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XV Domingo do Tempo Comum – “O mandamento que conduz à vida eterna” – (14.07.2013). Dt 30,10-14c; Sl 68; Cl 1,15-20; LC 10,25-37. “Contemplarei, justificado, a vossa face; e serei saciado quando se manifestar a vossa glória” (Sl 16,15). A liturgia hodierna começa convidando-nos a contemplar a “face” de Deus. A I leitura (Dt 30,10-14) mostra como Moisés ensinou o caminho da verdade ao povo no deserto do Sinai. O bom caminho se conhece quando abrimos – “escancaramos os ouvidos” – para escutar e entender a voz de Deus. O escutar dessa Palavra palavra viva, lembrada continuamente pelos profetas – é a porta da conversão. Ninguém pode dizer que não compreendeu a voz divina, pois Deus fala “hoje” ao coração – à inteligência – de cada um (30,2.8.11.15-16.18-19). O Evangelho (Lc 10,25-37) apresenta um “teólogo” – um legista (10,25a) – que quer pôr Jesus à prova. Ele pergunta qual é o caminho para alcançar a vida eterna: “Que devo fazer para ter a vida eterna?” (Lc 18,18b). Jesus lhe devolve a pergunta querendo saber o que a Lei ensina. O “teólogo” cita o mandamento do amor (Dt 6,5; Lv 19,18), mas quer saber, de fato, quem é o “nosso próximo”, pois nos preocupamos a quem amar e a quem devemos excluir de nosso amor. Como argumentar não adianta, Jesus lhe responde contando a parábola do “Bom Samaritano”. Parábola que nasce de seu coração, pois Ele andava pela Galileia mui atento às pessoas – “às tristezas e dores, alegrias e esperanças do ser humano– que encontrava e via “à margem”, nas “veredas” dos caminhos. De fato, a parábola considera uma situação concreta da vida humana (Jerusalém a Jericó: estrada de aprox. 28 km, que atravessa uma região desértica cheia de despenhadeiros e escarpas, refúgio ideal de ladrões à espreita). O que acontece quando encontramos uma pessoa assalta e ferida, caída, “quase morta” – no caminho da vida? Ao ver o ferido, o sacerdote e o levita (= especialista das leis de pureza; servidor ou cantor do templo de Jerusalém) “fecham os olhos”. Para eles aquele homem não existe: “Dão uma volta passam ao largo”, sem se preocupar... Ocupados em sua piedade e em seu culto a Deus, seguem seu caminho, porque sua preocupação não são os que sofrem. Estão “cegos do coração”. E quão é comum em nossos dias esse tipo de cegueira”, a qual podemos chamar de indiferença, individualismo, “cada um na sua” (...); os nomes podem variar, mas a consequência é a mesma: solidão, abandono, morte. Contudo, no horizonte aparece um terceiro viajante: um desprezível samaritano, um mestiço, bastardo e herege – o legista sequer pronuncia o seu nome (10,37) –, porém capaz de reconhecer a vontade de Deus, pois é aberto ao amor divino. Agora Jesus se compraz em descrever minuciosamente os gestos de socorro e de ajuda prática: o curativo com desinfetante (o vinho fortemente alcoólico da Palestina) e o óleo para aliviar a dor do homem caído, o transporte até a hospedaria e o pagamento das despesas de comida e hospedagem. Estimados, essa atitude do Bom Samaritano não é semelhante à de Deus para conosco? Ele aproximou-Se do homem caído (Adão), sentiu-Se compaixão dele (), tornou-Se nosso próximo” (S. Ambrósio), e misericordiosamente salvou-nos por amor, gratuitamente.

XV Domingo Do Tempo Comum

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Homilias

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XV Domingo do Tempo Comum O mandamento que conduz vida eterna (14.07.2013).

Dt 30,10-14c; Sl 68; Cl 1,15-20; LC 10,25-37.

Contemplarei, justificado, a vossa face; e serei saciado quando se manifestar a vossa glria (Sl 16,15).

A liturgia hodierna comea convidando-nos a contemplar a face de Deus. A I leitura (Dt 30,10-14) mostra como Moiss ensinou o caminho da verdade ao povo no deserto do Sinai. O bom caminho se conhece quando abrimos escancaramos os ouvidos para escutar e entender a voz de Deus. O escutar dessa Palavra palavra viva, lembrada continuamente pelos profetas a porta da converso. Ningum pode dizer que no compreendeu a voz divina, pois Deus fala hoje ao corao inteligncia de cada um (30,2.8.11.15-16.18-19).O Evangelho (Lc 10,25-37) apresenta um telogo um legista (10,25a) que quer pr Jesus prova. Ele pergunta qual o caminho para alcanar a vida eterna: Que devo fazer para ter a vida eterna? (Lc 18,18b). Jesus lhe devolve a pergunta querendo saber o que a Lei ensina. O telogo cita o mandamento do amor (Dt 6,5; Lv 19,18), mas quer saber, de fato, quem o nosso prximo, pois nos preocupamos a quem amar e a quem devemos excluir de nosso amor.

Como argumentar no adianta, Jesus lhe responde contando a parbola do Bom Samaritano. Parbola que nasce de seu corao, pois Ele andava pela Galileia mui atento s pessoas s tristezas e dores, alegrias e esperanas do ser humano que encontrava e via margem, nas veredas dos caminhos. De fato, a parbola considera uma situao concreta da vida humana (Jerusalm a Jeric: estrada de aprox. 28 km, que atravessa uma regio desrtica cheia de despenhadeiros e escarpas, refgio ideal de ladres espreita). O que acontece quando encontramos uma pessoa assalta e ferida, cada, quase morta no caminho da vida?

Ao ver o ferido, o sacerdote e o levita (= especialista das leis de pureza; servidor ou cantor do templo de Jerusalm) fecham os olhos. Para eles aquele homem no existe: Do uma volta passam ao largo, sem se preocupar... Ocupados em sua piedade e em seu culto a Deus, seguem seu caminho, porque sua preocupao no so os que sofrem. Esto cegos do corao.

E quo comum em nossos dias esse tipo de cegueira, a qual podemos chamar de indiferena, individualismo, cada um na sua (...); os nomes podem variar, mas a consequncia a mesma: solido, abandono, morte.Contudo, no horizonte aparece um terceiro viajante: um desprezvel samaritano, um mestio, bastardo e herege o legista sequer pronuncia o seu nome (10,37) , porm capaz de reconhecer a vontade de Deus, pois aberto ao amor divino. Agora Jesus se compraz em descrever minuciosamente os gestos de socorro e de ajuda prtica: o curativo com desinfetante (o vinho fortemente alcolico da Palestina) e o leo para aliviar a dor do homem cado, o transporte at a hospedaria e o pagamento das despesas de comida e hospedagem.Estimados, essa atitude do Bom Samaritano no semelhante de Deus para conosco? Ele aproximou-Se do homem cado (Ado), sentiu-Se compaixo dele (), tornou-Se nosso prximo (S. Ambrsio), e misericordiosamente salvou-nos por amor, gratuitamente.

Carssimos, difcil imaginar uma cena mais provocante de Jesus a seus seguidores e de maneira direta aos dirigentes religiosos. Igreja no basta ser uma instituio, organizada de pessoas que estejam prximas dos que sofrem. Toda a Igreja deve aparecer publicamente como a instituio mais sensvel e comprometida com os que sofrem: fsica, psquica e moralmente. S a compaixo pode tornar hoje a Igreja mais humana e credvel.

pergunta do interlocutor, Jesus invertendo-a mostra mediante a narrao da parbola, que cada um de ns deve fazer-se prximo de cada pessoa que encontrarmos no caminho: Vai e tambm tu faz do mesmo modo! (10,37): age como Deus, imitando-O. Ento, no precisars mais perguntar quem teu prximo e ters a vida eterna, porque desde j estars vivendo a vida de Deus mesmo.

A Igreja deve ser antes de tudo uma Igreja samaritana. Ser verdadeira, i.., uma Igreja que se parece com Jesus; ser samaritana reagir com misericrdia diante do sofrimento das pessoas, pois a partir da f crist podemos: a misericrdia a nica reao verdadeiramente humana diante do sofrimento alheio, e que uma vez interiorizada, se transforma em princpio de atuao e de ajuda solidria a quem sofre. Os santos S. Camilo de Lellis, cuja memria lembrada hoje so testemunhas vivas dessa verdade, porque transmitiram com suas vidas a parbola do bom samaritano.A parbola do bom samaritano aquela que melhor expressa, de acordo com Jesus, o que ser verdadeiramente humano. O Samaritano uma pessoa que v em seu caminho algum ferido, aproxima-se, reage com misericrdia e o ajuda no que pode. Esta a nica maneira de ser humano: reagir com misericrdia. Pelo contrrio, dar uma volta diante de quem sofre postura do sacerdote e do levita viver desumanizado. A misericrdia o princpio fundamental da atuao de Deus e o que configura toda a vida, a misso e o destino de Jesus. Diante do sofrimento, no h nada mais importante do que a misericrdia. Ela a primeira coisa e a ltima. O princpio ao qual se deve subordinar todo o resto. Tambm na Igreja, na famlia, no trabalho, nas pesquisas...Carssimos, Jesus ensinou aos seus apstolos e ensina a cada um de ns seus discpulos o verdadeiro mandamento do amor. Ensinamento de Deus, outrora transmitido pelos profetas caminho para a vida (torah) cuja prtica o amor ao prximo: o necessitado de nosso amor e misericrdia.O amor a Deus e ao seu ensinamento encontra sua plenitude na f que se concentra em Cristo (...) imagem () do Deus invisvel, (...) Primognito () de toda criao e sua Palavra, proclamada no Evangelho. Cristo Jesus a plenitude do humano e do divino que restabeleceu nossa amizade com Deus.

Que o Senhor nos ajude a escut-Lo, am-Lo, imit-Lo, e fazer com amor e misericrdia o que Ele nos ensinou e ensina mediante sua Palavra.