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1 ETNODESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE: UMA ABORDAGEM A PARTIR DAS POLÍTICAS TERRITORIAIS INDIGINISTAS Henrique Kujawa 1 Neuro José Zambam 2 RESUMO: O objetivo desse artigo é analisar o tema que envolve o desenvolvimento sustentável nas sociedades multiculturais no norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Consideramos o conflito a partir da atuação do Estado, a história das comunidades indígenas e a presença centenária dos pequenos agricultores. Adotamos como referência a Teoria da Justiça de Sen e a concepção de etnodesenvolvimento a fim de fundamentar esta abordagem porque orientam para a integração, a tolerância, o diálogo e a conjugação de objetivos plurais em vista do desenvolvimento das capacidades humanas. Demonstramos, evidenciando dados empíricos, a necessidade de uma reflexão contextualizada em vista da justiça social e dos direitos humanos que evite exclusões, discriminações ou classificação de pessoas e grupos. Afirmamos a necessidade de respeito aos diversos sujeitos culturais e a construção de propostas de desenvolvimento que visem o fortalecimento da democracia, o respeito às pessoas e a equidade social. Palavras-chave: Multiculturalismo. Desenvolvimento sustentável. Justiça social. Políticas públicas. 1 INTRODUÇÃO 1 Doutor em Ciências Sociais, Mestre em História. Professor da IMED e da UNOCHAPECÓ. Membro do Grupo de Pesquisa: Multiculturalismo, minorias, espaço público e sustentabilidade. [email protected]. 2 Pós-doutor em Filosofia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Doutor em Filosofia pela PUCRS. Professor do Programa de Pós-graduação em Direito da Faculdade Meridional - IMED – Mestrado. Professor do Curso de Direito (graduação e especialização) da Faculdade Meridional – IMED de Passo Fundo. Membro do Grupo de Trabalho, Ética e cidadania da ANPOF (Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Filosofia). Pesquisador da Faculdade Meridional. Coordenador do Grupo de Pesquisa: Multiculturalismo, minorias, espaço público e sustentabilidade. Líder do Grupo de Estudo, Multiculturalismo e pluralismo jurídico. Líder do Centro brasileiro de pesquisa sobre Amartya Sen: interfaces com direito, políticas de desenvolvimento e democracia. E-mail: [email protected]; [email protected].

ZAMBAM, KUJAWA Etnodesenvolvimento

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1ETNODESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE: UMA ABORDAGEM APARTIR DAS POLTICAS TERRITORIAIS INDIGINISTAS Henrique Kujawa1Neuro Jos Zambam2RESUMO:Oobjetivodesseartigoanalisar otema que envolve odesenvolvimentosustentvel nassociedadesmulticulturaisnonortedoRiorandedo!ul" #rasil$ %onsideramosocon&litoa'artirdaatua()o do *stado" a +ist,ria das comunidades ind-genas e a 'resen(a centenria dos 'equenosagricultores$ .dotamos como re&er/ncia a 0eoria da Justi(a de !en e a conce'()o de etnodesenvolvimentoa&imde&undamentarestaabordagem'orqueorientam'araaintegra()o" atoler1ncia" odilogoeaconjuga()o de objetivos 'lurais em vista do desenvolvimento das ca'acidades +umanas$ 2emonstramos"evidenciando dados em'-ricos" a necessidade de uma re&le3)o conte3tuali4ada em vista da justi(a social edos direitos +umanos que evite e3clus5es" discrimina(5es ou classi&ica()o de 'essoas e gru'os$.&irmamosanecessidadederes'eitoaosdiversos sujeitosculturaiseaconstru()ode'ro'ostasdedesenvolvimento que visem o &ortalecimento da democracia" o res'eito 6s 'essoas e a equidade social$ Palavras-chave: 7ulticulturalismo$ 2esenvolvimento sustentvel$ Justi(a social$ 8ol-ticas '9blicas$1 INTRODUO .o'()o'or ummodelodedesenvolvimentosustentvel estimbricado" de&orma interde'endente" com um conjunto de e3ig/ncias e com'romissos que"juntamente como acelerado 'rocesso de globali4a()o" demanda a avalia()o dein9meros atores queseintegram6organi4a()osocial" adin1mica da'rodu()o" autili4a()o dos recursos dis'on-veis" 6s quest5es de seguran(a no 'resente e as condi(5esde e3ist/ncia das &uturas gera(5es$ .s rela(5es entre os 'ovos" o'eradas 'elosincontveis recursos da tecnologia e das iniciativas +umanas cada ve4 mais evidente e'ode ser 'ercebida nas di&erentes reas de conviv/ncia e das rela(5es sociais$*ntretanto" asdesigualdadesdistanciam'arcelassigni&icativasde'essoas" osgru'osculturais" os'ovosdemaneirageral eos'a-sescommaisrecursosecondi(5esdeorgani4a()o 'rejudicando os demais$ *sse um conte3to que 'rejudica a estabilidade12outor em %i/ncias !ociais" 7estre em Hist,ria$ 8ro&essor da :7*2 e da ;NO%H.8*%aingang" do oestedo 8aran e de !anta %atarina" bem como do norte do Rio rande do !ul" em rota decolis)o de interesses$2iversas 'ol-ticas s)o adotadas 'ara NadequarO os ind-genas a estanova necessidade$ . alian(a com lideran(as ind-genas 'ara utili4@los como m)o de obrana constru()o das novas estradas" a constru()o de redu(5es destinando reas es'ec-&icas'ara sua 'erman/ncia" ou" novamente a Nguerra justaO e o e3term-nio" decretados 'or 2$Jo)o B:" 'ara aqueles que n)o se adequassem a 'ol-ticas o&iciais$*s'eci&icamentenonortedoriorandedo!ul a'ol-ticadealdeamentointensi&icada em meados do sculo X:X tendo como objetivo retirar os ind-genas dasmatas nativas" destinar reas es'ec-&icas 'ara a sua 'erman/ncia e" desta &orma" mantero controle'araquen)o re'resentassemamea(as'araostro'eirose"'osteriormente"11 :nstituto criado a 'artir da lei a lei de 11Y11Y1MTQ e a lei de PTYPLY1RMM" que estabelece a 'ossibilidadedoReideclararque aguerra contraos-ndios"'ossibilitando com isso a 'rticadaescravi4a()oe doe3term-nio de gru'os ind-genas que se contra'un+am aos interesses da %oroa$ 12 *stas 'ol-ticas 'artiam do 'ressu'osto que as 'o'ula(5es ind-genas 'ossu-am uma cultura in&erior e" 'ortanto" seria necessrio que eles assimilassem a cultura euro'eia e" gradativamente se integrassem 6 sociedade considerada Ncivili4ada e desenvolvidaO$13NF quando 8asso Aundo entra na +ist,ria das miss5es jesu-ticas$ F tambm o come(o da +ist,ria domunic-'io" que se inicia no ano de 1RK2" quando o -ndio uara" cacique local dos 0a'es" tendo not-ciadas doutrinas jesu-ticas" 'ediu a vinda dos 'adres 'ara a &unda()o" aqui" de uma redu()o que &osse igual6s outrasO$ D#*%K*R"1TTM" '$ TQE$14 !ou4a Aaria D1Q2U@KPE construiu o N%amin+o da 7ataO 'assando 'elo litoral catarinense e atingindo oscam'osde!)o Joaquim"Gagese%uritibanos$7ais tarde%rist,v)o 8ereira%onstr,io N%amin+odas0ro'asO D1QKP C K2E ligando os cam'os de Gages a Bacaria dos 8in+ais no norte ga9c+o$ DG.ROS;*"2PPPE$11'ara os estancieiros e as &am-lias de imigrantes que 'assaram a residir nas terras antesocu'adas 'elos ind-genas$8ara adequar o com'ortamento ind-gena 6s novas necessidades o governoim'erial brasileiro voltou a &a4er uso dos trabal+os missionrio1M$ . a()o estratgica do:m'rio conseguiu" gradativamente" atingir o objetivo de retirar os >aingang da mata"'or meio da viol/ncia"da am'lia()o dos con&litos internos1ReYou da &ragili4a()o dassuascondi(5esdevidaa'ontodesesentiremobrigadosaaceitarasZbenessesZdo*stado'arasobreviverem" constituindodiversas aldeias entre os cam'os de8assoAundoe de Bacaria" abrangendo7ato%astel+ano1Qe 7ato8ortugu/s1U" s)oelas=8ont)oI %am'o do 7eioI %aseiros I %acique 2obleI [gua !anta D%arreteiroE e Gigeiro$Oestabelecimento do estado re'ublicano" a intensi&ica()o do 'rocesso deimigra()o e coloni4a()o e o &ortalecimento dos ideais 'ositivistas levaram o estado doRio rande do !ul a demarcar o&icialmente terras 'ara serem utili4adas 'elos ind-genas$2esta &orma &oram demarcados e criados entre 1T1P@1T1U 11 toldos ind-genas" sendoquealgunscoincidiamcomasantigasredu(5esoutrosn)o1T$ Na'rtica" aomesmotem'o em que o governo ga9c+o" atravs de 0orres on(alves" de&endia a e3ist/ncia deterrit,rio'araqueosind-genas 'udessemviver atomomentoqueo'tassem'ela140esc+auer D1T2TE relata que em 1UMP" os missionrios jesu-tas" !olanelas" Bilarubia e 8ar\s &undaramtr/s aldeamentos 'ara os >aingang do .lto ;ruguai= Nonoai" %am'o do 7eio e uarita$1/Garoque D2PPPE ao descrever a rela()o estabelecida entre o governo im'erial com os -ndios >aingang"demonstra que o *stado se utili4ou dos con&litos internos entre as tribos >aingang e" simultaneamente" daredu()oda'ossibilidadedos -ndios sobreviverem emseu+abitat original'ara contarcom a ajudadelideran(as ind-genas no 'rocesso de convencimento dos demais 'ara se aldearemou" ent)o" na'ersegui()o dos gru'os que resistiam ao seu modo de vida$ Z2e concreto" o governo"'or coa()o e]oumedida 'reventiva" redu4 o es'a(o vital >aingang e" 'ara tir@los dos seus territ,rios" iniciou" a 'artir de1ULR" a 8ol-tica O&icial dos .ldeamentos em reas como uarita" Nonoai e %am'o do 7eio" nas quaisencontramos muitas ve4es caciques 'rinci'ais e c+e&es subordinados como 'or e3em'lofongue, Votouro,Nonoay,ond!,Nicafim, Braga, "otoa#$%Doble&Nicu%Joo'rande&,entremuitosoutrosque" deacordo com os seus interesses" negociavam ou n)o a estadia de suas +ordas nestes locaisO$ DG.ROS;*"2PPP" '$ RLE 1,Arisa@se que a denomina()o 7ato %astel+ano" no sculo X:X" n)o corres'onde ao atual munic-'io comeste nome" nem tam'ouco se restringe ao trajeto da 'icada que ligava %am'o do 7eio a 8asso Aundo$ 8ormais que n)o ten+amos uma de&ini()o 'recisa deste territ,rio" %a&runi D1TRR" '$ 22E a'onta que a e3tens)odestarea seriadequatrolguas$ *ntende@sequeestae3tens)onosentido8assoAundoBacariaDlarguraE" contudonooutrosentidoDcom'rimentoE seestenderiade7arau'assando'or 0a'ejaraeatingindo o .lto ;ruguai$1-Oliveira D1TTP" vol$ ::"'$ QLE assim locali4a 7ato 8ortugu/s= ZAloresta entre os munic-'ios de 8assoAundo e Gagoa Bermel+a$ Giga@se" ao norte" com a serra do .'ua/" ao sul" com as do %arreiro e de !)o2omingos$19 .s on4e reas criadas entre 1T1P@1U &oram= %acique 2oble D1T1PEI %arreteiro D1T11EI %aseiros D1T11EI :n+acor D1T11EI Gigeiro D1T11EI Nonoai D1T11EI !errin+a D1T11EI Bentarra D1T11EI uarita D1T1QEI Botouro @ %aingangue D1T1UEI Botouro @ uarani D1T1UE D K;J.^.I Z.7#.7" 2P12E12integra()ocomaNsociedadecivili4adaO" garantiaqueimensasreasqueanteseramocu'adas 'or eles 'assassemaser consideradas devolutas e" 'ortanto" 'ass-veis deserem destinadas ao 'rojeto de coloni4a()o em curso$ F desta &orma que as terras daregi)o em tela &oram subdividas e vendidas 'elo estado a coloni4adores Dimigrantes edescendentesdeimigrantesE que'assaramadesenvolver aagriculturadiversi&icada"constituindo rela(5es sociais" culturais" religiosas e econJmicas caracter-sticas das reasde coloni4a()o$Os ind-genas" novamente" s)o adequadosYobrigados a um modelo dedesenvolvimentoe3,geno6suas caracter-sticas culturais$ .delimita()odos toldosind-genas 'or um lado" destinaram@l+es o&icialmente um territ,rio" mas"simultaneamente"cercearam a 'ossibilidade de circularem e ocu'arem territ,rios que&a4iam'arte do seu +abitat tradicional$ .lmdo mais" os toldos 'assama seradministrados com a inter&er/ncia de re'resentantes do estado no intuito de trans&orm@los emreas 'rodutivas e economicamente viveis$ 8ara atingir tais objetivos" as'rticas 'rodutivas e de sustentabilidade ind-genas s)o desconsideradas" estimulando@seatividades de e3tra()o de recursos naturais D'rinci'almente a madeiraE" o arrendamentodas terras 'ara atividades agr-colas" bemcomoa obrigatoriedade de os ind-genasdesenvolverem atividades agr-colas coletivas administradas 'elo res'onsvelgovernamental$ .s re'ercuss5es doacima relatados)odiversas" mas todas ne&astas 'ara acultura ind-gena$ O trabal+o coletivo ind-gena ocorria" na maioria das ve4es" a 'artir dacoa()o que &icou con+ecido como N'anela(oO" trabal+o ind-gena nas lavouras do 0oldoem troca da comida servida em grandes 'anelas$ . e3'lora()o de madeira 'rovocou adescaracteri4a()o da &auna e da &lora" diminuindo emmuito os recursos naturaisutili4ados 'elos ind-genas 'ara a sua alimenta()o$O 'rocesso de arrendamento" seja ele&eito de &orma o&icial ou clandestinamente"'ermitiu que as reas demarcadas &ossemgradativamenteocu'adas'or&am-liasdedescendentesdeimigrantesque" devidoao'rocessodee3'ans)oda &ronteira agr-cola" necessitavambuscar novas terras 'ara'lantar e sustentar suas &am-lias DK;J.^." 2P1LE$ . di&iculdade dos ind-genas ada'tarem@se 6 condi()o de 'rodutores rurais e ae3ist/nciadecentenas de&am-lias deagricultores vivendonos 0oldos" somadas 6sdiverg/ncias" entre;ni)oe*stadoAederado" quantoacom'et/nciajur-dicasobrea13administra()o das terras ind-genas demarcadas" levaram os governos do Rio rande do!ul" entre 1TLP@1TRL2P" a 'romover a diminui()o eYou e3tin()o das reas demarcadas"destinando@as 'ara a constitui()o de reservas &lorestais e de assentamento deagricultores sem terra$ :nstaura@se um novo 'er-odo de con&litos territoriais 'atrocinados'or'ol-ticas'9blicasqueinstigamagricultoreseind-genasadis'utaremasmesmasterras$ %omunidades ind-genas desalojadas" seus territ,rios descaracteri4ados eada'tados 'ara a atividade agr-cola intensiva e os 'ovos nativos subjugados novamentea um modelo de desenvolvimento e3,geno sem a 'ossibilidade de e3ercerem as suas'otencialidades culturais$ D0*2*!%O" 2P1KE. constitui()o de 1TUU Dart$ 2K1 e 2K2E" a',s dcadas de luta das organi4a(5esind-genas" ONs e movimentos sociais" recon+ece o direito cultural ind-gena" de suastradi(5es" organi4a(5es sociais das terras que tradicionalmente ocu'am$ Na esteira da%arta7agnaa%onstitui()odoRiorandedo!ul" recon+ecequeoestadodeverestituir as terras +istoricamente demarcadas que vendera 'ara agricultores em meadosdo sculo XX$. dcada de 1TTP &oi marcada 'elo 'rocesso de restabelecimento dos limites dasterrasind-genas+istoricamentedemarcadas eretiradas decentenasde&am-lias" que+aviam com'rado os lotes do *stado e neles viveram 'or dcadas" que buscaram novas&ormas de sustento em outras reas dis'onibili4adas 'elo governo ou ent)otrans&ormaram@seemm)odeobraassalariadanascidades$. desintegra()ocultural"social e econJmica das comunidades de agricultores n)o 'ro'orcionou a reconstru()odo+abitat ind-genaqueretornando'arasuas terras as encontraramcom'letamentedescon&iguradas 'or dcadas de 'rticas agr-colas$ Neste conte3to" im'ortante ressaltar que n)o&orama'enas as terras que+aviam mudado"os 'r,'rios ind-genas submetidos a l,gica do desenvolvimento e daeconomia de mercado 'ossuem necessidades que n)o s)o mais su'ridas 'elas 'rticasda ca(a" coleta e agricultura de subsist/ncia$ 2esta &orma a restitui()o de seus territ,rios+istoricamente demarcados n)o s)o mais su&icientes 'ara garantir umetenodesenvolvimento e oe3erc-cio das liberdades e odesenvolvimento das suasca'acidades$ 8or outro lado" as 'ol-ticas indigenistas n)o &ornecem condi(5es 'ara que2+ . %onstitui()o de 1TKL" mantendo a mesma 'ers'ectiva em 1TKQ e 1TLM" de&ine que a administra()odas reas ind-genas 'assaria a ser res'onsabilidade da ;ni)o" retirando dos estados" no caso es'ec-&ico doRio rande do !ul" a tare&a de administrar e" ao mesmo tem'o" o 'oder sobre as reas ind-genas que +aviademarcado entre 1T1P@1U$14as comunidades consigam desenvolver 'rojetos ca'a4es de" a 'artir das caracter-sticasculturais" su'rir as necessidades que 'ossuem em 'leno sculo XX:$2iante deste quadro" 'assa@se a vivenciar as reivindica(5es ind-genas 'arae3'andir seus territ,rios 'or meio da demarca()o de terras que ocu'avam at o &inal dosculo X:X" in-cio do sculo XX quando &oram demarcados os 0oldos e intensi&icada acoloni4a()o dasterrasconsideradasdevolutas$Aormam@se de4enas de acam'amentosind-genas21emreas consideradas 'or eles de ocu'a()o tradicional e que est)ocentenariamente ocu'adas 'or agricultores que desenvolveram nelas estruturaseconJmicas" sociais e culturais caracteri4adas" emgrande medida 'ela agricultura&amiliar$.s contradi(5es se agudi4am nas comunidades ind-genas e na rela()o com osagricultores$ .s reas ind-genas reconstitu-das na dcada de 1TTP n)o garantem 'or si s,o desenvolvimento de suas comunidades$ .s dis'utas internas" a 'rivati4a()o e a divis)odesigual do solo" a 'rtica do arrendamento como &orma de buscar o sustento am'liamos con&litos entre ind-genas e deles contra o *stado que inter&ere na gest)o dos seusterrit,rios" 'roibindo oarrendamento semo&erecer outra alternava vivel de autosustento22$ Narela()ocomosagricultoresn)odi&erente" deumladocentenasde&am-liasquevivemaamea(ade'erdersuasterrase desconstituir v-nculos sociais eculturaisIdeoutro" osind-genasacam'ados na e3'ectativa" emgrademedidagerada'ela 'ol-tica indigenista"de am'liar os seus territ,rios como &orma de garantir o seusustento e a sua cultura$ O cenrio 'ro'-cio 'ara o acirramento dos con&litos que" 'araalm da tens)o social" 'rodu4iu con&litos &-sicos resultando no &erimento de ambos oslados e a morte de dois agricultores em Aa3inal4in+o$21*mbora sejadi&-cil ter umdadosegurosobreaquantidadede'rocessos administrativos" sabe@sequeentredemandas ind-genas com 'rocessos administrativos instaurados na A;N.: e acam'amentos ind-genas reivindicandoa constitui()o dos 'rocessos administrativos" no norte do rio rande do !ul" num raio a'ro3imado de 2PP >m de8asso Aundo" temos= 7ato 8reto Det9lio Bargas" *rebango e *rec+imEI 8asso da Aorquil+a D!ananduva e %acique2obleEI BotouroYKandoia DAa3inal4in+o e #enjamin %onstantEI %arreteiro D[gua !antaEI Xengu D%onstantina e NovoXinguEI :n+acorD!)o Balriodo!ulEe7ato%astel+anoD7ato%astel+anoEI%am'odo7eioDentil" 7araue%ir-acoEI %acique2obleD%acique2obelEI 8ont)oD8ont)oEI Nonoai DNonaoi eRiodos_ndiosEI Riodos_ndiosDBicente 2utraEI#orboleta D*s'umoso e !oledadeE22 *m 2PPR tornou@se '9blico" e3igindo a inter&er/ncia da 8ol-cia AederalE o con&lito na 0erra :nd-gena deGigeiro D%+arruaE motivada 'ela diverg/ncia interna em rela()o a &orma de utili4a()o do terra e a 'rticado arrendamento$ *m 2P1L a a()o da 8ol-tica Aederal e do 7inistrio 89blico Aederal 'rendeu diversosind-genas em Bentarra D*rebandoE 'ela 'rtica ilegal do arrendamento$ Neste mesmo ano um ind-gena deBentarra e outro do acam'amento de 8asso rande do Aorquil+a D!ananduva e %acique 2obleE &orammotos'or arma de &ogo em consequ/ncia das dis'utas e con&litos entre ind-genas$143CONSIDERAOSOBREETNODESENVOLVIMENTOE4 LIBERDADEEPOLTICAS DE DESENVOLVIMENTO . +ist,ria das 'ol-ticas de desenvolvimento na regi)o norte do Rio rande do!ul" es'ecialmente quando envolve os ind-genas e agricultores" no seu conjunto e comacentuada re'ercuss)o em rela()o ao &uturo" am'liaram os con&litos entre os di&erentesgru'os tnicos$ Os modelos de desenvolvimento" normalmente economicistas eevolucionistas2K" a'oiados 'elo *stado ou orientados 'elo mercado" desconsideraram aidentidadetnicaecultural das'essoase'riori4arama'rodu()oeaam'lia()odas&ronteiras agr-colas" 'rioritariamente$ .s culturas &oram subjugadas$*ssa uma realidade com'le3a" como &oi destacado no decorrer da e3'osi()o$2e outra banda" denuncia as consequ/ncias ne&astas tanto 'ara os agricultores quanto'araos ind-genas$ .unilateralidadecondu4iu6desintegra()ocultural" aus/nciaderela(5es sociais equitativas" desres'eito6sdi&eren(as" surgimentode'reconceitos edistanciamentos em in9meras reas da conviv/ncia &amiliar e social im'ossibilitando aconstru()o de 'rojetos coo'erativos ou de entre @ ajuda$*s'ecialmente 'ara as reas que estamos considerando" isto " o norte do Riorande do !ul" mas tambm 'ara as demais" evidencia@se a necessidade de mudan(asnas 'ol-ticas '9blicas que visem outras re&er/ncias 'ara a sua justi&ica()o e" 'osterior"e&etiva()o$ O desenvolvimento sustentvel 'recisa ser integrado" solidrio ecoo'erativo$.conjuga()odoe3erc-ciodosdireitos" es'eci&icamentedasliberdadessubstantivas e o desenvolvimento das ca'acidades" e as 'remissas doetnodesenvolvimento s)o re&erenciais im'ortantes 'ara a constru()o do dilogo com osatores envolvidos$ !en D2PPP" '$ K2E en&ati4a essa rela()o e a necessidade de e3istiremcondi(5es de escol+a e relacionamento que s)o essenciais 'ara a cidadania e a intera()osocial a&irmando= N.ssim" atenta@se 'ara a e3'ans)o das ca'acidades `ca(abilitiesa das'essoas de levar o ti'o de vida que elas valori4am C e com ra4)o$ *ssas ca'acidades'odem ser aumentadas 'ela 'ol-tica '9blica" mas tambm" 'or outro lado" a dire()o da'ol-tica '9blica 'ode ser in&luenciada 'elo uso e&etivo das ca'acidades 'artici'ativas do'ovoO$ *ssauma'ers'ectivaque'recisaser sublin+ada'or causadovalor das'essoas e do 'otencial 'ara in&luenciar a organi4a()o social$ Nesse quesito a23 *ntende-se modelos e"onomi"istas e evolu"ionistas aqueles que avaliam o desenvolvimento apenas pela varia%o dos ndi"es e"on;mi"os e monetrios, "onsiderando que a sua e2etividade o"orre por uma su"ess%o de etapas que pre"isam ser "umpridas' 1/caracter-stica Ncondi()o de agente2LO re'resentativa dessa din1mica que 'oderedimensionar as rela(5es entre 'essoas e os gru'os com culturas di&erentes e v-timas de'ol-ticas con&usas e desintegradas$.'resentamos"a seguir" quatro com'romissos queconsideramos indis'ensveis 'ara a e3'licita()o do conte3to e das contradi(5ese3istentes nas 'ol-ticas indigenistas e nos con&litos em quest)o" assim como" em vista daconstru()ode'ro'ostas de'ol-ticas dedesenvolvimentosustentveis eca'a4es deintegrar 'essoas" gru'os e comunidades com culturas e identidades di&erentes$ *vita@se"entendemos" novas &ormas de e3clus)o e am'liam@se as condi(5es de justi(a social$8rimeiro= a&irmamos anecessidadederecon+ecer o&racassodasconce'(5esassimilacionistaeintegracionista" tantodo'ontodevistaconceitual quantodasuae&etiva()o na elabora()o de 'ol-ticas de desenvolvimento$%om a mesma intensidadeseria incorrer no mesmo erro substitu-@las 'or conce'(5es 'rimordialistas e'reservacionistas2M$ Ou seja" recon+ecer o direito cultural" suas tradi(5es" seus costumes"suas organi4a(5es e aos territ,rios que tradicionalmente ocu'am n)o deve ser sinJnimode que eles voltem a viver integrados 6 nature4a" sobrevivendo de ca(a" 'esca e coleta"estabelecendo com a terra um v-nculo de tradicionalidade e ancestralidade" tam'oucoconservar rela(5es sociais onde a lideran(a e o'oder erame3ercidos a 'artir deelementos culturais e religiosos$!egundo= o direito das culturas" tanto moral e constitucional" 'arte integranteda democracia e im'lica orecon+ecimento e ores'eito 6s di&erentes tradi(5es eidentidades culturais$ O e3erc-cio das liberdades e o desenvolvimento ou res'eito dasca'acidades +umanas im'licam"tanto da 'arte dos l-deres quanto das organi4a(5es edemais sujeitos sociais" odilogo'ermanente a 'artir das condi(5es e&etivamentevivenciadas 'elos gru'os culturais" que 'odem ser simboli4adas 'ela dis'onibilidade de24 < empre3o da e=press%o >"ondi%o de a3ente? requer es"lare"imento' < agente@s ve:es empre3ado na literatura so$re e"onomia e teoria dos Ao3os emre2er!n"ia a uma pessoa que est a3indo em nome de outra (talve: sendo a"ionadapor um >mandante?., e "uAas reali:aes devem ser avaliadas @ lu: dos o$Aetivos daoutra pessoa (o mandante.' *stou usando o termo agente n%o nesse sentido, masem sua a"ep%o mais anti3a B e >mais grandiosaB de al3um que a3e e o"asionamudanae"uAasreali:aespodemser Aul3adasdea"ordo"omseusprCpriosvalores e o$Aetivos, independentemente de as avaliarmos ou n%o tam$m se3undoal3um "ritrio e=terno' ()en, 2+++, p' 33.'24Navarrete (2++-. aponta que a "on"ep%o primordialista entende que aetni"idadeind3enaestvin"uladaa"ara"tersti"asviven"iadasporestespovosanteriormente ao "ontato "om os europeus' Dara"tersti"as estas quepermane"eramatravsdotempoepre"isamserpreservadas"omo"ondi%odeidentidade tni"a'1,recursosambientaisenaturaiseasnecessidadessociaisbsicas$ *3istem" tambm"avalia(5es que indicam que os Kaingang do norte do Rio rande do !ul est)o inseridos"mesmo que de &orma 'recria e subalterna" nas rela(5es de mercado$ *ssa constata()odemanda que" juntamente com as negocia(5es que envolvem a delimita()o territorial"sejam'ro'ostas&ormasdeorgani4a()o" 'rodu()oeadministra()odosrecursosquevisemaam'lia()oderendaedascondi(5esdesobreviv/nciaeconviv/nciasocialintegrada$0erceiro= tendocomo 'ressu'ostoque as sociedades ind-genas" a 'artir da'ers'ectiva da &ric()o intertnica" contribu-ram 'ara a constru()o da cultura brasileira e"simultaneamente vivenciaram trans&orma(5es culturais internas" necessrioanalisar a&orma de e3erc-cio de 'oder nas aldeias ind-genas >aingang veri&icando em que medidaas dis'utas 'ela lideran(a e condi()o de cacique" nas reas j demarcadas s)o'otenciali4adores de uso 'rivado da terra e e3clus5es de gru'os de -ndios que obrigam@se 'eriodicamente buscar a demarca()o de novas reas$ 2a mesma &orma" o argumentodo v-nculo tradicional ind-gena com uma determinada terra 'recisa ser relativi4ado" seja'orque este v-nculo j &oi rom'ido ou" ainda" 'orque n)o ele quem vai satis&a4er asatuais necessidades ind-genas que como mencionamos" muitas ve4es est vinculado al,gica do mercado$ *ntendemos que" quando constatado a necessidade de novas terras'ara as comunidades ind-genas" a relativi4a()o do v-nculo tradicional 'oderiam 'ermitirademarca()odeterrasind-genasemregi5es relativamente'r,3imas" mas quen)o'ossuema mesma densidade demogr&ica e" inclusive" n)o s)o ocu'adas 'elaagricultura &amiliar" 'ortanto" n)o 'rovocando o mesmo im'acto sociocultural"'rodu4iriam menor tensionamento social" agili4ando o 'rocesso demarcat,rio e'ermitindo a 'reserva()o da diversidade e as condi(5es de conviv/ncia 'ac-&ica entreind-genas e agricultores$Suarto= . utili4a()o dos re&erenciais do etnodesenvolvimento e dodesenvolvimento enquanto e3erc-cio de liberdade de ca'acidades contribuiriam 'ara aminimi4a()odos con&litos$ .atual 'ol-tica territorial desenvolvida 'elaAunai n)o'ossui tais re&erenciais" seja 'or n)o recon+ecer a es'eci&icidade dos agricultores&amiliares" seja 'or 'rodu4ir um tensionamento social e jur-dico que retarda o 'rocessodemarcat,rio" seja 'or degradar a condi()o dos gru'os de -ndios acam'ados 'ordcadas$.altera()o deste quadro requer mudan(as de com'reens)o te,rica nos'rocessos administrativos e na a'lica()o jur-dica do direito territorial ind-gena$ !u'5e a1-mudan(a da conce'()o de 'essoa a 'artir da condi()o de agente tanto 'ara ind-genasquanto 'araosagricultores" asgarantiasdoe3erc-ciodasliberdades'ublici4ando os'rocessos egarantindoodireitodede&esa" odebate'9blicoeocontradit,rio$ Osindiv-duosegru'ossociais'recisamserrecon+ecidoseconsideradoscomosujeitos+ist,ricos que 'ossuemnecessidades vinculados aos seus conte3tos su'erando adicotomiaquelevaorecon+ecimentododireitodeumgru'oanular odireitodosdemais$. com'reens)o" e3'licita()o" e&etiva()o e legitimidade do direito das culturas um tema relevante deste in-cio de mil/nio e condi()o &undamental 'ara a estrutura()ode ummodelo de desenvolvimento sustentvel que busque a equidade social" oa'rimoramentoda democracia eas condi(5es deconviv/ncia social 'autadas 'elatoler1ncia$ Odebate sobre os novos direitos" as garantias legais e as &ormas decon+ecimento" recon+ecimento e relacionamento entre 'essoas" 'ovos e *stados o&erece6 +umanidade incontveis mecanismos 'ara a solu()o de con&litos$ *ste" que envolveind-genas e agricultores 'recisa ser mediado 'elos mecanismos e recursos dademocracia" es'ecialmente o debate '9blico" a arte da di'lomacia" a 'artici'a()o e&etivade todos e a diminui()o das desigualdades$5 RE0ER6NCIAS#*%K*R" _tala :rene #alise$ ) *ndio +aing!ng no ,io 'rande do Sul. !)o Geo'oldo= ;N:!:NO!" 1TTM$%.R:N:$ Joel$-stado, *ndios e colonos. O con&lito na reserva ind-gena de !errin+a no norte do Rio rande do !ul$ 8asso Aundo= ;8A" 2PPM$K;J.^." HenriqueI 0*2*!%O" Jo)o %arlos$ O con&lito entre ind-genas e agricultoresno 8asso rande do Aorquil+a@ %acique 2obe e !ananduva$ !-ntese de argumentos$ :n$0*2*!%O" Jo)o%arlosDOrg$E$onflitosagr!riosnonortedo,io'randedoSul.ind*genaseagricultores.Bol$B::$ 8assoAundoI 8orto .legre= :7*2I GetrabBida"2P1L$ K;J.^." Henrique I Z.7#.7" Neuro$ %on&lito territorial entre -ndios e .gricultores'rovocado 'or 'ol-ticas territoriais contradit,rias" no norte do Rio rande do !ul= umabreve locali4a()o da 'roblemtica$ :n= : %ON!;2: %ongresso !ul@#rasileiro de8romo()o dos 2ireitos :nd-gena" 2P12" %+a'ec,$ /nais do I )NS0DI, 2P12$19G.ROS;*" Gu-s Aernando da !ilva$ Gideran(as Kaingang no #rasil 7eridional D1UPU@1UUTE$ /ntro(ologia, n 12" 8esquisasY:nstituto .nc+ietano" 2PPP$N.B.RR*0*" Aederico$ . inven()o da etnicidade nos *stados@Na(5es americanos no sculo X:X e XX$ :n= H*:NZ" AlavioI H.RR*!" 7arlu4a 7arques DOrg$E$ 3istria e seus territrios. con&er/ncias do XX:B !im',sio Nacional de Hist,ria da .N8;H$ !)o Geo'oldo= Oi>os" 2PPU$OG:B*:R." A$ .$ X$ /naes do munic*(io de 4asso 5undo. .s'ectos Hist,ricos$ 8asso Aundo= ;8A" 1TTP D1TPUE" v$ 2OG:B*:R." Roberto %ardoso de$ .()o indigenista" etnicidade e o dilogo intertnico. -studos /6anados" !)o 8aulo$ v$ 1L"n$ LP" set$Yde4$" 2PPP$!*N" .martHa$/ ideiade7ustia$ 0radu()o Nuno %astello@#ranco#astos$ %oimbra".lmedina" 2P1P$!*N" .martHa$ Desen6ol6imento como liberdade$ 0radu()o= Gaura 0ei3eira 7otta$ !cO8aulo= %om'an+ia das letras" 2PPP"!0.B*NH.*N" R$ 1TUM$ *tnodesenvolvimento= uma dimens)o ignorada no'ensamento desenvolvimentista$ :n= /nu!rio /ntro(olgico" UL= 11@LL$0*2*!%O" Jo)o %arlosI N*;7.NN" Rosane 7rcia$ %olonos" %olJnias e%oloni4adoras= as'ectos da terr-toriali4a()o agrria no !ul do #rasil$ :n$ 0*2*!%O"Jo)o %arlosI K;J.^." Henrique .niceto DOgrsE$ onflitos /gr!rios no Norte 'a8c#o.*ndios, negros e colonos$ 8orto .legre= *ditora Getrab Bida" 2P1K$0*!H.;*R" %arlos !$ J$ 4aranduba ,iograndense. 8orto .legre= Givraria do lobo" 1T2T$B*R2;7" Ricardo$ -tnodesen6ol6imento. novaYvel+a uto'ia indigenismo$ 0ese de 2outorado a'resentada no %%8.%" ;niversidade de #ras-lia" &evereiro de 2PPR$Z.7#.7" Neuro Jos$ /martya Sen= liberdade" justi(a e desenvolvimento sustentvel$8asso Aundo= :med" 2P12$