GEOGRAFIA ECONÔMICA
Rubem Tadeu
COLEÇÃO FORMANDO EDUCADORES
EDITORA NUPRE
2009
GEOGRAFIA ECONÔMICA
REDE DE ENSINO FTC William Oliveira PRESIDENTE Reinaldo Borba VICE-PRESIDENTE DE INOVAÇÃO E EXPANSÃO Fernando Castro VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO João Jacomel COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Cristiane de Magalhães Porto EDITORA CHEFE Francisco França Souza Júnior / Lorena Porto Serores CAPA Mariucha Silveira Ponte PROJETO GRÁFICO Rubem Tadeu AUTORIA Francisco França Souza Júnior DIAGRAMAÇÃO Francisco França Souza Júnior ILUSTRAÇÕES Corbis/Image100/Imagemsource/Stock.Xchng IMAGENS Hugo Mansur Márcio Melo Paula Rios REVISÃO
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SUMÁRIO
1 OS HOMENS, A NATUREZA E A ECONOMIA.............................................................................. 9
1.1 TEMA 1. A DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS NO PLANETA......................................................... 11
1.1.1 CONTEÚDO 1. A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS PARA A VIDA DO HOMEM.......... 11 1.1.2 CONTEÚDO 2. OS FATORES QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS16 1.1.3 CONTEÚDO 3. AS FONTES DE ENERGIA E O CRESCIMENTO.................................... 22 1.1.4 CONTEÚDO 4. O PERIGO DA EXTINÇÃO DOS RECURSOS E A SUA ABORDAGEM NO
ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO................................................................................. 35 MAPA CONCEITUAL.......................................................................................................................... 50 ESTUDOS DE CASO ........................................................................................................................... 51 EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................................................. 51 1.2 TEMA 2. OS SETORES DA ECONOMIA - A TRANSFORMAÇÃO DA NATUREZA EM MERCADORIA54
1.2.1 CONTEÚDO 1 – OS SETORES DA ECONOMIA E A SUA ABORDAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO .............................................................................................. 54
1.2.2 CONTEÚDO 2 – O SETOR PRIMÁRIO........................................................................ 58 1.2.3 CONTEÚDO 3 – O SETOR SECUNDÁRIO................................................................... 62 1.2.4 CONTEÚDO 4 – O SETOR TERCIÁRIO ....................................................................... 75
MAPA CONCEITUAL.......................................................................................................................... 82 ESTUDOS DE CASO ........................................................................................................................... 83 EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................................................. 83 EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................................................. 88
2 OS HOMENS, A SOCIEDADE E A ECONOMIA............................................................................91
2.1 TEMA 3. A SOCIEDADE DE CONSUMO E O ESPAÇO................................................................. 93
2.1.1 CONTEÚDO 1. A CIRCULAÇÃO E OS TRANSPORTES ................................................ 93 2.1.2 CONTEÚDO 2. OS SISTEMAS ECONÔMICOS E A SUA ABORDAGEM NO ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO .............................................................................................. 97 2.1.3 CONTEÚDO 3. A ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA DO PLANETA E A SUA ABORDAGEM
NO ENSINO MÉDIO ...................................................................................................... 100 2.1.4 CONTEÚDO 4. OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO...................................................... 109
MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................ 114 ESTUDOS DE CASO ......................................................................................................................... 115 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ................................................................................................................ 116 2.2 TEMA 4. EM PROCESSO DE MUDANÇA.................................................................................. 121
2.2.1 CONTEÚDO 1. A DINÂMICA DA MUDANÇA DOS PROCESSOS ECONÔMICOS....... 121 2.2.2 CONTEÚDO 2. A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS................................... 128 2.2.3 CONTEÚDO 3. GLOBALIZAÇÃO: AS REDES TÉCNICAS E A FLUIDEZ........................ 136 2.2.4 CONTEÚDO 4. O ENSINO-APRENDIZAGEM DA GEOGRAFIA ECONÔMICA NAS SÉRIES
FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO ................................................ 141 MAPA CONCEITUAL........................................................................................................................ 148 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................... 149 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ................................................................................................................ 149
GLOSSÁRIO ...............................................................................................................................154
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................159
APRESENTAÇÃO
A Geografia Econômica é a Geografia do homem ganhando a vida, que estuda as ativi-
dades econômicas – extrativismo, agricultura, pecuária, indústria, comércio e serviços – como
elementos estruturais do espaço geográfico e que procura entender a lógica das localizações
dessas atividades.
A Geografia Econômica dedica-se à utilidade das características da terra para o homem,
com a quantidade de sustento que lhe pode dar e com as medidas que ele poderá tomar para
utilizá-las.
O estudo da Geografia Econômica de um dado país precisa levar em conta que existem
fatos econômicos ocorrendo em nível mundial que repercutem no nível nacional, que por sua
vez influenciarão na dinâmica local.
Os temas transversais que serão tratados durante a leitura deste material didático são a
Economia, o Meio Ambiente e a Cidadania.
A partir daqui estaremos conversando sobre todas estas relações econômicas no territó-
rio. Recomendo que a sua atenção seja redobrada para estarmos retirando dúvidas e fortale-
cendo as nossas informações sobre os atuais processos econômicos e os seus impactos sobre os
territórios do planeta.
Um forte abraço,
Professor Rubem Tadeu
1 OS HOMENS, A NATUREZA E A
ECONOMIA
BLOCO TEMÁTICO
11 GEOGRAFIA ECONÔMICA
OS HOMENS, A NATUREZA E A ECONOMIA
1.1 TEMA 1. A DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS NO PLANETA
1.1.1 CONTEÚDO 1. A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS PARA A VIDA DO HOMEM
Tem por objetivo caracterizar os tipos e a im-
portância dos recursos.
1. O Recurso
O dicionário define recurso como “um meio
de sustento” – isto é, sustento para a vida animal de
nosso globo e, em especial, para o homem.
Plataforma off-shore de exploração de petró-
leo, um recurso naturais mais importantes do mun-
do.
O que constitui um recurso? Como podemos
avaliar os recursos de uma determinada comunida-
de? O nosso pensamento deve incluir alguns itens.
O primeiro, e o mais obvio, é um conjunto de con-
dições naturais de que nosso planeta, nas suas várias
partes. O segundo seria os recursos humanos e o
terceiro, os recursos tecnológicos.
FONTE: MICROSOFT OFFICE 2003 CLIP-ART
12 RUBEM TADEU
2. Recursos Naturais
É em grande parte fixa e nada podemos fazer para afetá-la, pois não depende de qual-
quer outra variável que esteja sob o controle do homem, apenas sob seu controle está a desco-
berta dos recursos naturais, dentre eles, rochas, minérios, terra, água, vegetação e animais sel-
vagens. É normal falar desses recursos como “naturais”, no sentido de que formam uma
categoria cuja existência, em sua maioria, é independente das ações do homem: estavam aqui,
na terra, antes do homem e, embora este possa usá-los e abusar deles de modo a diminuir sua
quantidade, não poderá afetar sua distribuição básica, que é um resultado de um acidente geo-
lógico, de uma posição no globo ou de um processo físico que foi iniciado no começo dos
tempos.
O extrativismo vegetal ainda é uma atividade importante dentro do contexto
econômico, pois se constitui em fonte de matéria-prima para as indústrias.
Esses recursos naturais são dados a partir dos quais o homem tem de agir e planejar. Pa-
ra isso, deve começar aceitando o fato de que sua distribuição é desigual, de que algumas regi-
ões são mais favorecidas do que outras – favorecidas além de quaisquer limites de compensa-
ção para o usuário ou por ele.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://PICARETASDATAVOLA.BLOGSPOT.COM)
13 GEOGRAFIA ECONÔMICA
O extrativismo na Amazônia
Antes de examinar a evolução histórica do extrativismo, é conveniente definir o con-
ceito. O termo extrativismo, em geral, é utilizado para designar toda atividade de coleta de
produtos naturais, seja de origem mineral (exploração de minerais), animal (peles, carne,
óleos) ou vegetal (madeiras, folhas, frutos...).
A evolução histórica aqui estudada tem como objetivo facilitar a compreensão do apa-
recimento das reservas extrativistas. Através desse estudo, não se analisa o extrativismo do
Brasil como um todo, mas apenas os aspectos históricos que se relacionam com as reser-
vas. Assim sendo, será analisada especificamente a evolução histórica do extrativismo na
Região Norte do país, onde estão concentradas as experiências com as reservas.
O interesse econômico pela Amazônia despertou-se no século XVIII mediante a pro-
cura das chamadas "Drogas do Sertão", plantas medicinais, óleos, resinas, cacau, peles, pei-
xes e carnes secas. Embora, naquele período, tivessem sido estabelecidas às margens dos
grandes rios, fazendas para pecuária e agricultura – cacau, café, algodão –, estas significa-
vam muito pouco, quando comparadas com as atividades extrativas. A participação dos
índios e caboclos muito contribuiu para o crescimento do extrativismo, mas os índios, na
maioria dos casos, eram perseguidos e obrigados a trabalhar para os colonizadores. Não é
significativa a participação do negro no extrativismo na Amazônia.
A ocupação da Amazônia foi motivada pelo extrativismo, especialmente durante a se-
gunda metade do século XIX, quando ao redor de 400.000 famílias vindas do Nordeste, lá
se instalaram, à procura da borracha, cuja demanda crescente, nos Estados Unidos e na
Europa, exigiam um rápido aumento de produção. Este foi o chamado "ciclo da borracha",
que teve seus anos áureos na virada do século e seu declínio por volta de 1920.
Durante a Segunda Guerra Mundial, incentivou-se novamente o extrativismo da bor-
racha e milhares de famílias nordestinas foram transportadas para os seringais. Terminada
a guerra, o governo procurou manter uma política de incentivo ao extrativismo da borra-
cha, com financiamentos para a comercialização e o beneficiamento. Como os preços pa-
gos ao produtor não eram atraentes, o extrativismo passou por diversas crises, fazendo
com que, nos últimos 10 anos, grande número de famílias tenha abandonado a atividade.
O extrativismo da borracha sempre esteve ligado ao da castanha, que é praticado nas
mesmas áreas; o primeiro, na época menos chuvosa (maio a novembro) e o segundo, no
período mais chuvoso (dezembro a março).
14 RUBEM TADEU
2. A Divisão dos Recursos Naturais – Os mesmos são divididos em Recursos Naturais
Renováveis e Recursos Naturais Não-Renováveis:
2.a.a Recursos naturais Renováveis São definidos como aqueles recursos
que podem ser renovados através dos ciclos
da natureza, tendo como exemplo o ciclo da
água.
2.a.b Recursos Naturais Não Renová-
veis
São definidos como aqueles recursos
que não são renovados, mas são encontrados
na natureza em condições limitadas, tendo
como exemplo o petróleo “hidrocarbonetos”.
3. Recursos Humanos
Homens dirigindo-se à frente de trabalho na construção de uma highway.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://GOPENG.FILES.WORDPRESS.COM/2008/12/HIGHWAY-WORKERS.JPG)
Os recursos humanos podem ser aplicados diretamente pelo trabalho de cavar, construir
e combater ou, então, indiretamente, aplicando sua inventiva a essas e outras tarefas, especi-
almente ao criar máquinas para fazerem o trabalho e, ao mesmo tempo, aumentarem a capa-
cidade do trabalhador. Estes recursos estão ligados às pessoas existentes para a realização de
uma determinada atividade.
15 GEOGRAFIA ECONÔMICA
4. Recursos Tecnológicos
Sofisticado laboratório universitário de robótica.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://UNCCACADOR.FILES.WORDPRESS.COM/2009/10/DSCF2908_COPY1.JPG)
A associação entre natureza e Tecnologia nos mostra que um recurso sozinho não pode
ser o único responsável pelo desenvolvimento de um território, mas, muitas vezes, sua tecno-
logia poderá ser suficientemente avançada para lhe proporcionar uma escolha dos meios de
sustentação e o equipamento para usá-los muito rapidamente. Terá de decidir, então, quanto
pode permitir-se usar no presente e quanto deverá ser guardado para o futuro; que minérios
deverão extrair ou que florestas deverão ser preservadas. Na prática, quase todas as comuni-
dades, até mesmo as mais tecnologicamente atrasadas que conhecemos, tomam decisões sobre
essas questões e as colocam em execução por vários meios. E, na prática, também, o número e
as importâncias dessas decisões estão sempre aumentando, já que o número de pessoas, api-
nhando-se em nosso globo, aumenta constantemente e o valor que damos a nossos recursos
vai-se tornando um fator de sobrevivência cada vez mais crítico.
16 RUBEM TADEU
1.1.2 CONTEÚDO 2. OS FATORES QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS
Tem por objetivo observar os fatores importantes na distribuição e nas mudanças dos
recursos.
1. Fatores importantes na distribuição e na disposição dos recursos:
1.1 Os Recursos, O Espaço e o Tempo
Mas, se é verdade que essa camada de recursos varia no espaço, também é verdade e tão
importante que varia no tempo. Como é a aplicação de recursos humanos à riqueza natural
que lhe dá seu valor, devemos sempre perguntar que recursos humanos ou técnicos estão sen-
do aplicados. Serão os da Idade da Pedra? Nesse caso, os minérios metálicos não têm valor.
Serão os de beduíno? Então, os nômades poderão cavalgar sobre todos os campos petrolíferos
do Oriente Médio e morrer de sede, a não ser que tenham alguma forma de extrair o petróleo,
vendê-lo aos que podem usá-lo e, com o produto dessa venda, comprar para si um abasteci-
mento de água suficiente. Em outras palavras, à medida que o tempo corre o padrão dos re-
cursos do mundo muda, não pelo fato da distribuição básica da natureza se alterar, mas devi-
do à mudança naquilo que constitui um recurso.
1.2 Recursos, população e nível de vida
Devemos acrescentar às distribuições dos recursos naturais e dos recursos técnicos, a va-
riável população, que se manifesta de forma desigual, por não variar diretamente em relação
às outras, pois existem populações densas em áreas pobres e vice-versa, devido aos recursos
técnicos.
Essas discrepâncias persistem em razão de haver outra variável. O nível de vida, o con-
sumo ou a utilização de recursos por certos grupos é muito maior do que por outros. Compa-
rando o volume de posses e de consumo diário de alimento, energia, materiais, ou jornais do
norte-americano médio com os do indonésio, passamos a conhecer como é diferente a utiliza-
ção, em escala, dos recursos de cada um deles.
17 GEOGRAFIA ECONÔMICA
1.2.1 A População
Membros de uma comunidade indígena em Goiás
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.ELIANEPOTIGUARA.ORG.BR/NEW%20SITE%206. JPG)
Numa comunidade que vive perto da natureza, há sempre uma correlação inicial e sim-
ples entre as distribuições de população e de recursos naturais. Isso envolve fatores permissi-
vos, que são: o progresso tecnológico (mais pessoas sobrevivendo num espaço menor) e restri-
tivo, que impede que a distribuição da população se ajuste aos níveis atuais de recursos
políticos, sociais e/ou culturais, e por vezes, técnicas.
1.2.2 Superpopulação
Rua 25 de Março, Centro de São Paulo.
(FONTE: DISPONÍVEL EM:HTTP://STATIC.PANORAMIO.COM/PHOTOS/ORIGINAL/9995860.JPG)
18 RUBEM TADEU
Assim, existem discrepâncias entre essas distribuições inter-relacionadas. Por vezes, es-
sas discrepâncias tornam-se tão acentuadas que criam uma condição de superpopulação. A
definição de superpopulação deveria combinar todos os quatro elementos que estamos discu-
tindo, pois a superpopulação representa um estado crônico de desequilíbrio entre eles num
determinado ponto do tempo. Em determinadas circunstâncias, portanto, uma área poderá
ser considerada superpovoada:
Se o crescimento vegetativo da população que a ocupa conduzir a uma queda do nível de
vida;
Se um aumento no número de trabalhadores na força de trabalho conduzir a um decrés-
cimo da produção por trabalhador;
Se o progresso tecnológico em relação à taxa corrente produzir uma mudança zero ou
negativa na disponibilidade de recursos per capita.
A constante emigração de uma região é um dos principais indicadores de superpopula-
ção.
A ideia de superpopulação é sempre relativa aos recursos de que a comunidade dispõe e
que esses recursos mudam com o decorrer do tempo.
1.3 Níveis de vida
Numa sociedade que subsiste com base nos seus recursos naturais, depende da quanti-
dade e disseminação desses recursos, e varia com a extensão de seus terrenos de caça e as ho-
ras de dedicação ao recolhimento. Mas a essa correlação simples se sobrepõem outros fatores
como: o nível tecnológico e, em segundo, a estrutura social.
1.4 Redução
O objetivo da substituição é alcançar a combinação de insumos que, para qualquer dada
quantidade de produto, reduza os necessários insumos a um mínimo. Na verdade, podemos
afirmar com segurança que, se a redução não tivesse sido alcançada, a nossa terra já há muito
se teria provado inadequada para sustentar seu crescente numero de habitantes. O que acon-
teceu foi que o homem exerceu seu engenho para economizar no uso de seus dois recursos
mais escassos e mais valiosos – sua terra e seu próprio trabalho – empregando recursos de
técnica e de capital em quantidades cada vez maiores.
19 GEOGRAFIA ECONÔMICA
1.5 Política de Recursos
Já que a aplicação de recursos humanos de tecnologia a recursos naturais de uma área
pode multiplicar sua capacidade de sustento da população e, ao mesmo tempo, elevar o nível
de vida. Depreende-se que a manipulação dos fatores que os produzem é um assunto da maior
importância.
As mudanças na distribuição e disposição dos recursos estão associadas a valores cultu-
rais, sociais e históricos de uma sociedade, e, de um modo geral, tem sido atribuída a três cate-
gorias principais:
Tem havido mudanças naquilo de que o homem necessita, que o conduziram a uma re-
avaliação de certas mercadorias. O melhor exemplo desse tipo de mudança talvez seja o co-
mércio de especiarias. A Grande Época dos Descobrimentos, que surgiu na Europa no século
XV, viu os portugueses contornarem a África e estabelecerem um império no Extremo Orien-
te; levou os espanhóis para o oeste, em busca das mesmas metas orientais, com os ingleses e os
holandeses gastando anos em busca de uma passagem para o Oriente pelo norte. No centro de
todo esse imenso esforço internacional, havia o desejo de obter o controle do comércio de
especiarias. A Europa, na Idade Média, vivia seu inverno com base na carne salgada e as espe-
ciarias eram importadas para torná-la mais saborosa. Depois do próprio ouro e talvez da seda,
não havia recurso mais procurado do que as raízes e nozes das ilhas das Índias Orientais. A
Europa travou guerra após guerra por causa do comércio de especiarias da mesma forma co-
mo aconteceu, no século XVIII, em relação ao comércio de açúcar das Índias Ocidentais. Atu-
almente, não é provável que houvesse uma guerra por causa de especiarias ou açúcar. A im-
portância das especiarias diminuiu pelo fato de já ser muito simples, com o progresso das
tecnologias, conservarem alimentos, de uma forma perfeitamente saborosa, de um ano para o
outro. Uma guerra, hoje, poderia ser travada por causa de petróleo ou talvez até de cobre ou
urânio, mas não de especiarias.
A tecnologia, mais uma vez, foi definidora no abandono de um recurso, tendo como
exemplo as especiarias. Já com o petróleo, ainda não foi possível encontrar uma tecnologia
que o substituísse inteiramente, pois as que hoje dividem o desenvolvimento com o petró-
leo são também escassas.
Mudanças em fontes de suprimento que afetam a importância de recursos naturais es-
pecíficos. Novas formas de obter um produto acabado são descobertas. E quanto à antiga for-
ma, usada nas matérias-primas, são abandonadas.
20 RUBEM TADEU
As Grandes Formações Vegetais do Mundo
Ocorrem mudanças naquilo em que o homem pode encontrar em uso, desde a econo-
mia dos povos primitivos, que procuravam apenas alimento, roupas e armas, até a economia
imensamente sofisticada das sociedades modernas que dependem de milhares de diferentes
componentes materiais. A história do avanço técnico tem sido a de uma constante descoberta
de novos usos para materiais que, antes, tinham pouco ou nenhum valor. Um exemplo indivi-
dual poderá servir para ilustrar o que pode acontecer. A substituição da matéria-prima.
21 GEOGRAFIA ECONÔMICA
(FONTE: MINT MAP: THE WORLD’S RESOURCES BY COUNTRY. DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.MINT.COM/BLOG/WP-CONTENT/UPLOADS/2009/06/MINT-WORLD-RESOURCES-MAP-R2.GIF.)
22 RUBEM TADEU
1.1.3 CONTEÚDO 3. AS FONTES DE ENERGIA E O CRESCIMENTO
O objetivo deste conteúdo é analisar a importância das fontes de energia para o desen-
volvimento da atividade econômica.
Os minerais são muito importantes como matéria-prima para a indústria. As fontes de
energia são matérias para produzir calor, eletricidade ou movimento. Uma fonte de ener-
gia pode ser também matéria-prima, como acontece com o carvão e o petróleo que ali-
mentam importantes indústrias.
O carvão e o petróleo são combustíveis fósseis encontrados em bacias sedimentares.
A produção de fontes energéticas e recursos minerais se caracteriza pela concentração
em determinadas áreas geográficas. Entretanto, os países pobres têm dificuldades de explo-
rar tais recursos, precisando quase sempre da interferência dos países ricos neste setor.
As fontes de energia secundárias, como a energia nuclear, são mais desenvolvidas nos
países ricos porque necessitam de uma tecnologia avançada.
1. AS FONTES DE ENERGIA
A quantidade de consumo de energia per capita oferece uma correlação muito mais es-
treita com os níveis de renda do que oferecia um mapa que mostrasse, simplesmente, quanto
carvão, petróleo ou arroz cada país produz. Os recursos de uma comunidade assim consistem
numa riqueza natural somada a um estado de capacidade tecnológica.
1.1 Tipos de combustível e de energia
A energia nuclear
HTTP://UPLOAD.WIKIMEDIA.ORG/WIKIPEDIA/COMMONS/7/79/RANCHO-SECO-POWER-PLANT-CALIFORNIA_NEW.JPG
23 GEOGRAFIA ECONÔMICA
A energia elétrica gerada pelas usinas nucleares se baseia na quebra do átomo, tendo por
matéria-prima o urânio ou o tório, que são dois minérios altamente radioativos. Quando os
átomos de urânio ou tório são bombeados por nêutrons, seus núcleos fragmentam-se, libe-
rando enorme quantidade de energia. Os nêutrons dos átomos fragmentados, por sua vez, vão
bombardear outros átomos, que também se quebram, e assim sucessivamente, numa reação
em cadeia. Nas usinas atômicas, a fissão nuclear é provocada sob controle no reator atômico, o
elemento fundamental desse tipo de usina. A energia liberada na fissão produz calor, que vai
aquecer certa quantidade de água, transformando-a em vapor; este converte a energia mecâni-
ca proveniente da turbina em energia elétrica. Os países em que a energia elétrica gerada em
usinas nucleares ocupa melhor posição são a França, a Bélgica e a Suécia. No entanto, o maior
desenvolvimento dessa tecnologia e o maior número de usinas construídas ou em construção
encontram-se nos Estados Unidos e no Japão. O Brasil começou a desenvolver seu programa
nuclear em 1967, com a criação de um grupo de trabalho integrado por representantes do Mi-
nistério das Minas e Energia, das Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) e da Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Em 1969, o Brasil comprou da empresa americana
Westinghouse Electric Company o primeiro reator nuclear. Em 1972, foram iniciadas as obras
da Usina Nuclear Angra I (Praia de Itaorna – Angra dos Reis, no Rio de Janeiro) que só foi
inaugurada em 1981. Em 1975, o Brasil assinou um acordo com a Alemanha Ocidental para a
aquisição de oito usinas nucleares e a transferência de tecnologia alemã para o Brasil. Apesar
de ter consumido bilhões de dólares, a produção de eletricidade nuclear é muito pequena e
tem sido objeto de muitas críticas.
1.2 A energia solar
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://UPLOAD.WIKIMEDIA.ORG/WIKIPEDIA/COMMONS/A/A9/SOLAR_TWO_2003.JPG)
24 RUBEM TADEU
A superfície recebe uma quantidade fantástica de energia com os raios solares. O pro-
blema está em descobrir como aproveitar essa energia de forma econômica e como armazená-
la (construção de “baterias solares”). Atualmente, ela é usada para aquecimento de água e de
interiores de prédios e na indústria eletrônica, em calculadoras pequenas.
A luz solar é obtida pela exposição de células fotoelétricas à radiação do sol. É uma fonte
de energia não poluente, ecologicamente correta e eternamente renovável. Ela é mais abun-
dante na zona equatorial e na zona intertropical, mas, mesmo em regiões temperadas, seu po-
tencial é extraordinário.
1.3 A energia dos mares
(FONTE: DISPONÍVEL EM: WWW. KANTOXIMPI.BLOGSPOT.COM)
A utilização do movimento diário de subida e descida das águas do mar vem gerando e-
letricidade no Japão, Inglaterra, França e outros países. Usinas marelétricas aproveitam a força
das águas marinhas para mover turbinas e gerar energia elétrica para localidades pequenas e
costeiras, como também a diferença térmica entre a superfície oceânica e as suas águas pro-
fundas.
São três as principais maneiras de se obter energia, tendo-se como fator gerador os oce-
anos, a saber:
• A Energia das ondas • A Energia das marés
• A Energia térmica dos oceanos
25 GEOGRAFIA ECONÔMICA
• A energia das ondas
É possível gerar energia através do movimento das ondas do mar. Basta que se utilize o
fluxo e refluxo das águas (ondas do mar) e, através desse movimento, é acionado um meca-
nismo específico, que põe um gerador para funcionar.
Vale salientar que estes sistemas são de baixa capacidade, sendo utilizado apenas para i-
luminação de algumas boias marinhas de aviso, colocadas em locais estratégicos, ou para ilu-
minação de uma casa.
• A energia das marés
Outra fonte de energia proveniente do oceano é a energia gerada em função do deslo-
camento das águas do mar ou marés. Para que esta energia seja gerada, é necessário que sejam
construídos diques na praia. Quando a maré enche, a água fica depositada nos diques, e,
quando a maré baixa, a água sai pelo dique, tendo um comportamento igual aos das barra-
gens.
O funcionamento desse sistema só é pleno e a contento se as marés e correntes marinhas
envolvidas no processo sejam fortes, tendo também de haver um aumento de nível de água da
maré baixa em relação à maré alta de, no mínimo, 5,5 metros. Este sistema também é pouco
utilizado, sobretudo em decorrência da existência de poucas regiões onde a diferença de nível
das marés corresponda a ideal citada anteriormente.
• A energia térmica dos oceanos
Este tipo de energia é gerado tendo como base a diferença de temperatura das águas da
superfície dos oceanos em relação às águas mais profundas, que, por não estarem expostas
diretamente aos raios solares, possuem uma temperatura mais amena.
Para que haja condição propícia à geração de energia, é necessário que a diferença de
temperatura das águas superficiais em relação às águas profundas seja de 38º Fahrenheit.
Embora este tipo de energia seja realidade, apenas é utilizado a título de experiência no
Japão e no Havaí.
26 RUBEM TADEU
1.4 Energia Eólica – A força dos ventos
(FONTE: HTTP://VERDEDENTRO.FILES.WORDPRESS.COM/2009/08/EOLICA-01.JPG)
O vento também se constitui em importante fonte de energia, podendo gerar energia
mecânica e elétrica.
A utilização pelo homem da energia mecânica, gerada pelo vento, é registrada desde a
antiguidade (4.000 a.C. ao século V d.C.) Trata-se da utilização do vento para a movimentação
(deslocamento) de embarcações a vela.
A energia eólica teve uma importância muito grande no desenvolvimento da produção
agrícola e no desenvolvimento em determinadas épocas, pois a água era bombeada, utilizan-
do-se moinhos de vento, conhecidos no Brasil como cata-vento. O vento também tinha a fun-
ção de fazer girar a mó dos moinhos (espécie de pedra para moer grãos), transformando o
milho em farinha.
Com o desenvolvimento tecnológico, os cata-ventos, atualmente, são responsáveis pela
geração de energia elétrica, sendo que, nesse processo, os ventos fazem girar uma turbina que,
por sua vez, faz funcionar um gerador cuja resultante é a geração de energia elétrica.
Esta energia gerada é oferecida a uma linha de transmissão (fios de alta tensão) que con-
duzira a energia gerada até as residências, indústrias, hospitais, escolas etc.
Este tipo de energia é muito utilizado nos Estados Unidos, Dinamarca e Alemanha.
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1.5 A energia geotérmica
(FONTE: WWW.PORTAL-ENERGIA.COM)
É a utilização do calor que vem do interior do planeta, nas rochas subterrâneas próximas
a vulcões ou nos gêiseres (fontes de água quente com temperaturas às vezes superiores a 100
°C) que expelem a água verticalmente e de forma intermitente, com intervalos que podem
variar de horas até semanas.
A energia geotérmica, como diz o próprio nome, é um tipo de energia gerada pelo calor
da terra, em que “Geo” significa Terra e “térmica” significa calor.
Para entendermos como este tipo de energia é gerado, temos que compreender a origem
de tudo.
No centro da terra, existe o magma, que se encontra em alta temperatura, responsável,
em alguns casos, pelo aquecimento dos lençóis freáticos ou dos reservatórios subterrâneos de
água, sem que haja contato direto com a água. Isso ocorre apenas através do aquecimento da
rocha. Estas águas podem chegar à temperatura de 148º Celsius, entrando em estado de aque-
cimento pleno e fervura.
Este estado de fervura propicia o surgimento de vapores quentes que, canalizados e con-
duzidos através de dutos (canalização apropriada para tal fim) até uma central elétrica geo-
térmica, faz girar as lâminas da turbina. Esta turbina faz funcionar um gerador cuja resultante
é a energia elétrica.
O vapor canalizado também pode ser utilizado para aquecer casas, piscinas e pequenos
prédios na época do inverno.
28 RUBEM TADEU
Na Califórnia, este tipo de energia é gerado em quantidade suficiente para atender a
demanda de até dois milhões de casas.
1.6 O álcool e a bioenergia (biomassa)
O Brasil é o maior produtor mundial de álcool de cana-de-açúcar.
(FONTE: WWW.JORNALE.COM.BR)
Pode ser produzido a partir da cana-de-açúcar, da beterraba, da cevada, da batata, da
mandioca, do girassol, do eucalipto etc. além de usado em bebidas e como desinfetante, o ál-
cool serve também como fonte de energia, podendo ser empregado como combustível em
veículos automotores.
A produção de energia elétrica fica por conta da biomassa, ou seja, o bagaço da cana e
resíduos da palha são utilizados para a geração de energia.
Este material é queimado ao ser colocado em uma caldeira de alta pressão. As usinas de
cana-de-açúcar e as fábricas de papel celulose utilizam com eficiência este tipo de energia elé-
trica, que é considerada energia limpa, ou seja, não poluente.
Existe uma série de elementos (biomassa) que podem ser utilizados para a geração de
energia, a exemplo dos resíduos agrícolas, madeiras, plantas, como também o lixo doméstico.
29 GEOGRAFIA ECONÔMICA
1.7 O hidrogênio
(FONTE: WWW.QUEBARATO.COM.BR)
1.8 O xisto betuminoso
(FONTE: WWW.ECSENGENHARIA.COM.BR)
É um betume em forma sólida, uma substância natural formada por hidrocarbonetos.
Seu aproveitamento econômico é feito com o aquecimento, que irá separar o betume e a ener-
gia do restante da rocha. A produção de betume e de energia a partir dessas rochas já existe
30 RUBEM TADEU
em várias usinas de processamento do xisto (inclusive no Brasil), embora numa escala muito
pequena. As principais reservas encontram-se nos Estados Unidos, no Canadá, na Venezuela e
no Brasil.
Agregando algumas qualidades inerentes ao petróleo e ao carvão mineral, o xisto betu-
minoso é um tipo de carbonífero mais novo que a hulha, em termos de formação no solo.
Quando destilado, quer seja pelo processo fracionado ou a seco, produz uma série de deriva-
dos tais como: enxofre, gasolina, gás combustível, dentre outros.
A não utilização em grande escala do xisto betuminoso dá-se em decorrência do proces-
so de destilação deste ser altamente poluente e com alto custo econômico, o que o torna inviá-
vel.
A energia gerada pelo xisto betuminoso é uma energia renovável, limpa (não poluente) e
a baixo custo, diferente do custo de destilação, que é alto, como vimos anteriormente.
1.9 Energia Hidroelétrica
A hidroeletricidade constitui-se numa das principais fontes de energia do Brasil.
(FONTE: WWW.MIDIAINDEPENDENTE.ORG)
Este tipo de energia é gerado aproveitando-se a energia cinética gerada pelo movimento
ou queda d’água.
Nesse processo, a água é acumulada em barragem e, ao precipitar-se para a parte mais
baixa do leito do rio, é disciplinada a passar por uma turbina, a qual, quando acionada, faz
funcionar um gerador que transforma a energia mecânica em energia elétrica.
31 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Este tipo de energia é muito utilizado no Brasil, em face dos nossos rios serem rios de
planalto, ou seja, nascem em regiões de altitude e se movimentam por gravidade em direção às
regiões mais baixas até chegar ao gradiente zero ou referencial de altitude, que é o oceano.
1.10 Petróleo
Plataforma de petróleo na Bacia de Campos, Rio de Janeiro.
(FONTE: HTTP://UPLOAD.WIKIMEDIA.ORG/WIKIPEDIA/COMMONS/A/AB/OIL_PLATFORM_P-51_(BRAZIL).JPG)
É a segunda fonte de energia mais consumida, atualmente, no Brasil. A maior parte do
petróleo é consumida pelo setor de transportes, depois pelas indústrias, residências, agricultu-
ra, energia, comércio e, por último, o setor público. O petróleo teve participação decisiva no
processo da industrialização do Brasil, pois assegurou o desenvolvimento de uma das mais
importantes indústrias do país, tais como: autopeças, vidros, artefatos de couro, borracha,
pneumáticos, eletroeletrônica e siderúrgica. Petróleo significa óleo de pedra e é encontrado na
natureza em áreas de camadas de rochas sedimentares. Ocorre em profundidades variáveis,
que podem atingir às vezes 7.000 metros. É o resultado de depósitos de minúsculos seres vivos
soterrados em mares rasos, há milhões de anos. Para que tenha início o processo de formação
do petróleo, é necessário que haja pouca circulação e oxigenação no fundo das águas, para
32 RUBEM TADEU
impedir a ação destruidora das bactérias. Mares interiores, baías fechadas e golfos são os am-
bientes mais propícios à formação do petróleo. Pode ser encontrado tanto no continente co-
mo sob os oceanos. Isso acontece porque ele migra através das fissuras das rochas até em en-
contrar uma área que o retenha. A rocha na qual o petróleo se formou pode estar a centenas
de quilômetros da rocha que o armazena. Além disso, muitas áreas que eram marinhas foram
soerguidas por tectonismo, podendo, então, dar origem a reservas de petróleo próximas da
superfície. A maior parte do território brasileiro é formada por bacias sedimentares, que fo-
ram depressões que facilitam o depósito de matéria orgânica, mas as reservas de petróleo co-
nhecidas são modestas.
1.11 Carvão mineral
O carvão brasileiro não possui boa qualidade calorífica.
(FONTE: WWW.MARCOSBOHRER.BLOGSPOT.COM)
É uma rocha sedimentar de origem orgânica, resultante da transformação de restos ve-
getais soterrados há milhões de anos (cerca de 350 milhões de anos). Foi a primeira fonte de
energia moderna e só começou a perder importância no consumo energético a partir da se-
gunda metade do século XIX, com a descoberta do petróleo e do início da produção de eletri-
cidade de origem hidráulica, mas se manteve como a principal fonte de energia do mundo até
a primeira metade do século XX.
A formação do carvão mineral ocorre, essencialmente, em terrenos sedimentares onde,
sob as rochas, o acúmulo de material orgânico propicia a sua formação ao logo de milhões de
anos.
33 GEOGRAFIA ECONÔMICA
O carvão mineral é bastante utilizado no mundo, não somente para gerar energia nas u-
sinas termelétricas, mas também como matéria-prima para a produção de aço.
Quadro 1 – RECURSOS ENERGÉTICOS (Quadro Resumo)
Recurso
Energético
Reno-
vável
Não-
renovável Vantagem Desvantagem
Petróleo X
Funciona bem na
maioria dos motores e,
apesar das oscilações do
preço, mantém boa rela-
ção custo benefício.
As reservas con-
centram-se em poucos
países, que podem
manipular o preço. É
um dos maiores polu-
idores.
Carvão
mineral X
É abundante, en-
contrado com facilidade
na maioria dos países.
É o maior polu-
idor entre os combus-
tíveis fósseis.
Gás natu-
ral X
É versátil, de alta
eficiência na produção de
energia elétrica e não
faria faltar. Polui menos
que o carvão e o petróleo.
Os preços instá-
veis em algumas regi-
ões exigem grandes
investimentos em
infraestrutura de
transporte (gasodutos
ou terminais maríti-
mos).
Usinas
Hidrelétricas X
É fonte de energia
que produz eletricidade
de uma forma limpa, não
poluente e barata.
Exigem grande
investimento inicial
na construção de bar-
ragens. Podem ter a
operação prejudicada
pela falta de chuvas.
Usinas
Atômicas ou
Nucleares
X
As reservas de
combustível nuclear são
abundantes: não emitem
poluentes e o avanço
tecnológico tornou as
A usina exige
grande investimento,
demora para entrar
em operação e produz
lixo radioativo. Sofre
34 RUBEM TADEU
usinas mais seguras. o estigma de acidentes
como a de Chernobyl.
Biomassa X
Aproveita restos,
reduzindo o desperdício.
O álcool tem eficiência
equivalente à gasolina
como combustível para
automóveis.
O uso em larga
escala na geração de
energia esbarra nos
limites da sazonalida-
de. A produção de
energia cai no período
de entressafra. De-
pendendo de como se
queima, pode ser mui-
to poluente.
Eólica X
Poluição zero. Po-
de ser complementar às
redes tradicionais.
Instável, está su-
jeita às variações do
vento e a calmarias.
Os equipamentos são
caros e barulhentos.
Geotér-
mica X
Custo mais estáveis
que as outras fontes al-
ternativas. É explorada
nos EUA, Filipinas, Mé-
xico, Itália e, principal-
mente, pela Islândia.
Só é viável em
algumas regiões, que
não incluem o Brasil.
É mais usada como
auxiliar nos sistemas
de calefação.
Solar X
Útil como fonte
complementar em resi-
dências e áreas rurais
distantes da rede elétrica
central. Índice zero de
poluição.
O preço proibi-
tivo, para produção
em média e larga esca-
la. Só funciona bem
em áreas muito enso-
laradas.
(FONTE:HTTP://ORBITA.STARMEDIA.COM/GEOPLANETBR/ECONOMIA.HTM )
35 GEOGRAFIA ECONÔMICA
1.1.4 CONTEÚDO 4. O PERIGO DA EXTINÇÃO DOS RECURSOS E A SUA ABORDAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
Tem por objetivo analisar os limites dos recursos com o avanço das atividades humanas
sobre os mesmos.
É notória a diminuição no oferecimento dos recursos no planeta. Este fato abala pro-
fundamente a vida das pessoas e o processo de desenvolvimento das atividades econômicas.
Mesmo com este perigo, o homem vem tendo uma postura nociva para com os recursos que o
mantém. Houve um avanço significativo na legislação ambiental e na consciência das pessoas
com relação ao uso destes recursos, com práticas de educação ambiental. Vamos avaliar um
trecho da “Carta da Terra”, que estabelece limites no uso destes recursos para que os mesmos
possam ser utilizados pelas futuras gerações.
Gado morto à beira da BR-122, no município de Pindaí, Bahia.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.AGENCIABRASIL.GOV.BR/MEDIA/IMAGENS/2008/11/17/0815VC6520A.JPG.)
1. “Carta da Terra”
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ocor-
reu no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, reafirmou a Declaração de Estocolmo e ba-
36 RUBEM TADEU
seou-se nela. Teve como objetivo estabelecer uma nova e justa parceria global, através da cria-
ção de novos níveis de cooperação entre os estados, setores importantes da sociedade e o po-
vo, visando aos acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a inte-
gridade do meio ambiente global e sistema de desenvolvimento, além de reconhecer a
natureza integral e interdependente da Terra, nosso lar, proclama:
Artigo 1 – Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desen-
volvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em
harmonia com a natureza. A sociedade deve-se desenvolver sem destruir a
natureza.
Artigo 7 – Os Estados devem cooperar em espírito de parceria global para
conservar, proteger e restabelecer a saúde e integridade do ecossistema da
Terra. Em vista das diferentes contribuições para a degradação ambiental
global, os Estados têm responsabilidades comuns diferenciadas. Os países de-
senvolvidos reconhecem a responsabilidade que tem na busca internacional
do desenvolvimento sustentável, em vista das pressões que suas sociedades
exercem sobre o meio ambiente global e das tecnologias e recursos financei-
ros que dominam. A defesa da natureza é uma tarefa comum em que cada
país deve participar de acordo com suas possibilidades.
Ao lermos o trecho da “Carta da Terra”, nos deparamos com a materialização dessa cri-
se e um dos exemplos é a crise do petróleo. Conheça o texto:
2. A crise do petróleo
A última crise do petróleo provocou a escassez e altas no preço dos combustíveis e deri-
vados petroquímicos.
(FONTE: DISPONÍVEL: HTTP://MANOENG.FILES.WORDPRESS.COM/2009/03/BOMBA-DE-GASOLINA.JPG)
37 GEOGRAFIA ECONÔMICA
A crise do petróleo aconteceu em seis fases, todas depois da Segunda Guerra Mundial,
provocada pelo embargo dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Pe-
tróleo (OPEP) e Golfo Pérsico de distribuição de petróleo para os Estados Unidos e países da
Europa.
A região petrolífera do Golfo Pérsico foi descoberta em 1908, no Irã, a partir daí, toda a
região começou a ser visada estrategicamente e explorada. Devido à política da região ser dife-
renciada da ocidental, os chefes de Estado árabes e xás fizeram rigorosas concessões a empre-
sas multinacionais exploradoras de petróleo.
Devido aos quatro países da OPEP: Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait controlarem a
produção de petróleo no mundo e as crises em decorrência da política externa, as crises deses-
tabilizaram a economia mundial, houve uma enorme recessão nos Estados Unidos, Europa e,
consequentemente, no resto do mundo.
Fases da crise
• A primeira fase aconteceu em 1973, em contrapartida ao apoio dos Estados Unidos e países da Europa, ao apoiar a ocupação Israelense a territórios Palestinos durante a
Guerra de Yom Kippur. • A segunda fase ocorreu em 1956, depois que o presidente do Egito, na época Gamal
Nasser, entregou o canal de Suez para uma empresa anglo-francesa. O canal é uma
importante passagem para exportação de produtos da região para países ocidentais. Devido ao fato, os países árabes boicotaram a distribuição de petróleo.
• A terceira fase aconteceu durante a Guerra dos Seis Dias. Devido Israel ser apoiado
pelos Estados Unidos, iniciou-se a guerra contra os países vizinhos. • A quarta fase derivou-se durante a Guerra de Yom Kippur. Países árabes organiza-
dos na OPEP decidiram aumentar o preço do petróleo em mais de 300%. • A quinta fase ocorreu durante a crise política no Irã e a consequente deposição do
Xá Reza Pahlevi, o que desorganizou todo o setor de produção no Irã, onde os preços aumentaram em mais de 1000%.
• A sexta crise foi a Guerra do Golfo, em 1991, depois que o Iraque, governado pelo
país vizinho Kuwait, um dos maiores produtores de petróleo do mundo e o maior distribuidor dos Estados Unidos. Com a intervenção da ONU em apoiar a desocupa-
ção do Kuwait, os iraquianos desocuparam o Kuwait, contudo, incendiaram todos os
poços de petróleo do emirado provocando uma enorme crise econômica e ecológica.
O iminente declínio do petróleo
Observadores atentos dos acontecimentos internacionais saberão, mas a maioria dos ci-
dadãos ignora porque lhes é intencionalmente mantido em sigilo a existência de uma "agenda
38 RUBEM TADEU
escondida" das decisões dos políticos no plano da política internacional. Ainda menos obser-
vadores atentos saberão que no topo dessa agenda está o acesso e o controle dos recursos e-
nergéticos mundiais. E que a atual fase de agressividade brutal do imperialismo é movida
também pelo reconhecimento (que o público em geral ignora) de que a atual disponibilidade
de energia está em vias de extinção. Em vez de trabalhar por alternativas viáveis no interesse
da Humanidade, o controle dos recursos energéticos é o pretexto para intervenções diplomá-
ticas cobertas e encobertas e para as intervenções militares "humanitárias" ou “antiterroristas”
por todo o mundo.
Grandes grupos empresariais fazem manobras políticas, através de seus governos nacio-
nais, provocando guerras para manipular a oferta e o preço do petróleo.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://KR.IMG.BLOG.YAHOO.COM/YBI/1/24/56/SHINECOMMERCE/ FOLDER/58/IMG_58_6594_5?1159025819.JPG.)
A industrialização no decurso do século XX está marcada pela ascensão do petróleo co-
mo a mais importante fonte de energia primária e dos seus derivados, como os mais essenciais
combustíveis para os transportes e a produção termoelétrica e essenciais matérias-primas para
as petroquímicas (as "naftas", os BTX e vários elementos químicos).
Porém acumula-se a evidência de que a capacidade de produção de petróleo "conven-
cional" está a atingir os seus limites. O petróleo convencional é aquele de que o mundo afluen-
te se tem alimentado desde o princípio do século XX e que, na década de 60, ultrapassou o
carvão como principal fonte de energia. O petróleo convencional é de extração relativamente
acessível e econômica. No caso das jazidas gigantes da Arábia Saudita, por um preço na ordem
de 1 ou 2 dólares por barril. A fração de hidrocarbonetos líquidos que acompanha a extração
39 GEOGRAFIA ECONÔMICA
de gás natural pode ser contabilizada e adicionada à produção de petróleo convencional. Esta
fonte de hidrocarbonetos aumentará previsivelmente até cerca de 2050, em resultado de a
produção de gás natural exceder nesse período a de petróleo, mas em quantidade que, atenu-
ando o declínio da produção de petróleo convencional, não adiará perceptivelmente o tempo
de ocorrência do "pico" de produção de hidrocarbonetos líquidos.
O petróleo não convencional – isto é, o “heavy oil” (ou petróleo pesado), o petróleo po-
lar (acima do Círculo Polar Ártico), o petróleo do “deep ocean offshore” (oceano profundo),
as areias betuminosas e os xistos asfálticos – ou é de qualidade inferior, sendo de extração e
refinação mais dispendiosa (caso do petróleo pesado da bacia do Orinoco ou das areias betu-
minosas de Athabasca), ou de elevado custo de extração (custo não só econômico, mas ener-
gético também). O petróleo polar implica impactos ambientais em zonas sensíveis e mesmo
protegidas, e também investimentos intensivos, sobretudo, associados ao transporte para os
centros consumidores. O petróleo do oceano profundo (há mais de 500 metros de profundi-
dade) apresenta condições geológicas complexas e ambientais rigorosas, apresentando elevado
risco de investimento e custo de extração. O aproveitamento das areias betuminosas implica
impactos ambientais pesados, custos econômicos e energéticos elevados, tais que as eventuais
reservas produtíveis serão muito inferiores aos recursos existentes na crosta.
Situação mais problemática ainda é a dos xistos betuminosos. Todavia, a “propaganda”
anestesiante procura fazer passar a ideia de recursos fabulosos à superfície da Terra, uma fan-
tasia como oferecer a Lua. A referência cada vez mais frequente a esses “novos” recursos de
petróleo não convencional é a mais clara confissão de que o petróleo “barato”, o petróleo con-
vencional, está a aproximar-se dos seus limites.
Os recursos de petróleo não convencional são comparáveis com os de petróleo conven-
cional, mas a fração convertível em reservas exploráveis ascende, na hipótese otimista, a não
mais que 20% desses recursos. Somado a estes custos, o desenvolvimento de tais reservas exi-
girá períodos de tempo dilatados. Investimentos pesados a longo prazo é qualquer coisa que
não cabe no quadro da atual organização econômica, o que não exclui a possibilidade de um
ou outro conglomerado petrolífero vir a fazê-lo, na perspectiva de retorno à custa da extrema
escassez futura. E não há dúvida de que, embora possa haver uma fronteira difusa entre petró-
leo convencional e não convencional, acabado o primeiro a economia do segundo será subs-
tancialmente diferente e o custo de energia será muito superior.
É convicção corrente, alimentada pela informação oriunda da maioria dos organismos
oficiais e das empresas petrolíferas, que a produção de petróleo poderia prosseguir indefini-
damente, como se o recurso natural fosse ilimitado, ou seja, como se o planeta Terra fosse
plano e não esférico e, portanto, finito. É a visão conhecida por “flat land”.
40 RUBEM TADEU
Unidade de bombeio de petróleo em terra firme.
(DISPONÍVEL EM: HTTP://LIALDIA.COM/WP-CONTENT/UPLOADS/2009/06/PETROLEO-YACIMIENTO1.JPG.)
Essa visão idealista é conforme a teoria econômica dominante, a qual informa que os di-
versos fatores de produção seriam ilimitados e intermutáveis, como se não tivessem "qualida-
des" distintas, e o mercado seria um regulador perfeito da atividade econômica, "oferecendo"
automaticamente fluxos de matérias-primas, de força de trabalho e de energia, em reposta
inevitável ao aumento de "procura" e a subida dos respectivos preços. Esta teoria econômica
pressupõe que haja uma Terra com recursos ilimitados e com ilimitada capacidade de gerar
fluxos desses recursos, bem como um exército de desempregados e de técnicos já qualificados,
em todas as especialidades. Num e noutro caso disponíveis no imediato, como se o desenvol-
vimento de uma província petrolífera não levasse cerca de uma década e a formação de espe-
cialistas num novo domínio cerca de um lustro.
Mas a longa experiência da indústria petrolífera prova que não é assim. A produção em
cada província é assegurada majoritariamente por um escasso número de jazidas gigantes, um
elevado número de pequenas jazidas fornecendo apenas um modesto complemento. O nível
de produção de cada província, uma vez que todas as jazidas são postas a produzir, não mais
poderá crescer significativamente e, pelo contrário, entrará em declínio, a um ritmo que só a
multiplicação do número de poços consegue atenuar. O custo de extração vai crescendo em
função do volume de produção acumulada em cada província petrolífera.
41 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Até quando haverá petróleo abundante?
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_5ZHV0X_IIUW/R1GXBKFL14I/AAAAAAAAC-4/O7UTL-VDHJS/S1600-R/OILWELL1.JPG)
O ritmo de descoberta de novas jazidas de petróleo tem diminuído e as grandes jazidas
vão escasseando. Na escala global, o ritmo de consumo já ultrapassou e vem excedendo, desde
1981, as descobertas de novas províncias petrolíferas. O pico das descobertas na escala mundi-
al ocorreu em 1964. Como o ritmo das descobertas deixou de compensar o ritmo de consumo,
o balanço é negativo e as reservas restantes têm diminuído persistentemente. O "crescimento
de reservas", ou seja, a reavaliação em alta das reservas das províncias petrolíferas já conheci-
das – em resultado conjugado do fator econômico preço e do fator técnico taxa de recupera-
ção do petróleo "in situ" – tem decrescido também, e será, no futuro, mais reduzido do que no
passado. Depois de um século de prospecção em todo o mundo, e de aperfeiçoamentos cientí-
ficos e tecnológicos na geofísica e na engenharia do petróleo, sabe-se hoje virtualmente quase
tudo sobre essa matéria e, particularmente, sabe-se que recursos existem e quais os seus limi-
tes. O maior obstáculo é, de fato, a escassez de informação (completa e consistente) e a mani-
pulação (comercial ou política) de que os resultados têm sido objeto por parte de empresas
petrolíferas, governos e organismos internacionais. Em suma, conjugando informações de
42 RUBEM TADEU
origens diversas, os especialistas estimam que, ainda na presente década, ocorra o "pico" da
produção mundial de petróleo.
Dubai, capital dos Emirados Árabes Unidos, e seus arranha-céus: o símbolo da riqueza e
prosperidade do mundo árabe em função do petróleo.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://UPLOAD.WIKIMEDIA.ORG/WIKIPEDIA/COMMONS/7/72/DUBAISKYSCRAPERS.JPG)
A região do Golfo Pérsico detém a maior fração das reservas restantes. A OPEP, que as-
segura, atualmente, uma fração próxima de 40% do comércio mundial, terá um peso crescente
nesse abastecimento e na formação do preço. A atual produção mundial de cerca 75 milhões
de barris de petróleo/dia poderá ascender a um máximo de cerca 80 milhões barris/dia na pre-
sente década, sendo que a OPEP, só por si, poderá elevar ainda a respectiva produção até 45
milhões de barris/dia até 2015, mas já num contexto mais geral de exaustão ou declínio. Por
isso o pico do petróleo ocorrerá antes desta última data.
Os EUA são o país com mais longa e completa experiência na indústria petrolífera. No
território dos 48 estados contíguos, as descobertas atingiram o seu máximo em 1930, no qual
resultou uma produção que atingiu o apogeu em 1971. Desde então, o declínio tem sido ine-
xorável.
43 GEOGRAFIA ECONÔMICA
No Alaska, foi descoberta e desenvolvida uma província petrolífera em Prudhoe Bay. O
investimento necessário à sua exploração, incluindo o extenso oleoduto, foi muito elevado e
demorado, como é próprio de uma fonte considerada já não convencional. E, todavia, a res-
pectiva produção passou o seu máximo doze anos depois, em 1989.
Ora, a produção nos EUA atingiu o seu apogeu sem que fossem adotadas políticas de
desenvolvimento sustentado no plano doméstico, o que ilustra como o mercado não oferece
solução para o desenvolvimento sustentado. O caminho prosseguido está à vista: os EUA de-
clararam como seu interesse vital o acesso às fontes de energia mundiais. E estão a prosseguir
nessa política, agora sob a designação de "guerra ao terrorismo", nomeadamente estabelecen-
do alianças com regimes corruptos, bases militares em regiões estratégicas para o domínio de
províncias petrolíferas e de oleodutos e, bem assim, desencadeando ameaças militares e ações
de guerra. Mais discreto é o apoio diplomático e o financiamento invisível das empresas pe-
trolíferas; o que frequentemente é feito através do inesgotável financiamento para a Defesa
Nacional. É um ciclo vicioso, em que o poder econômico influencia e domina o poder político
e este apoia no plano internacional e financia os consórcios econômicos com recursos públi-
cos.
A queda da produção de petróleo nos Estados Unidos, nos últimos anos, é um dos pro-
blemas econômicos mais sérios que o país enfrenta.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.ENERGYINDUSTRYPHOTOS.COM/OILFIELD_BLOWOUT_PHOTOS_AND_RIG.HTM)
44 RUBEM TADEU
Rússia e a bacia do Cáspio detêm cerca de 15% das reservas mundiais de petróleo con-
vencional. Porém, significativos recursos e reservas adicionais de petróleo polar na região Ár-
tica são prováveis. A Rússia mais a bacia do Cáspio forneceram em 2001 cerca de 11% da pro-
dução mundial de petróleo convencional. Essa produção poderá aumentar ainda 50%, durante
os próximos anos, podendo contribuir então com cerca de 15% da produção mundial.
Na Rússia, o setor econômico mais dinâmico na última década tem sido o energético, o
qual tem gerado acumulação de capital e suportado a constituição da oligarquia financeira
emergente. Este sector tem tripla importância para os EUA: é a estrutura econômica que, na
Rússia, mais rapidamente se constitui como capitalista; por outro lado, pode servir aos "inte-
resses vitais" dos EUA, na segurança do aprovisionamento energético. Finalmente, pode servir
ao objetivo geoestratégico de controlar o aprovisionamento energético de outros grandes paí-
ses carentes de fontes de energia própria – designadamente a Índia e o Japão, a China e outros
países do Extremo Oriente. Estas razões têm movido os EUA ao estreitamento de relações
políticas com a Rússia. Em contrapartida, este país terá interesse em desenvolver ao máximo
as suas infraestruturas energéticas e manter relativo equilíbrio de relações comercias quer com
a Europa, quer com o Extremo Oriente, quer com os EUA, nesse sentido tendo programado o
prosseguimento do desenvolvimento das atuais províncias produtoras, novas pesquisas na
zona Ártica e, ainda, o reforço e alargamento da rede de oleodutos para o ocidente, para a cos-
ta do Pacífico e para a RP China. A atual "aproximação" da Rússia com os EUA é uma aliança
para desenvolvimentos tecnológicos e investimentos conjuntos no setor energético, coopera-
ção e partilha do comércio internacional de matérias-primas energéticas, mas é também uma
capitulação da soberania russa face ao império financeiro global. Em breve, a Rússia entrará
na OMC.
Quanto à Europa Ocidental, a província petrolífera do Mar do Norte já ultrapassou a
sua produção máxima e entrou em declínio. Descoberta essa província em 1969, a taxa de des-
coberta atingiu o seu máximo em 1974 e, a taxa de produção, o seu apogeu em 2000. Tendo
incrementado as reservas estimadas inicias em 50% e atingido a taxa de recuperação 50%, mas
não podendo já aumentar nem uma nem outra, o declínio é inexorável. O progresso tecnoló-
gico faz maravilhas, mas ainda não faz milagres. A Europa terá, agora, de importar uma cres-
cente quota de petróleo num mercado mundial incerto.
Quanto ao gás natural do Mar do Norte, ele assegura agora 50% do gás natural consu-
mido na União Europeia. Descoberto em 1965, atingiu o máximo de sua produção em 1979 e
espera-se que a sua produção entre em declínio também. A Europa depende já, e crescente-
mente no futuro, do aprovisionamento de gás natural proveniente do Norte da África e da
Rússia.
45 GEOGRAFIA ECONÔMICA
A Noruega dispõe ainda de recursos adicionais de hidrocarbonetos no Ártico, particu-
larmente gás, que permitirá manter e mesmo acrescentar a sua capacidade produtiva, o que
atenuará, mas não substituirá a pressão para as importações de fora da Europa Ocidental.
Especialistas oriundos de vários países europeus, EUA, Rússia e Irã, reunidos num en-
contro internacional realizado em fins do mês de maio de 2002, na Universidade de Uppsala,
na Suécia, alertaram para a previsível ocorrência de sérios choques petrolíferos na próxima
década. Prevê-se que a produção mundial de petróleo convencional iniciará, então, um declí-
nio irreversível que terá enorme repercussão em todo o mundo.
À luz do conhecimento atual, na base dos atuais dados relativos a reservas e a recursos,
descobertos e ainda previsivelmente por descobrir, a produção mundial deverá atingir o seu
ponto máximo por volta de 2010. A rede de instituições e especialistas constituída nesse en-
contro internacional – ASPO (Association for the Study of Peak Oil) – afirmou o propósito de
proceder, anualmente, à atualização do cenário da produção em conformidade com o apura-
mento dos resultados de exploração e produção verificados.
O Sal da Terra
Composição: Beto Guedes/Ronaldo Bastos
Anda, quero te dizer nenhum segredo
Falo desse chão, da nossa casa, vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante, nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor, o pé na terra
A paz na Terra, amor, o sal da...
Terra, és o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro, tu que és a nave nossa irmã
Canta, leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com teus frutos, tu que és do homem a maçã
Vamos precisar de todo mundo, um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor
Deixa fluir o amor
Deixa crescer o amor
Deixa viver o amor
46 RUBEM TADEU
Geografia econômica mundial1
"A 'segurança energética' de longo prazo se transformou num tema absolutamente deci-
sivo da atual agenda geoestratégica das Grandes Potencias…"
(Financial Times, 17 de marco de 2005)
Jose Luís Fiori.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.REVISTAMACAU.COM/IMAGES/INDICE/0090701.JPG.)
No início do século XXI, o eixo econômico do sistema mundial já está completamente
refeito, e não deve ser alterado nas próximas décadas. Depois de 1945, a economia capitalista
cresceu liderada pelos Estados Unidos e pela Alemanha e pelo Japão, seus dois protetorados
militares que se transformaram em cadeias transmissoras do dinamismo global, na Europa e
no Sudeste Asiático. Um tripé que funcionou, de forma absolutamente virtuosa, até 1973, uni-
ficado pela reconstrução do pós-guerra e pela competição com a União Soviética, enquanto se
desfaziam os velhos impérios coloniais europeus. Este eixo dinâmico da economia mundial
entrou em crise na década de 70 e perdeu seu fôlego global, na década de 80, logo antes que as
economias alemã e japonesa entrassem em estado de letargia crônica, nos anos 90. Ao contrá-
rio dos seus antigos parceiros, os Estados Unidos cresceram durante as duas últimas décadas
do século XX, de forma quase contínua, liderando uma reestruturação profunda da economia
mundial. Foi o período em que a economia nacional da China – e logo depois, a da Índia –
foram assimiladas pelo "território econômico" do capital financeiro norte-americano, e se
1 1 Disponível em: http://www.desempregozero.org.br/artigos/geografia_economica_mundial.php
47 GEOGRAFIA ECONÔMICA
transformaram na fronteira de expansão e acumulação capitalista do sistema mundial. Dentro
desta nova arquitetura, a Alemanha e o Japão ainda não perderam seu lugar, na hierarquia das
economias nacionais, nem deixaram de ser países ricos, cada vez mais ricos, apenas perderam
o seu protagonismo e a sua liderança do processo de acumulação do capital, a escala global.
Foram substituídos pelo novo tripé, e esta mutação geológica da economia mundial não tem
mais como ser revertida a médio prazo, mesmo que alguns setores do establishment político e
acadêmico americano sigam propondo o bloqueio da expansão asiática, e da China, em parti-
cular. Daqui em diante, o entrelaçamento econômico deste novo tripé será cada vez maior,
mesmo quando a sua competição geopolítica crescer até o limite do enfrentamento explícito.
É interessante observar que esta revolução renova, de fato, uma das relações mais anti-
gas e permanentes da história econômica moderna. A relação do "Ocidente" com as "Índias",
que está na origem do “milagre europeu" e da economia capitalista, e de todos os grandes im-
périos que se constituíram, depois dos "descobrimentos". Neste sentido, a nova geografia do
capitalismo mundial mantém, atualiza e potencializa, a um só tempo, a relação transcontinen-
tal que está na origem da globalização do capitalismo europeu. Esta “permanência" do sistema
mundial, entretanto, não elimina a novidade revolucionária da nova geografia econômica do
sistema, nem diminui o seu impacto sobre a economia mundial. É muito difícil de prever to-
das as suas consequências, mas já é possível mapear os primeiros "congestionamentos" e con-
flitos que estão sendo provocados por este deslocamento geoeconômico. Nestas horas de mu-
dança radical, a economia e a política tendem a convergir mais do que de costume, e fica mais
fácil identificar conexões e sobreposições entre o jogo geopolítico da defesa e da acumulação
do poder, e o jogo geoeconômico da monopolização e da acumulação da riqueza. Como se
pode ver, por exemplo, neste momento, com relação ao problema da "segurança energética"
desta nova máquina de crescimento, um verdadeiro quebra-cabeça, do ponto de vista da reor-
ganização e redistribuição – política e econômica – dos recursos disponíveis e escassos, nos
vários pontos do mapa energético do mundo. Não é difícil de entender a complexidade do
novo arranjo que está em curso, basta olhar para as duas pontas do novo sistema e para as
projeções de suas necessidades, se for mantido seu dinamismo atual.
Em conjunto, a China e a Índia detêm um terço da população mundial e vêm crescendo
nas duas últimas décadas, a uma taxa média entre 6 e 10% ao ano. Por isto, ao fazer seu Mapa
do Futuro Global, o Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos previu em 2005,
que até 2020, a China devera aumentar, em 150%, o seu consumo energético, e a Índia em
100%, se forem mantidas suas atuais taxas de crescimento econômico. E nenhum dos dois
países tem condições reais de atender suas necessidades internas através do aumento de sua
produção doméstica de petróleo ou de gás. A China já foi exportadora de petróleo, mas, hoje,
é o segundo maior importador de óleo do mundo, importações que atendem um terço de suas
necessidades internas. No caso da Índia, sua dependência do fornecimento externo de petró-
leo é ainda maior do que a da China e, nestes últimos 15 anos, passou de 70 para 85% do seu
48 RUBEM TADEU
consumo interno. Para complicar o quadro das necessidades asiáticas, o Japão e a Coreia per-
manecem altamente dependentes de suas importações de petróleo e de gás, o que contribui
ainda mais para a intensificação da competição econômica e geopolítica dentro da própria
Ásia. A necessidade urgente de antecipar-se e garantir o fornecimento futuro de energia é que
explica, por exemplo, neste momento, a aproximação de todos estes países asiáticos com o Irã,
a despeito da forte oposição dos Estados Unidos. Como explica também a ofensiva diplomáti-
ca e econômica recente – massiva, em alguns casos – da China na Ásia Central, na África, e até
mesmo na Venezuela; e a presença crescente da Índia, em Burma, Sudão, Líbia, Síria, Costa do
Marfim, Vietnã e na própria Rússia. Além da sua participação conjunta na disputa competiti-
va, quase belicosa, com os Estados Unidos e com a Rússia, pelo petróleo do Mar Cáspio e seus
oleodutos alternativos de escoamento, através da Ucrânia, Geórgia, Azerbaijão, Turquia, Po-
lônia, ou Afeganistão e Paquistão. Seguindo a mesma estratégia dos seus governos, as grandes
corporações públicas ou privadas chinesas e indianas também têm feito investidas fora de sua
zona imediata de atuação tradicional, para controlar empresas estrangeiras que garantam o
fornecimento futuro de petróleo para seus países. Como foi o caso da China National Offsho-
re Corporation que já comprou participação acionária em empresas no Irã, como também no
grupo Yukos na Rússia, e na Unocal, dos Estados Unidos, o mesmo caminho que vem sendo
trilhado pelas grandes empresas estatais indianas – a ONGC e a IOC – que já anunciaram no-
vas associações na Rússia, no Irã e na própria China. Por fim, o Instituto Internacional de Es-
tudos Estratégicos de Londres atribui a esta mesma disputa energética, a recente reestrutura-
ção naval e a presença militar crescente dos chineses e indianos no Mar da Índia e no Oriente
Médio. Como se quisessem relembrar, aos economistas mais ingênuos, o parentesco muito
próximo que existe entre os caminhos do mercado e a competição militar.
No outro lado da ponta deste novo eixo dinâmico da economia mundial, está os Estados
Unidos, que já eram e continuam sendo os maiores consumidores de energia do mundo, e
que, além disto, estão empenhados em diversificar suas fontes de fornecimento, para diminuir
sua dependência dos países do Oriente Médio. Hoje, a Arábia Saudita só atende 16% da de-
manda interna dos Estados Unidos, que já conseguiu deslocar a maior parte do seu forneci-
mento de energia para dentro de sua zona imediata de segurança estratégica, situada no Méxi-
co e no Canadá, aparecendo a Venezuela logo em seguida, como seu quarto fornecedor mais
importante. Mas, alem disso, os Estados Unidos vêm trabalhando ativamente para obter um
acordo estratégico de longo prazo com a Rússia e vem avançando de forma agressiva e compe-
titiva em cima dos novos territórios petrolíferos situados na África sub-sahariana e na Ásia
Central, na região do Mar Cáspio. Isto é, na sua condição de poder global, os Estados Unidos
estão disputando todos os territórios que tenham disponibilidade atual ou que apresentem
algum potencial futuro, capaz de garantir a expansão contínua do seu poder econômico e polí-
tico. Para complicar este quadro, na sua área imediata de influencia tradicional, a Grã-
Bretanha, depois de alguns anos, voltou a sua condição de importadora de petróleo, ao lado
49 GEOGRAFIA ECONÔMICA
dos seus demais sócios da União Europeia, que hoje importam da Rússia, 49% do seu gás, e
que deverão estar importando da mesma Rússia, algo em torno de 80%, por volta de 2030. Por
isto, o governo Putin está trabalhando hoje de forma tão agressiva para transformar a Rússia
num "gigante mundial da energia", unificando e reestatizando suas empresas produtoras, se-
gundo o modelo ARAMCO, da Arábia Saudita. Esta nova mega-empresa deve se transformar
num instrumento fundamental de poder, na luta russa para se recolocar dentro do jogo eco-
nômico das grandes potências e para aumentar a margem de manobra e negociação da Rússia,
dentro da própria Europa.
Em síntese, o que estamos assistindo hoje no mundo do petróleo e do gás natural é uma
expansão veloz da demanda e um aumento da intensidade da competição, entre os velhos e os
novos grandes consumidores da energia disponível no mundo. Mas esta não é apenas uma
disputa normal de mercado, nem é o produto de alguma manobra da OPEP ou do aumento
puro e simples das taxas de crescimento da economia mundial. Pelo contrário, é o produto de
uma gigantesca mutação geoeconômica do capitalismo mundial, que está exigindo não apenas
um aumento da produção da energia, mas também uma redistribuição radical de suas fontes
de produção. Por trás desta transformação, entretanto, esconde-se uma outra mudança ainda
mais complexa: a entrada, no tradicional "jogo" de poder das Grandes Potências, de alguns
paises que faz mais de 500 anos que se transformaram no "objeto do desejo" dos europeus e
que foram suas colônias ou protetorados até meio século atrás. Agora, são eles que estão ba-
tendo à porta, anunciando sua passagem.
50 RUBEM TADEU
MAPA CONCEITUAL
Distribuição de Recursos no Planeta
Sobrevivência das espécies Condições climáticas
Extrativismo Geração de energia
Extinção de recursos Emprego e renda
Conscientização
Fontes alternativas de energia
51 GEOGRAFIA ECONÔMICA
ESTUDOS DE CASO
Em nosso planeta encontramos diversos tipos de fontes de energia. Elas po-
dem ser renováveis ou esgotáveis. Por exemplo, a energia solar e a eólica (ob-
tida através dos ventos) fazem parte das fontes de energia inesgotáveis. Por
outro lado, os combustíveis fósseis (derivados do petróleo e do carvão mine-
ral) possuem uma quantidade limitada em nosso planeta, podendo acabar
caso não haja um consumo racional.
(Fonte: http://www.suapesquisa.com/cienciastecnologia/fontes_energia.htm).
Nos tempos atuais, há uma preocupação dos estudiosos com a questão ambiental, por
entenderem que a sustentabilidade do planeta Terra reside em observamos regras de utiliza-
ção de recursos que não venham a agredir ao meio ambiente. Pelo exposto, redija um texto de,
no mínimo, quinze linhas, apresentando soluções viáveis para evitar o esgotamento das fontes
de energia, citando as fontes de consulta.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
QUESTÕES DO ENADE, ADAPTADAS DO ENADE OU SIMILARES
QUESTÃO 01
(EPE, 2006) Acerca da utilização do biodiesel no Brasil, é correto afirmar que:
a) A sua implementação efetiva em adição ao diesel de origem fóssil depende de medi-
das governamentais e nenhuma lei ou decreto sobre o assunto foi publicado até o final de
2005.
b) A implementação efetiva da utilização de tal combustível adicionado ao diesel de ori-
gem fóssil está vinculada às diretrizes do Ministério de Minas e Energia, de maneira indepen-
dente da ANP.
c) Para a geração da energia elétrica, foi autorizada a adição de biodiesel, em percentuais
maiores que 2%, ao diesel fóssil.
d) Os órgãos governamentais, quando manifestam a intenção de limitar o percentual de
biodiesel a ser adicionado ao diesel fóssil, têm receio de aumentar descontroladamente o po-
der calorífico da mistura final.
e) O Governo tem a intenção, em um futuro próximo, de autorizar oficialmente a utili-
zação de tal combustível.
52 RUBEM TADEU
QUESTÃO 02
(EPE, 2006) Considere as afirmações abaixo, que dizem respeito à geração térmica no
Brasil.
I. Especificamente acerca das termelétricas, a GLP, uma das vantagens da sua imple-
mentação no Brasil, está relacionada à autossuficiência nacional nesse tipo de combustível.
II. Segundo o Balanço Energético Nacional de 2005, a geração a gás natural continuou
uma trajetória de crescimento no ano de 2004.
III. Uma das principais motivações para a expansão desse tipo de geração é o fato da
tecnologia envolvida ser de domínio nacional.
É (são) correta(s) apenas a(s) afirmação(ões):
a) I.
b) III.
c) II e III.
d) II.
e) I e II.
QUESTÃO 03
(EPE, 2006) A geração de energia elétrica no Brasil, em centrais de serviço público e de
autoprodutoras, atingiu 387,5 TWh em 2004 (Fonte: BEM 2005). A tecnologia de maior oferta
e o setor de maior consumo de energia elétrica no Brasil, respectivamente, são as centrais:
a) Hidrelétricas e o setor residencial.
b) Hidrelétricas e o setor industrial.
c) Termelétricas, em geral, e o setor comercial.
d) Termelétricas a gás natural e o setor residencial.
QUESTÃO 04
(EPE, 2006) Assinale a afirmação que apresenta dados corretos a respeito da geração
nuclear no Brasil.
53 GEOGRAFIA ECONÔMICA
a) Segundo o Balanço Energético Nacional de 2005, esse tipo de geração reforçou, no
ano de 2004, a tendência de crescimento moderado (menos de 5%) que vem apresentando em
todos os anos desde 2000.
b) Esse tipo de geração, nas duas usinas de Angra dos Reis, tem disponibilizado para o
Brasil, nos últimos anos, uma quantidade de energia superior à importada pelo país.
c) Um dos argumentos a favor da conclusão da construção da Usina Angra III é o fato
de que o montante financeiro necessário é menos de 25% do montante que já foi investido na
compra de equipamentos para aquela obra.
d) Um dos argumentos novos a favor da expansão desse tipo de geração no Brasil ba-
seia-se na solução para a reciclagem do rejeito nuclear apresentada pelos pesquisadores da
Marinha do Brasil, em parceria com a UFRJ, Eletronuclear e Nuclebrás.
e) Segundo a Estrutura da Oferta de Eletricidade no Brasil, apresentada no Balanço E-
nergético Nacional de 2005, esse tipo de geração foi responsável por menos de 3% da oferta no
ano de 2004.
QUESTÃO 05
(Adaptado de SEML, 2003) O carvão mineral é bastante utilizado, tanto para gerar ener-
gia elétrica em usinas termelétricas como também como matéria-prima para produzir aço nas
siderúrgicas. No Brasil, é o Estado de Santa Catarina que se destaca nessa produção. Entre os
tipos (estágios) de carvão, o de maior consumo no mundo é:
a) A linhita.
b) A hulha.
c) A turfa.
d) O antracito.
e) A celulose
54 RUBEM TADEU
CONSTRUINDO CONHECIMENTO
SOBRE A GEOGRAFIA ECONÔMICA
A Geografia Econômica é o estudo da diversidade de condições econômicas sobre a Ter-
ra. A economia de uma área geográfica pode ser influenciada pelo clima, pela geologia, e tam-
bém pelos fatores político-sociais.
Os estudiosos em geografia econômica têm por foco os aspectos espaciais das atividades
econômicas em várias escalas. A distância de uma cidade como um mercado com demanda
para diversos produtos tem papel significativo nas decisões econômicas das empresas, en-
quanto outros fatores como o acesso ao mar pelos portos marítimos, ou a presença de maté-
ria-prima como petróleo afetam as condições econômicas dos países.
1.2 TEMA 2. OS SETORES DA ECONOMIA - A TRANSFORMAÇÃO DA NATUREZA EM MERCADORIA
1.2.1 CONTEÚDO 1 – OS SETORES DA ECONOMIA E A SUA ABORDAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
Tem por objetivo descrever e avaliar a teoria dos setores da economia como forma de
organização do espaço produtivo.
Setores da Economia – Tradicionalmente as atividades econômicas reúnem três setores:
Setor primário:
(FONTE:WWW.ECODEBATE.COM.BR)
55 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Agrupa o extrativismo vegetal, mineral e animal.
Setor secundário:
(FONTE:WWW.JOTA7.COM)
Abrange as indústrias de beneficiamento, construção civil e transformação.
Setor terciário:
(FONTE: CLIP-ART)
Designa o comércio em geral, bancos, administração, serviços diversos: transporte,
educação, saúde etc. Hoje, já existe a possibilidade da existência do setor quaternário.
56 RUBEM TADEU
1. A TEORIA DOS TRÊS SETORES DA ECONOMIA
A teoria dos três setores da economia foi sistematizada pelo economista Colin Clark, na
década de 30, num contexto econômico muito diferente do atual. Os critérios subjacentes a
essa classificação já nem são mais conhecidos.
Clark chamou de setor primário todas as atividades econômicas que, para serem reali-
zadas, contassem com a participação do trabalho humano e da natureza. Nesse caso se enqua-
drariam:
• As atividades extrativas – vegetal, animal e mineral (o homem extrai, mas quem “pro-
duz” é a natureza);
• A agricultura (o homem prepara a terra – meio de produção, semeia, toma cuidados e
colhe, e a natureza faz o restante);
• A pecuária (criação de animais, também combinando trabalho humano e mecanismos
naturais). Essas atividades são desenvolvidas no campo.
Já o setor secundário seria a produção de bens materiais elaborados, a partir de elemen-
tos oferecidos pela natureza, contando somente com a participação do trabalho humano. A
isso se chama atividade industrial. Nas sociedades modernas, essa atividade é desenvolvida nas
fábricas, localizadas principalmente no espaço urbano. O setor terciário seria composto por
outras atividades que não se refiram à produção de bens materiais (setor primário e secundá-
rio), mas sim à de bens imateriais (serviços em geral – transportes, comunicações, serviços
públicos, bancos, oficinas, manutenção, comércio etc.), juntamente com o comércio. Seu de-
senvolvimento básico também ocorreria no espaço urbano. Setor primário, secundário e terci-
ário são expressões incorporadas à linguagem corrente. No caso do terciário, as novas ativida-
des não aparecem nas estatísticas, pois se trata de um setor extremamente heterogêneo e só
através de uma preocupação teórica é que podemos criticar a rigidez (imposta pela “teoria dos
três setores”) com que se coletam os dados estatísticos”.
Problemas teóricos da teoria dos três setores
• Surgem novas formas de organizar um empreendimento econômico, que alteram a es-
trutura do emprego (do trabalho) e também a estratégia de localização geográfica das empre-
sas. Essas novas formas escapam às classificações tradicionais, mas não podem escapar de nos-
sos olhos se quisermos entender a realidade;
57 GEOGRAFIA ECONÔMICA
• No início do século, as empresas se organizavam do seguinte modo: mais de 90% da
mão de obra empregada trabalhava diretamente na produção. Assim, só uma pequena parte
dos trabalhadores exercia funções administrativas (burocráticas). Esse pequeno setor adminis-
trativo funcionava, em geral, no mesmo edifício em que se realizava a produção. Existia tam-
bém certa correspondência entre a localização da empresa e as fontes de energia, matéria-
prima e mercado (era tudo mais ou menos próximo);
• Numa empresa atual, a realidade é completamente diferente. Cresceu significativa-
mente o setor administrativo, com mudanças qualitativas. Chega, em alguns casos, a corres-
ponder a mais de 50% dos empregados. São novas profissões ligadas ao planejamento, ao
marketing, aos recursos humanos, à contabilidade, à pesquisa cientifica etc.
• Além desse crescimento, tornou-se comum separar no espaço geográfico os locais de
instalação da unidade produtiva e do setor administrativo. O setor produtivo pode estar na
área periférica de uma cidade, enquanto o setor administrativo pode estar no centro. Indo
mais longe, pode haver separação entre regiões ou até entre países. A sede administrativa da
Sony fica no Japão e as unidades produtivas se espalham pelo mundo, como por exemplo, em
Manaus. Também não há correspondência geográfica entre os locais de produção, fonte de
matérias-primas e fontes de energia. Os meios de transporte e de comunicação moderno refa-
zem, com eficiência, a ligação perdida.
Terceirização, terceiros (empresas especializadas que prestam serviços – faxina, restau-
rante, informática, manutenção de equipamentos etc.), a questão se complica mais ainda.
Mas as mudanças tecnológicas e organizativas nas atividades agropecuárias produzem
outras consequências. Elas seguiram a mesma lógica das modificações nas indústrias. A tal
ponto que dizer qual é na essência a diferença entre uma indústria e um empreendimento
agrícola capitalista moderno tornou-se difícil. Daí o terno agroindústria. A dúvida é saber até
onde a natureza ainda influencia a produção agropecuária. Avanços como os da biotecnologia
permitiram aumentar a produção (via seleção, as adaptações de espécies a variam condições
climáticas, criação de novas espécies e assim por diante). Outros avanços no preparo e corre-
ção do solo e na mecanização das tarefas diminuíram significativamente a dependência da
natureza. Da relação de produção original homem-natureza, a produção agropecuária está
baseada hoje na relação homem-homem, típica do setor secundário.
Trabalho em grandes empreendimentos agrícolas cada vez mais se assemelha ao traba-
lho na fábrica: as tarefas são subdivididas, os trabalhadores operam máquinas, são assalariados
e muitos moram nas cidades, inserindo-se num modo de vida urbano. Sintetizando: as ativi-
dades terciárias permeiam o setor primário e o secundário. O primário moderno se confunde
com o secundário. O terciário, que complementava a produção, agora, em grande medida,
antecipada. Ora, são tantas as incompatibilidades da teoria dos três setores com a realidade,
que quase não há mais razões para mantê-la.
58 RUBEM TADEU
1.2.2 CONTEÚDO 2 – O SETOR PRIMÁRIO
Tem por objetivo analisar, avaliar e descrever a importância do Setor Primário da Eco-
nomia na organização do espaço.
1. O setor primário
As atividades do setor Primário são: atividades extrativas, a agricultura e a pecuária.
A Agricultura pode ser dividida em: de subsistência, comercial, especulativa, coletivista,
moderna e agroindústria.
2. A agricultura no mundo
Quase todas as atividades realizadas pelo homem têm caráter econômico, ou seja, envol-
vem trocas monetárias: a produção de mercadorias agrícolas e industriais, o comércio desses
produtos, as atividades imobiliárias, educacionais, esportivas etc. Por meio da atividade eco-
nômica, a sociedade produz os bens que necessita tanto os materiais quanto os imateriais ou
serviços.
No ato de produzir, consumir e trocar produtos, o espaço está sendo transformado. No
entanto, nenhum elemento que já existisse no planeta é utilizado para a criação de novos pro-
dutos. O que se altera é o modo de combinar os mesmos elementos, os novos instrumentos
desenvolvidos para executar as tarefas e o trabalho humano empregado.
No período pré-capitalista, as sociedades eram basicamente agrícolas e não se diferenci-
avam muito umas das outras quanto ao estágio de desenvolvimento. A diferenciação só se
acentuou com o capitalismo, quando a atividade industrial começou a se tornar predominante
em alguns países.
O setor primário, tradicionalmente caracterizado como rural, com pequena participação
nos índices nacionais de produção e técnicas rudimentares, passou por uma grande evolução
nas últimas décadas. As novas tecnologias permitem realizar melhoramentos genéticos na
agropecuária e aumentar a produtividade, imprimindo um ritmo industrial a essa atividade.
3. O campo e a cidade
Nas sociedades antigas, a agricultura era a principal atividade econômica. Mesmo na-
quelas que se celebrizaram pelo esplendor de suas cidades, a grande maioria da população que
trabalhava vivia nos campos. Na antiguidade, o campo constituía o espaço da produção; a ci-
59 GEOGRAFIA ECONÔMICA
dade, o espaço da circulação e do consumo das mercadorias produzidas. A cidade foi também
o espaço da política, do ócio, das artes e da ciência.
As civilizações urbanas que se desenvolveram na Mesopotâmia e no Egito eram susten-
tadas pelo trabalho dos camponeses. O excedente da produção rural se transformava em tri-
butos pagos aos governantes e sacerdotes, habitantes das cidades.
A agricultura também foi a base econômica durante toda a Idade Média. Nesse caso, o
trabalho agrícola cabia aos servos, e o excedente da produção alimentava os senhores feudais
(inclusive o clero) e seus exércitos.
Nas sociedades pré-industriais, o campo abrigava a grande maioria da população e era
responsável pela quase totalidade da produção de riquezas. Por meio de diferentes mecanis-
mos de coerção política, o excedente da produção agrícola acabava canalizando para o susten-
to das populações urbanas e dos homens em armas.
4. O campo se moderniza
Nos países desenvolvidos, o emprego massivo de tecnologia na agricultura produz uma
forte integração entre o setor agrícola e o setor industrial. Nesse caso, utiliza-se a expressão
agricultura industrializada.
Ao mesmo tempo que atende às demandas urbano-industriais, a agricultura nesses paí-
ses constitui um poderoso mercado de consumo para as indústrias urbanas. Tratores, semea-
deiras e colhedeiras mecânicas, fertilizantes, adubos químicos e até computadores fazem parte
do arsenal de insumos industriais que explica as elevadas taxas de produtividade agrícola.
Apesar de toda a tecnologia empregada, o trabalho na agricultura é menos produtivo
que do que o trabalho na indústria.
Nesses países, a participação do setor agrícola no PIB é sempre inferior a porcentagem
da PEA empregada na agricultura. A indústria, em contrapartida, apresenta uma participação
no PIB superior à PEA empregada no setor. Isso significa que uma mesma porcentagem de
trabalhadores produz menos riquezas na agricultura do que na indústria. Esse diferencial ne-
gativo de produtividade indica que, apesar dos altos investimentos em tecnologia, a agricultu-
ra jamais se industrializa completamente. Mesmo mecanizada e automatizada, a agricultura
continua vulnerável aos ciclos vegetativos impostos pela natureza, bem como às alterações
climáticas que escapam ao controle humano e impõem barreiras à aceleração do ritmo de
produção.
Entretanto, a reduzida participação da agropecuária na geração do PIB e na absorção da
PEA escamoteia a verdadeira importância do setor na economia dos países desenvolvidos. Em
muitos deles, o setor primário dinamiza inúmeros ramos industriais.
60 RUBEM TADEU
5. A agropecuária em países desenvolvidos
De maneira geral, a agricultura e a pecuária são praticadas de forma intensiva, com
grande utilização de técnicas biotecnológicas modernas. Em razão disso, é pequena a utiliza-
ção de mão de obra no setor primário da economia (conforme tabela acima).
Nesses países, além dos elevados índices de produtividade, obtém-se também um enor-
me volume de produção que abastece o mercado interno e é responsável por grande parcela
do volume de produtos agropecuários que circulam no mercado mundial. Uma quebra de
safra de qualquer produto cultivado nos Estados Unidos tem reflexos imediatos no comércio
mundial e na cotação dos produtos agrícolas.
6. A agropecuária em países subdesenvolvidos
Nos países subdesenvolvidos, é impossível estabelecer generalizações, já que os contras-
tes, verificados entre os membros desse bloco, repetem-se também no interior dos próprios
países, onde convivem lado a lado, modernas agroindústrias e pequenas propriedades nas
quais se praticam a agricultura de subsistência. Tanto nos países subdesenvolvidos, cuja base
econômica é rural, como nas regiões pobres dos países subdesenvolvidos industrializados, há
um amplo predomínio da agricultura de subsistência contrastando com o sistema de plantati-
on. Essa situação é uma herança histórica do período em que esses países foram colônias.
Desde então, excluem a população dos benefícios econômicos atingidos.
O setor primário constitui a base da economia nesses países. Como se pratica uma agri-
cultura predominantemente extensiva, o percentual da população economicamente ativa, que
trabalha no setor primário, é sempre superior a 25%, atingindo, às vezes, índices espantosos.
Porém, isso não significa que esses países são os maiores produtores de alimentos, bem como
também não são grandes exportadores.
A maior quantidade de alimentos por trabalhador agrícola não é produzida pelos países
com maior concentração populacional no campo. Ao contrário, a alta produtividade é carac-
terística dos países mais urbanizados, mais industrializados, mais mecanizados e com maiores
investimentos em pesquisas tecno-científicas. Isso nos permite afirmar que, os países ou regi-
ões em que a economia tem por base a produção agrícola são os que passam por maiores difi-
culdades econômicas e, por conseguinte, são os países nos quais a maioria de sua população
tem problemas (grave, às vezes) de desnutrição ou subnutrição.
61 GEOGRAFIA ECONÔMICA
(FONTE:DISPONÍVEL EM: HTTP://WWW.AGRALEMARRUA.COM.BR/AGRALE/IMAGENS/BI.NSF/0/6FCAC3BD210345D483257555003787EE/$FILE/TRATOR%204000
%20AGRIC%20FAMI.JPG.)
A Alta Mecanização da agricultura é uma característica marcante na agopecuária dos
países desenvolvidos.
O Cio da Terra
Composição: Milton Nascimento e Chico Buarque de Holanda
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
62 RUBEM TADEU
1.2.3 CONTEÚDO 3 – O SETOR SECUNDÁRIO
Tem por objetivo analisar, avaliar e descrever a importância do Setor Secundário da E-
conomia na organização do espaço.
O Setor Secundário
INDÚSTRIA: Parte da economia que engloba empresas cujas principais atividades são a
industrialização de matérias-primas e a manufatura de bens para consumo ou elaboração adi-
cional.
1. A evolução da indústria
Indústria é o conjunto das atividades realizadas na transformação de objetos em estado
bruto, as chamadas matérias-primas naturais ou não, em produtos que tenham uma aplicação
e satisfaçam as necessidades do homem. Quanto a sua evolução histórica, podemos reconhe-
cer três estágios fundamentais: o artesanato, a manufatura e a maquinofatura. Com a Revolu-
ção Industrial, o homem aumentou a sua capacidade de produção.
Por causa da sua diversidade, a indústria comporta diferentes tipos e inúmeras classifi-
cações.
1. A indústria pode ser de beneficiamento, de construção ou de transformação:
• Beneficiamento: Consiste em transformar um produto para que possa ser consumido,
como descascarem cereais ou refinar o açúcar.
• Construção: Utiliza diferentes matérias-primas para criar um novo produto, com o a
construção civil.
• Transformação: Emprega sistemas, com diferentes graus de sofisticação, nas atividades
de reelaboração de uma matéria-prima.
2. Outra maneira de classificação (a mais utilizada) é a que leva em conta a destinação de
seus produtos: de bens não-duráveis e de bens duráveis.
• Indústria de bens não-duráveis: Produz bens que são consumidos num tempo breve,
como os produtos alimentares, cigarros, confecções, bebidas, calçados e medicamentos.
63 GEOGRAFIA ECONÔMICA
• Indústria de bens duráveis: Que produz bens de longa duração, como eletrodomésti-
cos, máquinas, motores e veículos.
3. Podemos classificar as indústrias de uma maneira mais genética, como:
• Indústria de base: É aquela que produz bens que servirão de base para outras indús-
trias, como a metalurgia, a indústria química, fabricação de cimento.
• Indústria de bens de produção: É considerada a mais importante, pois é por meio dela
que são criadas as condições necessárias a outras indústrias. É a indústria de máquinas e fer-
ramentas, cuja existência determina o caráter da economia de um país: dependente ou inde-
pendente. Assim, se um país produz seus bens de consumo e de uso, mas não produz os meios
com os quais possa realizar tais produções, estará na dependência de outros que lhe forneça os
equipamentos indispensáveis.
• Indústria de bens de consumo: É aquele que vai, com produtos da indústria de bens de
produção (máquina), fabricar aquilo que o mercado consumidor necessita.
Nesse caso podemos ter:
a) A indústria de bens finais: Produz bens prontos para o uso ou consumo.
b) A indústria de derivados: É aquela que emprega como matéria-prima bens já benefi-
ciados ou semiacabados, dando-lhes um novo acabamento (exemplo: indústria de confec-
ções).
4. Quanto à tonelagem de matérias-primas empregadas e à quantidade de energia con-
sumida, a indústria pode ser:
a) Leve: Produtos alimentares, têxteis, fumo, bebidas, produtos farmacêuticos e calca-
dos.
b) Pesada: Metalúrgica, siderúrgica, fabricação de máquinas, veículos automotores e na-
vios.
Exemplo de Indústrias
64 RUBEM TADEU
(FONTE: WWW.FIEC.ORG.BR) (FONTE: WWW.UNICAMP.BR)
CALÇADOS AUTOMOBILÍSTICAS
1.1 A indústria automobilística
Durante os anos de expansão econômica (1950-1973), o automóvel foi o símbolo da so-
ciedade de consumo. Este enorme desenvolvimento da produção automobilística deu lugar a
vários problemas, como a saturação do consumo em muitos países e a forte concorrência en-
tre as marcas. Para frear a crise, propuseram-se soluções como a fusão de empresas e a auto-
mação da produção, o que provocou uma considerável redução dos postos de trabalho.
1.2 As indústrias tradicionais ou dinâmicas
As indústrias tradicionais são aquelas ligadas às descobertas da Primeira Revolução In-
dustrial. Utilizam muita mão de obra e pouca tecnologia.
As indústrias de ponta, ao contrário, utilizam muito capital e tecnologia e pouca força
de trabalho (mão de obra).
1.3 As indústrias de ponta
Denominam-se indústrias dinâmicas ou de tecnologia de ponta aqueles setores nos
quais a pesquisa exerce um papel fundamental. Sua atividade depende em grande parte das
inovações que geram. Estas indústrias necessitam de grandes investimentos para funcionar e
dedicam grande parte deles ao desenvolvimento de novas pesquisas, para criar novos proces-
sos de produção e novos produtos. Esta denominação engloba setores, como o farmacêutico, o
da informática, o aeroespacial e o das telecomunicações.
65 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Os Tecnopolos
Desde a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII até os dias atuais,
o mundo já passou por mais duas revoluções industriais. Em cada uma delas, as relações de
produção são modificadas de forma a atender aos interesses dos agentes econômicos de cada
momento. No momento atual, em que as nações mais desenvolvidas industrialmente já passa-
ram pela Terceira Revolução Industrial, novos espaços de produção têm sido pensados e ma-
terializados no espaço geográfico.
A economia, ao se mundializar e se globalizar, produz esses novos espaços de produção,
ligados entre si por redes em escala planetária, acirrando a concorrência entre lugares
(BENKO, 2002, p. 223). A competição entre estes espaços aumenta significativamente. Por-
tanto, cada espaço entra no jogo competitivo da economia procurando e criando estratégias
tecnológicas e científicas de desenvolvimento que o qualifiquem a ser o espaço escolhido para
desenvolvimento do setor produtivo. Uma dessas estratégias é o desenvolvimento regional
baseado na exploração de recursos tecnológicos, universitários e de pesquisa com a conse-
quente implantação de tecnopolos.
Esses espaços, por conta dos intensos processos de globalização, observados no mundo
contemporâneo, têm sido interligados. As revoluções nos transportes e nas telecomunicações
corroboram estes processos. É a compressão do tempo-espaço. Espaços mais dinâmicos são
produzidos, dando ao mundo um aspecto fragmentado, formado por espaços da globalização.
Diante desse quadro, cada vez mais se acirra a competitividade entre estes espaços e os mes-
mos buscam alternativas de inserção no âmago do capitalismo, em sua fase atual. Uma dessas
alternativas é o planejamento do desenvolvimento de determinadas regiões tendo em vista a
instalação de tecnopolos.
Os tecnopolos originaram-se nos Estados Unidos, quando a Universidade de Stanford,
na Califórnia, criou o Silicon Valley. A partir da experiência norte-americana, o fenômeno dos
tecnopolos estende-se a outros países de economia capitalista. Tecnopolo é um termo que
aparece regularmente na literatura no final dos anos 1970 do século XX. Laffitte, citado por
Benko (2002, p. 154), descreve os tecnopolos como sendo “a reunião, num mesmo lugar, de
atividades de alta tecnologia, centros de pesquisa, empresas e universidades, assim como de
organismos financeiros que facilitem os contatos pessoais entre esses meios, produz efeito de
sinergia de que podem surgir ideias novas, inovações técnicas, suscitando, portanto, criações
de empresas”.
Em relação a sua localização, o tecnopolo designa um espaço preciso, um espaço especí-
fico e singular dentro de um território, em que se concentram e se relacionam as atividades
econômicas. Os tecnopolos também surgem como alternativa para o desenvolvimento de á-
reas atrasadas. Identificar um tecnopolo nem sempre é uma tarefa fácil de ser cumprida. Para
66 RUBEM TADEU
isso, é necessária a compilação de vários indicadores que, combinados, possibilitam distinguir
o conteúdo das diferentes zonas de atividades e de separar “falsos” e “verdadeiros” espaços
tecnopolitanos que, com muita frequência, possuem aparências físicas semelhantes.
Tecnopolo significa, de modo genérico, materialização de arranjos organizacionais de
inovação, que pressupõem duas características principais: concentração espacial de institui-
ções de ensino-pesquisa associadas a empresas de base tecnológica e a existência de parcerias
entre estas instituições com órgãos da iniciativa pública e privada, visando reunir condições
favoráveis à formação de um ambiente inovador, tanto no uso de tecnologia como na inova-
ção do processo de produção. São muitos os exemplos de tecnopolos, dentre esses, podemos
citar os parques científicos e tecnológicos, os tecnopolos, as cidades científicas, as incubadoras
de empresas, dentre outros.
Na concepção, execução e implantação desses meios de produção, bem como na sua or-
ganização, a concentração espacial de atores do desenvolvimento científico e tecnológico e do
setor empresarial é ressaltada como um fator que favorece as interações, parcerias e redes,
bem como os fluxos de ideias e conhecimento, configurando assim, ambientes favoráveis à
geração do saber e de inovações tecnológicas em diferentes ramos da produção.
Os modelos de tecnopolos, considerando os seus objetivos de promover os processos de
inovação tecnológica, via produção científica, e o dinamismo local e regional, têm sido enfati-
zados, principalmente nas três últimas décadas, como possíveis alternativas a serem adotadas
por diferentes atores locais, regionais e nacionais para se inserirem, de forma mais estratégica
e sedutora, na atual economia mundial, altamente competitiva, globalizada e informacional.
Nesse contexto, a capacidade de desenvolver novas tecnologias e conhecimentos e de elevar o
conteúdo tecnológico dos produtos e serviços, cada vez mais, tem sido uma questão constan-
temente colocada aos diferentes países, cidades, estados, localidades e ao setor empresarial.
Caso os atores envolvidos no processo estejam despreocupados com essa questão, a possibili-
dade de os tecnopolos não acompanharem as demandas de uma economia globalizada au-
mentará cada vez mais, resultando assim, no seu enfraquecimento, em determinadas localida-
des, em detrimento do fortalecimento de outras.
A difusão de um novo paradigma embasado nas novas tecnologias de informação e co-
municação, de base microeletrônica, bem com a difusão de redes eletrônicas virtuais de in-
formação e conhecimento, contribui para que novas dimensões sejam incorporadas à discus-
são sobre o papel e alcance de tais arranjos espaciais técnico-produtivos em diferentes
localidades.
Nesse contexto, uma questão a ser abordada refere-se ao impacto das novas tecnologias
de informação e comunicação sobre a configuração de redes locais, tendo em vista o movi-
mento atual que leva à formação de redes eletrônicas, redes essas cada vez mais utilizadas para
67 GEOGRAFIA ECONÔMICA
o desenvolvimento de pesquisas científicas, negócios, troca de dados e informações e dissemi-
nação de conhecimentos em diferentes países.
Essas redes são formadas, geralmente, por um grande leque de atores e instituições, ain-
da que as relações mais frequentes e estratégicas ocorram, principalmente, entre pesquisado-
res, estudantes, professores de centros de pesquisa e universidades; técnicos, engenheiros e
empresários vinculados a empresas de base tecnológica, e, em muitos casos, agentes e funcio-
nários do governo. Os vínculos empresa-universidades-centros de pesquisa se configuram
como os mais estratégicos e atraentes no contexto das redes que se formam para a dissemina-
ção de informações e conhecimentos, e para inovações tecnológicas e organizacionais.
Normalmente, essas redes estruturam-se, fundamentalmente, por relações informais e
interpessoais e são altamente influenciadas pelo ambiente local e regional. Identifica-se, nesse
sentido, uma série de elementos que favorecem a cooperação e a interação entre atores do de-
senvolvimento científico e tecnológico e do setor empresarial, produzindo os tão desejáveis
efeitos sinérgicos que fundamentam os tecnopolos. Estes elementos referem-se à demanda e
oferta de tecnologias; à presença de universidades e centros de pesquisa; à disponibilidade de
recursos humanos qualificados; às relações de amizade e confiança e a uma cultura local favo-
rável ao seu desenvolvimento.
Um aspecto a ser destacado é que a predisposição para a cooperação e interação, no con-
texto de tais arranjos organizacionais, é, em grande medida, influenciada pela gênese das em-
presas de base tecnológica, uma vez que, em muitos casos, os vínculos e as relações que confi-
guram as suas redes antecedem o próprio ordenamento e institucionalização do tecnopolo.
Nesse sentido, esse tipo de empreendimento não pode ser realizado em qualquer lugar. Para
sua implantação, é necessário que determinados espaços apresentem vantagens comparativas
em relação a outros espaços Um das vantagens existentes dá-se a partir da relação construída
entre diferentes atores que trabalham na localidade ou região. Os professores, técnicos, pes-
quisadores, engenheiros, que criam as suas empresas a partir de pesquisas desenvolvidas em
universidades e centros de P&D de outras empresas ou instituições, geralmente, continuam a
estabelecer relações frequentes com antigos colegas, professores e orientadores, assegurando
os fluxos de informação entre eles.
A proximidade entre os atores do desenvolvimento científico e tecnológico e do setor
empresarial tem favorecido os processos sinérgicos em contextos específicos, nos quais se es-
tabelecem relações profissionais, de confiança, de amizade, graças à convivência cotidiana, às
interações e interesses comuns. Entretanto, não se pode afirmar que a proximidade física, por
si só, seja capaz de promover o processo de fertilização cruzada entre os atores locais nem a
configuração de redes de cooperação e informação. Para que esses atores se relacionem e tro-
quem informações, é necessária a conjunção de determinados fatores culturais, sociais, ambi-
entais, econômicos e políticos.
68 RUBEM TADEU
Um importante aspecto a ser incorporado na discussão sobre o papel da proximidade
geográfica no contexto dos tecnopolos é o tamanho tácito do conhecimento, que exerce papel
fundamental nos processos de geração de informações e inovações. Como o processo de dis-
seminação de conhecimentos tácitos depende dos códigos e da cultura local, bem como das
interações entre as pessoas, as redes informais e a convivência espaço-temporal continuam a
ser destacadas como elementos indispensáveis e estratégicos na dinâmica desses arranjos or-
ganizacionais.
A análise de experiências internacionais e nacionais na implantação de tecnopolos per-
mite fazer algumas considerações sobre a dinâmica e as características das redes estruturadas
no contexto destes arranjos organizacionais. Ressalta-se que essas considerações devem ser
relativizadas em conformidade com o escopo e abrangência da pesquisa, embora, a análise
minuciosa fornece importantes subsídios para a compreensão do contexto mais amplo, no
qual se insere a temática de investigação.
1.4 Os fatores de localização industrial
As indústrias buscam localizar-se naquelas zonas que permitem baratear seus custos de
produção. Tradicionalmente as empresas, sobretudo as pesadas, tendem a localizar-se onde o
custo do transporte é menor, aproximando-se das fontes de energia ou das matérias-primas.
Outros setores industriais, especialmente os leves, tendem a se localizar próximos aos merca-
dos de consumo.
1.5 As grandes regiões industriais do mundo
As indústrias tendem a se concentrar geograficamente ao longo dos grandes eixos de
comunicação e dos espaços urbanos bem conectados. Quando a concentração é considerável,
formam-se as denominadas regiões industriais. As tradicionais zonas industriais correspon-
dem aos países ricos: áreas produtoras de carvão e ferro, vales industriais, zonas urbanas e
portuárias.
1.6 Expansão da indústria mundial
Já a maioria das novas regiões industriais, mais bem adaptadas aos novos processos de
produção, encontra-se nas regiões dinâmicas dos países do Extremo Oriente, ou ao redor das
grandes metrópoles dos países desenvolvidos. Nas últimas décadas, alguns países asiáticos
69 GEOGRAFIA ECONÔMICA
experimentaram um rápido crescimento econômico. Os denominados "Tigres" (entre eles
Hong Kong, Taiwan e Coreia do Sul) estão conseguindo consolidar sua posição mundial in-
dustrialmente, ainda que as rápidas transformações socioculturais tenham gerado certos dese-
quilíbrios.
Nos últimos anos, a indústria chinesa também começou a despontar graças à aplicação
de novas políticas econômicas. As denominadas Zonas Econômicas Especiais do litoral chinês,
que gozam de ampla liberdade econômica, situam-se entre as regiões mais dinâmicas do
mundo.
1.7 Distribuição industrial no Brasil
No Brasil, as principais regiões industriais estão concentradas na região Sudeste, no tri-
ângulo formado pelas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Outras áreas podem ser chamadas de periféricas: áreas metropolitanas de Curitiba, Por-
to Alegre, Recife e Salvador; Zona Franca de Manaus, Goiânia (GO), Campo Grande (MS) e
Vale do Itajaí (SC).
OS NICs – NOVOS PAÍSES INDUSTRIALIZADOS2
A partir dos anos 50, passou a ocorrer uma intensificação no processo de expansão das
multinacionais, em direção a diversas regiões do mundo. Com esse processo, a produção in-
dustrial, até então concentrada na Europa, no Japão, nos Estados Unidos e no Canadá, passou
a se disseminar por vários países.
Num primeiro momento, os países sub¬desenvolvidos que mais receberam filiais das
multinacionais foram Brasil, Argentina, México e África do Sul, todos com grande mercado
consumidor e com capacidade de processamento de algumas matérias-primas necessárias às
multinacionais. Posterior¬mente, a partir de meados da década de 60, tal processo de expan-
são das multinacionais e disseminação da atividade industrial atingiu a Coreia do Sul, Taiwan,
Hong Kong e Cingapura. Todos esses países que passaram por um processo de industrializa-
ção mais intensa após a década de 50 recebem a denominação de NICs (Newly Industrialized
Countries). Mais recentemente ainda, a partir dos anos 80, outros países do sudeste asiático
começaram a ter, gradativamente, a indústria como um setor importante da economia. É o
caso da Malásia, da Tailândia e da Indonésia.
2 Conteúdo encontrado em http://orbita.starmedia.com/geoplanetbr/economia.htm
70 RUBEM TADEU
Se observarmos em um mapa, as áreas de maior concentração industrial não se restrin-
gem mais aos países desenvolvidos do hemisfério Norte. Fora das regiões tradicional¬mente
industrializadas da Europa, da América do Norte e do Japão, surgiram várias outras: no sudes-
te do Brasil; nas regiões em torno de Buenos Aires e da Cida¬de do México; em Pretória e em
Johanesburgo, na África do Sul; no leste da China; no sudeste da Ásia e nos tigres asiáticos.
As trajetórias da industrialização dos NICs não foram as mesmas, mas se apoiaram em
políticas industriais nas quais a participação do Estado foi decisiva.
No caso dos países latino-americanos, como Brasil, México e Argentina, a industrializa-
ção baseou-se na substituição de importações e, posteriormente, na internacionalização do
mercado.
Nas principais crises econômicas mundiais do século XX, particularmente na de 1929,
os países da América Latina viram-se impossibilitados de importar as mercadorias fabricadas
no mundo industrializado. Além disso, diante da conjuntura desfavorável à exportação de
produtos agrícolas não essenciais, os investimentos passaram a se destinar à produção local de
manufaturados. Os bens de consumo que, antes eram importados, passaram a ser produzidos
pelas antigas nações importadoras. Daí o nome dado ao pro¬cesso de industrialização desses
países: ISI (Indústria Substitutiva de Importação).
Transeuntes na movimentada Wall Street, em 1929, ano em que se inicia a pior crise
mundial da história do capitalismo de que se tem conhecimento.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: HTTP://BILAN.USHERBROOKE.CA/VOUTES/VOUTE3/CRASH_1929.JPG. ACESSO EM: 17 DEZ. 2009.)
71 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Após a década de 50, as práticas substitutivas apoiaram-se na internacionalização do
mercado. Brasil, Argentina e México atraíram os investimentos internacionais co¬mo forma
de acelerar o desenvolvimento industrial.
As políticas industriais de atração dos investimentos estrangeiros ofereciam mão de o-
bra barata, investimentos estatais em infraestrutura de transpor¬te, energia e processamento
de matérias-primas essenciais à instalação industrial. Os incentivos fiscais, a participação nos
mercados internos, sem a necessidade de transpor barreiras alfandegárias, e a facilidade de
remessa de lucros eram atrativos tentadores às empresas estrangeiras.
O caminho seguido pelos NICs asiáticos foi diferente. A estratégia industrial traçada por
Taiwan, Cingapura, Coreia do Sul e Hong Kong apoiou-se na IOE (industrialização Orientada
para a Exportação). As multinacionais que se estabeleceram nesses países, e mesmo as empre-
sas nacionais, tinham como objetivo principal o comércio externo. Daí a expressão plata-
for¬mas de exportação para designar os tigres asiáticos.
Enquanto na ISI foi preponderante a participação do capital norte-americano e do eu-
ropeu, no caso da IOE, a principal fonte de investimentos foi o capital japonês.
O crescimento econômico dos tigres foi alicerçado na associação entre as empresas pri-
vadas e o governo, que garantiu proteção às empresas nacionais por meio de barreiras alfan-
degárias e criou os mecanismos legais de incentivos às exportações e aos investimentos estran-
geiros. Além disso, investiram na educação e, consequentemente, na qualificação da mão de
obra.
No entanto, todo o processo de evolução econômica e industrial foi traçado sob um re-
gime ditatorial, com exceção de Hong Kong. A liberdade de imprensa e de expressão e as elei-
ções livres não faziam parte do dia a dia dos habitantes desses países.
Durante a década de 70, os tigres asiáticos apresentaram taxas de crescimento econômi-
co, próximas de 10% ao ano e, na década de 80, próximas de 7,5%. Nos primeiros anos da dé-
cada de 90, passou a ocorrer uma desaceleração do crescimento econômico. Mesmo assim, as
taxas desses países são superiores às apresentadas pelas nações mais industrializadas do globo.
A passagem de economias predominantemente agrícolas para países industrializados e
com parques industriais diversifica¬dos, no curto período de duas décadas, evidentemente
acontece em ritmo de cresci¬mento econômico bastante acelerado. Atingindo tal grau de in-
dustrialização, é natural que o ritmo de crescimento passe a ser menor. Como se pode obser-
var no gráfico, é o que acontece com os tigres asiáticos.
72 RUBEM TADEU
O NOVO EIXO DE PROSPERIDADE DO PACÍFICO3
É ainda muito cedo para que se aceite a afirmação de que o grande centro econômico do
século XXI seja a região do Pacífico, sob a liderança do Japão. Entretanto, o ritmo de cresci-
mento industrial e a capacidade dos investimentos japoneses têm indicado forte liderança
dessa região, na nova ordem mundial que se está esboçando.
Atualmente, em volume de depósito, os dez maiores bancos do mundo são japoneses. E,
entre os dez maiores conglomerados financeiros mundiais, nove são japoneses. Até meados
dos anos 60, não aparecia nenhum banco japonês entre os cinquenta maiores.
O Japão é, sem dúvida, o expoente máximo de uma região que, nos últimos 30 anos, tem
conquistado inigualável cresci¬mento econômico: o leste e o sudeste da Ásia, na região do
Pacífico. No início da década de 90, enquanto a economia mundial assegurava míseros 0,3%
de crescimento econômico, essa região do Pacífico expandia-se na ordem de 5,8%.
As exportações dos quatro tigres passa¬ram de 2 bilhões de dólares, em 1960, para mais
de 377 bilhões, em 1993. Na pauta de exportações, predominam os produtos eletroeletrônicos
(televisores, videocassetes, apare¬lhos de som, fornos de microondas), acessórios para compu-
tadores e telecomunicações, tecidos sintéticos, roupas, plásticos e veículos.
Tigres Asiáticos
(FONTE: DISPONÍVEL EM: WWW.PADOGEO.COM)
3 Conteúdo encontrado em http://orbita.starmedia.com/geoplanetbr/economia.htm
73 GEOGRAFIA ECONÔMICA
A China, com 20% da população da Terra, caminha a passos largos para transformar seu
mercado potencial num grande mercado de consumo. Na década de 80, obteve as maiores
taxas de crescimento econômico. É claro que essas taxas têm validade relativa, já que a base
anterior da economia era muito baixa e o modelo de desenvolvimento industrial chinês ainda
está baseado na utilização de mão de obra barata e no baixo índice tecnológico.
Em meados da década de 90, surgiram várias denúncias de que parte dos produtos in-
dustrializados chineses, que têm conquistado o mercado mundial devido aos baixos preços e
não à boa qualidade, são fabricados em campos de concentração, com a utilização de mão de
obra, a custo zero, de prisioneiros que trabalham os 7 dias da semana.
Nestas duas últimas décadas, juntamente com o Japão e a China, os tigres formaram um
importante polo econômico no Extremo Oriente da Ásia.
A Coreia do Sul possui empresas conhecidas mundialmente, como a Sansung (compu-
tadores, eletroeletrônicos), a Hyundai e a Daewoo (automóveis). Vários setores industriais
têm, hoje, destaque na economia coreana: construção naval, brinquedos, eletro¬eletrônicos,
computadores, relógios e outros itens.
Hong Kong, além de um setor de bens de consumo bastante diversificado, está entre os
maiores centros financeiros internacionais e seu porto é o terceiro entreposto Comercial do
mundo.
O desenvolvimento industrial de Taiwan e a forte penetração dos seus produtos no mer-
cado externo fazem com que esta pequena ilha do Pacífico tenha uma das maiores reservas
cambiais do mundo.
Cingapura, cuja área é 68 vezes menor que a ilha de Marajó, exportou, por sua vez, 97
bilhões de dólares, em 1994, mais que o dobro das exportações brasileiras, que atingi¬ram 44
bilhões de dólares no mesmo ano.
O crescimento econômico nesta região do Pacífico tem arrastado outros países: Tailân-
dia, Malásia, lndonésia, Filipinas e Vietnã. A Tailândia, por exemplo, exporta hoje mais pro-
dutos têxteis e eletroeletrônicos do que arroz e borracha, seus tradicionais itens de exportação.
Um aspecto importante do crescimento econômico desses países é o fato de os tigres asiáticos
estarem entre os maiores investidores externos, aspecto que reforça o dinamismo econômico
da região do pacífico.
74 RUBEM TADEU
AS ZONAS ECONÔMICAS ESPECIAIS4
A China tem se adaptado às grandes transformações econômicas mundiais de for¬ma
gradual. A introdução da economia de mercado está sendo feita pelo próprio PCC (Partido
Comunista Chinês), em áreas determinadas pelo governo, que receberam a denominação de
ZEEs (Zonas Econômicas Especiais).
As ZEEs foram idealizadas por Deng Xiaoping e implantadas a partir de 1978. Elas se
constituíram no modelo chinês para suplantar a estagnação econômica que, naquele momen-
to, atingia o conjunto dos países socialistas e os afastavam, cada vez mais, do nível de desen-
volvimento do mundo capitalista.
Nas cidades escolhidas para a criação dessas zonas de economia de mercado, abriram-se
as portas para o investimento estrangeiro e estabeleceram-se medidas semelhantes às adotadas
nos tigres asiáticos: baixos impostos, isenção total para a importação de máquinas e equipa-
mentos industriais, e facilidades para a remessa de lucros ao exterior. Além disso, as empresas
que nelas se instalaram contam com a mão de obra mais barata do mundo, o que torna os
preços dos pro¬dutos de baixo aporte tecnológico (têxtil, calçados e brinquedos) imbatíveis
no merca¬do internacional.
A localização das ZEEs é estratégica. Estão situadas próximas às áreas litorâneas, a pouca
distância dos outros grandes centros econômicos do Pacífico. Em 1992, o governo chinês cri-
ou 28 novas zonas de livre mercado, mais para o interior, ao longo do rio Yang-Tsé-Kiang.
Entretanto, o desenvolvimento da economia chinesa irá encontrar adiante uma série de
obstáculos. De modo diverso ao que ocorreu no grupo dos quatro tigres, em que houve uma
política governamental de investimento pesado em educação e em infraestrutura básica, a
China não tem caminhado nessa mesma direção. O índice de analfabetismo chinês atinge 73%
da sua população e os estudantes universitários não chegam a 1,5 milhão, num país de 1,2
bilhões de habitantes.
O sistema portuário é bastante incipiente e a China não conta com estradas de rodagem
e ferrovias adequadas à circulação de mercadorias, fundamentais à dinamização de seus mer-
cados interno e externo. Consta que os últimos trilhos das ferrovias chinesas foram instalados
há sete décadas.
4 Conteúdo encontrado em http://orbita.starmedia.com/geoplanetbr/economia.htm
75 GEOGRAFIA ECONÔMICA
1.2.4 CONTEÚDO 4 – O SETOR TERCIÁRIO
Tem por objetivo analisar, avaliar e descrever a importância do Setor Terciário da Eco-
nomia na organização do espaço.
Conhecido como setor de serviços, encarrega-se de parte da economia, que inclui as o-
cupações de comércio, corretagem de valores, seguro, transportes, serviços de consultoria,
intermediação financeira, atividades bancárias e turismo.
Recursos naturais: matéria-prima para a atividade turística
Não há dúvida de que o turismo é uma das atividades que mais cresceu nos últimos a-
nos. De acordo com informações de órgão oficiais, a cada ano que passa aumenta o número
de visitantes nacionais e internacionais em diferentes localidades do Brasil, sobretudo nos
estados nordestinos e no Estado do Rio de Janeiro. Além da grande quantidade de visitantes,
aumenta também a necessidade de complexos hoteleiros e pousadas, a contratação de grande
quantidade de profissionais capacitados para atender ao aumento dessa demanda.
O aumento do fluxo de visitantes em diferentes locais do Brasil provoca diferentes im-
pactos na cultura, na economia e no ambiente dos locais visitados. Esses impactos podem ser
classificados como positivos e negativos, e a depender do local da visita, da intensidade da
mesma e da quantidade de visitantes, eles podem se dá em maior ou menor escala e intensida-
de.
Qualquer atividade humana impacta o ambiente onde ela se desenvolve. Além disso, há
de se considerar que a própria natureza se autodestrói, no sentido de que a construção e a des-
truição é parte inerente à evolução física do planeta Terra. No entanto, à medida que a popu-
lação do planeta aumenta e os fluxos turísticos crescem esses impactos tendem a se dar com
maior intensidade e, às vezes, se tornam irreversíveis.
De acordo com Ruschamann (2003, p. 13), a palavra turismo teria sido utilizada pela
primeira vez no século XIX, no entanto, essa atividade remonta desde os primórdios da civili-
zação, quando, por diferentes necessidades, integrantes de comunidades se movimentavam no
espaço geográfico. Afirma-se ainda que, a partir da 2ª Guerra Mundial, ela se desenvolve co-
mo consequência de alguns fatores, como aumento da produtividade empresarial, aumento do
poder de compra da população dos países desenvolvidos e restauração de uma certa paz em
todo o mundo. De certo que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial até os dias atuais, con-
flitos continuam a acontecer em diferentes nações, embora não tenham a mesma abrangência
geográfica como as duas grandes guerras mundiais.
76 RUBEM TADEU
Até pouco tempo atrás, o turismo era uma atividade restrita a uma pequena elite que
dispunha de tempo e de capital para viajar. Nas últimas décadas, percebe-se que a população
de menor poder aquisitivo tem viajado graças à junção de diferentes fatores. Nesse sentido, se
pode dizer que essa atividade não é mais prerrogativa de alguns cidadãos privilegiados e cons-
titui parte integrante do modo de vida de um número cada vez maior de pessoas em todo o
planeta.
O processo de urbanização já estabilizado nos países desenvolvidos e em expansão nos
países subdesenvolvidos separa as pessoas cada vez mais de ambientes naturais e as aproxima
do ambiente artificial, integrando-as ao ambiente artificial das cidades. Sem dúvida, esse é um
dos fatores que impulsiona a população urbana a estar cada vez mais em contato com o verde,
com os recursos naturais.
Em consequência disso, os impactos negativos aumentam em diferentes escalas geográ-
ficas: local, regional e nacional. ONGs e diversos órgãos que lutam em defesa do meio ambi-
ente vêm pressionando os governos e a iniciativa privada a criarem mecanismos que possam
diminuir os impactos ocasionados ao meios ambiente, por conta do desenvolvimento da ati-
vidade turística. Cabe ao Estado criar as leis e verificar se elas estão sendo respeitadas pelos
diferentes atores responsáveis pelo desenvolvimento do turismo.
Nesse contexto, vêm crescendo o desejo de desenvolver o chamado turismo naturalista,
divulgado pelos meios de comunicação e outros informantes como turismo ecológico. Esse
tipo de turismo caracteriza-se por conduzir o visitante ao contato com a natureza em grupos
pequenos e tende a caracterizar os fluxos turísticos do futuro.
De acordo com alguns especialistas, o meio ambiente pode ser entendido como a biosfe-
ra, formada pelas rochas, pela água e pelo ar que envolve a Terra. Somando-se a esses elemen-
tos devem ser citados os ecossistemas, os elementos bióticos e abióticos. Segundo ele, inserem-
se também no meio ambiente todos os recursos e objetos produzidos pelo homem: casas, ci-
dades, rodovias, monumentos históricos, sítios arqueológicos, dentre outros. Os padrões
comportamentais das populações, o folclore, o vestuário, a comida e os modos de vida em
geral, também, fazem parte do mesmo de acordo com esse estudioso.
Os elementos existentes no espaço, sejam eles criados pelo homem ou não, são os gran-
des atrativos para os turistas. Aqueles produzidos em épocas distantes e/ou pretéritas são obje-
tos de visitas constantes. Esses recursos são indispensáveis para o desenvolvimento do turismo
histórico e cultural. Porém, como afirmado anteriormente, vem crescendo o número de indi-
víduos que praticam o turismo ecológico. O fluxo de pessoas aumenta a cada ano para locais
com atrativos naturais. A natureza ganha nova valoração nos diferentes lugares do planeta.
Por conta disso, afirma-se que a relação entre a atividade turística e o meio ambiente é incon-
testável, uma vez que este último se constitui na “matéria-prima” da atividade. Embora esta
ideia seja divulgada entre os principais atores responsáveis pelo desenvolvimento do turismo,
77 GEOGRAFIA ECONÔMICA
o meio ambiente vem sofrendo com a omissão dos empresários em não promover o desenvol-
vimento do turismo sustentável.
Cientistas afirmam que desde o século XVIII , quando o turismo passa a ser entendido
como atividade econômica, até os dias atuais, ele apresentou diferentes características. No
primeiro momento (século XVIII), a atividade se caracterizava pela necessidade de se conhe-
cer a natureza e as comunidades receptoras. Nessa fase, os locais dos países subdesenvolvidos
ainda não eram visitados com esse fim.
A segunda fase, final do século XIX, caracterizava-se por um turismo elitista. Nesse
momento, também não havia a preocupação com a proteção ambiental e a intensificação da
procura por localidades estimulou a construção nos ambientes visitados.
A terceira fase caracterizou-se pela existência do turismo de massa e teve início a partir
dos anos 50 e teve seu apogeu nos anos 70 e 80 do século passado. De acordo com estudiosos,
esse período é o mais devastador e se caracteriza pelo domínio brutal do turismo sobre a natu-
reza e as comunidades receptoras.
Para esse mesmo autor, a fase atual está sendo marcada pelo desenvolvimento de um tu-
rismo que considera os problemas acarretados ao meio ambiente pela atividade. Após os anos
80, as caminhadas, o ciclismo, o mountain bike e toda uma série de esportes novos se desen-
volveram e necessitam de uma natureza preservada para serem praticados.
Embora a preocupação em desenvolver um turismo sustentável esteja presente nas dis-
cussões em universidades e centros de pesquisas, muitos empresários do ramo, não estão aten-
tos à preservação do meio natural. Os interesses econômicos de curto prazo geralmente invia-
bilizam a implantação de projetos turísticos sustentáveis. Os interesses econômicos
sobrepõem-se aos interesses pró-preservação dos recursos naturais.
Enquanto os impactos econômicos da atividade são obtidos numa escala curta de tem-
po, os impactos causados à natureza são difíceis de serem mensurados nessa mesma escala de
tempo, porque a natureza não responde com a mesma intensidade que a economia.
Os recursos naturais ganham maior relevância, sobretudo nos países subdesenvolvidos,
por conta de que a atividade turística tem sido uma das atividades que mais incrementam a
economia desses países. Para muitos, o turismo chega a ser a atividade que mais divisas traz ao
par Estado-nação. O turismo passa a ser uma espécie de tábua de salvação para a economia
desses países. Se essa atividade apresenta tamanha importância para essas economias, a natu-
reza, que é o recurso utilizado para desenvolvê-la, ganha maior importância, embora não te-
nha recebido os cuidados devidos.
Outro aspecto relevante na análise do turismo é discorrer sobre o contato estabelecido
entre o turista e a comunidade receptora. Para muitos estudiosos, existe um “fosso cultural”
entre o visitante e os membros da localidade. Normalmente, essa relação é superficial ou não
78 RUBEM TADEU
se dá de fato. O turista não interage com os membros da comunidade de forma a experienciar
os valores e os costumes dessas comunidades. O turista faz o seguinte percurso: aeroporto-
hotel-aeroporto.
As comunidades que, num pequeno período de tempo, passam a receber grande quanti-
dade de turistas sentem, ao longo do tempo, os impactos dessa chegada. São várias as conse-
quências: o preço dos alimentos, e aumenta também o índice de violência na localidade. Além
dessas modificações, em muitos casos, a população pobre desses locais não é absorvida pelas
ofertas de emprego no setor. Mesmo com esses impactos negativos para a comunidade, tem-se
observado que, em muitos lugares, as culturas locais bem como o artesanato passaram a ser
preservados de forma a se tornarem produtos a serem comercializados. Se a atividade turística
não chegasse, o artesanato local correria o risco de não ser mais produzido. Embora seja pro-
duzido principalmente para a venda, continua sendo produzido, mantendo as tradições da
localidade. Além disso, tende-se a valorizar a herança cultural, o orgulho ético e o patrimônio
cultural. Os impactos culturais desfavoráveis são: descaracterização do artesanato local, com
produção voltada somente para o consumo do turista; vulgarização das manifestações tradi-
cionais; arrogância cultural, em que o folclore local e outras manifestações culturais são ge-
ralmente apresentados aos turistas em salões especiais, com ar-condicionado e poltronas con-
fortáveis. Além disso, a destruição do patrimônio histórico pode se dar por conta do acesso de
turistas em massa, que pode comprometer as estruturas de bens históricos consideráveis, em
virtude da circulação excessiva de veículos e das ações depredatórias dos próprios turistas,
nem sempre controláveis.
Diante disso, pode-se afirmar que o turismo, considerado potencialmente uma excelente
oportunidade para o encontro entre povos, não tem sido aproveitado de forma ideal para esse
fim. Em vez de promover a compreensão e os relacionamentos humanos, ele favorece as rela-
ções econômicas, que permitem apenas os contatos precários, favorecem o lucro e provocam a
dependência excessiva da atividade por parte das destinações.
O comportamento humano é passível de mudança ao longo do tempo. Ruschamann (p.
47) identifica cinco estágios da crescente desilusão de uma comunidade receptora com a ativi-
dade turística. O estágio inicial é de euforia, no qual as pessoas estão entusiasmadas e vibram
com o desenvolvimento do turismo. A segunda fase é de apatia, à medida que a atividade cres-
ce e se consolida a população receptora, considera-se a rentabilidade do setor como garantia e
o turista passa a ser considerado um meio para a obtenção de lucro. A irritação caracteriza a
terceira fase, que se manifesta quando a atividade turística começa a atingir níveis de satura-
ção. O quarto nível se caracteriza pelo antagonismo. Os moradores já não disfarçam sua irrita-
ção e responsabilizam os turistas por todos os seus males. O quinto e último estágio ocorre
quando a população se conscientiza de que, na ânsia de obter todas as vantagens da atividade
79 GEOGRAFIA ECONÔMICA
turística, ela não considerou as mudanças que estavam ocorrendo e nem pensou em impedi-
las.
A atividade turística, assim como outras atividades econômicas, precisa ser estudada ca-
da vez mais por pesquisadores da Geografia. Esses estudos precisam dar conta de como o es-
paço geográfico tem sido transformado por conta dessa atividade.
Outro aspecto interessante e que deve ser ressaltado nesse texto é o fato de que a ativi-
dade turística pode ser entendida como fator de desenvolvimento regional. No entanto, esse
desenvolvimento deve resultar da prática de um turismo sustentável, turismo esse que deve
ser defendido por todos aqueles que entendem que é preciso preservar o meio ambiente e seus
recursos.
1. Teorias geográficas ligadas à discussão do comércio
1.1 CHRISTALLER – 1933
(A Teoria das Localidades Centrais) Residência de níveis estratificados de localidades
centrais, nos quais os centros de um mesmo nível hierárquico oferecem um conjunto seme-
lhante de bens e serviços e atuam sobre áreas semelhantes no que diz respeito à dimensão ter-
ritorial e ao volume da população. Os mecanismos fundamentais que atuam gerando essa hie-
rarquia de centros são, de um lado, o alcance espacial máximo e, de outro, o alcance espacial
mínimo. Christaller – um lugar central não distribui somente bens e serviços relativos a sua
importância, mas também a centros colocados em uma posição inferior. Não é possível que
todos os bens e serviços sejam oferecidos em todas as localidades centrais, fazendo decorrer
daí o principio de hierarquia. O principio básico é o de mercado.
Existem princípios gerais que regulam os números, tamanho e distribuição dos núcleos
de povoamento: grandes, médios e pequenas cidades, e ainda minúsculos núcleos semirrurais,
todos são considerados como localidades centrais. Todos são dotados de funções centrais, isto
é, atividades de distribuição de bens e serviços para uma população externa residente na regi-
ão complementar (hinterlândia, área de mercado, região de influência), em relação a qual lo-
calidade central tem uma posição central. A centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-
se ao seu grau de importância a partir de suas funções centrais: maior a população extrema
atendida pela localidade central, é maior a sua centralidade. Christaller definiu ainda 2 outros
conceitos, o alcance espacial (maximum range) e o de alcance mínimo (minimum range Thre-
shold). O primeiro refere-se à área determinada por um raio, a partir da localidade central
dentro desta área, na qual os consumidores efetivamente se deslocam para a localidade central
visando à obtenção de bens e serviços. A área em questão constitui a região complementar.
Para além dela, os consumidores se deslocam para outros centros que lhe estão mais próxi-
80 RUBEM TADEU
mos, implicando isto menores custos de transporte. O alcance espacial mínimo, por sua vez,
compreende a área em torno de uma localidade central que engloba o número mínimo de
consumidores que são suficientes para que uma atividade comercial em que serviços, uma
função central, possam economicamente se instalar.
1.2 A REDE DENDRÍTICA
Origem colonial. Valorização dos territórios conquistados pelo capital europeu que nas-
ce e se estrutura uma rede dendritica. As principais características são:
Concentra as principais funções econômicas e políticas da hinterlândia. Transforma-se
em um núcleo muito grande em relação aos demais centros da hinterlândia. Cidade primaz
comercial. Sistema primaz concentra a maior parte do comércio atacadista exportador e im-
portador.
Excessivo número de pequenos centros. Pequenos pontos de renda indiferenciados en-
tre si. E assim por causa do baixo nível de demanda da população e de sua limitada mobilida-
de espacial e da prioridade das vias e dos meios de transporte. Cada centro da rede recebe e
envia para um núcleo maior e mais próximo da cidade primaz. Tal padrão espacial de intera-
ções constitui-se, por outro lado, em um esquema de drenagem de recursos em geral; drena-
gem esta que privilegia parcialmente a cidade primaz, em detrimento de sua hinterlândia. Em
velocidade, na rede dendrítica, verifica-se, em consequência do padrão espacial de interações,
que à medida que se afasta da cidade primaz, os centros urbanos diminuem gradativamente de
tamanho populacional, no valor de vendas do comércio atacadista e em termos de expressão
política. As redes urbanas regionais do Piauí e Maranhão oferecem um exemplo de rede den-
drítrica.
1.3 A TEORIA DOS DOIS
O processo de modernização tecnológica, verificada nos países subdesenvolvidos após a
Segunda Guerra Mundial, por atuar de forma muito relativa, teve o papel, segundo Santos, de
dividir a vida econômica desses países em dois circuitos de produção, distribuição e consumo.
Um deles (o circuito superior) é diretamente resultante da modernização tecnológica, enquan-
to o outro (inferior) deriva, indiretamente, da citada modernização tecnológica, dirigindo-se
aos indivíduos que poucos ou nada se beneficiam com progresso, diferenças qualitativas e
quantitativas de consumo. Os dois circuitos são uma bipolarização que possuem o mesmo
conjunto de causas, apresentando-se interligados. Os dois circuitos em realidade, não estão
isolados entre si. A existência de uma classe média que utiliza um e outro circuito impede o
81 GEOGRAFIA ECONÔMICA
isolamento. Em segundo lugar, porque existem articulações de complementaridade e de de-
pendência, envolvendo intercâmbios de insumos entre os dois circuitos. Em longo prazo, apa-
rece a dependência do circuito inferior ao superior.
Circuito Superior – bancos, comércio, indústria. Voltados para exportação indústria
moderna, serviços modernos, empresas atacadistas e de transporte. Por sua vez, o circuito
inferior é construído por atividades que não utilizam capitais de modo intenso, possuindo
ainda uma organização primitiva: a fabricação de bens, certas formas de comércio e serviços
compõem a ampla gama do circuito inferior, que atende, sobretudo, às classes pobres.
1.4 AS PROPOSIÇÕES DE JACQUELINE BEAUJEAU GARNIER
O comércio aparece, sem dúvida, como o elemento que melhor traduz o tipo de socie-
dade em que está implantado. Esta importância reflete-se, materialmente, em instalações vari-
adas quanto ao local, à composição, ao nível de preços. Nos países capitalistas, a regra absoluta
é a de atrair o máximo de clientes, os de maior rendimento possível, e vender-lhes o máximo.
A nação de concorrência. O comércio por grosso na cidade. A implantação do comércio por
grosso em meio urbano. No entanto, foi possível distinguir cinco tipos de localização. Essa
tipologia apoia-se, essencialmente, nos mecanismos das operações e nos estabelecimentos
através das quais elas se realizam.
Escritórios de grandes sociedades nacionais ou internacionais, ou de grupos industriais
que representam o ramo de comercialização. Os escritórios situam-se no centro de negócios.
Alguns possuem armazéns na periferia da própria cidade ou em localidades vizinhas.
O escritório e o armazém encontram-se nos bairros periféricos, à busca de espaços vari-
ados e mais baratos.
De grossistas especializados, associa o fabrico à venda, isto é, a fabrica à loja. Vendem a
outros grossistas da cidade ou de países estrangeiros. Isto dá lugar ao nascimento de bairros
muito especializados (confecções e peles em Paris; confecções em Nova York).
Comercialização de produtos pesados: precisam de vias de comunicação (cais, docas de
mercadorias, ramais especiais, passagens de estados) precisam de áreas vastas, mais ou menos
arranjadas, de lugares, de terrenos livres e baratos. Os lugares de escritório ocupam áreas mui-
to pequenas.
Constituído por intermediários que se ocupam da comercialização de produtos alimen-
tares frescos. Estes cinco tipos aparecem, portanto, fundamentalmente ligados às comunica-
ções: telex e telefone, os escritórios centrais, visitas de compradores aos tipos vistos, produção,
comercialização, transporte de materiais ou de produtos acabados.
82 RUBEM TADEU
MAPA CONCEITUAL
Setores da Economia
Secundário Primário Terciário
Extrativismo
Agricultura
Pecuária
Indústria
Transformação
Construção Civil
Comércio
Administração
Serviços
83 GEOGRAFIA ECONÔMICA
ESTUDOS DE CASO
As atividades industriais desempenham um papel crucial na organização do espaço geo-
gráfico na sociedade moderna. A partir da Primeira Revolução Industrial, o mundo se trans-
formou e, ao longo do século XX, finalmente, tornou-se urbano. Neste contexto urbano-
industrial, observam-se áreas que se destacam pela sua densidade de sistemas técnicos, pro-
movendo uma maior fluidez, em detrimento de áreas desprovidas destas mesmas característi-
cas.
No Brasil, o desenvolvimento industrial ocorre nos anos trinta no Governo de Getúlio
Vargas. Analisando as repercussões e especificidades espaciais da distribuição industrial brasi-
leira, em busca de um melhor entendimento da dinâmica socioeconômica entre as unidades
da federação. .
Analisando o texto apresentado, responda as questões abaixo com citação de fonte de
consulta:
a) Cada estado brasileiro possui especificidades históricas e geográficas no seu processo
de industrialização. Como ocorreu historicamente a industrialização no seu estado?
b) Qual a importância industrial do seu Estado no contexto brasileiro? Explicite
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
QUESTÕES DO ENADE, ADAPTADAS DO ENADE OU SIMILARES
QUESTÃO 01
(ENADE, 2005) Considere os dados abaixo.
Produção automobilística em alguns países (mil unidades)
Países 1999 2004
Estados Unidos 13.025 11.989
México 1.550 1.565
Brasil 1.346 2.210
Reino Unido 1.976 1.856
Itália 1.701 1.142
84 RUBEM TADEU
Alemanha 5.688 5.570
Rússia 1.184 1.385
Índia 728 1.511
China 1.805 5.071
Coreia do Sul 2.843 3.469
Japão 9.895 10.512
Veículos Automotivos e Similares
(FONTE: ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DOS FABRICANTES DE).
A situação retratada na tabela pode ser explicada:
A) Pelo processo de transnacionalização das atividades econômicas que permitiu aos pa-
íses periféricos executar projetos industriais promotores do desenvolvimento autossustentado.
B) Pela crise do atual sistema mundial produtor de mercadorias que leva à relativa “de-
sindustrialização” nas regiões centrais, assim como a conversão das regiões periféricas pobres
em novos centros de produção, na tentativa de manter os níveis de rentabilidade do capital.
C) Pelas políticas de investimento das antigas regiões centrais altamente industrializadas
voltadas para a diversificação de seus parques industriais, devido à grande competitividade do
mundo globalizado.
D) Pelos acordos feitos entre os países periféricos para diminuir custos e participar
competitivamente do mercado global, dominado pelas grandes empresas.
E) Pelo desenvolvimento econômico desigual e combinado que tende a reduzir as dife-
renças entre os blocos de países mais ricos e mais pobres, na busca do desenvolvimento sus-
tentável.
QUESTÃO 02
(Teresópolis, 2005)
O novo endereço da indústria paulista. A partir de 1970, começou a ocorrer
uma relativa desconcentração industrial no Estado de São Paulo, com um
decréscimo da participação da região metropolitana na produção industrial
em favor do interior do Estado.
85 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Entre as razões dessa desconcentração não podemos incluir:
A) A redução das vantagens locacionais da região metropolitana, que estimula o deslo-
camento das indústrias para os tecnopolos surgidos ao longo dos eixos de industrialização.
B) A perda da importância da capital paulista nos setores industrial e financeiro, que
transfere o poder de gestão e decisão para novas áreas metropolitanas como a de Campinas.
C) As vantagens oferecidas por outros municípios – isenção de impostos, infraestrutura
industrial – que atraem os novos investimentos industriais para o interior.
D) Os índices de poluição e de insegurança na região metropolitana, que estimulam a
instalação das novas indústrias nas cidades que oferecem melhor qualidade de vida.
E) A fuga de empresas da região metropolitana, que é explicada pelas pressões exercidas
pelos movimentos sindicais na defesa dos direitos dos trabalhadores.
QUESTÃO 03
(CODEVASF 2003)
Apesar de o dinamismo da nossa industrialização não ter sido capaz de re-
solver o problema da demanda de empregos, ele significou, porém, um im-
portante fator de redistribuição da população ativa brasileira entre os dife-
rentes setores de nossa economia (Fonte: SCARLATO, F.C. População e
Urbanização Brasileira. In ROSS, J. L. S. (Org.). Geografia do Brasil. São Pau-
lo: EDUSP, 1996, p. 390).
Com base no texto acima, pode-se afirmar que, a partir da década de 1960, a economia
brasileira presenciou:
86 RUBEM TADEU
A) Uma distribuição quase homogênea da população entre os três setores de atividade
econômica, graças aos projetos de desenvolvimento industrial brasileiro;
B) Uma crescente expansão industrial, fato incapaz de alterar a relação existente entre a
parcela da população ativa e não-ativa, devido à tecnologia empregada nessa atividade;
C) Uma realocação da população economicamente ativa (PEA) no seu interior, o que
equiparou o Brasil a números comparáveis com os existentes nos países desenvolvidos;
D) Um crescimento tecnológico em seus diversos setores, uma vez que os setores agríco-
la e de serviços acompanharam a evolução e o desenvolvimento do setor industrial;
E) Uma participação majoritária da PEA no setor industrial da Região Sudeste, enquan-
to as demais regiões apresentam sua PEA alocada predominantemente no setor agrícola.
QUESTÃO 04
(SAD-MT, 2006) A rápida e desorganizada urbanização brasileira não é função direta da
industrialização, o que difere da urbanização dos países europeus. Isso tem gerado, nas regiões
metropolitanas brasileiras:
A) Um grande impulso da indústria do turismo;
B) Uma diminuição dos índices de desemprego no setor secundário;
C) Um aumento, exagerado, do consumo de bens duráveis;
D) Desemprego e subemprego, em larga escala, nas grandes cidades;
E) Um aumento dos índices de analfabetismo, em razão do êxodo rural.
QUESTÃO 05
(São Paulo, 2007) O crescimento das indústrias de bens de consumo duráveis no Brasil
esteve atrelado:
A) Aos interesses das multinacionais em expandir novas tecnologias.
B) A estratégia de exportação de tecnologia dos países desenvolvidos.
C) Ao aumento da classe média urbana com necessidades crescentes de consumo.
D) À possibilidade de fusão entre as empresas nacionais e multinacionais.
E) A independência deste tipo de indústria que não necessita integrar-se a outras.
87 GEOGRAFIA ECONÔMICA
CONSTRUINDO CONHECIMENTO
CURIOSIDADE
O Pantanal brasileiro é um dos locais com maior diversidade de seres vivos e a maior
superfície alagada do mundo. Além de se constituir em um dos mais importantes destinos
turísticos no Brasil, o extrativismo também contribui para a economia local. Todos os anos
são pescadas milhares de toneladas de peixes nos rios do Pantanal, sendo a piscicultura
uma atividade importante para a região, gerando divisas.
88 RUBEM TADEU
Estudos de caso
A proposta deste caso para ensino é investigar como os diversos tipos de conhecimento
ocorrem na comunidade onde você vive. Dentre os tipos que estudamos neste tema, escolha
um e observe como ele se expressa na sua cidade. Identifique uma dificuldade seja na forma
como ele é praticado, seja na forma como as pessoas lidam com ele. Formule uma questão-
problema de maneira interrogativa: seu objetivo será tentar respondê-la e propor sugestões de
solução para o problema levantado. Caso o tipo escolhido por você não seja observável na sua
cidade, identifique as causas disso e aponte soluções para fomentar a expressão desse conhe-
cimento. Comece o seu estudo de caso resumindo as principais características de cada tipo de
conhecimento estudado:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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EXERCÍCIOS PROPOSTOS
QUESTÃO 01
“Delimitar ou definir os fatos a investigar, separando-os de outros semelhan-
tes ou diferentes; estabelecer os procedimentos metodológicos para observa-
ção, experimentação e verificação dos fatos; construir instrumentos técnicos
e condições de laboratório específicas para a pesquisa; elaborar um conjunto
sistemático de conceitos que formem a teoria geral dos fenômenos estuda-
dos, que controlem e guiem o andamento da pesquisa, além de ampliá-la
com novas investigações, e permitam a previsão de fatos novos a partir dos já
conhecidos: esses são os pré-requisitos para a constituição de uma ciência e
as exigências da própria ciência.”
(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Disponível em:
<http://br.geocities.com/mcrost02/>. Acesso em: 11 out. 2007).
Com base na leitura do texto acima e características da atividade científica, é correto a-
firmar:
89 GEOGRAFIA ECONÔMICA
a) O texto retrata a ciência como um todo integrado no qual interagem as implicações
metodológicas e contextuais na produção de um saber pelas causas, racional, sistemático e
planejado.
b) A ciência deve possuir um único objeto de estudo, porém, o texto acima coloca diver-
sos objetos diferentes para a investigação científica, como a metodologia, a técnica e os fenô-
menos da realidade.
c) O texto acima compreende a dimensão lógica do conhecimento científico, pois esta-
belece uma cadeia de causas e efeitos logicamente determinados, deixando de lado os aspectos
metodológicos e materiais.
d) A busca do ser humano pela compreensão da realidade foi responsável pela criação
desse modo particular de conhecimento, o científico, reconhecido de acordo com as caracte-
rísticas apresentadas desde a Antiguidade.
QUESTÃO 02
“[...] o cotidiano é a hora da verdade. [...] É ali, no cotidiano, que sujeitos en-
carnados lutam, sofrem, são explorados, subalternizados, resistem, usam as-
túcias para se defender das estratégias dos poderosos, se organizam para so-
breviver, e assim vivem, lutam, sobrevivem e, como todos os mortais, um dia
morrem”. (GARCIA, 2003, p. 195).
Com base no fragmento acima, associado aos estudos sobre o conhecimento popular e
conhecimento científico, analise as proposições a seguir:
I. A experiência cotidiana dos indivíduos é inadequada para a realização de estudos ci-
entíficos, pois os objetos formais de investigação devem ser isentos de conflitos, valores e ex-
pectativas do dia a dia.
II. No cotidiano, o conhecimento popular se constrói a partir da experiência, originando
um conhecimento superficial e não causal, isto é, sem a preocupação em definir as causas que
geraram os fenômenos.
III. As estratégias dos sujeitos mencionadas no texto correspondem à vivência cotidiana
na qual o conhecimento popular é construído sem sistematização e sem a aplicação de méto-
dos, aspectos que o caracterizam.
IV. Conhecimento popular e conhecimento científico se aproximam, já que ambos rea-
lizam reflexões aprofundadas, construindo instrumentos capazes de explicar fenômenos da
natureza e do cotidiano, transmitidos e modificados de geração para geração.
Das proposições acima, estão corretas, apenas:
a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) III e IV.
90 RUBEM TADEU
91 GEOGRAFIA ECONÔMICA
2 OS HOMENS, A SOCIEDADE E A
ECONOMIA
BLOCO TEMÁTICO
92 RUBEM TADEU
93 GEOGRAFIA ECONÔMICA
OS HOMENS, A SOCIEDADE E A ECONOMIA
2.1 TEMA 3. A SOCIEDADE DE CONSUMO E O ESPAÇO
2.1.1 CONTEÚDO 1. A CIRCULAÇÃO E OS TRANSPORTES5
Tem por objetivo analisar, descrever e avaliar a importância dos transportes e das co-
municações para a atividade econômica através dos seus usos e aplicações.
1. Transportes: Conjunto de todos os meios utilizados para conduzir pessoas e bens no
espaço, tipo de serviço que faz parte de setor terciário da economia.
2. A importância dos transportes na economia moderna
Na economia moderna, com as pessoas e as mercadorias se deslocando com a maior fa-
cilidade para os lugares mais diversos, os sistemas de transportes têm grande importância,
grande significação. Dois elementos possibilitam esta circulação de pessoas e de mercadorias:
a rapidez e a capacidade de carga dos veículos para transportar grandes volumes e pesos.
5 Conteúdo construído com a contribuição da Bibliografia de ANDRADE, 1985.
94 RUBEM TADEU
Comparando o tempo gasto na viagem e peso das mercadorias transportadas, compreende-se
por que pode haver tão grande intensificação das relações comerciais no último século. A
mesma revolução operou-se no interior dos continentes, onde os transportes eram feitos em
lombos de burros ou em carros de tração animal e passou a ser feito em caminhões e trens,
com muito maior velocidade e capacidade de carga.
A distribuição das vias férreas e das rodovias no interior dos continentes, porém, é feita
de forma muito irregular, havendo grande concentração em algumas áreas – onde a pequena
densidade demográfica não permite a existência de ferrovias ou rodovias economicamente
viáveis e onde ainda são usados processos primitivos no transporte de mercadorias e de pesso-
as. A exploração madeireira, os desenvolvimentos da pecuária, da agricultura e da exploração
mineral são apontados como fontes de recursos que compensarão os investimentos feitos.
Além, naturalmente, do peso das razões geopolíticas.
As reflexões do Professor Manuel Correia de Andrade nos remete à importância dos
transportes para a construção da atual configuração do espaço no que diz respeito ao desen-
volvimento das atividades humanas.
Os tipos de transporte são classificados em: transportes terrestres, transportes marítimos
e transportes aéreos:
3. Os transportes terrestres
Classificados em ferroviários e rodoviários:
3.1 Ferroviários
No período de crescimento provocado pela Revolução Industrial. Foi graças às ferrovias
que se intensificou, na metade do século XIX, o comércio entre os portos e as regiões centrais,
permitindo uma integração nacional. São chamadas estradas de penetração, que aparecem
isoladas, como traços nos mapas, ao contrário das densas redes ferroviárias dos países desen-
volvidos.
As estradas de ferro no Brasil da segunda metade do século passado, nunca tiveram uma
grande malha ferroviária, em virtude de condições, como o relevo, a concentração dos produ-
tos de exportação em áreas restritas, próximas ao litoral etc.
3.2 Rodoviários
A princípio, os transportes rodoviários não foram utilizados para as grandes distâncias e
sim como complementares da rede ferroviária, transportando pessoas e mercadorias até as
estações e destas ao local de destino. As construções de grandes rodovias e as ampliações da
95 GEOGRAFIA ECONÔMICA
capacidade de carga dos veículos tornaram a mesma uma grande concorrente e não uma
complementadora da rodovia. No Brasil, as estradas foram construídas nas três primeiras dé-
cadas do século XX, sem obedecer a qualquer plano. Durante a Segunda Grande Guerra foi
que se compreendeu a necessidade de construir uma verdadeira rede nacional, quando, com o
torpedeamento de navios em nossas costas, as várias porções do país ficaram praticamente
isoladas umas das outras. A construção dessas estradas possibilitava a saída de uma fase de
rodovias de penetração para uma verdadeira rede rodoviária que seria um grande fator de
integração nacional.
4. Os transportes marítimos
Os grandes petroleiros – que transportam para os pontos mais distantes o petróleo, os
cereais, o café, o chá, as matérias-primas vegetais etc., podendo fazê-lo a baixo custo, aproxi-
mando das áreas produtoras de matérias-primas as áreas industrializadas mais distantes. Não
fosse a evolução dos transportes marítimos e o Japão, pobre em recursos minerais, não pode-
ria ser hoje a terceira potência industrial do mundo. A importância do porto depende, de mo-
do geral, de sua localização geográfica, das condições que oferece às embarcações e dos equi-
pamentos que possui. Rio de janeiro, nosso maior principal porto de importação. Os rios têm
sido o caminho natural de penetração nos continentes, dando grande contribuição ao povoa-
mento dos mesmos. Existência de portos que se colocaram entre os mais movimentados e
importantes do mundo. Na Europa, onde a rede fluvial é largamente utilizada para navegação
e os rios são ligados uns aos outros por canais, ela tem ainda hoje importância fundamental no
transporte de certas mercadorias, como o carvão e o petróleo.
5. Os transportes aéreos
Os transportes aéreos tiveram grande desenvolvimento no pós-guerra. Posteriormente,
graças a sua rapidez, a aviação passou a ser largamente usada no transporte de passageiros e de
mercadorias leves ou muito valorizada, nos países que possuíam grande extensão territorial e
deficiência de estradas. Daí sua maior utilização na América Latina e na África, inicialmente,
do que na Europa e nos Estados Unidos, servidos por excelentes rodovias e ferrovias.
96 RUBEM TADEU
6. As comunicações
O mundo moderno está bastante integrado, provocando a existência de uma grande re-
de de comunicações. Visando a fins comerciais, afetivos e culturais, a humanidade usa, de
forma dinâmica, os mais diversos meios para se comunicar. Dispondo de uma rede de trans-
missão potente, que se sucede a grandes distâncias, como corridas de automóvel, jogos de fu-
tebol, de basquetebol ou outros esportes e acontecimentos, programados com antecedência.
Quanto às comunicações individuais ou de empresas, para transmissão de notícias de interes-
se apenas para determinados grupos, podem ser feitas de forma discreta pelo telégrafo, pelo
telex e até por transmissões de radioamadores. Utilizando cabos submarinos, o telégrafo, po-
rém, perdeu importância, em face do sistema de transmissão pelo rádio, ou por meio de satéli-
tes, além das comunicações telefônicas, com o uso do DDD e do DDI, permitindo ligações
diretas interurbanas e internacionais, fazendo com que as pessoas se comuniquem rápida e
diretamente a grande distância.
Alguns meios de comunicação de ordem cultural, cuja transmissão não necessita ser i-
mediata, continuam a desfrutar de prestígio e de grande difusão. Assim, as ideias e as notícias
detalhadas de acontecimentos são transmitidas ao grande público, através de periódicos –
revistas e jornais. No Brasil, cidades centro-regionais têm larga difusão nos respectivos estados
e nos estados vizinhos, enquanto o das capitais e cidades importantes, mas cuja influência não
vai além das fronteiras estaduais, se circunscreveram ao Estado ou à sub-região em que são
impressos. Os jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, que fazem uma cobertura mais com-
pleta dos acontecimentos nacionais e internacionais, têm, graças ao rápido transporte aéreo,
circulação em todo país. Há jornais que são difundidos por todo o mundo, costumando im-
primir, que resumem os acontecimentos da semana, como o famoso Le Monde. Os correios
adquiriram tal eficiência que é comum fazer compras de artigos mais especializados que utili-
zam os serviços de reembolso postal. Os bancos também desempenham grande ação de co-
municação, transferindo, através de ordem de pagamento, importância de uma para outra
praça.
O desenvolvimento da tecnologia e a acumulação do capital, em nível nunca dantes co-
nhecido, têm facilitado a integração dos países, quer do ponto de vista nacional quer do inter-
nacional. Que esta tecnologia e este capital sejam utilizadas em benefício do homem e não
com fins de dominação e conquista é um desejo da maioria absoluta da humanidade.
97 GEOGRAFIA ECONÔMICA
2.1.2 CONTEÚDO 2. OS SISTEMAS ECONÔMICOS E A SUA ABORDAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
Tem por objetivo analisar, caracterizar e avaliar a importância dos sistemas econômicos
para a organização do espaço geográfico.
1. Os Sistemas Econômicos
Os sistemas econômicos que tiveram influência na vida da humanidade foram: o capita-
lismo, o socialismo, o comunismo, o liberalismo e o neoliberalismo. Estaremos expondo cada
um deles, dando uma ênfase maior para o capitalismo pelo fato do mesmo ter um maior raio
de influência no planeta.
2. O sistema Capitalista
Capitalismo é um sistema econômico assentado na hegemonia econômica, política e so-
cial dos detentores de capital, isto é, da burguesia que controla os meios de produção, circula-
ção e distribuição de bens. O desenvolvimento do capital industrial gerou o aparecimento de
classes, como a própria burguesia industrial e o proletariado, principalmente urbano, formado
por aqueles que, destituídos de capital, vendem sua força de trabalho como assalariados dos
capitalistas, estabelecendo com estes relações de produção capitalistas.
As origens do sistema capitalista remontam à Baixa Idade Média (séculos XI – XV),
quando a economia de mercado superou a economia de subsistência. Os bens produzidos tor-
naram-se mercadorias, pois passaram a ser vendidos em troca de dinheiro. Em geral, um gru-
po social ou unidade familiar produziu apenas para o seu consumo.
Desde suas origens, o capitalismo tem passado por sucessivas mudanças, até atingir sua
fase atual. A partir dos séculos XV e XVI, com as Grandes Navegações, os europeus percebe-
ram que as novas regiões descobertas poderiam ser importantes fornecedoras de produtos
comerciáveis – matérias-primas, açúcar, ouro, prata e especiarias – além de se tornarem con-
sumidores dos produtos fabricados na Europa. Essa fase do capitalismo ficou conhecida como
capitalismo comercial, pois a principal atividade desenvolvida nesse momento era a circulação
de mercadorias. Surgiu, assim, o mercado mundial ou internacional, ou seja, diferentes partes
do mundo tornaram-se produtoras e consumidoras de mercadorias. A segunda grande fase da
98 RUBEM TADEU
história do capitalismo veio com a Revolução Industrial no século XVIII. Nesse período, fo-
ram introduzidas muitas inovações na produção de mercadorias. As principais foram:
• A invenção da máquina a vapor, que tornou a produção mais rápida, permitindo fabri-
car uma grande quantidade de produtos.
• Novas formas de organizar os trabalhadores, como agrupá-los em fábricas e dividir as
tarefas por setores, fundamentais para o aumento da produtividade. Cada setor e cada traba-
lhador, especializando-se numa certa atividade necessária à elaboração do produto final, pu-
deram tornar-se, assim, muito mais eficientes.
Os avanços do capitalismo industrial ocorreram a partir da Europa, particularmente da
Inglaterra, de início, e, mais tarde, dos Estados Unidos, transformando profundamente as
formas de produção e as relações internacionais.
A industrialização foi a causa do grande crescimento da economia europeia e norte-
americana, o que levou, no século XIX, a uma nova colonização, particularmente da África e
da Ásia.
3. Comunismo
Sistema econômico, político e social baseado na propriedade coletiva dos meios de pro-
dução e na abolição do Estado. Para os materialistas históricos, seria uma etapa superior do
socialismo, após a superação do capitalismo e o desaparecimento das classes sociais. V. modo
de produção, socialismo.
4. O sistema socialista
A concepção de uma sociedade socialista, na qual os interesses sociais prevalecessem so-
bre os interesses individuais e houvesse igualdade entre as pessoas, começou a se desenvolver
no século XVIII e definiu-se melhor no século XIX. Concretamente, só no início do século XX
foram instalados governos socialistas, primeiramente na União Soviética e, mais tarde, em
outros países, em especial no leste da Europa.
O principal objetivo do socialismo é construir uma sociedade com o mínimo de desi-
gualdades. Para conseguir isso, o socialismo tem como princípios básicos a propriedade cole-
tiva dos meios de produção, pelos menos dos mais importantes, como as terras, as fábricas, os
bancos. Além disso, o sistema não admite que uns se apropriem dos frutos do trabalho de ou-
tros para fins de enriquecimento. A riqueza, portanto, incluindo suas fontes, deve pertence a
99 GEOGRAFIA ECONÔMICA
toda a sociedade. A construção coletiva de uma sociedade de homens livres e iguais. As terras,
as fábricas e os bancos, até as pequenas lojas, as oficinas mecânicas, as quitandas, as padarias,
as farmácias, tudo era propriedade do Estado. Havendo um único e grande patrão, os traba-
lhadores passaram a serem empregados do governo, recebendo salário por seu trabalho.
Como senhor absoluto das decisões nacionais, o governo planejava e dirigia a economia,
tendo em vista os interesses e objetivos que ele próprio estabelecia como sendo de toda socie-
dade. Para executar suas numerosas funções, o Estado foi pouco a pouco criando um imenso
quadro de funcionários, nem sempre necessário ao bom desempenho das atividades gover-
namentais. Surgiu assim uma enorme burocracia, responsável pelo consumo de boa parte dos
recursos nacionais. Esses recursos seriam mais bem aproveitados se fossem destinados a obras
e serviços em benefício da população.
Além disso, os dirigentes dos órgãos do governo obtiveram vantagens que a maioria da
população não possuía, como altos salários, residências confortáveis, automóveis etc. Apesar
dos desvios sofridos pelo socialismo, a União Soviética e os países do Leste da Europa passa-
ram a apresentar indicadores econômicos típicos dos países desenvolvidos. E isso graças, so-
bretudo, à planificação econômica introduzida pelo novo sistema. O plano regulava o quê,
onde, como e quanto produzir, bem como a forma de distribuir a produção. O governo apli-
cava os lucros da produção em obras para desenvolver a economia, corrigir as diferenças regi-
onais e prestar serviços, como assistência medica e educação, que eram gratuitas.
Foi assim que tais países tiveram um grande crescimento econômico, um considerável
avanço da ciência e da tecnologia, uma melhoria substancial dos transportes e das comunica-
ções.
A falta de liberdade em exagerado poder do governo criou problemas muitos sérios, que
foram se agravando com o tempo. A situação econômica dos países socialistas tornou-se mui-
to difícil.
Havia muita corrupção e muitos privilégios entre altos funcionários. As transformações
iniciaram-se por volta de 1986, na União Soviética, e atingiram grande intensidade a partir de
1989, tanto no campo econômico quanto social e no político. Propriedade particular, liberda-
de de produção, greves por melhores salários, instalação de empresas multinacionais, organi-
zação de sindicatos, liberdade de imprensa e religião, eleições livres – todos esses fatos, ausen-
tes por muitas décadas nos países de formação socialista, tornaram-se comuns na década de
1990. As transformações ocorridas nesses países produziram resultados diversos. Alguns anti-
gos países socialistas, com certa homogeneidade étnica e cultural e que, sobretudo, já tinham
tradição industrial, assemelham-se agora a países desenvolvidos capitalistas.
100 RUBEM TADEU
5. Liberalismo
Doutrina econômica, política e social que preconiza a legitimidade da propriedade pri-
vada dos meios de produção e do lucro e apregoa a livre concorrência em uma economia de
mercado sem interferência estatal, no plano econômico; liberdade de organização e de expres-
são, pluralismo partidário, eleições, sistema constitucional, autonomia dos poderes, no plano
político; criação de mecanismos de intervenção do Estado, que permite a criação de oportuni-
dades, como o acesso à educação para todos. No liberalismo, o Estado desempenha funções
mínimas, deixando a responsabilidade do mercado em organizar a sociedade.
6. Neoliberalismo
Corrente teórica que prega a redução de interferência estatal, especialmente na econo-
mia, responsabilizando-a pelos problemas como recessão e inflação, sendo a favor da chamada
“livre concorrência”, submetida à lógica do mercado. Um dos exemplos da atuação deste sis-
tema foi a privatização da Coelba e da Vale do Rio Doce. Demonstrando que o controle de um
setor foi transferido para a iniciativa privada.
2.1.3 CONTEÚDO 3. A ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA DO PLANETA E A SUA ABORDAGEM NO ENSINO MÉDIO
Tem por objetivo caracterizar, analisar e avaliar a organização econômica do planeta pa-
ra o espaço.
1. A organização Econômica do Planeta
101 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Para discutirmos a organização econômica do planeta, levaremos em consideração as re-
flexões anteriores ligadas aos setores da economia e principalmente aos sistemas econômicos,
desde a organização da sociedade, aos territórios de como são organizados.
A atual organização do planeta sofre as influências da Revolução Industrial ocorrida na
Inglaterra no que diz respeito à produção e aos procedimentos econômicos com a participa-
ção dos EUA nesta renovação dos procedimentos econômicos. Também não podemos esque-
cer de que a Política é essencial para validar os processos econômicos e esta influência nos foi
dada pela Revolução Francesa, ao criar esta forma de território através da nação e dos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário. Esta organização do Estado se mantém até hoje, dando o
tom das relações entre os territórios. Vamos aos conteúdos:
2. Os três mundos
A ampliação do mundo socialista, desde o fim da Segunda Guerra (1945), permitiu uma
outra classificação do espaço mundial, baseada em critérios políticos, além de socioeconômi-
cos:
• Primeiro Mundo – Países capitalistas desenvolvidos (Estados Unidos, Reino Unido,
França etc.).
• Segundo Mundo – Países desenvolvidos socialistas (União Soviética, Hungria, Tche-
coslováquia etc.).
• Terceiro Mundo – Países subdesenvolvidos, constituindo um conjunto muito hetero-
gêneo (Brasil, Nigéria, Índia etc.).
Com as profundas alterações sofridas pelos países socialistas, o Segundo Mundo desin-
tegrou-se, deixando de existir como tal. Assim, a classificação do espaço mundial em três
mundos perdeu a atualidade, pois não mais espelha a realidade de hoje.
No entanto, por força da tradição, ainda se usa muito a expressão Primeiro Mundo,
principalmente para identificar os países mais avançados do ponto de vista do desenvolvimen-
to econômico e tecnológico e da organização da vida social e política. Também permanece a
expressão Terceiro Mundo, usada para designar o conjunto de paises marcados pela subordi-
nação externa (econômica, tecnológica e política) e por grandes desigualdades sociais internas.
102 RUBEM TADEU
3. A oposição Norte – Sul
No fim do século XX e início do novo milênio, é possível dividir o espaço mundial entre
paises ricos e países pobres, as desigualdades entre esses grupos, aliás, acentuaram-se nos anos
1980 e 1990.
Com exceção da Austrália e da Nova Zelândia, os países ricos, desenvolvidos em graus
variados, localizam-se no hemisfério norte. No Sul, ficam os países pobres, considerados sub-
desenvolvidos. Por isso, os países ricos são chamados de países do Norte, enquanto os países
pobres são conhecidos como países do Sul.
4. Os níveis de desenvolvimento
O capitalismo avançou de maneira diferenciada no espaço mundial. Num primeiro
momento surgiu nos países europeus e posteriormente, foi estendido às colônias, tanto ao
longo dos séculos XVI e XVII quanto a partir do século XIX, com a chamada fase imperialista.
Assim, sua evolução influiu de modo significativo na organização do espaço e nas diferentes
paisagens geográficas, pois determinou o nível de desenvolvimento dos países, principalmente
no decorrer do século XX.
Desde o início dos anos 1990, a ONU classifica, anualmente, os países segundo o que
denominou IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.
Esse índice expressa a qualidade de vida das pessoas com base na renda per capita, no
grau de saúde e nas condições educacionais da população. O grau de saúde é indicado pela
expectativa de vida, isto é, pelo número de anos que as pessoas vivem em média, o que, por
sua vez, depende muito da mortalidade infantil. As condições de educação referem-se ao anal-
fabetismo e à taxa de matrículas no ensino fundamental, médio e superior.
4.1. Os países desenvolvidos
As principais características dos países desenvolvidos são:
• Agricultura intensiva, isto é, moderna e racional, com emprego de máquinas, técnicas
eficientes de produção e mão de obra qualificada. Como consequência, uma pequena parcela
da população empregada na agricultura consegue elevada produtividade, geralmente capaz de
sustentar a população de todo país.
• Nível científico e tecnológico elevado, responsável por um constante aperfeiçoamento
das atividades humanas.
• Meios de transporte e comunicação modernos e eficientes.
103 GEOGRAFIA ECONÔMICA
• Forte predomínio da população urbana sobre a população rural.
• Baixo crescimento natural da produção.
• Elevada qualidade de vida da população, características expressa através de:
• baixas taxas de mortalidade infantil;
• alta expectativa de vida;
• reduzido número de analfabetos;
• boas condições de alimentação e habitação.
Mas há significativas diferenças entre os países desenvolvidos. Alguns atingiram um ele-
vado nível de desenvolvimento tecnológico e comandam as principais empresas mundiais.
4.2. Os países subdesenvolvidos
Os países subdesenvolvidos apresentam duas características essenciais:
• Grandes desigualdades sociais, que se expressam pela existência de uma minoria rica
ou muita rica, enquanto a maioria da população é pobre ou muito pobre.
• Dependência econômica em relação a países desenvolvidos, característica que se mani-
festa sobre tudo através de:
• Considerável dívida externa para com governos e principalmente bancos estrangeiros;
• Forte influência de empresas estrangeiras, chamadas multinacionais ou transacionais,
que controlam grande parte das atividades econômicas dos países subdesenvolvidos.
Os países subdesenvolvidos possuem ainda outras características, quase sempre ligadas
às duas principais. São elas:
• Grande população trabalhando na agricultura, mas com baixa produtividade, devido à
falta de técnicas e meios modernos de produção (agricultura extensiva).
• Baixo nível de conhecimento científico e tecnológico.
• Sistemas de transporte insuficientes.
• Elevado crescimento natural da população.
• Cidades com crescimento muito rápido e cercadas por bairros pobres e miseráveis.
• Grandes diferenças entre uma região e outra, como, por exemplo, entre o Sudeste e o
Nordeste do Brasil.
• Baixa qualidade de vida da maior parte da população, característica expressa por:
• alta taxa de mortalidade infantil;
104 RUBEM TADEU
• más condições alimentares, que trazem como consequência baixa capacidade
para o trabalho e grande facilidade em contrair doenças;
• baixa expectativa de vida da população;
• elevada proporção de analfabetos.
Existem grandes diferenças entre os países subdesenvolvidos. Alguns chegam a ter certas
características de país desenvolvido, como agricultura intensiva e predomínio da população
urbana sobre a rural.
Mas todos apresentam algumas semelhanças fundamentais, como a dependência em re-
lação aos países desenvolvidos e a grande concentração de renda. Esta é responsável pela situ-
ação de pobreza e miséria em que vive grande parte da população.
Por que as multinacionais escolhem os países subdesenvolvidos para se instalarem?
O pilar principal do capitalismo atual, de um mundo marcado pela facilidade de comu-
nicação e transporte de ideias e materiais, sem dúvidas é aquele formado pelas empresas mul-
tinacionais. Estas têm seu surgimento marcado no final do século passado, sendo que os prin-
cipais grupos presentes hoje, em sua maioria, nasceram nas primeiras décadas deste século.
Porém, foi só depois da II Guerra Mundial que estas empresas "supranacionais" tomaram sua
posição de hegemonia na economia mundial, sendo que a renda anual das maiores multina-
cionais supera o PIB de muitos países.
O processo pelo qual ocorreu esta expansão explosiva de empresas que superam a fron-
teira de seus países de origem é a própria essência do que é uma multinacional: competição e
eliminação de concorrência.
Quando estudado o surgimento de qualquer multinacional típica, nota-se que, primei-
ramente, esta passou por um período de dominação do mercado interno. No seu caminho em
direção a esta supremacia na sua área específica, uma determinada empresa – futura multina-
cional – se vale de todos os elementos possíveis para diminuir o número de concorrentes, e,
consequentemente, o número de participantes com quem terá que dividir as fatias do bolo
"lucros". Isto pode ocorrer de duas formas – que geralmente ocorrem ao mesmo tempo: 1)
Inovação em sua área, seja por invenção de um produto revolucionário, por uma maneira
nova de fabricar um produto já existente ou mesmo transporte e prestação de serviços sobre
os itens anteriores. 2) Obtendo vantagens através de formação de cartéis, trustes, e (ou) atra-
vés de acordos ilícitos com outras empresas ou com o governo.
105 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Como exemplos do primeiro caso, temos a divisão do trabalho e linha de produção cria-
da por Henry Ford, a percepção de Rockfeller de que quem dominasse o transporte do petró-
leo dominaria este mercado, ou a de Bill Gates sobre softwares como o futuro dos computado-
res, o que pôs a Microsoft como uma das maiores multinacionais do mundo.
No segundo caso, estão as vantagens obtidas pelo próprio Rockfeller em pagamento
menor de impostos e taxas, ou as constantes acusações de que a Microsoft tenha feito lobby
para derrubar novas empresas que surgiram no seu mercado.
Uma vez dominado o mercado interno, esta empresa sai para tentar o mundo, num pro-
cesso idêntico ao anterior: o peixe grande comendo o pequeno, e os pequenos unindo-se para
não serem devorados. Após consolidadas no mercado internacional, as mais ou menos 10 em-
presas que dominam o seu determinado mercado continuam o seu antigo objetivo de "não
repartir o bolo". Os instrumentos para isto variam de acordo com a área: na automobilística, a
inovação de seus modelos a cada ano, impossível de ser acompanha por pequenas empresas.
Na área do petróleo, o baixo preço cobrado pelo produto, mesmo que as "7 irmãs" detenham
praticamente o monopólio mundial de sua distribuição.
O que busca uma multinacional? Primeiramente, um mercado mundial aberto aos seus
produtos e às suas fábricas, daí o mito globalização tão defendido por EUA e Japão – estes
mesmos muito fechados. Neste mundo sem fronteiras, elas optarão por países que apresentem
mão de obra barata, matéria-prima abundante e incentivos fiscais.
Como agem? Atualmente, elas instalam fábricas nos países com as condições acima ci-
tadas. Estas não necessariamente fabricam o produto completo, mas sim certas partes em cada
país, unidas em terceiros países e de lá exportadas para o resto do mundo. Exemplo: o carro
"Mondeo" da Ford. Dos lucros obtidos em um determinado país, parte deles é reinvestido,
mas outra parte – que varia de acordo com a lei interna – são exportados à matriz e possivel-
mente investidos em outros países, o que dá uma falsa impressão de rendimento interno no
país, uma vez que os lucros exportados são contados no PIB do país em questão.
Consequências de sua existência: estas empresas acabam por ter um enorme poder sobre
as decisões dos países em que são sediadas. As pressões dos países que as sediam, somadas às
dos órgãos que ditam as direções a serem tomadas, sempre em favor destes e de suas multina-
cionais, e ao esquema de remessa de lucros, constroem uma teia da qual fica quase impossível
a fuga para os países periféricos por ela explorados. Existem teorias que tentam apresentar
soluções de como sair deste "beco", como a de Fernando Henrique Cardoso, contudo é notória
a sua precariedade em apresentar uma saída eficaz, principalmente no que se refere às péssi-
mas condições de vida dos habitantes destes países "escravos".
Para estudar os diferentes países do mundo contemporâneo, pode-se agrupá-los toman-
do como base o desenvolvimento, em especial o padrão de vida das populações. A classifica-
106 RUBEM TADEU
ção feita com base em indicadores sociais é sempre provisória, pois está sujeita às alterações
que ocorrem no seio da sociedade ao longo do tempo.
Essa divisão é cada vez mais utilizada na atualidade: Estados do Norte e Estados do Sul,
ou países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. Essa divisão que, segue o critério social,
não é rígida e permanente como a localização por continentes. Ela é complexa e sujeita a dú-
vidas e polêmicas.
Conforme podemos observar no mapa abaixo, a divisão entre países do Norte e do Sul
não têm o Equador como linha divisória, mas sim o nível de pobreza ou de riqueza de sua
população. Os países ricos ou desenvolvidos estão situados em sua maioria ao norte do Trópi-
co de Câncer, e os países pobres ou subdesenvolvidos localizam-se em grande parte ao sul do
Trópico de Câncer. A linha divisória entre o Norte industrializado e o sul subdesenvolvido,
portanto, não é uma linha reta, e sim uma curva: ela passa pela fronteira entre Estados Unidos
e México, entre a Europa e a África, e no Oriente, no oceano pacífico, faz uma grande abertura
para o sul, para incluir a Austrália e a Nova Zelândia no Norte.
5. Organizações que influenciam nas relações econômicas do planeta:
G-7: O Grupo dos Sete é formado pelos setes países mais industrializados do mundo re-
úne, desde meados dos anos 70, Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Uni-
do e Canadá – mais a Rússia. O presidente da União Europeia participa de suas “reuniões de
cúpula” e, desde 1994, a Rússia está em seus planos políticos. A doutrina que orienta as políti-
cas do G-8 baseia-se na estabilização, liberalização e privatização.
OPEP: A Organização dos Países Exportadores de Petróleo foi fundada em Bagdá, em
1960, por iniciativa da Venezuela e por mais 13 membros.
A ONU (Organização das Nações Unidas): fundada em 1945, está dirigida para impor-
tantes objetivos. É composta por seis órgãos principais: Assembleia Geral, Conselho de Segu-
rança, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela, Corte Internacional de Justiça e
Secretaria Geral.
Além disso, cerca de trinta organizações especializadas, que constituem o que é conhe-
cido por sistema das Nações Unidas, cobrem praticamente todos os campos do desenvolvi-
mento. É preciso, ainda, distinguir, de um lado, as instituições que, mesmo pertencendo ao
sistema das Nações Unidas, são autônomas (FAO, UNESCO, FIDA, OMS, OIT, ONUDI etc.,
bem como o FMI, o grupo do Banco Mundial – BIRD, AID, SIF) e, de outro lado, os órgãos
propriamente ditos das Nações Unidas (PNUD, CNUCED, UNICEF, HCR, PAM, UNITAR,
107 GEOGRAFIA ECONÔMICA
FNUAP etc.). Pelo fato de possuírem caráter e influência próprios, o FMI e o Banco Mundial
conquistaram grande independência.
PRINCIPAIS ÓRGÃOS DA ONU
Assembleia Geral: É o principal órgão deliberativo. Cada estado – membro dispõe de
um voto. A assembleia se reúne em sessões. O funcionamento repousa em sessões plenárias e
em sete grandes comitês:
• Primeiro comitê: questões políticas e de segurança.
• Comitê político especial: questões políticas diversas.
• Segundo comitê: questões econômicas e financeiras.
• Terceiro comitê: questões sociais, humanitárias e culturais.
• Quarto comitê: território sob tutela e territórios não autônomos.
• Quinto comitê: questões administrativas e judiciárias.
• Sexto comitê: questões jurídicas
CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL
Colocado sob a autoridade da Assembleia geral, o conselho econômico e social. Coorde-
na as atividades econômicas e sociais das Nações Unidas e das instituições especializadas. É
composto de 54 membros, dentre os quais 18 são eleitos anualmente por um período de três
anos.
Os comitês permanentes tratam das questões de programa e coordenação, organizações
não governamentais recursos naturais, ciências e técnicas a serviço do desenvolvimento etc. A
comissão das sociedades transnacionais e a comissão das instituições humanas são, também,
órgãos permanentes.
As comissões econômicas regionais: Comissão Econômica para a Europa, CEE. Comis-
são Econômica e Social para a Ásia e Pacifico (CESAP, com sede em Bancoc), Comissão Eco-
nômica para a América Latina e Caribe (CEPAL, com sede em Santiago do Chile), Comissão
Econômica para a África (CEA, com sede em Adis Abeba) e a Comissão Econômica para Ásia
Ocidental (CEAO, com sede em Bagdá).
108 RUBEM TADEU
As comissões técnicas: Comissão de Estatística, Comissão da população, Comissão do
Desenvolvimento Social, Comissão dos Direito Humanos, Comissão da Condição da Mulher,
Comissão dos Estupefacientes.
CNUCED: A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(CNUCED). É uma organização que desenvolve a análise e o debate Norte-Sul. Tem por órgão
permanente o Conselho do Comércio e do Desenvolvimento. Criada em 1964 porque os paí-
ses em desenvolvimento julgavam o GAT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) preocupado
demais apenas com as posições dos países industrializados.
OIT: Organização Internacional do Trabalho. Tornou-se a primeira instituição especia-
lizada das Nações Unidas. A OIT reúne os representantes dos governos, empregados e traba-
lhadores, com o objetivo de recomendar normas internacionais básicos e redigir convenções
internacionais no campo do trabalho. A OIT é constituída por uma conferência geral anual,
por um conselho de administração composto de 56 membros.
FMI: Fundo Monetário Internacional. Aconselha os governos no campo financeiro. O
Fundo pode, também, vender divisas e ouro a seus membros para facilitar-lhes o comercio
internacional. Ele criou uma moeda internacional, o DES (Direito de Emissão Especial). O
Fundo é constituído por um Conselho de Governadores, nomeados por cada um dos estados
membros, por administradores e por um diretor geral.
BANCO MUNDIAL: A criação do Banco Mundial foi decidida ao mesmo tempo que a
do FMI, por ocasião da Conferência Monetária e Financeira de Bretton Woods, em 1944. O
grupo do Banco Mundial compreende atualmente:
• BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, citado em 1945);
• AID (Associação Internacional para o Desenvolvimento), fundo criado em 1960;
• SFI (Sociedade Financeira Internacional), criada em 1956;
• AMGI (Agência Multilateral de Garantia dos Investimentos), criada em 1988.
OMC – Organização Mundial do Comércio. Criada nas discussões finais da Rodada do
Uruguai do GATT, para assumir a coordenação e regulamentação das políticas de comércio e
serviços, a partir de 1 de janeiro de 1995, em substituição ao GATT – Acordo Geral de Tarifas
e Comércio, criado em 1948.
109 GEOGRAFIA ECONÔMICA
(FONTE: HTTP://GLOBOBRASIL.FILES.WORDPRESS.COM/2009/08/DIVISAO20NORTE20E20SUL2.JPG)
2.1.4 CONTEÚDO 4. OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO
Tem por objetivo analisar, caracterizar e avaliar a importância dos processos de produ-
ção para a atividade econômica.
Os processos de produção a que nos propomos analisar são forjados em determinados
territórios e momentos históricos. Inseridos em aspectos políticos/ culturais e obedecendo,
várias vezes, objetivos comerciais e econômicos que não consideram os mesmos processos
(políticos, culturais, históricos e sociais) no momento da sua aplicação.
1. O TAYLORISMO
Dentre estas formas de gestão, o taylorismo se caracteriza por racionalizar a produção,
padronizando os tempos e movimentos do trabalhador, disciplinando-o e controlando-o atra-
vés de horários, fardamento etc.
O taylorismo controla o tempo do trabalhador e o limita através da hierarquização na
estrutura da fábrica, apropriando-se do conhecimento desenvolvido pelo trabalhador, tendo
como principal representação o artesão, que possuía todo o controle da sua produção indivi-
dual, mas, que foi perdendo este controle pela subordinação do trabalho ao capital. Desta
110 RUBEM TADEU
forma, acontece a hierarquização dentro da fábrica, através da tomada de decisões vinda ex-
clusivamente da gerência, havendo uma separação entre os que pensam e os que executam.
2. O FORDISMO
O fordismo tem características muito próximas ao taylorismo, destacando-se a raciona-
lização da produção e padronização de tempos e movimentos do trabalhador, também o dis-
ciplinando, através de horários e fardamento e outras tarefas executadas dentro da fábrica,
diferenciando o chão da fábrica do teto, objetivando a separação do pensamento (gerência) e
da ação (o trabalhador/operário). Havia persuasão para um bom funcionamento das fábricas.
Com incentivo à produção através do consentimento de salários mais altos, benefícios e ga-
nhos de produtividade. Com o fordismo é assumida a exploração existente entre o empregado
e empregador (a mais-valia), assumindo esta desvantagem para com o trabalhador, através do
pagamento de bons salários e a elaboração de leis trabalhistas, assumindo assim o pacto social
(Estado de bem- estar social).
Existe um grande controle do trabalhador para que o mesmo se dedique exclusivamente
à fábrica, através da vigilância a sua atividade sexual, política e de lazer; não permitindo que o
mesmo se desviasse do pensamento da produção. Outras características estão no parcelamen-
to de tarefas, avanços da mecanização através da introdução da esteira rolante, produção em
massa de bens padronizados, salários relativamente elevados e crescentes (incorporando ga-
nhos de produtividade). Além da incorporação de amplos segmentos aos mercados de traba-
lho e de bens de consumo, políticas de pleno emprego, pacto com os sindicatos (estes reco-
nheciam a direção da fábrica em troca de aumentos reais de salários).
Propondo-se a não somente mudar a estrutura econômica de uma época, mas também
de mudar a concepção do homem, adaptando-o nos aspectos culturais e sociológicos.
A década de 1980 presenciou, nos países de capitalismo avançado, profundas transfor-
mações no mundo do trabalho, nas suas formas de inserção na estrutura produtiva, nas for-
mas de representação sindical e política. Esta década se caracterizou por um salto tecnológico:
a automação, a robótica e a microeletrônica invadiram o universo fabril, inserindo-se e desen-
volvendo-se nas relações de trabalho e de produção do capital. Vive-se, no mundo da produ-
ção, um conjunto de experimentos, mais ou menos intensos, mais ou menos consolidados,
mais ou menos presentes, mais ou menos tendências, mais ou menos embrionários. O fordis-
mo e o taylorismo já não são os únicos e mesclam-se com outros processos produtivos (neo-
fordismo, neotaylorismo, pós-fordismo), decorrentes das experiências da “Terceira Itália”, na
Suécia (na região de Kalmar, do que resultou o chamado “Kalmarianismo” ou “Volvismo”),
do Vale do Silício, nos EUA, em regiões da Alemanha, entre outras, sendo em alguns casos até
substituídos, com a experiência japonesa a partir do toyotismo.
111 GEOGRAFIA ECONÔMICA
As mudanças das atuais condições da conjuntura internacional, iniciadas na década de
80, que têm como principais características: a globalização e o neoliberalismo são transforma-
ções marcadas por grandes avanços tecnológicos e a ruptura do pacto social. Este contexto
trouxe a procura de novas formas de gestão que conseguissem se adaptar a nova realidade do
mercado. Dentre estas novas formas de gestão estão: o toyotismo, a Terceira Itália e o volvis-
mo.
3. Os novos processos de produção
O trabalho repetitivo tem sido substituído pelo trabalho criativo, que atende às constan-
tes variações do cotidiano da linha de produção. Começam a surgir os Círculos de Controle de
Qualidade, nos quais grupos de trabalhadores reúnem-se e discutem a melhoria da qualidade
do produto e o aumento de produtividade. Em contraste com o fordismo e o taylorismo, em
que a responsabilidade e a habilidade de cada trabalhador ficavam restritas a uma única tarefa,
nos Círculos de Controle de Qualidade implantados nas empresas mais modernas, o trabalha-
dor passa a ter conhecimento de todo o processo produtivo e a nele intervir. É provável que,
em pouco tempo, o trabalho repetitivo, característico da indústria até recentemente, fique
restrito à ação das máquinas.
O Japão tem sido pioneiro na criação dos novos métodos de produção, mais ágil e flexí-
vel, que estão sendo adaptados às indústrias em quase todo o mundo.
3.1. O TOYOTISMO (modelo japonês)
Caracteriza-se pela racionalização do trabalho, flexibilização da produção e do trabalho;
produtividade, redução de custos/ melhor qualidade; mobilização do saber operário e o envol-
vimento dos trabalhadores com o trabalho; polivalência; constituição do trabalho parcei-
ro/produtivo; gerência científica, separação entre concepção e execução do trabalho, gerência
participativa, cultura da qualidade total, cooperação e parceria entre capital e trabalho, produ-
tividade, competitividade, prêmios.
Houve inovação no toyotismo com a microeletrônica (nova base tecnológica), trabalho
em equipe, just-in-time, kanban, CCQs, CEP; prêmios/participação; programas de
TQC/terceirização/subcontratação; seleção para empresa (não por posto); envolvimento inci-
tado.
As implicações sociopolíticas são nova mobilização do saber/ nova qualificação; consti-
tuição de duas categorias: “estáveis” e os subcontratados; desregulamentação do mercado de
trabalho; desemprego estrutural; precarização das condições de trabalho/saúde/ação coletiva.
A relação com os sindicatos acontece através do: despotismo hegemônico (camuflar o con-
112 RUBEM TADEU
fronto – diluição do confronto – classes sociais / patrão e empregado); desmantelamento dos
sindicatos; sindicato – empresa; individualização e destruição dos coletivos de trabalho; preca-
rização da ação coletiva e sindical.
3.2. O MODELO ITALIANO – TERCEIRA ITÁLIA
Caracteriza-se pela produção de pequenas e médias empresas em distritos industriais
acompanhada de uma complementaridade, uma solidariedade entre as empresas, recebendo
um apoio das prefeituras. As mudanças trazidas estão na produção em massa, na desverticali-
zação da atividade produtiva, surgimento de novos padrões de divisão do trabalho, descon-
centração produtiva, inserção do trabalhador no processo produtivo (integração de cada indi-
víduo ao grupo).
3.3. O VOLVISMO
Com relação ao volvismo, caracteriza-se por um conceito de administração da produção
desenvolvida nas fábricas da Volvo, na Suécia, a partir do início dos anos 70, e que representa-
va uma combinação de incorporação do progresso técnico e formas tradicionais de produção,
isto é, a introdução da automação com métodos manuais de fabricação, o que resultou em
grande flexibilidade de produto e de processo, além de representar uma redução da intensida-
de de capital. Em grande medida, esta forma combinada deveu-se à participação ativa dos sin-
dicatos de trabalhadores na incorporação de novas tecnologias nos processos produtivos. A-
lém destes padrões, pode-se destacar: modelo de organização baseado no trabalho em grupo,
na união da execução e concepção, no enriquecimento dos cargos com a junção de tarefas
antes separadas pela divisão do trabalho, na qualificação dos operários; grande intervenção
jurídica e uma jurisdição que beneficiava o trabalhador.
113 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Parabolicamará
Gilberto Gil
Antes mundo era pequeno porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê volta do mundo camará,ê mundo da volta camará
Antes longe era distante perto só quando dava
Quando muito ali defronte e o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes dendê em casa camará
Ê volta do mundo camará, ê ê mundo da volta camará
De jangada leva uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação
De jangada leva uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação
Pela onda luminosa, leva o tempo de um raio
Tempo que levava rosa pra aprumar o balaio
Quando sentia que o balaio ia escorregar
Ê volta do mundo, camará, ê ê mundo da volta camará
Esse tempo nunca passa não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabeça, nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau, meu camará
Ê volta do mundo, camará, ê ê mundo da volta camará uma eternidade, de
saveiro leva uma encarnação
De jangada leva uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação
De avião o tempo de uma saudade
Esse tempo não tem rédea vem nas asas do vento
O momento da tragédia, Chico Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino apresentar
Ê volta do mundo camará, ê ê mundo da volta camará...
114 RUBEM TADEU
MAPA CONCEITUAL
A Sociedade de Consumo e o Espaço
Circulação e Transporte Comunicação
Aquático
Terrestre
Aéreo
Duto
Telefonia
Internet
Televisão
Rádio
Sistemas Econômicos
Capitalismo
Liberalismo
Socialismo
Comunismo
Processos de produção
Fordismo
Taylorismo
Toyotismo
Volvismo
115 GEOGRAFIA ECONÔMICA
ESTUDOS DE CASO
O MERCOSUL é um bloco econômico formado por países da América do Sul que se
congregaram com a ideia de cooperar mutuamente para eliminar barreiras alfandegárias e
incrementar o comércio entre os membros do bloco. Tudo começou com quatro nações e o
seu sucesso despertou o interesse dos países vizinhos, tais como a Bolívia, cujo gás exportado
para o Brasil e Argentina responde por quase a totalidade de suas exportações.
Mas, em novembro de 2008, o presidente Evo Morales nacionalizou as reservas bolivia-
nas de hidrocarbonetos, confiscando-as da Petrobrás, a multinacional petrolífera estatal brasi-
leira, sem indenização, causando um grande prejuízo financeiro e um clima de hostilidade
diplomática. Também os preços do gás foram drasticamente elevados, sem negociação com
nenhum dos clientes (Brasil e Argentina).
Diante deste acontecido, vista a “carapuça” de presidente do Brasil, pense, reflita e res-
ponda:
a) Por você, qual a probabilidade da Bolívia ingressar no MERCOSUL, diante de sua in-
flexibilidade diplomática?
b) A Argentina aceitou o reajuste do preço do gás imposto por Morales, reconhecendo
que o seu valor estava muito baixo. Você também aceitaria? Justifique-se citando uma notícia
que comprove sua decisão?
Baseado em: BBC Brasil. Bolívia vai triplicar venda de gás para a Argentina. São Paulo,
17 dez. 2008. Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2006/10/061019_bolivia_argentina_dg.shtml.
Acesso em: 21 set. 2009.
116 RUBEM TADEU
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
QUESTÕES DO ENADE, ADAPTADAS DO ENADE OU SIMILARES
QUESTÃO 01
(Adaptado de UFBA, 2006).
Do ponto de vista da história de sua implantação, a indústria se localizou
primeiramente na Inglaterra, onde encontrou as condições necessárias ao seu
surgimento, como grau de desenvolvimento técnico e condições de acumula-
ção de capital. Elas surgiram dentro da cidade: perto do mercado e da mão
de obra. No século XIX, as instalações industriais se localizavam perto das
bacias hulhíferas exploradas. A produção petrolífera e a introdução da ener-
gia elétrica permitiram novas escolhas no que se referia à localização das in-
dústrias. Assim, a localização industrial evolui [...] ao longo do processo his-
tórico, exigindo novas formas de pensar o fenômeno, reforçando o fato de
que a questão locacional deve ser analisada em sua dinâmica (CARLOS,
2000, p. 21-22).
A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre a industrialização no Brasil e no
mundo, marque F para as alternativas falsas e V para as verdadeiras:
( ) Os Estados Unidos e a Federação Russa ocupam, atualmente, os dois primeiros lu-
gares entre os países industriais, apoiados em suas imensas reservas de petróleo e de gás natu-
ral e no alto poder aquisitivo de seus mercados internos.
( ) As primeiras concentrações industriais eram urbanas, ocorreram no final do século
XVIII, na Inglaterra, seguidas da Alemanha, porém, no século XIX, as instalações industriais
se localizavam perto das explorações hulhíferas, atingindo outros países da Europa e da Amé-
rica do Norte.
( ) A Era Vargas (1930-1945) foi marcada pelo crescimento industrial decorrente da
implantação do modelo que visava substituir as importações de bens de consumo, sendo fun-
damental a participação do Estado como investidor.
( ) As refinarias e as instalações petroquímicas só podem ser localizadas nas regiões
produtoras de petróleo, pois a proximidade da fonte de energia e de matéria-prima é funda-
mental na instalação dessas indústrias.
117 GEOGRAFIA ECONÔMICA
( ) O governo Juscelino Kubitschek favoreceu a instalação de filiais de grandes empre-
sas multinacionais no Brasil, que passaram a controlar importantes setores industriais, como o
automobilístico e o de eletrodomésticos.
Qual o resultado correto de alternativas verdadeiras e falsas?
A) V, V, F, V, F.
B) F, V, F, F, V.
C) F, V, V, F, V.
D) V, F, F, V, V.
E) F, V, F, V, F.
QUESTÃO 02
(MPU, 2004) Avalie as afirmativas a seguir e assinale a opção correta.
I. O conceito de "integração econômica" é recente, passando a ser utilizado em seu sen-
tido atual após a Segunda Guerra Mundial, sendo um fenômeno comum no mundo deste final
de século.
II. Os processos de integração econômica são conjuntos de medidas de caráter econômi-
co e comercial que têm por objetivo promover a aproximação e, eventualmente, a união entre
as economias de dois ou mais países.
III. Os modelos de integração baseiam-se, fundamentalmente, na vontade dos Estados
de obter, através de sua adoção, vantagens econômicas que se definirão, entre outros aspectos,
em termos de: (1) aumento geral da produção, através de um melhor aproveitamento de eco-
nomias de escala; (2) aumento da produtividade, através da exploração de vantagens compa-
rativas entre sócios de um mesmo bloco econômico, e; (3) estímulo à eficiência, através do
aumento da concorrência interna.
IV. Quase todas as grandes economias mundiais encontram-se, de alguma forma, en-
volvidas em processos de integração econômica, por exemplo: NAFTA (North American Free
Trade Agreement), União Europeia, Pacto Andino e Mercosul.
A) I, III e IV estão corretas. D) I, II e IV estão corretas.
B) Todas estão corretas. E) I, II e III estão corretas.
C) I e IV estão corretas.
118 RUBEM TADEU
QUESTÃO 03
(SAD-MT, 2006) A expansão do comércio mundial acarretou a abertura de novas fron-
teiras, principalmente agrícolas, além de investimentos variados realizados por empresas na
construção de “pequenas cidades” (infraestrutura básica: estradas, casas, creches etc.). Essas
empresas estão à procura de:
A) Diminuição da concorrência comercial entre empresas de mesmo porte;
B) Expansão dos lucros através da importação de matérias-primas a preços baixos ori-
undas de países subdesenvolvidos;
C) Captação de novas formas de produção e novas tecnologias, pleiteadas pelos países
hospedeiros, com oferta de mão de obra barata e qualificada;
D) Novos aliados econômicos que financiem estudos científicos sobre produtos trans-
gênicos, a fim de aumentar os lucros da produção;
E) Expansão dos lucros através da captura de novos mercados consumidores, além de
subsídios oferecidos pelos governos, como doação de terrenos públicos, isenção de impostos
etc.
QUESTÃO 04
(SE-PE, 2006) É um conjunto de ideias contrárias ao keynesianismo. Seus adeptos mais
destacados são Friedrich Hayek e Milton Friedman. Os políticos e os economistas que seguem
esse modelo ressaltam a necessidade da abertura da economia e a eliminação de barreiras aos
investimentos estrangeiros diretos. Por essas características apontadas, pode-se dizer que se
trata do:
A) Neoliberalismo.
B) Neo-keynesianismo.
C) Mercantilismo.
D) Novo pensamento marxista-leninista.
E) Protecionismo econômico.
119 GEOGRAFIA ECONÔMICA
QUESTÃO 05
(Adaptado de Araçatuba, 2000) A entidade que tem como principal função a regula-
mentação do comércio internacional é:
A) OMC.
B) OPEP.
C) Clube dos Treze
D) Mercado Comum.
E) Clube dos Sete.
120 RUBEM TADEU
CONSTRUINDO CONHECIMENTO
INDICAÇÃO
Recomendamos o CD Geografia Divertida, por tratar de assuntos pertinentes a Geo-
grafia de maneira a utilizar a lógica. Este CD contém jogos para auxiliar no aprendizado da
Geografia, envolvendo países, gentílicos, clima, relevo, vegetação etc. Apresenta um conte-
údo diversificado de aspectos pertinente à ciência geográfica, sendo de grande utilidade
para alunos e professores.
Para maiores informações acesse o site www.sogeografia.com.br.
Seguem, abaixo, tópicos constantes no CD:
• Qual é o País? – Identifique as bandeiras dos países.
• Montando o Brasil – Monte o mapa do Brasil, posicionando cada estado no local a-
dequado.
• Blocos Econômicos – Aponte os países que pertencem a cada bloco econômico (Mer-
cosul, União Europeia, ALCA...).
• Qual é a Capital? – Teste seus conhecimentos sobre as capitais mundiais.
• Os Gentílicos – Descubra os gentílicos das pessoas de diversos estados e cidades bra-
sileiras.
• Pontos Turísticos – Indique a localização de pontos turísticos nacionais e internacio-
nais.
• Clima Brasileiro – Relacione cada tipo de clima com a sua descrição.
• Agentes Modeladores do Relevo – Arraste o nome dos agentes modeladores de acor-
do com as informações exibidas.
• O Ciclo das Rochas – Posicione corretamente os nomes dos processos de formação
das rochas.
• Vegetação Brasileira – Relacione cada tipo de vegetação com sua descrição.
• Os Idiomas – Indique os idiomas falados em diversos países.
• Qual é a População? – Tente adivinhar a população de diversos países.
• Populoso ou Povoado? – Identifique os países populosos e os povoados.
• Coordenadas Geográficas – Arraste os pontos até as coordenadas correspondentes
no mapa.
• Hinos Nacionais – Escute os hinos e tente identificar seus respectivos países.
121 GEOGRAFIA ECONÔMICA
2.2 TEMA 4. EM PROCESSO DE MUDANÇA
2.2.1 CONTEÚDO 1. A DINÂMICA DA MUDANÇA DOS PROCESSOS ECONÔMICOS
Tem por objetivo analisar a dinâmica das mudanças dos processos econômicos e as suas
características.
1. Estados Unidos como Primeira Potência Mundial
Os Estados Unidos se tornou o país mais rico do mundo depois da Primeira Guerra
Mundial. Uma aparência de riqueza generalizada tomou conta da população norte-americana,
que pensava em desfrutar condições de vida melhores que a de outros povos. Os capitais das
pessoas influentes participavam em investimentos em todos os países do planeta. A euforia
dos anos 20 era incontrolável para os americanos e essa década ficou conhecida como os Lou-
cos Anos 20. Pois, para quem era maior de idade e pertencia à classe media ou à burguesia, nas
grandes cidades dos Estados Unidos, foram dez anos de uma grande farra. Para começar, fazer
compras virou parque de diversão dos adultos e o ideal dessas famílias era possuir o último
modelo de carro, geladeira, fogão, rádio, aspirador de pó. A indústria não parava de inventar
novos bens de consumo.
Nessa era, defendia-se a ideia de que consumir era um ato de patriotismo, ajudava os Es-
tados Unidos a continuar crescendo. A classe média estava adorando e quase todo o planeta
invejava o american way of life (modo de vida americano).
Para se ter uma ideia, de cada 100 carros que o mundo inteiro produzia 85 eram ameri-
canos. As fábricas americanas, sozinhas, produziam mais que o quíntuplo de automóveis de
todas as outras fábricas do mundo industrial. E isso não ficava somente nos automóveis, os
Estados Unidos eram os maiores produtores mundiais de aço, comida enlatada, carvão, petró-
leo, rádio, e quase tudo que se possa imaginar.
A indústria cinematográfica surgiu naquela época, ajudando a difundir o estilo de vida
americano em todo o mundo, inclusive no Brasil. Foi nos anos de 1920 que Hollywood, na
Califórnia, ganhou a fama de capital mundial no cinema, e milhares de salas de projeção fo-
ram abertas em várias partes do mundo. Igualmente importante na época foi o crescimento da
122 RUBEM TADEU
indústria radiofônica e a criação de centenas de estações de rádios nos Estados Unidos, pois,
pela primeira vez na história, pessoas que nunca haviam se visto partilhavam das mesmas ale-
grias e tristezas, ouviam e debatiam os mesmos acontecimentos.
O cinema e o rádio também ajudaram na campanha das mulheres pela conquista do di-
reito ao voto, em agosto de 1920. Depois de décadas de lutas e debates, as mulheres norte a-
mericanas com mais de 21 anos conquistaram o direito de votar e de disputar todos os cargos
eletivos.
Toda essa euforia econômica também se refletia nas manifestações culturais. Foi um pe-
ríodo de grande produção musical em um gênero que ficou mundialmente famoso: o jazz.
Assim como o rap e o hip hop, o jazz é um gênero musical surgido entre a comunidade negra
e pobre dos Estados Unidos e muitas de suas letras eram inspiradas nas experiências sociais
dos seus compositores e intérpretes negros e pobres, que buscavam, na música, canais de ex-
pressão de sua condição humana. No final do século 20, o jazz ainda dividia opiniões. Os gru-
pos mais conservadores da sociedade americana o consideravam uma música indecente, liga-
da a marginais, prostitutas e alcoólatras. Pouco a pouco, no entanto, o jazz encontrou muitos
ouvintes, fazendo sucesso também entre as plateias brancas e ricas.
2. O crack da bolsa: começa a crise mundial
Na quinta-feira “negra”, 24 de outubro de 1929, começou a pior crise econômica da his-
tória do capitalismo. A bomba estourou na “bolsa de valores de Nova Iorque”. De repente as
ações das grandes empresas sofreram uma queda vertiginosa, perdendo quase todo o seu valor
financeiro. Os investidores correram para vender as ações, mas ninguém queria comprar, só
vender. E os valores continuaram despencando.
As empresas foram forçadas a reduzir o ritmo de sua produção. Em função disso, pro-
moveram a demissão em massa de seus funcionários. Terminava o sonho do “American way
of life”. Durante a crise, somaram-se 15 milhões de desempregados. Muitos empresários sim-
plesmente não puderam sobreviver à queda brutal das encomendas, tiveram tantos prejuízos
que não conseguiram pagar as dívidas e foram à falência. Muitos bancos não receberam de
volta o que haviam emprestado, indo à falência também.
O crack (quebra) da bolsa de valores de Nova Iorque era apenas o começo. Naquela é-
poca, a economia mundial já estava bastante interligada. A crise americana fez com que os
Estados Unidos importassem menos de outros países. Estes tinham uma porção de mercado-
rias que, antes, exportavam para os Estados Unidos e, agora, estão encalhadas, também parti-
cipando na roda da crise. Um sintoma da crise mundial foi o fato de, apenas algumas horas
123 GEOGRAFIA ECONÔMICA
depois da queda da bolsa de Nova Iorque, estourarem também países altamente industrializa-
dos, como Londres, Berlim, Tóquio.
Mas, para ninguém se enganar, a crise realmente começou em 1929, mas, em 1930, ela
estava pior ainda, e foi piorando a cada ano que passava. Essa terrível crise atravessou a déca-
da inteira, período que ficou conhecido como A GRANDE DEPRESSÃO.
Com a crise de 1929, grande parte do volumoso estoque de café, produzido no Brasil, fi-
cou sem mercado consumidor. Milhares de sacas de café foram queimadas, numa desesperada
atitude para se manter os preços. Tudo em vão. Foi impossível conter o desastre econômico
que abalou a classe cafeicultora brasileira e, por consequência, as próprias estruturas políticas
da República Velha, abrindo caminho para a Revolução de 1930, que levaria Getulio Vargas ao
poder. Entretanto, houve uma exceção à URSS que, isolada e socialista, quase não sofreu com
a crise de 1929, a qual abalou o mundo inteiro.
3. Crise econômica: rumo a um novo modelo de desenvolvimento
A partir de meados dos anos 60, o modo de desenvolvimento fordista entra abertamente
em crise. As alavancas macroeconômicas que asseguraram o crescimento de ouro dos “Trinta
Gloriosos” (trinta anos de crescimento) se revelam fragilizados ou servem até mesmo de obs-
táculo à acumulação capitalista. O fordismo aparece com perda de velocidade, entravado em
seu impulso pela conjunção de uma crise de eficácia e de um esmorecimento de legitimação: a
cadeia de produção peca por “rigidez”, ao passo que a “cadeia” das certezas de um desenvol-
vimento inesgotável é quebrada de maneira patente. A adoção das diversas estratégias pelos
dirigentes capitalistas não logrou impedir nem o agravamento dos problemas estruturais de
lucratividade, nem (no nível macroeconômico) a perda de eficácia do complexo modo de “re-
gulação fordista”. Por isso, o sistema de produção em massa se encontra abalado, desvitalizado
tanto pela crise disciplinar dos métodos taylorianos/fordistas, como pelo espectro da não re-
produtibilidade do “compromisso” fordista rastejante. Se, durante o período do crescimento
da base material do “compromisso”, era assegurado (“a maré montante soerguia os barcos”),
os tempos de crise transformam o compromisso em “confrontação aberta sem compromisso”
(BIHR, 1991).
Adotam-se estratégias de “saída” do fordismo e tendências à experimentação flexível do
trabalho se esboçam para fazer face à escassa produtividade da coerção direta. O capital, tendo
como principal objetivo à restauração do lucro, questiona o “compromisso” da relação salarial
num esforço para tornar concorrencial o conjunto dos componentes da relação salarial fordis-
ta (flexibilidade). Como sublinha R. Boyer, “de um ponto de vista geral o problema – chave,
para as economias capitalistas, é o da restauração das condições de valorização, sem que sejam
solapadas as bases da realização”. Uma vez em que a reprodução da força de trabalho é parte
124 RUBEM TADEU
integrante e quantitativamente importante do circuito do capital, a relação salarial deveria
tentar “internalizar” o caráter fundamentalmente contraditório desses dois imperativos. Neste
contexto, as estratégias capitalistas de racionalização/flexibilização – comparáveis a uma re-
vanche de classe de alcance histórico – remodelam a totalidade das práticas de socialização
fordista. Daí uma ruptura, “sem dúvida parcial, gradual, menos marcada nos fatos que nos
discursos, mas ruptura, e que nem por isso é menos real e costumada” (BIHR, 1991).
A ruptura na qual o capital aposta sua “salvação” é, antes de tudo, uma modalidade de
aprofundamento das relações capitalistas. A era “eletrônica” da acumulação capitalista não é a
de um lento refluxo da exploração da força de trabalho pelo capital, mas, ao contrário, um
momento histórico singular em que o reexame do “compromisso” da relação salarial fordista e
busca de novas fontes de produtividade se conjugam (pelo jogo de práticas imanentes) com a
complexificação da concorrência intercapitalista e uma nova configuração internacional da
divisão do trabalho com mudanças na composição intersetorial da acumulação, deslocação
das unidades para zonas de baixos salários, tendência a privilegiar unidades de produção me-
nores, em que o processo de trabalho é mais flexível e em que se efetuem economias máximas
nos custos de produção. A hipótese da crise do fordismo, como aprofundamento das relações
capitalistas, é aqui conceituada como destruição dos quadros de reprodução social em vigor,
por meio de um processo de desintegração social cujo triunfo outra coisa não é senão a conso-
lidação de um novo bloco hegemônico de classe alta a classe capitalista, a classe do enquadra-
mento capitalista e largas camadas da pequena burguesia intelectual e técnica. A eclosão e a
recomposição do mundo do trabalho – num contexto socioeconômico em que o campo sis-
temático de integração se encolhe – marcam esse período de “transição” de contornos incer-
tos. Se o regime de acumulação fordista é deslocado (estando o movimento operário, por ora,
incapaz de sair do limiar do “compromisso” fordista), o projeto de um novo modelo de de-
senvolvimento é indefinível e confuso. Como as novas estratégias capitalistas (em suas varia-
ções “liberal-produtivistas” ou “social-produtivistas”, para retomar a distinção proposta por
Alain Lipietz) têm estruturalmente a iniciativa, elas subvertem as relações de produção e os
equilíbrios sociopolíticos ao redistribuir os mapas do poderes. O aumento das “marginaliza-
ções sociais de massa” que acompanham o desdobramento dessas estratégias é um índice a-
propriado para se avaliar o seu impacto sociopolítico.
4. A nova geografia do mundo
Adaptado de Marcos Sawaya Jank, presidente do ICONE, "O Estado de São Paulo" –
01/06/2004 – p. A2.
Em suas viagens, o presidente Lula tem mencionado a necessidade de os países em de-
senvolvimento estabelecerem uma nova Geografia de relações econômicas e comerciais. No
125 GEOGRAFIA ECONÔMICA
nosso caso, o novo traçado passaria pela integração da América do Sul, pela reaproximação
com a África e a Ásia e pelo fortalecimento das relações com as demais grandes baleias – Chi-
na, Índia e Rússia.
A união comercial dos países em desenvolvimento vem sendo cantada em eloquentes
discursos pelo mundo afora, desde o fim da era colonial. Uma nova tentativa para avançar na
matéria vai ocorrer de 14 a 18 de junho, quando centenas de países e ONGs se encontrarão
aqui, em São Paulo, para a XI Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvol-
vimento (Unctad).
Faz todo o sentido baleias e peixes, de todos os tamanhos, dos mares do Sul se reunirem
com maior frequência, principalmente se tais encontros resultarem na abertura recíproca das
suas economias, cujos benefícios vêm sendo assinalados por centenas de estudos nas últimas
décadas.
O resultado mais provável, no entanto, será os países constatarem mais uma vez que a
nova Geografia comercial do mundo em desenvolvimento tem sido bem mais efetiva no dis-
curso do que na realidade, e que o chamado Terceiro Mundo é muito mais heterogêneo do
que parece aos desavisados. Basta tomar o caso da agricultura: enquanto países como o Brasil
brigam pelo livre comércio, a maioria dos países em desenvolvimento luta para preservar as
suas elevadas proteções comerciais e tornar permanentes as condições preferenciais de acesso
que recebem dos países desenvolvidos. Comércio livre versus comércio preferencial é apenas
uma das áreas de conflito de interesses entre países em desenvolvimento.
A nova Geografia do mundo está longe de ser Sul-Sul, não é Leste-Oeste, marca princi-
pal dos tempos da guerra fria, nem mesmo Norte-Sul, no sentido do velho paradigma das re-
lações de dependência centro-periferia. Ocorre que a globalização está enterrando todas as
formas de compartimentalização hemisférica, continental ou mesmo sub-regional do mundo.
Ou seja, a Geografia Econômica tende a ignorar as geografias física e humana. Por exemplo,
novos acordos bilaterais do tipo Japão-México e Chile-China contradizem a lógica das fron-
teiras físicas. O outsourcing de contadores, engenheiros e call centers na Índia redesenha o
mapa do trabalho.
A China e a Índia ganharam destaque do novo mapa econômico-comercial, principal-
mente porque milhões de consumidores potenciais estão deixando a autossuficiência primiti-
va e a pobreza absoluta nesses países. Na base da revolução dos dois gigantes, que somam um
terço da população mundial, se encontra a combinação de reformas institucionais profundas
com um lento e seguro movimento de abertura e integração comercial ao exterior. Vários ou-
tros países do Sudeste Asiático ocupam posições centrais no novo mapa comercial porque
souberam implementar reformas institucionais profundas e equilibrar os fundamentos ma-
croeconômicos. Alguns deles se destacam também por suas políticas horizontais de investi-
mento em educação, saúde e infraestrutura.
126 RUBEM TADEU
Na última década, o Brasil certamente avançou no rumo correto e Lula tem conseguido
manter o rumo da nau, mas ainda falta percorrer um bom pedaço do caminho. Continuare-
mos inseridos no mapa se o governo mantiver o equilíbrio das contas públicas e não obstruir
o movimento de capitais, se soubermos manter a estabilidade das regras do jogo, se conse-
guirmos completar projetos inacabados, como a reforma tributária e a consolidação do Mer-
cosul, e se não fecharmos opções de integração como a Alca e o acordo com a União Europeia.
Tenho tido o privilégio de vivenciar de perto um período extraordinário da história do
agronegócio brasileiro, que hoje desperta enorme interesse, curiosidade e respeito em todos os
cantos do planeta. Explodimos no mapa do agronegócio mundial simplesmente porque per-
mitimos que as nossas vantagens comparativas seculares se transformassem em renda, comér-
cio e eficiência.
Abrimos a economia e reduzimos a intervenção do Estado no setor. Investimos em pes-
quisa e tecnologia tropical e, apesar dos percalços, conseguimos avançar na infraestrutura de
suporte e no respeito aos contratos e direitos de propriedade, ainda que estas duas últimas
áreas estejam agora se deteriorando a olhos vistos. A respeitabilidade internacional do agro-
negócio nasceu com os índices de crescimento contínuo da produção e produtividade e ga-
nhou maturidade com as investidas recentes da política comercial brasileira nos contenciosos
do algodão e do açúcar e na liderança inconteste do Brasil no G-20 – o grupo de países em
desenvolvimento que se formou nas negociações agrícolas da Rodada de Doha da Organiza-
ção Mundial do Comércio (OMC). Graças à agricultura, deixamos de ser um país eminente-
mente defensivo na arena mundial, que buscava apenas preservar as suas políticas protecionis-
tas, e passamos a ocupar uma posição central e ofensiva como demandantes de um comércio
mais livre e justo.
Em suma, o Brasil fará parte da nova Geografia do mundo se souber fazer a economia
crescer com eficiência, equidade e sustentabilidade. Se conseguir aumentar os fluxos de expor-
tações, importações e turistas, atrair investimentos, exportar as suas marcas e empresas e mu-
dar as percepções negativas sobre o País que ainda persistem no exterior. A nova Geografia
comercial não é mais aquela derivada das chagas da era colonial, das teorias conspiratórias
sobre a perversidade do grande capital, de discursos terceiro-mundistas vazios e de patriota-
das desnecessárias. Ela é, sim, traçada por países que estão buscando criar novas oportunida-
des de integração comercial, que completam reformas institucionais profundas e conseguem
manter as regras do jogo, mostrando resultados concretos em termos de estabilidade, cresci-
mento econômico e atração de investimentos produtivos. A nova Geografia do mundo é de-
terminada, acima de tudo, pela eficiência econômica.
127 GEOGRAFIA ECONÔMICA
5. Os grandes desafios econômicos do mundo atual6
Aos avanços decorrentes dos processos de radicalização ideológica e de reassimilação
Leste-Oeste contrapõem-se, porém, novos desafios. A nova ordem geopolítica mundial resul-
tante das grandes mudanças do final da década de 80 e início da de 90 traz, entre outros, dois
desafios de alta relevância:
A transposição do modelo bipolar, fundamentado em radicalizações ideológicas, para o
modelo multipolar, centrado na capacidade de competição no campo econômico. A consoli-
dação dos processos de integração econômica e política e a dilatação das novas esferas ma-
crorregionais de coprosperidade. As questões globais para o futuro dizem respeito a pelo me-
nos quatro grandes desafios.
O primeiro é a consolidação da nova ordem geopolítica, que emergiu da desradicaliza-
ção político-ideológica e da reassimilação Leste-Oeste. O segundo é a universalização do de-
senvolvimento: um desafio que implica o rompimento dos círculos viciosos do retardamento
econômico há muito tempo instalados em grande número de países pobres. O terceiro é con-
ciliar a expansão da competitividade das empresas, que implica tecnologia avançada de pro-
dução e de gestão e estruturas organizacionais enxutas, com a expansão das oportunidades de
emprego para fator trabalho. E a quarta é a sustentação do crescimento econômico, em face
das exigências globais de preservação do meio ambiente. Estas quatro questões podem ser
sintetizadas em uma só: a conciliação de desempenho econômico satisfatório sem liberdade
políticas amplas.
O primeiro grande desafio tem estreitas relações com a consolidação da nova tendência
político – ideológica centrípeta – o que implica a superação de confrontações ancoradas em
radicalismos. Desde o pós-guerra até a metade dos anos 80, o mundo ficou dividido entre du-
as ideologias antagônicas. O modelo era bipolar, fundamentado em realizações políticas Ago-
ra, consolida-se uma ordem geopolítica multipolar, centrada na capacidade de competição de
grandes blocos no campo econômico. A consolidação dos processos de integração econômica,
que dão suporte a nova ordem geopolítica, e a dilatação das esferas de coprosperidade que
dela decorrem sintetizam esse primeiro desafio.
O segundo é uma espécie de subproduto desta nova ordem: a universalização do desen-
volvimento.
O terceiro grande desafio é também um subproduto da nova ordem geopolítica: concili-
ar a expansão da competitividade das empresas com a expansão das oportunidades de empre-
6 Texto construído com Rosetti (1997).
128 RUBEM TADEU
gos para o fator trabalho. O outro grande desafio tem a ver lado, a expansão da produção; de
outro lado, a preservação ambiental.
2.2.2 CONTEÚDO 2. A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS7
Tem por objetivo caracterizar, analisar e avaliar a formação e a importância dos blocos
econômicos para a atividade econômica. Para iniciarmos a discussão da mudança da lógica
econômica, é importante compreendermos a transição das economias nacionais para as eco-
nomias em blocos regionais. Vejamos o conceito de bloco econômico.
1. Bloco econômico
Acordo visando à associação e integração de políticas econômicas entre os países de
uma determinada região geográfica ou área de influência, no sentido de ampliação dos mer-
cados e fortalecimento de suas respectivas economias nacionais. A criação de blocos econômi-
cos tem se intensificado com o processo de crescente globalização ou mundialização da eco-
nomia, e suas propostas são de alcance diferenciado, ou seja, alguns blocos econômicos se
limitam a promover políticas de isenção alfandegária sobre os produtos dos países membros,
enquanto outros avançam no sentido de promover uma moeda única e completa integração
dos mercados. Os blocos econômicos mais importantes, por ordem dos respectivos PIBs acu-
mulados, são: APEC – Associação de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacifico, NAFTA –
Acordo de Livre Comercio da América do Norte, UE – União Europeia. Os Estados Unidos da
América do Norte participam dos primeiros.
2. A reorganização da economia mundial
A formação de blocos econômicos não é um fenômeno que surgiu do nada. Principal-
mente após a Segunda Guerra Mundial, muitos organismos multinacionais (entre nações)
vêm sendo articulados, com o objetivo de aumentar os mercados e os laços de cooperação
econômica entre os países membros. Com a economia mundial globalizada, a tendência co-
mercial é a formação de blocos econômicos. Estes são criados com a finalidade de facilitar o
7 Conteúdo construído com Benko (1996).
129 GEOGRAFIA ECONÔMICA
comércio entre os países membros. Adotam redução ou isenção de impostos ou de tarifas al-
fandegárias e buscam soluções em comum para problemas comerciais. Em tese, o comércio
entre os países constituintes de um bloco econômico aumenta e gera crescimento econômico
para os países. Geralmente estes blocos são formados por países vizinhos ou que possuam afi-
nidades culturais ou comerciais. Esta é a nova tendência mundial, pois cada vez mais o comér-
cio entre blocos econômicos cresce. Economistas afirmam que ficar de fora de um bloco eco-
nômico é viver isolado do mundo comercial.
3. Os novos blocos comerciais e a crise econômica mundial
Parece haver um pouco de tudo, mas a crise tem sido o fator preponderante, pois a pró-
pria constituição desses blocos tem gerado novas tensões e está longe de ser harmoniosa. Caso
fosse apenas um aperfeiçoamento, qualquer iniciativa seria aplaudida pela comunidade inter-
nacional. Mas não é o que ocorre. Há muito temor de que a situação mundial se agrave e que
muitos saiam perdendo. Vejamos o caso a seguir.
Em agosto de 1992, EUA, Canadá e México assinaram um acordo para a criação de uma
zona norte-americana de livre comércio – o NAFTA. Imediatamente o Japão (e sua área de
influência) e a UE (União Europeia) reagiram, declarando que saúdam o acordo, mas desde
que ele respeite as regras do comércio internacional. Condicionaram seu apoio, pois desconfi-
am que o acordo signifique a construção da “Fortaleza América”, que se fecharia ao comércio
mundial. A expressão “Fortaleza América” é irônica e uma provocação aos EUA, que, cons-
tantemente, manifestam seu temor de que a UE significaria uma “Fortaleza Europa” fechada
ao comércio mundial, tal volume de medidas protecionistas (que protegem os produtores lo-
cais, taxando fortemente os produtos estrangeiros).
Veremos abaixo uma relação dos principais blocos econômicos da atualidade e suas
características.
130 RUBEM TADEU
3.1. UNIÃO EUROPEIA
(FONTE: DISPONÍVEL EM: WWW. EXECUTIVO.GUARDA.PT)
A União Europeia (UE) foi oficializada no ano de 1992, através do Tratado de Maastri-
cht. Este bloco é formado pelos seguintes países: Alemanha, França, Reino Unido, Irlanda,
Holanda (Países Baixos), Bélgica, Dinamarca, Itália, Espanha, Portugal, Luxemburgo, Grécia,
Áustria, Finlândia e Suécia. Este bloco possui uma moeda única que é o EURO, um sistema
financeiro e bancário comum. Os cidadãos dos países membros são também cidadãos da Uni-
ão Europeia e, portanto, podem circular e estabelecer residência livremente pelos países da
União Europeia.
A União Europeia também possui políticas trabalhistas, de defesa, de combate ao crime
e de imigração em comum. A UE possui os seguintes órgãos: Comissão Europeia, Parlamento
Europeu e Conselho de Ministros.
União Europeia: a realização de uma perspectiva
Foi na Europa que, concretamente, esses esforços de cooperação regional vingaram. Já
havia algum tempo funcionava o MCE – Mercado Comum Europeu, que preparou a atual UE
– União Europeia. Em 1957 foi firmado o Tratado de Roma, que fecundou a ideia de unifica-
ção europeia no então MCE.
A reconstrução da Europa, após a Segunda Guerra Mundial, passava não apenas pela
organização de um sistema conjunto de defesa, mas exigia alguns laços de cooperação das e-
conomias nacionais. Em 1957, a então Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Itália, Luxem-
burgo e Holanda assinaram o Tratado de Roma, criando a CEE – Comunidade Econômica
Europeia – ou MCE – Mercado Comum Europeu. Em 1973, entrariam Dinamarca, Grã-
Bretanha e Irlanda. Em 1981, a Grécia e, em 1986, Portugal e Espanha.
131 GEOGRAFIA ECONÔMICA
A Europa já vinha de experiências anteriores, como a CECA – Comunidade Europeia
do Carvão e do Aço – criada em 1951 e integrada pela antiga Alemanha Ocidental, França,
Itália e países de outra instituição de cooperação econômica, o Benelux (Bélgica, Holanda e
Luxemburgo).
• Unidade política: Cria a figura do cidadão europeu. Esse cidadão poderá morar e tra-
balhar em qualquer país membro, assim como votar e candidatar-se em eleições municipais
(um grego pode vir a ser prefeito numa cidade italiana, por exemplo) ou ao parlamento euro-
peu;
• União econômica e monetária: Prevê a criação, em várias fases, de uma moeda única e
um Banco Central único. A moeda única será adotada em 1 de janeiro de 1997 – se não hou-
ver problemas de ajustes. De outro modo, será adotada de qualquer modo em 1 de janeiro de
1999;
• Igualdade social: A comunidade compromete-se a diminuir as diferenças nos padrões
de vida dos povos dos países membros, através da canalização de recursos extras para os países
mais pobres;
• Área de interferência: a UE ganha autoridade para atuar em áreas como assuntos ex-
ternos e de segurança, comércio, agricultura e pesca, transporte, meio ambiente, indústria,
pesquisa e desenvolvimento, saúde, justiça, educação, proteção ao consumidor, energia e tu-
rismo.
Os problemas da unificação europeia
A PAC – Política Agrícola Comum – da UE foi concebida inicialmente, em 1962, pelos
seis países que compunham na ocasião a CEE.
Seu objetivo era controlar a produção e os dos produtos agrícolas, tendo em vista cinco
aspectos estratégicos:
1. Aumentar a produtividade;
2. Proporcionar bem-estar aos agricultores;
3. Estabilizar o mercado;
4. Garantir segurança alimentar;
5. Oferecer preços razoáveis para os consumidores.
132 RUBEM TADEU
Outro problema refere-se à corrida que se faz em direção à UE (migrações, por exem-
plo). Muitos países europeus reivindicam sua participação na UE, pressionando através da
busca de aliados no interior da UE, criando focos de tensão, entre Alemanha e França, entre
Franca e Inglaterra e assim por diante. Não se pode esquecer a já mencionada questão do Les-
te Europeu, que, caso não seja resolvida a contento, pode abalar a unificação.
3.2. NAFTA
Outro organismo poderoso que foi criado é o NAFTA – North American Free Trading
Association – o mercado comum norte-americano.
Fazem parte do Nafta (Acordo de Livre Comércio do Norte) os seguintes países: Estados
Unidos, México e Canadá. Começou a funcionar no início de 1994 e oferece aos países mem-
bros vantagens no acesso aos mercados dos países. Estabeleceu o fim das barreiras alfandegá-
rias, regras comerciais em comum, proteção comercial e padrões e leis financeiras. Não é uma
zona livre de comércio, porém, reduziu tarifas de aproximadamente 20 mil produtos.
3.3. MERCOSUL
O Mercosul (Mercado Comum do Sul) foi oficialmente estabelecido em março de 1991.
É formado pelos seguintes países da América do Sul: Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina.
133 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Em 2004, os países chamados andinos como o Chile, Bolívia, Equador, Colômbia e Peru se
associaram ao MERCOSUL. Em 2005, a Venezuela buscou sua adesão ao acordo, mas teve que
cumprir algumas exigências, como adotar a TEC – Tarifa Externa Comum. Esse acordo bene-
ficiou as ligações comerciais e financeiras entre os países parceiros, já que houve implantação
de indústrias filiais em países parceiros e ainda o grande crescimento turístico entre os mes-
mos. O objetivo principal do Mercosul é eliminar as barreiras comerciais entre os países, au-
mentando o comércio entre eles. Outro objetivo é estabelecer tarifa zero entre os países e num
futuro próximo, uma moeda única.
O Brasil e o Mercosul
Conforme foi dito anteriormente, o Mercosul deve ser compreendido como parte de
uma estratégia mais ampla de abertura comercial e de reinserção regional no cenário econô-
mico internacional. Os anos 80 foram inaugurados na América Latina sob o impacto da crise
da dívida externa, o aceleramento de processos inflacionários, a crise dos estados autoritários
e o aprofundamento das desigualdades sociais. O processo de globalização, o acirramento da
competitividade comercial e o temor da marginalização econômica estão entre os fatores que
motivaram as elites dirigentes latino-americanas, no decorrer dos anos 80, a impulsionar pro-
cessos de reestruturação econômica e liberalização.
No caso do Brasil, o processo de abertura comercial somente vai ganhar impulso no fi-
nal dos anos 80, ainda na administração do presidente José Sarney, e acelera-se definitivamen-
te durante a experiência de "neoliberalismo delirante" de Fernando Collor de Mello. O atual
governo do presidente Fernando Henrique Cardoso mantém o ritmo da abertura. De acordo
com a análise de um importante ator no período, negociador brasileiro no GATT e ex-
ministro da Fazenda, embaixador Rubens Ricupero, os objetivos mais imediatos da abertura
comercial poderiam ser resumidos nos seguintes aspectos:
a) Submeter a economia brasileira a um ‘choque de competitividade’, levando nossas
empresas a buscar formas mais eficientes de produção – em benefício, inclusive, de sua capa-
cidade de exportação;
b) Facilitar a importação de bens e de tecnologias essenciais para a modernização do
parque industrial;
c) Introduzir maior grau de competição em setores oligopolizados da economia brasilei-
ra, em benefício dos consumidores (sic) e, também, como fator de contribuição aos esforços
de controle da inflação.
134 RUBEM TADEU
Festejado no Brasil como um dos maiores sucessos da diplomacia econômica do país –
que, sem nenhuma dúvida, exerceu um papel de liderança na promoção da proposta – o Mer-
cosul corresponde, portanto, a uma estratégia mais geral de reestruturação da economia brasi-
leira. Da mesma forma, os seus efeitos em termos de incremento do volume do comércio entre
os países membros é bastante significativo.
Para o Brasil, em particular, o impacto do Mercosul pode ser avaliado pelo incremento
das nossas exportações durante o período chamado de transição. Por exemplo, as exportações
brasileiras para a Argentina, o Uruguai e o Paraguai elevaram-se de US$1,3 bilhões, em 1990,
para US$5,9 bilhões,em 1994, representando um acréscimo da ordem de 350%. No mesmo
período, as exportações totais do Brasil cresceram em apenas 38,5%.
Devemos ressaltar, no entanto, que a estabilização da economia brasileira e a valorização
do Real, a partir de julho de 1994, provocaram uma importante mudança na balança comerci-
al brasileira. Ou seja, até meados de 1994, o Brasil vinha acumulando superávits significativos
com os demais países do Mercosul, chegando a US$ 2 bilhões em 1993. Este quadro é reverti-
do com o Plano Real. Somente com a Argentina, durante o primeiro semestre de 1995, o Bra-
sil acumulou um déficit comercial de US$ 900 milhões.
Finalmente, o Mercosul integra um processo mais amplo na América do Sul que foi o
aceleramento dos processos de integração econômica a partir da década de 80. Esta tendência
se expressou, por um lado, pelo aumento do volume de comércio intrarregional; e, por outro
lado, pela proliferação de acordos bilaterais e sub-regionais.
3.4. PACTO ANDINO
Outro bloco econômico da América do Sul é formado por Bolívia, Colômbia, Equador,
Peru e Venezuela. Foi criado no ano de 1969 para integrar economicamente os países mem-
bros. As relações comerciais entre os países membros chegam a valores importantes, embora
os Estados Unidos seja o principal parceiro econômico do bloco.
3.5. APEC
A APEC (Associação de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) foi criada em
1993 na Conferência de Seattle (Estados Unidos). Integram este bloco econômico os seguintes
países: EUA, Japão, China, Formosa (Taiwan), Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura, Malá-
sia, Tailândia, Indonésia, Brunei, Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, Ca-
nadá, México, Tigres Asiáticos, Chile e países da ASEAN. Somadas a produção industrial de
135 GEOGRAFIA ECONÔMICA
todos os países, chega-se a metade de toda produção mundial. Quando estiver em pleno fun-
cionamento, será o maior bloco econômico do mundo.
3.6. Outros Blocos
• CEAO (Comunidade Econômica da África Ocidental), formada por Benin, Costa do
Marfim, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal e Burkina Faso;
• ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), cujos membros são: Cingapura,
Filipinas, Indonésia, Malásia e Tailândia;
• AELC (Associação Europeia de Livre Comércio), que reúne Áustria, Finlândia, Islân-
dia, Noruega, Suécia e Suíça;
• ALADI (Associação Latino – Americana de Desenvolvimento e Intercâmbio), cujos
membros são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru,
Uruguai e Venezuela.
(FONTE: DISPONÍVEL EM: WWW.GUIADICAS.NET)
136 RUBEM TADEU
2.2.3 CONTEÚDO 3. GLOBALIZAÇÃO: AS REDES TÉCNICAS E A FLUIDEZ8
Tem por objetivo analisar, caracterizar e avaliar a importância das redes técnicas para a
atividade econômica através dos seus usos e aplicações.
O território do planeta está passando por um processo de reorganização geográfica, ca-
pitaneado pelas redes técnicas (computadores, fios elétricos etc.). Como o Brasil está no plane-
ta, o mesmo participa do processo de reorganização do território.
A implantação das redes técnicas no território brasileiro faz parte da estrutura que co-
manda a globalização, o avanço tecnológico e a ciência. Este conjunto de intervenções físicas
(próteses) no território, integrando-o ao mundo e entre si (o território brasileiro), pelas suas
dimensões continentais.
A instalação desta rede técnica acompanhou o processo histórico vivido no Brasil e no
planeta. Assim, foi se instalando, no Brasil, um conjunto de condições para que o país come-
çasse a fazer parte deste projeto de globalização. Só que os interesses deste conjunto de equi-
pamentos estão na condução das grandes corporações (transnacionais) a fim de garantir
grandes lucros em países em desenvolvimento, que podem oferecer condições favoráveis de
investimento em bolsas de valores e em outras transações financeiras internacionais.
Assim, pretendemos analisar a influência e importância destas redes na formação do
território brasileiro na atualidade.
As redes são formadas por traços, instalados em diversos momentos, diferentemente da-
tados, muitos dos quais já não estão presentes na configuração atual e cuja substituição no
território também se deu em momentos diversos. Podemos, grosso modo, admitir, pelo me-
nos, três momentos na produção e na vida das redes. Um largo período pré-mecânico, um
período mecânico intermediário e a fase atual.
Se compararmos as redes do passado com as atuais, a grande distinção entre elas é a res-
pectiva parcela de espontaneidade na elaboração respectiva. Quanto mais avança a civilização
material, mais se impõe o caráter deliberado na constituição de redes. Com os recentes pro-
gressos da ciência e da tecnologia e com as novas possibilidades abertas à informação, a mon-
tagem das redes supõe uma antevisão das funções que poderão exercer e isso tanto inclui a sua
forma material como as suas regras de gestão.
Vamos ver como estas redes se implantaram no Brasil.
8 Conteúdo construído com: SANTOS, 1996; SANTOS; SILVEIRA, 2001.
137 GEOGRAFIA ECONÔMICA
Nos últimos decênios, o território conhece grandes mudanças em função de acréscimos
técnicos que renovam a sua materialidade, como resultado e condição, ao mesmo tempo, dos
processos econômicos e sociais em curso. Destacamos, aqui, as infraestruturas de irrigação e
as barragens, os portos e aeroportos, as ferrovias, rodovias e hidrovias, as instalações ligadas à
energia elétrica, refinarias e dutos, as bases materiais das telecomunicações, além de semoven-
tes e insumos ao solo.
2. Construções, irrigações e barragens
Em meados do século XX, as transformações na escala de produção agrícola e a impor-
tância de estocá-la, à espera da comunicação, levaram à necessidade de construir depósitos,
paióis e silos no campo. Desde cedo, o Sul incorpora técnicas a uma agricultura que, desse
modo, já não era inteiramente dependente dos fatores climáticos e naturais. A construção de
barragens tem possibilitado o aumento de terras irrigadas. No Nordeste, representavam
24,08% em 1996 do total nacional e eram somente 14,6% em 1970, ano em que a Bahia e o
Ceará já contavam juntos com 34.493 hectares beneficiados, o que significa 65,4% das terras
irrigadas do Nordeste. Paralelamente aos progressos da biotecnologia, à função da Embrapa e
a todo um leque de manifestações da mecanização, da informatização e da quimização, as téc-
nicas de regadio tiveram papel fundamental na transformação de áreas quase desérticas em
zonas de agricultura de exportação, marcadas, sobretudo, pela presença da soja. É o caso da
região Centro-Oeste (com 1,8% das terras irrigadas do país em 1970 e 8,35% em 1996) e dos
cerrados baianos nas décadas de 1970 a 1980 (em 1996, a Bahia representava 6,71% do total
nacional das terras irrigadas).
Quanto à construção de barragens, dois programas têm sido as suas bases organizacio-
nais, desde os albores do século XX. Trata-se da açudagem pública do Departamento Nacional
de Obras de Contenção da Seca e da Açudagem em cooperação com agentes privados.
3. Aeroportos e portos
Foi a partir da década de 1970 e, ainda mais, nos anos 80 que se construíram novos ae-
roportos, como os internacionais de Guarulhos, em São Paulo, e Tancredo Neves, em Belo
Horizonte. O critério de classificação da Infraero leva em consideração a infraestrutura física
(medidas de pistas, dos pátios e dos terminais de passageiros e de carga), a chamada infraes-
trutura operacional (Instrument Landing System – ILS –, Sistema Informativo de Uso – SIU –
e emergência médica) e a estrutura administrativa. Conforme esses critérios, a região Sudeste
possui os dois únicos aeroportos especiais, Guarulhos, em São Paulo, e Galeão, no Rio de Ja-
138 RUBEM TADEU
neiro, e, além desses, a maior concentração de aeroportos da hierarquia consecutiva, os aero-
portos internacionais Tancredo Neves e Viracopos e o aeroporto de Congonhas (São Paulo)
(categoria 1), e os aeroportos de Belo Horizonte, Santos Dumont (Rio de Janeiro), Macaé,
Jacarepaguá e São José dos Campos. São as regiões Sul, Nordeste e Norte que possuem o mai-
or número de aeroportos da menor classificação.
4. Ferrovias, rodovias, hidrovias
Com desenhos mais ou menos retilíneos interior-litoral nos Estados nordestinos do Ma-
ranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, algumas
ferrovias se complementam com trechos que, mais ou menos paralelos à costa marítima, u-
nem as cidades-sede de funções portuárias, políticas e econômicas. A exploração e o rápido
escoamento de minérios no Norte e no Nordeste exigiram sistemas de engenharia eficientes
especializados, ligando os portos regionais com a ferrovia do Amapá, construída na década de
1970 e destinada ao transporte de manganês, com a Estrada de Ferro Carajás (889,34 km), em
funcionamento desde 1985, que liga a mina de Carajás, no Pará, ao porto de Itaqui, em São
Luis do Maranhão, e à ferrovia do Aço.
5. Energia elétrica
A difusão da energia elétrica no território nacional leva, num primeiro momento, à
construção de sistemas técnicos independentes, chamados a atender às necessidades locais.
Mais tarde, a ocupação e a urbanização do território, o processo de industrialização, o aperfei-
çoamento das técnicas de geração e transmissão e a organização centralizada do setor em tor-
no da Eletrobrás convergem para interligar boa parte dos sistemas isolados. O primeiro ini-
ciou-se com a Usina Paulo Afonso em 1955, atingindo Salvador, Recife e Fortaleza em 1966.
Em 1981, entra em operação a linha de transmissão que une Sobradinho, Imperatriz, Tucuruí.
O segundo subsistema, mais denso, foi interligado a partir de 1963, com a Usina de Furnas no
Rio Grande e a interconexão do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Verifica-se, assim,
uma expansão das linhas de transmissão no Brasil, passando de 4.513,3 km, em 1955, para
159. 291,6 km no mesmo ano.
6. Refinarias e dutos
139 GEOGRAFIA ECONÔMICA
A configuração do equipamento petrolífero brasileiro revela claramente, nas suas cama-
das técnicas e nas suas localizações, as especificidades da sua política para o setor. Nas regiões
Sul e Sudeste do país, e com predomínio de localizações litorâneas, as refinarias foram cons-
truídas, em grande parte, para realizar o processamento final de um petróleo que era importa-
do da Venezuela e do Peru, da União Soviética e dos países árabes. Definida durante o gover-
no Vargas, essa política visava diminuir a importação de produtos acabados derivados do
petróleo, num país que praticamente não havia descoberto reservas no seu território. Daí que,
tendo precedido à exploração, as refinarias se localizem longe das áreas, hoje em produção.
No entanto, as refinarias construídas após a década de 1960, uma vez descobertas variam das
jazidas do litoral entre Maranhão e Rio de Janeiro, imitaram o antigo padrão, pois preferiram
a proximidade do core industrial do país. O refinamento antecedeu à exploração.
7. Bases materiais das telecomunicações
A revolução das telecomunicações, iniciada no Brasil dos anos 70, foi um marco no pro-
cesso de rearticulação do território. Novos recortes espaciais, estruturados a partir de forças
centrípetas e centrífugas, decorriam de uma nova ordem, de uma divisão territorial do traba-
lho em processo de realização. Do telégrafo ao telefone e ao telex, do fax e do computador ao
satélite, da fibra óptica à Internet, o desenvolvimento das telecomunicações participou vigoro-
samente do jogo entre separação material das atividades e unificação organizacional dos co-
mandos.
8. Semoventes e insumos ao solo
A difusão pelo campo brasileiro de tratores, arados, grades, semeadeiras, cultivadores,
ceifadores e colhedeiras de tração mecânica, incipiente nos anos 20, vai se tornando generali-
zada nos dias de hoje. Nas primeiras décadas do século XX, a região Sul ostentava as manchas
de um meio técnico, parcialmente espalhado, tanto nos seus acréscimos fixos como nos semo-
ventes. Essa região reunia 59,03% dos tratores e mais de 70% das grades e semeadeiras do país
em 1920, mostrando sua precoce vocação para uma agricultura mecanizada.
9. Geografia da pesquisa e da tecnologia
Há, entretanto, outros fatores que tornam mais complexa essa incorporação de insumos
ao solo. A localização de serviços técnicos, escolas de agronomia, institutos e centros de pes-
140 RUBEM TADEU
quisa obrigam a reconhecer o papel de um poder público que ora precede, ora acompanha,
sucede ou busca compensar a ação das empresas no território nacional e, assim, participa mais
ou menos ativamente na construção de especializações territoriais. Já nas primeiras décadas
do século XX, havia a preocupação de criar apoios técnicos e institutos de experimentação
agropecuária. Em união indissolúvel com a hierarquia produtiva mundial própria de cada
momento histórico, criam-se no Brasil serviços técnicos para a cultura de algodão (1915), de-
fesa animal (1920), florestal (1921), café (1933) e, a partir dos anos 40, institutos orientados
para o desenvolvimento regional (Amazônia, Centro-Oeste, Bahia, Recife). O mercado mun-
dial demandava com força crescente carne e leite, café, madeira e derivados e insumos para a
indústria têxtil. Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo eram também grandes consumidores de
algodão, pois já vinham desenvolvendo a manufatura têxtil desde o século XIX. Desse modo,
surgem, aqui e ali, embriões do que iria construir, na década de 1970, uma verdadeira rede de
centros de investigação em território brasileiro, sobretudo com a criação da Embrapa, em
1972, sem esquecer organizações anteriores, como o Departamento de Pesquisas e Experimen-
tação Agropecuária (DPEA), com sede no Rio de Janeiro. Mas a criação da Embrapa inicia o
funcionamento de uma estrutura unificadora, que irá desenvolver novos centros e acompa-
nhar as novas exigências de qualidade.
141 GEOGRAFIA ECONÔMICA
2.2.4 CONTEÚDO 4. O ENSINO-APRENDIZAGEM DA GEOGRAFIA ECONÔMICA NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO
Conhecimento geográfico e sua importância social
A Geografia tem por objetivo estudar as relações entre o processo histórico na formação
das sociedades humanas e o funcionamento da natureza por meio da leitura do lugar, do terri-
tório, a partir de sua paisagem. Na busca dessa abordagem relacional, trabalha com diferentes
noções espaciais e temporais, bem como com os fenômenos sociais, culturais e naturais carac-
terísticos de cada paisagem, para permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua
constituição, para identificar e relacionar aquilo que, na paisagem, representa as heranças das
sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza em sua interação.
Nesse sentido, a análise da paisagem deve focar as dinâmicas de suas transformações e
não simplesmente a descrição e o estudo de um mundo aparentemente estático. Isso requer a
compreensão da dinâmica entre os processos sociais, físicos e biológicos inseridos em contex-
tos particulares ou gerais. A preocupação básica é abranger os modos de produzir, de existir e
de perceber os diferentes lugares e territórios como os fenômenos que constituem essas paisa-
gens e interagem com a vida que os anima. Para tanto, é preciso observar, buscar explicações
para aquilo que, em determinado momento, permaneceu ou foi transformado, isto é, os ele-
mentos do passado e do presente que neles convivem.
O espaço, considerado como território e lugar, é historicamente produzido pelo homem
à medida que organiza econômica e socialmente sua sociedade. A percepção espacial de cada
indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais. Nes-
sa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como sujeito produtor desse espaço, um ho-
mem social e cultural, situado além e mediante a perspectiva econômica e política, que im-
prime seus valores no processo de produção de seu espaço.
Assim, o espaço na Geografia deve ser considerado uma totalidade dinâmica em que in-
teragem fatores naturais, sociais, econômicos e políticos. Por ser dinâmica, ela se transforma
ao longo dos tempos históricos e as pessoas redefinem suas formas de viver e de percebê-la.
Pensar sobre essas noções de espaço pressupõe considerar a compreensão subjetiva da
paisagem como lugar, o que significa dizer: a paisagem ganhando significados para aqueles
que a constroem e nela vivem; as percepções que os indivíduos, grupos ou sociedades têm da
paisagem em que se encontram e as relações singulares que com ela estabelecem. As percep-
142 RUBEM TADEU
ções, as vivências e a memória dos indivíduos e dos grupos sociais são, portanto, elementos
importantes na constituição do saber geográfico.
No que se refere ao ensino fundamental, é importante considerar quais são as categorias
da Geografia mais adequadas para os alunos em relação a essa etapa da escolaridade e às capa-
cidades que se espera que eles desenvolvam. Assim, espaço deve ser o objeto central de estudo,
e as categorias território, região, paisagem e lugar devem ser abordadas como seu desdobra-
mento. A categoria território foi originalmente formulada nos estudos biológicos do final do
século XVIII. Nessa definição inicial, o território é a área de vida em que a espécie desempe-
nha todas as suas funções vitais ao longo do seu desenvolvimento. Portanto, o território é o
domínio que os animais e as plantas têm sobre porções da superfície terrestre.
Mediante estudos comportamentais, Augusto Comte incorporou a categoria de territó-
rio aos estudos da sociedade como categoria fundamental, o que foi absorvido pelas explica-
ções geográficas.
Na concepção ratzeliana de Geografia, esse conceito define-se pela apropriação do espa-
ço, ou seja, o território, para as sociedades humanas, representa uma parcela do espaço identi-
ficada pela posse. É dominado por uma comunidade ou por um Estado. Na geopolítica, o ter-
ritório é o espaço nacional ou a área controlada por um Estado-nacional: é um conceito
político que serve como ponto de partida para explicar muitos fenômenos geográficos relacio-
nados à organização da sociedade e suas interações com as paisagens. O território é uma cate-
goria fundamental quando se estuda a sua conceitualização ligada à formação econômica e
social de uma nação. Nesse sentido, é o trabalho que qualifica o território como produto do
trabalho social.
Além disso, compreender o que é território implica também compreender a complexi-
dade da convivência, nem sempre harmônica, em um mesmo espaço, da diversidade de ten-
dências, ideias, crenças, sistemas de pensamento e tradições de diferentes povos e etnias. É
reconhecer que, apesar de uma convivência comum, múltiplas identidades coexistem e, por
vezes, se influenciam reciprocamente. No caso específico do Brasil, o sentimento de pertinên-
cia ao território nacional envolve a compreensão da diversidade das culturas que aqui convi-
vem e que, mais do que nunca, buscam o reconhecimento de suas especificidades, daquilo que
lhes é próprio.
Para professores de geografia, é fundamental reconhecer a diferenciação entre a catego-
ria território e o conceito de territorialidade. Num primeiro momento, essas duas palavras
podem parecer dizer a mesma coisa. Porém, o território refere-se a um campo específico do
estudo da Geografia. Ele é representado por um sistema de objetos fixos e móveis, como, por
exemplo, o sistema viário urbano representando o fixo e o conjunto dos transportes como os
móveis. Ambos constituem uma unidade indissolúvel, mas que não se confundem. Outro e-
143 GEOGRAFIA ECONÔMICA
xemplo pode ser a unidade formada pela moradia com a população. No limite mais abstrato, o
da indústria e do fluxo de trabalhadores.
Enquanto a categoria território representa para a Geografia um sistema de objetos, sen-
do básica para a análise geográfica, o conceito de territorialidade representa a condição neces-
sária para a própria existência da sociedade como um todo. Se o território pode ser considera-
do campo específico dos estudos e pesquisas geográficas, a territorialidade poderá também
estar presente em quaisquer outros estudos das demais ciências. Dificilmente poderemos pen-
sar num antropólogo, sociólogo, biólogo ou engenheiro civil, entre outros, que, no seu campo
de estudos, não esteja trabalhando com o conceito de territorialidade.
A categoria território possui relação bastante estreita com a categoria paisagem. Pode
até mesmo ser considerada como o conjunto de paisagens. É algo criado pelos homens, é uma
forma de apropriação da natureza. A categoria paisagem, porém, tem um caráter específico
para a Geografia, distinto daquele utilizado pelo senso comum ou por outros campos do co-
nhecimento. É definida como sendo uma unidade visível do território, que possui identidade
visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, contendo espaços e tem-
pos distintos; o passado e o presente. A paisagem é o velho no novo e o novo no velho!
Por exemplo, quando se fala da paisagem de uma cidade, dela fazem parte seu relevo, a
orientação dos rios e córregos da região, sobre os quais se implantaram suas vias expressas, o
conjunto de construções humanas, a distribuição de sua população, o registro das tensões,
sucessos e fracassos da história dos indivíduos e grupos que nela se encontram. É nela que
estão expressas as marcas da história de uma sociedade, fazendo assim da paisagem um acú-
mulo de tempos desiguais.
A categoria paisagem, por sua vez, também está relacionada à categoria lugar, tanto na
visão da Geografia Tradicional quanto nas novas abordagens. O sentimento de pertencera um
território e a sua paisagem significa fazer deles o seu lugar de vida e estabelecer uma identida-
de com eles. Nesse contexto, a categoria lugar traduz os espaços com os quais as pessoas têm
vínculos afetivos: uma praça onde se brinca desde criança, a janela de onde se vê a rua, o alto
de uma colina de onde se avista a cidade. O lugar é onde estão as referências pessoais e o sis-
tema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o
espaço geográfico. É por intermédio dos lugares que se dá a comunicação entre homem e
mundo.
Assim, pode-se compreender por que o espaço, a paisagem, o território e o lugar estão
associados à força da imagem, tão explorada pela mídia. Pela imagem, muitas vezes a mídia se
utiliza da paisagem para inculcar um modelo de mundo. Sendo a Geografia uma ciência que
procura explicar e compreender o mundo por meio de uma leitura crítica a partir da paisa-
gem, ela poderá oferecer grande contribuição para decodificar as imagens manipuladoras que
144 RUBEM TADEU
a mídia constrói na consciência das pessoas, seja em relação aos valores socioculturais ou a
padrões de comportamentos políticos nacionais.
O estudo de Geografia possibilita aos alunos a compreensão de sua posição no conjunto
das relações da sociedade com a natureza; como e por que suas ações, individuais ou coletivas,
em relação aos valores humanos ou à natureza, têm consequências (tanto para si como para a
sociedade). Permite também que adquiram conhecimentos para compreender as atuais rede-
finições do conceito de nação no mundo em que vivem e perceber a relevância de uma atitude
de solidariedade e de comprometimento com o destino das futuras gerações. Além disso, seus
objetos de estudo e métodos possibilitam que compreendam os avanços na tecnologia, nas
ciências e nas artes como resultantes de trabalho e experiência coletivos da humanidade, de
erros e de acertos nos âmbitos da política e da ciência, por vezes permeados de uma visão uti-
litarista e imediatista do uso da natureza e dos bens econômicos. Para Milton Santos, a Geo-
grafia pode ser entendida como uma filosofia das técnicas.
Desde as primeiras etapas da escolaridade, o ensino da Geografia pode e deve ter como
objetivo mostrar ao aluno que cidadania é também o sentimento de pertencer a uma realidade
em que as relações entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado (constantemente
em transformação) do qual ele faz parte e que, portanto, precisa conhecer e do qual se pinta
membro participante, afetivamente ligado, responsável e comprometido historicamente com
os valores humanísticos.
A modernização capitalista e a redefinição nas relações entre o campo e cidade
Este tema sugere a reflexão sobre como as estruturas sociais e as configurações territori-
ais tanto do campo quanto das cidades guardam em si sobrevivências do passado que ainda
estão se reproduzindo nos dias de hoje, e que as transformações geradas pelo capitalismo no
Brasil no processo de transição do modo de produção agroexportador para o urbano-
industrial não garantiram a plena transformação daquelas estruturas e configurações territori-
ais. Fazer os alunos compreenderem que, ao lado de um Brasil agrário com grandes lavouras
monocultoras praticadas com métodos científicos de plantio, trato e colheita, perdura um
Brasil arcaico do latifúndio e do trabalho servil. Esse Brasil arcaico que reproduz outras rela-
ções de produção ainda garante a reprodução da acumulação capitalista. Isso significa dizer
que não se coloca a ideia de um Brasil arcaico que se contrapõe a um Brasil “moderno”, mas
que existe uma reciprocidade dialética entre ambos.
Ao mesmo tempo refletir que, com as lavouras de exportação subsidiadas por grandes
financiamentos que garantem a entrada de divisas para o país, coexistem as pequenas e médias
propriedades, em sua quase totalidade desprovidas de auxílios financeiros, mas que respon-
dem pela maior parte do abastecimento das cidades. Isso significa dizer que, paralelamente à
145 GEOGRAFIA ECONÔMICA
modernização de muitos segmentos empresariais no campo, continuou se reproduzindo o
drama dos posseiros, parceiros, pequenos proprietários e arrendatários.
Essa modernização significou, também, numa dialética perversa, a expulsão dos traba-
lhadores da terra e o crescimento de uma multidão dos sem-terra e sem-trabalho, visto que
essa modernização trouxe consigo a mecanização e automação do trabalho no campo.
É importante que o professor reflita e critique com seus alunos a crença de que as tecno-
logias importadas e suas consequentes inovações sejam capazes por si só de gerar os impactos
necessários para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Fazer com que os alunos perce-
bam que essas tecnologias e seus benefícios se voltaram para os grandes empreendedores do
campo que por sua vez passaram a ter seus interesses atrelados às empresas multinacionais em
sua grande maioria voltadas para produtos de exportação, inclusive para beneficiar os avanços
tecnológicos nos setores secundários e terciários das grandes cidades.
É inegável o reconhecimento de que a grande industrialização e urbanização nas metró-
poles brasileiras sensibilizaram os grandes empresários das cidades para a necessidade de re-
formas no campo. Isso porque o crescimento demográfico nas cidades passou a demandar um
crescimento na oferta de alimentos acompanhada da queda dos preços. Para os empresários
urbanos essas reformas se faziam necessárias, pois a política de contenção salarial para não
acirrar os conflitos junto à classe trabalhadora da cidade dependia de um aumento na eficiên-
cia nesse abastecimento. A presença de várias instituições representativas das classes empresa-
riais, bancos, multinacionais, órgãos de classe, como a Fiesp (Federação das Indústrias do Es-
tado de São Paulo), reivindicando do governo essas reformas, está ligada a essa estratégia de
política salarial. A sala de aula poderá ser um local de críticas e debates. Nesse sentido, acredi-
ta-se que o professor estará sempre aberto, saindo da explicação simplista e maniqueísta
quando estiver debatendo com seus alunos temas sobre os conflitos entre o capital e o traba-
lho.
Fazer com que os alunos compreendam que a modernização capitalista no Brasil, onde o
campo e a cidade foram se inserindo nas novas relações de trabalho, buscando maior eficiên-
cia e produtividade, foram os setores hegemônicos das cidades, aliados aos segmentos empre-
sariais do campo, que passaram a ser os maiores beneficiados. Que essa aliança entre os seto-
res hegemônicos do capitalismo no Brasil por sua vez acabou reproduzindo e acentuando as
contradições no campo e na cidade. Que o crescimento dos segmentos sociais dos sem-terra e
sem-trabalho no campo se associou aos sem-trabalho e sem-teto nas cidades. Ambos tendo
sua origem no processo de concentração do capital e nas inovações tecnológicas importadas
empreendidas pelo processo de modernização. Uma modernização que veio se acentuando
muito mais para responder aos interesses do grande capital nacional e multinacional com seus
centros de gestão e de interesses nas grandes metrópoles comprometidas com os setores he-
gemônicos do capitalismo. Que, por mais que a modernização ocorra em alguns setores em-
146 RUBEM TADEU
presariais do campo, será sem dúvida ao secundário e terciário de ponta nesse período técni-
co-científico que os grandes investimentos serão destinados, aumentando provavelmente o
número de excluídos do campo e das cidades.
Sugerem-se os seguintes itens como parâmetros para trabalhar este tema:
• A entrada das multinacionais no campo e seu papel nas exportações brasileiras;
• Os problemas enfrentados atualmente pelos pequenos e médios produtores do campo;
• O abastecimento das cidades e o papel do pequeno e médio produtor do campo;
• A mecanização, a automação, a concentração de propriedade e o problema dos sem-
terra;
• Os sem-teto nas metrópoles e suas relações com processo de modernização capitalista;
• As metrópoles como centro de gestão das inovações tecnológicas e gestão do capital e
suas repercussões no campo;
• Modernização e desemprego no campo e na cidade;
• A importância da reforma agrária como solução para os grandes problemas sociais do
campo e da cidade no Brasil.
O papel do Estado e das classes sociais e a sociedade urbano-industrial brasileira. Uma
breve análise das transformações históricas pelas quais vêm passando as relações entre o Esta-
do e as classes sociais no Brasil permitirá ao professor e a seus alunos tomarem como referên-
cia as seguintes conclusões.
Tanto no período colonial como no império as consolidações das oligarquias agrárias
representaram o centro do poder. Primeiramente as oligarquias da cana-de-açúcar no Nordes-
te, posteriormente a do café no Sudeste, chegando até os anos da Velha República.
A fragilidade e a pouca expressividade de uma classe média urbana e o predomínio das
relações servis de trabalho no campo garantiam às oligarquias uma plena manipulação da or-
ganização política voltada para seus interesses. Para que o aluno possa compreender e explicar
as mudanças que ocorreram no poder político do Estado é necessário analisar as mudanças
que ocorreram no processo de industrialização e urbanização do país.
Com o processo de industrialização e urbanização que se verificou a partir dos anos 30,
em várias capitais do Brasil, e o consequente surgimento de uma burguesia e um proletariado
industrial, o cenário político mudou. Essas novas classes sociais passaram a se organizar e con-
testar a hegemonia das oligarquias rurais no poder. Porém, foi somente a partir dos anos 50,
quando o crescimento econômico brasileiro, fundamentado num processo de forte industria-
147 GEOGRAFIA ECONÔMICA
lização e urbanização das metrópoles aliado aos capitais multinacionais que ocorreu a ruptura
entre a sociedade agroexportadora que se havia implantado até então, para dar lugar à nova
sociedade urbano-industrial. Isso, porém, não significou o alijamento do poder das antigas
oligarquias, mas a composição de novas alianças entre os representantes do poder no campo
com os da cidade. O professor, quando tratar das mudanças, pode considerar que, de uma
forma ou outra, a sociedade acaba reproduzindo antigas relações e que estas guardam quase
sempre alguma relação com as situações anteriores.
As conquistas das classes trabalhadoras desde a implantação da República sempre tive-
ram de enfrentar as alianças realizadas no interior das classes dominantes. O direito ao voto, à
organização sindical, continuou a ter de enfrentar, no campo e na cidade, as manipulações que
se faziam para barrar as transformações mais profundas das estruturas sociais em benefício da
classe trabalhadora.
148 RUBEM TADEU
MAPA CONCEITUAL
Dinâmica das mudanças dos proces-
sos econômicos
Estados Unidos: primeira
potência mundial
Crise da superprodução de
1929
Novo modelo de desenvol-
vimento
Nova ordem mundial: Paí-
ses do Norte X
Países do Sul
Formação dos blocos eco-
nômicos
Redes técnicas e fluidez Melhora da infraestrutura
Utilização de tecnologia de ponta
Modernização capitalista
Novas relações entre campo
e cidade
149 GEOGRAFIA ECONÔMICA
ESTUDO DE CASO
“... o ensino da geografia desenvolve o senso do tempo e ajuda a compreender a noção
da evolução. Relevo, solos, gêneros de vida, modos de ocupação do solo, correntes de comér-
cio, potência das nações, tudo evolui e cada capítulo de um curso de geografia consigna esta
constante transformação, indicando-lhe simultaneamente os fatores e as consequências. Esse
aspecto da geografia, portanto, ressalta que o ensino bem feito dá aos jovens o senso da reali-
dade e ao mesmo tempo o da evolução. Pode ajudá-los a se compenetrarem de sua posição
exata na curva do tempo; de herdeiros do pas¬sado e germes do futuro. Resultado esse obtido
não por meio de frases e discursos que os jovens não escutariam ou de que pouco se lembrari-
am, mas por fatos exatos cuja lição aparece automaticamente. Tanto mais que os alunos estão
numa idade em que fazem questão de ser modernos e realistas” (Fonte:
http://www.geocritica.com.br/texto09.htm).
Observando o texto acima, explicite a sua opinião (mínimo de dez linhas) sobre a im-
portância do ensino da geografia econômica das series finais do ensino fundamental e médio,
justificando.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
QUESTÃO 01
(SEDUC, 2002) Considerando que o Brasil é um país de dimensões continentais que se
limita com quase todos os países da América do Sul, é correto afirmar que:
A) Os países sul-americanos são os maiores parceiros comerciais do Brasil.
B) A presença de barreiras naturais tais como, os Andes, a floresta amazônica e a pre-
sença de grandes rios dificultam o intercâmbio comercial entre o Brasil e os demais países da
América do Sul.
C) A maior valorização dos produtos sul americanos pela Europa, faz com que tais paí-
ses prefiram comercializar com os países europeus.
D) A relação de dependência do Brasil e dos demais países sul americanos, os aproxima
mais dos Estados Unidos e da Europa, com quem realizam a parte mais significativa do seu
comércio exterior.
E) Por ter uma produção muito semelhante à produção brasileira, a Argentina é um dos
países da América do Sul de menor relacionamento comercial com o Brasil.
150 RUBEM TADEU
QUESTÃO 02
(Adaptado de SEDUC, 2002) No que diz respeito às questões emergentes na nova or-
dem mundial da economia globalizada, analise as afirmativas:
I. As questões étnico-nacionalistas ganharam força em todo o mundo, explodindo em
vários movimentos separatistas.
II. Acirramento da Guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética.
III. Revalorização das questões culturas, que eram ignoradas no mundo bipolar.
IV. O narcotráfico ganhou tamanha proporção que se tornou um problema internacio-
nal.
V. A ecologia passou a ser um dos principais temas de debate e as minorias excluídas
passaram a reivindicar seus direitos com mais força.
Com base em seus conhecimentos, quais as afirmativas corretas?
A) I, II e V. C) III, IV e V. E) I, II, IV e V
B) I, III, IV e V. D) II, III e IV.
QUESTÃO 03
(Adaptado de Parauapebas, 2006) Para alguns, o Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL) é uma decisão essencialmente política que se realiza a partir de apoio a deci-
sões de caráter econômico. Já a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) tem proposta
fundamentalmente econômica, que seus proponentes originais tentam implementar de forma
política. Com relação à temática dos blocos econômicos, julgue os itens subsequentes e mar-
que V para os verdadeiros e F para os falsos.
( ) A ALCA é o nome proposto para a expansão do Acordo de Livre Comércio da Amé-
rica do Norte (NAFTA) para todos os países das Américas, incluindo Cuba.
( ) A formação de blocos econômicos regionais foi a estratégia encontrada pelos estados
para manter os mercados globalizados, garantindo a livre circulação de mercadorias entre
países vizinhos ou próximos.
( ) O MERCOSUL é um processo de integração entre Brasil, Argentina, Chile, Paraguai
e Uruguai, criado a partir da assinatura do Tratado de Assunção, em 26/3/1991.
151 GEOGRAFIA ECONÔMICA
( ) O MERCOSUL surgiu cumprindo, antes de tudo, um exercício de convergência de
interesses entre países que, grosso modo, possuem semelhante patamar de desenvolvimento
econômico e social, independentemente das diferenças de tamanho entre eles.
( ) Um dos problemas considerados na ALCA é o fato de tentar nivelar economias e so-
ciedades com históricos problemas sociais e econômicos distintos.
Qual a sequência correta?
A) FVFVV
B) FVVFV
C) FVVFV
D) VFVFF
E) VFFFF
QUESTÃO 04
(SEDUC, 2002) Assinale com V ou com F conforme as alternativas sejam respectiva-
mente verdadeiras ou falsas em relação à atividade industrial.
( ) A transformação da sociedade em urbana e industrial teve início na Inglaterra
em meados do séc.XVIII, com a revolução industrial.
( ) A primeira indústria a se desenvolver foi a indústria metalúrgica, com a expansão
das ferrovias e a utilização do minério de ferro abundante no território britânico.
( ) O mundo vive hoje uma nova revolução industrial, a revolução técnico-científica,
cuja base é a informática, a eletrônica e a biotecnologia.
( ) A indústria de bens de consumo é aquela que produz bens duradouros que são utili-
zados por outras indústrias, tais como insumos, máquinas e equipamentos.
A sequência correta é:
A) F V F V
B) V F F V
C) F V V V
D) V F V F
E) V V V F
152 RUBEM TADEU
QUESTÃO 05
(São Paulo, 2007)
Estudos de campo realizados no Vale do Paraíba, entre as duas grandes metrópoles na-
cionais, bem como nas suas ramificações no Sul de Minas, mostraram que existem bolsões de
trabalho especializado e qualificado formados por formas pretéritas de industrialização que
fornecem mão de obra e base técnica para as novas fábricas do segmento eletro-eletrônico e
mecânico que estão se implantando recentemente na região (Fonte: Adaptado de: CASTRO,
Iná Elias de et al. Geografia: conceitos e temas, 2005).
O processo descrito no texto ocorre:
A) pelo papel desempenhado pelo Estado em seus vários níveis, do nacional ao local,
dentre outros fatores.
B) unicamente pela atuação das forças de mercado, isto é, a união entre a produção e o
consumo.
C) pela política deliberada de dispersar os tecnopolos pelas áreas fornecedoras de maté-
rias-primas especiais.
D) pela conjugação da precariedade das leis ambientais e a pequena articulação sindical.
E) como possibilidade de reforçar o rápido crescimento da megalópole, ainda em estado
incipiente.
153 GEOGRAFIA ECONÔMICA
CONSTRUINDO CONHECIMENTO
Recebe o nome de Geógrafo o profissional que estuda a geografia.
Os geógrafos não apenas investigam os aspectos físico-sociais da Terra como também
as razões destes aspectos e as possíveis consequências para o ambiente.
O Geógrafo no Brasil é o profissional que concluiu o Bacharelado em Geografia, le-
galmente habilitado através da Lei 6664/79, e obtém seu registro no CREA – Conselho Re-
gional de Engenharia e Arquitetura – de seu estado.
A distinção profissional entre um Geógrafo e um Professor de Geografia é que o Geó-
grafo possui habilitação para emissão de pareceres técnicos, desde que regularmente asso-
ciado ao CREA, assim como para a elaboração de EIA/RIMA (estudo prévio de impacto
ambiental e relatório de impacto ambiental), podendo também prestar concursos públicos
para quadros estatais que precisem de bacharelados.
O professor de Geografia é o profissional que tem titulação de Licenciado em Geogra-
fia, podendo exercer legalmente exclusivamente as funções de docência, do 6º ano ao 9º
ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Para lecionar no Ensino Superior, tanto para o bacharel quanto para o licenciado, o
requisito é um curso de mestrado, não essencialmente na área de Geografia, mas nas áreas
afins.
No dia 29 de maio é comemorado o dia do geógrafo.
154 RUBEM TADEU
GLOSSÁRIO
ÁFRICA SUB-SAHARIANA (OU SUBSAARIANA) – Corresponde à região do continente africano ao sul do Deserto do Saara, ou seja, aos países que não fazem parte do Norte da Áfri-ca. A palavra sub-sahariana deriva da convenção geográfica eurocentrista, segundo a qual o Norte estaria acima e o Sul abaixo (daí o prefixo latino sub).
AGRICULTURA COMERCIAL – É destinada a venda, portanto quem define a produção é o mercado consumidor. Atividade agrícola praticada em larga escala de produção, dirigida para o abastecimento dos grandes mercados consumidores, nacionais e internacionais.
AGRICULTURA COLETIVISTA – Organizada segundo as necessidades sociais do país onde é praticada, não se volta para o mercado externo, a procura de lucros. (ex: kibutzim em Israel, fazendas estatais com trabalho comunitário, elevados níveis de integração social e finalidade de defesa militar).
AGRICULTURA ESPECULATIVA – Organizada para a exportação, não se relaciona com os interesses da economia e da sociedade local (ex: a plantation).
AGRICULTURA MODERNA – Encontra-se presente principalmente nos paises desenvolvi-dos e possui as seguintes características: utilização intensiva de maquinas agrícola, como tra-tores, semeadeiras, colheitadeiras; uso de técnicas de cultivo, com proteção ao solo e à lavoura; uso intensivo de adubos, fertilizantes, corretivos e defensivos agrícolas; adoção, em larga esca-la, por parte dos agricultores, de cooperativas agrícolas; construção, em larga escala, de silos, câmeras frigoríficas e outros meios de armazenagem da produção; apresentação de uma rede de transporte estruturada, permitindo rápido acesso entre as áreas de produção e de consumo; utilização da pesquisa agronômica com o objetivo de aperfeiçoamento genético das espécies.
AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA – A produção destina-se ao consumo do próprio pro-dutor. Atividade agrícola praticada em pequena escala de produção. Características principais: pequena propriedade, técnicas rudimentares, baixa produtividade, mão de obra familiar e consumo local.
AGROINDÚSTRIA – Indústria instalada em áreas rurais onde são processados cereais, frutas, madeiras, álcool, açúcar etc., provenientes dos cultivos da área. Exemplo: agroindústria açuca-reira do Nordeste brasileiro.
155 GEOGRAFIA ECONÔMICA
ARTESANATO – Estágio em que o produtor (artesão) executava sozinho todas as fases da produção e até mesmo a comercialização do produto. Não havia divisão do trabalho nem o emprego de máquinas, somente de ferramentas simples (até o século XVII).
BIOTECNOLOGIA – Toda aplicação tecnológica que utiliza sistemas biológicos e organismos vivos ou seus derivados para a criação ou modificação de produtos ou processos para usos específicos.
CLASSES SOCIAIS – Genericamente, o termo refere-se às diferentes posições em que se en-contram as pessoas dentro de uma estrutura socioeconômica. Segundo o próprio povo classi-fica, de acordo com a sua percepção, há “os bens de vida” (aqueles “ricos mesmo”), os “reme-diados”, os “pobres mesmo” os “de cima” (a classe “alta”), os de baixo (a classe “baixa”).
COMÉRCIO – Parte do setor terciário da economia (setor de serviços) que engloba as empre-sas cuja principal atividade consiste em comprar e vender.
CONCENTRAÇÃO DE RENDA – Nível de apropriação da renda nacional pela minoria mais rica, que fica com a maior parte da renda, ficando a maioria mais pobre com baixa participa-ção na renda. O Brasil é um país que apresenta grande concentração de renda, tendo, na atua-lidade, uma das piores distribuições de renda do mundo.
CRESCIMENTO VEGETATIVO DA POPULAÇÃO – É a diferença entre os nascimentos e os óbitos, ou seja, entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade, geralmente ele é expresso em porcentagem. O crescimento vegetativo pode ser:
• Positivo: Quando o número de nascimentos é maior que o de mortes.
• Negativo: Quando o número de nascimentos é menor que o de mortes.
• Nulo: Quando o número de nascimentos é igual ao de mortes.
DESTILAÇÃO – Separação mediante o aquecimento e sucessiva condensação dos vapores que compõem um líquido e de volatilidade diferente.
GUERRA FRIA – Nações digladiam-se através de corrida armamentista e tecnológica, espio-nagem ou guerras por procuração (dar suporte armamentista a outro país para fins de enfren-tamento), sempre evitando o conflito direto, uma vez que este desencadearia uma situação sobre a qual ambas não teriam controle. Ex.: Estados Unidos da América X União das Repú-blicas Socialistas Soviéticas.
HIDROCARBONETO – Composto formado apenas por átomos de carbono e hidrogênio.
HINTERLÂNDIA – Território localizado no interior, atrás de uma costa marítima ou de um rio.
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INDUSTRIALIZAÇÃO – Processo de construção da capacidade de um país de processar, a-través de suas indústrias, matérias-primas e de manufaturar bens para consumo ou elaboração adicional.
MAIS-VALIA – Conceito desenvolvido por Karl Marx (1818-1883), em seus estudos de Eco-nomia Política (especialmente em sua obra O Capital), retomando concepções sobre a teoria do valor de Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). Marx afirma que o valor de troca (o valor de mercado) das mercadorias é determinado pela quantidade (tempo) de trabalho socialmente necessário para sua produção e que esse valor é apenas parcialmente repassado aos trabalhadores que as produziram, em forma de salário; o valor excedente, o so-bre valor criado pelo trabalho.
MALHA FERROVIÁRIA – Conjunto de ferrovias que se entrelaçam em um determinado espaço, estado, ou país.
MANUFATURA – A manufatura corresponde ao estágio intermediário entre o artesanato e a maquinofatura. Nesse estágio já ocorria a divisão do trabalho (cada operário realizava uma tarefa ou parte da produção), mas a produção ainda dependia fundamentalmente do trabalho manual, embora já houvesse o emprego de máquinas simples. Esse estágio corresponde à fase inicial do capitalismo (1620-1750).
MAQUINOFATURA – É o estágio atual, iniciado com a Revolução Industrial. Podendo ser caracterizado pelo emprego maciço de máquinas e fontes de energia modernas (carvão mine-ral, petróleo etc.), produção em larga escala, grande divisão e especialização do trabalho (1750 até hoje).
MATÉRIA-PRIMA – Substância bruta principal e essencial com que se faz alguma coisa.
METRÓPOLES – São cidades com densidade demográfica superior a um milhão de habitan-tes. Exemplo: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte.
MODO DE PRODUÇÃO – Conceito marxista que trata da forma como os homens organi-zam a produção e reprodução dos bens necessários à sua existência em dada sociedade e con-ceito histórico, a partir das condições materiais herdadas das gerações anteriores.
MONOPÓLIO – Tráfico, exploração, posse, direito ou privilégio exclusivos.
MULTINACIONAIS – Também conhecidas como transnacionais, são empresas que possuem matriz num país e possuem atuação em diversos países. São grandes empresas que instalam filiais em outros países em busca de mercado consumidor, energia, matéria-prima e mão de obra baratas.
OLIGARQUIA – Regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pes-soas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família. (Derivação: por extensão de sentido): preponderância de um pequeno grupo no poder, especialmente para praticar corrupção e go-vernar em interesse próprio.
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OLIGOPÓLIO – Situação de mercado em que a oferta é controlada por um pequeno número de grandes empresas.
OPEP – Organização dos países produtores de petróleo. Instituída em 1960, com sede em Vi-ena, Áustria. Responsável pela coordenação e unificação da política da comercialização do petróleo, tendo como países membros a Argélia, Abu Dhabi, Arábia Saudita, Bahrein, Equa-dor, Gabão, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar e Venezuela.
PARQUE INDUSTRIAL OU PARQUE EMPRESARIAL – É um espaço territorial no qual se agrupam uma série de atividades industriais ou empresariais que podem ou não estar relacio-nadas entre si.
PEA – População Economicamente Ativa. Parte da população formada por pessoas com mais de 10 anos de idade que exerçam um trabalho remunerado.
PER CAPITA – Per capita é uma expressão latina que significa Por cabeça; Para cada indiví-duo. Portanto, renda per capita significa renda por pessoa; e consumo de energia per capta refere-se ao consumo por pessoa.
PIB – Produto Interno Bruto. O total de bens e serviços gerados por uma região, estado ou país no período de 1 ano, calculando a preços deflacionados e convertidos em dólares ameri-canos como padrão de comparação. Não considerar, ao contrário do PNB, os rendimentos de capital, como juros, recebidos da balança de pagamento com o exterior. Quando se desconta do PIB o cálculo de depreciação de instalações e bens de produção, obtêm-se o produto inter-no líquido que serve de base para o cálculo da renda nacional, adotada como um dos indica-dores do grau de desenvolvimento socioeconômico de uma região, estado ou país, assim como serve de base para cálculo da renda percapita.
PNB – Produto Nacional Bruto. Total de bens e serviços gerado em todo o território de uma nação no período de 1 ano, calculando a preços deflacionados (é descontada a inflação) e con-vertido em dólares americanos como padrão de comparação. Inclui nos cálculos os rendimen-tos de capital, como os juros, recebidos da balança de pagamentos com o exterior.
RECURSOS TÉCNICOS – Conjunto de meios utilizados para resolução de problemas e/ou desenvolver, melhorar ou proceder ao processo de produção, industrialização, extração ou desenvolvimento de tarefas com maior capacidade de resposta produtiva e de qualidade.
REPÚBLICA VELHA – Foi o período da história do Brasil que se estendeu da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, até a Revolução de 1930 que levou Getulio Vargas ao poder, e que depôs o 13º e último presidente da República Velha Washington Luís.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – Por Revolução Industrial podemos entender as profundas transformações resultantes do progresso da técnica aplicada à indústria, ou seja, a passagem de uma sociedade rural e artesanal para uma sociedade urbana e industrial. Com o seu desen-volvimento, a indústria se expande da Inglaterra, estabelecendo-se em outros países europeus, como Alemanha, Bélgica, França e, mais tarde para outras áreas fora da Europa Ocidental como Japão, Estados Unidos, Rússia etc.
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SETOR QUATERNÁRIO – É citado recentemente para referisse às atividades profissionais vinculadas à Revolução Tecno-Científica.
SINERGIA – Associação simultânea de vários fatores que contribuem para uma ação coorde-nada.
SUPORTE – Conjunto de elementos entre os quais se estabelecem relações e operações que lhes dão as características de grupo, ou de anel, ou de domínio.
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