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Revista Portuguesa de Pneumologia S 95 Vol XIV Suplemento 1 Março 2008 XXIII Congresso de Pneumologia / Textos Guarda, 8-10 de Novembro de 2007 Patologia pleural maligna – Avaliação imagiológica Introdução A patologia pleural maligna traduz-se ge- ralmente por um espessamento difuso ou focal da pleura, muitas vezes associado a derrame. A TC desempenha um papel fundamental na avaliação da pleura. Detecta espessamen- to pleural a partir dos 2 mm e é muito sen- sível no diagnóstico de derrame pleural (me- nos de 10 mm). A patologia maligna mais frequente – metás- tases, linfoma e mesotelioma pleural maligno (MPM) – condiciona geralmente espessa- mento difuso da pleura. Os critérios de Lyn- ch, usados em TC para definir um espessa- mento difuso, são: espessura superior a 3 mm, numa extensão em altura superior a 8 cm e com mais de 5 cm no plano axial. Espessamento pleural difuso Tomografia computorizada (TC) / resso- nância magnética (RM) Os métodos de imagem (TC / RM) são muito sensíveis na detecção mas apresen- tam grande dificuldade em estabelecer diagnóstico diferencial entre espessamento difuso ou derrame de natureza maligna ver- sus benigna. Os elementos semiológicos mais específicos para caracterizar o espessamento pleural como maligno são: envolvimento circunfe- rencial da pleura; espessamento nodular; espessura superior a 1 cm e atingimento da pleura mediastínica (Quadro I, Figs. 1 e 2) 1 . Os espessamentos benignos poupam geral- mente a pleura mediastínica, excepto, por vezes, a tuberculose. Todos estes elementos são bastante específi- cos dos processos malignos, mas a sua sensi- bilidade é baixa. Existem muitas situações malignas fora destes critérios (Fig. 3). As calcificações são mais frequentes nas situa- ções benignas, embora tenham pouco valor no diagnóstico diferencial. A existência de sinais de invasão a nível do mediastino, parede torácica ou diafragma, tornam muito provável o diagnóstico de ma- lignidade. São muito raras as situações be- nignas a condicionar invasão, como pode acontecer na actinomicose e, eventualmente, na tuberculose. Os vários espessamentos malignos (MPM, metástases e linfoma) podem ter exactamen- te a mesmas características morfológicas. João Filipe Costa 1 Artur Costa 1 1 Clínica Universitária de Imagiologia – Hospitais da Universidade de Coimbra. Director: Prof. Doutor Filipe Caseiro Alves. A TC desempenha um papel fundamental na avaliação da pleura

XXIII Congresso de Pneumologia / Textos · 2017-01-11 · Os critérios de Lyn-ch, usados em TC para definir um espessa-mento difuso, ... A existência de sinais de invasão a nível

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Vol XIV Suplemento 1 Março 2008

XXIII Congresso de Pneumologia / TextosGuarda, 8-10 de Novembro de 2007

Patologia pleural maligna – Avaliação imagiológica

Introdução A patologia pleural maligna traduz-se ge-ralmente por um espessamento difuso ou focal da pleura, muitas vezes associado a derrame.A TC desempenha um papel fundamental na avaliação da pleura. Detecta espessamen-to pleural a partir dos 2 mm e é muito sen-sível no diagnóstico de derrame pleural (me-nos de 10 mm).A patologia maligna mais frequente – metás-tases, linfoma e mesotelioma pleural maligno (MPM) – condiciona geralmente espessa-mento difuso da pleura. Os critérios de Lyn-ch, usados em TC para definir um espessa-mento difuso, são: espessura superior a 3 mm, numa extensão em altura superior a 8 cm e com mais de 5 cm no plano axial.

Espessamento pleural difuso

Tomografia computorizada (TC) / resso-nância magnética (RM)Os métodos de imagem (TC / RM) são muito sensíveis na detecção mas apresen-tam grande dificuldade em estabelecer diagnóstico diferencial entre espessamento

difuso ou derrame de natureza maligna ver-sus benigna.Os elementos semiológicos mais específicos para caracterizar o espessamento pleural como maligno são: envolvimento circunfe-rencial da pleura; espessamento nodular; espessura superior a 1 cm e atingimento da pleura mediastínica (Quadro I, Figs. 1 e 2)1. Os espessamentos benignos poupam geral-mente a pleura mediastínica, excepto, por vezes, a tuberculose.Todos estes elementos são bastante específi-cos dos processos malignos, mas a sua sensi-bilidade é baixa. Existem muitas situações malignas fora destes critérios (Fig. 3).As calcificações são mais frequentes nas situa-ções benignas, embora tenham pouco valor no diagnóstico diferencial.A existência de sinais de invasão a nível do mediastino, parede torácica ou diafragma, tornam muito provável o diagnóstico de ma-lignidade. São muito raras as situações be-nignas a condicionar invasão, como pode acontecer na actinomicose e, eventualmente, na tuberculose.Os vários espessamentos malignos (MPM, metástases e linfoma) podem ter exactamen-te a mesmas características morfológicas.

João Filipe Costa1

Artur Costa1

1 Clínica Universitária de Imagiologia – Hospitais da Universidade de Coimbra. Director: Prof. Doutor Filipe Caseiro Alves.

A TC desempenha um papel fundamental na avaliação da pleura

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Quadro I – Critérios de malignidade de espessamento pleural

Leung et al.Sensibilidade (%) Especifi cidade (%)

Espessamento circunferencial 41 100Espessamento nodular 51 94Espessamento > 1cm 36 94Pleura mediastínica 56 88

Fig. 1 – TC (janela de tecidos moles e pulmão): espessa-mento pleural nodular multifocal, com envolvimento da pleura costal e mediastínica, associado a derrame. Metás-tases pleurais

Fig. 2 – TC após CIV: espessamento pleural circunferencial difuso e irregular, com envolvimento preferencial da pleura mediastínica (superior a 1cm) e realce heterogéneo. Há si-nais de invasão do pericárdio e veias pulmonares esquer-das. Mesotelioma pleural maligno

Fig. 3 – TC (janela de pulmão, osso e tecidos moles): espessamento pleural localizado, regular e pouco espesso, só suspeito de malignidade por estar associado a metástases pulmonares e ósseas, num doente com carcinoma da próstata

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PET-TCOs aspectos morfológicos em TC e RM não são seguros na diferenciação entre doença pleural maligna e benigna. A discriminação precoce é fundamental para o tratamento e prognóstico do doente. De uma forma geral, as células tumorais apresentam metabolismo aumentado, o que resulta numa maior acti-vidade glicolítica. O PET -TC utiliza o posi-trão flúor -18 (F18) e o radiofármaco flúor--desoxiglicose (FDG), cuja captação pelas células tumorais dá informação anatómica e origina um valor semiquantitativo da activi-dade metabólica. Para uma melhor resolução espacial, é usada em simultâneo com a TC. A fusão das duas técnicas (PET -TC) resulta numa maior acuidade diagnóstica.Perante um espessamento pleural e/ou der-rame indeterminados, a PET revela uma acuidade para o diagnóstico de lesões ma-lignas de 88 -92%2,3. Apresenta uma sensi-bilidade próxima dos 100% e valor predi-

tivo negativo (VPN) superior a 90% em todas as séries (Fig. 4)3,4. O elevado VPN tem maior importância clínica ao permitir vigiar por TC os espessamentos pleurais com PET negativa. Algumas situações be-nignas, particularmente nos processos in-flamatórios, originam captação da FDG--F18, obrigando a verificação sempre que a PET é positiva. Se o estudo citológico for positivo está confirmada a malignidade das lesões. Se a citologia for negativa há neces-sidade de caracterização histológica2,5. Não só no espessamento pleural como também nos derrames, a PET é útil para excluir le-são maligna (Fig. 5). É superior à citologia do líquido pleural e à biópsia pleural não guiada e virtualmente semelhante à pleu-roscopia no diagnóstico de malignidade. É útil na orientação do local das biópsias para as zonas de maior captação, onde há maior probabilidade de obter resultados positivos6.

Fig. 4 – Radiografi a do tórax, TC após CIV, RM torácica (T2-FS e T1 após gadolínio): Espessamento pleural em placas, relativamente regular, com efeito de realce, associado a retracção do hemitórax homolateral. PET-TC mostra captação de FDG-F18 nas zonas de espessamento (na imagem frontal visualiza-se volumosa massa mediastínica já conhecida). Metás-tases de tumor oculto

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A fusão das duas técnicas (PET -TC) resulta numa maior acuidade diagnóstica

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Biópsia pleuralCerca de 40-50% dos derrames pleurais são de origem maligna, metade deles em relação com neoplasias da mama e pulmão7.A citologia do exsudado tem uma sensibilida-de de 60% para as metástases e só 26% para MPM. Os resultados da biópsia pleural não guiada também não são melhores, com insu-cesso sobretudo nos espessamentos focais, revelando 48-56% para detecção de patologia pleural maligna e 21-43% para o MPM7.A biópsia pleural guiada por TC, de forma menos invasiva, com menos complicações e mais económica, permite estabelecer o diag-nóstico de malignidade pleural com valores de sensibilidade de 77-88% e especificidade de 88-100%7.A biópsia por toracoscopia apresenta os me-lhores resultados, com uma sensibilidade de 91-98% para o diagnóstico de malignidade pleural e com a possibilidade de pleurode-se3,5. Tem a desvantagem de ser um método invasivo, exigir anestesia ou pelo menos se-dação, apresentar complicações major em

1,9-15% dos doentes, poder falhar em caso de aderências pleurais e ser onerosa7.

Principais etiologias

Mesotelioma pleural malignoO MPM é um tumor raro, fortemente asso-ciado aos asbestos (80%). Afecta cerca de 5-7% de todos os trabalhadores expostos, existindo um período de latência de 25-45 anos até ao seu aparecimento.Apesar dos avanços terapêuticos combinando a cirurgia, radioterapia e quimioterapia, o prognóstico continua reservado, com uma sobrevida inferior a 2 anos, condicionada pela agressividade do tumor e pelo intervalo de tempo entre o seu aparecimento e o diagnós-tico2. Frequentemente, o diagnóstico é atra-sado 6-8 meses desde os sintomas iniciais8.Histologicamente, é por vezes difícil o diag-nóstico diferencial com metástases de adeno-carcinoma, sendo necessário recorrer à imuno-citoquímica e até à microscopia electrónica.

Fig. 5 – TC após CIV: espessamento pleural difuso, com realce após CIV e derrame organizado, envolvendo a cisura. PET--TC: ausência de captação de FDG -F18. Biópsia transtorácica confi rma pleurite crónica

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O MPM é um tumor raro, fortemente associado aos asbestos

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DiagnósticoA radiografia do tórax apresenta alterações detectadas tardiamente, quase sempre pouco específicas, não distinguindo espessamento pleural de derrame organizado.A TC com contraste endovenoso revela es-pessamento pleural difuso, com realce hete-rogéneo, irregular e nodular, que afecta pre-dominantemente a metade inferior do hemitórax, estendendo-se em continuidade para as cisuras (Fig. 2). Os elementos mais importantes para o diagnóstico são o espes-samento difuso superior a 1 cm e o envolvi-mento das cisuras (86%)8,9. É frequente a extensão ao diafragma e cavidade peritoneal, assim como invasão da parede torácica e do mediastino.Pode surgir como espessamento isolado em 8-25% dos casos e o derrame pleural é fre-quente (75%). Há habitualmente perda de volume do hemitórax e as calcificações en-contram-se em 20%8,9,10.Poderão coexistir outros achados imagioló-gicos de asbestose (placas pleurais e alterações intersticiais no pulmão).O diagnóstico diferencial com outros espes-samentos malignos e até benignos muitas vezes não é possível.A RM identifica os mesmos aspectos morfo-lógicos da TC, com o tumor a apresentar um sinal intermédio ou discreto hipossinal em T1 e hipersinal moderado em T2. A admi-nistração de gadolínio melhora a resolução de contraste facilitando a avaliação da exten-são do tumor10.Em doentes alérgicos ao iodo, a RM consti-tui o principal método de estudo.A PET-TC revela, nos vários estudos, uma sensibilidade e especificidade altas (superio-res a 90%) na discriminação entre MPM e espessamento benigno2,3,6.

O tumor apresenta forte captação de FDG--F18 em 78% dos casos e moderada em 22%. Os principais falsos positivos devem -se às pleurites infecciosas, sendo necessária ve-rificação histológica em caso de PET positi-va. Estão descritos casos de falsos negativos no tipo epitelióide do MPM, que apresenta um crescimento lento, de baixa actividade metabólica e também melhor prognóstico comparativamente aos outros subtipos. Em caso de exposição aos asbestos, será pruden-te recorrer à toracoscopia na presença de derrame ou espessamento pleural, mesmo com PET negativa.No caso do MPM, são frequentes as biópsias não diagnósticas mesmo com quantidades ade-quadas de tecido para estudo anatomopatoló-gico. No espessamento pleural difuso, a PET--TC dá informação sobre os locais de doença metabolicamente activa com maior probabili-dade de originar biópsias positivas6,10.

EstadiamentoBaseia-se na classificação TNM (Quadro II). Através dos métodos de imagem (TC, RM e PET-TC) pretende-se averiguar os critérios para excisão cirúrgica. Está indicada a cirurgia nos doentes em estádio precoce, potencial-mente curável (T1), e podem ainda beneficiar de cirurgia, não necessariamente curativa, os doentes do estádio T2 e T3. Não está indica-da nos casos de doença localmente avançada (T4), com adenopatias ou metástases.A TC avalia a invasão pulmonar, parietal, mediastínica e diafragmática (Fig. 6).A extensão à parede torácica traduz-se por obliteração dos planos adiposos extrapleu-rais, deslocamento ou destruição das costelas e invasão dos músculos intercostais. A irre-gularidade da interface entre a parede e o tumor não é sinónimo de invasão10.

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A PET-TC revela uma sensibilidade e especificidade altas na discriminação entre MPM e espessamento benigno

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A extensão mediastínica pode levar a invasão do coração, esófago e traqueia. A obliteração dos planos adiposos com envolvimento de 50% da circunferência vascular evidencia invasão10.A extensão ao diafragma traduz-se por massa a envolver o hemidiafragma e perda do plano adiposo entre o diafragma e os órgãos abdo-

minais, o que é mais bem avaliado nas refor-matações coronais e sagitais10.A RM apresenta acuidade idêntica à da TC no estadiamento tumoral, excepto no que concerne à invasão da parede torácica e dia-fragmática, em que é nitidamente superior. A elevada resolução de contraste da RM per-

Fig. 6 – Mesotelioma pleural maligno. TC após CIV: espessamento nodular da pleura, associado a volumoso derrame pleural. Há invasão da parede torá-cica e transdiafragmática, com extensão do tumor à cavidade peritoneal, com desvio e infi ltração do baço. Há adenopatias na região do tronco celíaco*

Quadro II – Classifi cação TNM do mesotelioma pleural maligno

Estadiamento localT1a tumor limitado à pleura parietal homolateral, incluindo a pleura mediastínica e/ou diafragmáticaT1b envolvimento da pleura visceralT2 extensão ao músculo diafragmático e/ou extensão ao parênquima pulmonar subjacente

T3 doença avançada localmente mas ressecável – extensão à fascia endotorácica, gordura mediastínica, tecidos moles da parede torácica e/ou pericárdio

T4doença avançada localmente mas irressecável – extensão difusa e/ou multifocal à parede torácica (com ou sem destruição das costelas), peritoneu, pleura contralateral, mediastino, medula, pericárdio e/ou miocárdio.

Disseminação ganglionarN0 sem envolvimento ganglionarN1 envolvimento dos gânglios hilares ou broncopulmonares homolaterais

N2 envolvimento dos gânglios subcarinais ou mediastínicos homolaterais, incluindo os gânglios mamários internos

N3 envolvimento dos gânglios mediastínicos, mamários internos contralaterais, supraclaviculares homolaterais ou contralaterais

Metastização à distânciaM0 ausência de metástases à distânciaM1 metastização à distância

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A RM apresenta acuidade idêntica à da TC no estadiamento tumoral, excepto no que concerne à invasão da parede torácica e diafragmática, em que é nitidamente superior

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mite avaliar a extensão à fáscia endotorácica, detectar focos tumorais nos músculos da pa-rede e infiltração através do diafragma10,11.A pesquisa de metástases, habitualmente no pulmão, osso e suprarrenal, é feita por TC e eventualmente RM. A PET-TC é útil na pes-quisa de metástases ocultas6,10.A pesquisa de adenopatias hilares e mediastí-nicas faz-se habitualmente por TC, com base em critérios dimensionais. Consideram-se ade-nopatias os gânglios com menor eixo superior ou igual a 1 cm. Sabe-se que alguns gânglios infracentimétricos podem ser tumorais (falsos negativos da TC) e há gânglios com mais de 1 cm que não são tumorais (reactivos / inflama-tórios), constituindo falsos positivos.A PET-TC é sensível na detecção de adenopa-tias (captam FDG – F18), mas apresenta falsos positivos, particularmente nas infecções6.Em doentes candidatos à cirurgia é muitas vezes necessário recorrer à mediastinoscopia perante gânglios duvidosos6.

Frequentemente, os métodos de imagem não conseguem colocar correctamente os doentes nos vários estádios da classificação TNM. Na ausência de derrame ou pneumotórax, não é possível separar a pleura parietal da visceral (T1a vs T1b)11. Não é fácil distinguir interface irregular de invasão tumoral10. Quando o MPM se localiza na pleura mediastínica, não se consegue distinguir o tumor das adenopatias hilares e mediastínicas homolaterais. Daí o número significativo de estadiamentos errados comparativamente aos achados cirúrgicos.A TC é a primeira modalidade no diagnós-tico e estadiamento mas, nos candidatos a cirurgia, é necessário muitas vezes recorrer à RM e quase sempre à PET-TC.

Resposta ao tratamentoPara avaliar a resposta ao tratamento, recorre--se à TC e PET -TC (Fig. 7). Na TC, a res-posta ao tratamento traduz -se pela redução da espessura da pleura. Na PET -TC, há res-

Fig. 7 – Mesotelioma pleural maligno. PET-TC: espessamento pleural difuso, com extensão à grande cisura. O exame de follow-up (após 6 ciclos de QT) não mostra resposta ao tratamento

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A PET-TC é útil na pesquisa de metástases ocultas

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posta adequada quando diminui a captação da FDG-F18 (superior a 25%)12.

SeguimentoO seguimento dos doentes é feito por TC e PET-TC. Avalia-se a presença de tumor re-sidual ou recorrência tumoral, assim como eventual aparecimento de metástases.

Metástases pleuraisAs metástases são os tumores mais frequentes da pleura depois dos 50 anos e constituem a segunda causa de derrame pleural, a seguir à insuficiência cardíaca.Os tumores primitivos mais frequentemente associados a metástases pleurais são o do pul-mão (33%), mama (25%), ovário (5%), estô-mago (5%), pâncreas, útero, timo e tumor oculto (10%). Deve-se pensar em metástases pleurais perante um derrame pleural volumo-so, muitas vezes bilateral e que se refaz rapida-mente, num doente com coração normal.São frequentes os nódulos ou massas pleu-rais, com realce após CIV, e podemos en-

contrar espessamento pleural difuso impos-sível de distinguir do MPM (Fig. 8)5. Se coexistirem nódulos pulmonares ou linfan-gite carcinomatosa, o mais provável é tratar--se de metástases.Na PET -TC, as metástases captam FDG--F18, o que é útil na avaliação de espessa-mento pleural ou derrame em doentes onco-lógicos (Fig. 4)2,5. O cancro da próstata constitui o principal falso negativo.

LinfomaO linfoma (LH/LNH) é responsável por 10% dos derrames pleurais malignos. Os linfomas primitivos da pleura são raros, sen-do a variante mais comum o LNH. Geral-mente, a pleura é afectada no contexto de linfoma sistémico com envolvimento de gân-glios mediastínicos ou hilares, do timo ou pulmão.

DiagnósticoA TC constitui o principal método de avalia-ção. O derrame pleural recidivante é frequen-

Fig. 8 – Metástases pleurais de neoplasia do esófago. TC após CIV: espessamentos nodulares da pleura, com marcado realce após CIV, associados a metástase hepática*

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Na PET -TC, as metástases captam FDG -F18

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te, mas pode resultar apenas de obstrução linfática condicionada pelas adenopatias me-diastínicas e hilares e não por infiltração da pleura. É importante investigar o envolvi-mento pleural para orientar a terapêutica. Em caso de radioterapia apenas dirigida ao me-diastino e hilos, estando a pleura afectada, pode resultar em falha no tratamento. O en-volvimento traduz-se por espessamento no-dular ou em placas e por vezes grandes massas que se estendem à parede torácica (Fig. 9.Na PET-TC, há captação da FDG-F18. Os linfomas de baixo grau, devido à baixa acti-vidade celular, constituem falsos negativos.

Tumor fibroso da pleura Embora a maior parte seja benigna, existem 20% de lesões malignas. Ao contrário do MPM, tem localização à pleura visceral, com origem no tecido fibroso submesotelial. Constituem 5% dos tumores pleurais e não há relação com a exposição aos asbestos13,14. Aparecem em adultos (40-70 anos), geral-mente assintomáticos, descobertos em radio-

grafias do tórax de rotina. Podem surgir sin-tomas torácicos (dor, dispneia e tosse) e, classicamente, estão descritos casos raros de associação com hipoglicemia e artropatia hi-pertrófica15. São mais frequentes nos dois terços inferiores do tórax.

DiagnósticoA TC constitui o principal método de estudo. São lesões com dimensões variáveis, desde os 2 cm até aos 30 cm. As pequenas lesões geral-mente apresentam ângulos de implantação obtusos, típicos da localização pleural (Fig. 10). Nas grandes lesões e nos tumores pediculados, os ângulos são muitas vezes agudos13,14,15,16.O pedículo pode existir em 40% dos casos, o que deve ser pesquisado, constatando a mobilização da massa com alteração do de-cúbito do paciente14.Os pequenos tumores são geralmente ho-mogéneos e as lesões maiores costumam ser heterogéneas, com realce significativo após contraste endovenoso devido à vasculariza-ção do tumor (Fig. 11)16. A heterogeneida-

Fig. 9 – Linfoma sistémico com envolvimento pleural. TC após CIV: massa esplénica* associada a derrame pleural e mas-sas na pleura diafragmática

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de é condicionada pela necrose, degeneres-cência quística ou mixóide e também pela hemorragia14. As calcificações são raras (5%) e o derrame pleural pode ocorrer (15-20%)16.Em RM exibem hipossinal ou sinal intermé-dio em T1 e T2, característico dos tumores

fibrosos. Contudo, um hipersinal em T2 pode representar necrose ou hemorragia17,18.Os métodos de imagem não distinguem le-sões benignas das malignas. As lesões malig-nas são raramente pediculadas e costumam ter mais de 10 cm, necrose central e localiza-ção atípica (cisuras, pleura mediastínica e intraparenquimatosos)15. O diagnóstico das lesões malignas é histológico, apoiado em critérios que não estão bem estabelecidos mas que se relacionam com um alto índice mitó-tico e o pleomorfismo celular.Na PET-TC revelam baixa captação, embo-ra as séries estudadas sejam ainda pequenas.

SeguimentoA vigilância pós cirurgia é feita por TC, a cada seis meses durante 2 anos. A recorrência surge em cerca de 16% dos casos16.

ConclusõesA TC e PET-TC são fundamentais no diag-nóstico, estadiamento, avaliação da resposta terapêutica e seguimento da patologia pleu-

Fig. 11 – Tumor fi broso benigno da pleura. TC antes e após CIV. MIP coronal. Volumosa massa pleural, heterogénea, com áreas hipodensas intralesionais, em relação com necrose e marcada vascularização. Apesar das dimensões e heterogenei-dade, a histologia é benigna

Fig. 10 – Tumor fi broso benigno da pleura. TC (janela de tecidos moles): pequena lesão de contorno regular, na pleu-ra visceral (ângulos de implantação obtusos), com focos de calcifi cação e preservação da gordura extrapleural

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ral maligna. A TC detecta facilmente espes-samento pleural e derrame mas é menos sensível na diferenciação de benigno versus maligno.A PET-TC é muito sensível e o seu elevado VPN é de grande importância quando se avalia a origem benigna ou maligna das alte-rações pleurais.

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XXIII Congresso de Pneumologia / TEXTOS