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1 Yahari Ore no Seishun Love Come wa Machigatteiru Volume 2 Capítulo 1: E então, Yuigahama Yui decide estudar 1 – 1 Um dos lados da sala dos professores havia sido transformado em uma área de recepção. Uma partição separava um sofá preto de couro e uma mesa de café do restante da sala. Havia uma janela próxima a essa área, da qual era possível ter uma extensa vista da biblioteca. Uma refrescante brisa de começo de Verão soprava pela janela aberta e uma fina folha de papel dançava com o vento. Essa cena sentimental roubou meu coração e eu segui os movimentos daquele pedaço de papel com meus olhos, curioso sobre o modo como ele iria cair. Gentilmente, agora. Como uma lágrima escorrendo, o papel flutuou em direção ao chão. E então -- *rip*. Um estilete o perfurou como uma lança. Um par de flexíveis pernas estava dobradas diante de mim. Eu não pude deixar de notar o quão longas e torneadas elas eram, mesmo apertadas pela calça do paletó. Ternos são muito elegantes, mas seu apelo muitas vezes deixa a desejar. Uma meia-calça teria cumprido a exigência sexy de uma mulher vestindo uma saia, mas quando as pernas estão escondidas por um terno e calças, elas parecem grosseiras e pouco refinadas. Se as pernas de uma mulher fossem magras e não tivessem apelo sexual, não haveria um ponto em ela usar terno e calças— ela iria parecer hedionda, na verdade. Mesmo assim, as pernas diante de mim eram diferentes. Elas tinham um tipo perfeito de simetria, tanto que não seria exagero dizer que a Proporção Áurea [1] estava agindo. Ah, mas isso não se aplica apenas às suas pernas. Seu colete apertado revelava a forma suave de suas curvas, e essas curvas chegavam ao cume em seu esplêndido busto antes de... OH, ESTE É O MONTE FUJI? Seu corpo era afinado da cabeça aos pés como um violino— mas não apenas um violino. Ela era orgulhosa, perfeitamente trabalhada como um Stradivarius [2] . O problema é que ela também tinha a forma de um terrível e irritado Buda, esculpido pelas mãos de um gênio. Ela era assustadora de uma perspectiva artística, cultural e histórica. Enquanto tragava distraidamente seu cigarro, minha professora de Japonês, Hiratsuka- sensei, lançou um olhar fulminante em minha direção.

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1

Yahari Ore no Seishun Love Come wa Machigatteiru

Volume 2

Capítulo 1: E então, Yuigahama Yui decide

estudar

1 – 1

Um dos lados da sala dos professores havia sido transformado em

uma área de recepção. Uma partição separava um sofá preto de couro e

uma mesa de café do restante da sala. Havia uma janela próxima a essa

área, da qual era possível ter uma extensa vista da biblioteca.

Uma refrescante brisa de começo de Verão soprava pela janela aberta

e uma fina folha de papel dançava com o vento. Essa cena sentimental

roubou meu coração e eu segui os movimentos daquele pedaço de papel com meus olhos,

curioso sobre o modo como ele iria cair. Gentilmente, agora. Como uma lágrima escorrendo, o

papel flutuou em direção ao chão.

E então -- *rip*. Um estilete o perfurou como uma lança.

Um par de flexíveis pernas estava dobradas diante de mim. Eu não pude deixar de notar o

quão longas e torneadas elas eram, mesmo apertadas pela calça do paletó.

Ternos são muito elegantes, mas seu apelo muitas vezes deixa a desejar. Uma meia-calça

teria cumprido a exigência sexy de uma mulher vestindo uma saia, mas quando as pernas

estão escondidas por um terno e calças, elas parecem grosseiras e pouco refinadas. Se as

pernas de uma mulher fossem magras e não tivessem apelo sexual, não haveria um ponto em

ela usar terno e calças— ela iria parecer hedionda, na verdade.

Mesmo assim, as pernas diante de mim eram diferentes. Elas tinham um tipo perfeito de

simetria, tanto que não seria exagero dizer que a Proporção Áurea[1] estava agindo.

Ah, mas isso não se aplica apenas às suas pernas. Seu colete apertado revelava a forma

suave de suas curvas, e essas curvas chegavam ao cume em seu esplêndido busto antes de...

OH, ESTE É O MONTE FUJI? Seu corpo era afinado da cabeça aos pés como um violino— mas

não apenas um violino. Ela era orgulhosa, perfeitamente trabalhada como um Stradivarius[2].

O problema é que ela também tinha a forma de um terrível e irritado Buda, esculpido pelas

mãos de um gênio. Ela era assustadora de uma perspectiva artística, cultural e histórica.

Enquanto tragava distraidamente seu cigarro, minha professora de Japonês, Hiratsuka-

sensei, lançou um olhar fulminante em minha direção.

2

– Hikigaya. Você sabe onde isso vai dar, não sabe?

– Que-Quem sabe...

A intensidade nunca deixava seus grandes olhos e eu, rapidamente, olhei em outra direção.

Assim que fiz isso, Hiratsuka-sensei começou a estalar os nós dos dedos. Tudo o que eu

podia ouvir era o som da minha desgraça iminente.

– Não me diga que você não sabe?

– ‘Que-Quem sabe? Eu sei! ’ era o que eu ia dizer! Você está enganada! Eu sei muito bem!

Eu vou reescrever isso! Não me bata!

– Isso é óbvio. Poxa... e eu aqui, pensando que você tinha mudado um pouco.

– Meu lema significa que devo fazer tudo que tenho que fazer.

Eu disse isso com um sorriso elegante.

Eu pude sentir uma veia inflando na têmpora da Hiratsuka-sensei.

– ... então, no fim, minha única opção é bater em você, hum? Na TV, as pessoas batem

umas nas outras sempre que querem mudar a história.

– Na-na-não, você não pode fazer isso com meu corpo delicado. E, de qualquer modo, os

shows na TV tem pegado muito leve com a questão da violência, sabe. Isso realmente mostra a

sua idade!

– Por que você... Chocante Primeiro Tiro!

*Bonk.*

O grito dela não foi nada se comparado ao suave som que seu punho fez ao acertar meu

estômago.

– ... Urk.

Quando eu levantei minha cabeça com dificuldade—com minha vida pendurada diante de

meus olhos— Hiratsuka-sensei riu maldosamente.

– Se você não quiser experimentar meu ‘Aniquilante Segundo Tiro’, é melhor ficar calado de

agora em diante.

– Des-desculpe...

Pedi desculpas humildemente.

– Por favor, poupe-me do ‘Exterminante Último Tiro’.

Hiratsuka-sensei estatelou-se em sua cadeira, satisfeita. Ela estava sorrindo muito ao ver

como eu sucumbi rapidamente após seu ataque. Ela podia muito bem ser do tipo de pessoa

que, inconscientemente, se esquece do quão patéticas suas ações e palavras eram, mas ela

era, realmente, uma boa pessoa por dentro.

– ‘S-CRY-ed[3]’ é um ótimo programa, hum... Que bom que você entendeu rápido, Hikigaya.

[1] Proporção Áurea é uma constante real algébrica irracional denotada pela letra grega

(PHI).[2] Stradivarius é o nome dado aos instrumentos de corda, principalmente violinos e

violoncelos, construídos por membros da família Stradivari.

3

Correção: ela era apenas patética. Parece que ela só era capaz de rir da própria piada.

Recentemente, eu tinha aprendido um pouco sobre os passatempos da Sensei.

Basicamente, ela gostava de mangás e de animes sangrentos. Eu estava aprendendo muita

merda, com a qual eu não me importava nem um pouco, sua folgada.

– Agora então, Hikigaya. Vou perguntar isso a você apenas para ser justa. Qual é o objetivo

dessa sua resposta de merda?

– Você, supostamente, não deveria julgar seus estudantes...

Teria sido mais fácil se eu apenas tivesse feito algo, mas uma vez que eu já havia canalizado

todos os meus pensamentos para aquele pedaço de papel, eu já não tinha mais respostas na

manga. Se ela não conseguia entender depois de ler aquilo, era problema dela.

Hiratsuka-sensei soprou a fumaça de seu cigarro e olhou furiosamente para mim, como se

ela pudesse ver através de mim e soubesse exatamente no que eu estava pensando.

– Eu entendo a sua personalidade corrompida, mas eu pensei que você tivesse crescido um

pouco. Será que passar um tempo com o Clube de Serviços não o influenciou nem um pouco,

afinal?

– Uh-huh...

Eu respondi, tentando me lembrar do tempo que passei no chamado ‘Clube de Serviços’.

O objetivo do Clube de Serviços era, para simplificar, ouvir sobre as preocupações dos

outros estudantes e ajudá-los a resolver seus problemas. Mas, na verdade, ele não passava de

uma área de isolamento, onde todos os desajustados da escola eram reunidos. Eu acabei em

uma situação na qual sou forçado a ajudar pessoas a fim de corrigir minha personalidade

corrompida, mas, uma vez que nada disso tinha a ver comigo, meu nível de ligação emocional

com o Clube era praticamente nulo. O que posso dizer?

... Totsuka era fofo, no entanto. Sim, isso era tudo sobre o assunto.

– Hikigaya... De repente você ficou com um olhar deprimente. E você está babando.

– Hum? Oh, merda...

Eu limpei a boca, às pressas, com minha manga.

Isso foi perigoso. Alguma coisa havia acordado dentro de mim.

– Você não melhorou.

Hiratsuka-sensei prosseguiu após uma pequena pausa.

– Você apenas ficou ainda mais patético.

– Er, eu tenho a sensação de que estou longe de ser tão patético quanto você...

Eu murmurei.

– Mencionar s-CRY-ed é só o que você poderia esperar de alguém tão velho quanto—

– Exterminante...

[3] s-CRY-ed é um anime de 2001 que possui elementos shounen e batalhas chuunibyou. O

nome dos ataques é retirado da dublagem americana.

4

– O que eu quero dizer é que é muito condizente com uma mulher adulta como você. Eu

realmente admiro o seu senso de dever no que diz respeito a divulgação dos clássicos. De fato!

Sério, você é incrível!

Eu disparei. Eu faria tudo que pudesse para evitar levar outro soco.

Funcionou, pois Hiratsuka-sensei baixou o punho. Porém, ela olhou para mim com seus

característicos olhos afiados, lembrando-me de um animal raivoso.

– Poxa...

Ela disse, por fim.

– De qualquer modo, reescreva seu Levantamento de Perspectiva de Local de Trabalho.

Quando terminar isso, eu quero que você conte todos os formulários, como punição por ter

ferido meus sentimentos.

– Sim, Madame.

Diante dos meus olhos, havia uma pilha de papeis cobrindo a mesa. Analisar folha por folha

era cansativo, como o trabalho em uma fábrica de pães. Ou talvez como o de um salva-vidas.

Ficar sozinho com minha professora não era, exatamente, um desenvolvimento que fazia

meu coração bater mais forte e, obviamente, se ela me batesse, eu não iria cair e acabando

tocando os seios dela, como aconteceria com um pervertido acidental. Esse tipo de coisa não

passava de besteira. Quanta mentira! Eu exijo um pedido de desculpas de cada escritor de

simuladores de encontro e de cada autor de light novels que estão por aí.

1 – 2

Na Escola Municipal de Ensino Médio de Chiba, existe um evento chamado de ‘Visita ao

Local de Trabalho’, que acontece quando você está no Segundo Ano.

Os formulários de pesquisa são utilizados para determinar a ocupação nas quais os

estudantes estão interessados em aprender sobre, e em seguida, a escola manda esses

estudantes a esse local de trabalho. Isso fazia parte do novíssimo programa educacional, que

visava instalar nos corações de todos os estudantes o desejo de trabalhar em alguma empresa.

De fato, não era nada demais, sério. Todas as escolas, provavelmente, tinham um evento

assim.

O problema era que ele acontecia logo depois dos exames semestrais. Em outras palavras,

fazendo com que esse esforço ocasional roubasse meu precioso tempo depois dos testes.

– Então, por que sou obrigado a fazer isso exatamente nesse momento do ano...?

Eu perguntei, já me contorcendo.

5

Enquanto eu organizada a pilha de formulários de ocupação, Hiratsuka-sensei sentou-se na

parte livre da mesa, estampando um grande sorriso em sua boca.

– É exatamente porque estamos nessa parte do ano, Hikigaya.

Ela respondeu.

– Você não ouviu que deverá escolher seu curso no Terceiro Ano logo após as férias de

Verão?

– Não escutei nada, Madame.

– Você deveria ter escutado isso hoje na sala de aula.

– Bom, no meu caso, eu estava fora da sala de aula, então eu não ouvi nada.

Não, verdade, por que isso era chamado de ‘sala de aula’? Não era sua casa[4]. Eu realmente

odiava isso. E mais, eu estava cansado de todo esse sistema de ter suas funções atribuídas na

sala de aula. Você tem a chance de se levantar e ir para a frente da classe distribuir ordens,

mas eu gostaria que os outros parassem de ficar completamente quietos quando eu faço isso.

Se alguém como o Hayama desse as ordens, todos ficariam sorridentes e escutariam

atentamente, como se fossem uma pequena família feliz, mas quando eu faço isso, ninguém

nem ao menos diz uma só palavra. O inferno? De fato, ninguém nem mesmo me vaia, uma vez

que todos fingem não estar ali.

– ... De qualquer modo, a visita ao local de trabalho acontece após os exames semestrais e

antes das férias de Verão. Eles acontecem nessa época para que vocês possam fazer seus

exames com uma proposta clara em mente, não para que vocês façam deles um conto de

fadas.

“Eu duvido que isso vá funcionar, no entanto”, acrescentou Hiratsuka-sensei, soprando um

anel de fumaça da ponta de seu cigarro.

A escola que eu frequentava, a Escola Municipal de Ensino Médio de Chiba, era dedicada a

preparar seus alunos para a Universidade. A maioria dos estudantes almejava seguir para a

Universidade e a maioria de fato fazia isso. Isso era algo que eles mantinham em mente desde

o momento em que entravam nessa escola.

Talvez fosse porque eu havia calculado que a Universidade seria uma moradia de quatro

anos desde o início, mas minha chamada ‘visão sobre o futuro’ era corrompida. Eu já havia

pensado claramente no que eu faria no futuro. Eu, definitivamente, não iria trabalhar.

– Parece que você está pensando em coisas inúteis...

Hiratsuka-sensei revirou os olhos.

– Então, você irá entrar no Departamento de Ciências ou no Departamento de Humanas?

Ela perguntou.

– Bem, sabe, isso é, eu—

[4] Na versão em Inglês, está sala de aula pode ser lido como homeroom, daí a origem da

piada.

6

Assim que eu abri a boca para falar, uma voz alta me interrompeu.

– Ah, aí está você!

Ela estava balançando a cabeça, de mau humor, com seu cabelo brilhante (que estava

completamente preso como se fosse uma bolinha) girando para trás e para frente. Como de

costume, ela vestia uma saia curta e uma blusa com dois ou três botões abertos, revelando seu

considerável busto. Yuigahama Yui, que eu havia conhecido recentemente. O fato de termos

nos conhecido apenas recentemente, embora ela estivesse na minha classe, dizia muito sobre

meus poderes de comunicação. Eles eram horríveis.

– Oh, ei, Yuigahama.

Disse a Hiratsuka-sensei.

– Desculpe, estou pegando o Hikigaya emprestado de você.

– Na-não é como se ele pertencesse a mim ou algo do tipo! Está completamente tudo bem!

Yuigahama negou veementemente, balançando a mão. Eu senti um certo traço de ‘eu não

preciso dele, de qualquer modo’ nessa fala. Ser completamente rejeitado desse jeito meio que

machuca um pouco...

– O que você quer?

Eu perguntei.

A pessoa que respondeu não foi Yuigahama, mas sim a garota que, de repente, apareceu

atrás dela. Seu cabelo preto (que estava amarrado em twintails) subia e descia,

acompanhando seus movimentos abruptos.

– Você não chegava na sala do Clube, então ela veio procurar por você. Yuigahama-san,

quero dizer.

– Um, você não precisava frisar essa última parte. Eu imaginei isso.

A garota de cabelo preto, cuja única coisa que salvava era o rosto, era Yukinoshita Yukino.

Como uma boneca de porcelana, ela era de tirar o fôlego de se ver, mas sua atitude era

mortalmente fria como se ela, também, fosse de porcelana. Como você pode imaginar pelo

modo como ela me tratou assim que me viu, nós não éramos melhores amigos.

Yukinoshita e eu estávamos no mesmo Clube – O Clube de Serviços – por hora. Ela era a

líder. E no curso de nossas atividades, nós estávamos com as mãos no pescoço um do outro,

apenas sendo capazes de nos dar bem em raras ocasiões. Basicamente, tínhamos essa briga

sem esperança acontecendo entre nós, na qual derramávamos sal nas feridas um do outro.

Ao ouvir as palavras de Yukinoshita, Yuigahama cruzou os braços e fez uma careta.

– Eu saí por aí perguntando por você—

Ela reclamou.

– —E todo mundo estava tipo “Hikigaya? Quem é esse? ”. Isso foi tãããããããããão estranho.

7

– Você não precisa contar ao mundo sobre isso.

Como eu explico que essa garota atira uma bala em meu coração toda vez que fala assim?

Esse nem mesmo era o objetivo dela. Ela era algum tipo de sniper genial ou algo do tipo?

– Isso foi tãããããããããão estranho.

Ela repetiu, por alguma razão estúpida, franzindo a testa. Graças a ela, o conhecimento de

que ninguém na escola sequer sabia quem eu era, foi arrancado de minhas entranhas pela

segunda vez.

Bem, isso não era assim tão ruim, especialmente se você conhece todos na escola. Julgando

pelo modo como ninguém me conhecia após todo esse tempo, eu posso ter tropeçado na

ocupação que combina perfeitamente comigo: ninja.

– O que? Um, desculpe.

Desculpe, ninguém nem mesmo sabe que eu existo. Era a primeira vez que eu tinha que me

desculpar por algo tão triste.

Se eu não tivesse uma grande força de vontade, eu estaria chorando baldes de lágrimas.

– Na-não é grande coisa, mas...

Yuigahama começou a brincar com os dedos em frente ao peito.

– Is-isso é, um...

Ela disse timidamente, estufando as bochechas.

– Di-diga-me seu número de telefone? Sa-sabe! É estranho ter que sair por aí para procurar

você e, além disso, isso é embaraçoso... sempre que alguém me pergunta sobre nosso

relacionamento, eu apenas—não.

O rosto dela ficou vermelho, como se a mera lembrança de que ela havia saído para me

procurar fosse incrivelmente embaraçosa. Ela desviou os olhos de mim, cruzou os braços com

firmeza diante do peito e virou a cabeça para o lado. E então, ela me espiou com os cantos dos

olhos.

– Beeeeeeeem, isso realmente não é grande coisa, sério...

Eu disse, enquanto pegava meu celular. Assim que fiz isso, Yuigahama pegou o seu próprio

enorme e brilhante celular.

– O que é esse celular gigantesco?

Yuigahama respondeu.

– Hum? Ele não é fofo?

Ela insistiu, me mostrando o adorno em seu celular. Alguma coisa macia, que parecia um

cogumelo pendurado, que balançava de um lado para o outro. Era surpreendentemente

deprimente.

8

– Não me pergunte. Eu não entendo o senso de estética de uma vadia. Então você gosta de

coisas brilhantes? Você está falando sobre vidro, travessas de sushi[5] ou o quê?

– Huum? Sushi? E não me chame de vadia!

Yuigahama olhou para mim com olhos de um monstro devorador de homens.

– Hikigaya. Se você disser ‘coisas brilhantes’, então você realmente não tem ideia de como

ser um estudante do Ensino Médio. Ninguém coloca vidro no sushi.

Hiratsuka-sensei interveio com os olhos brilhando.

– Mas isso é apenas sushi.

Esse olhar de ‘Eu disse uma coisa legal agora’ no rosto dela meio que me irritou...

– Se você não pode ver a fofura, isso não seria culpa desses seus olhos de peixe morto?

Minha reputação como autoridade em olhos de peixe morto estava só aumentando.

Tanto faz, eu desisto.

– Bem, tanto faz.

Disse Yuigahama.

– Você pode sincronizar seu celular com o meu, certo?

– Nah. Eu tenho um smartphone, então não posso.

– Huuum? Então eu tenho que digitar o número?

Ela reclamou.

– Que saco.

– Eu não preciso desse tipo de função. Eu realmente odeio celulares, de todo modo. Tome.

Eu entreguei meu celular a Yuigahama, que o pegou nervosamente.

– E-eu vou digitar, hum... Está tudo bem, eu acho. Espere, estou impressionada que você

entregue seu celular para alguém desse jeito.

– Meh, não tem problema se você ver o que tem no meu celular. De qualquer forma, eu

mando mensagens apenas para minha irmã mais nova e para a Amazon.

– Whoa! Verdade!? E espere— Amazon!?

Me deixe em paz.

Yuigahama começou a digitar no celular que eu entreguei a ela com uma velocidade

impressionante. Para meus olhos lentos, ela era o extremo oposto de mim—rápida e afiada.

Eu decidi chamá-la de Ayrton Senna dos celulares.

– Você digita muito rápido...

– Hum? Isso não é nada. Talvez seus dedos estejam desacostumados, pois você não tem

ninguém para quem enviar mensagens?

– Estou ofendido.

Eu disse.

[5] A piada aqui é que ‘coisas brilhantes’ também se refere a ‘hikarimono’, um tipo de peixe

brilhante usado como cobertura de sushi.

9

– Eu costumava enviar mensagens para garotas o tempo todo quando estava no

Fundamental.

*Thud.* Yuigahama derrubou o celular.

Oi, preste atenção no que está fazendo com minhas coisas.

– Sem chance...

1 – 3

– Um, você percebe o quão cruel foi sua reação agora?

Eu disse para Yuigahama.

– Não percebeu, não é? Trabalhe nisso.

– ... Oh.

Yuigahama recuou.

– Eu só, hum, não consigo imaginar você com uma garota, Hikki...

Ela pegou o celular caído, sorrindo timidamente.

– Garota idiota.

Eu disse.

– Eu sou como o joelho de uma abelha[6]. Permita que eu mostre a você o quanto eu sou

incrível. Quando nossas classes mudaram e todos estavam trocando números de telefone, eu

era tão popular que tudo o que eu fiz foi pegar meu celular e olhar, sem jeito, ao redor, até

que essa garota me chamou e disse: “Um, tudo bem, vamos trocar nossos números”.

– “Tudo bem”, ela disse. A gentileza pode ser uma dama cruel.

Um genial sorriso surgiu no rosto de Yukinoshita.

– Poupe-me de sua pena! Nós totalmente enviamos mensagens um para o outro depois

disso.

Yuigahama olhou para o celular.

– Que tipo de garota ela era?

Ela perguntou com indiferença. Estranhamente, porém, o movimento veloz de seus dedos

parou completamente.

– Vejamos...

Eu disse.

– Ela era uma garota saudável e reservada. Ora, ela era tão saudável que quando mandei

uma mensagem para ela por volta de sete da noite, eu recebi uma mensagem, na manhã

seguinte, dizendo: ‘Desculpe, eu estava dormindo— vejo você na escola—‘. Além disso, ela era

tão discreta e graciosa que era embaraçoso para ela falar comigo na escola.

[6] Joelho de abelha é uma expressão que significa, basicamente, que algo é doce. Ela é baseada

no fato de que os grãos de pólen prendem-se a região da perna das abelhas onde estaria o

joelho.

10

Yuigahama colocou a mão sobre a boca.

– Oh, isso quer dizer...

Ela sufocou um soluço e lágrimas escapavam de seus olhos.

Ela nem mesmo precisava que eu apontasse o quão patético eu era. Ela claramente havia

percebido isso por conta própria.

– Então, ela ignorou sua mensagem ao fingir estar dormindo. Hikigaya-kun, pare de desviar

seus olhos da verdade. Encare a realidade.

Você disse alguma coisa, Yukinoshita-san? O que há com esse olhar alegre em seu rosto,

Yukinoshita-san? Foda-se você também, Yukinoshita-san!

– ... Eu sei tudo o que há para saber sobre a realidade. Eu sei tanto que poderia muito bem

criar uma Hikipédia.

Pffft, hahahaha! Isso certamente trouxe antigas memórias. Eu era tão inocente naquela

época. Eu nem suspeitava que aquela garota havia pedido meu número de telefone e

respondido minhas mensagens porque sentia pena de mim. Eventualmente, eu acabei

percebendo isso após duas semanas, quando ela parou de responder as mensagens, não

importando quantas eu enviasse. E, assim, eu parei.

E, então, um dia eu escutei as garotas conversando.

– Aquele garoto, o Hikigaya, tem enviado mensagens para mim. Eu gostaria que ele

parasse. É medonho.

– Aposto que ele gosta de você, Kaori...!

– Eew, que nojo!

Eu quis murchar e morrer ali mesmo. E também, eu, realmente, realmente, gostava dela!

Agora, eu me sinto mal pelo meu eu que adicionava emoticons em todas as mensagens. Eu

achava que usar corações seria nojento, então usava estrelas, sorrisos e notas musicais.

Apenas pensar sobre isso já me faz sentir um frio na espinha *OMG VDD*.

– Hikigaya...

Hiratsuka-sensei disse, evidentemente tocada.

– En-então eu você trocaria números comigo? Eu prometo que vou responder suas

mensagens. Eu não vou fingir estar dormindo.

Assim que ela disse isso, ela pegou meu celular das mãos de Yuigahama e começou a socar

o número dela. O nível de pena que ela sentia de mim estava fora da curva.

– Um, você não precisa boa comigo desse jeito.

Quero dizer, trocar mensagens com sua professora é algo realmente triste. Não é nada

diferente de dar chocolates para sua mãe todos os anos no Dia dos Namorados. Foda-se a

pena dela. Eu preferia ser submetido a indiferença de Yukinoshita em horas assim.

11

No fim, as duas digitaram seus números no meu celular e o devolveram a mim. Apenas uma

pequena quantidade de dados havia sido adicionado por elas, então não era como se algo

tivesse realmente mudado, mas, por alguma razão, eu sentia o peso por trás da ação delas.

Então esse é o peso por trás das ligações, hum?

... Bastante frágil, sério. É ridículo o quanto o meu antigo eu teria ficado desesperadamente

apegado a essa ínfima quantidade de kilobytes de informação. Enquanto eu pensava em como

essas memórias eram inúteis hoje em dia, eu abri meu celular. E então, eu vi um nome escrito

nele.

☆★YUI★☆

Oh, vamos lá, como isso deveria ser listado? Não começava com uma letra do alfabeto. E

além disso, isso parecia com um endereço de spam, não importava o quanto eu olhasse para

isso. Bastante compatível com Yuigahama e seu jeito de vadia. Eu fechei meu celular sem olhar

mais.

Uma vez que eu estava ficando muito bom em fazer trabalhos estranhos, eu tinha apenas

mais um par de formulários a esquerda. Comecei a guardá-los rapidamente.

Hiratsuka-sensei visivelmente limpou a garganta, olhando de soslaio para mim.

– Hikigaya, já é o bastante. Obrigada pela ajuda. Você pode ir agora.

Ela disse enquanto acendia, sem olhar, o cigarro em sua boca.

Me pergunto se a onda de pena anterior teria causado um impacto permanente nela.

Hiratsuka-sensei estava sendo estranhamente gentil. Ou talvez fosse mais correto dizer que ela

estava apenas relativamente falando de forma mais gentil e que ela não estava agindo de

modo mais gentil do que uma pessoa normal.

– Certo. Para minhas atividades do Clube, então.

Eu peguei minha mochila, que estava caída sobre o carpete, e a joguei sobre meu ombro

direito. Dentro dela, havia uma grande quantidade de livros contendo a matéria dos exames

semestrais e um mangá, o qual eu planejava ler na sala do Clube.

Seria, provavelmente, outro dia desperdiçado, uma vez que ninguém apareceria na sala do

Clube para requisitar nossos serviços.

Caminhei com Yuigahama em meus calcanhares. Eu gostaria que ela se apressasse e fosse

logo para casa. Pare de me seguir, poxa... Apenas quando eu já estava diante da porta, escutei

uma voz atrás de mim.

– Oh, verdade. Hikigaya, eu esqueci de te dizer isso antes, mas vocês irão em grupos de três

na próxima visita ao local de trabalho. Vocês podem escolher seus próprios grupos, então

pense a respeito.

12

Eu não podia acreditar em meus ouvidos.

Assim que ela disse isso, eu murchei. Meus ombros caíram e tudo mais.

– ... Oh, cara. Eu realmente não quero que meus colegas de classe venham para minha casa.

– Então você está realmente empenhado em fazer sua visita ao local de trabalho em casa,

hum...?

Hiratsuka-sensei estremeceu diante da minha vontade de aço.

– Eu absolutamente desprezo a ideia de ter que escolher meu próprio grupo.

Eu declarei.

– Hum? Que tipo de merda você está—

Eu me virei de repente, sacudindo meu cabelo para cima ao mesmo tempo. E então, com

meus olhos abertos o máximo possível, eu olhei para Hiratsuka-sensei com toda a intensidade

que meus globos oculares podiam reunir. Enquanto estamos nisso, meus dentes também

estavam brilhando.

– A dor de um solitário não é grande coisa! Estou acostumado com isso!

– Isso é realmente triste...

– Qu-que idiotas vocês são! Um super heroi é sempre um solitário, sabem. E super herois

são legais. Em outras palavras, ser um solitário é sinônimo de ser legal.

– De fato, existem super herois que dizem que os únicos amigos dos quais você precisa são

o amor e a coragem[7].

Disse Yukinoshita.

– Eu sei, certo? Ei, você sabe bastante sobre esse gênero.

– Sim, estou interessada nesse tópico. Quando foi que você percebeu que era uma criança

que não tinha nem amor, nem coragem e nem amigos, eu me pergunto...

– Esse é um interesse bastante perverso...

Mas, bem, Yukinoshita tinha um argumento. Eu não tinha amor, coragem ou amigos.

Aquelas eram apenas palavras bonitas, disfarçando a verdade com mentiras e ficções. No

coração, elas não eram nada além de palavras de desejos a se realizar e de autossatisfação. E

então, eu não tenho amigos. Enquanto estamos nisso, a bola também não é minha amiga[8].

Gentileza, pena, amor, coragem, amigos— e sim, até mesmo a bola— eu não precisava

disso.

1 – 4

Quarto andar do edifício especial, ala leste— lá você poderia encontrar uma sala com vista

para os jardins, se fosse esse o seu desejo.

[7] Este é o lema do Anpanman. O Anpanman é um popular heroi entre as crianças Japonesas.

[8] Uma referência ao lema do protagonista do icônico mangá de futebol Captain Tsubasa: ‘A

bola é minha amiga’.

13

Os sons da juventude entravam pela janela aberta. As vozes dos diligentes garotos e

garotas no meio de suas atividades de Clube ecoavam ao redor da sala, misturando o som de

bastões de metal e assobios com as clarinetas e trompetes da banda.

Em meio a essa maravilhosa trilha sonora da juventude, o que nós, do Clube de Serviços,

estávamos fazendo? Absolutamente nada. Eu estava lendo o mangá shoujo que havia pego

emprestado com minha irmã, Yukinoshita estava imersa em um livro de bolso com capa de

couro e Yuigahama estava brincando, ruidosamente, com seu celular.

Como de costume, no que se refere a vivermos nossa juventude ao máximo, nós não temos

nenhum ponto.

Que tipo de Clube idiota era esse, em que tudo o que fazíamos era perder tempo? Era

como se o Clube de rugbi se transformasse em um Clube de mahjong. Ouvi dizer que eles

jogavam partidas antes e depois dos treinos. Por causa disso, no dia seguinte, você sempre

podia ver as moedas do Clube de rugbi (a que circulava entre os membros do Clube de rugbi.

Dinheiro totalmente falso. Sua principal característica era sua semelhança com o Iene

Japonês.) espalhadas pela sala de aula e nos corredores. Se você me perguntasse, era apenas

mahjong, mas para aqueles caras isso era uma forma de comunicação e mais uma página de

sua brilhante juventude.

Quantos desses caras que participam desses jogos estavam cientes das regras do mahjong

antes de começarem a jogar?

Não haviam muitas pessoas que jogavam Shangai ou Strip Mahjong no fliperama de

Tsudanuma como eu fazia. Tenho certeza de que esses caras apenas estudaram e aprenderam

as regras do mahjong apenas para poderem desafiar uns aos outros. Aliás, as regras são

completamente diferentes para o Shangai Mahjong, embora você possa usar as mesmas

peças. Em outras palavras, você só poderia aprender as regras do Strip Mahjong por uma

razão. As pessoas realmente colocam energia quando seios estão em jogo.

Ter um elemento comum é algo absolutamente necessário quando se trata de fazer

amigos. Era a esse tipo de laia que Yuigahama Yui pertencia.

Esses pensamentos passaram pela minha mente enquanto eu terminava de checar se os

personagens haviam, de fato, feito o trabalho sujo no mangá shoujo que eu estava lendo.

Quando eu terminei, voltei meu olhar na direção da Yuigahama. Ela estava segurando seu

celular em uma das mãos, com um sorriso vago flutuando em seus lábios, mas ela suspirava

profundamente— só que de forma tão sutil que era quase inaudível. Eu não podia escutar o

som de seus suspiros, mas eu percebi os quão profundos eles eram a partir do quanto o peito

dela murchava.

– O que houve?

14

Não fui eu quem perguntou— foi Yukinoshita. Ela parecia ter notado o estranho

comportamento de Yuigahama mesmo não tendo tirado os olhos do livro. Talvez ela tenha

escutado aquele suspiro. Nada mais do que você poderia esperar do Devilman, cujas orelhas

eram olheiras do inferno[9]!

– Oh, uh... nada, eu acho.

Disse Yuigahama.

– Eu apenas recebi essa mensagem estranha, então eu estava toda ‘uau!’.

– Hikigaya-kun, a menos que você queira parar no tribunal, eu sugiro que você pare de

enviar essas mensagens obscenas agora mesmo.

Então ela estava assumindo que aquilo era um caso de assédio sexual e que eu era o

culpado.

– Não fui eu...

Eu disse.

– Onde está a prova? Eu disse para mostrar a prova.

Com um sorriso, Yukinoshita jogou o cabelo por sobre o ombro.

– Você apenas provou meu argumento. Essas são, claramente, as palavras de um criminoso.

‘Onde está a prova? ’, ‘Não tem como eu estar na mesma classe de um assassino’.

– Essa última parece mais com a fala da vítima...

Eu disse. Ela pede uma flag da morte.

Yukinoshita assentiu com o que eu disse.

– Talvez você esteja certo.

Ela respondeu enquanto virava a página de seu livro. Parecia que, de todas as coisas, ela

estava lendo uma novel de mistério.

– Nah, não parece que o Hikki seja o culpado.

Yuigahama disse, meio minuto tarde demais.

A mão de Yukinoshita, que estava a caminho de virar a página, de repente parou. ‘Onde

está a prova? ’, ela perguntou apenas com seus olhos. Cara, ela queria tanto assim que eu

fosse um criminoso?

– Hmmm, bem, sabe, a mensagem é sobre minha classe. Então isso significa que o Hikki não

tem nada a ver com isso.

– Mas eu estou na sua classe.

Eu disse.

– Isso faz sentido.

Disse Yukinoshita.

– Nesse caso, Hikigaya-kun não poderia ser o culpado.

[9] Uma referência a abertura de Devilman.

15

– Então ela aceita essa evidência...

Olá todo mundo, aqui é o Hikigaya Hachiman, da Classe F do Segundo Ano.

Eu estava tão atordoado que fiz uma apresentação dentro da minha cabeça. Porém, eu

havia escapado das acusações criminais, então talvez isso tenha sido uma coisa boa.

– Beeeem, acho que essas coisas acontecem de tempos em tempos.

Yuigahama disse solenemente enquanto fechava seu telefone com um estalo.

– Não vou me preocupar muito com isso.

Era como se ela estivesse falando por uma profunda experiência própria.

Ela disse ‘de tempos em tempos’, mas eu nunca recebi uma mensagem desse remetente,

então apenas você sabe disso.

... Boa coisa eu não ter amigos, hum!?

Não, mas é sério, pessoas com muitos amigos tem que passar por muita merda.

Honestamente, isso parecia ser um trabalho duro. Seguindo essa mesma nota, eu estava livre

das ideias mundanas e vergonhosas que meus colegas de classe tinham. Com todos os meus

pensamentos profundos, eu sou quase o próprio Budha. Eu sou tão demais.

E com isso, Yuigahama se recusou a tocar em seu telefone.

Eu não tinha como adivinhar o que estava escrito na mensagem, mas provavelmente não

era nada bom. Yuigahama era uma idiota, para dizer o mínimo, e ela era do tipo de idiota que

usava todo o seu coração. Ela era uma completa imbecil que sempre se preocupava com

Yukinoshita e comigo e, por isso, ela também tinha um lado que sempre ficava desanimado

com certas coisas.

Como se vigorosamente estivesse mandando sua depressão para longe, Yuigahama

recostou-se na cadeira e esticou os braços.

– ... Não tem nada para fazer.

1 – 5

Sem seu telefone para matar tempo, Yuigahama escorou-se preguiçosamente sobre sua

cadeira. Fazer isso fazia com que seus seios escapassem involuntariamente, o que realmente

me deixou quente e incomodado, então voltei meu olhar para Yukinoshita, cujos seios não

instigavam nenhuma reação.

Yukinoshita, cujos seios eram a epítome triunfante de ‘Seguros para Trabalhar’, fechou seu

livro.

– Então, por que você não estuda, já que não tem nada para fazer?

Ela disse para Yuigahama, com um tom de desaprovação em sua voz.

16

– Os exames semestrais estão chegando, afinal.

Pela forma como ela falou, Yukinoshita carecia de qualquer senso de urgência. Para ela,

este era totalmente o problema de outra pessoa. Mas havia uma razão para isso— para

Yukinoshita, os exames semestrais não passavam de mais uma obrigação acadêmica. Essa

galinha havia ficado em primeiro lugar na classificação dos estudantes em praticamente

qualquer coisa que pudesse ser testada. Por isso, era possível dizer que nem mesmo os

exames semestrais seriam capazes de irritá-la.

Yuigahama virou-se, parecendo de alguma forma irritada, como se ela também estivesse

bem ciente desse fato.

– Qual é o ponto em estudar?

Ela murmurou com o canto da boca.

– Ninguém usa essas coisas na vida real...

– Você acaba de soltar a fala padrão de um burro!

Eu exclamei. Foi tão terrivelmente previsível que me pegou desprevenido. É sério que ainda

haviam pessoas que pensavam assim hoje em dia?

Inflamada por ter sido chamada de ‘burra’, Yuigahama agarrou-se desesperadamente a sua

posição.

– Não há nenhum uso para o estudo, é isso que estou dizendo! A vida no Ensino Médio é

curta e esse tipo de coisa é perda de tempo! Você só vive uma vez, cê sabia?

– Mas isso significa que você não pode estragá-la!

– Meu Deus[10], você é um cobertor molhado!

– Eu prefiro pensar a longo prazo.

– No seu caso—

Disse Yukinoshita.

– —Você falhou em cada um dos aspectos da vida no Ensino Médio.

Muito bom. Você não pode ganhar todas. Espere, vamos lá! Ela estava dizendo que eu não

tinha uma vida? Que eu deveria checar minha existência terrena da mesma forma como as

pessoas fazem o check-out em hotéis?

– Quer saber? Eu não falhei... eu apenas sou diferente das outras pessoas. É a minha

personalidade! Todo mundo é diferente, todos são bons à sua maneira!

– Si-sim! É a minha personalidade! Ignorar os estudos faz parte da minha personalidade!

Nós dois gritamos clichês vazios no exatamente ao mesmo tempo. Mas, sério,

‘personalidade’ é uma palavra muito conveniente.

[10] Aqui ela usa uma gíria (Omigosh), que eu não soube traduzir de forma informal.

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– Kaneko Mizuki teria se revirado no túmulo se escutasse isso[11]...

Yukinoshita suspirou, com uma mão sobre o rosto.

– Yuigahama-san, o que você disse antes, sobre o estudo ser algo inútil, está incorreto. De

fato, estudar é o ato de encontrar o seu próprio significado. Por causa disso, pessoas

diferentes possuem diferentes razões para estudar, mas isso não é razão para negar

inteiramente o propósito de se estudar.

Era um argumento sólido. Tão sólido que, de fato, parecia ter saído diretamente da cabeça

de um adulto— o que significava que ele iria entrar por um ouvido e sair pelo outro. Mesmo

uma declaração aparentemente simples como ‘O que está estudando? ’ causaria esse efeito.

Então, quem estava tentando se tornar um adulto nos dias de hoje, não receberia a

mensagem.

Na verdade, eu não estava mostrando o quanto sou inteligente ao chegar a essa conclusão.

Ao que parece, a única pessoa que verdadeiramente acreditava nisso era Yukinoshita.

– Mas você é inteligente, Yukinon...

Yuigahama disse com uma voz baixa.

– Eu apenas não fui feita para estudar... e, além disso, ninguém do meu grupo faz isso...

Os olhos de Yukinoshita, de repente, estreitaram. Percebendo que a temperatura da sala

havia caído pelo menos uns dez graus devido ao silêncio gélido de Yukinoshita, Yuigahama

parou de falar, assustada. Era como se ela ainda lembrasse de todas as coisas desagradáveis

que Yukinoshita havia dito a ela uma vez antes.

Ela desabou sobre sua própria vontade.

– O-Okay, eu vou fazer isso direito!

Ela insistiu veementemente.

– D-De todo modo! Hikki, você por acaso estuda!?

Ooooh, então ela tinha evitado a ira de Yukinoshita. Parecia que seu plano astuto era

empurrar o peso do ataque para cima de mim. Boa tentativa, Yuigahama.

– Sim, eu estudo.

Eu disse.

– Traidor! Eu pensei que você fosse um burro igual a mim!

– Por favor, vadia. Eu estava em terceiro lugar na classificação de Japonês.

Fiz uma pausa dramática.

– Além disso, eu também não sou ruim em nenhuma das outras matérias.

– Sem chance... eu não fazia ideia...

Aliás, eles não divulgavam os resultados dos testes nessa escola. Eles apenas diziam

pessoalmente a sua classificação e a sua nota. Como resultado, enquanto as pessoas

[11] Kaneko Misuzu é o poeta que escreveu Watashi to Kotori to Suzu to (Um sino, um pássaro e eu), que

caracteriza a linha ‘Todos são diferentes, todos são bons’. É um excelente poema (que eu nunca li, essa é

a opinião do cara que traduziu para o Inglês) sobre aceitação das diferenças.

18

revelavam suas posições uma para as outras, ninguém sabia qual era minha posição— porque

não havia ninguém para quem eu pudesse contar. Praticamente ninguém me perguntava

sobre minha classificação.

Obviamente, em geral ninguém me perguntava nada sobre mim mesmo.

– Então isso significa que, na verdade, você é inteligente, Hikki!?

– Isso não é muito para se gabar.

Disse Yukinoshita.

– ... Por que você está respondendo por mim? Bem, é claro que minhas notas não são nada

se comparadas com as da Yukinoshita, mas elas estão longe de ser horríveis.

Isso significava que Yuigahama era, de longe, a mais burra entre nós três.

– Aww.

Ela lamentou

– Então eu sou a única personagem idiota aqui.

– Não salte para essa conclusão, Yuigahama-san.

O tom e a expressão frios de Yukinoshita haviam descongelado e seus olhos mostravam

uma clara convicção.

Ao escutar essas palavras, Yuigahama iluminou-se como uma lâmpada.

– Yu-Yukinon!

– Você não é um personagem de ficção. Sua estupidez é uma característica natural.

– Waaaaaaah!

Yuigahama bateu suas mãos contra o peito de Yukinoshita.

Olhando para aquilo como se não tivesse a menor ideia de como reagir, Yukinoshita deixou

escapar um tenso e curto suspiro.

– O que eu venho tentando dizer é que é tolice tentar medir o valor de uma pessoa

unicamente por suas notas ou por sua classificação. Existem seres humanos notavelmente

inferiores, mesmo entre os estudantes no topo da classificação.

– Ei, por que você está olhando para mim enquanto diz isso?

Eu perguntei. Por um breve momento, olhei em todas as direções.

– Vou dizer isso apenas por garantia, mas você sabia que eu estudo porque gosto de fazer

isso?

– Então é isso...

– Isso porque você não tem nada melhor para fazer.

As duas garotas falaram em uníssono. Yuigahama soltou uma única exclamação de

surpresa, enquanto a fala mais longa pertencia à Yukinoshita. Suas testas estavam

pressionadas uma contra a outra sem que elas notassem isso.

19

– Sim, mas o mesmo vale para você.

Eu disse para Yukinoshita.

– No entanto, você não negou isso.

Ela disse.

– Negue isso já! Isso está me fazendo ficar meio triste!

Yuigahama gritou.

Yukinoshita falou com a frieza de sempre, mas Yuigahama estava cheia de empatia.

Yuigahama abraçou Yukinoshita calorosamente, como se ela estivesse tentando acalmar as

feridas no coração de Yukinoshita. Yukinoshita tinha um ‘... não consigo respirar! ’ escrito em

todo o seu rosto, embora não dissesse sequer uma palavra para manifestar seu desconforto.

Durante todo esse tempo, Yuigahama continuou a apertá-la com força.

20

21

Oi, vamos lá! E quanto a mim? Eu também não tenho nada melhor para fazer além de

estudar! Eu pensei nisso quando ficou claro que eu não iria haver abraços ou apertos em

minha direção. Bem, parando para pensar, suponho que fosse ser estranho para mim se ela

tivesse me abraçado.

Mas, falando sério, por que aqueles riajuus são sempre tão melosos uns com os outros?

Esfregar a pele é uma ocorrência natural, hum? Será que eles pensam que somos americanos,

hum? Eles mexem e batem uns nos outros por causa de uma piada, mas quando alguma coisa

séria acontece, eles se abraçam como se isso fosse a coisa mais inteligente a ser feita. Se esses

garotos e garotas pilotassem um Eva, eles nem mesmo seriam capazes de usar o Campo AT[12].

Não há limite para a gentileza em seus corações.

1 – 6

Enquanto ela estava segurando a cabeça de Yukinoshita e a acariciando, Yuigahama abriu

sua boca.

– Mas, cê sabe, Hikki, eu fiquei surpresa ao saber que você estuda tão duro.

– Nah, não é como se eu estudasse porque quero progredir com minha educação como os

outros estudantes nem nada assim. Eu não pretendo frequentar nenhum curso de Verão.

A Escola Municipal de Ensino Médio de Chiba era dedicada a preparar os estudantes para a

Universidade. Como resultado, a taxa de admissão na Universidade era bastante elevada.

Meus companheiros estudantes provavelmente já estariam com os exames de admissão

preenchendo seus cérebros a partir do Verão do Segundo Ano do Ensino Médio. Estava

chegando a hora deles começarem a se preocupar se iriam se preparar no Seminário

Tsudanuma, no Cursinho Kawai ou na Escola Inage-Kaigan.

– Oh, mas tem uma coisa.

Eu acrescentei.

– Eu estou almejando uma bolsa de estudos na minha escola preparatória.

– ... Bolsa de estudos?

Yuigahama repetiu.

– No seu caso, você não precisa almejar nada, uma vez que já chegou ao seu auge.

Disse Yukinoshita.

– Você é muito parecido com lixo industrial.

– O que é isso, Yukinoshita? Você está sendo gentil hoje. Eu pensei que você fosse negar o

meu direito de viver como eu quero.

– Uma excelente sugestão.

[12] Uma referência as habilidades especiais usadas pelos pilotos de Eva em Neon Genesis

Evangelion. Quanto mais psicologicamente confuso você estiver, mais forte será o Campo AT

criado.

22

Yukinoshita pressionou um dedo contra a testa, com um olhar desagradável no rosto.

– Ei, ei, o que é uma bolsa de estudos?

Parecia que Yuigahama estava perdida desde a parte da ‘bolsa de estudos’. Uau, sério,

Yuigahama-san?

– Uma bolsa de estudos é quando você recebe dinheiro para garantir seus estudos.

Yukinoshita explicou.

– Muitas escolas preparatórias isentam os bons alunos de pagarem as taxas de matrícula.

Eu disse.

– Basicamente, se eu tiver uma bolsa de estudos, o dinheiro que meus pais usariam para

pagar a escola preparatória ficaria para mim.

Eu fiz uma pequena dança quando percebi isso. Para o aberto descontentamento da minha

irmãzinha, eu comecei a improvisar no meu quarto.

Meus pais iriam relaxar se eu pudesse estudar diligentemente com um objetivo claro em

mente e colher os resultados para justificar seu investimento. E eu poderia embolsar o

dinheiro enquanto estava nisso. Era um plano engenhoso, se posso dizer.

Porém, as duas garotas pareciam duvidar bastante.

– Isso não é fraude...?

– Não há problema para ele se você não puder dizer que ele está desfavorecendo seus pais

ao adotar uma abordagem orientada para o resultado de seus estudos. Além disso, aceitar um

estudante com bolsa de estudos é responsabilidade apenas da escola preparatória. De acordo

com a personalidade corrompida desse garoto, você não pode nem mesmo chamar isso de

fraude.

Yukinoshita disse sarcasticamente.

E-Então o que, okay? Uma pequena mentira branca não machuca ninguém.

Yuigahama olhou para mim.

– Então esse é o seu plano de vida, hum...

Ela murmurou. E, então, ela se agarrou a Yukinoshita ainda mais forte do que antes.

Assustada com sua intensidade, Yukinoshita olhou para o rosto de Yuigahama com uma

preocupação provisória.

– Aconteceu alguma coisa...?

– Oh, um, nada, eu acho...

Yuigahama disse, não enganando ninguém com sua risada falsa.

– Eu estava apenas pensando em como vocês são inteligentes, eu não sei se iremos nos

encontrar algum dia depois de nos formarmos.

– De fato...

23

Yukinoshita disse com um leve sorriso.

– Eu, pelo menos, não vou ver o Hikigaya-kun nunca mais.

Eu me limitei a dar de ombros. Intrigada com minha falta de reação verbal, Yukinoshita

olhou para mim interrogativamente. Me dê um tempo, eu estou concordando com você,

Yukinoshita.

Bem, elas existem nesse mundo: pessoas que estudam com seus traseiros voltados para

sua entrada nas maiores instituições de elite, longe de seus companheiros de Ensino Médio.

Esse tipo de pessoa decide jogar fora seu passado e juram nunca mais encontrar seus antigos

colegas de classe outra vez. Yuigahama iria, mais ou menos, bater um prego na cabeça dessas

pessoas.

E então, haviam aquelas pessoas que se agarravam a suas amizades, mantendo contato

com as pessoas do seu grupo. Com a tecnologia, eles poderiam manter uma certa intimidade.

Assim, qualquer pessoa que se recuse a manter contato acaba sozinha. O que eu quero dizer é

que você só pode manter contato com os outros por meio de telefone ou e-mail, do contrário

você nunca os contactaria. Você poderia chamar isso de amizade? Tenho certeza que poderia.

Isso quer dizer que telefones celulares cuidam de tudo para todos e o número de amigos que

você tem é igual ao número de contatos que você tem no celular.

Yuigahama apertou seu celular com força enquanto sorria para Yukinoshita.

– Mas não tem problema desde que tenhamos celulares. Nós sempre poderemos nos

manter em contato!

– Sim, mas eu gostaria que você parasse de me enviar mensagens todos os dias...

Yukinoshita respondeu.

– Hum!? Vo-você não gosta disso...?

Yukinoshita ficou em silêncio por um momento, procurando as palavras.

– Algumas vezes é um extremo incômodo.

– Que franca!

... Essas duas realmente se davam muito bem, no entanto. Desde quando elas haviam

ficado tão próximas a ponto de trocarem mensagens? Nessa nota, eu não conseguia imaginar

como poderiam ser as mensagens de Yukinoshita.

– Que tipo de mensagens você tem enviado todos os dias?

– Uhh...

Disse Yuigahama.

– Coisas como ‘Eu comi um folhado de nata hoje☆’.

– Eu respondi ‘verdade’.

24

Disse Yukinoshita.

– ‘Yukinon, você pode fazer folhados de nata!? Eu quero tentar comer outros doces na

próxima vez!’.

– ‘Tudo bem’.

– Que habilidade brilhantemente convencional, Yukinoshita...

Yukinoshita desviou o olhar, culpada.

– Não há muito para contribuir.

Ela resmungou. Era triste o fato de eu saber como ela se sentia.

Não, falando sério, como você, supostamente, deveria responder a esse tipo de conversa

fiada? Coisas como o tempo eram um tópico de conversação, mas terminava logo depois de

‘Bom tempo, hum?’ e de você responder ‘Sim’. Era como dizer ‘Er, um, um anjo passou.

Ehehehe’ seguido por um silêncio estranho ao telefone.

– Sim... eu não dou muita bola para celulares.

Eu disse.

– Acho que eles são um meio de comunicação muito imperfeito.

Acho que essas coisas de celulares são um certo tipo de dispositivo que enfatizam o

comportamento solitário. Você pode abandonar seu telefone mesmo quando há uma

chamada não atendida, você pode bloquear números, você pode se recusar a ler suas

mensagens—coisas assim. Você pode escolher aceitar ou negar qualquer tipo de comunicação

dependendo do seu humor no momento.

– De fato. O receptor é obrigado a responder à mensagem ou largar o celular.

Yukinoshita assentiu firmemente aos meus resmungos ocasionais.

Ela não é ruim quando você se limita a olhar para o rosto dela. Parando para pensar nisso,

provavelmente essa é a razão pela qual diversas pessoas pedem para trocar números de

telefone com ela.

Quanto a mim, teve essa única vez em que eu pedi a uma garota bonita para trocarmos

números de telefone. Isso foi quando eu era apenas um inocente estudante do Fundamental.

Toda vez que eu pedia o número dela, ela me dizia “Deeeeeeesculpe, minha bateria acabou

agora mesmo. Eu vou te mandar uma mensagem mais tarde, okay?’. Era um mistério como ela

nunca me passava seu número e, mesmo assim, planejava me enviar uma mensagem. Eu ainda

estou esperando o dia em que ela fará isso...

– Além disso, eu não leio nenhuma mensagem que me cause desgosto...

Yukinoshita admitiu, como se fizesse uma reflexão tardia.

– Hmmm?

Yuigahama pressionou o dedo indicador contra o queixo e inclinou levemente a cabeça.

25

– Então, isso significa que... minhas mensagens causam desgosto a você?

– ... Eu não disse isso.

Yukinoshita, que, até o momento, esteve olhando o tempo inteiro para Yuigahama, desviou

o olhar.

– Elas são apenas um incômodo.

O rosto dela estava vermelho. Este era um tipo fofo de reação, eu acho, mas como não

tinha nada a ver comigo, eu estava pouco me lixando.

Ao ver a expressão de Yukinoshita, Yuigahama saltou e deixou escapar um gritinho.

Misteriosamente o bastante, Yukinoshita virou-se com um olhar amolecido no rosto—ela

estava completamente descongelada. Novamente, isso não tinha nada a ver comigo, então

tanto faz.

– Oh, entendo. Mas telefones não são assim tão perfeitos, sim.

Yuigahama abraçou fortemente o corpo de Yukinoshita, como se doesse nela o quão

superficial era a ligação entre as duas.

– Eu vou estudar realmente duro, sim... seria incrível se eu pudesse ir para a mesma escola

que você.

Ela continuou em voz baixa, com seu olhar mirando o chão.

– Você decidiu a sua Universidade e essas coisas, Yukinon?

– Não, não em termos definitivos. No entanto, eu planejo entrar em uma Faculdade de

Ciências de prestígio Nacional.

– Você sabe tantas palavras difíceis!

Yuigahama exclamou. Em seguida, ela disse:

– Então, um... E quanto a você, Hikki? Eu pos-posso perguntar a você também.

– Artes Liberais em uma Universidade privada.

O sorriso voltou ao rosto de Yuigahama.

– Isso soa realizável!

Oh, vamos lá, o que é essa reação?

– Eu disse isso a você antes, mas estudar Artes Liberais em uma Universidade privada não é

caminhar no parque. Eu peço que você se desculpe com todos os Departamentos de Artes

Liberais do país. Eu e você não estamos no mesmo nível.

– Ooooh... então eu vou trabalhar duro, também!

Yuigahama tomou o lugar de Yukinoshita.

– E é isso. Nós teremos um grupo de estudos a partir dessa semana.

Ela declarou em voz alta.

– ... O que você quer dizer?

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Perguntou Yukinoshita, em dúvida.

Yuigahama ignorou completamente a pergunta dela e prontamente começou a organizar as

coisas.

– Nós não temos atividades do Clube uma semana antes dos testes, então teremos tempo

livre durante a tarde, cês sabiam? Oh, Terça-feira é bom também, uma vez que os professores

terão uma excursão essa semana.

Sério, uma ‘excursão’? Que tipo de estudante do Ensino Médio diz isso?

A ‘excursão’ de que Yuigahama estava falando era um encontro do Departamento de

Pesquisa Educacional da cidade e, como a presença dos professores era obrigatória, as aulas

eram interrompidas e as atividades dos Clubes eram suspensas por um dia.

Bem, eu não poderia dizer que comprei a ideia de Yuigahama. Yukinoshita, a estudante

número um, que aspirava entrar em uma Faculdade de Ciências de renome Nacional, e eu, o

terceiro colocado em Japonês, dificilmente ficaríamos desesperados antes dos testes. Além

disso, eu tinha alguma medida de confiança em relação a minha irmãzinha imbecil e tudo—

minha irmãzinha imbecil, que não conseguia tirar notas decentes. Sempre que ela tinha um

problema que não conseguia resolver, eu não poderia me importar menos em ajudá-la.

Se tem algo que eu odeio, é ter meu tempo privado tirado de mim. Eu nem sequer participo

das celebrações após o Festival de Esportes. Na-Não porque eu nunca sou convidado nem

nada assim! Minha razão é o quanto eu valorizo meu tempo e seria muito angustiante para

mim desperdiçá-lo com outras pessoas.

– Uhhh...

Apresse-se e discorde logo, eu pensei comigo mesmo, estalando a língua quando

Yuigahama recomeçou a falar.

– Então, nós deveríamos ir ao Saize[13] de Chiba?

– Eu realmente não me importo...

Disse Yukinoshita.

– Yuigahama, um, sabe...

Se eu não me apressasse e dissesse algo logo, elas iriam, de fato, continuar com isso! Pare

de dar voltas e acabe logo com isso, eu pensei. Eu abri a boca.

– Essa é a primeira vez que vamos sair juntas, Yukinon!

Yuigahama me interrompeu.

– Só nós duas!

– De fato.

Disse Yukinoshita.

...

[13] Forma reduzida de ‘Saizeriya’, uma famosa cadeia de restaurantes Italianos no Japão.

27

Então eu não havia sido convidado desde o começo.

– Hikki, você disse alguma coisa?

Yuigahama perguntou.

– N-nah... divirtam-se estudando.

É mais eficiente estudar sozinho, de qualquer modo.

... Eu não perdi, okay.

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