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XXV CONGRESSO DO CONPEDI - CURITIBA
DIREITO INTERNACIONAL I
EDUARDO BIACCHI GOMES
FABRICIO BERTINI PASQUOT POLIDO
Copyright © 2016 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito
Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte destes anais poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem prévia autorização dos editores.
Diretoria – CONPEDI Presidente - Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa – UNICAP Vice-presidente Sul - Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – PUC - RS Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. João Marcelo de Lima Assafim – UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Maria dos Remédios Fontes Silva – UFRN Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes – IDP Secretário Executivo - Prof. Dr. Orides Mezzaroba – UFSC Secretário Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto – Mackenzie
Representante Discente – Doutoranda Vivian de Almeida Gregori Torres – USP
Conselho Fiscal:
Prof. Msc. Caio Augusto Souza Lara – ESDH Prof. Dr. José Querino Tavares Neto – UFG/PUC PR Profa. Dra. Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches – UNINOVE
Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva – UFS (suplente) Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas – UFG (suplente)
Secretarias: Relações Institucionais – Ministro José Barroso Filho – IDP
Prof. Dr. Liton Lanes Pilau Sobrinho – UPF
Educação Jurídica – Prof. Dr. Horácio Wanderlei Rodrigues – IMED/ABEDi Eventos – Prof. Dr. Antônio Carlos Diniz Murta – FUMEC
Prof. Dr. Jose Luiz Quadros de Magalhaes – UFMG
D598Direito internacional I [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UNICURITIBA;
Coordenadores: Eduardo Biacchi Gomes, Fabricio Bertini Pasquot Polido – Florianópolis: CONPEDI, 2016.
1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Congressos. 2. Direito Internacional. I. CongressoNacional do CONPEDI (25. : 2016 : Curitiba, PR).
CDU: 34
_________________________________________________________________________________________________
Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br
Profa. Dra. Monica Herman Salem Caggiano – USP
Prof. Dr. Valter Moura do Carmo – UNIMAR
Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr – UNICURITIBAComunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-319-1Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: o papel dos atores sociais no Estado Democrático de Direito.
XXV CONGRESSO DO CONPEDI - CURITIBA
DIREITO INTERNACIONAL I
Apresentação
As atividades realizadas dentro do XXV CONPEDI, no mês de dezembro na cidade de
Curitiba, foram significativamente importantes para a contribuição científica e acadêmica,
especialmente no que diz respeito aos Grupos de Trabalho e artigos apresentados no decorrer
do evento e que refletem a maturidade acadêmica dos pesquisadores da área do direito e
especialmente do Direito Internacional.
De forma a observar a referida qualidade dos trabalhos, foram realizadas as atividades
referentes ao GRUPO DE TRABALHO de DIREITO INTERNACIONAL I e que contou
com a apresentação e discussão de vinte textos, previamente selecionados pelos avaliadores
do CONPEDI e debatidos no Evento.
Como forma de melhor estruturar e organizar os textos, o livro foi dividido em capítulos
específicos, de forma a observar a pertinência dos temas, buscando dar maior
homogeneidade.
A divisão dos artigos se deu de forma criteriosa, partindo-se de temas gerais para os mais
específicos, de forma a observar que os textos perpassam por uma sequência lógica de
capítulos e temas, o que permite que os trabalhos dialoguem entre si.
Assim, o livro começa com a temática sobre Direito Internacional Geral, com temas voltados
ao debate entre soberania e Estado Nação, fontes do Direito Internacional, Governança
Global e uma releitura dos precursores do Direito Internacional Público.
Na sequência, apresentamos ao leitor o Capítulo voltado aos temas sobre Direitos Humanos e
que atualmente possuem grande relevância dentro do Direito Internacional. Temas
importantes na pauta nacional e agenda internacional são debatidos como o diálogo
intercultural e a superação entre relativismo e o universalismo cultural, Tribunal Penal
Internacional, Convenções da OIT e trabalhos nas fronteiras, questões de gênero dentro de
uma perspectiva comparada entre Brasil e Portugal e o diálogo entre jurisdições dentro do
Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos.
Na parte dos artigos de Direito da Integração, apresentamos ao leitor temas de grande
interesse, como questões voltadas ao Brexit e a possível saída do Reino Unido da União
Europeia, perspectivas e desafios, na temática voltada a proteção dos Direitos Humanos
dentro da Integração, o conceito e a compreensão quanto a cidadania da União Europeia.
Dentro da mesma linha de pensamento, a aplicação dos Direitos Humanos no Mercosul.
Finalmente, dentro do Mercosul, desafios para o desenvolvimento econômico do bloco, a
partir do federalismo.
Ao se trabalhar sobre os temas de meio ambiente, são apresentados os temas sobre empresas
transnacionais e meio ambiente; mudanças climáticas e seus impactos jurídicos, assim como
Direito ao Desenvolvimento e as semente geneticamente transformadas.
Finalmente quanto a temática de Direito Tributário Internacional, apresentamos aos leitores
os artigos que versam sobre cooperação jurídica internacional em matéria tributária, em
artigos que se complementam e demonstram a importância do tema.
Prof. Dr. Eduardo Biacchi Gomes - UNIBRASIL
Prof. Dr. Fabricio Bertini Pasquot Polido - UFMG
O MERCOSUL E A PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS.
O MERCOSUL AND THE PROTECTION OF HUMAN RIGHTS.
Maria Teresinha de CastroJunia Gonçalves Oliveira
Resumo
O presente estudo busca demonstrar em que patamar se encontram os direitos humanos em
nível internacional, tendo como escopo o MERCOSUL. Será analisada a evolução da
proteção jurídica destes direitos. Para caracterização do estudo analisaremos as relações
jurídicas e econômicas decorrentes da criação do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). E
por fim apresentaremos um panorama atual da dos direitos humanos dentro da região do
MERCOSUL
Palavras-chave: Mercosul, Direitos humanos, Proteção
Abstract/Resumen/Résumé
The present study aims to demonstrate in which level the human rights are in an international
prospective, having as scope the MERCOSUL. Will be analyzed the juridical protection
evolution of these rights. To the study characterization we will analyze the juridical and
economic relations resulting from the creation of the Southern Common Market
(MERCOSUL). Finally, we will show a current overview of human rights in the region of
MERCOSUL.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Southern common market (mercosul), Human rights, Protection
144
1- INTRODUÇÃO
O chamado Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) bloco econômico encontrado
na América Latina, passa por um processo integrativo, sua perspectiva de criação entre
outros fatores visa a proteção aos direitos humanos.
Direitos Humanos uma nova perspectiva sobre a capacidade das empresas de
incidirem na realidade territorial/social e o efetivo acesso aos Direitos Humanos no
período pós-globalização da economia
Historicamente com o final da Segunda Grande Guerra Mundial, temos o
nascimento da normatização da proteção aos direitos humanos, temos assim como marcos
a Declaração de Direitos e Deveres do Homem da OEA, a Carta da ONU, a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, a Convenção Européia, os Pactos da ONU e a
Convenção Internacional.
A necessidade de analisar e investigar de que forma está ocorrendo o respeito aos
Direitos Humanos na esfera empresarial, principalmente através da análise da postura de
empresas transnacionais e o desenvolvimento da economia globalizada como mola
propulsora dos abusos aos Direitos Humanos cria a necessidade de estudar esse fenômeno
dentro do MERCOSUL através das diretrizes de integração do bloco.
A técnica de pesquisa utilizada é bibliográfica, quando se trata da descrição de
referencial teórico e documental, quando se trata das observações registradas das análises
das jurisprudências. Quanto ao tipo de pesquisa, pode se dizer que é qualitativa descritiva,
sendo qualitativa pelo estudo de avaliação de jurisprudências e documentos. (LAKATOS
E MARCONI, 2007).
2- DIREITOS HUMANOS
145
Devemos inicialmente compreender que os chamados direitos do homem podem
ser considerados, segundo PÉREZ LUÑO1 como um emaranhado de faculdades e
instituições que buscam caracterizar em momentos históricos as exigências da dignidade,
da liberdade e da igualdade humanas, neste ponto sendo necessario o reconhecimento
positivo pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional.
Na compreensão de Joaquín Herrera Flores citado por PIOVESAN2 “Os direitos
humanos compõem uma racionalidade de resistência, na medida em que traduzem
processos que abrem e consolidam espaços de luta pela dignidade humana”. Neste sentido
devemos considerar que os direitos humanos abrangem as normas jurídicas externas e
internas que visão a proteção da pessoa humana.
No estudo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, essencialmente no art.
2°, temos a previsão que todo o homem pode prevalecer-se de todos os direitos e de todas
as liberdades proclamadas pela Declaração, sem distinção alguma, principalmente de
raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião, ou qualquer outra condição.
Nenhuma distinção, ademais, se admite, fundada em estatuto político, jurídico, ou
internacional, do país, ou território, do qual alguém seja originário, embora se trate de
país, ou território, independente, ou submetido a tutela, ou não autônomo, ou sujeito a
qualquer restrição de sua soberania.
Em seu norte a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), de 26.06.1945,
prescreve que:
Art. 6° - Cada Estado tem o dever de tratar as pessoas submetidas à sua
jurisdição de tal modo, que os direitos do homem e as liberdades
fundamentais sejam respeitadas, sem distinção de raça, sexo, língua, ou
religião.
1 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Perspectivas e Tendências Atuais do Estado
Constitucional. Tradução de José Luis Bolzan de Morais e Valéria Ribas do Nascimento. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2012.
2 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 11. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011. p.8.
146
E, no art. 7°, determina o dever de cuidado dos estados em seu território
diretamente relacionado com a paz e a ordem internacional, levando assim aos Estados
signatários a obrigação de proteção aos direitos e garantias fundamentais.
Vicente RÁO3, em seus estudos sobre os direitos humanos fala da
internacionalização através das características assumidas pelos Estados-Membros da
ONU determinando que tais Estados assumam esses direitos com
Trazendo o escopo de estudo ao Continente Americano temos o Sistema de
Proteção Americano, também conhecido por Sistema Interamericano, que surgiu com a
Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) e com a Declaração Americana
dos Direitos e Deveres do Homem datada de 1948.
A evolução da aplicação dos Direitos Humanos no Continente Americano
principalmente no tocante as ações empresariais foi reforçada pelo Protocolo Adicional à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais- o chamado protocolo de San Salvador de 1988.
O referido protocolo prevê a progressividade na implementação dos direitos
econômicos, sociais e culturais, elencando diversos direitos que devem ser respeitados
nas relações de trabalho, nas relações sociais e culturais.
3- OS DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO EMPRESARIAL E NO MERCOSUL
Na matéria dos Direitos Humanos visto diretamente pela iniciativa privada,
considerando as organizações empresariais como grandes responsáveis pelo desrespeito
a tais direitos temos a necessidade de desenvolvimento de politicas de fiscalização,
implantação e incentivos dos Direitos Humanos.
Considerando tal necessidade os membros da Organização dos Estados
Americanos (OEA) na segunda sessão plenária, realizada em 4 de junho de 2014 no
3 RÁO, Vicente - O Direito e a Vida dos Direitos, São Paulo, Revista dos Tribunais, 4ª edição,
vol. 1, 1997.
147
tocante ao: PROJETO DE RESOLUÇÃO: PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS NO ÂMBITO EMPRESARIAL4”, aprovaram a seguinte
resolução:
“RESOLVE:
1. Continuar promovendo a aplicação dos princípios
orientadores das Nações Unidas sobre empresas e direitos humanos,
instando os Estados membros a que deem a maior divulgação possível
a esses princípios, facilitando o intercâmbio de informações e
compartilhando as melhores práticas em promoção e proteção dos
direitos humanos no âmbito empresarial, a fim de conseguir maior
conscientização sobre os benefícios de sua aplicação.
2. Ressaltar a importância de continuar avançando no
tema empresas e direitos humanos e, nesse sentido, convidar os Estados
membros a que considerem o tema nas instâncias correspondentes.
3. Incentivar os Estados membros e seus respectivos
institutos nacionais de direitos humanos ou instituições competentes a
que estimulem o diálogo construtivo entre empresas, governo e a
sociedade civil e outros atores sociais, para a aplicação dos princípios
reitores.
4. Solicitar à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH) e à Secretaria Executiva de Desenvolvimento
Integral (SEDI), no âmbito de suas competências e de maneira
coordenada, que continuem apoiando os Estados na promoção e
aplicação dos compromissos estatais e empresariais em matéria de
direitos humanos e empresas.
5. Solicitar ao Conselho Permanente que realize uma
sessão extraordinária da Comissão de Assuntos Jurídicos e Políticos,
no primeiro trimestre de 2015, a fim de fortalecer o intercâmbio de
boas práticas e experiências em matéria de promoção e proteção dos
direitos humanos no âmbito empresarial. A sessão contará com a
presença dos Estados membros e de peritos do governo, do setor
4 Organização dos Estados Americanos. Disponível em:
<http://www.oas.org/council/pr/CAJP/direitos%20humanos.asp#empresarial> acesso em: 09/01/2016 às
23:25hs.
148
acadêmico e da sociedade civil, e de outros atores sociais, assim como
das organizações internacionais; e que antes do Quadragésimo Quinto
Período Ordinário de Sessões da Assembleia Geral, por meio da
Secretaria de Assuntos Jurídicos, elabore um relatório compilatório
sobre a sessão.
6. Solicitar ao Conselho Permanente que informe a
Assembleia Geral, em seu Quadragésimo Quarto Período Ordinário de
Sessões, sobre a implementação desta resolução, cuja execução estará
sujeita à disponibilidade de recursos financeiros no orçamento-
programa da Organização e outros recursos.”
Neste mesmo sentido a Organização Mundial do Comércio (OMC) mesmo ainda
em seus documentos não existindo a menção clara da proteção dos direitos humanos, em
seu Preâmbulo do Acordo Constitutivo da Organização, prevê que as partes que
constituem a organização devem objetivar a elevação dos níveis de vida, o pleno emprego
e um desenvolvimento sustentável.
Existe no universo jurídico e dogmático brasileiro a necessidade de
desenvolvimento doutrinário pautado nas politicas de fiscalização, implantação e
incentivos dos Direitos Humanos no âmbito empresarial.
Quando temos organizações econômicas como a OMC preocupadas em garantir
o respeito aos direitos humanos, temos um pilar formador da necessidade de garantia a
tais direitos em um sistema mundial de tutela.
3.1- O MERCOSUL
Com efeito a evolução dos sistemas de proteção e regionalização internacionais,
no ano de 1991, tivemos a assinatura pelos Estados Membros Signatários do Tratado de
Assunção a formação do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), no Preâmbulo do
Tratado, expõem a necessidade de se atingir o desenvolvimento econômico com
observância da justiça social e preservação do meio ambiente, além de melhorar as
condições de vida dos seus habitantes.
Incialmente como objetivo primordial do MERCOSUL, é a integração econômica
dos Estados Signatários, mas o bloco vem se manifestando no sentido de externar seu
149
comprometimento com os direitos humanos, como por exemplo através da elaboração do
Regulamento da Comissão Parlamentar conjunta do MERCOSUL, logo após a assinatura
do Protocolo de Ouro Preto, assinado em 03 de agosto de 1995, em Assunção.
No referido regulamento temos a inserção da proteção da paz, da liberdade, da
democracia, e da vigência dos direitos humanos.
Vale ainda ressaltar que as Constituições dos países membros do MERCOSUL,
todas elas fazem menção a aplicação dos direitos humanos como princípios basilares e
fundamentais de tais países, podemos destacar a Carta Magna Brasileira, que dispõe sobre
os direitos e garantias individuais no artigo 5º, demonstrando que são direitos auto-
aplicáveis, constituindo-se em cláusulas pétreas.
A Constituição de 1988 está alicerçada na soberania, na dignidade da pessoa
humana, nos valores sociais do trabalho, na livre iniciativa e no pluralismo político, sob
o Estado Democrático de Direito. (art. 1º - I a V).
Quando se fala das relações internacionais os Estados Membros buscam a
integração econômica, política, social como destaca o Art. 4º Parágrafo Único da
Constituição Brasileira, além de adotar princípios da independência nacional, a
prevalência dos direitos humanos, a autodeterminação dos povos, a não-intervenção, a
igualdade entre os Estados, a defesa da paz, a solução pacífica dos conflitos, o repúdio ao
terrorismo e ao racismo, a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e
acessão de asilo político. Garantindo também o direito à vida, à igualdade, à segurança e
à propriedade a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país.
Neste sentido os textos constitucionais dos países do MERCOSUL estão calcados
na dignidade da pessoa humana enquanto princípio fundamental da defesa dos direitos
fundamentais. Neste sentido prelecionou Cançado Trindade5 que:
5 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Memorial em Prol de uma nova Mentalidade quanto
à Proteção dos Direitos Humanos nos Planos Internacional e Nacional, in Revista de Direito
Comparado, vol. 3, Belo Horizonte, Mandamentos Livraria e Editora, 1999. p.222.
150
a construção da moderna cidadania se insere assim no universo dos
direitos humanos, e se associa de modo adequado ao contexto mais
amplo das relações entre os direitos humanos, a democracia e o
desenvolvimento, com atenção especial ao atendimento das
necessidades básicas da população (a começar pela superação da
pobreza extrema) e à construção de uma nova cultura de observância
dos direitos humanos.
Norteado pelo pensamento de Trindade temos na dimensão internacional dos
direitos humanos que a formação de um bloco econômico que busca um mercado comum
não pode deixar de lado a proteção dos direitos humanos.
Mesmo sendo um pessoa jurídica de direito internacional jovem o MERCOSUL
encontra-se disposto a consolidar a proteção dos Direitos Humanos, MARQUES, (2000
p. 535) fala da necessidade de se assumir compromissos dentro do âmbito do
MERCOSUL,
o Mercosul é uma pessoa de direito internacional bastante jovem.
Apenas recentemente, com a assinatura do Protocolo de Ouro Preto, o
qual expressamente concede personalidade jurídica à organização, é
que cessou a celeuma sobre a sua situação jurídica internacional. Caso
o Mercosul realmente esteja disposto a se consolidar enquanto uma
pessoa de direito, ganhando o reconhecimento e o respeito da
comunidade internacional, é necessário que, entre outras medidas,
também assuma compromissos dignos de um sujeito de direito, os quais
sem dúvida passam por uma clara e firme atuação na área da promoção
e proteção dos direitos humanos.
Os Direitos Humanos criam a necessidade de integração dos povos através da sua
tutela. Infelizmente ainda existem alguns países instituem legislações com baixos graus
de proteção de direitos humanos, com o escopo de proteção dos custos de instalação das
atividades econômicas e comercialização de seus produtos.
Como objetivo de proteger os Direitos Humanos no âmbito empresarial é
importante uma harmonização da legislação trabalhista no MERCOSUL bem como os
aspectos da legislação previdenciária. Levando a integração sugerida pelo bloco a um
novo patamar, como mola propulsora da conseguir superar as limitações e as dificuldades
na atual fase de integração do MERCOSUL.
No ano de 2010 temos a aprovação do seguinte decreto:
DECRETO Nº 7.225, DE 1º DE JULHO DE 2010.
151
Promulga o Protocolo
de Assunção sobre
Compromisso com a
Promoção e a Proteção
dos Direitos Humanos
do Mercosul, assinado
em Assunção, em 20 de
junho de 2005.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe
confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto
Legislativo no 592, de 27 de agosto de 2009, o Protocolo de Assunção
sobre Compromisso com a Promoção e a Proteção dos Direitos
Humanos do Mercosul, assinado em Assunção, em 20 de junho de
2005;
Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de
ratificação do referido Protocolo junto ao Governo do Paraguai,
depositário do referido ato, em 4 de março de 2010;
Considerando que o Acordo entrou em vigor para o Brasil, no plano
jurídico externo, em 3 de abril de 2010,
DECRETA:
Art. 1o O Protocolo de Assunção sobre Compromisso com a Promoção
e a Proteção dos Direitos Humanos do Mercosul, apenso por cópia ao
presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como
nele se contém.
Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos
que possam resultar em revisão do referido Acordo, bem como
quaisquer ajustes complementares que, nos termos do inciso I do art. 49
da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional.
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 1º de julho de 2010; 189º da Independência e 122º da
República.
152
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Antonio de Aguiar Patriota
Este texto não substitui o publicado no DOU de 2.7.2010
MERCOSUL/CMC/DEC. N° 17/05
PROTOCOLO DE ASSUNÇÃO SOBRE COMPROMISSO COM
A PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
DO MERCOSUL
TENDO EM VISTA: O Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro
Preto e as Decisões N° 40/04 do Conselho do Mercado Comum.
CONSIDERANDO:
Que é fundamental assegurar a proteção, promoção e garantia dos
Direitos Humanos e as liberdades fundamentais de todos as pessoas.
Que o gozo efetivo dos direitos fundamentais é condição indispensável
para a consolidação do processo de integração.
O CONSELHO DO MERCADO COMUM
DECIDE:
Art. 1 – Aprovar a assinatura do Protocolo de Assunção
sobre Compromisso com a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos
do MERCOSUL, que consta como Anexo da presente Decisão.
Art. 2 – Esta Decisão não necessita ser incorporada ao ordenamento
jurídico dos Estados Partes, por regulamentar aspectos da organização
ou do funcionamento do MERCOSUL.
XXVIII CMC – Assunção, 19/VI/05
PROTOCOLO DE ASSUNÇÃO SOBRE COMPROMISSO COM
A PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
DO MERCOSUL
A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República
do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, Estados Partes do
MERCOSUL, doravante as Partes,
REAFIRMANDO os princípios e objetivos do Tratado de Assunção e
do Protocolo de Ouro Preto;
TENDO PRESENTE a Decisão CMC Nº 40/04 que cria a Reunião de
Altas Autoridades sobre Direitos Humanos do MERCOSUL;
153
REITERANDO o expressado na Declaração Presidencial de Las Leñas
de 27 de junho de 1992 no sentido de que a plena vigência das
instituições democráticas é condição indispensável para a existência e
o desenvolvimento do MERCOSUL;
REAFIRMANDO o expressado na Declaração Presidencial sobre
Compromisso Democrático no MERCOSUL;
RATIFICANDO a plena vigência do Protocolo de Ushuaia sobre
Compromisso Democrático no MERCOSUL a República da Bolívia e
a República do Chile;
REAFIRMANDO os princípios e normas contidos na Declaração
Americana de Direitos e deveres do Homem, na Convenção Americana
sobre Direitos Humanos e outros instrumentos regionais de direitos
humanos, assim como na Carta Democrática Interamericana;
RESSALTANDO o expressado na Declaração e no Programa de Ação
da Conferência Mundial de Direitos Humanos de 1993, que a
democracia, o desenvolvimento e o respeito aos direitos humanos e
liberdades fundamentais são conceitos interdependentes que se
reforçam mutuamente;
SUBLINHANDO o expressado em distintas resoluções da Assembléia
Geral e da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, que o
respeito aos direitos humanos e das liberdades fundamentais são
elementos essenciais da democracia;
RECONHECENDO a universalidade, a indivisibilidade, a
interdependência e inter-relação de todos os direitos humanos, sejam
direitos econômicos, sociais, culturais, civis ou políticos;
REITERANDO a Declaração Presidencial de Porto Iguaçu de 8 de
julho de 2004 na qual os Presidentes dos Estados Partes do
MERCOSUL destacaram a alta prioridade atribuída à proteção,
promoção e garantia dos direitos humanos e as liberdades fundamentais
de todas as pessoas que habitam o MERCOSUL;
REAFIRMANDO que a vigência da ordem democrática constitui uma
garantia indispensável para o exercício efetivo dos direitos humanos e
liberdades fundamentais, e que toda ruptura ou ameaça ao normal
desenvolvimento do processo democrático em uma das Partes põe em
risco o gozo efetivo dos direitos humanos;
ACORDAM O SEGUINTE:
ARTIGO 1
A plena vigência das instituições democráticas e o respeito dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais são condições essenciais para
a vigência e evolução do processo de integração entre as Partes.
154
ARTIGO 2
As Partes cooperarão mutuamente para a promoção e proteção efetiva
dos direitos humanos e liberdades fundamentais através dos
mecanismos institucionais estabelecidos no MERCOSUL.
ARTIGO 3
O presente Protocolo se aplicará em caso de que se registrem graves e
sistemáticas violações dos direitos humanos e liberdades fundamentais
em uma das Partes em situações de crise institucional ou durante a
vigência de estados de exceção previstos nos ordenamentos
constitucionais respectivos. A tal efeito, as demais Partes promoverão
as consultas pertinentes entre si e com a Parte afetada.
ARTIGO 4
Quando as consultas mencionadas no artigo anterior resultarem
ineficazes, as demais Partes considerarão a natureza e o alcance das
medidas a aplicar, tendo em vista a gravidade da situação existente.
Tais medidas abarcarão desde a suspensão do direito a participar deste
processo de integração até a suspensão dos direitos e obrigações
emergentes do mesmo.
ARTIGO 5
As medidas previstas no artigo 4 serão adotadas por consenso pelas
Partes e comunicadas à Parte afetada, a qual não participará no processo
decisório pertinente. Essas medidas entrarão em vigência na data em
que se realize a comunicação respectiva à Parte afetada.
ARTIGO 6
As medidas a que se refere o artigo 4 aplicadas à Parte afetada, cessarão
a partir da data da comunicação a dita Parte de que as causas que as
motivaram foram sanadas. Tal comunicação será transmitida pelas
Partes que adotaram tais medidas.
ARTIGO 7
O presente Protocolo se encontra aberto à adesão dos Estados
Associados ao MERCOSUL.
ARTIGO 8
O presente Protocolo entrará em vigor trinta (30) dias depois do
depósito do instrumento de ratificação pelo quarto Estado Parte do
MERCOSUL.
155
ARTIGO 9
A República do Paraguai será depositária do presente Protocolo e dos
respectivos instrumentos de ratificação, devendo notificar às Partes a
data dos depósitos desses instrumentos e da entrada em vigor do
Protocolo, assim como enviar-lhes cópia devidamente autenticada do
mesmo.
FEITO na cidade de Assunção, República do Paraguai, aos dezenove
dias do mês de junho de dois mil e cinco, em um original, nos idiomas
espanhol e português, sendo ambos os textos igualmente autênticos.
O decreto que ratifica o protocolo de Assunção se tornou marco importantíssimo
para o estudo dos Direitos Humanos no enfoque empresarial dentro do MERCOSUL.
Visando tamanha importância dos estudos dos Direitos Humanos aplicados as
empresas que diversos institutos e universidades vem criando grupos de estudos
específicos para discutir o tema, como os abaixo exemplificados:
Grupo de Pesquisa Sobre Direitos Humanos e Empresas- Fundação
Getúlio Vargas;
Grupo de Trabalho Empresas e Direitos Humanos, Instituto Ethos;
Empresas & Direitos Humanos, Conectas;
Homa- Direitos Humanos e Empresas, Universidade Federal de Juiz de
Fora.
Em 2011, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou unanimemente os
Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos,6 os quais detalham as etapas
que as empresas podem seguir para cumprir com suas responsabilidades de respeitar os
direitos humanos.
Através do referido documento as empresas possuem agora um roteiro claro para
fazer com que os direitos humanos façam parte do seu cumprimento e esforços de
responsabilidade corporativa.
6 Resolução aprovada pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas,
"Direitos Humanos e as corporações transnacionais e outras empresas," 6 de julho de 2011 (doc. da ONU. A/HRC/RES/17/4).
156
Dentro desses princípios as empresas são responsáveis por gerir os impactos dos
direitos humanos como parte de seus esforços de responsabilidade corporativa, que
devem ser baseados nos Parâmetros das Nações Unidas de acordo com os Princípios
Orientadores7.
“Proteger, Respeitar e Reparar” é uma frase que muitos mais
executivos irão ouvir e solicitados a explicar nos próximos anos. Se
você for, ou se aconselha, um desses executivos, existem dez coisas que
necessita saber (e fazer) sobre direitos humanos.”
Seguindo desta forma os princípios norteadores das Nações Unidas e a realidade
dos abusos de poder no Brasil tem-se a necessidade de desenvolvimento de políticas
publicas voltadas para a efetiva aplicação dos direitos humanos assim como para a
fundamentação de futuros estudos sobre o tema.
4- CONCLUSÕES
Conforme apresentado os direitos humanos, devem ser tutelados em garantidos
em caráter internacional. No tocante a integração dos Estados que compõem o
MERCOSUL, é necessário superar os obstáculos de integração. Vale ressaltar que é
necessário um tratamento especial as isonomias e liberdades essenciais do processo de
integração.
A valorização do homem através da efetivação das liberdades de circulação de
mercadorias, serviços e capitais, levando a uma verdadeira integração social, econômica
e cultural nos países do MERCOSUL.
A proteção dos Direitos Humanos no âmbito do MERCOSUL ainda está em
processo embrionário, principalmente quando tratamos das relações econômicas e
proteção ao trabalho pelas empresas com sede em tais países. Nesse sentido para se
consolidar efetivamente como bloco é necessário alargar os passos em busca da promoção
e proteção dos direitos humanos.
7 Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, 2011.
157
5- REFERENCIAS
Empresas & Direitos Humanos, Conectas. Disponível em:
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