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Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 ISSN: 23178-6135 Artigo número: 200 Zum: desvelando o universo das plantas com arte Jaqueline Vilella Barban Hylio Laganá Fernandes Resumo A modernização do cenário educacional deve acontecer como forma de suprir as necessidades de uma sociedade em constante transformação - fluxo de conhecimentos, imagens, movimentos e sons. Nesse contexto, busca-se cada vez mais um ensino articulado, que contemple ciência, arte e tecnologia. Utilizando-se de técnicas de fotografia e animação digital, esse trabalho teve como objetivo a criação de uma narrativa imagética para compor um material de apoio didático no ensino da Botânica, com o intuito de desenvolver interesse e valorização dessa área. O registro fotográfico digital focou-se em briófitas e pteridófitas; a partir destas imagens foram produzidas montagens dinâmicas que conferissem noções de escala: efeito de zoom (afastamento ou aproximação), valorizando o organismo enquanto elemento constituinte de um sistema complexo. A aplicação do material produzido possibilitou a investigação dos sentidos atribuídos às imagens e às animações; e demonstrou que o objetivo principal foi alcançado e comprovado pela melhoria no desempenho dos educandos.

Zum: desvelando o universo das plantas com arte · criação de uma narrativa imagética para compor um material de apoio didático no ... milênio oriundas do ... 1.3. A valorização

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II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia

07 a 09 de outubro de 2010 ISSN: 23178-6135

Artigo número: 200

Zum: desvelando o universo das plantas com arte

Jaqueline Vilella Barban

Hylio Laganá Fernandes

Resumo

A modernização do cenário educacional deve acontecer como forma de

suprir as necessidades de uma sociedade em constante transformação - fluxo de

conhecimentos, imagens, movimentos e sons. Nesse contexto, busca-se cada vez

mais um ensino articulado, que contemple ciência, arte e tecnologia. Utilizando-se

de técnicas de fotografia e animação digital, esse trabalho teve como objetivo a

criação de uma narrativa imagética para compor um material de apoio didático no

ensino da Botânica, com o intuito de desenvolver interesse e valorização dessa

área. O registro fotográfico digital focou-se em briófitas e pteridófitas; a partir

destas imagens foram produzidas montagens dinâmicas que conferissem noções

de escala: efeito de zoom (afastamento ou aproximação), valorizando o organismo

enquanto elemento constituinte de um sistema complexo. A aplicação do material

produzido possibilitou a investigação dos sentidos atribuídos às imagens e às

animações; e demonstrou que o objetivo principal foi alcançado e comprovado

pela melhoria no desempenho dos educandos.

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Palavras-chave: fotografia, material didático, botânica.

Abstract

Zum: unveiling the world of art with plants

The modernization of the educational scenario should happen as a way of

addressing the needs of a society in constant transformation - flow of knowledge,

images, movements and sounds. In this context, search is becoming more of a

teaching statement, covering science, art and technology. Using techniques of

photography and digital animation, this work aimed at creating a narrative

imagery to make a didactic support material in the teaching of Botany, in order to

develop interest and appreciation in this area. The digital photographic record

focused on bryophytes and pteridophytes; from these images were created

dynamic assemblies that give notions of scale: zoom effect (departure or

approach), emphasizing the body as a constituent element of a complex system.

The application of the material produced made possible the investigation of the

meanings attached to images and animations, and showed that the main objective

was achieved and evidenced by the improvement in the performance of students.

Keywords: photography, teaching materials, botany.

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1. Introdução

A entrada de um novo milênio trouxe consigo diversas alterações socioeconômicas,

oriundas do surgimento da chamada sociedade da informação. O frenético fluxo de conhecimento

gerado pelas tecnologias de informação e comunicação (TIC) criou desafios e exigiu saídas

alternativas no âmbito da educação. As atuais mudanças no cenário educacional apontaram a

reestruturação do processo de ensino-aprendizagem, de forma que os conteúdos de ensino, as

competências, as habilidades e, portanto, a formação profissional, fossem revistas. Assim,

tornou-se cada vez mais indispensável uma educação igualitária e práticas pedagógicas que

transformem, segundo Freire, “dificuldades em possibilidades” (Flecha e Tortajada, 2000, p.21).

Nesse sentido, uma aula contemporânea composta apenas de giz e lousa pode

desestimular o interesse de alunos imersos numa sociedade hiperestimulada por imagens,

movimentos e sons. Torna-se necessária a busca de um ensino complementado da junção ciência,

arte e tecnologia que contemple características distintas do cotidiano, muitas vezes enfadonho,

das salas de aula. E ao professor, cabe fornecer o embasamento teórico e as ferramentas que

permitam ao educando perceber as ligações, transformações e influências dos aspectos que o

cercam como cidadão integrante da sociedade e do meio ambiente. Também referente a esse

último aspecto, o professor deve proporcionar um ambiente de reflexão que permita o

desenvolvimento de pensamentos críticos em relação às interações homem/natureza, como a

conservação ambiental e uso sustentável dos recursos naturais. Para isso, é necessário que os

alunos tenham o conhecimento basal para defender suas opiniões, sendo as imagens fotográficas

um fantástico recurso para complementar o processo de ensino-aprendizagem, além de

possibilitar conscientização e sensibilização.

Dentro desse contexto, o Projeto Zum teve como objetivo criar, utilizando-se de técnicas de

fotografia e animação digital, uma narrativa imagética para compor um material de apoio didático

no ensino da Botânica, além de expandir a destreza profissional de futuros educadores durante o

desenvolvimento deste. O apanhado fotográfico digital iniciou-se com briófitas e pteridófitas e a

partir destas imagens foram pesquisadas formas de produzir montagens dinâmicas que

conferissem noções de escala: efeito de afastamento (desde o indivíduo até o ambiente como um

todo) ou aproximação (o efeito inverso), mostrando assim o espécime completo, o ambiente em

que esse está inserido e, portanto, as interações com outros organismos. Também foram

investigados os sentidos atribuídos às imagens e animações através da submissão do material

gerado à aplicação em sala de aula e avaliação, e posterior leitura crítica.

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1.1. Efeito zoom

O significado do termo zum, segundo o Dicionário Aurélio eletrônico – século XXI (1999):

“[Do ingl. zoom.]

S. m.

1. Conjunto de lentes cujo alcance focal pode ser continuamente ajustado

para fornecer vários graus de grandeza sem perda de foco, combinando, assim,

as características de uma lente de grande abertura, de abertura normal, e

telefotográfica.

2. O efeito de afastamento ou de aproximação produzido por esse conjunto

de lentes, em cinema e televisão.

3. Inform. “Ampliação ou diminuição de imagem na tela do computador, sem

alteração do tamanho da imagem original ou do arquivo em que está

armazenada.”

1.2. Uma boa conjugação: fotografia e educação.

Na ciência, além de documentar, legitimar ou divulgar, a fotografia funciona para

proporcionar descobertas, expandindo o espectro de visão humana: lentes e artefatos permitem

fotografar muito longe, muito perto, coisas muito pequenas ou comprimentos de onda

normalmente não visíveis. A tecnologia que permeia a fotografia, dimensionando-a para uma

aproximação fidedigna do ponto de vista sensorial, assim como a cultura que historicamente lhe

confere um estatuto documental de realidade, valida essa expansão, naturalizando-a para que

aceitemos como natural poder ver outras galáxias ou uma bactéria (Fernandes, 2009).

Além da relação com a ciência, “a documentação fotográfica é um recurso prático, que

apresenta um potencial excepcional quando trabalhada como material didático” (Prezzotti e

Callisto, 2002, p.65). Fernandes (2005) investigou como as imagens fotográficas podem funcionar

no ensino, seduzindo (sensibilizando para um assunto), ilustrando (testemunhando ou

referenciando algum elemento), problematizando (abrindo espaços para a pluralidade de visões

dos alunos) e ainda produzindo subversivamente, no diálogo fotografia-leitor, conhecimentos que

podem escapar do objetivo primeiro a que estariam destinadas. As fotografias podem, ainda,

estimular o exercício de observação, permitindo que detalhes possam ser apreendidos, discutidos

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e ressignificados, criando assim novas referências para decodificação. Ao refletir sobre uma

imagem, o fotógrafo e o espectador atribuem conceitos para o que é apresentado. E é nessas

compreensões que a educação tem a obrigação de atuar.

Vivemos em uma sociedade em que as imagens estão presentes, inclusive interferindo em

nosso modo de pensar e agir, educando-nos a ver e impregnando essa visão com sentidos

culturais. Assim, encontramos eco no pensamento de Almeida (1999), que afirma estarmos

mergulhados em uma nova tradição cultural, mediada pelas imagens, na qual “o conhecimento

visual cotidiano de inúmeras representações em imagens participa da educação cultural, estética

e política e da educação da memória” (Almeida, 1999, p.21).

1.3. A valorização da Botânica através da fotografia

Por muito tempo a Botânica tem sido apresentada com baixa carga horária no ensino

fundamental e médio. O conteúdo programático contempla prioritariamente a biodiversidade

vegetal com destaque as espécies arbustivas e o estudo morfológico de flores e frutos que

remetem a discussões de relação planta-animal e ecologia da conservação. Há também discussões

sobre as espécies de interesse econômico, seja pelo enfoque de manejo florestal seja pela

importância sócio-cultural.

As briófitas e as pteridófitas têm sido consideradas como “plantas inferiores”, reunidas em

apenas uma divisão cada. A ausência de tecido condutor nas briófitas e simplificado nas

pteridófitas traduzem, em geral, a falsa idéia de baixo valor econômico e ecológico possuindo

baixa diversidade e distribuição. O não reconhecimento do real valor está expresso na ausência

de material didático que apresente a briologia e pteridologia local.

As pteridófitas e espécies afins somam mais de 12.000 táxons e estão distribuídas desde as

regiões polares até as desérticas passando do nível do mar e chegando a grandes altitudes (Dyer,

1979; Dyer e Page 1985). Embora sejam mais conhecidas as pteridófitas terrestres de porte

mediano, espécies arbóreas são destaques na fabricação de utensílios e até construção de casas.

No Brasil, o xaxim (Dicksonia sellowiana) é hoje é oficialmente protegido por fazer parte da lista

de espécies em via de extinção. A Azolla microphylla, espécie aquática, é também muito

conhecida como adubo verde e utilizada em consórcio nas plantações de arroz.

As briófitas, embora de pequeno porte, também possuem interessantes estratégias

ecofisiológicas para superar as condições desfavoráveis (Silva et al., 2006). São mais de 6.000

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táxons e, assim como as pteridófitas, presentes desde as regiões polares até as desérticas, do

nível do mar a expressivas altitudes. Estão aderidas a substratos naturais como o solo (terrestres),

pedras, caules (corticículas) e folhas, assim como em substratos urbanos. Por recobrir de forma

contínua grande área, as taxas fotossintéticas são expressivas e a unidade retém grande

quantidade de água, portanto, trata-se de grupo fundamental nas formações florestais.

As briófitas e as pteridófitas, principalmente os exemplares epifíticos em troncos de

árvores, compõem a floresta de forma homogênea e podem não ser notadas. Pequenas ou

efêmeras espécies também não são catalogadas por observadores focados nos exemplares

fanerogâmicos. Distrações ou ausência de dinâmica na observação (focos a curta e média

distância, do solo ao dossel), muitas vezes, resultam em pisoteamento, das espécies presentes em

troncos caídos, fendas e cursos de água. Esta visão espacial dinâmica desses vegetais como

ferramenta para a discussão de biodiversidade e ecologia associado a recurso fotográfico é ainda

uma lacuna que este trabalho se propôs a preencher. Iniciando o estudo fotográfico das espécies

do Campus UFSCar – Sorocaba pretendeu-se demonstrar a variabilidade de ambientes, cores,

formas e tamanhos das espécies.

1.4. Ciência, arte e tecnologia na produção de materiais didáticos

A arte representa aquilo que o autor experimentava naquele instante e, então, reproduziu

em sua criação. Um filme, uma imagem, uma pintura, um objeto e até mesmo um material

didático pode ser consolidado pela arte. Com o objetivo de utilizar artifícios como formas, cores e

ângulos o artista busca chamar a atenção de certas características de sua obra, seja pra encantar,

chocar ou ensinar. Assim, (Gerald et. al., 2006, p.71):

“(...) as obras de arte são ao mesmo tempo objetivas e subjetivas. Elas têm sua

materialidade no seu sistema de formas como metáforas únicas e particulares

com esta dupla direção: permitem conhecer a realidade e ao mesmo tempo

construir conhecimentos sobre nós próprios.”

Na busca da atribuição de significados já existentes (pré-conceitos) a um novo

conhecimento, o educando cria metáforas com a intenção de unir o seu mundo àquele

desconhecido até o momento. Uma imagem utilizada como material de apoio didático aciona o

sentido da visão, e quando o ensino-aprendizagem é composto de materiais reais, outros sentidos

também são acionados, como audição, tato, paladar e olfato. Assim, o entrelaçamento entre o

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conhecimento teórico (conceitos e significados) e prático (significados e sentidos – visão, audição,

tato, paladar e olfato) pode recriar um ambiente propício para experiências vividas, construindo

assim, uma práxis pedagógica.

Nesse contexto, a informática pode fornecer ferramentas para aproximar o real às salas de

aula, quando este é inacessível. Através da tecnologia da computação gráfica é possível gerar

movimento e sonorização de imagens, advento de cores e efeitos visuais que proporcionem

diferentes visões ou a ilusão de 360 graus. A autora Rejane M. G. da Silva (2006), em seu trabalho

“Epistemologia e construção de materiais didáticos digitais” aborda temas como

ensino/aprendizagem e incentivo a utilização de novas tecnologias nas escolas por futuros

professores que “realizam um exercício de pensamento e análise sobre o que é educação e os

fatores explícitos e implícitos que a condicionam” (Silva, 2006, p.93).

Silva (2006) também defende a importância da analise dos pontos positivos e negativos dos

novos materiais didáticos oriundos da tecnologia computacional. Essas novas produções parecem

possuir “uma nova lógica de encarar linguagens, formas de pensar, formas de conduzir os

processos de ensino e aprendizagem, está muito distante do universo escolar e, mais ainda, da

formação do professor.”. Assim, o material didático não deve se tratar apenas do mesmo

conhecimento agora transformado de forma digitalizada, mas algo inovador. Uma escola

informatizada possibilita um ensino menos transmissivo e mais interativo, democratizando o

conhecimento: “O professor pode libertar-se dos currículos e dos materiais comerciais,

especialmente, dos livros didáticos. Essa crença apóia-se no fato de que os professores,

principalmente em grupo, quando tomam o currículo como experimentação e instrumentos para

resolver problemas práticos, passam a analisar o ensino e as necessidades de aprendizagem dos

alunos e decidem elaborar materiais didáticos parar esses objetivos.” (Silva, 2006, p.93-95).

2. Metodologia

O projeto foi desenvolvido em três etapas: produção de material didático na área de

Botânica; adaptação e aplicação do material produzido como apoio didático no Ensino Médio da

escola Estadual Professor Luis de Camargo Fleury, no município de Sorocaba; e avaliação do

material didático pelos alunos.

2.1. Produção de material didático

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A produção das seqüências fotográficas e confecção dos vídeos foram os objetivos de

duas pesquisas inter-relacionadas que foram desenvolvidos simultaneamente. Nesse trabalho, as

seqüências fotográficas foram efetuadas no ambiente natural e no outro, foram confeccionadas

imagens em lupa e microscopia. A junção das séries fotográficas macro e micro puderam criar

uma linha de pensamento contínuo na intenção de gerar o desejado efeito de “zoom” virtual.

O enfoque ambiental foi produzido por meio de seqüências de fotos obtidas a partir de

posicionamento da câmera em diferentes distâncias do objeto. O espaçamento entre as tomadas

não foi homogêneo, mas realizado de modo a formar em seu conjunto um efeito de afastamento

(desde o indivíduo até o ecossistema) ou aproximação (o efeito inverso), valorizando o organismo

enquanto elemento constituinte de um sistema complexo.

As primeiras sessões fotográficas foram produzidas em laboratório utilizando exemplares

de Briófitas e Pteridófitas coletadas anteriormente e cultivados para que houvesse constante

disponibilidade de material e também, para que as plantas apresentassem melhor aparência e/ou

as estruturas que se objetivava dar destaque.

A busca de uma visão panorâmica indo desde a perspectiva ambiental a celular (ou o

inverso) necessitava da junção entre as sessões fotográficas macro e micro. Para que isso

ocorresse adequadamente foi necessário a utilização do mesmo exemplar ou segmento de

Briófita ou Pteridófita, tal como rizoma, folha, soro, indúsio e venação circinada. Também foi

importante observar ângulo de projeção do objeto e seu enquadramento na fotografia, a

quantidade de iluminação e o distanciamento da foto mais próxima ao objeto para que,

digitalmente, as imagens seguintes produzidas pudessem ser posicionadas adequadamente.

O próximo passo envolveu o uso de objetivas macro acopladas à câmara digital semi-

profissional NIKON FD-x. Em campo, esta câmera proporcionou imagens bastante próximas do

objeto e em alta definição, permitindo vários processos que conduziam a continuidade das

seqüências fotográficas para a composição do vídeo.

As imagens transferidas da câmera para o computador passaram por tratamento digital, no

qual ajustou-se a composição do fundo, a cor, o contraste e o brilho buscando dar seqüencia as

fotos macro e micro. Após esse processo, as fotos foram organizadas em continuidade através do

programa Macromedia Flash 8 produzindo um vídeo com efeito de “zoom virtual”. Os vídeos de

diferentes plantas evidenciando suas características mais relevantes foram divulgados na sessão

“Zum” da página de internet do Grupo de Pesquisa Imagens em Ação

(http://www.ufscar.br/fotografia).

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2.2. Utilização do material didático produzido

O material didático foi aplicado, aprimorado e avaliado com duas turmas de terceiro ano do

Ensino Médio da Escola Estadual “Professor Luis de Camargo Fleury”, no município de Sorocaba. A

turma A, consistiu em uma sala que houve o prévio acompanhamento semanal ao longo do

trimestre letivo da escola, enquanto que na Turma B isso não ocorreu.

O material didático foi adequado para atender as aulas de Botânica baseada no conteúdo

na Proposta Curricular para o Ensino de Biologia do Estado de São Paulo, na qual constava a

discussão sobre “Evolução das Plantas”. O tema foi desmembrado em duas aulas: Algas, Briófitas

e Pteridófitas; e Gimnospermas e Angiospermas. A aula foi produzida em slides de PowerPoint e

projetada em quadro branco. Essa forma de apresentação possibilitou o enriquecimento com

imagens e vídeos, assim como houve também a demonstração com espécimes vivos ao final de

cada aula teórica. Tais organismos foram coletados em grande parte na escola e em seus

arredores, demonstrando que algas e plantas são encontradas convivendo juntamente com os

alunos. Dentre os materiais coletados estavam: um segmento de casca de árvore, contendo

liquens e briófitas; e gametófitos, brotos e folhas maduras de samambaias.

O enfoque da aula-tema Evolução das Plantas, presente na Proposta Curricular, era voltado

para as adaptações das plantas à conquista do ambiente terrestre. Entretanto, optou-se explicar

primeiramente o Filo Protista, e então introduzir o Filo Plantae, dando-se ênfase as estruturas

adaptativas que surgiram e diferenciaram ao longo da evolução nesses dois grupos. Para cada

grupo de plantas, e também para as algas, foram apresentadas as características gerais, a

diversidade, a relação com a água, a reprodução e sua importância ecológica e econômica.

A primeira aula possuía o diferencial de apresentar os materiais didáticos visuais do

Projeto, assim o slide inicial continha fotos de ampliação de algumas estruturas de Briófitas e

Pteridófitas. Esperava-se que tais imagens compostas de cores, formas variadas e peculiaridades

não cotidianas aos alunos ampliassem a atenção destes e produzissem reflexões e considerações

quanto aos significados gerados pela observação. Ao longo da aula, fotos semelhantes ou iguais

permitiram a conjugação entre o indivíduo por completo, suas estruturas e sua classificação

quanto ao filo que pertenciam. No final da aula, foram apresentados os vídeos de seqüências

fotográficas que partiam de uma estrutura da planta até a visualização ambiente ao seu redor, ou

seja, partindo do detalhamento para a perspectiva panorâmica. O efeito inverso com outros

vídeos também foi demonstrado.

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2.3. Avaliação do material didático e dos alunos

Para avaliar a importância dada pelos alunos através de aulas enriquecidas por materiais

didáticos como fotos e seqüências fotográficas, foi realizada a aplicação de questionários e

entrevistas, ambos os métodos avaliativos foram baseados em “Fundamentos de Metodologia

Científica” de Marconi e Lakatos (2007).

O questionário compunha-se de perguntas fechadas seguidas de perguntas abertas e foi

entregue a todos os alunos duas salas de terceiro ano, sendo recolhido após dez minutos. Os

alunos deveriam assinalar “sim” ou “não” e responder “por quê?” para as seguintes questões: “Os

recursos visuais (fotos e vídeos) da aula de Botânica ajudaram você a: despertar o interesse pelas

plantas; aprender melhor sobre as plantas; memorizar a aula; olhar com outros olhos para as

plantas ao redor”. Além dessas questões, pediu-se que eles dessem sua opinião em relação às

aulas.

Após análise dos questionários respondidos, foram selecionados apenas dois alunos para

entrevista, selecionados por expressarem maior argumentação e respostas mais elaboradas, sem

levar em consideração as variáveis: turma e sexo.

Ao término do trimestre, a professora de Biologia da escola aplicou uma avaliação de

múltipla escolha, cujo conteúdo tratava apenas o tema Evolução das Plantas. As provas, após

serem corrigidas por ela, foram analisadas quantitativa e qualitativamente neste trabalho.

3. Resultados e Discussão

3.1. Produção de material didático

Durante a obtenção de imagens em campo foi importante observar o melhor horário e

iluminação do dia, o clima estável e ensolarado, a sazonalidade/condições do ambiente e das

plantas, pois o ressecamente não permitia a visualização da planta por completo.

Um obstáculo considerável superado ao longo do desenvolvimento do Projeto foi o

posicionamento do exemplar para a junção das seqüências macro e micro. Foi necessário cuidado

ao fotografar as estruturas ou os espécimes em ângulos, enquadramentos e iluminação

semelhantes, assim como a distância em que se encontrava a última foto tirada em campo para

as próximas produções fotográficas em laboratório.

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Quanto às seqüências fotográficas produzidas no interior da mata, a maior dificuldade foi

manter o objeto de estudo centralizado, pois dificilmente era encontrado caminho sem a

presença de obstáculos como árvores e galhos. Dessa forma, as fotos criadas dentro da mata

passaram a ser tiradas a curtas distâncias umas das outras, reduzindo tal problema.

As imagens obtidas passaram por tratamento digital no software Photoshop 8 e foram

utilizadas para confeccionar os vídeos no software Macromedia Flash 8. Na página de internet do

Grupo Imagens em Ação, foram publicados oito vídeos de diferentes plantas evidenciando suas

características peculiaridades. Briófita (Figura 1), Samambaia terrestres de médio porte (Figura 2),

Samambaiaçu (Figura 3), Heterofilia (Figura 4), Avenca (Figura 5) e Epífita (Figura 6). Os vídeos

Salvinea e Samambaia Revivescente, também locados nesse site, foram compostos de imagens na

perspectiva macro, relacionados ao outro subprojeto e não demonstrados aqui. Dois destes

vídeos, briófitas e pteridófitas, foram selecionadas para compor a aula de Botânica no Ensino

Médio com o intuito auxiliar na fixação e compreensão dos conhecimentos pelo aluno, além de

gerar interesse e curiosidade, tornando o conteúdo disciplinar mais atraente.

As Figuras 1 a 4 apresentam fotos que foram tiradas em campo, sem a necessidade da

utilização de tripé. Assim, como enfoque ambiental desse trabalho procurou-se demonstrar a

diversidade de espécies presentes no campus da UFSCar, a variação de cores, estruturas e

tamanhos, os diversos ambientes que as briófitas e pteridófitas habitam, além da relação com

outras espécies vegetais que se encontram no mesmo meio, valorizando assim o exemplar como

um elemento de um sistema complexo.

As seqüências fotográficas que compõem a Figura 1 passaram por tratamento digital, no

qual se selecionou esporófitos de briófitas que apresentavam diferentes níveis de maturação. O

vídeo foi produzido com o intuito de mostrar as formas, cores e, principalmente o tamanho, de

plantas que passam despercebidas aos olhares dos alunos.

O vídeo produzido com as fotos da Figura 2 (Blechnaceae) utilizou-se da vantagem das

cores para atentar os espectadores a uma peculiaridade específica das pteridófitas: a venação

circinada de seus brotos, uma das características de identificação de pteridófitas em meio a

outras plantas. As imagens partiam de uma estrutura do indivíduo, passando por sua forma

completa até demonstrar o ambientes que pteridófitas costumam habitar, como uma mata

fechada e úmida. Produzindo um efeito inverso ao vídeo da Blechnaceae, as seqüencias da Figura

3 procurou instigar a curiosidade para o que poderia existir dentro de um fragmento de mata.

Assim como o vídeo anterior, esse mostra outra coloração da venação circinada de pteridófitas.

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Essa espécie possui importância ornamental e econômica, pois é caracterizada por alcançar vários

metros de altura e por se uma planta ameaçada devido ao extrativismo para a produção de xaxim.

As seqüencias de imagens da Figura 4 mostram uma pteridófita que poderia passar

despercebida aos olhares em meio da variedade de espécies vegetais existentes na mata. Essa

espécie apresenta a singular característica de produzir fronde fértil diferenciada, em forma de

espiga.

No vídeo criado a partir das fotos da Figura 5 procurou-se uma espécie bastante presente

no cotidiano dos alunos, por ser utilizada na jardinagem. Destacaram-se também os soros na

margem das delicadas folhas que apresentam indúsios amarronzados.

A última seqüência imagens fotográficas, Figura 6, mostra outros indivíduos que podem

passar despercebidos, são aqueles que permanecem fixos a altos troncos de arvores. Esse vídeo

chama à atenção a beleza da folha criada por suas nervuras quando essa é observada a favor de

uma fonte luminosa.

Seque abaixo algumas fotos que compuseram as animações:

Figura1 – Sequência fotográfica de briófitas. (A) População de briófitas apresentando as fases:

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gametofítica (g) e esporofítica (e). (B, C e D) Processo de maturação da cápsula até liberação dos

esporos pelo movimento dos estômios (es).

(Fonte: Jaqueline Vilella Barban)

Figura 2 – Sequência fotográfica de pteridófita terrestre de médio porte (Blechnaceae). (A a C)

Venação circinada; (D a F) Indivíduo; (G a I) Interior da mata; (J a L) Vista externa da mata.

(Fonte: Jaqueline Vilella Barban)

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Figura 3 – Sequência fotográfica de pteridófita terrestre de grande porte (arbóreo -

samambaiaçu). (A a C) Vista externa da mata; (D a F) Interior da mata; (G a I) Indivíduo; (J a L)

Venação circinada.

(Fonte: Jaqueline Vilella Barban)

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Figura 4 – Seqüência fotográfica de pteridófita terrestre com heterofilia. (A a C) Interior da mata;

(D a F) Indivíduo; (G a I) Indivíduo com fronde fértil (ff) e fronde estéril (fe). As fotos possuem

tratamentos informáticos.

(Fonte: Jaqueline Vilella Barban)

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Figura 5 – Sequência fotográfica de pteridófita (avenca) terrestre de pequeno porte. (A) Soros (s)

com indúsio (i); (B a E) Frondes férteis; (G e H) Indivíduo; (I a L) Mata. Estas fotos passaram por

tratamentos informáticos.

(Fonte: Jaqueline Vilella Barban)

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Figura 6 – Seqüência fotográfica de pteridófita epífita. (A a F) Ambiente; (G a I) Indivíduo; (J a L)

Folha com destaque ao feixe vascular. As fotos possuem tratamentos informáticos.

(Fonte: Jaqueline Vilella Barban)

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3.2. Utilização do material didático produzido

Em uma breve análise da Proposta Curricular do Estado de São Paulo para o Ensino de

Biologia foi averiguada a falta de apreço pelos conteúdos de Botânica. Apostila propunha poucas

horas de aulas, reduzindo grande parte do conteúdo, além de possuir diversos erros conceituais e

gramaticais. Isso enfatizou ainda mais a relevância dos materiais didáticos dessa pesquisa para

complementação da aula teórica de Botânica. Já o desenvolvimento das aulas de “Evolução das

Plantas” em duas salas do terceiro ano permitiu a observação de diferentes resultados que serão

analisados no decorrer do trabalho.

Durante a aplicação da aula com a turma B houve imprevistos que podem ter influenciado a

aprendizagem e concentração dos alunos. Essa sala aparentemente não demonstrou interesse e

atenção, não houve a participação dos alunos e estes não deram importância aos materiais

coletados. Algumas hipóteses para tais desvios foram levantadas, como o atraso no início da aula

que acarretou em uma aula bastante corrida, da mesma forma que não houve a oportunidade de

desenvolver o vinculo e o respeito criado através da convivência entre alunos e professor. Esse

fato em especial, ganhou relevância após a intervenção realizada na turma A.

Como não houve atraso, a aula ministrada para a turma A transcorreu com bastante

tranqüilidade e foi marcante a diferença apresentada entre as duas salas. Os alunos

permaneceram em maior silêncio, mas participaram da aula respondendo e fazendo perguntas.

Durante certos momentos, foi notável o olhar de espanto de alguns estudantes em relação às

imagens expostas, ou pelo simples diferencial de se ter uma aula rica em imagens e vídeos.

Também foi grande o interesse pelo material prático, sendo esse intensificado com a

apresentação da folha de chifre-de-veado (Platycerium bifurcatum). Essa curiosidade pode ter

sido gerada pelo diferente formato da folha e por se tratar de uma espécie pouco comum,

possibilitando a visualização e toque de algo que não pertencia ao cotidiano dos alunos.

Isso também foi observado nas primeiras fotos apresentadas com estruturas de musgos e

samambaias. Quando foi perguntado o que eram aquelas imagens, ouviram-se respostas que

chamaram a atenção, tais como “borboleta” e “bicho”. A palavra “borboleta” referia-se ao soro

de uma avenca e “bicho” ao esporófito de um musgo. É possível que os alunos comumente

atribuam maior valor aos animais, pois esses possuem maior interatividade com o ser humano,

são capazes de se movimentar e produzir sons. Quando é mostrado algo que os discentes não

conhecem é notável os murmúrios dentro da sala de aula devido à curiosidade em descobrir o

significado daquela foto, assim como o impulso inicial é relacioná-la a algo referente aos animais,

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constatando-se assim o grande valor e necessidade da produção de materiais didáticos voltados

para o ensino de Botânica.

De modo geral, o conteúdo programático de botânica atenta prioritariamente a

biodiversidade vegetal, ao estudo morfológico de flores e frutos, remetendo a discussões à

relação planta-animal e ecologia da conservação. Há também debates sobre as espécies de

interesse econômico, tanto pela preservação ambiental ou quanto pela importância sócio-

cultural.

A segunda aula de Evolução das Plantas transcorreu com os mesmo resultados da primeira

aula. Os alunos da turma A estavam mais focados e concentrados, enquanto que na outra sala,

houve maior número de conversas. Nessa etapa, os discentes das duas classes mostraram-se mais

interessados em participar da prática realizada ao final aula teórica, mostrando-se

impressionados com as estruturas reprodutivas das flores e o caminho percorrido pelo pólen para

que haja a fecundação. Dentre os materiais utilizados, estavam presentes flores variadas e pinhas

(Pinus sp.) coletadas no caminho e dentro da escola e que, apesar de serem comuns aos alunos,

geralmente não são observados com detalhamento e a curiosidade gerada durante uma aula de

botânica.

3.3. Avaliação do material didático

A avaliação realizada através do questionário aplicado as duas turmas, buscou averiguar a

importância dada às aulas enriquecidas com materiais didáticos. Os resultados obtidos em uma

análise quantitativa foram em grande maioria positivos (opção “sim” assinalada) para todas as

questões (Tabela 1), demonstrando a aceitação dos alunos na utilização desses métodos

pedagógicos. Sendo observado que grande parte das respostas “sim” concentrou-se na turma A.

Esse resultado pode ser decorrente do acompanhamento semana realizado com a turma A ao

longo do trimestre, permitindo a criação de vínculos entre alunos e professores e,

consequentemente, ampliando a valorização da educação.

Para a realização das entrevistas, foram selecionados dois alunos da turma A que possuíam

respostas relevantes e bem argumentadas, sendo que um representava as críticas negativas e o

outro, as positivas. A entrevista ocorreu em local separado dos demais estudantes para criar um

ambiente de reflexão livre de interferência.

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O aluno representante dos aspectos negativos, nas perguntas fechadas respondeu que os

recursos visuais não o ajudaram a despertar o interesse pelas plantas nem a memorizar a aula,

mas concordou que aprendeu melhor sobre os conteúdos abordados e que passou a olhar com

outros olhos para plantas ao seu redor. Em entrevista o estudante comentou que as imagens e

vídeos ajudaram a associar o conhecimento teórico ao mundo real, entretanto argumentou que

“Na biologia existem muitos nomes pra decorar e só quem gosta é capaz de guardar tanta coisa”.

O entrevistado também relatou que tem preferência por áreas relacionadas à engenharia, e disse

que gostaria de ter aulas práticas em outras disciplinas, o que geralmente não ocorre em sua

escola.

Já a aluna referente às críticas positivas foi a que mais surpreendeu em suas respostas,

permitindo que a entrevista ocorresse com maturidade e fluência. Tal aluna trabalhava em

período integral e devido ao cansaço costumava faltar constantemente nas aulas. Assim, quando

assistiu à primeira aula de Botânica e soube que haveria a continuação no dia seguinte, foi à

escola especialmente para ver as aulas diferenciadas que estavam sendo apresentadas.

Comentou que não possui caderno com anotações de aula e que fez a avaliação do conteúdo sem

estudar, apenas com o conhecimento que havia adquirido durante as aulas. Disse que apesar do

grande volume de conteúdo passado, uma aula com recursos diferentes evita a monotonia “do giz

e da lousa”, estimula os alunos a se empenharem na aprendizagem e, portanto, auxilia a

memorização. Contou que havia assistido a uma aula sobre plantas em 3D e nunca mais esqueceu

em sua vida: “Quando a aula é boa e marcante a gente nunca mais esquece!”. No final, a

entrevistada comentou que foi realizado um ótimo trabalho e que a escola estava precisando de

novos professores com vontade de criar aulas diferentes e mais dinâmicas.

3.4. Análise da avaliação dos alunos

Antes da realização da avaliação, a professora das turmas produziu para os alunos um

resumo em formato de tabela que demonstrava as principais adaptações desenvolvidas pelas

plantas ao longo da evolução. A prova, também elaborada pela professora, abordou o conteúdo

das aulas de Botânica e era composta apenas de questões múltipla escolha, o que não possibilitou

uma análise qualitativa, somente quantitativa.

Durante a aplicação da avaliação na turma B, os alunos puderam consultar materiais, como

resumos e cadernos. Portanto, esses alunos foram considerados grupo controle, enquanto isso

não ocorreu com a turma A. Observou-se que a maior quantidade de acertos entre as duas salas

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concentrou-se nas questões mais diretas que não exigiam pensamento mais relacionado e que

continham contextos de briófitas e pteridófitas (Tabela 2). Notou-se que o desempenho da turma

A foi igual ou superior na maioria das questões que necessitavam de uma maior reflexão do

conteúdo. Em relação à outra turma, as questões com maior porcentagem de acerto deu-se

naquelas que ambas as salas obtiveram um alto nível de acerto. Isso pode ser agregado ao fato de

que o conteúdo das perguntas estava presente no resumo da professora, o qual a turma B teve

acesso durante a prova. Se houvesse a possibilidade de discutir o tema “Evolução das Plantas”

novamente, os erros mais comuns poderiam ser revistos e confusões poderiam ser sanadas.

Tabela 1. Porcentagem de opções escolhidas entre as respostas fechadas “sim” e “não” do

questionário de opinião desenvolvido em duas turmas (A = 30 alunos; B = 34 alunos) do terceiro

ano do ensino médio da Escola Professor Luis de Camargo Fleury.

Questões Turma A Turma B

Sim (%) Não (%) Sim (%) Não (%)

1. Despertar interesse pelas plantas 96,7 3,3 73,5 26,5

2. Aprender melhor 100,0 0,0 100,0 0,0

3. Memorizar a aula 90,0 10,0 79,4 20,6

4. Olhar com outros olhos ao redor 100,0 0,0 76,5 23,5

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Tabela 2. Porcentagem de acertos nas questões da avaliação escrita sobre o tema

“Evolução das plantas” em duas turmas (A = 36 alunos – prova sem consulta; B = 34 alunos –

prova com consulta) do terceiro ano do ensino médio da Escola Professor Luis de Camargo Fleury.

Questão Turma A Turma B

1 63,9 97,1

2 25,0 11,8

3 11,1 8,8

4 13,9 11,8

5 61,1 91,2

6 30,5 26,5

7 72,2 100,0

4. Conclusões

A criação de aulas com imagens fotográficas em slides e a exibição dos vídeos podem

proporcionar aos alunos momentos de aprendizagem enriquecida de imagens e animações, assim

como a apresentação de espécimes vivos possibilitou a visualização e o contato direto com o

natural, fatores tão importantes para conduzir vínculo entre o conteúdo e o mundo real.

Assim, confecção de materiais didáticos permitiu a reflexão das práticas pedagógicas e a

compreensão dos diferentes sentidos que o material efetivamente pode produzir. Isso

demonstrou a importância de criar aulas inovadoras, que fogem do cotidiano escolar e

influenciam na concentração e valorização dos alunos, e consequentemente, compreensão e

fixação dos conteúdos escolares.

Contudo, imagens, vídeos e materiais práticos não surtirão o efeito desejado de

ensino/aprendizagem sobre os educandos se não forem acompanhados de aulas que os

contextualizem aos alunos no conteúdo apresentado - função esta destinada ao professor.

Portanto, estabelecer uma boa relação com os alunos mostrou-se fundamental durante a prática-

pedagógica, pois os estudantes passam não só a respeitar o professor, como também a valorizar e

se interessar por aquilo que ele está disposto a mostrar, permitindo a construção de um

conhecimento marcante na vida dos discentes.

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Prof. Dr. Hylio Laganá Fernandes