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Guia para um estudante candidato a Contabilista Certificado: os regulamentos da Ordem dos Contabilistas Certificados
Mafalda Silva ISCA de Coimbra – Coimbra Business School
Catarina Lopes ISCA de Coimbra – Coimbra Business School
Miguel Gonçalves ISCA de Coimbra – Coimbra Business School
Área Temática: N - Outros Temas de Contabilidade e Auditoria
Este artigo corresponde a uma versão reduzida de um trabalho de maior fôlego apresentado/defendido no ISCA de Coimbra no âmbito de uma unidade curricular do 3.º ano da licenciatura em Contabilidade e Auditoria, lecionada pelo 3.º autor. As duas primeiras autoras são estudantes do ISCA de Coimbra – Coimbra Business School e o 3.º autor é docente na mesma instituição. A autora correspondente é Mafalda Silva com o e-mail [email protected]
2
RESUMO: O objetivo do artigo consiste em auxiliar um aspirante a contabilista certificado,
nomeadamente pela exposição de alguns aspetos dos mais relevantes regulamentos
obrigatórios emanados pela Ordem dos Contabilistas Certificados. Ao fazer isto, a
contribuição também coloca em perspetiva os tópicos históricos mais proeminentes da
entidade reguladora da profissão, particularmente a partir de 1995, data da institucionalização
da profissão. No geral, pretende-se que os estudantes de contabilidade, principalmente os
mais novos, comecem a ganhar o gosto inicial para o prestigiado ofício que a médio prazo
irão desempenhar.
PALAVRAS-CHAVE: Ordem dos Contabilistas Certificados, Contabilista Certificado,
Regulamento, Profissão.
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1. Introdução
A presente contribuição tem como objetivo fornecer à comunidade de eventuais
interessados no exercício futuro da profissão de contabilista certificado (em diante, CC),
designadamente os atuais estudantes de contabilidade, um guia-resumo dos principais
regulamentos promulgados pela entidade reguladora da profissão, a Ordem dos Contabilistas
Certificados (OCC, doravante).
O texto que se segue, resulta, no essencial, de um trabalho de recolha, tratamento e
síntese dos regulamentos emanados pela OCC, a associação pública de profissionais a que as
duas primeiras autoras ambicionam pertencer a breve trecho como contabilistas certificadas.
Como bem escreve Matos (2016, p. 23), contabilistas certificados são os profissionais
que, nos termos do n.º 1 do artigo 9.º do Estatuto da Ordem dos Contabilistas Certificados
(EOCC), estão inscritos na OCC, sendo-lhes atribuído, em exclusividade, o uso desse título
profissional, bem como o exercício da respetiva profissão.
A profissão de contabilista certificado é reconhecida atualmente como uma profissão
de interesse público (Gonçalves e Carreira, 2012, p. 35), para cujo reconhecimento
concorreram fatores diversos como a regulamentação do primeiro estatuto, em 1995, a
aprovação do código deontológico, em 2000, os exames de acesso à profissão, em 2005, e o
controlo de qualidade do serviço prestado pelos profissionais, também em 2005 (Rodrigues,
2016). Trata-se, inquestionavelmente, de elementos que conferem credibilidade, visam a
consolidação de qualquer profissão no seio da comunidade em geral e, na expressão de
Gonçalves e Carreira (2012, p. 36), “contribuem para que o Estado assuma que uma
determinada profissão tem uma função social pertinente”.
Todavia, a OCC tem vindo a produzir nos últimos anos documentos obrigatórios que
também favorecem a legitimidade de uma profissão: os regulamentos da OCC. A exposição e
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interpretação de alguns destes documentos, decerto menos conhecidos dos futuros
profissionais, constituem o mote da presente contribuição.
O estudo apresenta-se dividido em mais três secções, para além desta passagem
introdutória. A segunda secção mostra a evolução cronológica da regulamentação da profissão
a partir de 1995, ano que marca a entrada do ofício de contabilista no grupo, sempre almejado,
das profissões reguladas pelo Estado. A terceira secção sintetiza a principal informação a
extrair dos regulamentos da OCC. A quarta secção condensa as ideias mais salientes dos
regulamentos previamente analisados num guia de apoio a um candidato a contabilista
certificado, o qual apresenta as linhas mestras para o ingresso e exercício na profissão. Em
fecho, as argumentações finais e a conclusão.
2. Evolução histórica da profissão de contabilista a partir de 1995
Nas palavras de Lopes de Sá (1998, p. 19), “a contabilidade nasceu com a civilização e
jamais deixará de existir em consequência dela”. Inicialmente conotada como uma arte,
evoluiu depois para o qualificativo de técnica e é hoje considerada, crê-se que
consensualmente, uma ciência social e humana, pois que respeita a uma construção do
homem.
É do conhecimento geral que a profissão de contabilista obteve grande
reconhecimento especialmente a partir de meados da década de 90 do século passado, ao
ponto de a entidade reguladora da profissão ser, atualmente, a maior ordem profissional
portuguesa, com aproximadamente 72 mil membros (Roque, 2014).
Embora com outra designação, a de Técnico Oficial de Contas (TOC), a profissão de
contabilista certificado encontra-se regulamentada em Portugal desde 1995. Foi a partir desta
data que, “depois de muitos avanços e retrocessos, […] a profissão atingiu o nível de
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dignidade pretendido e encontrou bases sólidas para crescer de forma sustentada” (Rodrigues
e Gomes, 2002, p. 131).
No contexto nacional, são os seguintes os acontecimentos históricos mais marcantes,
de 1995 até ao momento atual, da profissão de CC:
─ aprovação do Estatuto dos Técnicos Oficiais de Contas, pelo Decreto-Lei n.º
265/1995, de 17 de outubro, com o qual nasceu a designação de TOC, criando-se pela
primeira vez um quadro jurídico enquadrador do exercício da profissão. A data ficou também
assinalada pela criação da primeira associação de profissionais de contabilidade de inscrição
obrigatória para o exercício da profissão – a Associação dos Técnicos Oficiais de Contas
(ATOC);
─ passagem da ATOC a Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC), com o
Decreto-Lei n.º 452/1999, de 5 de novembro, surgindo assim o novo Estatuto da CTOC, bem
como a aprovação do primeiro Código Deontológico dos profissionais (este com entrada em
vigor em 1 de Janeiro de 2000) (Gonçalves, Gonçalves e Sequeira, 2014, p. 108);
─ alteração da CTOC para Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), com o
Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de outubro, que aprovou o Estatuto da Ordem dos Técnicos
Oficiais de Contas (EOTOC); e
─ aprovação do Estatuto da Ordem dos Contabilistas Certificados, pela Lei n.º
139/2015, de 7 de setembro, diploma que transformou assim a OTOC em OCC e
redenominou a profissão de TOC para CC.
Uma última nota para referir que antes de 1995, a “nomenclatura então integrada na
ordem jurídica portuguesa era a de técnico de contas, introduzida pelo Código da
Contribuição Industrial, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 45 103, de 1 de Julho de 1963”
(Nunes, 2016, p. 7), uma medida legislativa concreta da “reforma fiscal levada a cabo em
Portugal entre 1958 e 1966” (Sousa, 2012, p. 151), pese embora a circunstância da designação
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profissional técnico de contas aparecer já consagrada em meio profissional desde meados da
década dos 30 do século passado (Carqueja, 2001).
3. Os regulamentos da Ordem dos Contabilistas Certificados
O objetivo da presente secção centra-se em resumir alguns dos regulamentos da OCC
que os membros, os atuais e os futuros, devem seguir de forma obrigatória no desempenho da
sua atividade profissional. Intenta-se que os candidatos a integrar a OCC possam ganhar
sensibilidade a este tema e, mais importante, possam ficar a conhecer melhor algumas das
diretrizes da sua futura profissão. O resumo afigura-se também importante para os estudantes
de ciências empresariais, pois pode funcionar como um estímulo inicial para que queiram
compreender e absorver melhor os meandros e as especificidades da profissão.
Dos vários regulamentos emanados pela OCC, este texto considera como mais
relevantes para um candidato a CC os seguintes:
─ regulamento de inscrição, estágio e exames profissionais;
─ regulamento do controlo de qualidade dos membros;
─ regulamento do fundo de solidariedade social;
─ regulamento de taxas e emolumentos; e
─ regulamento do seguro de responsabilidade civil.
3.1 Regulamento de inscrição, estágio e exames profissionais
Um candidato a CC tem de ter nacionalidade portuguesa ou de qualquer estado-
membro da União Europeia, possuir licenciatura (ou habilitação académica superior)
reconhecida pela OCC como adequada para o exercício da profissão e efetuar estágio
profissional ou curricular. Tem ainda de obter aprovação em exame profissional.
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A candidatura à inscrição na OCC é dirigida à bastonária acompanhada do documento
comprovativo das habilitações académicas, da fotocópia autenticada do documento de
identificação civil nacional ou estrangeiro, do certificado do registo criminal expressamente
solicitado para o efeito, do acordo do estágio profissional a celebrar pelo patrono e estagiário
(ou pela entidade patronal no caso do patrono se encontrar vinculado por uma relação laboral
dependente), do formulário de qualificação do patrono, do plano de estágio e da prova de
pagamento de um emolumento (12,50 €).
Entende-se por estágio profissional o exercício de procedimentos no âmbito da
profissão de CC, por parte de um candidato, sob tutela de um patrono. Este estágio tem
duração de oito meses a um ano com um mínimo de 800 horas, devendo ser cumpridas dentro
do horário laboral.
O estagiário tem os deveres e direitos listados nas figuras 1 e 2:
Figura 1: Deveres do membro estagiário
Deveres do Membro Estagiário
Art.º 28.º, n.º 1 - EOCC Art.º 28.º, n.º 2 - EOCC Art.º 28.º. n.º 3 - EOCC
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Figura 2: Direitos do membro estagiário
No final do estágio compete ao membro estagiário a elaboração de um relatório
sucinto, que inclua os trabalhos realizados, a data de início e fim do estágio, a caracterização
da entidade promotora, a descrição sumária das atividades desenvolvidas, bem como a
bibliografia consultada para a realização do texto. Deve ser remetido à bastonária até 30 dias
após a sua conclusão.
A bastonária comunica ao membro estagiário, através de carta registada com aviso de
receção, no prazo de 60 dias, contados a partir da data da receção do relatório, a decisão
acerca do aproveitamento ou não do estágio realizado. Caso o candidato não seja aprovado
tem no máximo 15 dias para requerer um novo pedido de admissão a estágio. O estágio pode
ser prorrogado pelo prazo máximo de um ano, devendo ser pedido mutuamente pelo membro
estagiário e pelo patrono, mediante um requerimento dirigido à bastonária. O pedido de
suspensão do estágio deve ser solicitado de comum acordo entre o patrono e o membro
estagiário devidamente justificado, tendo uma duração mínima de 60 dias e máxima de um
ano.
A OCC pode facultar a dispensa de estágio profissional a candidatos que tenham
realizado com aproveitamento unidades curriculares com características de projeto (por
exemplo, a disciplina de Simulação Empresarial) com um mínimo de 15 ECTS (European
Credit Transfer and Accumulation System) ou que tenham experiência profissional de pelo
menos três anos na prestação de serviços de contabilidade e demais atividades conexas, à luz
do artigo 26.º, n.º 2 al. a) do EOCC. O candidato deve requerer a inscrição na OCC no prazo
laboração própria
- Acompanhamento profissional adequado pelo patrono para o
exercício das suas funções;
- Acesso à biblioteca da OCC;
- Frequência de ações de formação ou outros eventos
promovidos pela OCC em condições idênticas às de um CC.
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máximo de dois anos após a data da conclusão da base académica que permite a candidatura,
ou após a data de conclusão do mestrado ou doutoramento, para o candidato que prossiga os
seus estudos em áreas ligadas à profissão; caso contrário terá de realizar novo estágio.
O exame de acesso à profissão tem como objetivo avaliar a capacidade profissional do
candidato, consistindo na realização de uma prova escrita (com duração de quatro horas)
sobre matérias contabilísticas, fiscais, estatutárias e deontológicas. Este exame realiza-se no
mínimo duas vezes por ano (têm sido realizados três, anualmente) e o resultado da prova
escrita é divulgado no prazo máximo de 60 dias após a sua realização.
O resultado final do exame apenas menciona Aprovado ou Não Aprovado,
considerando-se aprovado o candidato que obtenha pelo menos cinquenta por cento da
cotação. No decurso do exame, o candidato apenas pode efetuar consultas em suporte papel
(legislação não anotada) e utilizar calculadora (não programável).
O candidato que não obtenha aprovação no exame pode com a antecedência de 60 dias
reinscrever-se para nova prova mediante o pagamento da respetiva taxa, até ao limite de dois
anos a contar da data do primeiro exame. O candidato que obtenha aprovação é inscrito como
CC.
3.2 Regulamento do controlo de qualidade
O controlo de qualidade aplica-se aos CC como profissionais independentes, como
sócios, administradores ou gerentes de uma sociedade profissional de CC ou de uma
sociedade de contabilidade, ou ainda como profissionais em exercício de funções de CC na
administração direta ou indireta do Estado.
Os objetivos do controlo de qualidade são os expostos na figura 3:
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Figura 3: Objetivos do controlo de qualidade
Caso o CC não obtenha os créditos suficientes por mais de dois anos seguidos ou
interpolados, é obrigado a submeter-se a novo exame de avaliação profissional; a não
comparência ao exame constitui uma infração disciplinar podendo levar à sua suspensão.
A avaliação do controlo de qualidade pode ser digital ou presencial. A avaliação
digital compreende um inquérito eletrónico enviado 60 dias após a realização do sorteio, cuja
coerência interna de respostas é apreciada pela comissão de controlo de qualidade que pode
solicitar ao controlado esclarecimentos ou documentos adicionais que julgue necessários para
as conclusões do processo; a falta de resposta (reiterada e injustificada) a este questionário
corresponde a uma recusa à sujeição do controlo de qualidade. Após esta análise, a comissão
decide se procede ou não ao controlo presencial. Sendo presencial, o mesmo assenta nas
visitas dos controladores ao local da documentação. O CC objeto de controlo presencial
deverá expressar por escrito na ficha de considerações finais a sua opinião sobre o controlo e
os seus procedimentos. Concluído o processo de controlo, o mesmo deverá ser remetido à
comissão do controlo de qualidade para apreciação no prazo de 15 dias.
A versão definitiva da ficha é aprovada pela comissão do controlo de qualidade, sendo
assinada pelo presidente da mesma com a aposição de aprovado sem nada a referir, aprovado
com observações e recomendações de menor relevância, aprovado com recomendações e
Objetivos do
controlo de
qualidade
- Assegurar que o CC e demais membros da Ordem apresentam o
seu trabalho com elevado nível de qualidade;
- Manter a confiança pública da profissão;
- Assegurar a dignificação das relações interprofissionais, zelando
pelo cumprimento das normas éticas e deontológicas;
- Encorajar e apoiar os CC no sentido de atingirem um
desempenho profissional consistente e de elevada qualidade; e
- Evitar os efeitos negativos que resultam da concorrência desleal.
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observações relevantes, não aprovado, desempenho do CC sob observação ou arquivo e
outras situações. Posteriormente, a ficha é remetida ao conselho diretivo da OCC.
Caso não se possa proceder ao controlo de qualidade por culpa da entidade, cabe à
OCC comunicar o facto à Autoridade Tributária e Aduaneira, pois pode indicar um
comportamento indevido por parte do CC.
Sempre que no período inferior a cinco anos um CC tenha dois despachos de controlo
de qualidade consecutivos com resultado não aprovado, deverá submeter-se a um exame
sobre as matérias mais relevantes que originaram a reprovação.
As equipas de controlo são compostas por dois ou três membros e podem ser
acompanhadas por um membro da comissão de controlo, sendo nomeadas por um período de
um ano podendo ser renovado. A seleção dos CC a controlar é feita através de sorteio, exceto
se a OCC tiver conhecimento de algum caso irregular que pretenda que seja alvo de controlo.
A comissão de controlo deve assegurar que todos os CC sejam objeto de controlo pelo menos
uma vez em cada período de oito anos.
O CC pode recusar fundamentadamente a equipa de controlo que lhe foi designada,
nos 10 dias seguintes à data da receção da comunicação feita pela comissão de controlo; se a
recusa for aceite, deverá ser nomeada uma nova equipa de controlo que já não pode ser
recusada.
Quanto às informações recolhidas, estas são propriedade exclusiva da OCC, que os
deverá manter em arquivo por 10 anos, sendo-lhe impedida qualquer utilização, transcrição
(mesmo parcial) ou divulgação externa.
3.3 Regulamento do fundo de solidariedade social
Esta norma tem como objetivo a atribuição de subsídios provenientes do orçamento da
OCC de modo a garantir as condições mínimas de sobrevivência aos CC. O valor do subsídio
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é atribuído caso a caso consoante a sua gravidade. A figura 4 mostra os motivos para a
atribuição do subsídio e a documentação exigida para o comprovar.
Figura 4: Motivos e documentação para atribuição do subsídio
Após recebidos os documentos evidenciados na figura 4, a bastonária tem um prazo de
oito dias para comunicar ao requerendo o resultado do seu pedido. Todos os anos até 31 de
julho é necessário fazer prova dos requisitos exigidos para a atribuição do subsídio; caso não
se faça prova destes requisitos o subsídio cessa.
3.4 Regulamento de taxas e emolumentos
Este regulamento aplica-se a todos os CC, membros estagiários, sociedades
profissionais de contabilistas e sociedades de contabilidade. A figura 5 explicita os montantes
devidos à OCC.
Figura 5: Valores devidos à OCC
Valores devidos à
OCC:
- Quotas;
- Participação em ações de formação ou em outros eventos realizados
pela OCC (pagos no momento da respetiva inscrição);
- Serviços e outros materiais, nomeadamente livros, programas
informáticos e brochuras das ações de formação.
- Acidente do CC que
resulte numa incapacidade
total ou parcial;
- Filhos portadores de
deficiência com menos de
16 anos;
- Cônjuge sem
rendimentos.
- Comprovativo do acidente;
- Comprovativo do rendimento
do agregado familiar dos
últimos três anos;
- Comprovativo do grau de
parentesco.
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Sempre que os membros requisitem serviços à OCC, quer por escrito, verbalmente ou
por telefone, esta verifica se as quotas se encontram pagas; se não estiverem emite um
comunicado para que o CC regularize a sua situação.
Quando os membros se encontrarem em falta perante a OCC, esta tem o direito de lhes
suspender o envio mensal da Contabilista (revista técnica da OCC), o acesso à base de dados,
bem como a quaisquer meios de informação ou formação.
Os membros podem apresentar por escrito ao consultório da OCC cinco consultas no
decurso de um ano. Estas perguntas devem ser feitas de forma clara e objetiva, não podendo
cada consulta ter mais de três questões; caso o número seja excedido os membros têm de
pagar um valor estipulado pela OCC. As respostas obtidas têm natureza interpretativa, sendo
que não vinculam a entidade reguladora da profissão.
3.5 Regulamento do seguro de responsabilidade civil
Cabe à OCC, consoante o plano de atividades e o orçamento do respetivo ano, a
contratualização ou não de um seguro de responsabilidade civil profissional. Caso não possa
assumir o seguro, a OCC comunica a circunstância ao CC, com antecedência mínima de 30
dias do termo do atual seguro, para que este se responsabilize pelo seguro. Neste caso, o CC
deve fazer prova à OCC da contratação do seguro, o qual não deve ser inferior a 50.000 €, à
luz do artigo 70.º, n.º 4 do EOCC.
A falta deste seguro impede o CC de exercer a sua atividade profissional. Não podem
beneficiar deste seguro os CC que tenham a sua inscrição suspensa ou cancelada voluntária ou
involuntariamente, não se encontrem identificados perante a OCC como responsáveis pela
contabilidade das entidades a que o sinistro respeita e que tenham as quotas em atraso por um
período superior a 90 dias.
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A apólice é feita anualmente e apenas cobre os riscos para que tal tenha sido
contratada. Aquando do sinistro o CC deve comunicá-lo à OCC apresentando a cédula
profissional e o documento de identificação civil, devendo a Ordem remeter tal facto à
companhia de seguros. O CC pode contratar um seguro de maior valor, ficando ao seu
encargo os prémios anuais correspondentes.
4. Guia de apoio a um candidato a contabilista certificado
Nesta secção pretende-se apresentar um guia de apoio a um candidato a contabilista
certificado, contribuindo assim para a divulgação de informação para o acesso à profissão.
Desta forma, o aspirante a CC:
─ tem de ter nacionalidade portuguesa ou de qualquer estado-membro da União
Europeia e possuir habilitações académicas de licenciatura ou superior desde que
reconhecidas pela OCC;
─ pode ter dispensa de estágio profissional, apenas se frequentar unidades curriculares
(de licenciatura) creditadas pela OCC, ou se tiver experiência profissional de pelo menos três
anos na prestação de serviços de contabilidade;
─ tem necessidade de realizar com aproveitamento um exame de avaliação
profissional, independentemente da sua licenciatura. Trata-se de uma prova escrita com a
duração de quatro horas com questões contabilísticas (de contabilidade financeira e de
contabilidade analítica), fiscais, estatutárias e deontológicas. Após aprovação no exame, o CC
fica vinculado ao pagamento de quota anual;
─ tem de possuir um seguro de responsabilidade civil (depois de admitido na OCC),
sem o que está impedido de exercer as suas funções, pois não tem como colmatar eventuais
falhas;
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─ tem de ter presente os seus futuros direitos e deveres profissionais, patenteados,
respetivamente, nos artigos 69.º e 70.º do EOCC;
─ tem de se consciencializar, o quanto antes, da necessidade de obter 70 créditos em
formação continua e regular no decorrer de dois anos, caso não cumpra é obrigado a
submeter-se a novo exame de avaliação profissional; e
─ deve saber que, na eventualidade de ser vítima de algum infortúnio previsto no
regulamento do fundo de solidariedade social, pode beneficiar da ajuda solidária da OCC, via
um subsídio por ela disponibilizado ao CC.
5. Comentários finais e conclusão
Em Portugal é muito rica e diversificada a memória da atividade profissional de
contabilista, para o que convém lembrar, conforme apreciação de Guimarães (2010, p. 775), a
sua primeira designação: a de guarda-livros. De um ângulo histórico, os primeiros
profissionais (guarda-livros), 31 no total, diplomaram-se por via institucional em 1763 na
conceituada Aula do Comércio de Lisboa, autorizada pelo rei D. José I em Maio de 1759 e
fundada sob os auspícios do seu principal secretário de Estado, Sebastião de Carvalho, futuro
marquês de Pombal (Gonçalves, 2016).
Mas importa, sobretudo, olhar e trabalhar para o futuro sustentado da profissão –
presentemente são milhares os candidatos ao ingresso na OCC. Como tal, este estudo
procurou contribuir para o enriquecimento cultural dos atuais estudantes de contabilidade, em
particular, e de ciências empresariais, no geral, em ordem a que possam sistematizar
conhecimentos associados à sua futura profissão, a de CC.
Todos os anos entram no ensino superior em Portugal milhares de estudantes com o
objetivo de estudar direta ou indiretamente contabilidade nos seus planos curriculares de
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licenciatura. É importante que todos saibam desde o início do seu percurso académico que a
profissão se encontra regulamentada, que existe uma associação pública profissional que a
superintende e fiscaliza, que os profissionais estão sujeitos a um estatuto e a um código
deontológico e, naquilo que mais releva para este artigo, a um conjunto de regulamentos
profissionais, também de cumprimento obrigatório. A dimensão e profundidade históricas
também se afiguram cruciais para a consolidação da identidade profissional do CC.
Foram discutidos neste escrito os aspetos principais dos regulamentos considerados
mais determinantes para um candidato a contabilista certificado. Em pesquisas futuras, o
propósito será o de analisar com detalhe todos os regulamentos gerados pela OCC.
Espera-se que esta exposição didático-pedagógica motive o leitor a procurar saber
mais e a conhecer melhor a profissão de CC em Portugal, um profissional que, convém
sensibilizar os atuais estudantes, “no contexto das suas funções consideradas de interesse
público tem também dado um importante contributo para a luta contra a fraude e evasão
fiscais” (Guimarães, 2009, p. 539), pois que “a função de contabilista certificado constitui
uma pedra basilar na construção de uma nova cidadania fiscal” (Cunha, 2016, p. 350).
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Hernâni Carqueja no envio de cópia do projeto].
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institucional (1759-1763: Aula do Comércio de Lisboa)”. De Computis: Revista
Española de Historia de la Contabilidad (Spanish Journal of Accounting History)
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Guimarães, J. F. C. (2009), “História da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas: 10.º
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Guimarães, J. F. C. (2010), “A profissão de contabilidade [contabilista] em Portugal”. Revista
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Lopes de Sá, A. (1998), História Geral e das Doutrinas da Contabilidade (2.ª ed. rev. e
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Matos, C. G. (2016), A Responsabilidade dos Contabilistas Certificados no Exercício da sua
Atividade Profissional – a Responsabilidade Tributária. Coimbra: Almedina.
18
Nunes, M. V. (2016), Estatuto da Ordem dos Contabilistas Certificados – Anotado. Porto:
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Rodrigues, L. L. (2016), “Tributo a António Domingues de Azevedo: fundador e primeiro
bastonário da Ordem dos Contabilistas Certificados”. Contabilidade & Gestão 19, pp.
5-7.
Rodrigues, L. L. e Gomes, D. (2002), “Evolução da profissão dos Técnicos de Contas em
Portugal: do Marquês de Pombal até aos nossos dias”. Jornal de Contabilidade 302,
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Roque, P. (2014), “Prefácio”. In Gonçalves, C., Gonçalves, G. e Sequeira, L. (2014), A
Profissão de Técnico Oficial de Contas – Enquadramento Normativo (pp. 15-16).
Porto: Vida Económica.
Sousa, R. M. (2012), Da Direcção-Geral das Contribuições Directas à Direcção-Geral dos
Impostos (1849-2012). Lisboa: Centro de Estudos Fiscais e Aduaneiros – Ministério
das Finanças.
Legislação
Decreto-Lei n.º 265/1995, de 17 de outubro.
Decreto-Lei n.º 452/1999, de 5 de novembro.
Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de outubro.
19
Lei n.º 139/2015, de 7 de setembro.
Regulamentos profissionais da Ordem dos Contabilistas Certificados
Regulamento de inscrição, estágio e exames profissionais.
Regulamento do controlo de qualidade.
Regulamento do fundo de solidariedade social.
Regulamento de taxas e emolumentos.
Regulamento do seguro de responsabilidade civil.