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    Fundação das Universidades PortuguesasUniversidade Nacional Timor Lorosa’e

    FINANÇAS PÚBLICAS

    Disciplina leccionada ao terceiro ano do Curso de Direito

    Ano lectivo 2009/2010

    SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS 

    1. Conceitos fundamentais; 2. Orçamento Geral do Estado;

    3. Despesa Pública; 4. Crédito Público;

    5. Receitas Públicas; 6. Políticas Financeiras.

    Ana Amorim

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    1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

     As Finanças Públicas correspondem ao estudo da aquisição e utilização dos instrumentos ou

    meios financeiros destinados à satisfação de necessidades colectivas, enquanto incumbência

    essencial do Estado. Com vista a satisfazer as necessidades dos indivíduos, o Estado realiza

    despesas com a produção de bens e a prestação de serviços. Já as receitas resultam

    sobretudo de operações de troca e da cobrança de taxas e impostos aos contribuintes.

    A) Necessidades cuja satisfação incumbe ao Estado:

    •  Necessidades colectivas (por exemplo, a defesa nacional e a saúde pública): a

    concreta determinação das necessidades colectivas a satisfazer pelo Estado em

    cada momento depende de uma opção política;

    •  Necessidades colectivas e simultaneamente individuais, em que o Estado suporta

    uma parte ou a totalidade do custo, sendo o preço pago pelos cidadãos inferior ao

    custo efectivo do bem produzido ou do serviço prestado (por exemplo, a educação,

    a saúde individual e a justiça); 

    •  Bens que apenas o Estado pode produzir, uma vez que, no que respeita ao seu

    financiamento, dependem estritamente da imposição coactiva (por exemplo, a

    redistribuição de rendimento e as políticas de estabilidade económica). 

    B) Necessidades cuja satisfação incumbe aos particulares:

    •  Necessidades individuais; 

    •  Necessidades colectivas e simultaneamente individuais, desde que as oferta

    privada dos bens e serviços sejam consideradas adequadas à satisfação dasnecessidades existentes (por exemplo, a alimentação); 

    •  Necessidades colectivas e simultaneamente individuais, mediante imposição ao

    particular de obrigações de serviço público e a correlativa atribuição de uma

    compensação financeira, sempre que a oferta em condições de mercado não seja

    apta a satisfazer todas as necessidades: é o que acontece, designadamente, no

    âmbito dos serviços de interesse económico geral, na medida em que o Estado

    deve garantir a todos os cidadãos um núcleo de serviços essenciais à vida, como o

    fornecimento de água, electricidade, transportes públicos e telecomunicações. 

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    O cumprimento das obrigações de serviço público requer, assim, em alternativa, a

    tradicional prestação directa pelos próprios poderes públicos ou a sua prestaçãopor operadores privados, mediante imposição de certos deveres. 

    Classificação das necessidades

    (i) Necessidades de satisfação activa: exigem uma dada actividade do consumidor. Pode

    ser cobrado um preço pela utilização dos bens ou serviços, o que determina a

    existência de um princípio de exclusão (o preço exclui aqueles que não podem pagar);

    (ii) Necessidades de satisfação passiva: satisfazem-se pela mera existência dos bens ou

    serviços, pelo que beneficiam automaticamente todos os cidadãos (veja-se o exemplo

    paradigmático da defesa nacional), o que determina a existência de um princípio de

    não exclusão e não rivalidade. Na medida em que não pode ser exigido aos cidadãos

    o pagamento de qualquer preço, a utilização passiva destes bens ou serviços apenas

    pode ser financiada de forma coactiva, pelo que apenas o Estado estará em condições

    de assegurar a satisfação destas necessidades, mediante recurso aos seus meios de

    financiamento próprios, onde se incluem especialmente:

    •  Preço dos bens produzidos e vendidos pelo Estado como qualquer particular,

    mediante obtenção de lucro: resultam de operações de troca, ou seja, de negócios

     jurídicos em que o Estado surge como vendedor do seu património privado. São

    receitas patrimoniais voluntárias, cujo montante é estabelecido contratualmente;

    •  Empréstimos: resultam de operações de troca em que o Estado surge na qualidade

    de devedor (o recurso ao crédito deve ser pontual e não definitivo);

    •  Impostos: não resultam de operações de troca mas de uma imposição com fonte

    legal. São receitas coactivas e, enquanto tal, necessariamente públicas, sendo o

    respectivo montante estabelecido de forma unilateral pelos poderes públicos.

     A possibilidade de existirem receitas coactivas, que representam a maior parte das receitas do

    Estado, distingue as finanças públicas das finanças privadas, assentes em puras relações de

    troca com finalidade lucrativa  e em que as despesas são estritamente determinadas pelo

    valor das receitas. Já a actividade do Estado não tem uma finalidade lucrativa mas a mera

    satisfação de necessidades, dado que:

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    o  Na produção de bens públicos (que apenas satisfazem necessidades colectivas), o

    Estado tem despesas mas não cobra aos cidadãos qualquer preço, encontrando-seinviabilizada a obtenção de lucro;

    o  Na produção de bens semipúblicos (destinados à satisfação das necessidades

    individuais julgadas convenientes), o preço estabelecido pelo Estado não tem como

    objectivo a obtenção de lucro e fica muitas vezes abaixo do custo de produção. Neste

    sentido, o Estado não se propõe obter receitas superiores às despesas.

    2. ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO

    O Orçamento Geral do Estado corresponde a uma previsão de despesas e receitas a realizar

    pela Administração Pública num determinado período limitado de tempo (nos termos da Lei n.º

    8/2007, de 21 de Setembro, o Período Orçamental inicia-se a 1 de Janeiro e termina a 31 de

    Dezembro de cada ano). A limitação estabelecida quanto à vigência orçamental justifica-se

    pela impossibilidade de prever com rigor as despesas e receitas a realizar num futuro distante.

     Assim, à semelhança do que sucede na contabilidade das empresas privadas, foi estabelecidarelativamente ao Orçamento Geral do Estado a regra da anualidade orçamental.

     Ao contrário do Orçamento, que corresponde a uma previsão de despesas e receitas a realizar

    (futuro), a Conta representa a efectivação das despesas e receitas realizadas (passado) e o

    Balanço o quadro de uma situação patrimonial existente (presente).

    Orçamento de gerência e de exercício

    •  Orçamento de gerência: conjunto de cobranças e pagamentos realizados num dado

    período. Na medida em que reporta ao momento da cobrança e pagamento, engloba

    as receitas que o Estado irá cobrar e as despesas que irá pagar durante o ano;

    •  Orçamento de exercício: conjunto de cobranças e pagamentos resultantes de créditos

    e dívidas nascidos num dado período. Na medida em que reporta ao momento do

    surgimento, engloba os créditos e as dívidas que irão surgir a favor e contra o Estado

    durante o ano, permitindo saber se os créditos serão suficientes para cobrir as dívidas

    e consequentemente ter uma visão global da situação financeira do Estado.

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    Considerando a possibilidade de ampla variação das despesas ao longo dos tempos, importa

    salientar as vantagens do orçamento de gerência, que determinam a sua adopção preferencialface ao orçamento de exercício:

    o  Permite organizar melhor a entrada e saída de capitais, garantindo que as cobranças

    de determinado período financeiro são suficientes para realizar os pagamentos;

    o  É de fácil elaboração.

    Neste contexto, tratando-se de despesas plurianuais, devem inscrever-se no orçamento de

    cada período financeiro apenas as parcelas respeitantes ao mesmo.

    Funções do Orçamento Geral do Estado

    •  Relacionação de despesas e receitas, visando garantir que as receitas são

    suficientes para cobrir as despesas;

    •  Fixação das despesas, que correspondem a autorizações de montantes máximos

    de despesa para cada serviço;

      Exposição do plano financeiro (por exemplo, previsão de incentivos a determinadaactividade económica, mediante isenções fiscais).

    Regras de organização do Orçamento Geral do Estado

    A) Unidade:  as despesas e as receitas do Estado devem ser inscritas num único

    documento. O cumprimento desta regra permitirá aferir, em cada ano, se as receitas

    são suficientes para cobrir as despesas, bem como atingir uma melhor percepção do

    plano financeiro do Estado.

    B) Especificação: em conformidade com o art. 145.º n.º 2 da Constituição da República

    Democrática de Timor-Leste, as despesas e as receitas devem ser especificadas ou

    discriminadas, fazendo-se separadamente a previsão de cada uma das respectivas

    espécies e não uma mera previsão global. No entanto, por razões de eficiência e

    eficácia, o Orçamento Geral do Estado não deve ser excessivamente especificado, sob

    pena de limitar a iniciativa dos serviços, impedindo a respectiva adaptação às

    circunstâncias e às necessidades concretamente verificadas.

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    C) Não compensação ou universalidade: as receitas e despesas devem ser inscritas

    sem qualquer compensação ou desconto (por exemplo, se a cobrança de um impostoimplicar a realização de uma despesa, deve ser inscrita no orçamento a receita bruta e

    a despesa bruta, e não o produto do imposto deduzido das despesas com a sua

    obtenção). Esta regra equivale ao orçamento bruto e funda-se no facto de apenas a

    fixação de despesa bruta permitir que sejam estabelecidas autorizações de montantes

    máximos a realizar por cada serviço.

    D) Não consignação: as receitas devem ser indiscriminadamente destinadas à cobertura

    de todas as despesas e não afectas à cobertura de algumas despesas em especial. Seas receitas estivessem consignadas a determinadas despesas, a não cobrança de uma

    despesa poderia inviabilizar a realização de uma despesa considerada essencial.

    E) Transparência: em conformidade com o art. 145.º n.º 2 da Constituição da República

    Democrática de Timor-Leste, devem ser evitadas dotações ou fundos secretos.

    Autonomia financeira e consignação de receitasPodem distinguir-se três situações típicas:

    •  Serviços dependentes, sem autonomia administrativa – não podem praticar actos

    definitivos e executórios, nomeadamente autorizar despesas e pagamentos;

    •  Serviços dotados de autonomia administrativa (que constituem a grande maioria) –

    podem praticar actos definitivos e executórios, nomeadamente autorizar despesas

    e pagamentos, mas os respectivos créditos encontram-se inscritos no Orçamento

    Geral do Estado;

    •  Serviços dotados de autonomia administrativa e financeira, legalmente atribuída –

    constituem Órgãos Autónomos  aqueles constantes da Tabela III anexa ao

    Orçamento Geral do Estado, designadamente, a Electricidade de Timor-Leste, a

     ANATL, a APORTIL e o IGE.

    Na medida em que os Órgãos Autónomos dispõem de receitas e Orçamento

    próprio, é afastado o princípio geral da não consignação e funciona a consignação

    das receitas próprias, que serão afectas às respectivas despesas.

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    No caso dos Órgãos Autónomos, pode igualmente ser afastado o princípio da

    unidade, sempre que o Orçamento próprio conste de documento à parte (não é,porém, a opção que tem sido realizada em Timor-Leste nos sucessivos

    Orçamentos Gerais do Estado).

    O incumprimento das regras de organização

    Para além dos que decorrem da autonomia financeira, há casos de consignação de receitas 

    em que a afectação pode estar expressamente prevista no Orçamento Geral do Estado (inclui-

    se aqui, por exemplo, a criação de um imposto que visa fazer face a despesas novas,

    decorrentes do surgimento de um serviço anteriormente inexistente). Mas a consignação

    poderá servir também para limitar o montante das despesas ao das receitas cobradas aos

    cidadãos que dão causa às mesmas (por exemplo, as despesas de manutenção das estradas

    são pagas pelo produto das taxas cobradas aos veículos que nelas circulam).

    Nos casos de consignação deverá verificar-se o duplo cabimento:

    o  Primeiro cabimento: as despesas deverão caber, desde logo, nas respectivas

    dotações orçamentais, que constituem em qualquer caso o limite máximo dadespesa. Daqui decorre que não estando previsto o crédito orçamental, a despesa

    não poderá ser realizada;

    o  Segundo cabimento: as despesas deverão caber também no produto das receitas

    que lhes foram afectadas. Consequentemente, se estas não forem cobradas na

    íntegra, o órgão ou serviço em causa não pode realizar todas as despesas

    previstas no seu Orçamento.

     Assim, se o produto das receitas consignadas iguala ou excede o montante

    previsto, as despesas têm a sua cobertura assegurada; se, pelo contrário, o

    produto das receitas consignadas vem a ser inferior ao montante previsto, o serviço

    não pode realizar todas as despesas.

    Para além dos que decorrem da autonomia financeira, podem verificar-se outros casos de

    pluralidade orçamental  ou afastamento do princípio geral da unidade, constando de

    diferentes documentos o Orçamento ordinário face ao Orçamento extraordinário e o Orçamento

    corrente face ao Orçamento de capital.

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    A) Orçamento ordinário e extraordinário

    •  Despesas ordinárias: aquelas que presumivelmente se repetirão em todos os

    períodos financeiros, correspondendo assim aos encargos permanentes do

    Estado (por exemplo, os salários dos funcionários públicos);

    •  Despesas extraordinárias: aquelas que não se repetem em todos os períodos

    financeiros, verificando-se por isso maior dificuldade na respectiva previsão

    (por exemplo, a construção de uma estrada);

    •  Despesas extraordinárias recorrentes: aquelas que não se repetem em espécie

    mas cujo montante se repete em todos os períodos financeiros;

    •  Receitas ordinárias: aquelas que presumivelmente se repetirão em todos os

    períodos financeiros (por exemplo, as receitas patrimoniais, como as taxas e

    os impostos permanentes);

    •  Receitas extraordinárias: aquelas que não se repetem em todos os períodos

    financeiros (por exemplo, as resultantes de vendas de valores patrimoniais do

    Estado e os empréstimos).

     A eventual elaboração de dois documentos orçamentais distintos encontrafundamento na conveniência de as despesas ordinárias e extraordinárias

    recorrentes serem cobertas com receitas ordinárias e as despesas

    extraordinárias com receitas extraordinárias.

    B) Orçamento corrente e orçamento de capital

    •  Despesas correntes: aquelas realizadas em bens consumíveis (por exemplo,

    salários e aquisição de bens que se gastarão durante o período financeiro),

    bem como as transferências correntes (bolsas de estudo ou subsídios de

    desemprego, que vão traduzir-se na aquisição de bens consumíveis) e as

    quotas de amortização dos bens duradouros, equivalentes ao valor da quota

    dos bens duradouros consumida no período financeiro;

    •  Despesas de capital: aquelas realizadas em bens duradouros (por exemplo, na

    construção de edifícios públicos) ou que contribuem para a formação de aforro

    (empréstimos concedidos pelo Estado, reembolso de empréstimos contraídos

    pelo Estado e transferências de capital realizadas a favor de entidades

    públicas ou privadas);

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    •  Receitas correntes: aquelas que provêm do rendimento do próprio período (por

    exemplo, taxas e impostos cobrados aos cidadãos) e também astransferências correntes, equivalentes às prestações gratuitas realizadas a

    favor do Estado e destinadas a despesas correntes;

    •  Receitas de capital: aquelas que provêm do aforro (por exemplo, venda de

    títulos de crédito privados pelo Estado, ou seja, acções e obrigações que os

    cidadãos adquirem com o resultado do seu aforro e reembolso de empréstimos

    concedidos pelo Estado) e também as transferências de capital, equivalentes

    às prestações gratuitas realizadas a favor do Estado e destinadas a despesas

    de capital.

    Todas as despesas são indistintamente cobertas com receitas correntes ou

    com receitas de capital – nesse sentido, o défice do orçamento corrente deve

    ser compensado com o excedente do orçamento de capital e vice-versa.

    Podem elaborar-se dois documentos orçamentais distintos, um Orçamento

    corrente e um Orçamento de capital, para permitir o cálculo dos custos de cada

    serviço, mas deve ser preferida a solução em que o Estado prevê todas asdespesas e receitas no mesmo documento, separando as duas categorias.

    O equilíbrio orçamental

    Recorde-se que o Orçamento Geral do Estado visa relacionar despesas e receitas, garantindo

    que as receitas são suficientes para cobrir as despesas. Assim, o orçamento deve ser, pelo

    menos, equilibrado e as receitas suficientes para cobrir as despesas. Um orçamento deficitário

    apenas se compreende na medida em que o equilíbrio orçamental não se define pelo equilíbrio

    entre todas as despesas e todas as receitas.

    (i) Equilíbrio entre despesas efectivas e receitas efectivas (concepção clássica)

    •  Despesas efectivas: aquelas que diminuem o património do Estado – por esta

    categoria ficam abrangidas tanto as despesas em bens de consumo como as

    despesas em bens duradouros, que não dão rendimento, isto é, não têm um

    efectivo valor de exploração;

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    •  Receitas efectivas: aquelas que aumentam o património do Estado, sendo

    equivalentes às receitas patrimoniais (taxas e impostos).

    De acordo com esta concepção de equilíbrio orçamental, se o montante das despesas

    efectivas for igual ao das receitas efectivas, o Estado chega ao termo da execução do

    Orçamento com o mesmo património que tinha no início.

    Apreciação crítica:

    Enquanto todas as despesas públicas (exceptuados os reembolsos de empréstimos)

    correspondem a uma diminuição do património do Estado, apenas as receitas

    patrimoniais (essencialmente, os impostos) são receitas efectivas. O equilíbrio entre

    despesas totais e impostos importaria, desta forma, uma escassa flexibilidade do

    Estado na gestão dos seus instrumentos financeiros, com as seguintes consequências:

    o  Manutenção do património do Estado, uma vez que esta concepção coloca

    a aquisição de bens duradouros e o investimento público na estrita

    dependência das receitas dos impostos, cujo aumento encontra sempre

    resistência por parte dos contribuintes;

    o  Neutralidade das finanças: considerando que os contribuintes diminuem a

    sua despesa na medida dos impostos que pagam, a despesa privada

    diminui proporcionalmente ao aumento da despesa pública, igualando as

    despesas públicas totais;

    o  No caso de desequilíbrio orçamental, o Estado teria como opção o recurso

    a empréstimos mediante emissão de moeda (geradora de inflação) ou o

    recurso a empréstimo de longo prazo junto do público (nesta hipótese, o

    aforro dos particulares seria gasto pelo Estado em bens de consumo,

    impedindo o investimento privado ou a formação de capital).

    (ii) Equilíbrio entre despesas ordinárias e receitas ordinárias

    Se o montante das despesas ordinárias for igual ao das receitas ordinárias, há

    equilíbrio entre as receitas que a geração presente paga e as despesas de que

    beneficia em exclusivo (ou despesas cuja utilidade se esgota no período financeiro em

    que são realizadas, como as que asseguram o funcionamento dos serviços públicos).

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    Contrariamente, as despesas extraordinárias são de utilidade duradoura e

    correspondem a um benefício de várias gerações, pelo que a sua cobertura só podeconseguir-se com receitas extraordinárias (em especial, os empréstimos).

    Apreciação crítica:

    Este critério deixa ao Governo a função de determinar quais as despesas ordinárias e

    extraordinárias. No entanto, é legítimo discutir-se em que categoria se deverá incluir

    um conjunto alargado de despesas, para o qual não existe uma delimitação unívoca.

    Mas para além da tendência para a arbitrariedade, esta concepção de equilíbrio

    orçamental assenta também em pressupostos falaciosos:

    o  Os empréstimos públicos não transferem necessariamente da geração

    presente para as gerações futuras os encargos das despesas realizada;

    o  Às despesas ordinárias não corresponde necessariamente uma utilidade

    temporária (por exemplo, a educação e a prestação de cuidados de saúde

    têm benefícios para as gerações presentes que se repercutem no futuro).

    (iii) Equilíbrio entre despesas correntes e receitas correntes (concepção adoptada)

     Ao determinar os efeitos das finanças sobre o consumo e o aforro, verifica-se que se o

    montante das despesas correntes for igual ao das receitas correntes, há equilíbrio entre

    a redução do consumo privado (decorrente do pagamento dos impostos e outras

    receitas correntes pelos cidadãos) e o aumento do consumo público (despesas

    correntes). Da mesma forma, se o montante das despesas de capital for igual ao das

    receitas de capital, há equilíbrio entre a redução do aforro privado e o aumento do

    aforro público ou investimento em bens duradouros.

    Consequentemente decorre desta concepção de equilíbrio orçamental que a actividade

    financeira do Estado não afectaria o nível global de consumo e de aforro.

    Apreciação crítica: 

     A adopção do equilíbrio entre despesas correntes e receitas correntes apresenta as

    seguintes vantagens face às concepções anteriormente apresentadas:

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    o  Na medida em que o recurso ao crédito está facilitado, os bens duradouros

    e o investimento público são beneficiados. No entanto, as despesas embens consumíveis ficam na dependência do produto dos impostos;

    o  A determinação das despesas correntes e de capital é menos arbitrária do

    que a determinação das despesas ordinárias e extraordinárias.

    A elaboração do Orçamento Geral do Estado em Timor-Leste

    Nos termos do art. 145.º n.º 1 e 3 da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, o

    Orçamento Geral do Estado “é elaborado pelo Governo e aprovado pelo Parlamento Nacional ”,

    sendo a respectiva execução “fiscalizada pelo Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de

    Contas e pelo Parlamento Nacional ”. Assim, considerando que se trata de um plano da

     Administração Pública em matéria de despesas e receitas, a proposta de Orçamento Geral do

    Estado deve ser apresentada pelo Governo.

    Em Timor-Leste a elaboração do Orçamento Geral do Estado encontra-se actualmente prevista

    na Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro, sobre Orçamento e Gestão Financeira, que revogou o

    Regulamento UNTAET n.º 2001/13. A referida lei consagra:

    •  A regra da anualidade do Orçamento Geral do Estado (art. 3.º), os princípios da

    unidade e universalidade (art. 4.º), o princípio da não compensação (art. 5.º), o

    princípio da não consignação de receitas (art. 6.º), o princípio da especificação (art. 7.º

    n.º 1 e art. 23.º) e o princípio da transparência (art. 7.º n.º 2);

    •  A função do Orçamento Geral do Estado consubstanciada na relacionação de receitas

    e despesas (concepção de equilíbrio constante do art. 8.º);

      A autonomia administrativa e financeira de certos serviços (art. 2.º n.º 2), relativamenteaos quais prevê expressamente a afectação de receitas próprias (art. 15.º e 19.º n.º 3).

    Numa primeira fase, cada serviço elabora o projecto de orçamento das suas despesas, que é

    remetido ao Ministério respectivo e posteriormente comunicado ao Ministério das Finanças,

    através da Direcção Nacional do Orçamento, cuja principal missão consiste em executar “as

    actividades relacionadas com a elaboração, conteúdo, acompanhamento e avaliação do

    Orçamento Geral do Estado”, nos termos do art. 11.º da Lei Orgânica do Ministério das

    Finanças, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 13/2009, de 25 de Fevereiro.

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    Numa segunda fase, o Governo apresenta ao Parlamento Nacional, até ao dia 15 de Outubro,

    a proposta de lei do Orçamento Geral do Estado para o ano financeiro seguinte, elaborada deacordo com a estrutura e o conteúdo formal previstos para o próprio Orçamento (art. 22.º e

    seguintes, aplicáveis por remissão do art. 29.º da Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro).

     A lei do Orçamento Geral do Estado deve ser aprovada até ao dia anterior ao início do ano

    financeiro a que respeita. Se tal não acontecer, admite-se o recurso a dotações orçamentais

    temporárias, segundo um regime duodecimal baseado na dotação orçamental para o mesmo

    fim prevista no Orçamento Geral do Estado do ano anterior. Estas dotações orçamentais

    temporárias visam permitir que a actividade da Administração Pública não seja objecto deinterrupções, pela ausência de verbas atribuídas, incluindo-se posteriormente as despesas

    realizadas no Orçamento Geral do Estado definitivo do ano financeiro em curso, nos termos do

    art. 31.º da Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro.

    A) Método de avaliação das despesas

     A previsão das despesas a constar do Orçamento Geral do Estado deve ser feita de acordo

    com o método da avaliação directa, visando determinar aquilo que cada serviço julga

    necessário gastar na gerência futura. Fica assim excluído o recurso ao critério fundado no

    volume das despesas realizadas na gerência passada com eventual incremento, sistema que

    tendencialmente potencia o incremento de gastos supérfluos e inúteis, não obstante apresentar

    vantagens ao nível da facilidade e segurança da sua aplicação.

    B) Métodos de avaliação das receitas

    Em certos casos, deve ser feita também uma avaliação directa das receitas, na medida em que

    por exemplo, a receita resultante da cobrança de um novo imposto ou de um imposto cujoregime legal haja sido alterado não pode ser prevista de acordo com a gerência passada.

    No entanto, em regra, deve ser feira uma avaliação automática:

    •  Segundo o método do penúltimo ano, relativamente às receitas pouco variáveis – a

    avaliação realiza-se de acordo com os resultados do último ano conhecido, desde

    que se aceite como pressuposto válido que os factores determinantes das receitas,

    em especial, o Rendimento Nacional, se mantêm inalterados ao longo do tempo

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    (assim, por exemplo, a previsão das despesas para 2010 seria feita no final do ano

    de 2009, com base nos resultados obtidos em 2008);

    •  Segundo o método das correcções ou do penúltimo ano corrigido, que utiliza o

    coeficiente de aumento das receitas, relativamente às receitas pouco variáveis mas

    com tendência para aumentar – a avaliação realiza-se mediante correcção dos

    últimos resultados conhecidos, dado que o rendimento do país aumenta, quer em

    termos reais (aumento resultante do incremento da produção), quer em termos

    nominais (aumento resultante da desvalorização da moeda);

    •  Segundo o método do rendimento médio, relativamente às receitas muito variáveis

     – a avaliação realiza-se de acordo com a média das receitas obtidas nos últimoscinco anos, período que tendencialmente abrangerá tanto anos de prosperidade

    como anos de depressão.

    Execução do Orçamento Geral do Estado

     A execução do Orçamento Geral do Estado corresponde à cobrança das receitas e ao

    pagamento das despesas previstas para cada serviço e constitui atribuição da Direcção

    Nacional do Tesouro, nos termos do art. 12.º da Lei Orgânica do Ministério das Finanças.

    Em matéria de despesas, não é possível gastar numa única utilização a totalidade da dotação

    orçamental, devendo os encargos ser assumidos e os pagamentos autorizados por

    importâncias que não excedam os duodécimos vencidos nos meses anteriores, de acordo com

    um regime de duodécimos. Visa-se, por esta via, impedir que o conjunto das despesas se

    concentre nos primeiros meses do ano. Acresce que a realização de despesas está

    dependente da emissão, pelo Director do Tesouro, de um Aviso de Autorização de Despesas 

    sujeito à disponibilidade de fundos (art. 39.º da Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro).

    Os Avisos de Autorização de Despesas reportam à totalidade ou parte de uma dotação

    orçamental e especificam o tempo durante o qual a autorização é válida; no caso de não

    utilização ou utilização parcial do montante da dotação orçamental, poderá ser solicitada ao

    Ministério das Finanças a emenda do mesmo para outro período (art. 40.º da Lei n.º 13/2009,

    de 21 de Outubro). Note-se, porém, que todas as dotações orçamentais caducam a 31 de

    Dezembro do ano financeiro a que respeitam.

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    Alterações ao orçamento das despesas 

     As alterações ao orçamento das despesas decorrem da necessidade de reforçar uma

    determinada dotação orçamental ou realizar uma despesa não prevista, através da criação de

    uma nova dotação orçamental. Encontram-se previstas nos art. 34.º e 35.º da referida Lei n.º

    13/2009, de 21 de Outubro, e abrangem as seguintes situações:

    •  Transferências de verbas excedentárias de outros créditos (por exemplo, verbas

    não atribuídas por cancelamento de parte de uma dotação orçamental existente,

    desde que se encontrem preenchidos os requisitos do art. 35.º n.º 2);

    •  Abertura de créditos especiais ou aumento da previsão de receitas, quando

    legalmente admissível (por exemplo, mediante aumento da previsão de uma receita

    consignada e abertura de um crédito de montante igual ao aumento da previsão,

    que vem a reforçar a verba insuficiente).

     As alterações do Orçamento Geral do Estado mediante transferência de verbas e abertura de

    créditos especiais devem ser aprovadas pelo Parlamento Nacional, sob proposta do Governo

    (a estrutura das leis de alteração orçamental obedece às mesmas regras das leis que aprovam

    o Orçamento Geral do Estado).

    Exceptuam-se as despesas consideradas urgentes ou inadiáveis e não previsíveis, designadas

    Despesas de Contingência, em que compete ao próprio Ministro das Finanças a alteração da

    dotação orçamental prevista para o Programa de um Ministério ou Secretaria de Estado, nos

    termos do art. 34.º da referida Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro.

    Encerramento da Conta: Conta de gerência e Conta de exercício

    •  Conta de gerência: corresponde tendencialmente ao orçamento de gerência e abrange

    todas as despesas pagas e as receitas cobradas durante um determinado período

    financeiro;

    •  Conta de exercício: corresponde tendencialmente ao orçamento de exercício e abrange

    todas as despesas pagas e as receitas cobradas em virtude das dívidas e dos créditos

    surgidos num determinado período financeiro.

    No entanto, o carácter da conta é independente do carácter do orçamento.

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    O Governo apresenta ao Parlamento:

    o  Trimestralmente, e no prazo de dois meses relativamente ao período abrangido,

    relatórios sobre a evolução do Orçamento Geral do Estado, que visam o controlo

    da actividade financeira do Estado ao longo do ano e integram o conceito de

    balanço (art. 44.º da Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro);

    o  Nos três meses subsequentes ao fim do período financeiro, um relatório intermédio

    de execução orçamental, incluindo um relatório de despesas e receitas (art. 45.º n.º

    1 alínea a) da Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro);

    o  Nos nove meses subsequentes ao fim do período financeiro, as contas anuais

    auditadas (ou conjunto dos balanços financeiros compilados pelo Tesouro,

    compatíveis com os padrões internacionais de contabilidade – art. 45.º n.º 1 alínea

    b) da Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro).

    Fiscalização orçamental

    •  Fiscalização realizada pelo Parlamento Nacional – o referido relatório de despesas

    e receitas e as contas anuais auditadas devem ser submetidos a aprovação pelo

    mesmo órgão que aprova o Orçamento Geral do Estado, no âmbito do exercício dopoder de controlo sobre a respectiva execução;

    •  Fiscalização realizada pelo Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas ou,

    enquanto este Tribunal não estiver estabelecido em Timor-Leste, pelo Supremo

    Tribunal de Justiça, cuja competência transitória consta do art. 164.º da

    Constituição da República Democrática de Timor-Leste, aplicável por remissão do

    art. 42.º n.º 1 da Lei n.º 13/2009, de 21 de Outubro (note-se que presentemente

    esta competência é ainda exercida pelo Tribunal de Recurso, enquanto instância

     judicial máxima da organização judiciária, nos termos do n.º 2 do referido preceito

    constitucional). Consagra-se, assim, um controlo jurisdicional sobre os resultados

    da actividade financeira do Estado.

     Acresce que os actos e omissões praticados no exercício das funções de execução

    orçamental – nomeadamente, o uso indevido das dotações orçamentais atribuídas

    a cada serviço – dão lugar à responsabilidade política, financeira, civil e criminal

    dos titulares dos respectivos cargos políticos, nos termos do art. 46.º da Lei n.º

    13/2009, de 21 de Outubro.

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    3. DESPESA PÚBLICA

    O aumento da despesa pública

    Timor-Leste assiste, desde a independência, a um desenvolvimento exponencial da actividade

    do Estado e das autarquias locais, que tenderá a tornar-se regular com o decurso do tempo.

    Neste sentido, segundo a Lei de Wagner , tal desenvolvimento da actividade do Estado e das

    autarquias locais potencia o aumento da despesa pública a longo prazo:

    •  Aumento da despesa pública em termos absolutos;

    •  Aumento da despesa pública em termos relativos, que abrange:

    o  Aumento da despesa nominal (preços correntes), isto é, aumento da despesa

    que não atende a eventuais períodos de desvalorização da moeda ou à alta do

    nível geral dos preços. Nestes casos, impõe-se a correcção da despesa real

    (preços constantes), mediante divisão da despesa pública pelo coeficiente de

    desvalorização da moeda;

    o  Aumento mais do que proporcional ao crescimento da população (recorde-seque cada Estado deve satisfazer as necessidades colectivas da sua

    comunidade nacional). Verifica-se aqui um fenómeno de capitação das

    despesas públicas, que corresponde à divisão das despesas públicas em cada

    ano pelo número de habitantes;

    o  Aumento mais do que proporcional ao aumento do Produto Nacional Bruto

    (PNB) ou soma dos bens e serviços finais produzidos mediante utilização de

    factores produtivos nacionais num determinado período de tempo.

    Causas do tendencial aumento da despesa pública

    O tendencial aumento da despesa pública funda-se na expansão da actividade do Estado:

    •  Intensiva: o Estado melhora e desenvolve actividades já exercidas;

    •  Extensiva: o Estado empreende novas actividades (por exemplo, a instauração de

    um regime de segurança social, a regulação económica de determinados sectores

    de actividade ou a construção de infra-estruturas).

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     As perturbações sociais podem também ajudar a explicar o aumento da despesa pública:

    •  Durante guerras ou grandes mutações políticas, a necessidade de fazer face ao

    aumento da despesa pública determina o aumento dos impostos cobrados aos

    cidadãos: efeito-deslocação das despesas;

    •  Uma vez terminadas essas perturbações sociais, parte das receitas patrimoniais

    fica disponível para a realização de outras despesas (eventualmente, destinadas à

    satisfação de novas necessidades): efeito-apreciação das despesas.

    De acordo com um critério funcional, é possível analisar o aumento tendencial da despesa em

    cada uma das funções desempenhadas pelo Estado, aferindo-se aquelas a que é atribuída

    maior importância, de acordo com a opção política realizada. Para o efeito, efectua-se o cálculo

    das percentagens de despesa exigida para o desempenho de cada função ao longo dos anos,

    relativamente ao montante global das despesas.

    Efeitos económicos das despesas

    (i) Produtividade da despesa pública

    •  Despesas públicas produtivas: o Estado produz bens e presta serviços que

    visam a satisfação de necessidades colectivas. Neste sentido, a sua actividade

    destina-se a criar utilidades; 

    •  Despesas públicas reprodutivas ou duplamente produtivas: aumentam a

    capacidade produtora do país, uma vez que criam capacidade de produção,

    conduzindo assim à obtenção de maior rendimento futuro, na medida em que a

    economia nacional fica em condições de produzir mais (por exemplo,

    investimento económico em capital fixo e em capital humano, como a

    prestação de cuidados de saúde ou a educação). 

    (ii) Criação de rendimentos

    •  Despesas-compra: a realização de despesas na aquisição de produtos e

    serviços aumenta o Rendimento Nacional do respectivo período financeiro

    (nesta categoria deverá incluir-se a generalidade das despesas do Estado,

    designadamente, o pagamento de salários e a construção de edifícios);

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    Taxa de juro EMC Investimento

    Constante Aumenta Aumenta

    Constante Diminui Diminui

    Taxa de juro EMC Investimento

     Aumenta Constante Diminui

    Diminui Constante Aumenta

    Observações à teoria do investimento:

    •  Respeita apenas ao investimento provocado pelo rendimento da actividade económica

    (investimento induzido) e não ao que depende de factores políticos, populacionais ou

    técnicos (investimento autónomo, tal como o investimento em infra-estruturas, edifícios

    públicos, habitações ou máquinas mais evoluídas);

    •  O investimento induzido sofre menos a influência da taxa de juro do que parece à

    primeira vista porque:

    o  Enquanto rendimento previsto, a eficiência marginal do capital não se exprime

    por uma taxa única mas por um intervalo de taxas;

    o  A importância da taxa de juro é menor no caso dos pequenos investimentos de

    curto prazo (que constituem a maioria) do que nos avultados de longo prazo;

    o  Grande parte do investimento é financiada com aforro dos empresários (auto-financiamento), sendo por isso independente da taxa de juro.

    A) Efeito multiplicação

    O aumento do investimento traduz-se num acréscimo do Rendimento Nacional no próprio

    período e num aumento do consumo no período seguinte, em função da propensão marginal

    ao consumo (de acordo com a teoria keynesiana, a realização de despesa pública constitui um

    meio de intervenção do Estado na economia).

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     Assim, na medida em que uma determinada despesa ou investimento inicial do Estado se

    multiplica em rendimento no período seguinte, o Multiplicador (K) é o coeficiente do aumentode rendimento, determinado pelo aumento líquido da procura de bens de consumo. Ou seja,

    quanto maior for a propensão marginal ao consumo de uma determinada comunidade nacional,

    maior será o efeito multiplicação e quanto menor a propensão marginal ao consumo, menor o

    efeito multiplicação.

    Na tabela seguinte, considera-se uma propensão marginal ao consumo de 0,8 e um

    investimento adicional do Estado de 100 no primeiro período, factores que determinam um

    aumento do Rendimento Nacional de 80 no segundo período.

    Período O Período I Período II

    Consumo = 180 Consumo = 180 Consumo = 180 + 80 

    Investimento = 120 Investimento = 120 Investimento = 120

    Investimento do Estado = 100 

    (traduz-se num consumo de 80no período seguinte,

    considerando uma propensão

    marginal ao consumo de 0,8)

    Rendimento Nacional = 300 Rendimento Nacional = 400 Rendimento Nacional = 380

    Restrições ao efeito multiplicação:

    •  Apenas deve ser tida em conta a propensão marginal ao consumo de bens nacionais,

    dado que o multiplicador só actua se não houver fugas de rendimento para o

    estrangeiro, através das importações;

    •  O desenvolvimento da produção total dos bens de consumo só é possível quando os

    factores produtivos não estão a ser plenamente utilizados. Ora, daqui decorre que o

    multiplicador não actua numa situação ideal de pleno emprego, que corresponde à

    plena ocupação das forças de trabalho de um país e, como tal, à máxima produção.

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    B) Efeito aceleração

    O aumento do consumo traduz-se num aumento do investimento porque o aumento da procura

    de bens de consumo suscita um acréscimo da procura de bens de produção duradouros.

    Esta relação entre capital e produto equivale ao coeficiente de capital . Assim, para calcular o

    investimento (capital) necessário a um aumento de consumo (produto), haverá que dividir o

    capital pelo produto. Só há aumento ou aceleração do investimento decorrente do aumento de

    consumo quando o coeficiente de capital é superior a 1, o que significa que o acréscimo de

    capital fixo é mais do que proporcional ao aumento do produto.

    Restrições ao efeito aceleração:

    •  Funciona apenas quando o aumento da procura não puder ser satisfeito com capitais

    fixos não utilizados (equipamento inactivo);

    •  A relação entre consumo e investimento não é técnica mas económica, pelo que o

    aumento do investimento depende das expectativas quanto ao carácter mais ou menos

    provisório do aumento da procura. Se for considerado provisório, haverá tendência

    para intensificar a utilização do equipamento existente em vez de realizar investimento

    em novo equipamento.

    C) Efeito propulsão

    Corresponde à acção combinada do efeito multiplicação e do efeito aceleração. Quanto mais

    elevada for a propensão ao consumo (como tipicamente sucede nos países em vias de

    desenvolvimento), maior é a multiplicação do rendimento – as despesas públicas têm, nestes

    casos, um efeito propulsão muito considerável.

    Na tabela seguinte, para além da propensão marginal ao consumo de 0,8 e do investimento do

    Estado de 100, inicialmente considerados, pressupõe-se agora um coeficiente de capital de 4,

    segundo o qual para um aumento de consumo (produto) de uma unidade é necessária a

    realização de um investimento (capital) de quatro unidades. Verifica-se, desta forma, que em

    resultado da acção combinada do efeito multiplicação e do efeito da aceleração, a conjugação

    dos referidos factores determina um aumento do Rendimento Nacional acumulado de 400 e um

    Rendimento Nacional total de 700.

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    Período O Período I Período II

    Consumo = 180 Consumo = 180 Consumo = 180 + 80 

    Investimento = 120 Investimento = 120

    Investimento = 120 + 320 

    (considerando um coeficiente de

    capital de 4, este investimento

    adicional decorre do aumento do

    consumo em 80)

    Investimento do Estado = 100 

    (traduz-se num consumo de 80no período seguinte,

    considerando uma propensão

    marginal ao consumo de 0,8)

    Rendimento Nacional = 300 Rendimento Nacional = 400 Rendimento acumulado = 400

    Rendimento total = 700

    Influência dos meios de financiamento das despesas no efeito propulsão

    Todas as despesas-compra do Estado (onde se incluem tanto as despesas correntes como as

    despesas de capital) se multiplicam em consumo, uma vez que todas elas se traduzem num

    aumento líquido da procura de bens de consumo. Assim, todas as despesas do Estado são

    consideradas despesas de investimento para efeitos de multiplicação.

    O efeito propulsão depende dos meios de financiamento do Estado:

    •  Impostos: na medida em que são pagos com rendimentos correntes dos particulares,haverá uma diminuição do consumo e do aforro privado (por um lado, os particulares

    destinam a maior parte do seu rendimento a consumo; por outro lado, a diminuição do

    dinheiro disponível nos bancos provoca uma subida da taxa de juro e, em

    consequência, uma diminuição do investimento privado) – efeito propulsão diminuto;

    •  Empréstimos contraídos junto do público: na medida em que fazem aumentar a procura

    de fundos, sobe a taxa de juro e diminui o investimento privado. No entanto, sendo

    voluntários, estes empréstimos não provocam uma diminuição do consumo privado

    (aumenta, por isso, o consumo total) – efeito propulsão reduzido mas já não diminuto;

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    •  Empréstimos contraídos junto dos bancos comerciais (abertura de créditos):

    o  Se não prejudicarem a concessão de créditos aos particulares, as despesas

    públicas importam aumento integral das despesas totais do respectivo período;

    o  Se prejudicarem a concessão de crédito aos particulares, não se verifica um

    aumento equivalente das despesas totais.

    No caso de recurso a empréstimos contraídos junto dos bancos comerciais, verifica-se

    um grande efeito propulsão. Neste sentido, para provocar uma expansão considerável

    dos rendimentos, bastará ao Estado realizar um montante de despesa mais pequenodo que se a mesma fosse financiada com impostos.

    4. CRÉDITO PÚBLICO

    O Estado recorre essencialmente a três tipos de receitas: patrimoniais voluntárias, decorrentes

    dos preços dos bens produzidos e dos serviços prestados; coactivas ou tributárias, decorrentes

    da cobrança de impostos e taxas; creditícias ou empréstimos públicos, enquadrados nas

    categorias amplas das receitas de capital, extraordinárias e não-efectivas.

    As situações de recurso ao crédito

    Vários motivos podem determinar o recurso ao crédito pelo Estado. Entre eles:

    •  Se o orçamento for equilibrado, o recurso ao crédito visa a cobertura de défice da

    tesouraria: ao longo do período financeiro, as receitas que afluem aos cofres do Estadosão insuficientes para cobrir as despesas. Verificando-se o défice transitório, até ao fim

    do período financeiro, o Estado terá receitas suficientes para fazer face às despesas

    cujo pagamento determinou o recurso ao crédito a curto prazo;

    •  Se houver excesso de despesas efectivas sobre as receitas efectivas, o recurso ao

    crédito visa a cobertura do défice do próprio orçamento: neste contexto, presume-se

    que os empréstimos contraídos para fazer face a um orçamento deficitário apenas

    poderão ser reembolsados no período financeiro seguinte, ou seja, trata-se de crédito

    a médio ou longo prazo;

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    •  Esterilização do poder de compra: na medida em que o excesso de procura determina

    um processo inflacionista, o recurso ao crédito visa impedir a realização de despesasprivadas (o Estado absorve o aforro privado mas não deve realizar despesas públicas).

    Classificação dos empréstimos públicos:

    A) Quanto ao lugar: internos e externos

    Os empréstimos públicos são internos quando se dirigem aos capitalistas nacionais

    (residentes no próprio país) e externos quando se dirigem aos capitalistas estrangeiros

    (residentes noutros países).

    B) Quanto à duração: perpétuos e temporários

    Os empréstimos públicos são perpétuos quando o Estado se obriga a pagar um certo

     juro anual mas não a proceder ao reembolso do capital. Sendo representados em

    títulos de crédito (títulos que incorporam uma promessa de pagar determinado juro),

    eles podem ser transaccionados pelos credores, o que equivale à transmissão do

    direito a um certo rendimento anual, cujo valor é calculado em função da taxa de juro.

    •  Remíveis: implicam para o Estado a faculdade de efectuar o reembolso no

    momento que entenda mais oportuno;

    •  Irremíveis: não implicam para o Estado sequer a faculdade de efectuar o

    reembolso, pelo que não são verdadeiros empréstimos mas rendas

    perpétuas que o Estado se obriga a satisfazer. Tratando-se de um ónus

    perpétuo, o Estado apenas pode deixar de satisfazer as rendas se os

    credores aceitarem o reembolso do capital.

    Os empréstimos públicos são temporários quando o Estado se obriga a proceder ao

    reembolso do capital (amortização).

    •  Empréstimos reembolsáveis à vista: o Estado compromete-se a proceder

    ao reembolso quando o credor o pretenda. No entanto, o Estado oferece

    incentivos para que o reembolso apenas seja exigido a médio ou longo

    prazo (veja-se o exemplo dos certificados de aforro);

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    •  Rendas vitalícias: o Estado obriga-se a pagar uma renda anual ao seu

    credor enquanto este for vivo, que compreende não só o juro como a quotade amortização do capital;

    •  Empréstimos amortizáveis por sorteio: o Estado obriga-se a reembolsar

    todos os anos um número constante ou variável de títulos sorteados, de

    modo que o empréstimo se encontre inteiramente amortizado ao fim de um

    certo prazo, previamente fixado. São títulos negociáveis cujo valor aumenta

    com o decurso do tempo, na medida em que passa a haver maior

    probabilidade de amortização;

    •  Empréstimos reembolsáveis em data fixa: o Estado obriga-se a reembolsartodo o capital em certa data. São títulos negociáveis.

    C) Quanto à posição dos credores: forçados e voluntários

    Os empréstimos públicos são forçados quando resultam do poder de imposição

    coactiva do Estado e voluntários quando os particulares podem decidir se emprestam

    ou não dinheiro ao Estado (por vezes, fazem-no como consequência de um apelo

    patriótico realizado pelo Estado: designados “empréstimos voluntários patrióticos”).

    Os empréstimos forçados tendem a ter melhor taxa de juro do que o juro corrente no

    mercado e permitem ao Estado obter crédito mesmo quando os particulares discordam

    das opções políticas realizadas.

    Emissão de títulos representativos de empréstimos públicos

    Os títulos de crédito são os documentos onde consta uma promessa de pagar um determinado

    valor por ano (rendimento do título) e um outro valor numa data que tanto pode ser certa como

    incerta (reembolso do capital) – este é o valor nominal ou valor inscrito no título. Em regra, a

    taxa de juro é mais elevada quanto mais duradouro for o empréstimo público temporário e

    claramente superior nos empréstimos perpétuos.

    •  Emissão ao par: juro igual ao juro corrente do mercado (para empréstimos que

    oferecem garantias equivalentes àquelas que o Estado oferece aos particulares). Neste

    caso, o Estado vende o título pelo seu valor nominal;

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    •  Emissão abaixo do par: juro inferior ao juro corrente do mercado. O Estado vende o

    título por um valor inferior ao seu valor nominal, o que apresenta a desvantagem de, nopresente, o Estado receber menos do que o valor que terá que reembolsar no futuro.

    Vantagens especiais 

    Para além do pagamento de juros, que constitui a consequência natural da concessão de

    empréstimos, o Estado atribui aos seus credores vantagens especiais, designadamente:

    o  Prémio de reembolso: no caso de emissão abaixo do par, os credores recebem

    mais no futuro do que aquilo que pagam no presente;

    o  Prémio de amortização: forma de compensar as amortizações antecipadas nos

    empréstimos amortizáveis por sorteio;

    o  Garantias de pagamento: por exemplo, consignação de certas receitas do

    Estado aos juros e amortização do capital do empréstimo;

    o  Garantias contra a desvalorização da moeda: mediante indexação a uma

    moeda estrangeira ou ao valor do ouro;

    o  Isenção de imposto sobre o rendimento.

    Dívida Pública

    •  Interna e externa (corresponde à distinção empréstimos internos/externos) 

    Esta distinção apresenta consequências ao nível da satisfação dos encargos: aqueles

    resultantes da dívida interna satisfazem-se em moeda nacional e aqueles resultantes

    da dívida externa em ouro ou em moeda que goze de confiança internacional – neste

    caso, a amortização não fica dependente da desvalorização da moeda e é susceptível

    de agravar o défice da balança de pagamentos.

    •  Fundada e flutuante (corresponde à distinção empréstimos perpétuos/temporários) 

     A dívida fundada resulta dos empréstimos perpétuos (dívida consolidada) e dos

    empréstimos temporários a médio ou longo prazo (dívida amortizável). Já a dívida

    flutuante resulta dos empréstimos temporários a curto prazo (isto é, aqueles que visam

    a cobertura do défice transitório da tesouraria).

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    Operações sobre a dívida pública: amortização e conversão

    (i) Amortização:  relativamente aos empréstimos temporários e empréstimos perpétuos

    remíveis, a amortização da dívida pública visa a diminuição do seu montante global,

    pela adopção de um dos seguintes sistemas: 

    •  Anuidades obrigatórias: todos os anos, o Orçamento Geral do Estado destina uma

    determinada verba fixa à amortização da dívida. Este sistema tem como principal

    vantagem a continuidade da amortização;

      Caixas de amortização: o Estado cria um organismo com autonomia financeira eatribui-lhe dotação para proceder à compra de títulos de dívida pública, que podem

    ficar a render ou ser destruídos;

    •  Saldos orçamentais: a dívida é amortizada com o excedente das receitas cobradas

    durante os períodos orçamentais. Este sistema tem como principal desvantagem a

    irregularidade da amortização, dado que o montante do excedente é variável.

    Efeitos económicos da amortização:

    o  Efeitos positivos: amortização expansionista 

    O reembolso dos títulos influencia o consumo e o investimento privados, uma vez que

    liberta capital dos particulares que vai ser utilizado na realização de despesas ou

    canalizado para aforro. O consequente aumento do capital disponível na Banca

    determina, então, uma diminuição da taxa de juro.

    o  Efeitos negativos: amortização restricionista 

    Se o Estado faz a amortização à custa dos impostos pagos pelos contribuintes, estesdiminuem o seu consumo e investimento, provocando uma diminuição do Rendimento

    Nacional. No entanto, se o Estado faz a amortização à custa de criação de moeda

    (tendência inflacionista), não há efeito negativo do meio de financiamento, verificando-

    se apenas o efeito expansionista.

    Formas de amortização:

    o  Directa: corresponde ao pagamento ao credor do valor do título, com vantagem para o

    Estado nos títulos cotados em Bolsa acima do par;

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    o  Por compra: aquisição dos títulos na Bolsa, conforme a sua cotação, com vantagem

    para o Estado nos títulos cotados em Bolsa abaixo do par.

    (ii) Conversão: visa a menor onerosidade da dívida pública e consiste na transformação

    da dívida existente numa outra dívida emitida em condições mais favoráveis, o que em

    regra se traduz na redução do juro. No âmbito dos empréstimos perpétuos remíveis, a

    redução do juro pode ser feita mediante:

    •  Reembolso dos títulos de um empréstimo com o produto de um novo

    empréstimo contraído a uma taxa de juro inferior;

    •  Substituição dos títulos de um empréstimo por títulos de novo empréstimo com

    uma taxa de juro inferior, operação que implica a novação da dívida entre o

    mesmo devedor (Estado) e os mesmos credores (particulares).

    Estas formas de redução do juro não vigoram nos empréstimos temporários, na medida

    em que estes estão sujeitos aos termos e prazos previamente estabelecidos.

    Modalidades de conversão:

    o  Voluntária: o Estado propõe aos credores a troca dos títulos por outros com uma taxa

    de juro menor. Deve ser acompanhada de algumas das referidas vantagens especiais

    para obter adesão do público;

    o  Facultativa: o Estado dá aos credores a opção entre o reembolso dos títulos e a sua

    troca por outros com menor taxa. Os credores só aceitam a conversão (em alternativa

    ao reembolso do capital) se a nova taxa de juro for superior, ou pelo menos igual, à

    taxa corrente do mercado.

    O ónus da dívida pública

    •  A dívida externa constitui um ónus apenas para as gerações futuras (os empréstimos

    externos transferem para as gerações futuras os encargos das despesas);

    •  A dívida interna não constitui, em regra, um ónus para as gerações presentes e futuras,

    dado que, no momento do reembolso, o Estado se limita a transferir, pela via dos

    impostos, os rendimentos de uns contribuintes para outros (credores nacionais).

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    No entanto, a dívida interna pode ter os seguintes efeitos negativos:

    o  Sobre o consumo da geração presente: se existir pleno emprego, o consumo

    de bens públicos terá quer ser necessariamente obtido à custa da diminuição

    do consumo privado (ónus); no caso de desemprego, não haverá redução do

    consumo de bens privados;

    o  Sobre o aforro da geração futura: se os empréstimos provocam uma subida da

    taxa de juro, há uma diminuição do investimento privado, que se traduz num

    ónus quando não for compensada com um aumento do investimento público

    (empréstimo contraído para a cobertura de despesas de consumo ou para arealização de investimento menos produtivo do que o investimento privado –

    neste caso haverá diminuição do Rendimento Nacional).

    Neste contexto, surgem como principais limites à dívida pública:

    •  A capacidade das gerações futuras para suportar o ónus da amortização

    dos empréstimos contraídos e dos respectivos juros;

    •  A capacidade contributiva dos contribuintes das gerações futuras que vão

    suportar, com os impostos, os encargos da dívida.

    5. RECEITAS EFECTIVAS

     A categoria das receitas efectivas, ou receitas que aumentam o património do Estado, abrange

    tanto as receitas patrimoniais (onde se incluem os preços dos bens produzidos e dos serviçosprestados no âmbito de relações de troca) como as receitas tributárias (impostos e taxas).

    Conceito de imposto: prestação pecuniária, coactiva e unilateral (na medida em que não lhe

    corresponde qualquer contraprestação), sem carácter de sanção, exigida pelo Estado com

    vista à realização de fins públicos. Pode ter finalidades fiscais (obtenção de receita) ou extra-

    fiscais (por exemplo, a protecção de determinado sector de actividade mediante impostos

    alfandegários ou a redistribuição de rendimento entre os contribuintes).

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     A repartição dos impostos obedece a um princípio de igualdade tributária, que se concretiza na

    generalidade (os impostos devem abranger todos os cidadãos) e uniformidade (a tributaçãopauta-se sempre pelo mesmo critério, o que corresponde à igualdade horizontal e vertical), de

    acordo com os princípios do benefício e da capacidade contributiva.

    ― Remissão para a disciplina de Direito Fiscal ― 

    6. POLÍTICAS FINANCEIRAS

    Existem fundamentalmente duas opções de política financeira:

    •  Finanças neutras (liberalismo económico do século XIX): através do funcionamento

    da lei da oferta e procura, a economia de mercado assegura a máxima produção e

    a melhor distribuição do rendimento, não devendo o Estado intervir;

    •  Finanças intervencionistas ou funcionais (início do século XX): o Estado passa a

    intervir na vida económica com os seus instrumentos financeiros, modificando ascondições da economia privada e visando as seguintes finalidades:

    o  Redistribuição de rendimento;

    o  Estabilidade económica (essencialmente ao nível da estabilidade

    do emprego e dos preços a curto prazo);

    o  Desenvolvimento económico (aumento do rendimento potencial a

    longo prazo através da actuação sobre as estruturas económicas).

    A) Política de redistribuição

    Existe redistribuição de rendimentos quando os rendimentos distribuídos a título de salários,

    rendas, juros ou lucros voltam a ser distribuídos (de forma voluntária ou coerciva mas sempre

    sem contrapartida) pelo Estado que os recebeu. Na prática, a redistribuição opera geralmente

    mediante sistemas de tributação progressivos e em sentido vertical: dos que têm rendimentos

    acima da média, e que consequentemente são tributados, para os que têm rendimentos abaixo

    da média (beneficiários).

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    •  Aqueles que auferem os rendimentos são elementos de produção: o Estado exige-lhes

    o pagamento coactivo de impostos sobre o rendimento e sobre o património;

    •  Os beneficiários da redistribuição não são elementos de produção: o Estado concede-

    lhes subsídios (contribuições monetárias) e produz bens que fornece gratuitamente (no

    caso dos bens públicos) ou mediante pagamento de um preço inferior ao custo (no

    caso dos bens semipúblicos).

    No entanto, não haverá verdadeira redistribuição se um determinado contribuinte é tributado na

    exacta medida em que beneficia das transferências efectuadas pelo Estado ou utiliza os bens

    públicos e semipúblicos. Nestes casos, mantendo-se o rendimento, o pagamento de impostos

    é compensado com o benefício oferecido, pelo que não se pode falar em redistribuição.

    Fundamentos da política de redistribuição

    •  Injustiça dos desníveis de rendimento, que resultam mais do acaso do que do

    esforço ou do mérito de cada cidadão;

    •  Carácter desumano da carência de bens essenciais;

    •  Consequências sociais nocivas decorrentes das situações de pobreza.

    Consequências da redistribuição no desenvolvimento económico

     A redistribuição pode ter consequências prejudiciais sobre o desenvolvimento económico, na

    medida em que constitua um desincentivo ao trabalho, aforro ou investimento.

     Ao nível dos contribuintes que pagam os impostos (elementos de produção), a redistribuição

    conduz a uma diminuição do nível do aforro:

    •  Imposto sobre o rendimento do trabalho: tratando-se de pessoas singulares,

    verifica-se que os contribuintes com salários elevados não são sensíveis ao

    aumento da tributação, pelo que não tendem a substituir o trabalho por ócio, como

    resultaria do designado efeito-substituição, nem a trabalhar mais para reconstituir

    o rendimento primitivo, em consequência do efeito-rendimento;

    •  Impostos sobre o rendimento do capital (juros): representa uma diminuição da taxa

    de juro real, o que conduz à redução do aforro privado;

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    •  Impostos sobre o rendimento da empresa (lucros): em vez de distribuírem os

    lucros, os sócios constituem reservas legais, como forma de evitar a tributação, oque conduz à redução do aforro privado;

    •  Impostos sobre o património: conduzem igualmente à redução do aforro privado.

     Ao nível dos beneficiários da redistribuição, os rendimentos obtidos são quase sempre gastos

    em consumo e não aforrados ou investidos:

    •  Fornecimento gratuito de bens públicos: pode ter um efeito positivo sobre a oferta

    de trabalho (por exemplo, prestação de serviços de saúde pública);

    •  Fornecimento de bens semipúblicos, isto é, bens que satisfazem ao mesmo tempo

    necessidades colectivas e individuais: determina o aumento do rendimento do

    beneficiário (o seu rendimento real é superior ao rendimento nominal), que constitui

    um desincentivo ao trabalho e a sua substituição por ócio (efeito-substituição);

    •  Concessão de subsídios, em regra relacionados com os rendimentos do

    beneficiário: traduzem-se também num desincentivo ao trabalho e sua substituição

    por ócio (efeito-substituição).

    Não obstante as consequências apresentadas, a redistribuição deve ser valorada no mesmo

    plano do aumento do Rendimento Nacional, dado que é essencial ao bem-estar da população.

    Imposto negativo de rendimento: corresponde a uma prestação pecuniária paga pelo Estado

    aos que têm rendimentos abaixo do mínimo de existência, que aumenta com a descida do

    rendimento. É inviável a sua aplicação em países como Timor-Leste, que têm elevado número

    de contribuintes abaixo do mínimo de existência, dados os encargos financeiros que acarretaria

    para o escasso número de contribuintes com rendimentos superiores à média.

    B) Política de estabilização

    O aumento do Rendimento Nacional importa aumento da quantidade de bens produzidos, que

    por sua vez importa aumento da quantidade de elementos produtivos utilizados (trabalho,

    capitais, matérias-primas). No entanto, este aumento do Rendimento Nacional não se verifica

    na situação de pleno emprego.

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    Modalidades de desemprego

    O desemprego corresponde à situação do indivíduo que pode e quer trabalhar nas mesmas

    condições oferecidas pelo mercado de trabalho. As suas consequências negativas afectam

    sobretudo trabalhadores com património diminuto e dependência quase exclusiva do

    rendimento do seu trabalho para efeitos de subsistência.

    •  Desemprego friccional: resulta da chegada ao mercado de novos trabalhadores,

    por terem alcançado a idade mínima ou mudado de ocupação os trabalhadores já

    existentes. Não se trata de verdadeiro desemprego, na medida em que a procura

    total de emprego não é superior à oferta total;

    •  Desemprego sazonal (por exemplo, nos sectores da agricultura e do turismo);

    •  Desemprego estrutural: resulta de alterações na estrutura económica do país, em

    consequência do desenvolvimento tecnológico;

    •  Desemprego cíclico.

     A noção de ciclos económicos pressupõe a existência alternada de períodos de

    prosperidade e depressão, a que corresponde uma expansão e contracção do

    Rendimento Nacional, determinadas por forças orgânicas ou endógenas.

    Principais causas dos ciclos económicos:

    o  Nas fases de depressão, a diminuição do consumo determina um

    decréscimo do investimento privado, designadamente, porque a aquisição

    de bens duradouros é reduzida ao mínimo indispensável;

    o  Quando a produção já não pode ser assegurada com os bens existentes,

    há um incremento da procura de bens duradouros, verificando-se uma fase

    de prosperidade, dado que os efeitos multiplicador e acelerador provocam

    reciprocamente um aumento do consumo e investimento;

    o  Como a expansão é limitada pela situação de pleno emprego e pela

    capacidade de concessão de crédito, a partir de determinado momento, a

    produção tenderá novamente a diminuir. Assim, nas fases de depressão,

    os referidos efeitos multiplicador e acelerador provocam uma diminuição do

    consumo e do investimento.

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    A política financeira anticíclica

    Com a política financeira, o Estado visa incrementar o Rendimento Nacional e desencadear

    uma nova fase de prosperidade. A finalidade desta política de expansão é o incremento da

    procura global, na medida em que numa situação de desemprego, a produção não se encontra

    maximizada e, como tal, a procura de bens e serviços é inferior ao que seria possível obter.

    Medidas a adoptar pelo Estado:

    •  Despesas-compra ou despesas realizadas na aquisição de bens e serviços, que criam

    rendimento e contribuem para o Rendimento Nacional do período financeiro em quesão realizadas (por exemplo, pagamento de salários e construção de edifícios). Desde

    que o Estado não concorra com a actividade privada mas incentive o seu aumento,

    verifica-se um incremento directo da procura global. Nestes casos, o Estado deve

    realizar despesas que os particulares não realizariam (por exemplo, obras públicas),

    distribuindo assim dinheiro aos trabalhadores que têm elevada propensão ao consumo;

    •  Despesas-transferência  ou despesas que se limitam a transferir poder de compra,

    sem criar rendimento (por exemplo, o pagamento de subsídios transfere o poder de

    compra dos contribuintes para o sujeito subsidiado). Correspondem a prestações semcontrapartida actual do beneficiário e determinam um incremento indirecto da procura

    global, dado que os beneficiários têm mais rendimento disponível para consumir;

    •  Diminuição dos impostos, que conduz a um incremento indirecto da procura global.

    Neste contexto, o Estado deve preferir o aumento directo da procura global, através de

    despesas-compra porque estas têm maior efeito propulsão.

    Dificuldades de realização da política anticíclica

    •  Atraso ou dificuldade do Estado no reconhecimento da fase de depressão;

    •  Atraso ou dificuldade do Estado na instauração das medidas consideradas adequadas

    e, posteriormente, na sua interrupção (excepto quanto à diminuição dos impostos);

    •  Atraso na eficácia ou produção de efeitos das medidas tomadas.

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    Em alternativa ou conjuntamente com a política financeira, o Estado pode adoptar uma política

    monetária, através da criação de moeda, bem como medidas relacionadas com osestabilizadores automáticos  (elementos económicos que contrariam os movimentos de

    expansão e contracção da economia):

    o  Receitas do imposto de rendimento: nas fases de depressão, com tendência para a

    contracção dos salários, e sendo o sistema de tributação progressivo, o rendimento

    disponível dos cidadãos diminui menos do que o seu rendimento pessoal;

    o  Receitas e despesas da Segurança Social: nas fases de depressão, diminuem

    também as receitas que provêm das contribuições proporcionais aos salários.Neste sentido, apenas uma Segurança Social forte pode contrariar o movimento de

    contracção económica.

    A política financeira anti-inflacionista

    (i) Inflação-procura

    Com a política financeira de contracção, o Estado visa o decréscimo do Rendimento Nacional,

    uma vez que, nas fases de prosperidade, a situação de pleno emprego conduz ao aumento daprocura e, paralelamente, a custos de produção crescentes, traduzindo-se na subida do nível

    de preços. Ora, a inflação prejudica essencialmente os trabalhadores e os titulares de

    rendimentos fixos.

    Medidas a adoptar pelo Estado (inversas às adoptadas na política anticíclica):

    •  Diminuição das despesas-compra: determina uma redução directa da procura global,

    não devendo porém prejudicar o funcionamento dos serviços ou as obras públicas em

    curso de realização;

    •  Diminuição das despesas-transferência: determina uma redução indirecta da procura

    global, com prejuízo dos beneficiários;

    •  Aumento dos impostos: sempre que os contribuintes não compensem o aumento de

    impostos com um recurso ao aforro para manutenção do nível de consumo, verifica-se

    uma redução indirecta da procura global. Acresce que o aumento dos impostos não

    colhe aceitação dos contribuintes.

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    (ii) Inflação-custo

     Ao contrário da inflação-procura, a inflação-custo resulta de uma diminuição da procura,

    decorrente do aumento dos custos de produção (na sequência, por exemplo, de uma situação

    de monopólio no fornecimento de matérias-primas). Como efeito da restrição da produção e da

    subida do nível de preços, verifica-se uma diminuição da procura, característica das fases de

    depressão.

    Neste caso, desemprego e inflação coexistem, devendo o Estado optar por uma política de

    expansão ou contracção em função da intensidade relativa do desemprego e da inflação

    concretamente verificada, bem como da correlação entre ambos, necessária à estabilização

    global da economia.

    C) Política de desenvolvimento

    No subdesenvolvimento económico, está em causa a própria estrutura económica do

    país e já não meros desequilíbrios conjunturais, como acontece nos ciclos económicos.

    O subdesenvolvimento apresenta tendencialmente as seguintes características:

    •  A generalidade da população não tem um nível de vida que permita a satisfação

    das necessidades essenciais, em consequência de:

    o  Rendimento Nacional insuficiente;

    o  Má distribuição do Rendimento Nacional;

    •  Pouco pessoal qualificado ou trabalhadores com formação profissional;

    •  Pouco capital (ferramentas, máquinas, edifícios, fábricas) – a produção permanece

    essencialmente agrícola e artesanal e baseia-se ainda em equipamento e técnicasconsiderados rudimentares; a grande parte da população rural vive em economia

    de subsistência;

    •  Pouco capital fixo social (designadamente, hospitais, vias de comunicação, meios

    de transporte, fontes de energia, fornecimento de água);

    •  Pouca iniciativa e capacidade empresarial – o espírito de empreendimento não está

    difundido, quer porque o dinheiro não é percepcionado como um valor social, quer

    porque algumas religiões professam a renúncia ao bem-estar material.

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    Círculo vicioso da pobreza: a produção e o rendimento escassos determinam uma

    impossibilidade de aforro, que por sua vez determina uma ausência de investimento e aconsequente escassez da produção e do rendimento. Acresce que o mercado é

    estreito, pelo que não há incentivo à produção organizada sob a forma de empresa.

    A política das finanças desenvolvimentistas

     As modificações da estrutura económica do país visam corrigir os desequilíbrios estruturais,

    promovendo o desenvolvimento económico e devem centrar-se nas seguintes medidas:

    •  Ao nível das receitas – a falta de aforro privado voluntário deverá ser colmatada com

    aforro coercivo público, através do sistema fiscal, o que implica uma tributação gravosa

    dos consumos supérfluos e de luxo;

    •  Ao nível das despesas:

    o  Investimento em capital fixo social, especialmente obras públicas;

    o  Prioridade da educação para formar pessoal qualificado;

    o  Fornecimento de fundos para a criação e expansão de empresas (por

    exemplo, através da participação do Estado no capital das sociedades ou

    concessão de subvenções para a compra de equipamento).

    No entanto, o incremento das despesas públicas provoca um aumento da

    procura de bens e uma subida do nível geral de preços, a que o Estado deve

    responder com um aumento da oferta de bens:

    o  Mediante incremento da produção interna: este recurso à produção interna

    depara-se com o problema da escassez de factores produtivos, podendo o

    engarrafamento da produção conduzir à inflação;

    o  Mediante recurso à produção externa através do incremento das

    importações: neste caso, se o Estado não tem reservas de divisas, as

    importações terão que ser financiadas com empréstimos externos (recorde-

    se, porém, que o Estado não deve recorrer ao crédito para realizar

    despesas em bens consumíveis).

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    Consequências da inflação nos países subdesenvolvidos:

    •  Redução do consumo e consequente canalização dos capitais para aforro forçado

    que se poderá destinar a investimento;

    •  Estímulo a um incremento da produção, determinado pelo aumento dos lucros dos

    empresários, na sequência da subida do nível de preços;

    •  Redução do rendimento real dos titulares de rendimentos fixos;

    •  Redução do aforro voluntário determinada pela perda de valor da moeda, na

    medida em que a população prefere consumir;

    •  Deslocação do investimento das instituições bancárias para a aquisição de bens

    considerados mais rentáveis (compra de ouro, divisas estrangeiras e imóveis) e

    para o armazenamento de matérias-primas;

    •  Défice da balança de pagamentos por diminuição das exportações e aumento das

    importações.

    Neste caso, o Estado deve adoptar medidas tendentes ao aumento da produção

    interna e restrição do consumo, tais como:

    o  Concessão de subsídios às empresas de bens de consumo, visando

    aumentar a produção desses bens;

    o  Tributação dos consumos supérfluos e de luxo e ainda, relativamente aos

    cidadãos com rendimentos mais baixos, tributação apenas dos seus

    aumentos de rendimento, medidas que determinam uma diminuição do

    rendimento disponível e, como tal, do consumo.

    BIBLIOGRAFIA

    FRANCO, António de Sousa — Finanças Públicas e Direito Financeiro, volumes I e II, 4.ª edição

    (reimpressão), Almedina, Coimbra, 2008.

    RIBEIRO, José Joaquim Teixeira — Lições de Finanças Públicas, 5.ª edição (reimpressão),

    Coimbra Editora, Coimbra, 1997.