25
XXVII ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI SALVADOR – BA DIREITO INTERNACIONAL II DIRCEU PEREIRA SIQUEIRA MARIO JORGE PHILOCREON DE CASTRO LIMA

XXVII ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI SALVADOR – BA · Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini - Unimar/Uninove ... a informação da disparidade entre os rituais da Corte Interamericana

  • Upload
    lamtruc

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

XXVII ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI SALVADOR ndash BA

DIREITO INTERNACIONAL II

DIRCEU PEREIRA SIQUEIRA

MARIO JORGE PHILOCREON DE CASTRO LIMA

Copyright copy 2018 Conselho Nacional de Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos Nenhuma parte deste anal poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem preacutevia autorizaccedilatildeo dos editores

Diretoria ndash CONPEDI Presidente - Prof Dr Orides Mezzaroba - UFSC ndash Santa Catarina Vice-presidente Centro-Oeste - Prof Dr Joseacute Querino Tavares Neto - UFG ndash Goiaacutes Vice-presidente Sudeste - Prof Dr Ceacutesar Augusto de Castro Fiuza - UFMGPUCMG ndash Minas Gerais Vice-presidente Nordeste - Prof Dr Lucas Gonccedilalves da Silva - UFS ndash Sergipe Vice-presidente Norte - Prof Dr Jean Carlos Dias - Cesupa ndash Paraacute Vice-presidente Sul - Prof Dr Leonel Severo Rocha - Unisinos ndash Rio Grande do Sul Secretaacuterio Executivo - Profa Dra Samyra Haydecirce Dal Farra Naspolini - UnimarUninove ndash Satildeo Paulo

Representante Discente ndash FEPODI Yuri Nathan da Costa Lannes - Mackenzie ndash Satildeo Paulo

Conselho Fiscal Prof Dr Joatildeo Marcelo de Lima Assafim - UCAM ndash Rio de Janeiro Prof Dr Aires Joseacute Rover - UFSC ndash Santa Catarina Prof Dr Edinilson Donisete Machado - UNIVEMUENP ndash Satildeo Paulo Prof Dr Marcus Firmino Santiago da Silva - UDF ndash Distrito Federal (suplente) Prof Dr Ilton Garcia da Costa - UENP ndash Satildeo Paulo (suplente) Secretarias Relaccedilotildees Institucionais Prof Dr Horaacutecio Wanderlei Rodrigues - IMED ndash Santa Catarina Prof Dr Valter Moura do Carmo - UNIMAR ndash Cearaacute Prof Dr Joseacute Barroso Filho - UPISENAJUMndash Distrito Federal Relaccedilotildees Internacionais para o Continente Americano Prof Dr Fernando Antocircnio de Carvalho Dantas - UFG ndash Goiacuteas Prof Dr Heron Joseacute de Santana Gordilho - UFBA ndash Bahia Prof Dr Paulo Roberto Barbosa Ramos - UFMA ndash Maranhatildeo Relaccedilotildees Internacionais para os demais Continentes Profa Dra Viviane Coecirclho de Seacutellos Knoerr - Unicuritiba ndash Paranaacute Prof Dr Rubens Beccedilak - USP ndash Satildeo Paulo Profa Dra Maria Aurea Baroni Cecato - UnipecircUFPB ndash Paraiacuteba

Eventos Prof Dr Jerocircnimo Siqueira Tybusch (UFSM ndash Rio Grande do Sul) Prof Dr Joseacute Filomeno de Moraes Filho (Unifor ndash Cearaacute) Prof Dr Antocircnio Carlos Diniz Murta (Fumec ndash Minas Gerais)

Comunicaccedilatildeo Prof Dr Matheus Felipe de Castro (UNOESC ndash Santa Catarina Prof Dr Liton Lanes Pilau Sobrinho (UPFUnivali ndash Rio Grande do Sul Prof Dr Caio Augusto Souza Lara (ESDHC ndash Minas Gerais

Membro Nato ndash Presidecircncia anterior Prof Dr Raymundo Juliano Feitosa - UNICAP ndash Pernambuco

D597 Direito internacional II [Recurso eletrocircnico on-line] organizaccedilatildeo CONPEDI UFBA

Coordenadores Dirceu Pereira Siqueira Mario Jorge Philocreon de C Lima ndash Florianoacutepolis CONPEDI 2018

Inclui bibliografia ISBN 978-85-5505-602-4 Modo de acesso wwwconpediorgbr em publicaccedilotildees Tema Direito Cidade Sustentaacutevel e Diversidade Cultural

1 Direito ndash Estudo e ensino (Poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Encontros Nacionais 2 Assistecircncia 3 Isonomia XXVII Encontro

Nacional do CONPEDI (27 2018 Salvador Brasil) CDU 34

Conselho Nacional de Pesquisa Universidade Federal da Bahia - UFBA e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito Florianoacutepolis Salvador ndash Bahia - Brasil Santa Catarina ndash Brasil httpswwwufbabr

wwwconpediorgbr

XXVII ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI SALVADOR ndash BA

DIREITO INTERNACIONAL II

Apresentaccedilatildeo

O Grupo de Trabalho de Direito Internacional II que tivemos a honra de coordenar confirmou

mais uma vez a importacircncia que essa ampla mateacuteria tem merecido no Conselho Nacional de

Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito caracterizada pela presenccedila relevante de autores para

treze dos catorze artigos aprovados para exposiccedilatildeo e debates

A expressividade dessa participaccedilatildeo e o niacutevel elevado de pesquisas que os trabalhos

revelaram ratificam o significativo papel do CONPEDI no incentivo e divulgaccedilatildeo da

pesquisa juriacutedica no Brasil No acircmbito especiacutefico do Direito Internacional os trabalhos

informam e acompanham as transformaccedilotildees que afetam essa mateacuteria desde os primeiros anos

do seacuteculo 21 decorrentes do impulso induzido pela aproximaccedilatildeo dos povos nas relaccedilotildees

internacionais em geral e por consequecircncia no Direito Internacional

A qualidade dos artigos do nosso Grupo de Trabalho pode ser verificada quando se constata

que dos catorze tiacutetulos relacionados cinco deles foram selecionados para publicaccedilatildeo em

perioacutedicos da prestigiosa Plataforma Index Law Journals

Dos demais nove trabalhos apresentados que compotildeem a presente publicaccedilatildeo em anais

podemos distribuiacute-los para melhor compreensatildeo do leitor por trecircs temaacuteticas atuais inerentes

ao sistema juriacutedico internacional em transformaccedilatildeo identificaacuteveis nas denominaccedilotildees de

Direitos Humanos Migraccedilotildees e Soberania

Na primeira temaacutetica dos Direitos Humanos encontramos de iniacutecio o artigo de direitos

humanos e a proteccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia do Prof Dirceu Pereira Siqueira e Jamile

Sumaia Serea Kassem onde os autores abordam a conexatildeo histoacuterica dos direitos humanos

aplicados agrave pessoa com deficiecircncia como meio de inclusatildeo dessas agrave plenitude da dignidade

humana em seguida a anaacutelise da efetividade das poliacuteticas internacionais de accedilatildeo

multiculturalistas para amenizar os choques culturais decorrentes dos deslocamentos de

populaccedilotildees em razatildeo de flagelos naturais ou beacutelicos apresentado pela Profordf Valeacuteria Silva

Galdino Cardim e ao final a informaccedilatildeo da disparidade entre os rituais da Corte

Interamericana de Direitos Humanos para com as praacuteticas rituais no judiciaacuterio brasileiro

descrita por Mariana de Freitas Rasga e Morgana Paiva Valim a partir da assistecircncia

presencial da audiecircncia puacuteblica na corte da Costa Rica para o caso do jornalista Vladimir

Herzog

Na temaacutetica seguinte das Migraccedilotildees destaca-se a anaacutelise do tratamento juriacutedico da cidadania

conforme atribuiacutedo pelos tratados da Uniatildeo Europeia aos cidadatildeos dos paiacuteses componentes

da uniatildeo para com a assimilaccedilatildeo da onda migratoacuteria em processo de infiltraccedilatildeo a celerada na

Europa elaborada por Tatiana Bruhn Parmeggiani do mesmo modo o estudo de caso

concreto da situaccedilatildeo da mulher migrante de origem chinesa trabalhadora no comeacutercio da

cidade de AracajuSE desenvolvido por Katia Cristina Santos Lelis e Ana Carolina Fontes

Figueiredo Mendes e em seguida o registro da aplicaccedilatildeo indevida do princiacutepio da soberania

nacional como obstaacuteculo aacute aplicaccedilatildeo dos direitos humanos no tratamento do fenocircmeno

migratoacuterio a exemplo do processo chamado Brexit realizado por Aline Andrighetto e

Bianka Adamatti

Na temaacutetica da Soberania encontra-se o artigo que aborda a insuficiecircncia dos sistema de

sanccedilotildees aplicadas por cortes internacionais em imputaccedilatildeo de responsabilidade a Estados por

praacutetica de atos iliacutecitos em direito internacional elaborado por Isis de Angellis Pereira

Sanches e Gustavo Assed Ferreira o artigo analiacutetico da recepccedilatildeo do constitucionalismo

global e da teoria monista no conteuacutedo normativo da Constituiccedilatildeo de Moccedilambique do Prof

Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima e o artigo propositivo do aproveitamento da teoria

monista para resoluccedilatildeo de conflito entre direito interno e a intervenccedilatildeo de normas

transnacionais sobretudo de direitos humanos de Armecircnio Alberto Rodrigues da Roda

Em conclusatildeo entendemos oportuno afirmar que o rica e variado conteuacutedo dos textos

apresentados neste Grupo de Trabalho sintetiza a essecircncia dos debates ocorridos neste

XXVII Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Salvador-BA e se constitui em

convite agrave investigaccedilatildeo acadecircmica de pesquisadores juriacutedicos brasileiros

Prof Dr Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima - UFBA

Prof Dr Dirceu Pereira Siqueira ndash UNICESUMAR

Nota Teacutecnica Os artigos que natildeo constam nestes Anais foram selecionados para publicaccedilatildeo

na Plataforma Index Law Journals conforme previsto no artigo 81 do edital do evento

Equipe Editorial Index Law Journal - publicacaoconpediorgbr

1 Mestranda em Direito e Desenvolvimento na Faculdade de Direito de Ribeiratildeo Preto (FDRP) USP Bolsista CAPES

2 Possui doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e livre docecircncia em Direito Internacional pela Universidade de Satildeo Paulo (2015)

1

2

A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS POR COMETIMENTO DE ATOS ILIacuteCITOS PERANTE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

THE INTERNATIONAL RESPONSIBILITY OF THE STATES FOR INTERNATIONAL WRONGFUL ACTS TOWARD INTERNATIONAL TRIBUNALS

Isis De Angellis Pereira Sanches 1Gustavo Assed Ferreira 2

Resumo

O problema central da pesquisa eacute a busca de como eacute exercida a responsabilidade dos Estados

aplicadas pelos Tribunais Internacionais Apesar das existirem sanccedilotildees impostas por

Tribunais Internacionais apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses signataacuterios das Convenccedilotildees

Internacionais por cometimento de atos iliacutecitos ainda existe uma insuficiecircncia do sistema de

sanccedilotildees no acircmbito do Direito Internacional Estas acabam deixando de serem aplicadas

inclusive por instituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos e as Naccedilotildees Unidas

que visam sua atuaccedilatildeo na proteccedilatildeo de interesses de seus Estados partes

Palavras-chave Responsabilidade internacional dos estados Cortes internacionais Sentenccedilas internacionais Corte internacional de justiccedila Corte interamericana de direitos humanos

AbstractResumenReacutesumeacute

The central problem of the research is the pursuit of how State responsibility is exercised

applied by the International Tribunals Despite sanctions imposed by International Tribunals

after the conviction of the signatory countries of the International Conventions due to the

commitment of wrongful acts there is still an insufficient system of sanction under

international law They cease to be applied by institutions such the Organization of

American States and the United Nations that seek its actions in the protection of the interests

of their States parties

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes International responsibility of states International courts International judgments International court of justice Inter-american court of human rights

1

2

121

INTRODUCcedilAtildeO

Em vista do crescimento dos intercacircmbios tornou-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de

determinadas normas de conduta a fim de reger a vida em grupo regulamentando e

harmonizando interesses muacutetuos O Direito passou a regulamentar situaccedilotildees natildeo mais

limitadas agraves fronteiras territoriais e apenas questotildees internas Isto gerou um mister de

normas internacionais e a problemaacutetica da coerccedilatildeo de sanccedilotildees em caso de descumprimento

destas obrigaccedilotildees

Natildeo haacute a existecircncia de um poder centralizado de Direito Internacional que regule

este mister de normas e que promova afinal um sistema eficaz de sanccedilotildees internacionais

Existem apenas instituiccedilotildees que representam os interesses dos Estados como a Organizaccedilatildeo

dos Estados Americanos Naccedilotildees Unidas e Comissatildeo Europeia por exemplo

Tal natildeo significa contudo que natildeo exista no plano do Direito Internacional nenhum

sistema de sanccedilotildees haacute notadamente no acircmbito das Naccedilotildees Unidas Poreacutem esse sistema natildeo

eacute suficiente porque natildeo existe ainda na oacuterbita internacional (ao contraacuterio do que ocorre no

Direito Interno) nenhum oacutergatildeo com jurisdiccedilatildeo geral capaz de obrigar os Estados a

decidirem ali suas contendas e de coercitirem-lhes a implementarem as suas obrigaccedilotildees

Eacute necessaacuterio o consentimento expresso dos paiacuteses para a participaccedilatildeo dos Estados

em Tribunais Internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos (no acircmbito

da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos) e a Corte Internacional de Justiccedila (no acircmbito das

Naccedilotildees Unidas) sem o qual o tribunal respectivo natildeo poderaacute exercer jurisdiccedilatildeo sobre eles

Apesar de todos os membros das Naccedilotildees Unidas serem ipso facto partes do Estatuto

da Corte Internacional de Justiccedila como consta no artigo 931 de seu tratado constitutivo

(anexo agrave Declaraccedilatildeo Universal de 1948 norma de jus cogens internacional pelos Estados)

nem todos os Estados membros concedaram o aceite agrave atuaccedilatildeo jurisdicional da CIJ2 e

lamentavelmente a Declaraccedilatildeo Universal de 1948 natildeo dispotildee de meios teacutecnicos para que

algueacutem que teve seus direitos violados possa aplicaacute-la na praacutetica em caso do

descumprimento de seus deveres

1 Artigo 93 1 Todos os Membros das Naccedilotildees Unidas satildeo ipso facto partes do Estatuto da Corte Internacional

de Justiccedila 2 Corte Internacional de Justiccedila

122

A responsabilidade internacional do Estado seria o instituto juriacutedico que visaria

responsabilizar determinado Estado pela praacutetica de um ato atentatoacuterio (iliacutecito) ao Direito

Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado prevendo certa

reparaccedilatildeo a este uacuteltimo pelos prejuiacutezos e gravames que injustamente sofreu

Este instituto possui uma existecircncia precaacuteria pois a sociedade internacional eacute

descentralizada falta poder central vinculante e mecanismos mais eficazes de coaccedilatildeo

internacional Uma norma de Direito Internacional soacute pode ser superior agraves outras como eacute o

caso da Carta das Naccedilotildees Unidas em virtude de seu artigo 1033 pois os Estados a

aceitaram natildeo sendo possiacutevel a imposiccedilatildeo de sentenccedilas internacionais e estrangeiras sem

este aceite

Podem todos os sujeitos de Direito Internacional Puacuteblico como os Estados as

coletividades interestatais (organizaccedilotildees internacionais como as Naccedilotildees Unidas as

coletividades natildeo estatais (beligerantes que satildeo movimentos armados da populaccedilatildeo o

Comitecirc Internacional da Cruz Vermelha a Santa Seacute os Insurgentes os Movimentos de

libertaccedilatildeo Nacional) e os indiviacuteduos (ou particulares) serem sujeitos ativos e passivos

perante Tribunais Internacionas Natildeo apenas os Estados e pela extensatildeo do conceito de

Responsabilidade internacional as coletividades interestatais

O Estado pode ser responsabilizado diretamente quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for realizado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica que age em nome dele Como

no ato da Hungria4 pela detenccedilatildeo automaacutetica de todos os requerentes de asilo em campos

de contenccedilatildeo5 nas fronteiras do sul do paiacutes sendo este paiacutes acusado de violar o Estatuto da

Corte Internacional de Justiccedila ocorrida pelas amplas violaccedilotildees de direitos humanos contra

os refugiados pelos funcionaacuterios do oacutergatildeo do executivo sendo condenada em 14 de marccedilo

de 2017 pela Corte Europeia de Direitos Humanos

3 Artigo 103 ldquoNo caso de conflito entre as obrigaccedilotildees dos membros das Naccedilotildees Unidas em virtude da

presente Carta e as obrigaccedilotildees resultantes de qualquer outro acordo internacional prevaleceratildeo as obrigaccedilotildees

assumidas em virtude da presente Cartardquo

4 Caso Ilias and Ahmed v Hungary 5 Giorgio Agambem dispotildee que haacute uma normalidade dos espaccedilos de exceccedilatildeo aceitos com serenidade pela

comunidade internacional demonstrando-se que a anomia foi subjugada pelo poder A regra do poder natildeo eacute

mais a lei mas a exceccedilatildeo natildeo seria mais pela lei que ocorreria o estado de exceccedilatildeo O estado de exceccedilatildeo

existiria por si soacute Pensemos nos campos de refugiados atuais ldquocampos de concentraccedilatildeordquo A lei na verdade

natildeo existiria mais No caso de existecircncia ocorreria a possibilidade de responsabilidade internacional do

Estado como no caso da Hungria mencionado alhures

123

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

Copyright copy 2018 Conselho Nacional de Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos Nenhuma parte deste anal poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem preacutevia autorizaccedilatildeo dos editores

Diretoria ndash CONPEDI Presidente - Prof Dr Orides Mezzaroba - UFSC ndash Santa Catarina Vice-presidente Centro-Oeste - Prof Dr Joseacute Querino Tavares Neto - UFG ndash Goiaacutes Vice-presidente Sudeste - Prof Dr Ceacutesar Augusto de Castro Fiuza - UFMGPUCMG ndash Minas Gerais Vice-presidente Nordeste - Prof Dr Lucas Gonccedilalves da Silva - UFS ndash Sergipe Vice-presidente Norte - Prof Dr Jean Carlos Dias - Cesupa ndash Paraacute Vice-presidente Sul - Prof Dr Leonel Severo Rocha - Unisinos ndash Rio Grande do Sul Secretaacuterio Executivo - Profa Dra Samyra Haydecirce Dal Farra Naspolini - UnimarUninove ndash Satildeo Paulo

Representante Discente ndash FEPODI Yuri Nathan da Costa Lannes - Mackenzie ndash Satildeo Paulo

Conselho Fiscal Prof Dr Joatildeo Marcelo de Lima Assafim - UCAM ndash Rio de Janeiro Prof Dr Aires Joseacute Rover - UFSC ndash Santa Catarina Prof Dr Edinilson Donisete Machado - UNIVEMUENP ndash Satildeo Paulo Prof Dr Marcus Firmino Santiago da Silva - UDF ndash Distrito Federal (suplente) Prof Dr Ilton Garcia da Costa - UENP ndash Satildeo Paulo (suplente) Secretarias Relaccedilotildees Institucionais Prof Dr Horaacutecio Wanderlei Rodrigues - IMED ndash Santa Catarina Prof Dr Valter Moura do Carmo - UNIMAR ndash Cearaacute Prof Dr Joseacute Barroso Filho - UPISENAJUMndash Distrito Federal Relaccedilotildees Internacionais para o Continente Americano Prof Dr Fernando Antocircnio de Carvalho Dantas - UFG ndash Goiacuteas Prof Dr Heron Joseacute de Santana Gordilho - UFBA ndash Bahia Prof Dr Paulo Roberto Barbosa Ramos - UFMA ndash Maranhatildeo Relaccedilotildees Internacionais para os demais Continentes Profa Dra Viviane Coecirclho de Seacutellos Knoerr - Unicuritiba ndash Paranaacute Prof Dr Rubens Beccedilak - USP ndash Satildeo Paulo Profa Dra Maria Aurea Baroni Cecato - UnipecircUFPB ndash Paraiacuteba

Eventos Prof Dr Jerocircnimo Siqueira Tybusch (UFSM ndash Rio Grande do Sul) Prof Dr Joseacute Filomeno de Moraes Filho (Unifor ndash Cearaacute) Prof Dr Antocircnio Carlos Diniz Murta (Fumec ndash Minas Gerais)

Comunicaccedilatildeo Prof Dr Matheus Felipe de Castro (UNOESC ndash Santa Catarina Prof Dr Liton Lanes Pilau Sobrinho (UPFUnivali ndash Rio Grande do Sul Prof Dr Caio Augusto Souza Lara (ESDHC ndash Minas Gerais

Membro Nato ndash Presidecircncia anterior Prof Dr Raymundo Juliano Feitosa - UNICAP ndash Pernambuco

D597 Direito internacional II [Recurso eletrocircnico on-line] organizaccedilatildeo CONPEDI UFBA

Coordenadores Dirceu Pereira Siqueira Mario Jorge Philocreon de C Lima ndash Florianoacutepolis CONPEDI 2018

Inclui bibliografia ISBN 978-85-5505-602-4 Modo de acesso wwwconpediorgbr em publicaccedilotildees Tema Direito Cidade Sustentaacutevel e Diversidade Cultural

1 Direito ndash Estudo e ensino (Poacutes-graduaccedilatildeo) ndash Encontros Nacionais 2 Assistecircncia 3 Isonomia XXVII Encontro

Nacional do CONPEDI (27 2018 Salvador Brasil) CDU 34

Conselho Nacional de Pesquisa Universidade Federal da Bahia - UFBA e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito Florianoacutepolis Salvador ndash Bahia - Brasil Santa Catarina ndash Brasil httpswwwufbabr

wwwconpediorgbr

XXVII ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI SALVADOR ndash BA

DIREITO INTERNACIONAL II

Apresentaccedilatildeo

O Grupo de Trabalho de Direito Internacional II que tivemos a honra de coordenar confirmou

mais uma vez a importacircncia que essa ampla mateacuteria tem merecido no Conselho Nacional de

Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito caracterizada pela presenccedila relevante de autores para

treze dos catorze artigos aprovados para exposiccedilatildeo e debates

A expressividade dessa participaccedilatildeo e o niacutevel elevado de pesquisas que os trabalhos

revelaram ratificam o significativo papel do CONPEDI no incentivo e divulgaccedilatildeo da

pesquisa juriacutedica no Brasil No acircmbito especiacutefico do Direito Internacional os trabalhos

informam e acompanham as transformaccedilotildees que afetam essa mateacuteria desde os primeiros anos

do seacuteculo 21 decorrentes do impulso induzido pela aproximaccedilatildeo dos povos nas relaccedilotildees

internacionais em geral e por consequecircncia no Direito Internacional

A qualidade dos artigos do nosso Grupo de Trabalho pode ser verificada quando se constata

que dos catorze tiacutetulos relacionados cinco deles foram selecionados para publicaccedilatildeo em

perioacutedicos da prestigiosa Plataforma Index Law Journals

Dos demais nove trabalhos apresentados que compotildeem a presente publicaccedilatildeo em anais

podemos distribuiacute-los para melhor compreensatildeo do leitor por trecircs temaacuteticas atuais inerentes

ao sistema juriacutedico internacional em transformaccedilatildeo identificaacuteveis nas denominaccedilotildees de

Direitos Humanos Migraccedilotildees e Soberania

Na primeira temaacutetica dos Direitos Humanos encontramos de iniacutecio o artigo de direitos

humanos e a proteccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia do Prof Dirceu Pereira Siqueira e Jamile

Sumaia Serea Kassem onde os autores abordam a conexatildeo histoacuterica dos direitos humanos

aplicados agrave pessoa com deficiecircncia como meio de inclusatildeo dessas agrave plenitude da dignidade

humana em seguida a anaacutelise da efetividade das poliacuteticas internacionais de accedilatildeo

multiculturalistas para amenizar os choques culturais decorrentes dos deslocamentos de

populaccedilotildees em razatildeo de flagelos naturais ou beacutelicos apresentado pela Profordf Valeacuteria Silva

Galdino Cardim e ao final a informaccedilatildeo da disparidade entre os rituais da Corte

Interamericana de Direitos Humanos para com as praacuteticas rituais no judiciaacuterio brasileiro

descrita por Mariana de Freitas Rasga e Morgana Paiva Valim a partir da assistecircncia

presencial da audiecircncia puacuteblica na corte da Costa Rica para o caso do jornalista Vladimir

Herzog

Na temaacutetica seguinte das Migraccedilotildees destaca-se a anaacutelise do tratamento juriacutedico da cidadania

conforme atribuiacutedo pelos tratados da Uniatildeo Europeia aos cidadatildeos dos paiacuteses componentes

da uniatildeo para com a assimilaccedilatildeo da onda migratoacuteria em processo de infiltraccedilatildeo a celerada na

Europa elaborada por Tatiana Bruhn Parmeggiani do mesmo modo o estudo de caso

concreto da situaccedilatildeo da mulher migrante de origem chinesa trabalhadora no comeacutercio da

cidade de AracajuSE desenvolvido por Katia Cristina Santos Lelis e Ana Carolina Fontes

Figueiredo Mendes e em seguida o registro da aplicaccedilatildeo indevida do princiacutepio da soberania

nacional como obstaacuteculo aacute aplicaccedilatildeo dos direitos humanos no tratamento do fenocircmeno

migratoacuterio a exemplo do processo chamado Brexit realizado por Aline Andrighetto e

Bianka Adamatti

Na temaacutetica da Soberania encontra-se o artigo que aborda a insuficiecircncia dos sistema de

sanccedilotildees aplicadas por cortes internacionais em imputaccedilatildeo de responsabilidade a Estados por

praacutetica de atos iliacutecitos em direito internacional elaborado por Isis de Angellis Pereira

Sanches e Gustavo Assed Ferreira o artigo analiacutetico da recepccedilatildeo do constitucionalismo

global e da teoria monista no conteuacutedo normativo da Constituiccedilatildeo de Moccedilambique do Prof

Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima e o artigo propositivo do aproveitamento da teoria

monista para resoluccedilatildeo de conflito entre direito interno e a intervenccedilatildeo de normas

transnacionais sobretudo de direitos humanos de Armecircnio Alberto Rodrigues da Roda

Em conclusatildeo entendemos oportuno afirmar que o rica e variado conteuacutedo dos textos

apresentados neste Grupo de Trabalho sintetiza a essecircncia dos debates ocorridos neste

XXVII Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Salvador-BA e se constitui em

convite agrave investigaccedilatildeo acadecircmica de pesquisadores juriacutedicos brasileiros

Prof Dr Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima - UFBA

Prof Dr Dirceu Pereira Siqueira ndash UNICESUMAR

Nota Teacutecnica Os artigos que natildeo constam nestes Anais foram selecionados para publicaccedilatildeo

na Plataforma Index Law Journals conforme previsto no artigo 81 do edital do evento

Equipe Editorial Index Law Journal - publicacaoconpediorgbr

1 Mestranda em Direito e Desenvolvimento na Faculdade de Direito de Ribeiratildeo Preto (FDRP) USP Bolsista CAPES

2 Possui doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e livre docecircncia em Direito Internacional pela Universidade de Satildeo Paulo (2015)

1

2

A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS POR COMETIMENTO DE ATOS ILIacuteCITOS PERANTE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

THE INTERNATIONAL RESPONSIBILITY OF THE STATES FOR INTERNATIONAL WRONGFUL ACTS TOWARD INTERNATIONAL TRIBUNALS

Isis De Angellis Pereira Sanches 1Gustavo Assed Ferreira 2

Resumo

O problema central da pesquisa eacute a busca de como eacute exercida a responsabilidade dos Estados

aplicadas pelos Tribunais Internacionais Apesar das existirem sanccedilotildees impostas por

Tribunais Internacionais apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses signataacuterios das Convenccedilotildees

Internacionais por cometimento de atos iliacutecitos ainda existe uma insuficiecircncia do sistema de

sanccedilotildees no acircmbito do Direito Internacional Estas acabam deixando de serem aplicadas

inclusive por instituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos e as Naccedilotildees Unidas

que visam sua atuaccedilatildeo na proteccedilatildeo de interesses de seus Estados partes

Palavras-chave Responsabilidade internacional dos estados Cortes internacionais Sentenccedilas internacionais Corte internacional de justiccedila Corte interamericana de direitos humanos

AbstractResumenReacutesumeacute

The central problem of the research is the pursuit of how State responsibility is exercised

applied by the International Tribunals Despite sanctions imposed by International Tribunals

after the conviction of the signatory countries of the International Conventions due to the

commitment of wrongful acts there is still an insufficient system of sanction under

international law They cease to be applied by institutions such the Organization of

American States and the United Nations that seek its actions in the protection of the interests

of their States parties

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes International responsibility of states International courts International judgments International court of justice Inter-american court of human rights

1

2

121

INTRODUCcedilAtildeO

Em vista do crescimento dos intercacircmbios tornou-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de

determinadas normas de conduta a fim de reger a vida em grupo regulamentando e

harmonizando interesses muacutetuos O Direito passou a regulamentar situaccedilotildees natildeo mais

limitadas agraves fronteiras territoriais e apenas questotildees internas Isto gerou um mister de

normas internacionais e a problemaacutetica da coerccedilatildeo de sanccedilotildees em caso de descumprimento

destas obrigaccedilotildees

Natildeo haacute a existecircncia de um poder centralizado de Direito Internacional que regule

este mister de normas e que promova afinal um sistema eficaz de sanccedilotildees internacionais

Existem apenas instituiccedilotildees que representam os interesses dos Estados como a Organizaccedilatildeo

dos Estados Americanos Naccedilotildees Unidas e Comissatildeo Europeia por exemplo

Tal natildeo significa contudo que natildeo exista no plano do Direito Internacional nenhum

sistema de sanccedilotildees haacute notadamente no acircmbito das Naccedilotildees Unidas Poreacutem esse sistema natildeo

eacute suficiente porque natildeo existe ainda na oacuterbita internacional (ao contraacuterio do que ocorre no

Direito Interno) nenhum oacutergatildeo com jurisdiccedilatildeo geral capaz de obrigar os Estados a

decidirem ali suas contendas e de coercitirem-lhes a implementarem as suas obrigaccedilotildees

Eacute necessaacuterio o consentimento expresso dos paiacuteses para a participaccedilatildeo dos Estados

em Tribunais Internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos (no acircmbito

da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos) e a Corte Internacional de Justiccedila (no acircmbito das

Naccedilotildees Unidas) sem o qual o tribunal respectivo natildeo poderaacute exercer jurisdiccedilatildeo sobre eles

Apesar de todos os membros das Naccedilotildees Unidas serem ipso facto partes do Estatuto

da Corte Internacional de Justiccedila como consta no artigo 931 de seu tratado constitutivo

(anexo agrave Declaraccedilatildeo Universal de 1948 norma de jus cogens internacional pelos Estados)

nem todos os Estados membros concedaram o aceite agrave atuaccedilatildeo jurisdicional da CIJ2 e

lamentavelmente a Declaraccedilatildeo Universal de 1948 natildeo dispotildee de meios teacutecnicos para que

algueacutem que teve seus direitos violados possa aplicaacute-la na praacutetica em caso do

descumprimento de seus deveres

1 Artigo 93 1 Todos os Membros das Naccedilotildees Unidas satildeo ipso facto partes do Estatuto da Corte Internacional

de Justiccedila 2 Corte Internacional de Justiccedila

122

A responsabilidade internacional do Estado seria o instituto juriacutedico que visaria

responsabilizar determinado Estado pela praacutetica de um ato atentatoacuterio (iliacutecito) ao Direito

Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado prevendo certa

reparaccedilatildeo a este uacuteltimo pelos prejuiacutezos e gravames que injustamente sofreu

Este instituto possui uma existecircncia precaacuteria pois a sociedade internacional eacute

descentralizada falta poder central vinculante e mecanismos mais eficazes de coaccedilatildeo

internacional Uma norma de Direito Internacional soacute pode ser superior agraves outras como eacute o

caso da Carta das Naccedilotildees Unidas em virtude de seu artigo 1033 pois os Estados a

aceitaram natildeo sendo possiacutevel a imposiccedilatildeo de sentenccedilas internacionais e estrangeiras sem

este aceite

Podem todos os sujeitos de Direito Internacional Puacuteblico como os Estados as

coletividades interestatais (organizaccedilotildees internacionais como as Naccedilotildees Unidas as

coletividades natildeo estatais (beligerantes que satildeo movimentos armados da populaccedilatildeo o

Comitecirc Internacional da Cruz Vermelha a Santa Seacute os Insurgentes os Movimentos de

libertaccedilatildeo Nacional) e os indiviacuteduos (ou particulares) serem sujeitos ativos e passivos

perante Tribunais Internacionas Natildeo apenas os Estados e pela extensatildeo do conceito de

Responsabilidade internacional as coletividades interestatais

O Estado pode ser responsabilizado diretamente quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for realizado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica que age em nome dele Como

no ato da Hungria4 pela detenccedilatildeo automaacutetica de todos os requerentes de asilo em campos

de contenccedilatildeo5 nas fronteiras do sul do paiacutes sendo este paiacutes acusado de violar o Estatuto da

Corte Internacional de Justiccedila ocorrida pelas amplas violaccedilotildees de direitos humanos contra

os refugiados pelos funcionaacuterios do oacutergatildeo do executivo sendo condenada em 14 de marccedilo

de 2017 pela Corte Europeia de Direitos Humanos

3 Artigo 103 ldquoNo caso de conflito entre as obrigaccedilotildees dos membros das Naccedilotildees Unidas em virtude da

presente Carta e as obrigaccedilotildees resultantes de qualquer outro acordo internacional prevaleceratildeo as obrigaccedilotildees

assumidas em virtude da presente Cartardquo

4 Caso Ilias and Ahmed v Hungary 5 Giorgio Agambem dispotildee que haacute uma normalidade dos espaccedilos de exceccedilatildeo aceitos com serenidade pela

comunidade internacional demonstrando-se que a anomia foi subjugada pelo poder A regra do poder natildeo eacute

mais a lei mas a exceccedilatildeo natildeo seria mais pela lei que ocorreria o estado de exceccedilatildeo O estado de exceccedilatildeo

existiria por si soacute Pensemos nos campos de refugiados atuais ldquocampos de concentraccedilatildeordquo A lei na verdade

natildeo existiria mais No caso de existecircncia ocorreria a possibilidade de responsabilidade internacional do

Estado como no caso da Hungria mencionado alhures

123

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

XXVII ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI SALVADOR ndash BA

DIREITO INTERNACIONAL II

Apresentaccedilatildeo

O Grupo de Trabalho de Direito Internacional II que tivemos a honra de coordenar confirmou

mais uma vez a importacircncia que essa ampla mateacuteria tem merecido no Conselho Nacional de

Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito caracterizada pela presenccedila relevante de autores para

treze dos catorze artigos aprovados para exposiccedilatildeo e debates

A expressividade dessa participaccedilatildeo e o niacutevel elevado de pesquisas que os trabalhos

revelaram ratificam o significativo papel do CONPEDI no incentivo e divulgaccedilatildeo da

pesquisa juriacutedica no Brasil No acircmbito especiacutefico do Direito Internacional os trabalhos

informam e acompanham as transformaccedilotildees que afetam essa mateacuteria desde os primeiros anos

do seacuteculo 21 decorrentes do impulso induzido pela aproximaccedilatildeo dos povos nas relaccedilotildees

internacionais em geral e por consequecircncia no Direito Internacional

A qualidade dos artigos do nosso Grupo de Trabalho pode ser verificada quando se constata

que dos catorze tiacutetulos relacionados cinco deles foram selecionados para publicaccedilatildeo em

perioacutedicos da prestigiosa Plataforma Index Law Journals

Dos demais nove trabalhos apresentados que compotildeem a presente publicaccedilatildeo em anais

podemos distribuiacute-los para melhor compreensatildeo do leitor por trecircs temaacuteticas atuais inerentes

ao sistema juriacutedico internacional em transformaccedilatildeo identificaacuteveis nas denominaccedilotildees de

Direitos Humanos Migraccedilotildees e Soberania

Na primeira temaacutetica dos Direitos Humanos encontramos de iniacutecio o artigo de direitos

humanos e a proteccedilatildeo da pessoa com deficiecircncia do Prof Dirceu Pereira Siqueira e Jamile

Sumaia Serea Kassem onde os autores abordam a conexatildeo histoacuterica dos direitos humanos

aplicados agrave pessoa com deficiecircncia como meio de inclusatildeo dessas agrave plenitude da dignidade

humana em seguida a anaacutelise da efetividade das poliacuteticas internacionais de accedilatildeo

multiculturalistas para amenizar os choques culturais decorrentes dos deslocamentos de

populaccedilotildees em razatildeo de flagelos naturais ou beacutelicos apresentado pela Profordf Valeacuteria Silva

Galdino Cardim e ao final a informaccedilatildeo da disparidade entre os rituais da Corte

Interamericana de Direitos Humanos para com as praacuteticas rituais no judiciaacuterio brasileiro

descrita por Mariana de Freitas Rasga e Morgana Paiva Valim a partir da assistecircncia

presencial da audiecircncia puacuteblica na corte da Costa Rica para o caso do jornalista Vladimir

Herzog

Na temaacutetica seguinte das Migraccedilotildees destaca-se a anaacutelise do tratamento juriacutedico da cidadania

conforme atribuiacutedo pelos tratados da Uniatildeo Europeia aos cidadatildeos dos paiacuteses componentes

da uniatildeo para com a assimilaccedilatildeo da onda migratoacuteria em processo de infiltraccedilatildeo a celerada na

Europa elaborada por Tatiana Bruhn Parmeggiani do mesmo modo o estudo de caso

concreto da situaccedilatildeo da mulher migrante de origem chinesa trabalhadora no comeacutercio da

cidade de AracajuSE desenvolvido por Katia Cristina Santos Lelis e Ana Carolina Fontes

Figueiredo Mendes e em seguida o registro da aplicaccedilatildeo indevida do princiacutepio da soberania

nacional como obstaacuteculo aacute aplicaccedilatildeo dos direitos humanos no tratamento do fenocircmeno

migratoacuterio a exemplo do processo chamado Brexit realizado por Aline Andrighetto e

Bianka Adamatti

Na temaacutetica da Soberania encontra-se o artigo que aborda a insuficiecircncia dos sistema de

sanccedilotildees aplicadas por cortes internacionais em imputaccedilatildeo de responsabilidade a Estados por

praacutetica de atos iliacutecitos em direito internacional elaborado por Isis de Angellis Pereira

Sanches e Gustavo Assed Ferreira o artigo analiacutetico da recepccedilatildeo do constitucionalismo

global e da teoria monista no conteuacutedo normativo da Constituiccedilatildeo de Moccedilambique do Prof

Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima e o artigo propositivo do aproveitamento da teoria

monista para resoluccedilatildeo de conflito entre direito interno e a intervenccedilatildeo de normas

transnacionais sobretudo de direitos humanos de Armecircnio Alberto Rodrigues da Roda

Em conclusatildeo entendemos oportuno afirmar que o rica e variado conteuacutedo dos textos

apresentados neste Grupo de Trabalho sintetiza a essecircncia dos debates ocorridos neste

XXVII Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Salvador-BA e se constitui em

convite agrave investigaccedilatildeo acadecircmica de pesquisadores juriacutedicos brasileiros

Prof Dr Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima - UFBA

Prof Dr Dirceu Pereira Siqueira ndash UNICESUMAR

Nota Teacutecnica Os artigos que natildeo constam nestes Anais foram selecionados para publicaccedilatildeo

na Plataforma Index Law Journals conforme previsto no artigo 81 do edital do evento

Equipe Editorial Index Law Journal - publicacaoconpediorgbr

1 Mestranda em Direito e Desenvolvimento na Faculdade de Direito de Ribeiratildeo Preto (FDRP) USP Bolsista CAPES

2 Possui doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e livre docecircncia em Direito Internacional pela Universidade de Satildeo Paulo (2015)

1

2

A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS POR COMETIMENTO DE ATOS ILIacuteCITOS PERANTE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

THE INTERNATIONAL RESPONSIBILITY OF THE STATES FOR INTERNATIONAL WRONGFUL ACTS TOWARD INTERNATIONAL TRIBUNALS

Isis De Angellis Pereira Sanches 1Gustavo Assed Ferreira 2

Resumo

O problema central da pesquisa eacute a busca de como eacute exercida a responsabilidade dos Estados

aplicadas pelos Tribunais Internacionais Apesar das existirem sanccedilotildees impostas por

Tribunais Internacionais apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses signataacuterios das Convenccedilotildees

Internacionais por cometimento de atos iliacutecitos ainda existe uma insuficiecircncia do sistema de

sanccedilotildees no acircmbito do Direito Internacional Estas acabam deixando de serem aplicadas

inclusive por instituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos e as Naccedilotildees Unidas

que visam sua atuaccedilatildeo na proteccedilatildeo de interesses de seus Estados partes

Palavras-chave Responsabilidade internacional dos estados Cortes internacionais Sentenccedilas internacionais Corte internacional de justiccedila Corte interamericana de direitos humanos

AbstractResumenReacutesumeacute

The central problem of the research is the pursuit of how State responsibility is exercised

applied by the International Tribunals Despite sanctions imposed by International Tribunals

after the conviction of the signatory countries of the International Conventions due to the

commitment of wrongful acts there is still an insufficient system of sanction under

international law They cease to be applied by institutions such the Organization of

American States and the United Nations that seek its actions in the protection of the interests

of their States parties

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes International responsibility of states International courts International judgments International court of justice Inter-american court of human rights

1

2

121

INTRODUCcedilAtildeO

Em vista do crescimento dos intercacircmbios tornou-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de

determinadas normas de conduta a fim de reger a vida em grupo regulamentando e

harmonizando interesses muacutetuos O Direito passou a regulamentar situaccedilotildees natildeo mais

limitadas agraves fronteiras territoriais e apenas questotildees internas Isto gerou um mister de

normas internacionais e a problemaacutetica da coerccedilatildeo de sanccedilotildees em caso de descumprimento

destas obrigaccedilotildees

Natildeo haacute a existecircncia de um poder centralizado de Direito Internacional que regule

este mister de normas e que promova afinal um sistema eficaz de sanccedilotildees internacionais

Existem apenas instituiccedilotildees que representam os interesses dos Estados como a Organizaccedilatildeo

dos Estados Americanos Naccedilotildees Unidas e Comissatildeo Europeia por exemplo

Tal natildeo significa contudo que natildeo exista no plano do Direito Internacional nenhum

sistema de sanccedilotildees haacute notadamente no acircmbito das Naccedilotildees Unidas Poreacutem esse sistema natildeo

eacute suficiente porque natildeo existe ainda na oacuterbita internacional (ao contraacuterio do que ocorre no

Direito Interno) nenhum oacutergatildeo com jurisdiccedilatildeo geral capaz de obrigar os Estados a

decidirem ali suas contendas e de coercitirem-lhes a implementarem as suas obrigaccedilotildees

Eacute necessaacuterio o consentimento expresso dos paiacuteses para a participaccedilatildeo dos Estados

em Tribunais Internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos (no acircmbito

da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos) e a Corte Internacional de Justiccedila (no acircmbito das

Naccedilotildees Unidas) sem o qual o tribunal respectivo natildeo poderaacute exercer jurisdiccedilatildeo sobre eles

Apesar de todos os membros das Naccedilotildees Unidas serem ipso facto partes do Estatuto

da Corte Internacional de Justiccedila como consta no artigo 931 de seu tratado constitutivo

(anexo agrave Declaraccedilatildeo Universal de 1948 norma de jus cogens internacional pelos Estados)

nem todos os Estados membros concedaram o aceite agrave atuaccedilatildeo jurisdicional da CIJ2 e

lamentavelmente a Declaraccedilatildeo Universal de 1948 natildeo dispotildee de meios teacutecnicos para que

algueacutem que teve seus direitos violados possa aplicaacute-la na praacutetica em caso do

descumprimento de seus deveres

1 Artigo 93 1 Todos os Membros das Naccedilotildees Unidas satildeo ipso facto partes do Estatuto da Corte Internacional

de Justiccedila 2 Corte Internacional de Justiccedila

122

A responsabilidade internacional do Estado seria o instituto juriacutedico que visaria

responsabilizar determinado Estado pela praacutetica de um ato atentatoacuterio (iliacutecito) ao Direito

Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado prevendo certa

reparaccedilatildeo a este uacuteltimo pelos prejuiacutezos e gravames que injustamente sofreu

Este instituto possui uma existecircncia precaacuteria pois a sociedade internacional eacute

descentralizada falta poder central vinculante e mecanismos mais eficazes de coaccedilatildeo

internacional Uma norma de Direito Internacional soacute pode ser superior agraves outras como eacute o

caso da Carta das Naccedilotildees Unidas em virtude de seu artigo 1033 pois os Estados a

aceitaram natildeo sendo possiacutevel a imposiccedilatildeo de sentenccedilas internacionais e estrangeiras sem

este aceite

Podem todos os sujeitos de Direito Internacional Puacuteblico como os Estados as

coletividades interestatais (organizaccedilotildees internacionais como as Naccedilotildees Unidas as

coletividades natildeo estatais (beligerantes que satildeo movimentos armados da populaccedilatildeo o

Comitecirc Internacional da Cruz Vermelha a Santa Seacute os Insurgentes os Movimentos de

libertaccedilatildeo Nacional) e os indiviacuteduos (ou particulares) serem sujeitos ativos e passivos

perante Tribunais Internacionas Natildeo apenas os Estados e pela extensatildeo do conceito de

Responsabilidade internacional as coletividades interestatais

O Estado pode ser responsabilizado diretamente quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for realizado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica que age em nome dele Como

no ato da Hungria4 pela detenccedilatildeo automaacutetica de todos os requerentes de asilo em campos

de contenccedilatildeo5 nas fronteiras do sul do paiacutes sendo este paiacutes acusado de violar o Estatuto da

Corte Internacional de Justiccedila ocorrida pelas amplas violaccedilotildees de direitos humanos contra

os refugiados pelos funcionaacuterios do oacutergatildeo do executivo sendo condenada em 14 de marccedilo

de 2017 pela Corte Europeia de Direitos Humanos

3 Artigo 103 ldquoNo caso de conflito entre as obrigaccedilotildees dos membros das Naccedilotildees Unidas em virtude da

presente Carta e as obrigaccedilotildees resultantes de qualquer outro acordo internacional prevaleceratildeo as obrigaccedilotildees

assumidas em virtude da presente Cartardquo

4 Caso Ilias and Ahmed v Hungary 5 Giorgio Agambem dispotildee que haacute uma normalidade dos espaccedilos de exceccedilatildeo aceitos com serenidade pela

comunidade internacional demonstrando-se que a anomia foi subjugada pelo poder A regra do poder natildeo eacute

mais a lei mas a exceccedilatildeo natildeo seria mais pela lei que ocorreria o estado de exceccedilatildeo O estado de exceccedilatildeo

existiria por si soacute Pensemos nos campos de refugiados atuais ldquocampos de concentraccedilatildeordquo A lei na verdade

natildeo existiria mais No caso de existecircncia ocorreria a possibilidade de responsabilidade internacional do

Estado como no caso da Hungria mencionado alhures

123

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

Na temaacutetica seguinte das Migraccedilotildees destaca-se a anaacutelise do tratamento juriacutedico da cidadania

conforme atribuiacutedo pelos tratados da Uniatildeo Europeia aos cidadatildeos dos paiacuteses componentes

da uniatildeo para com a assimilaccedilatildeo da onda migratoacuteria em processo de infiltraccedilatildeo a celerada na

Europa elaborada por Tatiana Bruhn Parmeggiani do mesmo modo o estudo de caso

concreto da situaccedilatildeo da mulher migrante de origem chinesa trabalhadora no comeacutercio da

cidade de AracajuSE desenvolvido por Katia Cristina Santos Lelis e Ana Carolina Fontes

Figueiredo Mendes e em seguida o registro da aplicaccedilatildeo indevida do princiacutepio da soberania

nacional como obstaacuteculo aacute aplicaccedilatildeo dos direitos humanos no tratamento do fenocircmeno

migratoacuterio a exemplo do processo chamado Brexit realizado por Aline Andrighetto e

Bianka Adamatti

Na temaacutetica da Soberania encontra-se o artigo que aborda a insuficiecircncia dos sistema de

sanccedilotildees aplicadas por cortes internacionais em imputaccedilatildeo de responsabilidade a Estados por

praacutetica de atos iliacutecitos em direito internacional elaborado por Isis de Angellis Pereira

Sanches e Gustavo Assed Ferreira o artigo analiacutetico da recepccedilatildeo do constitucionalismo

global e da teoria monista no conteuacutedo normativo da Constituiccedilatildeo de Moccedilambique do Prof

Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima e o artigo propositivo do aproveitamento da teoria

monista para resoluccedilatildeo de conflito entre direito interno e a intervenccedilatildeo de normas

transnacionais sobretudo de direitos humanos de Armecircnio Alberto Rodrigues da Roda

Em conclusatildeo entendemos oportuno afirmar que o rica e variado conteuacutedo dos textos

apresentados neste Grupo de Trabalho sintetiza a essecircncia dos debates ocorridos neste

XXVII Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Salvador-BA e se constitui em

convite agrave investigaccedilatildeo acadecircmica de pesquisadores juriacutedicos brasileiros

Prof Dr Maacuterio Jorge Philocreon de Castro Lima - UFBA

Prof Dr Dirceu Pereira Siqueira ndash UNICESUMAR

Nota Teacutecnica Os artigos que natildeo constam nestes Anais foram selecionados para publicaccedilatildeo

na Plataforma Index Law Journals conforme previsto no artigo 81 do edital do evento

Equipe Editorial Index Law Journal - publicacaoconpediorgbr

1 Mestranda em Direito e Desenvolvimento na Faculdade de Direito de Ribeiratildeo Preto (FDRP) USP Bolsista CAPES

2 Possui doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e livre docecircncia em Direito Internacional pela Universidade de Satildeo Paulo (2015)

1

2

A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS POR COMETIMENTO DE ATOS ILIacuteCITOS PERANTE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

THE INTERNATIONAL RESPONSIBILITY OF THE STATES FOR INTERNATIONAL WRONGFUL ACTS TOWARD INTERNATIONAL TRIBUNALS

Isis De Angellis Pereira Sanches 1Gustavo Assed Ferreira 2

Resumo

O problema central da pesquisa eacute a busca de como eacute exercida a responsabilidade dos Estados

aplicadas pelos Tribunais Internacionais Apesar das existirem sanccedilotildees impostas por

Tribunais Internacionais apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses signataacuterios das Convenccedilotildees

Internacionais por cometimento de atos iliacutecitos ainda existe uma insuficiecircncia do sistema de

sanccedilotildees no acircmbito do Direito Internacional Estas acabam deixando de serem aplicadas

inclusive por instituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos e as Naccedilotildees Unidas

que visam sua atuaccedilatildeo na proteccedilatildeo de interesses de seus Estados partes

Palavras-chave Responsabilidade internacional dos estados Cortes internacionais Sentenccedilas internacionais Corte internacional de justiccedila Corte interamericana de direitos humanos

AbstractResumenReacutesumeacute

The central problem of the research is the pursuit of how State responsibility is exercised

applied by the International Tribunals Despite sanctions imposed by International Tribunals

after the conviction of the signatory countries of the International Conventions due to the

commitment of wrongful acts there is still an insufficient system of sanction under

international law They cease to be applied by institutions such the Organization of

American States and the United Nations that seek its actions in the protection of the interests

of their States parties

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes International responsibility of states International courts International judgments International court of justice Inter-american court of human rights

1

2

121

INTRODUCcedilAtildeO

Em vista do crescimento dos intercacircmbios tornou-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de

determinadas normas de conduta a fim de reger a vida em grupo regulamentando e

harmonizando interesses muacutetuos O Direito passou a regulamentar situaccedilotildees natildeo mais

limitadas agraves fronteiras territoriais e apenas questotildees internas Isto gerou um mister de

normas internacionais e a problemaacutetica da coerccedilatildeo de sanccedilotildees em caso de descumprimento

destas obrigaccedilotildees

Natildeo haacute a existecircncia de um poder centralizado de Direito Internacional que regule

este mister de normas e que promova afinal um sistema eficaz de sanccedilotildees internacionais

Existem apenas instituiccedilotildees que representam os interesses dos Estados como a Organizaccedilatildeo

dos Estados Americanos Naccedilotildees Unidas e Comissatildeo Europeia por exemplo

Tal natildeo significa contudo que natildeo exista no plano do Direito Internacional nenhum

sistema de sanccedilotildees haacute notadamente no acircmbito das Naccedilotildees Unidas Poreacutem esse sistema natildeo

eacute suficiente porque natildeo existe ainda na oacuterbita internacional (ao contraacuterio do que ocorre no

Direito Interno) nenhum oacutergatildeo com jurisdiccedilatildeo geral capaz de obrigar os Estados a

decidirem ali suas contendas e de coercitirem-lhes a implementarem as suas obrigaccedilotildees

Eacute necessaacuterio o consentimento expresso dos paiacuteses para a participaccedilatildeo dos Estados

em Tribunais Internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos (no acircmbito

da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos) e a Corte Internacional de Justiccedila (no acircmbito das

Naccedilotildees Unidas) sem o qual o tribunal respectivo natildeo poderaacute exercer jurisdiccedilatildeo sobre eles

Apesar de todos os membros das Naccedilotildees Unidas serem ipso facto partes do Estatuto

da Corte Internacional de Justiccedila como consta no artigo 931 de seu tratado constitutivo

(anexo agrave Declaraccedilatildeo Universal de 1948 norma de jus cogens internacional pelos Estados)

nem todos os Estados membros concedaram o aceite agrave atuaccedilatildeo jurisdicional da CIJ2 e

lamentavelmente a Declaraccedilatildeo Universal de 1948 natildeo dispotildee de meios teacutecnicos para que

algueacutem que teve seus direitos violados possa aplicaacute-la na praacutetica em caso do

descumprimento de seus deveres

1 Artigo 93 1 Todos os Membros das Naccedilotildees Unidas satildeo ipso facto partes do Estatuto da Corte Internacional

de Justiccedila 2 Corte Internacional de Justiccedila

122

A responsabilidade internacional do Estado seria o instituto juriacutedico que visaria

responsabilizar determinado Estado pela praacutetica de um ato atentatoacuterio (iliacutecito) ao Direito

Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado prevendo certa

reparaccedilatildeo a este uacuteltimo pelos prejuiacutezos e gravames que injustamente sofreu

Este instituto possui uma existecircncia precaacuteria pois a sociedade internacional eacute

descentralizada falta poder central vinculante e mecanismos mais eficazes de coaccedilatildeo

internacional Uma norma de Direito Internacional soacute pode ser superior agraves outras como eacute o

caso da Carta das Naccedilotildees Unidas em virtude de seu artigo 1033 pois os Estados a

aceitaram natildeo sendo possiacutevel a imposiccedilatildeo de sentenccedilas internacionais e estrangeiras sem

este aceite

Podem todos os sujeitos de Direito Internacional Puacuteblico como os Estados as

coletividades interestatais (organizaccedilotildees internacionais como as Naccedilotildees Unidas as

coletividades natildeo estatais (beligerantes que satildeo movimentos armados da populaccedilatildeo o

Comitecirc Internacional da Cruz Vermelha a Santa Seacute os Insurgentes os Movimentos de

libertaccedilatildeo Nacional) e os indiviacuteduos (ou particulares) serem sujeitos ativos e passivos

perante Tribunais Internacionas Natildeo apenas os Estados e pela extensatildeo do conceito de

Responsabilidade internacional as coletividades interestatais

O Estado pode ser responsabilizado diretamente quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for realizado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica que age em nome dele Como

no ato da Hungria4 pela detenccedilatildeo automaacutetica de todos os requerentes de asilo em campos

de contenccedilatildeo5 nas fronteiras do sul do paiacutes sendo este paiacutes acusado de violar o Estatuto da

Corte Internacional de Justiccedila ocorrida pelas amplas violaccedilotildees de direitos humanos contra

os refugiados pelos funcionaacuterios do oacutergatildeo do executivo sendo condenada em 14 de marccedilo

de 2017 pela Corte Europeia de Direitos Humanos

3 Artigo 103 ldquoNo caso de conflito entre as obrigaccedilotildees dos membros das Naccedilotildees Unidas em virtude da

presente Carta e as obrigaccedilotildees resultantes de qualquer outro acordo internacional prevaleceratildeo as obrigaccedilotildees

assumidas em virtude da presente Cartardquo

4 Caso Ilias and Ahmed v Hungary 5 Giorgio Agambem dispotildee que haacute uma normalidade dos espaccedilos de exceccedilatildeo aceitos com serenidade pela

comunidade internacional demonstrando-se que a anomia foi subjugada pelo poder A regra do poder natildeo eacute

mais a lei mas a exceccedilatildeo natildeo seria mais pela lei que ocorreria o estado de exceccedilatildeo O estado de exceccedilatildeo

existiria por si soacute Pensemos nos campos de refugiados atuais ldquocampos de concentraccedilatildeordquo A lei na verdade

natildeo existiria mais No caso de existecircncia ocorreria a possibilidade de responsabilidade internacional do

Estado como no caso da Hungria mencionado alhures

123

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

1 Mestranda em Direito e Desenvolvimento na Faculdade de Direito de Ribeiratildeo Preto (FDRP) USP Bolsista CAPES

2 Possui doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e livre docecircncia em Direito Internacional pela Universidade de Satildeo Paulo (2015)

1

2

A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS POR COMETIMENTO DE ATOS ILIacuteCITOS PERANTE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

THE INTERNATIONAL RESPONSIBILITY OF THE STATES FOR INTERNATIONAL WRONGFUL ACTS TOWARD INTERNATIONAL TRIBUNALS

Isis De Angellis Pereira Sanches 1Gustavo Assed Ferreira 2

Resumo

O problema central da pesquisa eacute a busca de como eacute exercida a responsabilidade dos Estados

aplicadas pelos Tribunais Internacionais Apesar das existirem sanccedilotildees impostas por

Tribunais Internacionais apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses signataacuterios das Convenccedilotildees

Internacionais por cometimento de atos iliacutecitos ainda existe uma insuficiecircncia do sistema de

sanccedilotildees no acircmbito do Direito Internacional Estas acabam deixando de serem aplicadas

inclusive por instituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos e as Naccedilotildees Unidas

que visam sua atuaccedilatildeo na proteccedilatildeo de interesses de seus Estados partes

Palavras-chave Responsabilidade internacional dos estados Cortes internacionais Sentenccedilas internacionais Corte internacional de justiccedila Corte interamericana de direitos humanos

AbstractResumenReacutesumeacute

The central problem of the research is the pursuit of how State responsibility is exercised

applied by the International Tribunals Despite sanctions imposed by International Tribunals

after the conviction of the signatory countries of the International Conventions due to the

commitment of wrongful acts there is still an insufficient system of sanction under

international law They cease to be applied by institutions such the Organization of

American States and the United Nations that seek its actions in the protection of the interests

of their States parties

KeywordsPalabras-clavesMots-cleacutes International responsibility of states International courts International judgments International court of justice Inter-american court of human rights

1

2

121

INTRODUCcedilAtildeO

Em vista do crescimento dos intercacircmbios tornou-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de

determinadas normas de conduta a fim de reger a vida em grupo regulamentando e

harmonizando interesses muacutetuos O Direito passou a regulamentar situaccedilotildees natildeo mais

limitadas agraves fronteiras territoriais e apenas questotildees internas Isto gerou um mister de

normas internacionais e a problemaacutetica da coerccedilatildeo de sanccedilotildees em caso de descumprimento

destas obrigaccedilotildees

Natildeo haacute a existecircncia de um poder centralizado de Direito Internacional que regule

este mister de normas e que promova afinal um sistema eficaz de sanccedilotildees internacionais

Existem apenas instituiccedilotildees que representam os interesses dos Estados como a Organizaccedilatildeo

dos Estados Americanos Naccedilotildees Unidas e Comissatildeo Europeia por exemplo

Tal natildeo significa contudo que natildeo exista no plano do Direito Internacional nenhum

sistema de sanccedilotildees haacute notadamente no acircmbito das Naccedilotildees Unidas Poreacutem esse sistema natildeo

eacute suficiente porque natildeo existe ainda na oacuterbita internacional (ao contraacuterio do que ocorre no

Direito Interno) nenhum oacutergatildeo com jurisdiccedilatildeo geral capaz de obrigar os Estados a

decidirem ali suas contendas e de coercitirem-lhes a implementarem as suas obrigaccedilotildees

Eacute necessaacuterio o consentimento expresso dos paiacuteses para a participaccedilatildeo dos Estados

em Tribunais Internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos (no acircmbito

da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos) e a Corte Internacional de Justiccedila (no acircmbito das

Naccedilotildees Unidas) sem o qual o tribunal respectivo natildeo poderaacute exercer jurisdiccedilatildeo sobre eles

Apesar de todos os membros das Naccedilotildees Unidas serem ipso facto partes do Estatuto

da Corte Internacional de Justiccedila como consta no artigo 931 de seu tratado constitutivo

(anexo agrave Declaraccedilatildeo Universal de 1948 norma de jus cogens internacional pelos Estados)

nem todos os Estados membros concedaram o aceite agrave atuaccedilatildeo jurisdicional da CIJ2 e

lamentavelmente a Declaraccedilatildeo Universal de 1948 natildeo dispotildee de meios teacutecnicos para que

algueacutem que teve seus direitos violados possa aplicaacute-la na praacutetica em caso do

descumprimento de seus deveres

1 Artigo 93 1 Todos os Membros das Naccedilotildees Unidas satildeo ipso facto partes do Estatuto da Corte Internacional

de Justiccedila 2 Corte Internacional de Justiccedila

122

A responsabilidade internacional do Estado seria o instituto juriacutedico que visaria

responsabilizar determinado Estado pela praacutetica de um ato atentatoacuterio (iliacutecito) ao Direito

Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado prevendo certa

reparaccedilatildeo a este uacuteltimo pelos prejuiacutezos e gravames que injustamente sofreu

Este instituto possui uma existecircncia precaacuteria pois a sociedade internacional eacute

descentralizada falta poder central vinculante e mecanismos mais eficazes de coaccedilatildeo

internacional Uma norma de Direito Internacional soacute pode ser superior agraves outras como eacute o

caso da Carta das Naccedilotildees Unidas em virtude de seu artigo 1033 pois os Estados a

aceitaram natildeo sendo possiacutevel a imposiccedilatildeo de sentenccedilas internacionais e estrangeiras sem

este aceite

Podem todos os sujeitos de Direito Internacional Puacuteblico como os Estados as

coletividades interestatais (organizaccedilotildees internacionais como as Naccedilotildees Unidas as

coletividades natildeo estatais (beligerantes que satildeo movimentos armados da populaccedilatildeo o

Comitecirc Internacional da Cruz Vermelha a Santa Seacute os Insurgentes os Movimentos de

libertaccedilatildeo Nacional) e os indiviacuteduos (ou particulares) serem sujeitos ativos e passivos

perante Tribunais Internacionas Natildeo apenas os Estados e pela extensatildeo do conceito de

Responsabilidade internacional as coletividades interestatais

O Estado pode ser responsabilizado diretamente quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for realizado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica que age em nome dele Como

no ato da Hungria4 pela detenccedilatildeo automaacutetica de todos os requerentes de asilo em campos

de contenccedilatildeo5 nas fronteiras do sul do paiacutes sendo este paiacutes acusado de violar o Estatuto da

Corte Internacional de Justiccedila ocorrida pelas amplas violaccedilotildees de direitos humanos contra

os refugiados pelos funcionaacuterios do oacutergatildeo do executivo sendo condenada em 14 de marccedilo

de 2017 pela Corte Europeia de Direitos Humanos

3 Artigo 103 ldquoNo caso de conflito entre as obrigaccedilotildees dos membros das Naccedilotildees Unidas em virtude da

presente Carta e as obrigaccedilotildees resultantes de qualquer outro acordo internacional prevaleceratildeo as obrigaccedilotildees

assumidas em virtude da presente Cartardquo

4 Caso Ilias and Ahmed v Hungary 5 Giorgio Agambem dispotildee que haacute uma normalidade dos espaccedilos de exceccedilatildeo aceitos com serenidade pela

comunidade internacional demonstrando-se que a anomia foi subjugada pelo poder A regra do poder natildeo eacute

mais a lei mas a exceccedilatildeo natildeo seria mais pela lei que ocorreria o estado de exceccedilatildeo O estado de exceccedilatildeo

existiria por si soacute Pensemos nos campos de refugiados atuais ldquocampos de concentraccedilatildeordquo A lei na verdade

natildeo existiria mais No caso de existecircncia ocorreria a possibilidade de responsabilidade internacional do

Estado como no caso da Hungria mencionado alhures

123

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

INTRODUCcedilAtildeO

Em vista do crescimento dos intercacircmbios tornou-se necessaacuteria a criaccedilatildeo de

determinadas normas de conduta a fim de reger a vida em grupo regulamentando e

harmonizando interesses muacutetuos O Direito passou a regulamentar situaccedilotildees natildeo mais

limitadas agraves fronteiras territoriais e apenas questotildees internas Isto gerou um mister de

normas internacionais e a problemaacutetica da coerccedilatildeo de sanccedilotildees em caso de descumprimento

destas obrigaccedilotildees

Natildeo haacute a existecircncia de um poder centralizado de Direito Internacional que regule

este mister de normas e que promova afinal um sistema eficaz de sanccedilotildees internacionais

Existem apenas instituiccedilotildees que representam os interesses dos Estados como a Organizaccedilatildeo

dos Estados Americanos Naccedilotildees Unidas e Comissatildeo Europeia por exemplo

Tal natildeo significa contudo que natildeo exista no plano do Direito Internacional nenhum

sistema de sanccedilotildees haacute notadamente no acircmbito das Naccedilotildees Unidas Poreacutem esse sistema natildeo

eacute suficiente porque natildeo existe ainda na oacuterbita internacional (ao contraacuterio do que ocorre no

Direito Interno) nenhum oacutergatildeo com jurisdiccedilatildeo geral capaz de obrigar os Estados a

decidirem ali suas contendas e de coercitirem-lhes a implementarem as suas obrigaccedilotildees

Eacute necessaacuterio o consentimento expresso dos paiacuteses para a participaccedilatildeo dos Estados

em Tribunais Internacionais como a Corte Interamericana de Direitos Humanos (no acircmbito

da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos) e a Corte Internacional de Justiccedila (no acircmbito das

Naccedilotildees Unidas) sem o qual o tribunal respectivo natildeo poderaacute exercer jurisdiccedilatildeo sobre eles

Apesar de todos os membros das Naccedilotildees Unidas serem ipso facto partes do Estatuto

da Corte Internacional de Justiccedila como consta no artigo 931 de seu tratado constitutivo

(anexo agrave Declaraccedilatildeo Universal de 1948 norma de jus cogens internacional pelos Estados)

nem todos os Estados membros concedaram o aceite agrave atuaccedilatildeo jurisdicional da CIJ2 e

lamentavelmente a Declaraccedilatildeo Universal de 1948 natildeo dispotildee de meios teacutecnicos para que

algueacutem que teve seus direitos violados possa aplicaacute-la na praacutetica em caso do

descumprimento de seus deveres

1 Artigo 93 1 Todos os Membros das Naccedilotildees Unidas satildeo ipso facto partes do Estatuto da Corte Internacional

de Justiccedila 2 Corte Internacional de Justiccedila

122

A responsabilidade internacional do Estado seria o instituto juriacutedico que visaria

responsabilizar determinado Estado pela praacutetica de um ato atentatoacuterio (iliacutecito) ao Direito

Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado prevendo certa

reparaccedilatildeo a este uacuteltimo pelos prejuiacutezos e gravames que injustamente sofreu

Este instituto possui uma existecircncia precaacuteria pois a sociedade internacional eacute

descentralizada falta poder central vinculante e mecanismos mais eficazes de coaccedilatildeo

internacional Uma norma de Direito Internacional soacute pode ser superior agraves outras como eacute o

caso da Carta das Naccedilotildees Unidas em virtude de seu artigo 1033 pois os Estados a

aceitaram natildeo sendo possiacutevel a imposiccedilatildeo de sentenccedilas internacionais e estrangeiras sem

este aceite

Podem todos os sujeitos de Direito Internacional Puacuteblico como os Estados as

coletividades interestatais (organizaccedilotildees internacionais como as Naccedilotildees Unidas as

coletividades natildeo estatais (beligerantes que satildeo movimentos armados da populaccedilatildeo o

Comitecirc Internacional da Cruz Vermelha a Santa Seacute os Insurgentes os Movimentos de

libertaccedilatildeo Nacional) e os indiviacuteduos (ou particulares) serem sujeitos ativos e passivos

perante Tribunais Internacionas Natildeo apenas os Estados e pela extensatildeo do conceito de

Responsabilidade internacional as coletividades interestatais

O Estado pode ser responsabilizado diretamente quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for realizado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica que age em nome dele Como

no ato da Hungria4 pela detenccedilatildeo automaacutetica de todos os requerentes de asilo em campos

de contenccedilatildeo5 nas fronteiras do sul do paiacutes sendo este paiacutes acusado de violar o Estatuto da

Corte Internacional de Justiccedila ocorrida pelas amplas violaccedilotildees de direitos humanos contra

os refugiados pelos funcionaacuterios do oacutergatildeo do executivo sendo condenada em 14 de marccedilo

de 2017 pela Corte Europeia de Direitos Humanos

3 Artigo 103 ldquoNo caso de conflito entre as obrigaccedilotildees dos membros das Naccedilotildees Unidas em virtude da

presente Carta e as obrigaccedilotildees resultantes de qualquer outro acordo internacional prevaleceratildeo as obrigaccedilotildees

assumidas em virtude da presente Cartardquo

4 Caso Ilias and Ahmed v Hungary 5 Giorgio Agambem dispotildee que haacute uma normalidade dos espaccedilos de exceccedilatildeo aceitos com serenidade pela

comunidade internacional demonstrando-se que a anomia foi subjugada pelo poder A regra do poder natildeo eacute

mais a lei mas a exceccedilatildeo natildeo seria mais pela lei que ocorreria o estado de exceccedilatildeo O estado de exceccedilatildeo

existiria por si soacute Pensemos nos campos de refugiados atuais ldquocampos de concentraccedilatildeordquo A lei na verdade

natildeo existiria mais No caso de existecircncia ocorreria a possibilidade de responsabilidade internacional do

Estado como no caso da Hungria mencionado alhures

123

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

A responsabilidade internacional do Estado seria o instituto juriacutedico que visaria

responsabilizar determinado Estado pela praacutetica de um ato atentatoacuterio (iliacutecito) ao Direito

Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outro Estado prevendo certa

reparaccedilatildeo a este uacuteltimo pelos prejuiacutezos e gravames que injustamente sofreu

Este instituto possui uma existecircncia precaacuteria pois a sociedade internacional eacute

descentralizada falta poder central vinculante e mecanismos mais eficazes de coaccedilatildeo

internacional Uma norma de Direito Internacional soacute pode ser superior agraves outras como eacute o

caso da Carta das Naccedilotildees Unidas em virtude de seu artigo 1033 pois os Estados a

aceitaram natildeo sendo possiacutevel a imposiccedilatildeo de sentenccedilas internacionais e estrangeiras sem

este aceite

Podem todos os sujeitos de Direito Internacional Puacuteblico como os Estados as

coletividades interestatais (organizaccedilotildees internacionais como as Naccedilotildees Unidas as

coletividades natildeo estatais (beligerantes que satildeo movimentos armados da populaccedilatildeo o

Comitecirc Internacional da Cruz Vermelha a Santa Seacute os Insurgentes os Movimentos de

libertaccedilatildeo Nacional) e os indiviacuteduos (ou particulares) serem sujeitos ativos e passivos

perante Tribunais Internacionas Natildeo apenas os Estados e pela extensatildeo do conceito de

Responsabilidade internacional as coletividades interestatais

O Estado pode ser responsabilizado diretamente quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for realizado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica que age em nome dele Como

no ato da Hungria4 pela detenccedilatildeo automaacutetica de todos os requerentes de asilo em campos

de contenccedilatildeo5 nas fronteiras do sul do paiacutes sendo este paiacutes acusado de violar o Estatuto da

Corte Internacional de Justiccedila ocorrida pelas amplas violaccedilotildees de direitos humanos contra

os refugiados pelos funcionaacuterios do oacutergatildeo do executivo sendo condenada em 14 de marccedilo

de 2017 pela Corte Europeia de Direitos Humanos

3 Artigo 103 ldquoNo caso de conflito entre as obrigaccedilotildees dos membros das Naccedilotildees Unidas em virtude da

presente Carta e as obrigaccedilotildees resultantes de qualquer outro acordo internacional prevaleceratildeo as obrigaccedilotildees

assumidas em virtude da presente Cartardquo

4 Caso Ilias and Ahmed v Hungary 5 Giorgio Agambem dispotildee que haacute uma normalidade dos espaccedilos de exceccedilatildeo aceitos com serenidade pela

comunidade internacional demonstrando-se que a anomia foi subjugada pelo poder A regra do poder natildeo eacute

mais a lei mas a exceccedilatildeo natildeo seria mais pela lei que ocorreria o estado de exceccedilatildeo O estado de exceccedilatildeo

existiria por si soacute Pensemos nos campos de refugiados atuais ldquocampos de concentraccedilatildeordquo A lei na verdade

natildeo existiria mais No caso de existecircncia ocorreria a possibilidade de responsabilidade internacional do

Estado como no caso da Hungria mencionado alhures

123

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

Tambeacutem poderiam enquadrar-se nesta categoria os atos praticados por particulares

quando a atividade do particular possa ser imputada ao Estado em vista da conduta da

pessoa ou grupo de pessoas serem realizadas sob a instruccedilatildeo direccedilatildeo ou controle daquele

Estado ao executar a conduta6

Como ato omissivo da responsabilidade do Estado podemos pensar no combate do

Estado agrave desproteccedilatildeo de mulheres e meninas na incapacidade de protegecirc-las de estupros e

assassinatos em campos de refugiados aleacutem de natildeo responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores

Na responsabilidade indireta do Estado o iliacutecito eacute cometido por simples particulares

ou por uma coletividade que o Estado representa na esfera internacional Como exemplo os

iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob tutela estatal ou ainda por um Estado que a

protege Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

Portanto para o estudo deste instituto da responsabilidade internacional do Estado

estudaremos inicialmente a natureza juriacutedica desta a proteccedilatildeo diplomaacutetica e a apresentaccedilatildeo

de reclamaccedilotildees diplomaacuteticas a atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos internos as formas de responsabilidade

internacioal os requisitos de apresentaccedilatildeo de reclamaccedilotildees internacionais perante um dos

Sistemas de proteccedilatildeo de Direitos Humanos o SIDH7

1 - NATUREZA JURIacuteDICA DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Estudo das organizaccedilotildees internacionais eacute hoje um dos mais importantes dentre as

disciplinas do moderno Direito Internacional Puacuteblico tanto eacute assim que a Comissatildeo de

Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas o colocou no rol dos quatorze problemas

prioritaacuterios do direito das gentes em sua primeira sessatildeo de 1949 (AREacuteCHAGA 1991)

O caso ceacutelere que deflagrou a moderna teoria da responsabilidade internacional do

Estado ocorreu em 17 de setembro 1948 quando o mediador da ONU na Palestina o conde

sueco Folke Bernadotte foi assassinado em Jerusaleacutem Junto com ele morreu o coronel

6 Art 8ordm do Draft Articles on Responsibility of States for International wrongful acts ldquoConsiderar-se-aacute ato

estatal a conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo 7 Sistema Interamericano de Direitos Humanos

124

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

Andreacute Seacuterot que liderava os observadores franceses Vaacuterios outros agentes internacionais

sofreram danos pessoais em relaccedilatildeo aos quais reclamaram indenizaccedilatildeo (RESEK 2012)

A ONU entatildeo por meio de Resoluccedilatildeo de 3 de dezembro de 1948 solicitou um

parecer consultivo agrave CIJ a qual em 11 de abril de 1949 manifestou-se no sentido de poder

a organizaccedilatildeo internacional apresentar uma reclamaccedilatildeo ao governo de jure ou de facto

responsaacutevel pelo iliacutecito a fim de poder reparar-se do dano sofrido Entendeu a Corte que a

ONU como sujeito de direito das gentes que eacute detentora de personalidade juriacutedica distinta

da dos seus membros teria legitimidade ativa para vindicar os seus direitos por via de

reclamaccedilatildeo internacional (RESEK 2012)

Esse fato demonstra que o conceito de responsabilidade internacional tambeacutem eacute

extensiacutevel agraves organizaccedilotildees internacionais intergovernamentais que podem reclamar

direitos mas tambeacutem serem demandadas por eventual violaccedilatildeo de normas internacionais

que acarretem prejuiacutezos a terceiros A responsabilidade internacional estaacute atrelada a uma

ideia de justiccedila estando os Estados diretamente vinculados ao que assumiram no cenaacuterio

internacional devendo observar a boa-feacute sem prejuiacutezo aos sujeitos do direito das gentes

(MAZZUOLI 2016)

O Estado eacute internacionalmente responsaacutevel por toda accedilatildeo ou omissatildeo que lhe seja

imputaacutevel de acordo com as regras do Direito Internacional Puacuteblico e das quais resulte

violaccedilatildeo abstrata de uma norma juriacutedica internacional por ele anteriormente aceita

(MAZZUOLI 2016)

A Comissatildeo de Direito Internacional das Naccedilotildees Unidas aprovou o texto do

primeiro projeto (draft) de convenccedilatildeo internacional sobre responsabilidade do Estado por

atos internacionalmente iliacutecitos (Draft Articles on Responsibility of States for

Internationally Wrongful Acts) desenvolvido com base nos trabalhos de sistematizaccedilatildeo do

Prof Roberto Ago O projeto inicial iniciado em 1997 foi revisto pela mesma Comissatildeo

agora sob a relatoria do Prof James Crawford e finalmente aprovado em 9 de agosto de

2001 na sua 53˚ Sessatildeo Apoacutes sua aprovaccedilatildeo o projeto foi encaminhado agrave Assembleia-

Geral da ONU para que esta verifique e ateacute o presente momento isso natildeo ocorreu a

possibilidade de adoccedilatildeo do seu texto abrindo-se a oportunidade para as assinaturas e

respectivas ratificaccedilotildees dos Estados Frise-se que na ONU o draft poderaacute sofrer alteraccedilotildees

por sugestatildeo dos Estados quando entatildeo um texto possivelmente diverso do originalmente

apresentado poderaacute ser adotado pela CDI (CRAWFORD 2012)

125

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

Apesar de natildeo passar de um projeto de convenccedilatildeo sobre responsabilidade dos

Estados sequer ainda adotado e em vigor o certo eacute que o draft elaborado pela CDI jaacute tem

servido de guia para vaacuterios tribunais internacionais (CRAWFORD 2012)

Deveraacute haver a responsabilidade do Estado baseada natildeo apenas na culpa

entendendo-se que todas as vezes que natildeo se puder vislumbrar o nexo de causalidade entre

o comportamento da Administraccedilatildeo e o prejuiacutezo sofrido pelo lesado (dano) natildeo se poderaacute

afirmar a existecircncia de responsabilidade objetiva (KELSEN 1945)

Com respeito aos indiviacuteduos nas quais suas condutas constituam em crime

internacional em princiacutepio haveraacute o caraacuteter da culpabilidade Hans Kelsen em seu livro

General theory of law and state enfatiza este posicionamento

[] mas o Estado natildeo poder esquivar-se da responsabilidade provando

apenas que seus oacutergatildeos natildeo intencionalmente e natildeo maliciosamente

violaram uma norma de direito internacional Se a responsabilidade eacute

baseada na culpa (culpabilidade) eacute entendido natildeo apenas os casos em que a

violaccedilatildeo foi cometida negligentemente a responsabilidade internacional do

Estado tem com respeito aos indiviacuteduos responsaacuteveis coletivamente a

caracteriacutestica de responsabilidade objetiva mas com respeito aos indiviacuteduos

nas quais suas condutas constituam em crime internacional em princiacutepio o

caraacuteter da culpabilidade Se entretanto a negligecircncia natildeo eacute concebida

como um tipo de culpa ndash (culpa) ndash e assinalamos a opiniatildeo correta ndash a

responsabilidade internacional do estado tem como caracteriacutestica a

responsabilidade objetiva em todo respeito (KELSEN 1945 p 360 ndash

traduccedilatildeo nossa)

A teoria subjetivista da responsabilidade internacional do Estado sustenta que a

responsabilidade internacional do Estado deve derivar de ato culposo (stricto sensu) ou

doloso em termos de vontade de praticar o ato ou evento danoso (MAZZUOLI 2016) Ou

seja natildeo basta a praacutetica de um ato internacional objetivamente iliacutecito tambeacutem eacute necessaacuterio

que o Estado que o praticou tenha agido com culpa (imprudecircncia negligecircncia ou imperiacutecia)

ou dolo intencional (KELSEN 1945)

A doutrina objetivista ou teoria do risco por sua vez pretende demonstrar a

existecircncia da responsabilidade do Estado no simples fato de ter ele violado uma norma

internacional que deveria respeitar natildeo se preocupando em saber quais foram os motivos

ou os fatos que o levaram a atuar delituosamente (KELSEN 1945)

126

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

Para esta teoria a responsabilidade do Estado surge em decorrecircncia do nexo de

causalidade existente entre o ato iliacutecito praticado pelo Estado e o prejuiacutezo sofrido por outro

sem necessidade de se recorrer ao elemento psicoloacutegico para auferir a responsabilidade

daquele (MAZZUOLI 2016)

4 FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Formas conhecidas de responsabilidade internacional dos Estados sendo as mais

comuns as seguintes espeacutecies a) Responsabilidade direta (principal) e b) indireta

(subsidiaacuteria) por c) comissatildeo e d) por omissatildeo e) convencional e f) delituosa Seratildeo todas

devidas quer em relaccedilatildeo aos danos materiais quer aos danos morais (MAZZUOLI 2016)

A Responsabilidade direta (ou principal) ocorre quando o ato iliacutecito (positivo ou

negativo) for praticado pelo proacuteprio governo estatal por oacutergatildeo governamental por

funcionaacuterio de seu governo ou por uma coletividade puacuteblica do Estado que age em nome

dele (ACCIOLY 2017) Tambeacutem se enquadram nesta categoria os atos praticados por

particulares quando a praacutetica do ato decorre da atitude do Estado em relaccedilatildeo a este

particular ou seja quando a a atividade do particular possa ser imputada ao Estado

(RESEK 2012) O artigo 8ordm do draft da ONU dispotildee ldquoConsiderar-se-aacute ato estatal a conduta

de uma pessoa ou grupo de pessoas agindo por instruccedilotildees ou sob a direccedilatildeo ou controle

daquele Estado ao executar a condutardquo (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

A responsabilidade indireta (subsidiaacuteria) seraacute indireta a responsabilidade quando o

iliacutecito for cometido por simples particulares ou por um grupo ou coletividade que o Estado

representa na esfera internacional Exemplo iliacutecitos cometidos por uma comunidade sob

tutela estatal (um territoacuterio sob mandato etc) ou ainda por um Estado que o protege

(ACCIOLY 2017)

Os atos tipicamente particulares praticados por indiviacuteduos que natildeo representam

formalmente o Estado natildeo podem dar causa a responsabilidade internacional do Estado

(ACCIOLY 2017)

A responsabilidade seraacute por comissatildeo quando o iliacutecito internacional for decorrente

de uma accedilatildeo positiva do Estado ou de seus agentes e por omissatildeo quando o Estado (ou

127

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

seus agentes) se omitir ou deixar de praticar um um ato requerido pelo DIP em relaccedilatildeo ao

qual ele tinha o dever juriacutedico de praticar (MAZZUOLI 2016)

A responsabilidade seraacute convencional quando resultar do descumprimento da

violaccedilatildeo de um tratado internacional de que eacute parte este mesmo Estado ou ainda em

relaccedilatildeo ao qual o mesmo estaacute juridicamente obrigado Seraacute delituosa a responsabilidade

por sua vez quando o ato iliacutecito praticado pelo Estado se der em violaccedilatildeo de uma norma

proveniente do direito costumeiro internacional (MAZZUOLI 2016)

3 ATUACcedilAtildeO DE ORGAtildeOS INTERNOS DOS ESTADOS NA

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

O Institut de Droit International na sua sessatildeo de Lausanne de 1927 da qual foi

relator o Sr Leo Strissower manisfestou-se expressamente no sentido de que o Estado seria

responsaacutevel pelos danos causados aos estrangeiros (por todas as accedilotildees ou omissotildees

contraacuterias agraves suas obrigaccedilotildees internacionais) natildeo tomando partido na controveacutersia relativa

agrave questatildeo de culpa qualquer que seja a autoridade do Estado de onde elas provecircm

constituinte legislativa governamental ou judiciaacuteria (MAZZUOLI 2016)

O Poder Executivo ainda eacute o grande vilatildeo e maior responsaacutevel pelo cometimento de

iliacutecitos e pela violaccedilatildeo de normas internacionais quer por meio da atividade

governamental quer pela accedilatildeo funcional de seus servidores Todos os atos iliacutecitos

internacionais praticados pelo Executivo diretamente ou pelos seus funcionaacuterios e agentes

tanto no acircmbito interno como no acircmbito internacional satildeo geradores de responsabilidade

Satildeo exemplos de tais praacuteticas levadas a efeito diretamente pelo Executivo a conclusatildeo de

contratos ou concessotildees prisotildees ilegais ou arbitraacuterias a concessatildeo de anistia contraacuteria agraves

regras do Direito Internacional (BUERGENTHAL 1990)

Como exemplos temos a violaccedilatildeo dos tratados o descumprimento dos laudos

arbitrais e decisotildees judiciaacuterias internacionais a violaccedilatildeo da fronteira de outro Estado em

tempo de paz as injusticcedilas cometidas contra estrangeiros etc (BUERGENTHAL 1990)

O descumprimento de proteccedilatildeo agraves pessoas acreditadas por potecircncias estrangeiras

como os chefes de Estados representantes diplomaacuteticos e chefes de delegaccedilotildees

128

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

internacionais tambeacutem torna o Executivo responsaacutevel internacionalmente uma vez que eacute

seu dever proteger essas pessoas quando estatildeo em seu territoacuterio (BUERGENTHAL 1990)

Quanto agrave inexecuccedilatildeo de decisotildees judiciaacuterias de uacuteltima instacircncia favoraacuteveis a

estrangeiros natildeo se tratam propriamente de denegatio justitia por natildeo se tratar de ato de

oacutergatildeo judiciaacuterio natildeo obstante vaacuterias decisotildees arbitrais e judiciaacuterias a esta se equipararem

A inexecuccedilatildeo neste caso representa praticamente o mesmo que a ausecircncia da devida

proteccedilatildeo judiciaacuteria e portanto deve acarretar a responsabilidade internacional do Estadordquo

(ACCIOLY 2017)

O Estado responde pelo iliacutecito internacional por atos iliacutecitos cometidos por agentes

ou funcionaacuterios do Executivo tanto em territoacuterio nacional quanto em territoacuterio estrangeiro

A qualidade oficial do funcionaacuterio (que agiu na qualidade de oacutergatildeo estatal) vincula sempre

o Estado (que natildeo deixa de estar ligado ao seu agente) salvo se sua incompetecircncia era tatildeo

flagrante que deveria tecirc-la percebido o estrangeiro lesado O que se leva em consideraccedilatildeo

para a afericcedilatildeo do quantum de sua responsabilidade eacute o fato de ter o funcionaacuterio agido nos

limites aparentes de suas funccedilotildees A aparecircncia dos atos de tais funcionaacuterios que satildeo

geralmente agentes diplomaacuteticos cocircnsules ou oficiais militares eacute suficiente para atribuir ao

Estado lesado os direitos de imputar ao outro sua responsabilidade internacional (que neste

caso seraacute objetiva) (MAZZUOLI 2016)

Como exemplo pensemos no caso da Reclamaccedilatildeo Massey Massey foi assassinado

por autoridades mexicanas Ocorre que este tratava - se de um cidadatildeo norte-americano (Sr

Massey) A reclamaccedilatildeo foi apresentada em nome da viuacuteva deste a tiacutetulo pessoal e como

tutora dos dois filhos menores do casal A reclamaccedilatildeo fez com que os Estados Unidos

recebessem 15000 doacutelares em 1927 O Meacutexico natildeo tomou as medidas necessaacuterias para que

Massey natildeo fosse assassinado Foi aplicado o princiacutepio de que sempre que uma conduta

iliacutecita por parte de pessoas (a serviccedilo do Estado) resultar no natildeo cumprimento por parte de

uma naccedilatildeo das suas obrigaccedilotildees em virtude do Direito internacional essa naccedilatildeo deve arcar

com a responsabilidade pelos atos iliacutecitos dos seus funcionaacuterios8 (BROWLIE e BAKER

1990)

De acordo com o que decidiu a antiga Corte Permanente de Justiccedila em 1932 o

Poder Legislativo viola o Direito Internacional em quatro hipoacuteteses distintas A primeira

quando o Parlamento edita leis contraacuterias ao conteuacutedo de tratados internacionais

8 Cf Ian Brownlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit p 472

129

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

anteriormente aprovados por ele mesmo e jaacute em vigor internacional burlando aquilo que o

Estado pactuou internacionalmente9 a segunda tem lugar quando o legislativo revoga certa

lei necessaacuteria agrave correta aplicaccedilatildeo de um tratado deixando o instrumento inoperaacutevel por

ausecircncia de base legislativa a terceira quando o Legislativo incorre em responsabilidade

internacional se deixa de aprovar determinada legislaccedilatildeo necessaacuteria ao cumprimento do

tratado ratificado e em vigor por fim a quarta ocorre quando o Legislativo deixa de

revogar legislaccedilatildeo contraacuteria ao conteuacutedo de um tratado em vigor no Estado (CIJ 2018)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos respondeu agrave questatildeo da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de leis contraacuterias a tratados e quais seriam os efeitos juriacutedicos da lei que

manifestamente viola obrigaccedilotildees que o Estado-parte contraiu ao ratificar a Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos apresentada pela Comissatildeo Interamericana de Direitos

Humanos (CORTE IDH 1994)

Na Opiniatildeo Consultiva n˚ 14 de 9 de dezembro de 1994 a Corte IDH concluiu que

a promulgaccedilatildeo de uma lei manifestamente contraacuteria agraves obrigaccedilotildees assumidas por um

Estado ao ratificar ou aderir agrave Convenccedilatildeo constitui uma violaccedilatildeo capaz de gerar quando

afete direitos e liberdades protegidos de determinados indiviacuteduos a responsabilidade para

esse mesmo Estado Outrossim agrave luz das regras do Direito Internacional natildeo se pode

invocar disposiccedilotildees do Direito interno estatal como justificativa para o descumprimento de

obrigaccedilotildees internacionais sect 35 (CORTE IDH 2018)

Os atos do poder judiciaacuterio satildeo atos estatais e como tais devem ser compreendidos

em mateacuteria de responsabilidade internacional pois a atuaccedilatildeo jurisdicional tambeacutem pratica

iliacutecito internacional (CRAWFORD 2012) Isso ocorre quando a justiccedila de um paiacutes julga

em desacordo com tratado internacional ratificado pelo Estado e em vigor internacional ou

mesmo quando natildeo julga com base em tratado internacional que deveria conhecer

denegando o direito da parte que o invoca com base em convenccedilotildees internacionais

(HENKIN1990)

Trata-se neste caso da hipoacutetese em que o Estado por meio do seu Poder Judiciaacuterio

recusa deliberadamente a aplicaccedilatildeo da justiccedila impossibilitando por exemplo um

estrangeiro de obter o provimento que solicita (caso em que passa a caber a este o

instrumento da reclamaccedilatildeo diplomaacutetica) ou mesmo quando a decisatildeo judicial eacute contraacuteria agraves

9 Conforme posicionamento da antiga CPJI de 1932 um Estado natildeo pode invocar contra outro Estado sua

proacutepria Constituiccedilatildeo esquivando-se de obrigaccedilotildees que lhe incumbem em virtude de Direito Internacional ou

de tratados vigentes Este posicionamento segue em consonacircncia com a jurisprudecircncia da CIJ

130

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

obrigaccedilotildees internacionais assumidas pelo Estado no acircmbito internacional (MAZZUOLI

2016)

Natildeo satildeo estranhos ao Direito Internacional determinados atos praticados por

indiviacuteduos na sua condiccedilatildeo de particular Estes atos lhes satildeo diretamente imputaacuteveis tais

como a pirataria o traacutefico de entorpecentes e drogas afins o traacutefico de escravos e ainda o

transporte de produtos contrabandeados (MAZZUOLI 2016)

Tambeacutem temos os mais comuns deles que satildeo os atentados praticados por

indiviacuteduos contra chefes de Estado estrangeiro ou contra os seus representantes

diplomaacuteticos os insultos agrave bandeira ou aos siacutembolos nacionais de determinado Estado as

publicaccedilotildees injuriosas contra a dignidade do outro Estado os atos de apoio armado a uma

insurreiccedilatildeo etc (MAZZUOLI 2016) Tais atos natildeo acarretam necessariamente a

responsabilidade internacional do Estado (KELSEN 1945)

Existem contudo certos atos praticados por particulares que satildeo capazes de onerar

o Estado respectivo de responsabilidade internacional Neste caso a responsabilidade

estatal natildeo decorre propriamente do ato de um indiviacuteduo que viacutenculo nenhum mantinha

com o Estado e que natildeo atuou em nome deste mas de uma conduta negativa do Estado

relativamente agraves obrigaccedilotildees que lhe impotildeem o Direito Internacional (MAZZUOLI 2016)

Outro caso comum de ocorrer eacute o dano ou a violecircncia a estrangeiros cometidos por

particulares no territoacuterio do Estado A responsabilidade neste caso existe pela culpa do

Estado (sem a qual natildeo haacute que se falar em responsabilidade) que podendo evitar o ato

lesivo natildeo o evitou ou ainda que tendo tomado conhecimento do fato subtraiu o

delinquente agrave puniccedilatildeo (ACCIOLI 2017) Em suma natildeo eacute o ato do indiviacuteduo em si que

acarreta a responsabilidade internacional do Estado mas a conduta deste proacuteprio que natildeo

observou o que o Direito Internacional Puacuteblico lhe impotildee em relaccedilatildeo a pessoas ou bens em

seu territoacuterio (ACCIOLI 2017)

As lesotildees aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares natildeo acarretam a

responsabilidade internacional do Estado Neste caso a soluccedilatildeo seria a de responsabilizar o

autor do ato nas esferas civil e criminal Ocorre que se natildeo se puder com um miacutenimo de

razoabilidade atribuir ao Estado respectivo a negligecircncia ou cumplicidade na praacutetica do ato

manifestado pelo seu suacutedito o mesmo ficaraacute desonerado de responder internacionalmente

pelo ato do particular (BEVILACQUA 1939)

131

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

4 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

Natildeo satildeo todos os iliacutecitos internacionais que acarretam a responsabilidade

internacional do Estado (BUERGENTHAL 1990) Existem determinadas circunstacircncias

capazes de excluiacute-la Estas circunstacircncias satildeo causas de justificaccedilatildeo e permitem a um

Estado ou outro sujeito vinculado a uma norma internacional pratique licitamente um ato

que em condiccedilotildees normais seria tido por iliacutecito Destaque-se que segundo o draft uma

norma de jus cogens de Direito Internacional Geral natildeo comporta exceccedilotildees de excludentes

de ilicitude Portanto um Estado que viola o jus cogens internacional natildeo teraacute meios de se

livrar da responsabilidade internacional decorrente de sua violaccedilatildeo (NACcedilOtildeES UNIDAS

2018)

Entre os meios de exclusatildeo de ilicitude encontram-se

a) Consentimento do Estado O consentimento vaacutelido dado por um Estado agrave

realizaccedilatildeo de determinado ato por outro Estado exclui a ilicitude daquele ato em relaccedilatildeo a

este uacuteltimo Trata-se da regra volenti non fit injuria (ldquonatildeo haacute injuacuteria quando haacute

consentimentordquo) agrave teoria da responsabilidade internacional [](MAZZUOLI 2016)

b) Legiacutetima defesa Exclui-se a ilicitude de um ato se o mesmo resulta em legiacutetima

defesa Este pressupotildee sempre uma agressatildeo armada injusta e uma reaccedilatildeo estatal imediata

Esta ocorre em razatildeo da necessidade de defesa necessaacuteria agrave preservaccedilatildeo de pessoas e da

dignidade do Estado Tambeacutem ocorre por meio de uma medida liacutecita de defesa sendo

necessaacuteria e proporcional ao ataque ou perigo eminente (MAZZUOLI 2016)

c) Contramedidas Outrora chamada de represaacutelias as contramedidas satildeo em

verdade atos iliacutecitos Justificam-se porque seriam a uacutenica forma de revidar outros atos

iliacutecitos cometidos pelo Estado agressor Para a CDI da ONU as contramedidas tecircm como

finalidade resolver o problema em causa Estas satildeo admitidas somente quando tiverem por

fundamento um ataque preacutevio do outro Estado contraacuterio ao direito do ofendido e forem

proporcionais ao ataque Em suma consoante James Crawford trata-se da possibilidade que

o Estado possui de recorrer agrave justiccedila privada (CRAWFORD 2012)

d) Forccedila maior O ato iliacutecito quando ocorra por meio de um evento externo

irresistiacutevel ou imprevisto seraacute acobertado pela excludente de responsabilidade

(CRAWFORD 2012)

132

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

e) Perigo extremo Esta excludente encontra-se no draft das Naccedilotildees Unidas no

artigo 24 sect 1ordm [] no qual ficaraacute excluiacuteda a ilicitude de um ato estatal em desacordo com

uma obrigaccedilatildeo internacional se o autor do ato em questatildeo natildeo dispotildee de nenhum outro

modo razoaacutevel em uma situaccedilatildeo de perigo extremo de salvar a vida do autor ou vidas de

outras pessoas confiadas aos seus cuidados (NACcedilOtildeES UNIDAS 2018)

f) Estado de necessidade O estado de necessidade eacute uma causa de exclusatildeo de

responsabilidade reconhecida pelo Direito Internacional costumeiro Poreacutem este natildeo

desonera o Estado de sua responsabilidade internacional uma vez que natildeo eacute facultada a

nenhuma potecircncia estrangeira a proteccedilatildeo de seu territoacuterio em detrimento dos direitos de

terceiros Quanto ao draft da convenccedilatildeo da ONU este segue esta vertente doutrinaacuteria

(BUERGENTHAL 2012)

g) Renuacutencia do indiviacuteduo lesado Trata-se da chamada doutrina Calvo Carlos

Calvo10 cujos ensinamentos satildeo remetidos por Valerio de Oliveira Mazzuoli parte de um

pressuposto que um particular pode renunciar agrave proteccedilatildeo pela via diplomaacutetica por meio de

um contrato preacutevio com um governo estrangeiro Seria tal doutrina baseada numa claacuteusula

inserta nos contratos celebrados pelo Estado com concessionaacuterios estrangeiros estes

uacuteltimos comprometem-se a natildeo recorrer agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica dos seus paiacuteses de origem

caso surjam ali questotildees sobre a inexecuccedilatildeo ou execuccedilatildeo desses mesmos contratos Essa

claacuteusula Calvo tem aplicaccedilatildeo na praacutetica quanto a contratos de concessatildeo em que os

nacionais estrangeiros renunciam agrave proteccedilatildeo diplomaacutetica de seu Estado patrial em caso de

litiacutegio judicial envolvendo o objeto do contrato Foi reconhecida que a proteccedilatildeo diplomaacutetica

pode ser dispensada a estrangeiros e renunciada por estes entretanto natildeo passou imune a

criacuteticas principalmente a de que a proteccedilatildeo diplomaacutetica natildeo seria direito disponiacutevel do

particular mas de seu Estado de origem Essa claacuteusula possui um ecircxito crescente em sua

utilizaccedilatildeo (CALVO 1887 apud MAZZUOLI 2016)

5 PROTECcedilAtildeO DIPLOMAacuteTICA

A proteccedilatildeo diplomaacutetica eacute aquela em que se opera de Estado para Estado Ocorre

que um indiviacuteduo viacutetima de violaccedilatildeo de direitos ajuiacuteza uma queixa chamada de

10 Cf Le droit international theorique et pratique Quatrieacuteme eacutedition revue et completeacutee Paris

133

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

reclamaccedilatildeo ao Estado de sua nacionalidade com a finalidade deste a proteger

internacionalmente Quando o Estado oferece essa proteccedilatildeo ele endossa a reclamaccedilatildeo da

viacutetima e toma como sua a queixa alegada11 (CRAWFORD 2012)

Satildeo condiccedilotildees para a concessatildeo do endosso desde o momento da ocorrecircncia da

lesatildeo ateacute a decisatildeo final

a) ser a viacutetima (pessoa fiacutesica ou juriacutedica) nacional do Estado reclamante ou pessoa sob

sua proteccedilatildeo A naturalizaccedilatildeo com a exclusiva finalidade de ser protegida

diplomaticamente natildeo autoriza a concessatildeo do endosso12 (BROWLIE e BAKER

1990) Destaque - se que a proteccedilatildeo diplomaacutetica deve ser requerida ao Estado de

origem (de nacionalidade) do indiviacuteduo e natildeo ao seu Estado de residencia

(MAZZUOLI 2016)

b) ter a viacutetima esgotado os recursos internos (administrativos ou judiciais) disponiacuteveis

para a salvaguarda dos seus direitos violados (desde que eacute claro essas vias internas

existam e que haja a possibilidade concreta de serem elas previamente esgotadas e

desde que tambeacutem natildeo haja evidente denegaccedilatildeo de justiccedila (BROWLIE e BAKER

1990)

Como regra para que um Estado possa exercer a proteccedilatildeo diplomaacutetica em favor dos

seus nacionais (protegendo direitos destes viacutetimas de violaccedilotildees do Direito Internacional) eacute

necessaacuterio que antes disso o sujeito lesado esgote todos os recursos juriacutedicos internos dos

tribunais do Estado que cometeu o iliacutecito ou do Estado onde este iliacutecito foi cometido Trata-

se da regra universalmente aceita do preacutevio esgotamento dos recursos internos (no francecircs

eacutepuisement preacutealable des recours internes) (TRINDADE 2012) Portanto a

responsabilidade internacional do Estado natildeo se acharaacute comprometida antes de esgotados

todos os meios possiacuteveis previstos no Direito Interno (CRAWFORD 2012)

O fundamento em ser assim a regra encontra suporte na subsidiariedade do sistema

protetivo internacional relativamente ao sistema judiciaacuterio interno Esse fundamento

encontra-se na interpretaccedilatildeo no Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN

2015) Natildeo se pode aguardar eternamente o pronunciamento da mais alta corte de um paiacutes

11 Cf Res 6267 (8 January 2008) Sobre o trabalho da CDI nesse tema v James Crawford Browlie`s

principles of public international law 12 Caso Nottebohm de 6 de abril de 1955 V Ian Browlie Princiacutepios de direito internacional puacuteblico cit pp

377-380

134

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

principalmente naqueles Estados em que a boa vontade na resoluccedilatildeo dos litiacutegios parece natildeo

ocorrer (PIOVESAN 2015)

Entende-se ser justa a exigecircncia do preacutevio esgotamento dos recursos porque se daacute

oportunidade ao Estado de reparar a questatildeo dentro do seu ordenamento juriacutedico se impede

que seja deflagrada uma demanda internacional sem motivo justificaacutevel e se evitam os

pedidos de proteccedilatildeo diplomaacutetica abusivos (MAZZUOLI 2016)

Em suma o esgotamento de todos esses recursos significa no Brasil chegar ao

Supremo Tribunal Federal que eacute a uacuteltima instacircncia judiciaacuteria da Justiccedila brasileira (salvo se

a uacuteltima instacircncia da causa for o Superior Tribunal de Justiccedila nos casos em que natildeo estiver

presente a competecircncia do STF) Mesmo que o recurso agrave uacuteltima instacircncia tenha sido eficaz

(provido) para o reclamante pode este uacuteltimo bater agraves portas do judiciaacuterio internacional

demonstrando interesse e seus direitos eventualmente natildeo concedidos integralmente no

plano interno (MAZZUOLI 2016)

Dada a asserccedilatildeo das normas de proteccedilatildeo dos direitos humanos em niacutevel mundial

esta regra pode ser flexibilizada ou mitigada em determinados casos como na denegaccedilatildeo

de justiccedila ou quando os recursos internos se mostrem flagrantemente falhos inoperantes

ou inacessiacuteveis ao sujeito lesado quando entatildeo fica permitido desde esse momento o

ingresso com a reclamaccedilatildeo pela via diplomaacutetica (MAZZUOLI 2016)

Marco Gerardo Monroy Cabra discorre que ainda eacute condiccedilatildeo para a concessatildeo do

endosso

c) ter a viacutetima agido corretamente e sem culpa ou seja natildeo ter ela contribuiacutedo

com seu proacuteprio comportamento agrave criaccedilatildeo do dano (instituiccedilatildeo conhecida como teoria das

matildeos limpas) (CABRA 1998)

Por outro lado quando se tem em jogo um ato iliacutecito cometido por particular natildeo

seraacute o seu Estado respectivo que sofreraacute a responsabilizaccedilatildeo internacional e natildeo o proacuteprio

particular (a menos que este ato natildeo configure a violaccedilatildeo de um tipo penal internacional

caso em que esta responsabilidade seraacute pessoal) (KELSEN 1945)

Como a teoria da responsabilidade internacional tem sido tambeacutem aplicada agraves

organizaccedilotildees internacionais elas podem inclusive utilizar - se da proteccedilatildeo diplomaacutetica em

135

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

relaccedilatildeo aos seus funcionaacuterios de que foi exemplo o caso Bernadotte13 mencionado alhures

(CIJ 2018)

A proteccedilatildeo diplomaacutetica em certos casos tambeacutem pode ser exercida pelas agecircncias

ou organismos internacionais especializados da ONU14 Esses casos satildeo variantes modernas

da chamada proteccedilatildeo diplomaacutetica que natildeo se confunde com os privileacutegios e imunidades

diplomaacuteticas aos quais a doutrina atribui o nome de proteccedilatildeo funcional (CIJ 2018)

Assim tem-se a proteccedilatildeo diplomaacutetica para os casos relativos ao endosso do Estado

na salvaguarda dos direitos dos seus nacionais e a proteccedilatildeo funcional para aqueles

atinentes agrave proteccedilatildeo que as organizaccedilotildees internacionais datildeo agravequeles funcionaacuterios que se

encontram a seu serviccedilo A proteccedilatildeo funcional baseia-se na ideia de que os agentes que

servem a determinada organizaccedilatildeo internacional natildeo devem precisar de outra proteccedilatildeo que

natildeo aquela da organizaccedilatildeo para a qual trabalha Tais agentes natildeo devem depender da

proteccedilatildeo do seu Estado patrial nestes casos sendo essencial que a sua proteccedilatildeo advenha da

proacutepria organizaccedilatildeo a que estaacute servindo naquele momento (MAZZUOLI 2016)

51 APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES DIPLOMAacuteTICAS

Nos casos em que o indiviacuteduo natildeo obtenha a satisfaccedilatildeo de seus direitos (tendo entatildeo

esgotado os recursos internos dos tribunais desse estado sem que seu direito fosse

reconhecido) seu Estado patrial pode discricionariamente tornar sua a reclamaccedilatildeo de seu

nacional trazendo para si as violaccedilotildees passando entatildeo a atuar como Estado em nome

daqueles que tiveram seus direitos violados pela outra potecircncia soberana (BROWLIE e

BAKER 1990)

Seratildeo partes este Estado e aquele outro Estado o qual se faz a reclamaccedilatildeo Em

muitos casos uma soluccedilatildeo amigaacutevel resolve o problema Mas caso esta natildeo surta efeitos os

Estados-partes no litiacutegio podem optar pelo estabelecimento de um tribunal arbitral

internacional ou em uacuteltimo caso bater agraves portas da CIJ (BUERGENTHAL 1976) Mas

frise-se que em caso de condenaccedilatildeo pecuniaacuteria tudo que eacute recebido pelo Estado

reclamante passa a ser propriedade exclusiva deste ainda que o seu Direito interno exija

13 Foi o que decidiu a Corte Internacional de Justiccedila no parecer consultivo de 11 de abril de 1949 Reacuteparations

des dommages au servisse des Nations Unies inICJ Reports (1949) 14 Posicionamento da antiga CPJI de 1932

136

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

um repasse desse montante para a pessoa fiacutesica ofendida que ele representou

internacionalmente (BUERGENTHAL 1990)

Para que um Estado apresente uma reclamaccedilatildeo internacional contra outro consoante

Ian Brownlie satildeo necessaacuterios o cumprimento de alguns requisitos como a) O Correto

endereccedilamento sob pena de o outro Estado alegar em exceccedilotildees preliminares a

incompetecircncia do tribunal caso a reclamaccedilatildeo eacute obvio tenha sido proposta perante um

tribunal internacional b) Interposiccedilatildeo no correto prazo (ratione temporis) ensejador de

exceccedilatildeo impeditiva da anaacutelise do meacuterito e somente em casos excepcionais os tribunais

podem aceitar reclamaccedilotildees extemporacircneas Somente podem aceitar casos excepcionais

quando o Estado peticionaacuterio prova que a perda do prazo se deu em virtude de ameaccedila ou

uso da forccedila por parte do Estado reclamado c) O interesse juriacutedico do autor da demanda

(BROWNLIE e BAKER 1990)

6 REQUISITOS PARA A APRESENTACcedilAtildeO DE RECLAMACcedilOtildeES

INTERNACIONAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

Consoante Heacutector Gros Espiell para que a peticcedilatildeo sobre violaccedilatildeo da Convenccedilatildeo dos

direitos humanos seja reconhecida pela Comissatildeo esta deveraacute preencher os seguintes

requisitos previstos no art 46 sect 1ordm da Convenccedilatildeo Americana

a) que tenham sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdiccedilatildeo interna

(ESPIELL 1968)

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisatildeo definitiva

(ESPIELL 1968)

c) que a mateacuteria da peticcedilatildeo ou comunicaccedilatildeo natildeo esteja pendente de outro processo

de soluccedilatildeo internacional (ou seja que natildeo haja litispendecircncia ou coisa julgada

internacionais) (ESPIELL 1968)

137

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

d) e que no caso do art 44 a peticcedilatildeo contenha o nome a nacionalidade o

domiciacutelio a profissatildeo e a assinatura da pessoa ou do representante legal da entidade que

submeter a peticcedilatildeo (ESPIELL 1968)

Entretanto quanto ao primeiro e ao segundo requisito deve-se observar o disposto

no sect2ordm do mesmo art46 segundo o qual as aliacuteneas a e b supratranscritas natildeo se aplicaratildeo

quando

a) natildeo existir na legislaccedilatildeo interna do Estado de que se tratar o devido processo

legal para a proteccedilatildeo do direito ou direitos que se alegue que tenham sido violados

(ESPIELL 1968)

b) natildeo se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdiccedilatildeo interna ou houver sido ele impedido de esgotaacute-los e c) houver

demora injustificada na decisatildeo sobre os mencionados recursos (ESPIELL 1968)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar das sanccediloes impostas por Tribunais Internacionais e Tribunais estrangeiros

apoacutes a condenaccedilatildeo dos paiacuteses por cometimento de ato iliacutecito ainda existe uma insuficiecircncia

do sistema de sanccedilotildees no Direito Internacional aplicadas por instituiccedilotildees que visam a

proteccedilatildeo de interesses de alguns paiacuteses como exemplo a OEA

A responsabilidade individual perante Tribunais Internacionais (agora mais niacutetida

com a criaccedilatildeo do Tribunal Penal Internacional) eacute subsidiaacuteria das jurisdiccedilotildees estatais e tem

um relevo por enquanto menor no plano externo natildeo obstante a condenaccedilatildeo de indiviacuteduos

em tribunais penais internacionais encontrar-se cada vez mais em voga15

15 A responsabilidade penal no Direito Internacional soacute possui lugar excepcionalmente como nos casos de

genociacutedio dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade o que jaacute caracteriza a responsabilidade

pessoal do indiviacuteduo (notadamente perante o Tribunal Penal Internacional) Portanto a responsabilidade

internacional praticamente desconhece a responsabilidade penal como a imposiccedilatildeo de penas castigos ou

outras formas de repressatildeo criminal congecircneres

138

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

Jaacute a Responsabilidade perante os Sistemas Regionais de proteccedilatildeo de Direitos

Humanos podem ser realizadas por um particular contra um Estado por cometimento de

um ato iliacutecito e perante um Tribunal Internacional em vista do descumprimento de

Convenccedilatildeo Internacional ratificada e aprovada em acircmbito interno utilizando-se de

peticionamento por exemplo na Comissatildeo Interamericana de Direitos Humanos

Ademais demonstrou-se que no acircmbito civil a ocorrecircncia da responsabilidade

internacional objetiva do Estado perante Tribunais Internacionais prescindindo da prova de

culpa sendo tatildeo somente necessaacuterio a demonstraccedilatildeo do nexo de causalidade entre o

comportamento da administraccedilatildeo e o dano efetivo

Jaacute a responsabilidade subjetiva deveraacute ocorrer provando-se a culpa ou o dolo do

Estado nos casos em que natildeo houver o vislumbre mencionado alhures A responsabilidade

subjetiva deste sujeito de direito internacional deveria ocorrer somente quando a viacutetima

age com culpa ou dolo

Em relaccedilatildeo agrave proteccedilatildeo dos direitos humanos tem-se entendido que os Estados tecircm

obrigaccedilatildeo de controlar os seus oacutergatildeos e agentes internos a fim de evitar violaccedilotildees

sucessivas agraves obrigaccedilotildees contraiacutedas em sede convencional sob pena de responsabilidade

internacional objetiva

Esta teoria tem sido utilizada nos casos de responsabilidade por energia nuclear

bem como aos relativos agrave proteccedilatildeo internacional do meio ambiente e dos direitos humanos

mesmo que em pequena escala na jurisprudecircncia internacional percebendo-se um certo

aumento de decisotildees a seu favor o que contribui para dar maior efetividade principalemente

aos tratados de proteccedilatildeo dos direitos humanos e aos seus propoacutesitos

A jurisprudecircncia internacional entretanto ainda continua utilizando-se em larga

escala da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) visto que esta protege mais o Estado do

que a teoria objetivista ou do risco

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ACCIOLY Hildebrando Pompeo Pinto 2017 Manual de direito internacional

puacuteblico Hildebrando Accioly G E do Nascimento e Silva Paulo Borba Casella Satildeo

Paulo Saraiva Satildeo Paulo Saraiva

139

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

AREacuteCHAGA Eduardo Jimeacutenez de Derecho Internacional Puacuteblico volume IV p 34

University Culture Foundation 1991

BEVILAQUA Cloacutevis Direito puacuteblico internacional a synthese dos princiacutepios e a

contribuiccedilatildeo do Brasil Vol 1 Freitas Bastos 1939

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm gt

Aceso em 01022018

BROWNLIE Ian and BAKER Kathleen Principles of public international law Vol553

Oxford Clarendon Press 1990

BUERGENTHAL Thomas TORNEY Judith V International Human Rights and

International Education lt Disponiacutevel em httpsericedgovid=ED134514 gt Acesso em

09012018 1976 State University College at Buffalo Published by US National

Commission for UNESCO

BUERGENTHAL Thomas MAIER Harold G Public International Law in a Nutshell 2

ed Published by West Publishing Company 1990

CABRA Marco Gerardo Monroy Derecho internacional puacuteblico Temis 1998

CASSESE Antonio GAETA Paola Diritto Internazionale Bologna II mulino 2006

CIJ CORTE INTERNACIONAL DE JUSTICcedilA International Court of Justice

Disponiacutevel em lt httpwwwicj-cijorgen gt Acesso emgt 02022018

CORTEIDH Acesso em 08012018 lt Disponiacutevel em

httpwwwcorteidhorcrdocsopinionesseriea_21_porpdf gt

CRAWFORD James The International Law Comission`s articles on State Responsi- bility

- Introduction Text and Commentaries Cambridge University Press Cambridge 3 ed

2007

CRAWFORD James Brownlie`s principles of public international law Oxford Uni-

versity Press 2012

RIGHTS EUROPEAN COURT OF HUMAN Acesso em 03022018 Case of Ilias and

Ahmed v Hungary lt Disponiacutevel em

httpshudocechrcoeinteng22itemid22[22001-17209122]

140

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141

HENKIN Louis The age of rights 1 ordf ed Columbia University Press 1990

HUMANOS CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DOS DIREITOS Pacto de San Joseacute da

Costa Rica 1969 Acesso em v 28 2014 lt Disponiacutevel em

httpswwwcidhoasorgbasicosportuguescconvencao_americanahtm gt Acesso em

02022017

FIX-ZAMUDIO Hector Proteccioacuten juriacutedica de los derechos humanos estudios

comparatives Vol 91 Comision Nacional de Los Derechos Humanos 1999

KELSEN Hans General theory of law and state vl The Lawbook Exchange Ltd 1945

KELSEN Hans The Law of the United Nations a critical analysis of its fundamental

problems Lawbook Exchange Ltd New Jersey Edition 2011

MAZZUOLI Valerio de Oliveira GOMES Luis Flaacutevio Comentarios agrave Convenccedilatildeo

Americana Sobre Direitos Humanos 4ordf Ed Revista dos Tribunais 2013

MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de direito internacional puacuteblico 10 ed Rev dos

Tribunais 2016

MAZZUOLI Valerio de Oliveira The Inter-American Human Rights Protection System

Structure Functioning and Effectiveness in Brazilian Law Anuario mexicano de derecho

internacional 2011

NACcedilOtildeES UNIDAS CARTA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS DE 1948 2018 Disponiacutevel em lt

httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-xivindexhtml gt Acesso em 08012018

NACcedilOtildeES UNIDAS Draft Articles on Responsibility of States for Internationally Wrongful

Acts 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwunorgensectionsun-charterchapter-

xivindexhtml gt Acesso em 08012018

PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos e o Direito Constitucional internacional 15 ed

Cidade Saraiva 2015

RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 2016 Satildeo Paulo Saraiva 2016

RESEK Francisco Direito internacional puacuteblico 13ordf Ed Saraiva 2012

141