que são utilizados para tratar o couro. Logo, esses perfumes são tão recheados de representações quanto todas as produ-ções que o rodeiam. Dessa maneira, compreender o que justifica a busca desse aroma tão peculiar e intrigante, é mais do que falar sobre couro. A história dessa matéria prima na perfumaria começa no século XVI, quando de acordo com a tradi-ção Gantiers Parfumeurs, fabricantes de luvas parisiense produziram os modelos de couro para a aristocracia. Elas eram banhadas em almíscar, óleos e âmbar para disfarçar o cheiro da pele. Esse conjunto de odores deu origem ao que conhecemos hoje como o aroma de couro. O The Royal foi o primeiro perfume de couro que se tem regis-tro, e foi criado pelo fascínio que as luvas aromatizadas causavam ao Rei da Espanha, George III, que ordenou que aquele cheiro se tornasse uma fragrância também para o corpo. Foi o que fez a Creed, uma das então fabri-cantes de luvas e esse perfume ainda hoje é comercializa-do. Podemos citar ainda outros clássicos como “Guerlain Shalimar” e “Caron Tabac Blond” O perfume tem sua origem histórica datada em 2.000 a.C no Antigo Egito, onde era utilizado pelos Fa-raós e os membros mais importantes da Corte. Depois de algum tempo, o seu uso deixou de ser exclusividade dos componentes do topo dessa pirâmide social. Em 1.300 a.C ocorreu a primeira greve que se tem registro, na qual o Faraó Seti I, se valendo do domínio da produção daque-

las essências, organizou os seus soldados e interrompeu o seu abastecimento, o que fez com que os peões de Tebas se revoltassem com essa situação e só fossem contidos trinta anos depois, já por Ramsés II. Podemos encontrar na li-teratura acadêmica a utilização de diversos aromatizantes recheados de simbologias e anteriores a essa passagem, en-tretanto, nela podemos observar quanto o poder sempre esteve na essência, que nesse caso, era uma doce refrescân-cia em meio ao árido deserto. Apesar das conquistas femininas das últimas dé-cadas, em busca de libertação e autonomia para usar o que quiser, ainda há uma convenção social de que mulher deve cheirar a rosas, com aroma adocicado e delicado, como um “Romance” de Ralph Lauren, “Cherry Prin-cess” da L’Occitane, “Humor Bom Humor” da Natura e

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Oh Lola, de Marc Jacobs. Seja Princesa ou Plebeia, tem para todas. Mas isso, também vem mudando ao longo do tempo. O “Lacoste Femme”, da Lacoste, “D&G La Lune nº18” da Dolce & Gabbana e o “CH EDT Feminino” de Carolina Herrera, são exemplos de fragrâncias fortes que remetem ao couro e a personalidade de uma mulher que deseja o novo. Já os homens sempre vivenciaram um insólito paradoxo no qual eram agressores e agredidos pelo pró-prio machismo ao qual disseminavam. Dentro desse com-plexo jogo de relações sociais, o tempo foi maduro o su-ficiente para mostrar uma forma muito mais interessante de jogá-lo. Na cama. E para isso, sai de cena o preconceito e entra o couro. Trata-se do movimento batizado de lea-ther, onde inicialmente práticas homossexuais masculinas eram realizadas no contexto de dominador e dominado, o que logo se estendeu também para relações entre mu-lheres e heterossexuais, tornando-se um dos fetiches mais recorrentes do imaginário cultural. Dessa forma, o couro adquire status do mais puro, elegante, grosseiro e emble-mático sinônimo de sexo. Seu aroma pode ser instantane-amente confundido com o do próprio corpo em êxtase. O “Armani Code”, “Dior Homme” e “Brit Rhythm Men – Burberry” possuem em suas características um pouco dessa animalesca união de sensações. Possuem traços do aroma de couro e tons de essências que remetem a tabaco, azeitonas, limão, cardamomo, entre outros. A psicóloga Josiane de Medeiros definiu o fetiche como uma prática na qual a representação simbólica de algo acarreta no sujeito estímulos que muitas vezes são confundidos com sexuais, entretanto, vão muito além dele. E destacou ainda o exemplo do próprio couro, que embora o seu aroma esteja na construção de outras fra-grâncias, utilizadas supostamente anulando a sua essência primitiva, ainda assim, tanto ele, quanto o seu perfume, são capazes de despertar sensações que conscientemente somos incapazes de explicar suas razões. O couro também rapidamente ganhou as ruas, sem perder obviamente, as características adquiridas ao longo do tempo. Em 1940 Bill Finger e Bob Kane lan-çavam em quadrinhos uma figura épica. Uma mulher de grande sensualidade e personalidade, vestida de couro e com chicote nas mãos. A mulher-Gato, o alter ego de Se-lina Kyle, uma personagem das HQ’s que surgiu logo na primeira edição do Batman e dividiu atenções. É o fetiche masculino, mas também, é o surgimento da libertação de uma nova mulher. Botas, saias e outras peças do vestuário feminino ganhavam espaço nas ruas, e talvez nem com-preendessem o quanto aquilo representava. Já em 1954, o couro voltou aos ombros masculinos, mas hoje, com muito estilo e atitude. Agora é definitivo, o couro é sexo, o couro também é moda.

Para a estudante de enfermagem Aísha Sthéfa-ny, o couro remete às suas tradições como nordestina e destaca seu cheiro peculiar. “O cheiro do couro é forte, tem aroma de terra molhada, me traz lembranças do meu Sertão… dá vontade logo é de ficar descalça e sair dançan-do”. De fato no Nordeste brasileiro ele ganha ainda mais história, e isso tem início quando dialoga com um dos movimentos mais controversos do nosso país, o Canga-ço. Lampião, Maria Bonita e seu grupo sempre com suas roupas e adereços tão ricos e levando no corpo um traço da identidade de um povo que junto a eles se fez vaidoso, implantando um reino no Sertão. Suas vestes, iguais à de qualquer outro rei, eram representações claras de poder e intolerância, sempre banhadas com uma externalidade de beleza, e graça. O couro, aqui também é protagonista e vítima, como pele morta que é capaz de ser rasgada, mas incapaz de voltar a sangrar. Seu aroma, embora simbólico, desperta sensações tão primitivas quanto modernas a tal ponto de ainda serem transgressoras. O couro é poder… também é sexo… é moda… cultura … e cheiro.

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A pele do

fetiche A pele que veste o couro toca a outra pele. Ligado ao fetiche, colado ao corpo, sen-sualizando os que vestem, mostrando a for-ma do desejo. Usado quase como uma segun-da camada, ele revela mais do que esconde e faz brilhar a vontade dos que usam e dos que querem ser usados. A paisagem desértica e rochosa dos lajedos nordestinos compõe o cenário dessa história onde os limites ultra-passam o comum e as vontades encontram suas realizações.

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Texto/Agda AquinoProdução de Moda/Káio Lenno AraújoMaquiagem/Sulamita OliveiraModelos/Aline Galdino/Elvis Guimarães/Eduardo MonteiroFotos/Agda Aquino/Eduardo PhilippePeças/L’Amour Rouge/Paris Calçados/AcervoAgradecimentos/Hotel Fazenda Pai Mateus

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Rafael Galdino

Conheça o passo a passo da tecnologia usada no tratamento da pele do boi

Tecno44 Economia

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O que carteiras, cintos ou tênis em couro com-prados em uma loja de marca têm em comum com os mesmos de uma loja popular? Tecnologia! Todos esses produtos são feitos com agilidade, precisão e melhorias no aproveitamento da matéria prima. Desde a compra pelas fábricas até o corte do couro, existe uma série de processos para se aproveitar o melhor da peça até chegar à roupa, calçado ou acessório que você pode usar no dia a dia. No universo da moda, as coisas evoluíram, ga-nharam popularidade e crescimento, os cortes, os mode-los, as cores e todo o segmento tornou-se cada vez mais plural, a oportunidade de entender como se vestir nunca esteve tão fácil, graças ao enorme avanço da tecnologia. Chegamos ao ponto de ser impossível não viver dentro de uma moda, afinal, tudo que vestimos foi pensado para algum uso. Na indústria, com barateamento das roupas, e aumento da variedade de peças, o couro ganhou lugar de status pela sua qualidade. Ele tem provado que é sinôni-mo de sofisticação com peças cada vez mais bem elabora-das, assumindo muitas formas como vestidos, saias, blu-sas, calças e as tradicionais jaquetas de couro que sempre estão em alta, graças à uma simples e complexa palavra: tecnologia. E quem disse que o couro foi feito para esquen-tar? Máquinas transformam peças pesadas em arte leve, que se assemelha até a roupas que nem parecem feitas de couro, graças ao uso destas e boa matéria-prima acabam gerando resultados surpreendentes. Você pode se pergun-tar, se o couro está apenas na moda de vestuários, e a res-posta é não. Banco de carros, sofás, cadeiras e em mais uma infinidade de lugares o couro é utilizado. “Eu sou uma pessoa consumista até demais, mas sempre que vejo uma roupa ou algo de couro, vejo logo o preço para saber se posso comprar, porque realmente são mais resistentes e duram mais”, afirmou Caio Henrique, estudante de Design, que acredita que usando casaco de couro ele está sempre bem vestido. O estudante defende que a produção local de peças de couro é uma boa alter-nativa de consumo. “Recentemente usava uma carteira de

couro feita em Cabaceiras, e ela foi a que mais durou por incrível que pareça, a cor, a qualidade e até o formato dela, eram tão atuais quanto de qualquer lugar. Para mim, não há diferença a não ser pela marca, já que o preço, foram iguais a uma qualquer”, disse. O couro para chegar aos seus pés, nas roupas, nos acessórios, e em todos os departamentos desde casa até decoração, depende de uma série de cadeias produtivas. Tudo começa na pecuária de corte, que é de onde vem à matéria-prima principal, que passa para os curtumes que fabricam o produto final. As peças saem de diferentes for-mas para serem usadas em diferentes setores de produção, como calçados, vestuários e uma gama de segmentos. Os tipos de couro podem vir de vários tipos de animais: equinos, bovinos, caprinos, etc. De acordo com dados da International Council of Tanners (ICT), aproximadamente 65% do couro produzido no mundo é de origem bovina. No Brasil, a indústria de couro, se concentra com predominância nas regiões sul e sudeste, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. São regiões consideradas polos coureiro-calçadistas, por possuírem uma concentra-ção de curtumes, fabricantes e frigoríficos, a maioria de médio porte, e por isso acabam gerando benefícios pela interação entre elas. Na Paraíba, temos polos indústrias que também trabalham com o couro e em todas as etapas, de frigorífi-cos, curtumes, produção, fabricação e até chegar às lojas para o consumidor final. Em Campina Grande existe o Centro Nacional de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco–CTCC/SENAI, onde são desenvolvidas atividades educacionais e profissionalizantes. Dentre suas ações está o tratamento e ensino do manuseio do couro, voltado para o trabalho futuro em indústrias. O Centro também utiliza processo de desenvolvimento de produ-tos, através de pesquisa de mercado e tendências com im-plantação, acompanhamento técnico junto às empresas. Os curtumes ativos na região trabalham atual-mente com o couro no tipo Wet Blue, que é o primeiro processamento da pele após o abate, onde na fase inicial é dado o primeiro banho de cromo. É nessa etapa que se

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encontra uma das grandes polêmicas a respeito do impac-to ambiental, já que é feita pela utilização do material e pela enorme quantidade de água, gerando um tom azu-lado e molhado, no caso o wet (molhado) blue (azul), pronunciado o próprio termo em inglês.

Em entrevista realizada na empresa Curtidora Campinense, que trabalha com curtumes em Campina Grande, e também fabrica botas em couro para segurança no trabalho, nos foi explicado que o tratamento da pele animal não demanda de uma grande mão de obra, já que suas etapas demandam bastante tempo. Erick Alcântara Miranda, sócio e também administrador, apresentou as etapas da produção do couro e toda tecnologia utilizada. As máquinas são importadas, de origem italiana e france-sa, e por se tratarem de equipamentos de alto custo e de alto valor de importação, são compradas aqui no Brasil, já de outras empresas, funcionando como um reaprovei-tamento de equipamentos. As peças para tratamento no curtume são com-pradas por fora para que os custo de produção e trata-mento sejam menores. Já na fábrica de botas, boa parte do processo de trabalho com o couro ocorre com utilização de máquinas que facilitam e aceleram o processo de pro-dução.

Curtimento

As peças de couro, quando chegam à fábrica, são divididas, separando manualmente as peles em camadas. Elas são cortadas pela metade, pois segundo o adminis-trador da empresa, os clientes não compram o couro por completo, preferem comprar dividido em duas partes para poderem aproveitar mais as peles. O couro já cor-tado é colocado em uma máquina chamada Fulão, tonel enorme de madeira, onde é misturado com água quente e pigmentos para dar a cor. Em alguns casos, antes de ser pigmentado, pode passa por uma máquina chamada rebaixadeira, que faz nivelamento dos couros deixando muitas vezes mais fino e maleável. Hoje em dia vemos vestidos, ou saias de couros com uma aparência leve devi-do a esse processo inicial. Apenas essa etapa do processo de tratamento do couro segue mais manual.

Acabamento

As etapas seguintes são como complementos do curtimento inicial, dando propriedades desejáveis ao couro, como resistência, impermeabilidade, flexibilidade, maciez. As peças que saem do fulão são colocadas item a item na máquina de secagem para retirada de parte da água. As peças secas são direcionadas para a molissa, má-quina que padroniza o couro, amaciando a pele inteira. Erick destaca: “dependendo da necessidade do cliente, a peça pode não passar por essa etapa ou alguns processos, que é o caso do couro para cintos”. Depois que o couro é amaciado, as peças entram novamente em outro fulão, com algumas bolas maciças que vão se chocar no giro da máquina, e amaciam a pele.

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Pré-acabamento

O couro estando macio é encaminhado para uma máquina chamada Toggling, semelhante a uma tela, onde é preso e aquecido para secarem e evitar perda de superfí-cie e aparecimento de rugas. “Essa máquina quando tem atualizações é sempre na mesma versão, ou no mesmo modo de processo, por isso demora a ser alterada”, afirma Erick, quanto ao tempo de duração das máquinas. É ne-cessário observar que existem diferenças entre o curtume de Campina Grande e os de outros polos coureiros-cal-çadistas. Apesar de mais simples, o trabalho manual vem acompanhado de muita qualidade. A principal diferença entre um curtume menor e um de um grande polo são as divisões especializadas por setores e a mão de obra es-pecífica para cada área. Posteriormente o couro é levado para uma máquina chamada multiponto, que tinge com as cores que são pedidas pelo cliente. “Ás vezes o couro pode levar duas, três mãos de tinta para ficar na cor ideal, e nessa máquina ele também leva a mão de brilho”, fala Erick, sobre o processo de tingimento do couro. Depois as peças passam por máquinas que rapidamente secam a tinta e deixam o produto pronto para personalização.

Acabamento final

O acabamento final é o que dá ao couro a apre-sentação e aspecto definitivo. Ele é levado a uma prensa chamada 600 toneladas, que nela contem chapas de alu-mínio, que prensam o couro com a chapa e fazem o dese-nho exato. É assim que se faz, por exemplo, um modelo de couro de cobra, ou um mais liso e até mesmo um mais grosso, semelhante ao couro que pensamos ser de animal. Todos esses efeitos são produzidos através desta prensa. Até os retalhos do couro são vendidos e muitas vezes uti-lizados para fazer luvas, acabando que toda peça de couro do animal é aproveitada. Erick também, nos informa que a pele do couro mais cara não é a que passa por mais tra-tamentos, e sim a que é a mais grossa.

O processo não exige necessariamente uma au-tomatização por completo, enquanto fase de curtume. As máquinas têm auxiliado o tratamento e permitido ino-vações, exemplo disso é a leveza do couro que cada vez mais tem ganhado destaque. A tecnologia veio para trazer melhorias e facilitação na produção. Cada pele animal tem imperfeições, pode conter furos de insetos, determi-nadas partes, como o pescoço e as patas, têm o couro mais esgarçado e existe uma perda de qualidade, devido a movimentação do animal, por isso, é comum vermos em determinados cintos, bolsas ou alças de bolsas, esgar-çarem facilmente ou romper-se com pouco tempo. Mas a tecnologia no couro veio para transformar e aprimorar a matéria prima, além de fornecer novas possibilidades ao universo das criações da moda.

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Personalidade & Requinte

Josivan Silva

Móveis de couro trazem conforto, durabilidade e elegância à decoração

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Os móveis de couro estão cada vez mais presentes nas casas, apartamentos e escritórios do país. Considera-dos intimistas, eles dão personalidade própria ao ambien-te e vêm ganhando espaço no mercado, com destaque principalmente para a durabilidade, o conforto e a ele-gância. O desenvolvimento tecnológico vem tornando comum o uso do couro como matéria prima no acaba-mento de móveis e objetos de decoração. Passando dos tradicionais sofás, pufes e cadeiras às mais inovadoras pe-ças de design. Esse segmento tem ganhado espaço como um diferencial do mercado mobiliário nacional. “Eles são tendência desde o ano passado. São uma opção mais sofis-ticada em comparação a outros materiais”, diz a arquiteta Mariana Paula Souza, que trabalha com projetos de deco-ração. O material mais usado ainda é o couro de boi, por ter a maior oferta no mercado e se encaixar melhor nos projetos maiores, como sofás e poltronas, esses dois, os mais usados como boas opções na hora de criar um ambiente em estilo clássico. Porém, as novas tecnologias e novas técnicas de curtimento possibilitam o uso de ou-tros tipos de couro nesse segmento de mercado, couro de jacaré, de rã e a pele de peixes, por exemplo, vêm dando novas características e novas possibilidades de criação aos designers desse setor. “O couro sempre foi muito usado em escritórios, em caixas e bandejas, por exemplo, mas agora ele está também em outros cômodos. Você já o en-contra em criados mudos, prateleiras, mesas de centro, mesas laterais e escrivaninhas”, cita Mariana. Para Mario Silva, designer que trabalha no setor há dois anos, o tipo de material depende muito do pro-jeto que o cliente quer, do que ele pretende demonstrar com a peça. Se quer um estilo mais clássico, usa os couros

mais escuros, marrons e pretos. Se a pessoa é mais desco-lada e quer algo mais inovador são sugeridos outros tipos como o de rã, cobra ou outro, que são mais caros, mais diferenciados e dão ao ambiente características modernas. O mobiliário com couro tem ganhado caracte-rísticas de objetos exclusivos, criados por uma demanda de um cliente específico, que quer um diferencial para sua casa ou ambiente de trabalho. Esses móveis, além de desempenhar a função a que foram criados, também têm papel fundamental na decoração do ambiente. Henrique Freitas, vendedor da loja Artmol, nos conta que esse tipo de produto tem uma demanda de clientes mais exigentes, que querem um móvel que se adeque a um ambiente específico, tendo por muitas vezes a loja ter que disponibilizar um profissional projetista ou arquiteto para encarregar-se de cada projeto. “Não temos na loja nenhum móvel desse no momento, geralmente eles são feitos por encomenda, são mais caros, alguns bem mais caros, e são poucos os modelos que são feitos em es-cala de mercado, sempre são poucas unidades, é um tipo de móvel mais pessoal eu acho”, diz Henrique. Apesar dos móveis de couro terem maior dura-bilidade em relação a outros produtos, chegando a durar até cinco anos, eles precisam passar por alguns cuidados específicos para manter a cor, textura e qualidade. Para quem quer ter um móvel desses em casa, além de precisar desembolsar um pouco mais de dinheiro, também preci-sará tomar alguns cuidados para que a peça fique sempre conservada e bonita. Por se tratar de um tipo de pele, o couro não deve ser exposto à presença de luz solar por muito tempo, evitando o seu ressecamento, e sempre que possível fazer uma hidratação do mesmo com produtos específicos para cada tipo de couro, encontrado em lojas especializadas.

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Traje Impactante

Ambiara Cardoso

Lampião e Maria Bonita ressurgem das cinzas através do figurino e

adereços do grupo Raízes

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50 Figurino

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A obra Estrelas de couro: A estética do cangaço, do au-tor Frederico Pernambucano de Mello, com prefácio de Ariano Suassuna, foi utilizada como fonte de pesquisa para o desenvol-vimento do figurino e adereços do espetáculo da Companhia de Projeções Folclóricas Raízes, de Campina Grande, interior da Paraíba. Após muitos testes com vários tipos de tecidos, che-gou-se a conclusão que o couro traria uma maior realidade e proximidade do bando de Lampião. “Supervisionados pelo re-nomado artesão Sérgio Nascimento, conhecido por seus traba-lhos na Rede Globo de televisão, nós produzimos vestimentas e adereços em couro muito semelhantes as que Lampião e seu bando usavam na década de 20”, conta a vice-diretora e dança-rina Juliane Cássia. O grupo nos apresenta a força do “banditismo” im-pregnado no contexto histórico de Lampião. “A caracterização do grupo raízes trás a tona, através da sua simbologia, crenças, mitos e sensação de proteção com os adereços”, destaca Juliane. Em entrevista com o geógrafo, artesão, professor de dança e figurinista Sérgio Nascimento, ele nos conta todo o trabalho desenvolvido na produção das roupas e adereços do grupo. “Me inspirei no belo, buscando inovar, mas sem perder a originalidade da nossa rica cultura. E para isso utilizei o cou-ro, a lona e metais na produção e confecção”, explica Sérgio. As roupas ricas em detalhes se tornam mais arretadas quando associadas aos adereços: sandálias, perneiras, cartuchei-ras, bornais, bijuterias e lenços todos em couro. Em média, a produção de cada traje custa R$ 700,00 reais. O figurista conta que a feira central de Campina Grande é seu curral para cria-ções. “Lá eu encontro couro de vários tipos”, diz. A imponência é o principal impacto do figurino como um todo. A sobreposição de figurinos e adereços de forma exagera-da, em sua maior parte, feitos em couro, deixam transparecer a sensação de segurança. Sérgio Nascimento cita a obra Pedra do Reino, do escritor paraibano Ariano Suassuna, onde o poeta relaciona os vaqueiros encourados com os samurais do Japão. “Essa é a imagem visual que o nosso figurino de cangaço trans-mite”, comenta Sérgio. Há 19 anos, o Raízes vem divulgando a cultura nordesti-na através da dança por todo o país. “O grupo tem como prin-cipal objetivo manter viva a memória e a identidade que possui as manifestações culturais, folclóricas e artísticas brasileiras em especial as do Nordeste”, afirma Inaldete de Paula, coordena-dora de ensaio e dançarina. Além de difundir as tradições cul-turais, a companhia desenvolve também o projeto Ponto de Cultura Raízes do Amanhã, que busca levar a dança às crianças carentes. O projeto conta com a parceria do Governo Federal e da prefeitura com a Fundação Semente de Vida. “Ao longo da história, o nosso grupo participou de eventos internacionais como os festivais de Potier e Confolens na França e os festivais de Moerbek, Aalst e Pikkeling na Bélgica, proporcionando as-sim, a disseminação da cultura nordestina por todo o mundo”, ressalta Ronildo Cabral, diretor geral e dançarino da compa-nhia Raízes.

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52 Economia

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O couro bem calçado

Antonio Cláudio da Silveira Alves

Moda calçadista: da origem aos processos de capacitação e geração de emprego

O uso do couro na moda calçadista teve início ainda com o homem primitivo, devido à necessidade que ele tinha de proteger os pés. O couro cru era a principal matéria prima utilizada, associada à madeira, palha ou te-cido em sua montagem. Ao longo dos séculos, aquilo que era rústico foi ganhando novos contornos e assim herdou alguns atributos do design e logicamente emergiu-se tam-bém a preocupação com o conforto dos pés. Conforme as sociedades foram evoluindo, aquele objeto rústico passou a ganhar importância do ponto de vista econômico. Surgiram os sapateiros, que trabalhavam artesanalmente. Devido ao crescimento das populações e da industrialização dos processos de produção, aliados ao crescente desenvolvimento comunicacional dos povos, o que era uma simples forma de proteção dos pés, passou a movimentar economias e interferir nos hábitos de consu-mo das pessoas. Em nossos dias, a indústria da moda tem ganha-do força e participa efetivamente do desenvolvimento dos países. As grandes corporações do setor coureiro calçadis-ta investem pesado, tanto em tecnologias de produção quanto na contratação de profissionais qualificados, fator que abriu um precedente para atender as demandas da indústria por mão de obra. Foi para suprir essas necessi-dades da indústria que emergiu o SENAI. Em Campina Grande, na Paraíba, o SENAI criou o CTCC - Centro de Tecnologia do Couro e do Calçado Albano Franco, que tem dado a sua contribuição para o fortalecimento do setor calçadista na Região Nordeste e consequentemente no Brasil. O espaço e é um dos locais onde jovens e adultos podem conseguir acesso ao merca-do de trabalho através dos vários cursos que são oferecidos à comunidade e um dos pontos fortes da empresa para o fortalecimento do setor de moda voltado a fabricação de calçados. De acordo com dados fornecidos pelo CTCC, o Brasil é o terceiro maior exportador de couro do mundo, ficando atrás apenas de China e Índia. “O setor de cal-çados cresceu 4,1% em 2013, isso significa que o Brasil passou em 2012, de 864 milhões, para 900 milhões de

pares em 2013”. O nordeste do país concentra a maior produção de calçados, contando com 1297 empresas na região. “A Paraíba figura em 3º lugar enquanto polo cal-çadista do país, com 181 empresas formais, estando atrás apenas de Franca, em São Paulo e de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul”, afirma Anderson Lins, que é co-ordenador de educação do CTCC. A cidade de Campina Grande é reconhecida nacionalmente não só pelos eventos que promove, mas também pela qualidade do ensino das suas universidades públicas e privadas e também no setor produtivo, capa-citação e geração de emprego. O setor calçadista é outro exemplo disso, pois “comporta 88 empresas, ou seja, prati-camente 50% das corporações paraibanas estão instaladas em Campina Grande, todas elas recorrem ao SENAI em busca de mão de obra especializada”, explica Anderson. Ele nos informa ainda que o número de matrículas chega a 10.000 ao ano. Entre os cursos de confecção de calçados e bolsas ministrados no CTCC estão: corte, preparação, costura, montagem, desenho, todos de calçados; confec-cionador de bolsas, curtidor de couros e peles, montador de pequenos artefatos em couro, modelista de calçados entre outros, todos com a carga horária aproximada de 160h, já o curso técnico em calçados, é ministrado ao longo de 1200h., aproximadamente 1 ano e 6 meses. Os sonhos movem o mundo: e quando se tor-nam realidade, mudam realidades. Fazer cursos para ten-tar conseguir um bom emprego é o sonho de milhares de pessoas, geralmente, pela falta de orientação, muitos jovens deixam de se dedicar aos estudos e terminam por perderem chances de profissionalizar e de concretizarem seus sonhos. Eles acabam por viver realidades rústicas, se-melhantes à dos primitivos em seu cotidiano, principal-mente quando se envolvem com as drogas. A indústria atrelada à moda calçadista está em pleno desenvolvimen-to e pronta para absorver mão de obra. Para mais informações sobre os cursos ministra-dos, entre em contato com o CTCC através do telefone: (83) 3182-5500 ou acesse: www.fiepb.com.br/unidades/unidade/id/2

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A VIAGEMAntonio Carlos de Andrade Silva

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Um novo século está a nossa frente e a indústria de curtumes procura se reinventar, frente aos crescentes movimentos de ambientalistas e ONG’s, em defesa da preservação de algumas espécies de animais ameaçadas de extinção pela caça predatória em nosso país. Diante desta realidade, resolvi passear por alguns fragmentos do tempo. Pra começar me de-parei com pedaços de couro curtidos com cerca de três mil anos a. C. Fiquei impressionado com a riqueza de detalhes daquelas peças, numa era tão rústica, em comparação com os dias atuais. Numa região não muito distante dali, avistei a fabricação de objetos com couro. Segundo os artesãos, essa prática já era efetuada muito antes da era cristã. Me contaram, ainda que babilônicos e hebreus usavam o processo de curtimento, e que os antigos gregos possuíam curtumes. Sem falar nos índios norte-americanos que também conheciam a arte de curtir. Entre um deslocamento e outro, avistei no deserto um homem que vestia pele de animais e usava sandálias com a sola feita de um pedaço de couro de vaca, cortado na forma do pé, sem maiores requintes. Tratava-se de João Batista que percorria toda a região do rio Jordão pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados. Em uma de suas pregações, ouvi João anunciar a chegada do Messias. Um momento inesquecível! Tive de correr um pouco no tempo para acompanhar mais de perto os avanços... Desta vez, fiquei hospedado na casa de um famoso comerciante árabe. Ele fora um dos responsáveis pela introdução na Península Ibérica a indústria do couro artístico, tornando famosos os couros de “Córdova”. Foi impossível sair daqui, sem nem levar comigo um des-ses córdovas. Meu próximo destino seria Pérgamo (atual Bergama, uma cidade grega situada na Mísia) onde na Idade Média foram desenvolvidos os “pergaminhos”, usados na escrita e que eram feitos com peles de ovelhas, cabras e bezerros. Não resisti à tentação e me arrisquei a rabiscar num desses pergaminhos na tentativa de registrar alguns momentos dessa minha viagem. Antes de concluir minhas anotações no pergaminho, fui informado pelo chefe dos marinheiros que havia um barco prestes a partir, e um de seus destinos seria “Terra de Santa Cruz”. Ao subir na embarcação notei que com o couro também eram feitos elmos, escudos e gibões. Bastante usado pelos marinheiros nas velas e nas embarcações de navios. Como a viagem fora muito demorada, quando cheguei a “Terra de Santa Cruz” tinha mudado de nome, agora se chamava “Brasil”. Era um tumulto só... no entanto, já avistava algumas peças feitas de curtumes, como as bruacas, selas, arreios de montaria, cor-das, entre outros. Eu estava diante do início de um fenômeno que, muito tempo depois, o escritor modernista Guimarães Rosa chamaria de “época do couro”. Montado num cavalo resolvi continuar minha viagem. Ao chegar à região Nor-deste avistei, em meio à caatinga, uma cena rara e jamais registrada por nenhum jornalista: Lampião, o rei do Cangaço, costurando à mão sua capa de couro, que já o acompanhara em tantas batalhas. Maria Bonita, sua esposa, sentada na sombra do umbuzeiro, customizava as roupas de Lampião. Mas logo tive de sair dali, uma leva de gado acompanhada de alguns vaqueiros que cortavam o Sertão em busca de água estava se aproximando do bando. Meu tempo estava acabando e eu teria de retornar para atualidade. Devido a uma passeata de jovens ambientalistas, tive que descer do táxi umas duas quadras antes de mi-nha casa. Eles reivindicavam leis mais severas para punir a caça predatória e o comércio clandestino de peles de animais. Naquele momento, percebi que o uso sadio dos curtumes dependia unicamente das mãos dos homens; e que a tendência do momento não seria o couro sintético ou ecológico. Mas aquele que preserve a vida.

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Imagens resgatam herança cultural do ciclo do couro no Nordeste brasileiro

Jéssica Oliveira

Aventura fotográfica entre Couros & Lajedos

Fotos/Augusto Pessoa

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Augusto Pessoa é atualmente um dos mais im-portantes fotógrafos paraibanos. Conquistou esse posto devido a imensa lista de projetos que participou, com seu engajamento em descobrir culturas e costumes, pelo Brasil e mundo afora. Acumulador de prêmios, dentre eles estão o Prêmio Abril de Jornalismo 2008, o Getty Imagens Istockphoto 2013 e quatro anos consecutivos - de 2007 a 2010 - do Paraíba dos Seus Olhos. Jornalista por formação, foi fotojornalista no Correio da Paraíba e fotógrafo freelancer para diversas revistas como National Geographic Brasil, Continente, entre outras. Desde 1994 realiza um trabalho autoral de documentação do Nordes-te brasileiro, com foco na cultura popular e religiosidade. A partir de 2010 passou a se envolver também em proje-tos audiovisuais. Sua mais recente aventura foi resgatar as heran-ças que o ciclo do couro deixou no Nordeste do país, com a exposição “Couros & Lajedos”. A ideia surgiu em 2014 após um convite da Fundação Memorial do Ho-mem Kariri, no Ceará, para que ele montasse o Museu do Couro, em homenagem ao artesão Expedito Seleiro,

cearense de Nova Olinda. Segundo Pessoa, “o Memorial conta a história do artesão e um pouco do ciclo do couro no Nordeste, quando as boiadas foram introduzidas no interior do Brasil. Em 2015 eu ampliei essa pesquisa fa-zendo uma série de outras viagens que constituem o ma-terial do projeto Couros & Lajedos”. Esse trajeto levaria o artista, principalmente, ao interior nordestino e Cariri paraibano, gerando registros de uma rica tradição cou-reira que ainda permanece viva, em paisagens rústicas e no cotidiano de alguns sertanejos. O fotógrafo acredita que mesmo o ciclo do couro sendo de grande importância para a formação cultural da região, é apenas uma parte do que representa essa identidade. “Não creio que seja uma representação completa porque nesse mosaico de influên-cias que constitui o Nordeste temos muitas contribuições da cultura afro, indígena e europeia. Mas vejo que o ciclo do couro contribuiu muito para a conexão entre essas di-ferentes matrizes e criou uma cultura própria, carregada de autenticidade e que caracteriza bem o Nordeste, espe-cialmente o interior semiárido, os rincões mais isolados e o universo do sertão do cangaço, da religiosidade popular

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e todo o caldeirão de manifestações da cultura popular que ainda se mantém preservado.” Como em toda boa jornada, nesta busca para re-contar uma memória cultural, Augusto Pessoa conheceu figuras que o marcariam não só enquanto artista e pes-quisador, mas também definiriam algumas das principais fotos da série. Ele destaca quatro imagens e suas histórias. Inicialmente, a foto que é capa do catálogo de Couro & Lajedos e abre a exposição - “por demonstrar as vestimen-tas em couro dos dois vaqueiros, testemunhando que não se trata no caso de um grupo folclórico mas sim de vaquei-ros autênticos com suas armaduras de ‘guerra’ marcadas pelas batalhas”, explica. O cavaleiro e seu animal - “A cena parece remeter a batalhas, o que de certa forma traduz bem o que é a pega de boi dentro da caatinga, quando os homens e seus cavalos adentram a espinhenta vegetação para resgatar o gado desgarrado”. Em terceiro “a imagem de Expedito Seleiro vestido no gibão que ele mesmo con-feccionou também tem destaque especial na exposição e no catálogo. A alegria genuína do sertanejo e a riqueza de detalhes das peças com seus traços inconfundíveis e que já viraram a marca do artista”, ressalta. Por último, mas não

menos importante, ele destaca o mestre de reisado em sua casa de taipa - “Esse grupo é considerado pelos estudiosos o último reisado que ainda mantém viva a tradição de fazer as máscaras com couro e madeira, uma herança dos índios Cariri. O grupo está na cidade de Potengi no alto da Chapada do Araripe”, detalha o fotógrafo. Entre os caminhos percorridos para fotografar o projeto Couros & Lajedos, estão as cidades de Campina Grande, Cabaceiras, Monteiro, Zabelê, Cajazeiras, Ingá e Fagundes, todas na Paraíba. No Ceará, os municípios vi-sitados foram: Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Nova Olinda e Potengi. Mas para divulgação da exposição, Augusto Pessoa garante que praticamente realizará outro ciclo do couro. A mostra teve início na capital paraibana tendo boa recepção do público, e segue por muitas das cidades anteriormente registradas. O artista comenta as reações dos nordestinos diante das imagens e como em al-gum nível estes se encontram retratados. “Muitas pessoas se identificam com o projeto pois veem nele o espelho de parte da cultura que estão inseridos.”.

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Eduardo Philippe

Para ver O que você sabe sobre Lampião, Maria Bonita, o cangaço e suas his-tórias? Provavelmente apenas aquilo que os livros de história do tempo de escola têm para contar. O filme Baile Perfumado conta a saga real do libanês Benjamin Abrahão, mascate responsável pelas únicas imagens de Virgulino Ferreira, o Lampião, quando vivia no sertão brasileiro. Amigo íntimo de Pa-dre Cícero, Benjamim mascateava pelo sertão e exercitou seu espírito mer-cantilista convivendo intimamente com o bando de Lampião. Infiltrou-se no grupo para colher imagens e vender os registros pelo mundo afora. A história é pontuada pelas imagens originais do protagonista, e apenas onze minutos do filme exibem um Lampião bem diferente do herói dos pobres: aburguesa-do, maravilhado com modernidades como a máquina fotográfica e a garrafa térmica, tomando uísque e banhando-se em perfume francês, além do bando que também ia aos bailes no meio do sertão, daí a origem do título do filme.

Outro ponto forte que chama bastante atenção é a reprodução das roupas de couro usadas pelos cangaceiros, que se mostram bastante diferente das que são comumente utilizadas em outros filmes do gênero, principalmente por serem coloridas ao invés de monótonas. Baile Perfumado é um filme brasileiro de 1996, do gênero drama, com di-reção conjunta de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. É considerado um marco da retomada do Cinema Pernambucano.

“Estrelas de couro: estética do cangaço” é uma obra prima do escri-tor Frederico Pernambucano de Mello. Um dos maiores pesquisadores do assunto, o autor traz nessa obra uma narrativa que mostra traços do compor-tamento dos cangaceiros, bem como seus hábitos, utensílios e vestimentas. Com mais de 300 fotos históricas, inclusive de peças de roupas e adereços do bando de Lampião, o livro convida o leitor a mergulhar de maneira incomum nas imagens desses grupos que marcaram o Nordeste brasileiro. Publicado em 2012, o livro também procura explicar os significados presentes nas peças de uso dos cangaceiros, como o signo-de-salomão, a cruz-de-malta, a flor-de-lis, o oito contínuo deitado, além de mostrar as combinações possíveis de que se valia o cangaceiro na construção de um traje que atendia à vaidade ornamen-tal de seu brado guerreiro e a anseios de proteção mística. Uma publicação de luxo, quase uma obra de arte.

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Saiba mais60 Dicas

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Você sabe como encadernar um livro em couro? Esse é um dos materiais mais antigos usados em encadernação de livros. As bibliotecas estão cheias de grandes volumes antigos com páginas amareladas e margens desgastadas. Apren-der a encadernar um livro em couro não é tão complicado quanto parece. O orgu-lho da destreza que se tem ao fazer um livro artesanalmente vale o esforço. Livros encadernados em couro são, muitas vezes, usados como diários ou dados como presente, e podem ser usados para qualquer tipo documento.

Para fazer

Manuscrito

O que precisa?1 Ponha o livro sobre a peça de couro e envol-va-o firmemente com a mesma. O couro deve ser em uma só peça e grande o suficiente para envolver as ca-pas frontal e traseira e o dorso do livro. As margens su-perior e inferior, assim como as laterais, devem medir quatro vezes a espessura da placa para encadernação (a que será realmente a capa do livro). Por exemplo, se a placa da capa tiver 0,5 cm de espessura, deixe uma sobra de 2 cm em cada margem do couro.

2 Marque o contorno das duas capas e do dor-so do livro no couro com uma caneta. Use a régua para medir quatro vezes a espessura da placa da capa em cada um dos lados.

3 Corte o formato da capa do livro no couro usando o estilete.

4 Passe cola na peça da lombada, que é feita do mesmo material das capas e será a parte que sustentará o dorso. Ponha a lombada no centro da peça de couro, entre o espaço da capa frontal e da contracapa.

5 Cubra a lombada com uma folha e pressione--a sobre o couro com uma espátula.

6 Aplique cola sobre a capa frontal de couro, toda a superfície onde a capa se encaixará.

7 Ponha a capa frontal do livro sobre a capa frontal de couro. Coloque uma folha sobre a capa e esfregue a espátula por cima para distribuir e fixar a cola.

Estilete

Régua

Placa de encadernação ou papel paraná

Como fazer?

8 Aplique cola à contracapa de couro, espa-lhando-a por toda superfície onde a capa se fixará.

9 Ponha a contracapa do livro sobre a contraca-pa de couro. Coloque uma folha sobre a capa e esfre-gue a espátula por cima para distribuir e fixar a cola.

10 Corte as pontas do couro em ângulos de 45º.

11 Aplique cola às margens superiores do couro e dobre-as sobre a placa da capa.

12 Ponha peso sobre a capa de couro para fixá-la às placas até a cola secar.

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