Yin 2001 Estudo de Caso Planejamento e Metodos

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Yin 2001 Estudo de Caso Planejamento e Metodos

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  • ESTUDO DE CASO

    Planejamento e Mtodos

    Robert K. Yin

    2a Edio

    Traduo:DANIEL GRASSI

    Consultoria, superviso e reviso tcnica desta edio:CLUDIO DAMACENA Doutor em Cincias Econmicas e Empresariais pela

    Universidade de Crdoba (Espanha)Professor e Pesquisador da Unisinos

    Reimpresso 2004

    2001Yin, Robert K.Estudo de caso: planejamento e

    mtodos / Robert K. Yin; trad. Daniel Grassi - 2.ed. - Porto Alegre : Bookman,

    2001.1. Estudo de caso - Cincias sociais -

    Mtodo - Planejamento. I. Ttulo.CDU 301.085

    Catalogao na publicao: Mnica Ballejo Canto - CRB 10/1023 ISBN 85-7307-852-

  • 9Obra originalmente publicada sob o ttuloCase study research: design and methods Sage Publications, Inc. 1994

    Traduo autorizada por acordo entre Sage Publications, Inc. e Artmed Editora Ltda.

    CapaJoaquim da FonsecaPreparao do original Denise Weber NowaczykSuperviso editorial Arysinha Jacques AffonsoProjeto grfico Editorao eletrnicaRoberto Vieira - Armazm Digital

    Reservados todos os direitos de publicao em lngua portuguesa ARTMED EDITORA S.A. (BOOKMAN COMPANHIA EDITORA uma diviso da ARTMED EDITORA S.A.)Av. Jernimo de Orneias, 670 - Santana90040-340 Porto Alegre RSFone (51) 3330-3444 Fax (51) 3330-2378 proibida a duplicao ou reproduo deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrnico, mecnico, gravao, fotocpia, distribuio na Web e outros), sem permisso expressa da Editora.SO PAULOAv. Rebouas, 1073 - Jardins05401-150 So Paulo SPFone (11) 3062-3757* Fax (11) 3062-2487SAC 0800 703-3444IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL

  • Apresentao

    um privilgio escrever a Apresentao deste belo livro. Ele apresenta, de forma resumida, um mtodo de pesquisa para a investigao de inferncias vlidas a partir de eventos que se encontram fora dos limites do laboratrio, ao mesmo tempo em que mantm os objetivos do conhecimento compartilhado com a cincia laboratorial.

    Cada vez mais estou chegando concluso de que a essncia do mtodo cientfico no a experimentao per se, e sim a estratgia conotada pela expresso hipteses concorrentes plausveis. Tal estratgia pode comear a procurar suas solues com evidncias ou pode comear com hipteses. Em vez de apresentar essa hiptese ou evidncia da maneira da confirmao positivista, independente do contexto (ou mesmo da corroborao ps- positivista), ela apresentada em redes ampliadas de implicaes que (embora nunca completas) so cruciais sua avaliao cientfica.Essa estratgia compreende a explicitao de outras implicaes da hi-ptese para outros dados disponveis e a exposio de como eles se correspondem. Tambm inclui a procura por explicaes concorrentes das evidncias em foco e a anlise de sua plausibilidade. A plausibilidade dessas explicaes geralmente reduzida por uma extino de ramificaes, ou seja, atravs da observao de suas outras implicaes em conjuntos diferentes de dados e de quo bem elas se ajustam umas s outras. At onde essas duas tarefas potencialmente interminveis sero conduzidas vai depender da comunidade cientfica existente na poca da pesquisa e de quais implicaes e hipteses concorrentes plausveis foram explicitadas. E com essa base de trabalho que as comunidades cientficas bem-sucedidas alcanaram um consenso efetivo e progressos cumulativos, mesmo sem terem obtido evidncias concretas. Essas caractersticas das cincias bem-sucedidas, no entanto, foram grosseiramente

  • negligenciadas pelos positivistas lgicos e so pouco utilizadas pelas cincias sociais, tanto quantitativa quanto qualitativamente.

    A verificao atravs de outras implicaes e a extino de ramificaes em hipteses concorrentes tambm caracterizam aquelas pesquisas que buscam validade nas cincias humanas, incluindo a hermenutica de Schleiermacher, Dilthey, Hirst, Habermas e os estudos atuais sobre a interpretao dos textos clssicos. Da mesma forma, a estratgia to til para as conjecturas de um historiador sobre um acontecimento especfico quanto o para a elaborao de uma lei natural por um cientista. trgico que os principais movimentos nas cincias sociais estejam utilizando o termo hermenutica para representar a desistncia do objetivo de validade e o abandono da disputa sobre aqueles que, afinal de contas, esto com a razo. Assim, juntamente com a abordagem de estudo de caso quantitativa e quase-experimental que Yin nos ensina, nosso arsenal metodolgico das cincias sociais tambm necessita de uma metodologia humanstica de estudo de caso que busque a validade e que, ao no fazer uso da quantificao ou de testes de significncia, ainda trabalhe sobre as mesmas questes e compartilhe os mesmos objetivos de conhecimento.

    Como verses dessa estratgia de hipteses concorrentes plausveis, existem dois paradigmas do mtodo experimental que os cientistas sociais talvez queiram seguir. Por hbito, estamos aptos a pensar primeiro no modelo da atribuio aleatria a tratamentos, oriundo das estaes agrcolas de experimentao, dos laboratrios de psicologia, de testes aleatrios de pesquisa mdica e farmacutica e de alguns modelos matemticos criados pelos estatsticos. A randomizao tem por objetivo controlar um nmero infinito de hipteses concorrentes sem especificar em que consistem. A atribuio aleatria nunca controla completamente essas hipteses concorrentes, mas as torna implausveis em um determinado grau estimado pelo modelo estatstico.

    O outro paradigma, mais antigo do que o primeiro, vem dos laboratrios da fsica e pode ser resumido pelo isolamento experimental e pelo controle laboratorial. Aqui se encontram as paredes isoladas com chumbo, os controles de presso, temperatura e umidade, a obteno

  • de vcuos, e assim por diante. Essa tradio mais antiga responsvel por um nmero relativamente baixo mas explicitamente especificado de hipteses concorrentes. Estas jamais so perfeitamente controladas, mas so controladas de uma maneira adequada o suficiente para torn-las implausveis. Quais hipteses concorrentes so controladas ser resultado das controvrsias em curso na comunidade cientfica nesse momento. Mais tarde, em retrospecto, poder:se- perceber que outros controles eram necessrios.

    A tcnica de estudo de caso como apresentada aqui, e a quase-experi- mentao de forma mais genrica, so mais parecidas com o paradigma do isolamento experimental do que com o modelo da atribuio aleatria a tratamentos, no qual cada hiptese concorrente deve ser especificada e especi- ficamente controlada. O grau de certeza ou consenso que a comunidade cientfica capaz de alcanar geralmente ser menor em cincias sociais aplicadas, devido ao grau inferior de reduo da plausibilidade de hipteses con-correntes que provavelmente seria alcanado. A incapacidade de se reproduzir vontade (e com variaes designadas para excluir hipteses concorrentes especficas) faz parte do problema. Deveramos utilizar ao mximo aqueles estudos de caso nico (que jamais podem ser reproduzidos), mas deveramos ficar atentos s oportunidades de realizar estudos de caso intencional-mente reproduzidos.

    Dada a experincia de Robert Yin (Ph.D. em psicologia experimental, com vrias publicaes na rea), sua insistncia de que o mtodo de estudo de caso seja feito em consonncia com os objetivos e os mtodos das cincias talvez no seja uma surpresa. Mas esse treinamento e essa escolha de carreira so geralmente acompanhados pela intolerncia s ambigidades provenientes de ambientes fora do laboratrio. Gosto de acreditar que essa mudana foi facilitada pela sua pesquisa de laboratrio sobre aquele estmulo difcil de se especificar, o rosto do ser humano, e que essa experincia forneceu-lhe uma conscincia do importantssimo papel do padro e do contexto na obteno de conhecimento.

    Essa experincia valiosa no o impediu de mergulhar por inteiro nos clssicos estudos de caso da cincia social e de se transformar, durante o processo, em um lder da

  • metodologia da cincia social no-laboratorial. No conheo nenhum texto que se compare a este. Ele atende a uma necessidade de longa data. Estou confiante de que se tornar o texto-padro nos cursos que ensinam os mtodos de pesquisa da cincia social.

  • DONALD T. CAMPBELL BETHLEHEM, PENSILVNIAPrefcioO estudo de caso h muito foi estereotipado como o parente pobre entre os mtodos de cincia social. Os pesquisadores que realizam estudos de caso so vistos como se tivessem sido desviados de suas disciplinas acadmicas, e suas investigaes como se tivessem preciso (ou seja, quantificao), objetividade e rigor insuficientes.

    Apesar desse esteretipo, os estudos de caso .continuam a ser utilizados de forma extensiva em pesquisa nas cincias sociais - incluindo as disciplinas tradicionais (psicologia, sociologia, cincia poltica, antropologia, histria e economia) e as reas voltadas prtica, como planejamento urbano, administrao pblica, poltica pblica, cincia da administrao, trabalho social e educao. O mtodo tambm o modelo freqente para a pesquisa de teses e dissertaes em todas essas disciplinas e reas. Alm disso, os estudos de caso so cada vez mais um lugar-comum at mesmo na pesquisa de avaliao, supostamente a esfera de ao de outros mtodos, tais como levantamentos e pesquisa quase-experimental. Tudo isso sugere um paradoxo surpreendente: se o mtodo de estudos de caso apresenta srias fragilidades, por que os pesquisadores continuam a utiliz-lo?

    Uma explicao possvel que algumas pessoas simplesmente no sabem muito mais do que isso e no esto treinados para utilizar mtodos alternativos. Contudo, uma leitura cuidadosa dos estudos de caso ilustrativos citados como exemplos ao longo deste livro revelar um grupo distinto de pesquisadores, incluindo alguns poucos que trabalharam como lderes em suas res-pectivas profisses (veja os QUADROS numerados ao longo do texto e a seo de referncia, na qual so fornecidas referncias bibliogrficas completas). Um segundo argumento apresentado, no to importante quanto o primeiro, que as agncias federais dos Estados Unidos transformaram os levantamentos e questionrios de pesquisa em uma questo perigosa, devido aos procedi-mentos de liberao necessrios. Foi dessa forma que os estudos de caso tor- naram-se o mtodo preferido. No entanto, as pesquisas patrocinadas pelo governo federal no predominam nas cincias sociais - e certamente no predominam na Europa e em outros pases - e a natureza

  • das leis federais no podem ser responsveis pelo padro mais amplo das metodologias utilizadas nas cincias sociais.

    Em contraste, este livro apresenta um terceiro argumento - que o esteretipo do mtodo de estudo de caso pode estar equivocado. De acordo com esse argumento, a contnua relevncia do mtoo levanta a possibilidade de que compreendemos mal seus pontos fortes e fracos e de que necessria uma perspectiva diferente. Este livro tenta desenvolver essa perspectiva ao desvencilhar o estudo de caso, como ferramenta de pesquisa, do (a) estudo de caso como ferramenta de ensino, (b) de etnografias e observao participante e (c) dos mtodos qualitativos. A essncia do estudo de caso vai alm dessas trs reas, muito embora possa haver sobreposies com as ltimas duas. Dessa forma, as caractersticas verdadeiramente distinguveis do mtodo de estudo de caso, ao longo de todas as fases da pesquisa - definio do problema, delineamento da pesquisa, coleta de dados, anlise de dados e composio e apresentao dos resultados so os assuntos tratados.

    O objetivo do livro orientar os pesquisadores e estudantes que esto tentando realizar estudos de caso como mtodo rigoroso de pesquisa. Diferencia-se de outras publicaes na medida em que o planejamento e a anlise do estudo de caso recebem mais ateno do que os tpicos tradicionais da coleta de dados do estudo de caso. Os dois primeiros receberam pouqussima ateno nos textos existentes das cincias sociais, embora criem os maiores problemas queles que esto tentando realizar estudo de caso. Diferencia-se tambm na medida em que as referncias aos estudos amplamente conhecidos em reas diferentes so descritas individualmente, ilustrando questes levantadas no livro (veja os QUADROS ao longo do texto). Finalmente, o livro tambm mostra seu carter diferenciado na medida em que est comeando a passar no teste do tempo: a primeira edio (1984) teve oito reimpresses e a edio revista (1989) teve outras 16,

  • As idias contidas neste livro baseiam-se em uma mescla das minhas prprias pesquisas realizadas nos ltimos 20 anos, em cursos de metodologia de estudo de caso ministrados no Massachusetts Institute of Technology (MIT) por cinco anos e na American University por trs, alm de se basearem em discusses com muitos pesquisadores interessados na pesquisa de estudo de caso, incluindo Herbert Kaufman (enquanto estava na Brookings Institution), Alexander George, da Stanford University, Lawrence Sussknd, do MIT, Matthew Miles, do Center for Policy Research, Karen Seashore Louis (enquanto estava na University of Massachusetts), Elliot Liebow (enquanto estava no National Institute of Mental Health) e Carol Wess, da Universidade Harvard. Mais recentemente, tive o privilgio de ministrar seminrios anuais sob o patrocnio da Aarhus School of Business, da Dinamarca (e compartilhar algumas impresses com os professores universitrios Erik Maaloe, Finn Borum e Erk Albaek). Esses colegas Juntamente com aqueles da RAND Corporation (de 1970 a 1978) e os da COSMOS Corporation (de 1980 at hoje) forneceram-me estmulo, discusses e apoio constantes ao me ajudar na exposio dos vrios aspectos da pesquisa de estudo de caso discutidos nesse livro.

    Dois revisores annimos fizeram suas valiosas observaes no manuscrito da primeira edio. Todas as trs verses do livro (1984, 1989 e a atual) receberam contribuies diretas da contnua e cuidadosa ateno de Leonard Bickman e Debra Rog (editores desta srie), de C. Deborah Laughton e da bela equipe da Sage Publications. Sua ateno minuciosa, seu apoio carinhoso e seu estmulo constante fazem com que um autor queira terminar logo um texto e se lanar em um novo desafio na vida. No obstante, da mesma forma que nas edies anteriores, assumo sozinho a responsabilidade por esta se-gunda edio.

    Naturalmente, as idias de qualquer pessoa sobre os estudos de caso - e sobre os mtodos das cincias sociais de forma mais genrica - devem ter razes mais profundas, e as minhas retornam s duas disciplinas em que fui treinado: histria, na graduao, e psicologia

  • experimental, na ps-gradua- o. Histria e historiografia primeiramente despertaram minha conscincia em relao importncia da metodologia nas cincias sociais. Essa marca incomparvel da psicologia experimental que adquiri no MIT ensinou-me depois que a pesquisa emprica avana somente quando vem acompanhada pelo pensamento lgico, e no quando tratada como esforo mecanicista. Essa lio acabou se tomando uma questo bsica do mtodo de estudo de caso. Dediquei este livro, portanto, a uma pessoa no MIT que me ensinou isso da melhor maneira imaginvel, e sob cuja orientao completei uma dissertao sobre o reconhecimento de rosto, embora ele mal poderia reconhecer as semelhanas entre passado e presente, se ainda estivesse vivo hoje.

    NOTA SEGUNDA EDIO

  • A primeira edio deste livro recebeu ateno progressiva daqueles que fazem investigaes sociais e psicolgicas, pesquisa de avaliao, estudos de poltica pblica e estudos empresariais, administrativos e internacionais. Um desenvolvimento intrigante foi a guinada em direo ao estudo de caso como ferramenta de pesquisa (e no apenas de ensino) por parte das escolas de administrao em todo o pas. Da mesma forma, pesquisadores de programas internacionais j tinham redescoberto a importncia do estudo de caso como uma sria ferramenta de pesquisa. Em geral, pode ter havido uma tendncia significante rumo avaliao da complexidade dos fenmenos organizacionais, para os quais o estudo de caso pode ser o mais adequado mtodo de pesquisa.Em resposta aos comentrios feitos primeira edio (1984), a edio revista (1989) tentou explicar melhor o importante papel da teoria, tanto ao se planejar estudos de caso quanto ao se generalizar a partir deles. Alm disso, foi apresentada uma orientao mais elaborada acerca do problema de se determinar o nmero de casos que devem ser usados em um estudo de casos mltiplos. Ambas as discusses podem ser encontradas no Captulo 2. Ainda assim, outra resposta a esses comentrios anteriores foi um livro de referncia, Applications of Case Stady Research (1993), que fornece, na prtica, exemplos extensivos do mtodo de estudo de caso.

    Esta segunda edio atualiza a verso original e a revista, sem copiar nenhum dos exemplos no Applications. Em primeiro lugar, o texto integra muitas publicaes adicionais, algumas que foram lanadas apenas recentemente. Algumas delas so importantes e tratam diretamente do mtodo de estudo de caso (p.ex., Agranoff & Radin, 1991; Feagin, Orum & Sjoberg, 1991; Hamel, 1992; Platt, 1992a; Stake, 1994; U.S. General Accounting Office, 1990). De meno especial o artigo de Platt, que reconstitui o desenvolvimento histrico do estudo de caso como mtodo de pesquisa.

    Outras publicaes importantes tratam de tpicos intimamente relacionados, incluindo mtodos qualitativos, adequao aos padres e escrita e composio (Becker,

  • 1986; Lincoln, 1991; Marshall & Rossman, 1989; Merton, Fiske, & Kendall, 1990; Strauss & Corbin, 1990; Trochim, 1989; Van Maanen, 1988; Wolcott, 1990). Essas publicaes ajudaram a elucidar as reas de contraste e as sobreposies entre o mtodo de estudo de caso e outras estratgias de pesquisas.

    Em segundo lugar, o texto d uma nfase maior aos exemplos que incluem o mercado mundial e a economia internacional - tpicos de alguma forma mais publicamente valiosos do que antes. Os exemplos aparecem no prprio texto e nas novas ilustraes (veja os QUADROS 5b, 6, 11 e 29). No geral, embora o nmero de QUADROS parea ter diminudo em relao primeira edio, essa observao falaciosa, pois a primeira edio continha quatro QUADROS que eram na verdade figuras, e no exemplos ilustrativos (as figuras ainda fazem parte do texto, mas agora so figuras rotuladas, e no QUADROS).

  • Em terceiro lugar, o texto tenta explicar diversas questes de forma ainda mais completa. Incluem-se nessas questes (a) a discusso expandida do debate acirrado sobre a avaliao entre pesquisa qualitativa e quantitativa (Captulo 1), (b) mais sobre o desenvolvimento da teoria (Captulo 2), (c) clarificao dos cinco nveis de questes (Captulo 3), (d) uma nova distino entre unidades de coleta de dados e unidades de planejamento (Captulo 3), (e) uma comparao mais refinada dos seis pontos fortes e fracos das fontes de dados, (f) uma discusso mais extensiva sobre triangulao como fundamento lgico para fontes mltiplas de evidncias (Captulo 4), (g) o uso de modelos lgicos de programas como estratgia analtica, (h) orientao adicional sobre a conduo de anlises de alta qualidade (Captulo 5) e um pou- co mais sobre (i) as estruturas de escrita e (j) escrita e reescrita (Captulo 6). Em resumo, a atualizao atingiu cada captulo de uma maneira ou de outra, embora sob muitos outros aspectos o livro no tenha sido alterado.

    Uma alterao final e importante foi uma articulao mais detalhada da definio geral de estudos de caso. Nas verses anteriores, considerava-se que os estudos de caso possuam trs caractersticas, a presente edio (Captulo 1) identifica duas caractersticas adicionais que estavam implcitas, mas no claramente numeradas nas edies precedentes. Essa definio mais articulada deve levar a uma melhor compreenso do mtodo de estudo de caso como ferramenta de pesquisa.Gostaria de encerrar esta nota expressando meus agradecimentos a todos os pesquisadores novatos e experientes que realizaram pesquisa de estudo de caso nos ltimos 10 anos. Certamente existem mais pessoas como vocs, e coletivamente espero que estejamos fazendo um trabalho melhor do que realmente teramos feito h 10 anos. No entanto, o desafio de inovar e avanar significativamente nossa cincia ainda continua. A presente atualizao apenas reflete alteraes incrementais. O avano desejado transformaria ainda mais a pesquisa de estudo de casos em um lugar-comum e3 ao

  • mesmo tempo, elevaria sua qualidade a um patamar inquestionvel.Sumrio

    IntroduoOestudo de caso apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em cincias sociais. Experimentos, levantamentos, pesquisas histricas e anlise de informaes em arquivos (como em estudos de economia) so alguns exemplos de outras maneiras de se realizar pesquisa. Cada estratgia apresenta vantagens e desvantagens prprias, dependendo basicamen te de trs condies: a) o tipo de questo da pesquisa; b) o controle que o pesquisador possui sobre os eventos comportamentais efetivos; c) o foco em fenmenos histricos, em oposio a fenmenos contemporneos.

    Em geral, os estudos de caso representam a estratgia preferida quando se colocam questes do tipo como e por que, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenmenos contemporneos inseridos em algum contexto da vida real. Pode-se complementar esses estudos de casos explanatrios com dois outros tipos - estudos exploratrios e descritivos. Independentemente do tipo de estudo de caso, os pesquisadores devem ter muito cuidado ao projetar e realizar estudos de casos a fim de superar as tradicionais crticas que se faz ao mtodo.

    O ESTUDO BE CASO COMO ESTRATGIA DE PESQUISAEste livro trata do planejamento e da conduo de estudos de caso para fins de pesquisa. Como estratgia de pesquisa, utiliza-se o estudo de caso em muitas situaes,

  • nas quais se incluem: poltica, cincia poltica e pesquisa em administrao pblica; sociologia e psicologia comunitria;

  • estudos organizacionais e gerenciais; pesquisa de planejamento regional e municipal, como estudos de plan-tas., bairros ou instituies pblicas;

    Q superviso de dissertaes e teses nas cincias sociais - disciplinas acadmicas e reas profissionais como administrao empresarial, cincia administrativa e trabalho social.

    Este livro abrange as caractersticas distintivas da estratgia de estudos de caso comparadas a outros tipos de pesquisa. Lida, de forma muito importante, com o planejamento, a anlise e a exposio de idias - e no apenas com o foco mais tradicional da coleta de dados ou do trabalho de campo.

    O objetivo geral do livro ajudar os pesquisadores a lidar com algumas das questes mais difceis que so comumente negligenciadas pelos textos de pesquisa disponveis. Com muita freqncia, por exemplo, o autor se viu frente a frente com um estudante ou um colega de profisso que lhe perguntou:

    a) como definir um caso que est sendo estudado;b) como determinar os dados relevantes que devem

    ser coletados;c) o que deveria ser feito com os dados aps a coleta.Espera-se que esse livro consiga responder a essas

    questes.O livro, no entanto, nao trata de todos os usos do

    estudo de caso. No seu objetivo, por exemplo, ajudar aqueles que procuram utilizar os estudos de caso como recursos de ensino, popularizados nos campos do direito, da administrao, da medicina ou da poltica pblica (veja Llewellyn, 1948; Sten, 1952; Towl, 1969; Windsor & Greanias, 1983), mas agora predominantes em todas as reas acadmicas, incluindo as cincias naturais. Para fins de ensino, um estudo de caso no precisa conter uma interpretao completa ou acurada; em vez disso, seu propsito estabelecer uma estrutura de discusso e debate entre os estudantes. Os critrios para se desen-volver bons casos para ensino - cuja variedade, em geral, de caso nico e no de casos mltiplos - so bem diferentes dos critrios para se realizar pesquisa (p.ex., Caulley 8c Dowdy, 1987). Os estudos de caso que se desti-nam ao ensino no precisam se preocupar com a

  • apresentao justa e rigorosa dos dados empricos; os que se destinam pesquisa precisam fazer exatamente isso.

    De forma similar, no objetivo deste livro abranger aquelas situaes em que os casos so utilizados como forma de se manter registros. Registros mdicos, arquivos de trabalho social e outros registros de caso so utilizados para facilitar a prtica, na medicina, no direito ou no trabalho social. Novamente, os critrios para se desenvolver bons casos para a utilizao prtica so diferentes dos critrios usados para se projetar estudos de casos para a pesquisa.

    Em contraste, o fundamento lgico para este livro que os estudos de caso esto sendo cada vez mais utilizados como ferramenta de pesquisa (p.ex.,Hamel, 1992; Perry & Kraemer, 1986) e que voc - que pode ser um cientista social experiente ou principiante - gostaria de saber como planejar e conduzir estudos de caso nico ou de casos mltiplos para investigar um objeto de pesquisa. O livro concentra-se fortemente no problema de se projetar e analisar estudos de caso e no meramente um guia para a coleta de evidncias. Sob tal aspecto, a obra preenche uma lacuna na metodologia das cincias sociais, dominada por textos sobre mtodos de campo, que oferecem poucas diretrizes de como se iniciar um estudo de caso, como analisar os dados ou mesmo como minimizar os problemas de composio do relatrio do estudo. Esse texto trabalha com todas as fases de planejamento, coleta, anlise e apresentao dos resultados.

    Como esforo de pesquisa, o estudo de caso contribu., de forma inigualvel, para a compreenso que temos dos fenmenos individuais, organizacionais, sociais e polticos. No surpreendentemente, o estudo de caso vem sendo uma estratgia comum de pesquisa na psicologia, na sociologia, na cincia poltica, na administrao, no trabalho social e no planejamento (Yin, 1983). Pode-se encontrar estudos de caso at mesmo na economia, em que a estrutura de uma determinada indstria, ou a economia de uma cidade ou regio, pode ser investigada atravs do uso de um projeto de estudo de caso. Em todas essas situaes, a clara necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender fenmenos sociais complexos. Em resumo, o estudo de caso permite uma investigao para se preservar as caractersticas holsticas e significativas dos eventos da vida real - tais como ciclos

  • de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanas ocorridas em regies urbanas, relaes internacionais e a maturao de alguns setores.

    COMPARANDO ESTUDOS BE CASO COM OUTRAS ESTRATGIAS DE PESQUISAQuando e por que voc desejaria realizar estudos de caso sobre algum tpico? Deveria pensar em fazer um experimento no local? Um levantamento? Uma pesquisa histrica? Uma anlise de arquivos feita por computador, tais como histricos escolares?

    Essas e outras escolhas representam estratgias de pesquisa diferentes (a discusso seguinte enfoca somente cinco escolhas, mas no tenta catalogar nenhuma delas). Cada uma dessas estratgias representa uma maneira diferente de se coletar e analisar provas empricas, seguindo sua prpria lgica. E cada uma apresenta suas prprias vantagens e desvantagens. Para obter o mximo de uma estratgia de estudo de caso, voc precisa conhecer essas diferenas.

    Uma interpretao equivocada muito comum a que as diversas estratgias de pesquisa devem ser dispostas hierarquicamente. Ensinaram-nos a acreditar que os estudos de caso eram apropriados fase exploratria de uma investigao, que os levantamentos de dados e as pesquisas histricas eram apropriadas fase descritiva e que os experimentos eram a nica maneira de se fazer investigaes explanarrias ou causais. A viso hierrquica reforava a idia de que os esttidos de caso eram apenas uma ferramenta exploratria e no poderiam ser utilizados para descrever ou testar proposies (Platt, 1992a).

    Est incorreta, no entanto, essa viso hierrquica. Certamente sempre houve experimentos motivados por razes exploratrias. Alm disso, o desenvolvimento de explanaes causais sempre representou uma sria preocupao para os historiadores, refletida pelo subcampo conhecido como historiografia. Finalmente, os estudos de caso esto muito longe de serem apenas uma estratgia exploratria. Alguns dos melhores e mais famosos estudos de casos foram descritivos (por exemplo, Street Corner Society, de Whyte, 1943/ 1955; veja QUADRO 1) e explanatrios (veja Essertce ofDeclsion: Explaining the Cuban Missile Crisis, de Allson, 1971 [grifo nosso]; veja

  • QUADRO 2).

    QUADRO 1Um famoso estudo de caso descritivoO livro Street Corner Society (1943/1955), de William F.

    Whyte, foi recomendado por dcadas na comunidade sociolgica, E um exemplo clssico de um estudo de caso descritivo. Traa a seqncia de eventos interpessoais ao longo do tempo, descreve uma subcultura que raramente foi tpico de estudos anteriores e descobre seus fenmenos-chave - como o avano profissional dos jovens de baixa renda e sua habilidade (ou incapacidade) de romper os laos da vizinhana.

    Apesar de ser um estudo de caso nico, que estudava um bairro (Comerville) e um perodo de tempo que j tem mais de 50 anos, o estudo foi muito respeitado. 0 valor do livro est, paradoxalmente, em sua generalizao de questes que lidam com o desempenho individual, a estrutura de grupo e a estrutura social dos bairros. Mais tarde,

    QUADRO 2Um estudo de caso explanatrioMesmo um estudo de caso nico pode ser

    freqentemente utilizado para perseguir um propsito explanatrio e no apenas exploratrio (ou descritivo). 0 objetivo do analista deveria ser propor explanaes concorrentes para o mesmo conjunto de eventos e indicar como essas explanaes podem ser aplicadas a outras situaes.

    Essa estratgia foi utilizada por Graham Allison em Essence 0/ Decision: Explaining the Cuban Missile Crisis (1971). O caso nico um confronto entre os Estados Unidos e a Unio Sovitica devido instalao de msseis de ataque em Cuba. Allison prope trs modelos ou teorias concorrentes para explicar 0 curso dos acontecimentos, incluindo respostas a trs questes-chave: por que a Unio Sovitica instalou msseis de ataque (e no apenas de defesa) em Cuba em primeiro lugar, por que os Estados Unidos responderam colocao dos msseis com um bloqueio (e no com ataque areo ou invaso) e por que a Unio Sovitica

  • A viso mais apropriada dessas estratgias diferentes pluralstica. Pode- se utilizar cada estratgia por trs propsitos - exploratrio, descritivo ou explanatrio. Deve haver estudos de caso exploratrios, descritivos ou explanatrios (Yin, 1981a, 1981b). Tambm deve haver experimentos exploratrios, descritivos e explanatrios. O que diferencia as estratgias no essa hierarquia, mas trs outras condies, discutidas a seguir. No obstante, isso no implica que os limites entre as estratgias - ou as ocasies em que cada uma usada - sejam claros e bem-delimitados. Muito embora cada estratgia tenha suas caractersticas distintas, h grandes reas de sobreposies entre elas Cp.ex., Sieber, 1973). O objetivo evitar desajustes exagerados - isto , quando voc estiver planejando utilizar um tipo de estratgia e perceber que outro mais vantajoso em seu lugar.Quando utilizar cada estratgiaAs trs condies consistem (a) no tipo de questo de pesquisa proposto, (b) na extenso de controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamen- tas efetivos e (c) no grau de enfoque em acontecimentos histricos em oposio a acontecimentos contemporneos. A Figura 1.1 apresenta essas trs condies e mostra como cada uma se relaciona s cinco estratgias de pesquisa principais nas cincias sociais: experimentos, levantamentos, anlise de arquivos, pesquisas histricas e estudos de caso. A importncia de cada condio, ao se fazer a distino entre as cinco estratgias, discutida a seguir.

    Tipos de questes de pesquisa (Figura 1.1, coluna 1). A primeira condio trata da(s) questo(es) da pesquisa (Hedrck, Bickman, & Rog, 1993). Um esquema bsico de categorizao para os tipos de questo pode ser represen-tado pela conhecida srie: quem, o que1", onde, como e por que.

    1N. de T. "What", no original, O termo tambm pode ser traduzido por qual ou quais.

  • estratgia forma da questo de pesquisa

    exige controle sobre eventos comportam

    focalizaacontecimentoscontemporneo

    s?experimentocomo, por que sim sim

    levantamentoquem, o que, onde, quantos,

    no sim

    anlise de arquivosquem, o que, onde, quantos,

    no sim/no

    pesquisa histricacomo, por que no no

    estudo de casocomo, por que no sim

    Se as questes da pesquisa salientam apenas questes do tipo o que, surgem duas possibilidades. Primeiro, alguns tipos de questes o que so exploratrias, como esta: O que pode ser feito para tornar as escolas mais eficazes? Esse tipo de questo um fundamento lgico justificvel para se conduzir um estudo exploratrio, tendo como objetivo o desenvolvimento de hipteses e proposies pertinentes a inquiries adicionais. Entretanto, como estudo exploratrio, qualquer uma das cinco estratgias de pesquisa pode ser utilizada - por exemplo, um levantamento exploratrio, um experimento exploratrio ou um estudo de caso exploratrio, O segundo tipo de questes o que , na verdade, uma forma de investigao na linha quanto ou quantos - por exemplo, Quais foram os resultados de uma determinada reorganizao administrativa? E mais provvel que a identificao de tais resultados favorecer as estratgias de levantamento de dados ou de anlise de arquivos do que qualquer outra. Por exemplo, um levantamento pode ser facilmente projetado para enumerar os o ques, ao passo que um estudo de caso no seria uma estratgia vantajosa nesse caso.

    De forma similar, como esse segundo tipo de questo o que, mais provvel que questes do tipo quem ou onde (ou seus derivados - quantos e quanto) favoreceram estratgias de levantamento de dados ou anlise de registros arquivais, como na pesquisa econmica. Tais estratgias so vantajosas quando o

    Figura 1.1 Situaes relevantes para diferentes estratgias de pesquisa. FONTE: COSMOS Corporation

  • objetivo da pesquisa for descrever a incidncia ou a predominncia de um fenmeno ou quando ele for prevsiVe sobre certos resultados. A investigao de atitudes polticas predominantes (nas quais um levantamento ou uma pesquisa de opinio pode ser a estratgia favorecida) ou da disseminao de uma doena como a AIDS (em que uma anlise das estatsticas de sade pode ser a estratgia favorecida) seriam os exemplos tpicos.

    Em contraste, questes do tipo como e por que so mais explanatrias, e provvel que levem ao uso de estudos de casos, pesquisas histricas e experimentos como estratgias de pesquisa escolhidas. Isso se deve ao fato de que tais questes lidam com ligaes operacionais que necessitam ser traadas ao longo do tempo, em vez de serem encaradas como meras repeties ou incidncias. Assim, se voc deseja saber como uma comunidade conseguiu impedir com sucesso a construo de uma auto-estrada (veja Lupo etaL, 1971), seria pouco provvel que voc confiasse em um levantamento de dados ou em um exame de arquivos; seria melhor fazer uma pesquisa histrica ou um estudo de caso. Da mesma forma, se voc deseja saber por que os circundantes no conseguiram relatar situaes perigosas sob certas condies, voc poderia projetar e conduzir uma srie de experimentos (veja Latan & Darley, 1969).Vamos considerar outros dois exemplos. Se voc estivesse investigando quem participou de um determinado tumulto em uma regio e quanto dano foi causado nesse tumulto, voc poderia fazer um levantamento entre os residentes do local, examinar os registros do negcio (uma anlise de arquivos) ou conduzir um levantamento de campo na rea em que ocorreu o tumulto. Em contraste, se voc quisesse saber por que aconteceram os tumul- tos, teria que esquematizar uma srie mais abrangente de informaes documentrias, ao mesmo tempo em que realizasse algumas entrevistas; se voc focasse sua investigao em questes do tipo como em mais de uma cidade, provavelmente estaria realizando um estudo de casos mltiplos.

    Da mesma forma, se voc quisesse saber o que o governo realmente fez aps anunciar um novo programa, poderia responder a essa questo to freqente realizando um levantamento ou examinando dados econmicos, dependendo do tipo de programa envolvido. Considere as

  • seguintes questes: quantos clientes o programa beneficiou? Que tipos de benefcios foram concedidos? Qual a freqncia com quem se produziram benefcios diferentes? Poder-se-ia responder a todas essas perguntas sem se fazer um estudo de caso. Mas se voc precisasse saber como ou por que o programa funcionou (ou no), teria que dirigir-se ou para o estudo de caso ou para um experimento de campo.

    Algumas perguntas do tipo como ou por que so ambivalentes e necessitam de esclarecimentos. Pode-se explicar como e por que Bill Clinton foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1992 atravs de um levantamento ou de um estudo de caso, O levantamento poderia examinar os padres de votao, mostrando que a grande maioria dos votos dada a Ross Perot veio de partidrios do ento presidente George Bush, e isso poderia responder satisfatoriamente s questes como e por que. Por outro lado, o estudo de caso poderia examinar como Bill Clinton conduziu sua campanha a fim de alcanar a indicao necessria para se candidatar e manipular a opinio pblica a seu favor. O estudo daria conta do papel potencialmente proveitoso da fraca economia americana no incio da dcada de 90 ao negar o apoio chapa Bush-Quayle como candidatos. Essa abordagem tambm seria uma maneira aceitvel de responder s questes como e por que, mas seria diferente do estudo realizado a partir de um levantamento.

    Para resumir, a primeira e mais importante condio para se diferenciar as vrias estratgias de pesquisa identificar nela o tipo de questo que est sendo apresentada. Em geral, questes do tipo o que podem ser tanto exploratrias (em que se poderia utilizar qualquer uma das estratgias) ou sobre predominncia de algum tipo de dado (em que se valorizaria levantamentos ou anlises de registros em arquivo). E provvel que questes como e por que estimulassem o uso de estudos de caso, experimentos ou pesquisas histricas.Definir as questes da pesquisa provavelmente o passo mais importante a ser considerado em um estudo de pesquisa. Assim, deve-se reservar pacincia e tempo suficiente para a realizao dessa tarefa. A chave compreender que as questes de uma pesquisa possuem substncia - por exemplo, sobre o que o meu estudo? ~ e forma - por exemplo, estou fazendo uma pergunta do tipo quem, o que, por que ou como?. Outras

  • questes detiveram-se em detalhes substancialmente importantes (veja Campbell, Daft & Hulin, 1982); o ponto-chave da discusso anterior que a forma de uma questo fornece uma chave importante para se traar a estratgia de pesquisa que ser adotada. Lembre-se das grandes reas de sobreposio entre as estratgias, de forma que, para algumas questes, pode realmente existir uma escolha efetiva entre uma ou outra estratgia. Lembre-se, finalmente, de que pode haver uma predisposio de sua parte para buscar uma estratgia em particular independentemente da questo do estudo. Se for assim, certifique- se de criar a forma de questo do estudo que melhor se enquadre na estratgia que voc est pensando em adotar em primeiro lugar.

    Abrangncia do controle sobre eventos comportamentais (Figura 1.1? coluna 2) e grau de enfoque em acontecimentos histricos em oposio a aconteci-mentos contemporneos (Figura 1.1, coluna 3), Assumindo-se que questes do tipo como e por que devam ser o foco do estudo, uma distino adicional entre pesquisa histrica, estudo de caso e experimento torna-se a abrangncia do controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais efetivos eo acesso a eles. As pesquisas histricas representam a estratgia escolhida quando realmente no existe controle ou acesso. Assim, a contribuio distintiva do mtodo histrico est em lidar com o passado morto - isto , quando nenhuma pessoa relevante ainda est viva para expor, mesmo em retrospectiva, o que aconteceu, e quando o pesquisador deve confiar, como fonte principal de evidncias, em documentos primrios, secundrios e artefatos fsicos e culturais. Pode-se, naturalmente, fazer pesquisas histricas sobre acontecimentos contemporneos; nessa situao, a estratgia comea a se sobrepor estratgia do estudo de caso.

    O estudo de caso a estratgia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporneos, mas quando no se podem manipular comportamentos relevantes. O estudo de caso conta com muitas das tcnicas utilizadas pelas pesquisas histricas, mas acrescenta duas fontes de evidncias que usualmente no so includas no repertrio de um historiador: observao direta e srie sistemtica de entrevistas, Novamente, embora os estudos de casos e as pesquisas histricas possam se sobrepor, o poder diferenciador do estudo a

  • sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidncias - documentos, artefatos, entrevistas e observaes - alm do que pode estar disponvel no estudo histrico convencional. Alm disso, em algumas situaes, como na observao participante, pode ocorrer manipulao informal.Finalmente, so realizados experimentos quando o pesquisador pode ma- nipular o comportamento direta, precisa e sistematicamente. Isso pode ocorrer em um laboratrio, no qual o experimento pode focar uma ou duas variveis isoladas (e presume que o ambiente de laboratrio possa controlar todas as variveis restantes alm do escopo de interesse), ou pode ocorrer em um cam-po, onde surgiu o termo experimento social para se ocupar da pesquisa em que os pesquisadores tratam grupos inteiros de pessoas de maneiras diferentes, como lhes fornecer tipos diferentes de documentao comprobatria (Boruch, a ser lanado). Novamente os mtodos se sobrepem. A ampla variedade de cincias experimentais tambm inclui aquelas situaes em que o experimentador no pode manipular o comportamento (veja Blalock, 1961; Campbell & Stanley, 1966; Cook & Campbell, 1979), mas nas quais a lgica do planejamento experimental ainda pode ser aplicada. Essas situaes foram comumente denominadas situaes quase-experimentais. Pode-se at mesmo utilizar a abordagem quase-experimental em um cenrio histrico, no qual, por exemplo, o pesquisador pode se interessar pelo estudo de linchamentos ou manifestaes raciais (veja Spierman, 1971) e pode utilizar um planejamento quase-experimental porque no possvel se obter controle sobre eventos comportamentais.

    Resumo. Podemos identificar algumas situaes em que todas as estratgias de pesquisa podem ser relevantes (tais como pesquisa exploratria), e outras situaes em que se pode considerar duas estratgias de forma igualmente atraente (por exemplo, como e por que Bill Clinton foi eleito). Tambm podemos utilizar mais de uma estratgia em qualquer estudo dado (por exemplo, um levantamento em um estudo de caso ou um estudo de caso em um levantamento). At esse ponto, as vrias estratgias no so mutuamente exclusivas. Mas podemos tambm identificar algumas situaes em que uma estratgia especfica possui uma vantagem distinta. Para o estado de caso, isso ocorre quando

  • I faz-se uma questo do tipo como ou por que" sobre um conjunto contemporneo de acontecimentos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle.

    Determinar as questes mais significantes para um determinado tpico e obter alguma preciso na formulao dessas questes exige muita preparao. Uma maneira revisar a literatura j escrita sobre aquele tpico (Cooper, 1984). Observe que essa reviso de literatura , portanto, um meio para se atingir uma finalidade, e no - como pensam muitos estudantes - uma finalidade em si. Os pesquisadores iniciantes acreditam que o propsito de uma reviso de literatura seja determinar as respostas sobre o que se sabe a respeito de um tpico; no obstante, os pesquisadores experientes analisam pesquisas anteriores para desenvolver questes mais objetivas e perspicazes sobre o mesmo tpico.

    Preconceitos tradicionais em relao estratgia de estudo de

    casoEmbora o estudo de caso seja uma forma distintiva de investigao emprica, muitos pesquisadores demonstram um certo desprezo para com a estratgia. Em outras palavras, como esforo de pesquisa, os estudos de caso vm sendo encarados como uma forma menos desejvel de investigao do que experimentos ou levantamentos. Por qu?

  • Talvez a maior preocupao seja a falta de rigor da pesquisa de estudo de caso. Por muitas e muitas vezes, o pesquisador de estudo de caso foi negligen-te e permitiu que se aceitassem evidncias equivocadas ou vises tendei* sas para influenciar o significado das descobertas e das concluses.

    Tambm existe a possibilidade de que as pessoas tenham confundido o ensino do estudo de caso com a pesquisa do estudo de caso. No ensino, a matria-prima do estudo de caso pode ser deliberadamente alterada para ilustrar uma determinada questo de forma mais efetiva. Na pesquisa, qualquer passo como esse pode ser terminantemente proibido. Cada pesquisador de estudo de caso deve trabalhar com afinco para expor todas as evidncias de forma justa, e este livro o ajudar a fazer isso. O que freqentemente se esquece que o preconceito tambm pode ser inserido no procedimento dos experimentos (veja Rosenthal, 1966) e do uso de outras estratgias de pesquisa, como o planejamento de questionrios de pesquisas (Sudman & Bradburr,1982) ou a conduo de pesquisa histrica (Gottschalk, 1968). No so problemas diferentes, mas, na pesquisa de estudo de caso, so problemas freqentemente encontrados e pouco superados.

    lma segunda preocupao muito comum em relao aos estudos de caso que eles fornecem pouca base para se fazer uma generalizao cientfica. Como voc pode generalizar a partir de um caso nico uma questo muito ouvida. A resposta no muito simples (Kennedy, 1976). Entretanto, pense, no momento, que a mesma questo tenha sido feita em relao a um experimento: Como voc pode generalizar a partir de um nico experimento? Na verdade, fatos cientficos raramente se baseiam em experimentos nicos; baseiam-se, em geral, em um conjunto mltiplo de experimentos, que repetiu o mesmo fenmeno sob condies diferentes. Pode-se utilizar a mesma tcnica com estudos de casos mltiplos, mas exige-se um conceito diferente dos projetos de pesquisa apropriados; essa discusso apresentada em detalhes no Captulo 2. Uma resposta muito breve que os estudos de caso, da mesma forma que os experimentos, so generalizveis a proposies tericas, e no a populaes ou universos. Nesse sentido, o estudo de caso, como o experimento, no representa uma amostragem,

  • e o objetivo do pesquisador expandir e generalizar teorias (generalizao analtica) e no enumerar freqncias (generalizao estatstica). Ou, como descrevem trs notveis cientistas sociais em seu estudo de caso nico, o objetivo fazer uma anlise generalizante" e no particularizante (Lipset, Trow, & Coleman, 1956, p. 419-420).Uma terceira reclamao freqente que se faz ao estudo de caso que eles demoram muito, e resultam em inmeros documentos ilegveis. Essa queixa pode at ser procedente, dada a maneira como se realizaram estudos de caso no passado (p.ex., Feagin, Orum, & Sjoberg, 1991), mas no representa, necessariamente, a maneira como os estudos de caso sero conduzidos no futuro. O Captulo 6 discute alternativas para se escrever estudo de caso - incluindo aquelas em que se pode evitar totalmente as maantes narrativas tradicionais. Nem os estudos de caso precisam demorar muito tempo. Isso confunde incorretamente a estratgia de estudo de caso com um mtodo especfico de coleta de dados, como etnografia ou observao participante. A etnografia em gerai exige iongos perodos de tempo no campo e enfatiza evidncias observacionais detalhadas. A observao participante pode no exigir a mesma quantidade de tempo, mas ainda presume um investimento pesado de esforos no campo. Em contraste, os estudos de caso so uma forma de inquirio que no depende exclusivamente dos dados etnogrficos ou de observadores participantes. Poder-se-ia at mesmo realizar um estudo de caso vlido e de alta qualidade sem se deixar a biblioteca e se largar o telefone, dependendo do tpico que est sendo utilizado.

    Apesar do fato de que essas preocupaes comuns possam ser tranqilizadas, como foi feito acima, uma lio maior que se pode tirar ainda que bons estudos de caso so muito difceis de serem realizados. O problema que temos poucas maneiras de filtrar ou testar a capacidade de um pesquisador de realiz-los. As pessoas sabem quando elas no dominam a arte de fazer msica; tambm sabem quando no se do bem em matemtica; e podem ser testadas em outras habilidades, como no exame da Ordem2 no Direito. De alguma forma, as habilidades

    2N. de T. Bar examination, no original. Nos Estados Unidos, o exame ao qual o recm-formado em Direito precisa se submeter para comear a exercer a advocacia. Equivaleria, no Brasil, ao exame realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil.

  • necessrias para se fazer bons estudos de caso ainda no foram muito bem definidas, e, por conseguinte,

    a maioria das pessoas tem a impresso de que podem preparar um estudo de caso, e quase todos ns acreditamos que entendemos um estudo. Como nenhuma das duas impresses bem-fundamentada, o estudo de caso recebe uma boa parcela de aprovao que no merece. (Hoaglin, Light, McPeek, Mosteller, & Stoto, 1982, p. 134)

    Esta citao vem de um livro escrito por cinco estatsticos de destaque. De forma surpreendente, eles reconhecem o desafio que h por trs da realizao de um estudo de caso, mesmo pertencendo a outra rea.

    TIPOS DIFERENTES DE ESTUDOS DE CASO, MAS UMA DEFINIO COMUM

  • Definio do estudo de caso como estratgia de pesquisa

    Avanamos at aqui sem uma definio formal de estudos de caso, Alm disso, questes freqentemente levantadas sobre o assunto permaneceram sem resposta. Por exemplo, ainda se caracteriza como estudo de caso quando mais de um caso includo no mesmo estudo? Os estudos de caso excluem o uso de provas quantitativas? Podem-se utilizar estudos de caso para se fazer avaliaes? Eles podem utilizar narrativas jornalsticas? Vamos tentar agora definir a estratgia de estudo de caso e responder a essas perguntas.As definies encontradas com mais freqncia dos esrudos de caso apenas repetiram os tipos de tpicos aos quais os estudos foram aplicados. Por exemplo, nas palavras de um observador,

    a essncia de um estudo de caso, a principal tendncia em todos os tipos de estudo de caso, que ela tenta esclarecer uma deciso ou um conjunto de decises: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados. (Schramm, 1971, grifo nosso)

    Logo, essa definio cita o tpico das decises como foco principal dos estudos de caso. De forma similar, foram listados outros tpicos, a saber, indivduos, organizaes, processos, programas, bairros, instituies e mesmo eventos. No entanto, citar o tpico certamente insuficiente para estabelecer a definio necessria.

    Como alternativa, muitos livros-texto de cincias sociais no obtiveram xito na tentativa de encarar o estudo de caso como uma estratgia formal de pesquisa (a principal exceo um livro de autoria de cinco estatsticos da Universidade Harvard - Hoaglin et ah, 1982). Como discutido anteriormente, uma falha comum era considerar o estudo de caso como o estgio exploratrio de algum outro tipo de estratgia de pesquisa, e o estudo de caso- em si era apenas mencionado em uma ou duas linhas do texto.

    Outra falha comum era confundir os estudos de caso com os estudos etnogrficos (Fetterman, 1989) ou com a observao participante (Jorgensen, 1989), de forma que uma presumvel discusso dos estudos de caso promovida por um livro-texto era, na realidade, uma descrio tanto do mtodo etnogrfico ou da observao participante

  • Definio do estudo de caso como estratgia de pesquisa

    como da tcnica de coleta de dados. Os textos contemporneos mais populares (p.ex., Kidder & Judd, 1986; Nachmias & Nachmias, 1992), na verdade, ainda tratam o trabalho de campo apenas como uma tcnica de coleta de dados e omitem qualquer discusso adicional acerca dos estudos de caso.

  • Em uma viso histrica do estudo de caso no pensamento metodolgico americano, Jennifer Platt (1992a) explica as razes para esses tratamentos. Ela encontra a origem das prticas de realizao de estudos de caso na conduo de histrias de vida, no trabalho da escola Chicago de sociologia e nos estudos das circunstncias pessoais de famlias e indivduos no trabalho social. Dessa forma, Platt mostra como a observao participante surgiu como tcnica de coleta de dados, deixando em suspenso a definio adicional de qualquer estratgia distintiva de estudo de caso. Finalmente, ela explica como a primeira edio deste livro (1984) dissociou em definitivo a estratgia do estudo de caso das perspectivas limitadas de se realizar observao participante (ou qualquer tipo de trabalho de campo). A estratgia de estudo de caso, nas dela, comea com uma lgica de planejamento... uma estratgia que deve ser priorizada quando as circunstncias e os problemas de pesquisa so apropriados, em vez de um comprometimento ideolgico que deve ser seguido no importando quais sejam as circunstncias (Platt, 1992a, p. 46).

    E qual essa lgica de planejamento? As caractersticas tecnicamente importantes j tinham apresentado resultado antes da primeira edio deste livro (Yin, 1981a, 1981b), mas agora podem ser expostas novamentede duas maneiras. Primeiro, a definio tcnica comea com o escopo de um estudo de caso:

    1. Um estudo de caso uma investigao emprica queI investiga um fenmeno contemporneo dentro

    de seu contexto da vida real, especialmente quando

    I os limites entre o fenmeno e o contexto no esto claramente definidos.

    Em outras palavras, voc poderia utilizar o mtodo de estudo de caso quando deliberadamente quisesse lidar com condies contextuais - acreditando que elas poderiam ser altamente pertinentes ao seu fenmeno de estudo. Logo, essa primeira parte de nossa lgica de planejamento nos ajuda a entender os estudos de caso

  • sem deixar de diferenci-la de outras estratgias de pesquisa que j foram discutidas.

    Por exemplo, um experimento deliberadamente separa um fenmeno de seu contexto, de forma que se pode dedicar alguma ateno apenas a algumas variveis (em geral, o contexto controlado pelo ambiente de laboratrio). Em comparao, uma pesquisa histrica lida com situaes emaranhadas entre fenmeno e contexto, mas em geral com acontecimentos rto-contempor- neos. Finalmente, os levantamentos podem at tentar dar conta de fenmeno e contexto, mas sua capacidade de investigar o contexto extremamente limitada. O elaborador do levantamento, por exemplo, esfora-se ao mximo para limitar o nmero de variveis a serem analisadas (e, por conseguinte, o nmero de questes que pode ser feito) a fim de se manter seguramente dentro do nmero de respondentes participantes do levantamento.

    Em segundo lugar, uma vez que fenmeno e contexto no so sempre discernveis em situaes da vida real, um conjunto de outras caractersticas tcnicas, como a coleta de dados e as estratgias de anlise de dados, tornam- se, no momento, a segunda parte de nossa definio tcnica:

    2. A investigao de estudo de casoI enfrenta uma situao tecnicamente nica em

    que haver muito mais variveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado,

    I baseia-se em vrias fontes de evidncias, com os dados precisando convergir em um formato de tringulo, e, como outro resultado,

    I beneficia-se do desenvolvimento prvio de proposies tericas para conduzir a coleta e a anlise de dados.

    Em outras palavras, o estudo de caso como estratgia de pesquisa compreende um mtodo que abrange tudo - com a lgica de planejamento incorporando abordagens especficas coleta de dados e anlise de dados. Nesse sentido, o estudo de caso no nem uma ttica para a coleta de dados nem meramente uma caracterstica do planejamento em si (Stoecker, 1991), mas uma estratgia de pesquisa abrangente. A maneira como a estratgia definida e implementada constitui, na verdade, o tpico do livro inteiro.

    Algumas outras caractersticas da estratgia do estudo

  • de caso no so to importantes para se planejar a estratgia, mas podem ser consideradas variaes dentro da pesquisa do estudo de caso e tambm apresentam respostas a questes comuns.

    Variaes dentro dos estudos de caso como estratgia de pesquisa

    Sim, a pesquisa de estudo de caso pode incluir tanto estudos de caso nico quanto de casos mltiplos. Embora algumas reas, como cincia poltica e administrao pblica., tentaram delinear uma linha bem-delimitada entre essas duas abordagens (e utilizaram termos como mtodo de caso comparativo como forma de distino de estudos de casos mltiplos; veja Agranoff & Radin, 1991; George, 1979; Lijphart, 1975), estudos de caso nico e casos mltiplos, na realidade, so nada alm do que duas variantes dos projetos de estudo de caso (veja o Captulo 2 para saber mais).

    E sim, os estudos de caso podem incluir as, e mesmo ser limitados s, evidncias quantitativas. Na verdade, o contraste entre evidncias quantitativas e qualitativas no diferencia as vrias estratgias de pesquisa. Observe que, como exemplos anlogos, alguns experimentos (como estudos de percepes psicolgicas) e algumas questes feitas em levantamentos (como aquelas que buscam respostas numricas em vez de respostas categricas) tm como base evidncias qualitativas, e no quantitativas. Da mesma maneira, a pesquisa histrica pode incluir enormes quantidades de evidncias quantitativas.

    Uma observao muito importante relacionada a isso que a estratgia de estudo de caso no deve ser confundida com pesquisa qualitativa (veja Schwartz & Jacobs, 1979; Strauss & Corbiu, 1990; Van Maanen, 1988; Van Maanen, Dabbs, & Faulkner, 1982). Algumas pesquisas qualitativas seguem mtodos etnogrficos e buscam satisfazer duas condies:

    a) o uso que o pesquisador faz de observaes detalhadas e minuciosas do mundo natural;

    b) a tentativa de se evitar comprometimentos anteriores a qualquer modelo terico (Jacob, 1987, 1989; Lincoln & Guba, 1986; Stalce, 1983; Van Maanen etal.3 1982, p. 16).

  • A pesquisa etnogrfica, no entanto, nem sempre produz estudos de caso (por exemplo, veja as breves notas etnogrficas em G. Jacobs, 1970), nem os estudos de caso esto limitados a essas duas condies. Em vez disso, pode-se basear o estudo de caso em qualquer mescla de provas quantitativas e qualitativas. Ademais, nem sempre eles precisam incluir observaes diretas e detalhadas como fonte de provas.

    Como observao adicional, alguns pesquisadores fazem uma distino entre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa - no com base no tipo de evidncia, mas com base em crenas filosficas totalmente diferentes (p.ex., Guba & Lincoln, 1989; Lincoln, 1991, Sechrest, 1991; Smith & Heshusius, 1986). Essas distines produziram um debate acirrado no campo da pesquisa de avaliao. Embora algumas pessoas acreditem que tais crenas filosficas sejam incompatveis, ainda se pode apresentar um contra-argumento - que independentemente de se favorecer a pesquisa qualitativa ou quantitativa, h uma grande e importante rea comum entre as duas (Yin, 1994).

    E sim, os estudos de caso tm um lugar de destaque na pesquisa de avaliao (veja Cronbach et al, 1980, Guba & Lincoln, 1981; Patton, 1980; U.S. General Accounting Office, 1990; Yin, 1993, cap. 4). H, no mnimo, cinco aplicaes diferentes. A mais importante explicar os vnculos causais em intervenes da vida real que so complexas demais para as estratgias experimentais ou aquelas utilizadas em levantamentos. Na linguagem da avaliao, as explanaes uniriam a implementao do programa com os efeitos do programa (U.S. General Accounting Office, 1990). Uma segunda aplicao descrever uma interveno e o contexto na vida real em que ela ocorre. Em terceiro lugar, os estudos de caso podem ilustrar certos tpicos dentro de uma avaliao, outra vez de um modo descritivo - mesmo de uma perspectiva jornalstica. A quarta ( aplicao que a estratgia de estudo de caso pode ser utilizada para explorar aquelas situaes nas quais a interveno que est sendo avaliada no apresenta um conjunto simples e claro de resultados. Em quinto lugar, o estudo de caso pode ser uma meta-avaliao - o estudo de um estudo de avaliao (N. Smith, 1990; Stake, 1986). Qualquer que seja a aplicao, um tema constante que os patrocinadores do programa - no lugar apenas dos

  • pesquisadores - podem representar um papel proeminente ao se definirem as questes da avaliao e nas categorias de dados relevantes (U.S. General Accounting Office, 1990).

    E, finalmente, sim, certos trabalhos da rea jornalstica podem ser qualificados como estudos de caso. Na verdade, um dos estudos de casos mais interessantes e mais bem escritos refere-se ao escndalo de Watergate, feito por dois reprteres do The Washington Post (veja QUADRO 3).

    QUADRO 3Um estudo de caso jornalsticoEmbora a lembrana pblica da renncia do

    presidente americano Richard M. Nixon esteja enfraquecida, t h e Presidents Men, de Bernstein e Woodward, ainda um relato fascinante do escndalo de Watergate. 0 livro dramtico e cheio de incertezas, baseia-se em mtodos jornalsticos slidos e representa, quase que por acaso, um projeto comum para os estudos de caso.

    0 caso, nesse livro, no propriamente o roubo em Watergate, ou mesmo a administrao Nixon mais genericamente. Em vez disso, o caso um encobrimento, um conjunto complexo de acontecimentos que ocorreram no rastro de um roubo. Bernstein e Woodward confrontam continuamente o leitor com duas questes do tipo como e por que: como ocorreu o encobrimento e por que ocorreu? No se responde nenhuma das duas perguntas facilmente, e o que chama ateno no livro a

    RESUMOEsse captulo apresentou a importncia do estudo de caso como estratgia de pesquisa. O estudo de caso, como outras estratgias de pesquisa, representa uma maneira de se investigar um tpico emprico seguindo-se um conjunto de procedimentos pr-especificados. Sero esses procedimentos que estudaremos em detalhes no restante do livro.

    O captulo tambm tentou diferenciar o estudo de caso

  • de estratgias de pesquisa alternativas nas cincias sociais, demonstrando as situaes em que prefervel se fazer um estudo de caso nico ou de casos mltiplos a se fazer, por exemplo, um levantamento. Algumas situaes podem no apresentar uma estratgia prefervel, na medida em que os pontos fortes e fracos das vrias estratgias podem se sobrepor. A tcnica bsica, no entanto, considerar todas as estratgias de uma maneira pluralstica - como parte de um repertrio para se realizar pesquisa em cincias sociais a partir da qual o pesquisador pode estabelecer seu procedimento de acordo com uma determinada situao.

    Finalmente, o captulo discutiu algumas das maiores crticas que se faz pesquisa de estudo de caso e sugeriu que algumas dessas crticas possam estar sendo mal direcionadas. No entanto, devemos todos trabalhar arduamente para superar os problemas que surgem ao se fazer pesquisa de estudo de caso, incluindo o reconhecimento de que alguns de ns no fomos feitos, por capacidade ou disposio, para realizar esse tipo de pesquisa em primeiro lugar. Muito embora j se tenha pensado bastante que os estudos de caso sejam uma pesquisa fcil, a pesquisa de estudo de caso notavelmente complicada. E o paradoxo que quanto mais fcil for uma estratgia de pesquisa, mais difcil ser para realiz-la.

    EXERCCIOS1. Definindo uma questo de estudo de caso.

    Desenvolva uma questo que seria o fundamento lgico para o estudo que voc poderia conduzir. Em vez de fazer um estudo de caso, imagine agora que voc s pudesse fazer uma pesquisa histrica,, ou um levantamento, ou um experimento (mas no um estudo de caso), a fim de responder a essa questo. Quais aspectos da questo, se houver algum, no poderiam ser respondidos atravs dessas outras estratgias de pesquisa? Qual seria a vantagem decisiva de se realizar um estudo de caso para responder a essa questo?

    2. Definindo questes significantes para o estudo de caso. Determine um tpico que voc acredite que valha a pena pesquisar em um estudo de caso. Identifique as trs questes principais a que o seu

  • estudo de caso tentaria responder. Agora, assuma que voc pudesse responder de fato a essas questes com evidncias suficientes (ou seja, que voc tivesse conduzido com sucesso seu estudo de caso). Como voc justificaria a um colega a importncia de suas descobertas? Teria dado continuidade a alguma teoria especial? Teria descoberto alguma coisa rara? (se voc no est satisfeito com suas respostas, talvez devesse pensar em redefinir as questes principais de seu caso)

    3. Identificando questes significantes em outras estratgias de pesquisa. Localize um estudo de pesquisa baseado unicamente no uso de mtodos histricos, experimentais ou que utilizam levantamentos (mas no mtodos de estudo de caso). Descubra a maneira como as descobertas desse estudo so significantes. D seguimento a alguma teoria em especial? Descobriu alguma coisa rara?

    4. Examinando os estudos de caso utilizados para fins de ensino. Obtenha uma cpia de um estudo de caso que tenha sido usado para fins de ensino (p.ex., um caso em um livro-texto utilizado em algum curso de administrao). Identifique de que maneiras especficas esse tipo de caso de ensino diferente dos estudos de caso de pesquisa. O caso de ensino cita documentos primrios, contm evidncias ou apresenta dados? Chega a alguma concluso? Qual parece ser o objetivo principal do caso de ensino?

    5. Definindo tipos diferentes de estudos de caso utilizados para fins de pesquisa. Defina os trs tipos de estudos de caso usados para fins de pesquisa (mas nao de ensino);a) estudos causais ou explanatrios;b) estudos descritivos;c) estudos exploratrios.Compare as situaes em que esses tipos

    diferentesestudos decaso seriam mais aplicveis e, ento,

    umestudo decasoque voc gostaria de conduzir. Seria explanatrio, descritivo ou exploratrio? Por qu?

  • NOTA

  • Projetando estudosde caso

    Um projeto de pesquisa constitui a lgica que une os dados a serem coletados (e as concluses a serem tiradas) s questes iniciais de um estudo. Cada estudo emprico possui um projeto de pesquisa implcito, se no explcito.

    Para os estudos de caso, so importantes quatro tipos principais de projetos, seguindo uma matriz 2 x 2. O primeiro par de categorias consiste em projetos de caso nico e casos mltiplos. O segundo par, que pode acontecer em combinao com qualquer um dos elementos do primeiro par, baseia-se na unidade ou nas unidades de anlise que devem ser estudadas - e faz uma distino entre projetos holsticos e incorporados1.

    O pesquisador de estudo de caso tambm deve maximizar quatro aspectos da qualidade de qualquer projeto:

    a) validade do constructo;b) validade interna (para estudos causais ou

    explanatrios);c) validade externa;d) confiabilidade.

    A maneira como o pesquisador deve lidar com 1N. de T. Embedded, no original.

    Robert Stake (1984) ainda estabeleceu uma outra tcnica para definir os estudos de caso. Ele acredita que eles no sejam uma escolha metodolgica, mas uma escolha do

    objeto a ser estudado. Alm disso, o objeto deve ser algo especfico funcional (como uma pessoa ou uma sala de aula), mas no uma generalidade (como uma

    poltica). Essa definio muito ampla. Logo, cada estudo de entidades que se qualificam como objetos

    (p.ex., pessoas, organizaes e pases) seria um estudo de caso, independentemente da metodologia utilizada

    (p.ex., experimento psicolgico, levantamento empresarial, anlise econmica).

  • esses quatro aspectos do controle de qualidade resumida no Captulo 2, mas tambm um tema dominante ao longo do livro.

    ABORDAGEM GERAL AO PROJETAR ESTUDOS DE CASO

  • Para identificar a estratgia para o seu projeto de pesquisa, foi-lhe mostrado, no Captulo 1, quando voc deveria selecionar a estratgia de estudo de caso, em oposio a outras estratgias. A prxima tarefa projetar seu estudo de caso. Para atingir esse objetivo, assim como ao projetar qualquer outro tipo de investigao que envolva pesquisa, necessrio um plano ou um projeto de pesquisa.

    O desenvolvimento desse projeto de pesquisa constitui uma parte difcil quando se realiza estudos de caso. Diferentemente de outras estratgias de pesquisa, ainda no se desenvolveu um catlogo abrangente de projetos de pesquisa para os estudos de caso. No existem livros-texto como aqueles utilizados em psicologia e biologia, que tratam dessas consideraes de planejamento, como a atribuio de objetos a grupos diferentes, a seleo de estmulos ou condies experimentais distintas ou a identificao de diversas medidas de resposta (veja Cochran & Cox, 1957; Fisher, 1935, citado em Cochran & Cox, 1957; Sidowsld, 1966). Em um experimento de laboratrio, cada uma dessas escolhas reflete uma conexo lgica importante s questes que esto sob estudo. Da mesma forma, no existem nem mesmo livros-texto como os bem-conhecidos volumes de Campbell e Stanley (1966) ou de Cook e Campbell (1979), que resumem os diversos projetos de pesquisa para situaes quase-experimentais. Nem mesmo surgiram projetos comuns - por exemplo, estudos painis - como aqueles agora reconhecidos que fazem pesquisa de levantamentos de dados (veja Kidder & Judd, 1986, cap. 6).

    Uma cilada que deve ser evitada acreditar que os projetos de estudo de caso sejam um subconjunto ou uma variante dos projetos de pesquisa utilizados para outras estratgias, como os experimentos. Durante muitssimo tempo, os acadmicos acreditaram, equivocadamente, que o estudo de caso era nada alm de um tipo de projeto quase-experimental (um projeto somente de ps-teste nico). Essa concepo errnea finalmente foi corrigida, com a seguinte afirmao surgindo em um artigo sobre os projetos quase-experimen- tais: Certamente, o estudo de caso como vem sendo normalmente realizado no deve ser rebaixado pela identificao com um projeto apenas de ps-teste de um nico grupo (Cook & Campbell, 1979, p. 96).

  • Em outras palavras, o projeto somente de ps-teste nico como projeto quase-experimental ainda pode ser considerado imperfeito, mas agora j se reconheceu que o estudo de caso algo diferente. Na verdade, o estudo de caso uma estratgia de pesquisa diferente que possui seus prprios projetos de pesquisa.

    Infelizmente, os projetos de pesquisa do estudo de caso ainda no foram sistematizados. O captulo seguinte aborda os novos fundamentos metodolgicos levantados pela primeira edio deste livro e descreve um conjunto bsico de projetos de pesquisa para realizar estudos de caso nico e de casos mltiplos. Embora tais projetos precisem ser continuamente modificados e melhorados no futuro., no seu formato atual eles o ajudaro a projetar estudos de casos mais rigorosos e consistentes metodologicamente.Definio de projetos de pesquisaCada tipo de pesquisa emprica possui um projeto de pesquisa implcito, se no explcito. No sentido mais elementar, o projeto a seqncia lgica que conecta os dados empricos s questes de pesquisa iniciais do estudo e, em ltima anlise, s suas concluses. Coloquialmente, um projeto de pesquisa u/n plano de ao para se sair daqui e chegar l, onde aqui pode ser definido como o conjunto inicial de questes a serem respondidas, e l um conjunto de concluses (respostas) sobre essas questes. Entre aqui e l pode-se encontrar um grande nmero de etapas principais, incluindo a coleta e a anlise de dados relevantes. Como definio resumida, um outro livro-texto descreveu um projeto de pesquisa como um plano que

    conduz o pesquisador atravs do processo de coletar, analisar e interpretar observaes. E um modelo lgico de provas que lhe permite fazer inferncias relativas s relaes causais entre as variveis sob investigao. O projeto de pesquisa tambm define o domnio da generalizao, isto , se as interpretaes obtidas podem ser generalizadas a uma populao maior ou a situaes diferentes. (Nachmias & Nachmias, 1992, p. 77-78, grifo nosso)

    Uma outra maneira de se pensar em um projeto de pesquisa como um esquema de pesquisa, que trata

  • de, pelo menos, quatro problemas: quais questes estudar, quais dados so relevantes, quais dados coletar e como analisar os resultados (veja F. Borum, comunicao pessoal, Copenhagen Business School, Copenhagen, Dinamarca, 1991; Philliber, Schwab, & Samsloss, 1980).

    Observe que um projeto de pesquisa muito mais do que um plano de trabalho. O propsito principal de um projeto ajudar a evitar a situao em que as evidncias obtidas no remetem s questes iniciais da pesquisa. Nesse sentido, um projeto de pesquisa ocupa-se de um problema lgico e no de um problema logstico. Como exemplo simples, suponha que voc queira estudar uma nica organizao, Suas questes de pesquisa, no entanto, tm a ver com

  • Componentes de projetos de pesquisa

    o relacionamento da organizao com outras organizaes - a natureza competitiva ou colaborativa delas, por exemplo. Pode-se responder a essas questes apenas se voc coletar informaes diretamente das outras organizaes, e no apenas daquela com que voc iniciou o estudo. Caso conclua seu estudo ao examinar apenas uma organizao, voc no poder retirar concluses acuradas acerca de parcerias interorganizacionais. Aqui haveria uma falha em seu projeto de pesquisa, no em seu plano de trabalho. O resultado pode- ria ter sido evitado se, em primeiro lugar, voc tivesse desenvolvido um projeto de pesquisa apropriado.Para os estudos de caso, so especialmente importantes cinco componentes de um projeto de pesquisa;

    1. as questes de um estudo;2. suas proposies, se houver;3. sua(s) unidade(s) de anlise;4. a lgica que une os dados s proposies; e5. os critrios para se interpretar as descobertas.Questes de estudo, Esse primeiro componente j foi descrito no Captulo

    1. Embora a essncia de suas questes possa variar, no Captulo 1 sugere-se que a forma da questo - em termos de quem, o que, onde, como e por que - fornea uma chave importante para se estabelecer a estratgia de pesquisa mais relevante a ser utilizada. mais provvel que a estratgia de estudo de caso seja apropriada a questes do tipo como e por que; assim, sua tarefa inicial precisar, com clareza, a natureza das suas questes de estudo nesse sentido.

    Proposies de estudo. Como para o segundo componente, cada proposio destina ateno a alguma coisa que deveria ser examinada dentro do escopo do estudo. Por exemplo, assuma que sua pesquisa sobre a parceira interorganizacional comeou com a questo; como e por que as organizaes colaboram umas com as outras para prestar servios em associao (por exemplo, um fabricante e uma loja de varejo decidem trabalhar juntas para vender certos produtos de informtica)? Essas questes como e por que, pegando a essncia daquilo

  • Componentes de projetos de pesquisa

    que voc realmente est interessado em responder, levam- no ao estudo de caso como a estratgia apropriada em primeiro lugar. No obstante, tais questes no apontam para aquilo que voc deveria estudar. Somente se for obrigado a estabelecer algumas proposies, voc ir na direo certa. Por exemplo, voc pode pensar que as organizaes colaboram entre si porque obtm benefcios mtuos. Essa proposio, alm de refletir uma importante questo terica (que no existem outros incentivos para a colaborao ou que eles no so importantes), tambm comea a lhe mostrar onde voc deve procurar evidncias relevantes (definir e conferir a extenso de benefcios especficos para cada organizao).

  • Ao mesmo tempo, alguns estudos podem ter uma razo absolutamente legtima para no possuir nenhuma proposio. Essa a condio - que existe em experimentos, levantamentos e outras estratgias de pesquisa semelhantes - na qual um tpico o tema da explorao. Cada explorao, entretanto, ainda deveria ter alguma finalidade. Em vez de expor proposies, o pro-jeto para um estudo exploratrio deveria apresentar uma finalidade e os crit-os que sero utilizados para julgar uma explorao como bem-sucedida. Considere como exemplo de estudos de caso exploratrios a analogia no QUADRO4. Voc consegue imaginar como pediria apoio para a Rainha Isabela para realizar seu estudo exploratrio?

    Unidade de anlise. O terceiro componente relaciona-se com o problema fundamental de se definir o que um caso - um problema que atormentou muitos pesquisadores no princpio dos estudos de caso. Por exemplo, no estudo de caso clssico, um caso pode ser um indivduo. Jennifer Platt (1992a, 1992b) observou que os primeiros estudos de caso da escola Chicago de socio-logia eram relatos de vida, tais como delinqentes juvenis e indivduos em pssimas condies. Voc tambm pode imaginar estudos de caso de pacientes clnicos, de estudantes exemplares ou at mesmo de certos tipos de lderes. Em cada situao, uma nica pessoa o caso que est sendo estudado, e o indivduo a unidade primria de anlise. Seriam coletadas as informaes sobre cada indivduo relevante, e vrios exemplos desses indivduos, ou casos, poderiam ser includos em um estudo de casos mltiplos. As proposies ainda seriam necessrias para ajudar na identificao das informaes relevantes sobre esse(s) indivduo(s). Sem tais proposies, um pesquisador pode ficar tentado a coletar tudo, algo absolutamente impossvel de fazer. Por exemplo, as proposies ao estudar os indivduos podem envolver a influncia da primeira infncia ou o papel das relaes mais prximas, Esses tpicos j representam uma ampla reduo dos dados relevantes. Quanto mais proposies especficas um estudo contiver, mais ele permanecer dentro de limites exeqveis.

  • QUADRO 4"Explorao como analogia a um estudo

    de caso exploratrioQuando Cristvo Colombo foi conversar com a

    Rainha Isabel para pedir apoio em sua explorao do Novo Mundo, ele tinha que ter algumas razes para conseguir trs navios (Por que no um? Por que no cinco?) e tinha que ter algum fundamento lgico para ir rumo ao oeste (Por que no para o sul? Por que no para o sul e depois para o leste?). Colombo tambm tinha alguns critrios (equivocados) para reconhecer as ndias quando as encontrasse. Em resumo, sua explorao comeou com algum fundamento

    Naturalmente, o caso tambm pode ser algum evento ou entidade que menos definido do que um nico indivduo. J se realizaram estudos de caso sobre decises, sobre programas de vrios tipos, sobre o processo de implantao de alguma coisa em alguma empresa ou entidade e sobre uma mudana organizacional. Feagin, Orum & Sjoberg (1991) contm alguns exemplos clssicos desses casos nicos em sociologia e em cincia poltica. Tome cuidado com esse tipo de tpico - nenhum facilmente definido em termos dos pontos iniciais ou finais do caso. Por exemplo, um estudo de caso de um programa especfico pode revelar:

    a) variaes na definio do programa, dependendo da perspectiva das diferentes pessoas envolvidas;

    b) componentes do programa que existiam antes da designao formal do mesmo. Logo, qualquer estudo de caso de um programa como esse teria que confrontar essas condies ao delinear a unidade de anlise.

    Como orientao geral, a definio da unidade de anlise (e, portanto, do caso) est relacionada maneira como as questes iniciais da pesquisa foram definidas. Suponha, por exemplo, que voc queira estudar o papel dos Estados Unidos na economia mundial. Peter Drucker (1996) escreveu um instigante ensaio sobre as alteraes fundamentais ocorridas na economia mundial, no qual inclua a importncia dos movimentos de capital independentemente do fluxo de bens e servios. A unidade de anlise para o seu estudo de caso pode ser a economia

  • de um pas, uma indstria no mercado global, uma poltica econmica ou o comrcio ou o fluxo de capital entre dois pases. Cada unidade de anlise exigiria um projeto de pesquisa sutilmente diferente e uma estratgia de coleta de dados. Especificar corretamente as questes primrias da pesquisa traria como conseqncia a seleo da unidade apropriada de anlise. Se as suas questes no derem preferncia a uma unidade de anlise em relao a outra, significa que elas esto ou vagas demais ou em nmero excessivo - e voc pode ter problemas ao conduzir o estudo de caso.

    Algumas vezes, a unidade de anlise pode ser definida de uma maneira, mas o fenmeno que est sendo estudado exige uma definio diferente. Muito freqentemente, os pesquisadores confundem estudos de caso de bairros, por exemplo, com estudos de caso de pequenos grupos (outro exemplo confundir uma inovao com um pequeno grupo nos estudos organizacionais; veja QUADRO 5a). A maneira como uma rea em geral, como um bairro, lida com transio e evoluo racial, e outros fenmenos podem ser bem diferentes da maneira como um pequeno grupo lida com esses mesmos fenmenos. Street Corner Society (Whyte, 1943/1955 - veja tambm o QUADRO 1 no Captulo 1 deste livro) e Tallys Corner (Liebow, 1967 - veja tambm o QUADRO 9, neste captulo), por exemplo, sempre foram confundidos com estudos de caso de

  • QUADRO 5aO que uma unidade de anlise?0 best-seller The Soul ofa New Machine (1981),

    escrito por Tracy Kidder, foi vencedor do prmio Pulitzer1. 0 livro trata do desenvolvimento de um novo microcomputador produzido pela Data General Corporation, que foi projetado para competir diretamente com um outro microcomputador desenvolvido pela Digital Equipment Corporation.

    De fcil leitura, o livro descreve como a equipe de engenheiros da Data General inventou e desenvolveu o novo computador. Comea com a conceitualizao inicial do computador e termina quando a equipe entrega o controle da mquina equipe de marketing da Data General.

    um exemplo excelente de estudo de caso. No entanto, o texto de Kidder tambm ilustra um problema fundamental quando se realiza estudos de caso - o de definir a unidade de

    bairros, quando, na verdade, so estudos de caso de pequenos grupos (observe que, em nenhum dos dois livros, descrita a geografia do bairro, muito embora os pequenos grupos vivessem em uma pequena rea com claras implicaes de vizinhana). O QUADRO 5b, no entanto, apresenta um bom exemplo de como as unidades de anlise podem ser definidas de uma maneira muito mais discriminatria - na rea do comrcio mundial.

    A maioria dos pesquisadores vo se defrontar com esse tipo de confuso ao definirem a unidade de anlise. Para diminuir a confuso, uma boa prtica discutir o caso em potencial com um colega. Tente explicar a ele quais ques-tes voc est tentando responder e por que escolheu um caso especfico ou um grupo de casos como forma de responder a essas questes. Isso pode ajud- lo a evitar a identificao incorreta da unidade de anlise.3N. de T. Lurea instituda em 1917 pelo jornalista norte-americano Joseph Pulitzer da anualmente pela Universidade de Colmbia. Divide-se em oito prmios de jornali de literatura, quatro bolsas de estudo e um prmio de msica.

  • Uma vez que tenha sido estabelecida a definio geral do caso, torna-se importante fazer novas consideraes da unidade de anlise. Se a unidade de anlise for um pequeno grupo, por exemplo, as pessoas que devem ser inclu-QUADRO 5Tb

    Uma escolha mais clara entre unidades de anlise0 livro de ira Magaziner e Mark Patinlrin, The Silent

    War: Inside the Global Business Battles Shaping Americas Future (1989), apresenta nove estudos de caso. Cada um deles auxilia o leitor a compreender a real situao da competio econmica internacional.

    Dois casos parecem semelhantes, mas, na verdade, possuem unidades de anlise principais diferentes. Um caso, sobre a empresa coreana Samsung, um estudo da poltica crucial que tornou a empresa competitiva. Perceber como se deu o desenvolvimento econmico da Coria do Sul faz parte do contexto, e o estudo de caso tambm contm uma unidade incorporada - o desenvolvimento pela Samsung dos fornos de microondas como produto ilustrativo. O outro caso, sobre a implantao de uma fbrica de computadores da Apple em Singapura, , na verdade, um estudo de caso sobre a poltica adotada por

    daquelas que no se encontram dentro dele (o contexto para o estudo de caso). Similarmente, se o caso se referir a algum tipo de servio em uma rea geogrfica especfica, devem ser tomadas decises sobre servios pblicos cujos limites de bairro no coincidem com a rea. Por ltimo, para quase todos os tpicos escolhidos, so necessrios limites de tempo especficos para definir o comeo e o fim do caso. Todas essas questes precisam ser consideradas e respondidas para definir a unidade de anlise e, por conseguinte, determinar os limites da coleta e da anlise de dados.

    preciso ainda fazer uma observao final sobre a definio do caso e da unidade de anlise, relativa ao

  • papel da literatura existente sobre a pesquisa em si. A maioria dos investigadores vo querer comparar suas descobertas com pesquisas anteriores; por essa razo, as definies-chave no devem ser idiossincrticas. Em vez disso, cada estudo de caso ou unidade de anlise devem ser semelhantes queles previamente estudados por outras pessoas ou devem divergir de forma clara e operacionalmente definida. Dessa maneira, a literatura existente tambm pode se tornar uma referncia-guia para se definir o caso e a unidade de anlise.

    Ligando os dados a proposies, e os critrios para a interpretao das descobertas. 0 quarto e o quinto componentes foram os menos desenvolvidos nos estudos de caso. Representam as etapas da anlise de dados na pesquisa do estudo de caso, e deve haver um projeto de pesquisa dando base a essa anlise.

    Ligar os da