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A seguridade social no BrasilSumário: A seguridade social no Brasil; 1. Evolução histórica e composição; 2. Definição e natureza jurídica; 3. Competência legislativa; 4. Princípios in-formadores; 4.1. Universalidade da cobertura e do atendimento; 4.2. Uni-formidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; 4.3. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; 4.4. Irredutibilidade do valor dos benefícios; 4.5. Equidade na for-ma de participação no custeio; 4.6. Diversidade da base de financiamento; 4.7. Gestão quadripartite; 4.8. Princípio da Solidariedade; 4.9. Princípio da Precedência da Fonte de Custeio; 5. Assistência social; 5.1. Evolução e de-finição; 5.2. Objetivos; 5.3. Benefício do amparo assistencial ao idoso ou deficiente carente; 6. Saúde; 6.1. Introdução, definição e natureza jurídica; 6.2. O Sistema Único de Saúde; 7. Previdência social; 7.1. Noções gerais; 7.2. Evolução histórica mundial e brasileira; 7.3. Definição e abrangência; 7.4. Classificação dos sistemas previdenciários; 7.5. Planos previdenciários brasileiros; 7.5.1. Planos básicos; 7.5.2. Planos complementares.

\ Leia a lei: ͳ arts. 194/204, da Constituição

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA E COMPOSIÇÃO

No Brasil, a seguridade social é um sistema instituído pela Cons-tituição Federal de 1988 para a proteção do povo brasileiro (e estran-geiros em determinadas hipóteses) contra riscos sociais que podem gerar a miséria e a intranquilidade social, sendo uma conquista do Es-tado Social de Direito, que deverá intervir para realizar direitos funda-mentais de 2ª dimensão.

Eventos como o desemprego, a prisão, a velhice, a infância, a do-ença, a maternidade, a invalidez ou mesmo a morte poderão impedir temporária ou definitivamente que as pessoas laborem para angariar recursos financeiros visando a atender às suas necessidades básicas e de seus dependentes, sendo dever do Estado Social de Direito intervir quando se fizer necessário na garantia de direitos sociais.

De efeito, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira a ins-tituir no Brasil o sistema da seguridade social, que significa segu-rança social, englobando as ações na área da previdência social, da assistência social e da saúde pública, estando prevista no Capítulo II, do Título VIII, nos artigos 194 a 204, que contará com um orçamen-to específico na lei orçamentária anual.

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Deveras, dentro da seguridade social coexistem dois subsistemas: de um lado o subsistema contributivo, formado pela previdência social, que pressupõe o pagamento (real ou presumido) de contribui-ções previdenciárias dos segurados para a sua cobertura previdenciá-ria e dos seus dependentes.

Do outro, o subsistema não contributivo, integrado pela saúde pública e pela assistência social, pois ambas são custeadas pelos tributos em geral (especialmente as contribuições destinadas ao cus-teio da seguridade social) e disponíveis a todas as pessoas que delas necessitarem, inexistindo a exigência de pagamento de contribuições específicas dos usuários para o gozo dessas atividades públicas.

A previdência social é contributiva, razão pela qual apenas terão direito aos benefícios e serviços previdenciários os segurados (aqueles que contribuem ao regime pagando as contribuições previ-denciárias) e os seus dependentes. Já a saúde pública e a assistência social são não contributivas, pois para o pagamento dos seus benefí-cios e prestação de serviços não haverá o pagamento de contribuições específicas por parte das pessoas destinatárias.

Saúde Pública

Previdência Social

Assistência Social

2. DEFINIÇÃO E NATUREZA JURÍDICA

A seguridade social no Brasil consiste no conjunto integrado de ações que visam a assegurar os direitos fundamentais à saúde, à assis-tência e à previdência social, de iniciativa do Poder Público e de toda a sociedade, nos termos do artigo 194, da Constituição Federal.

Assim, não apenas o Estado atua no âmbito da seguridade social, pois é auxiliado pelas pessoas naturais e jurídicas de direito privado, a exemplo daqueles que fazem doações aos carentes e das entidades

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filantrópicas que prestam serviços de assistência social e de saúde gratuitamente.

Atualmente, ostenta simultaneamente a natureza jurídica de di-reito fundamental de 2ª e 3ª dimensões, vez que tem natureza pres-tacional positiva (direito social) e possui caráter universal (natureza coletiva).

3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Em regra, caberá privativamente à União legislar sobre segurida-de social, na forma do artigo 22, inciso XXIII, da Constituição Federal:

“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:[...]XXIII – seguridade social”.

Contudo, será competência concorrente entre as entidades políti-cas legislar sobre previdência social, proteção e defesa da saúde, dos portadores de deficiência, da infância e juventude, na forma do artigo 24, incisos XII, XIV e XV, da Lei Maior:

“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal le-gislar concorrentemente sobre:[...]XII – previdência social, proteção e defesa da saúde;[...]XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;XV – proteção à infância e à juventude”.

Note-se que os municípios também entrarão na repartição dessas competências, pois aos mesmos caberá legislar sobre assuntos de inte-resse local, assim como suplementar a legislação estadual e federal no que couber, nos moldes do artigo 30, incisos I e II, da Constituição Fe-deral.

Há uma aparente antinomia de dispositivos constitucionais, pois a seguridade social foi tema legiferante reservado à União pelo artigo 22, inciso XXIII, enquanto a previdência social, a saúde e temas assis-tenciais (todos inclusos na seguridade social) foram repartidos entre todas as pessoas políticas.

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Essa aparente antinomia é solucionada da seguinte maneira: ape-nas a União poderá legislar sobre previdência social, exceto no que concerne ao regime de previdência dos servidores públicos efetivos dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, que poderão editar normas jurídicas para instituí-los e discipliná--los, observadas as normas gerais editadas pela União e as já postas pela própria Constituição.

Outrossim, os estados, o Distrito Federal e os municípios tam-bém poderão editar normas jurídicas acerca da previdência com-plementar dos seus servidores públicos, a teor do artigo 40, §14, da Constituição Federal.

No que concerne à saúde e à assistência social, a competência aca-ba sendo concorrente, cabendo à União editar normas gerais a serem complementadas pelos demais entes políticos, conforme as suas pecu-liaridades regionais e locais.

4. PRINCÍPIOS INFORMADORES

A maioria dos princípios informadores da seguridade social en-contra-se arrolada no artigo 194, da Constituição Federal, sendo tra-tados como objetivos do sistema pelo constituinte, destacando-se que a sua interpretação e grau de aplicação variará dentro da seguridade social, a depender do campo de incidência, se no subsistema contribu-tivo (previdência social) ou no subsistema não contributivo (assistên-cia social e saúde pública).

Princípios da seguridade

social

Universalidade da cobertura e do atendimento

Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais

Seletividade e distributividade

Irredutibilidade do valor dos benefícios

Equidade de participação no custeio

Diversidade da base de financiamento

Gestão quadripartite

Solidariedade

Precedência da fonte de custeio

Orçamento diferenciado

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4.1. Universalidade da cobertura e do atendimento

A seguridade social deverá atender a todos os necessitados, es-pecialmente através da assistência social e da saúde pública, que são gratuitas, pois independem do pagamento de contribuições diretas dos usuários (subsistema não contributivo da seguridade social).

Ao revés, a previdência terá a sua universalidade limitada por sua necessária contributividade, vez que o gozo das prestações pre-videnciárias apenas será devido aos segurados (em regra, aqueles que exercem atividade laborativa remunerada) e aos seus depen-dentes, pois no Brasil o sistema previdenciário é contributivo direto. Logo, a universalidade previdenciária é mitigada, haja vista limi-tar-se aos beneficiários do seguro, não atingindo toda a população.

Este princípio busca conferir a maior abrangência possível às ações da seguridade social no Brasil, de modo a englobar não apenas os nacionais, mas também os estrangeiros residentes, ou até mesmo os não residentes, a depender da situação concreta, a exemplo das ações indispensáveis de saúde, revelando a sua natureza de direito fundamental de efetivação coletiva.

Deveras, a vertente subjetiva deste princípio determina que a seguridade social alcance o maior número possível de pessoas que necessitem de cobertura, ao passo que a objetiva compele o legisla-dor e o administrador a adotarem as medidas possíveis para cobrir o maior número de riscos sociais.

4.2. Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais

Cuida-se de corolário do Princípio da Isonomia no sistema de seguridade social, que objetiva o tratamento isonômico entre povos urbanos e rurais na concessão das prestações da seguridade social. Enquanto os benefícios são obrigações de pagar quantia certa, os serviços são obrigações de fazer prestados no âmbito do sistema se-curitário.

Com efeito, não é mais possível a discriminação negativa em des-favor das populações rurais como ocorreu no passado, pois agora os benefícios e serviços da seguridade social deverão tratar isonomica-mente os povos urbanos e rurais.

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4.3. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços

A seletividade deverá lastrear a escolha feita pelo legislador dos benefícios e serviços integrantes da seguridade social, bem como os requisitos para a sua concessão, conforme as necessidades sociais e a disponibilidade de recursos orçamentários, funcionando como limi-tadora da universalidade da seguridade social.

Deveras, como não há possibilidade financeira de se cobrir todos os eventos desejados, deverão ser selecionados para a cobertura os riscos sociais mais relevantes, visando à melhor otimização adminis-trativa dos recursos, conforme o interesse público.

Demais disso, como base no Princípio da Seletividade, o legislador ainda irá escolher as pessoas destinatárias das prestações da segu-ridade social, consoante o interesse público, sempre observando as necessidades sociais.

Por seu turno, a distributividade coloca a seguridade social como sistema realizador da justiça social, consectário do Princípio da Isono-mia, sendo instrumento de desconcentração de riquezas, pois devem ser agraciados com as prestações da seguridade social especialmente os mais necessitados.

Assim, como exemplo, apenas farão jus ao benefício do amparo assistencial os idosos e os deficientes físicos que demonstrem estar em condição de miserabilidade, não sendo uma prestação devida aos demais que não se encontrem em situação de penúria.

4.4. Irredutibilidade do valor dos benefícios

Por este princípio, decorrente da segurança jurídica, não será possível a redução do valor nominal de benefício da seguridade social, vedando-se o retrocesso securitário.

\ AtençãoNo que concerne especificamente aos benefícios previdenciários, ainda é garantido constitucionalmente no artigo 201, §4º, o reajustamento para manter o seu valor real, conforme os índices definidos em lei, o que reflete uma irredutibilidade material.

Esta disposição é atualmente regulamentada pelo artigo 41-A, da Lei 8.213/91, que garante a manutenção do valor real dos benefícios

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pagos pelo INSS através da incidência anual de correção monetária pelo INPC, na mesma data de reajuste do salário mínimo.

Ou seja, os benefícios da saúde pública e da assistência social são apenas protegidos por uma irredutibilidade nominal, ao passo que os benefícios pagos pela previdência social gozam de uma irredutibilidade material, pois precisam ser reajustados anualmente pelo índice legal.

IRREDUTIBILIDADE PELO VALOR NOMINAL Saúde pública e assistência social

IRREDUTIBILIDADE PELO VALOR REAL Previdência social

\ POSIÇÃO DO STJEm 2012, no julgamento do EDcl no AgRg no RECURSO ESPECIAL 1.142.014 – RS, a 3ª Seção do STJ aderiu ao posicionamento da Corte Especial ao admitir a incidência de índi-ce negativo de inflação na atualização monetária de atrasados de benefícios previden-ciários, desde que no final da atualização o valor nominal não sofra redução: “A Corte Especial deste Tribunal no julgamento do REsp nº 1.265.580/RS, Relator o Ministro Teori Albino Zavascki, DJe de 18/4/2012, modificou a compreensão então vigente, passando a adotar o entendimento segundo o qual desde que preservado o valor nominal do montante principal, é possível a aplicação de índice inflacionário negativo sobre a corre-ção monetária de débitos previdenciários, porquanto os índices deflacionados acabam se compensando com supervenientes índices positivos de inflação”.

4.5. Equidade na forma de participação no custeio

O custeio da seguridade social deverá ser o mais amplo possível, mas precisa ser isonômico, devendo contribuir de maneira mais acentuada para o sistema aqueles que dispuserem de mais recursos financeiros, bem como os que mais provocarem a cobertura da seguridade social.

Além de ser corolário do Princípio da Isonomia, é possível concluir que esta norma principiológica também decorre do Princípio da Capa-cidade Contributiva, pois a exigência do pagamento das contribuições para a seguridade social deverá ser proporcional à riqueza manifestada pelos contribuintes desses tributos.

De seu turno, as empresas que desenvolvam atividade de risco con-tribuirão mais, pois haverá uma maior probabilidade de concessão de benefícios acidentários; já as pequenas e micro empresas terão uma contribuição simplificada e de menor vulto.

As contribuições para a seguridade social a serem pagas pelas em-presas também poderão ser progressivas em suas alíquotas e bases de

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cálculo, conforme autoriza o artigo 195, §9º, da Constituição Federal, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de--obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo outro consectário do Princípio da Equidade no Custeio.

4.6. Diversidade da base de financiamento

O financiamento da seguridade social deverá ter múltiplas fontes, a fim de garantir a solvibilidade do sistema, para se evitar que a crise em determinados setores comprometa demasiadamente a arrecada-ção, com a participação de toda a sociedade, de forma direta e indireta.

Além do custeio da seguridade social com recursos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, já há previsão das se-guintes fontes no artigo 195, da Constituição Federal:

a) do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei;

b) do trabalhador e dos demais segurados da previdência social;

c) apostadores (receita de concursos de prognósticos);

d) importador de bens ou serviços do exterior, ou equiparados.

Em termos de previdência social, é tradicional no Brasil o tríplice custeio desde regimes constitucionais pretéritos (a partir da Cons-tituição Federal de 1934), com a participação do Poder Público, das empresas e dos trabalhadores em geral.

Outrossim, é permitida a criação de novas fontes de custeio para a seguridade social, mas há exigência constitucional expressa de que seja feita por lei complementar, na forma do artigo 195, §4º, sob pena de inconstitucionalidade formal da lei ordinária.

4.7. Gestão quadripartite

A gestão da seguridade social será quadripartite, de índole de-mocrática e descentralizada, envolvendo os trabalhadores, os empre-gadores, os aposentados e o Poder Público, seguindo a tendência da moderna administração pública na inserção de membros do corpo so-cial nos seus órgãos colegiados, a teor do artigo 194, parágrafo único, inciso VII, da Constituição Federal.

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4.8. Solidariedade

É um princípio fundamental previsto no artigo 3º, inciso I, da Constituição Federal, que tem enorme aplicabilidade no âmbito da seguridade social, sendo objetivo da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária.

Essencialmente a seguridade social é solidária, pois visa a agasa-lhar as pessoas em momentos de necessidade, seja pela concessão de um benefício previdenciário ao segurado impossibilitado de trabalhar (previdência), seja pela disponibilização de um medicamento a uma pessoa enferma (saúde) ou pela doação de alimentos a uma pessoa em estado famélico (assistência).

Há uma verdadeira socialização dos riscos com toda a sociedade, pois os recursos mantenedores do sistema provêm dos orçamentos pú-blicos e das contribuições sociais, onde aqueles que pagam tributos que auxiliam no custeio da seguridade social, mas hoje ainda não gozam dos seus benefícios e serviços, poderão no amanhã ser mais um dos agracia-dos, o que traz uma enorme estabilidade jurídica no seio da sociedade.

Essa norma principiológica fundamenta a criação de um fundo único de previdência social, socializando-se os riscos, com contribui-ções compulsórias, mesmo daquele que já se aposentou, mas persiste trabalhando, embora este egoisticamente normalmente faça queixas da previdência por continuar pagando as contribuições.

Por outro lado, o Princípio da Solidariedade justifica o fato juríge-no de um segurado que começou a trabalhar poder se aposentar no mesmo dia, mesmo sem ter vertido ainda nenhuma contribuição ao sistema, desde que após a filiação seja acometido de infortúnio que o torne inválido de maneira definitiva para o trabalho em geral.

Outrossim, a garantia de saúde pública gratuita a todos e de medi-das assistenciais a quem delas necessitar também decorre diretamen-te deste princípio.

No âmbito do Regime Próprio de Previdência Social (previdência dos servidores públicos efetivos e militares), há expressa previsão do Prin-cípio da Solidariedade no caput do artigo 40, da Constituição, ao prever que “aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e funda-ções, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e

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solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servi-dores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que pre-servem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo”.

4.9. Precedência da Fonte de Custeio

Por esse princípio, “nenhum benefício ou serviço da segurida-de social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a cor-respondente fonte de custeio total”, na forma do artigo 195, §5º, da Constituição Federal.

Este princípio surgiu no Brasil através da Emenda 11/1965, que alterou a Constituição de 1946, sendo aplicável naquela época aos be-nefícios da previdência e da assistência social, sendo também conhe-cido como Princípio da Contrapartida.

De fato, o que essa norma busca é uma gestão responsável da se-guridade social, pois a criação de prestações no âmbito da previdên-cia, da assistência ou da saúde pressupõe a prévia existência de recur-sos públicos, sob pena de ser colocado em perigo todo o sistema com medidas irresponsáveis.

Por conseguinte, antes de criar um novo benefício da seguridade social ou majorar/estender os já existentes, deverá o ato de criação indicar expressamente a fonte de custeio respectiva, através da indica-ção da dotação orçamentária, a fim de se manter o equilíbrio entre as despesas e as receitas públicas. Este princípio não poderá ser excep-cionado nem em hipóteses anormais, pois a Constituição é taxativa.

\ POSIÇÃO DO STFNo julgamento do recurso extraordinário 415.454, de 08.02.2007, o STF decidiu que “a exigência constitucional de prévia estipulação da fonte de custeio total consiste em exi-gência operacional do sistema previdenciário que, dada a realidade atuarial disponível, não pode ser simplesmente ignorada”, não sendo “possível dissociar as bases contribu-tivas de arrecadação da prévia indicação legislativa da dotação orçamentária exigida”.Conquanto a previdência privada integre a previdência social, lhe sendo aplicável, no que couber, os princípios informadores da seguridade social, lamentavelmente o STF vem negando a incidência do Princípio da Precedência da Fonte de Custeio ao regime previdenciário privado, argumentando com fragilidade que o referido princípio “somen-te diz respeito à seguridade social financiada por toda a sociedade, sendo alheio às entidades de previdência privada” (RE 583687 AgR, de 29.03.2011, 2ª Turma).Por sua vez, para o STF, se o benefício da seguridade social for instituído pela própria Constituição, não terá aplicação o Princípio da Precedência da Fonte de Custeio (RE 385.397 AgR, de 29.06.2007).

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5. ASSISTÊNCIA SOCIAL

5.1. Evolução e definição

No Brasil, assim como na maioria dos países, o assistencialismo é anterior à criação da previdência social, sendo esta consequência da transição do estado absolutista ao social, passando pelo liberal, até chegar à seguridade social, com o advento da Constituição Federal de 1988, sistema tripartite que engloba a assistência, a previdência social e a saúde pública.

Nos estados liberais, a proteção estatal se dava especialmente através de tímidas medidas assistencialistas aos pobres, que figura-vam mais como liberalidades governamentais do que como direito subjetivo do povo, uma postura típica do absenteísmo da época (li-berdades negativas – direitos fundamentais de primeira dimensão). A Lei dos Pobres, na Inglaterra, em 1601, trouxe a primeira disciplina jurídica da assistência social ao criar o dever estatal aos necessitados.

Mas com o advento do estado providência, de meras liberalida-des estatais, as medidas de assistência social passaram à categoria de mais um dever governamental, pois o Poder Público passou a obrigar--se a prestá-las a quem delas necessitar.

Na Constituição Federal de 1988, a assistência social vem disci-plinada nos artigos 203 e 204, destacando-se, em termos infraconsti-tucionais, a Lei 8.742/93 (LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social).

É possível definir a assistência social como as medidas públicas (dever estatal) ou privadas a serem prestadas a quem delas precisar, para o atendimento das necessidades humanas essenciais, de índole não contributiva direta, normalmente funcionando como um complemento ao regime de previdência social, quando este não puder ser aplicado ou se mostrar insuficiente para a consecução da dignidade humana.

De acordo com o artigo 1º, da Lei 8.742/93, “a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”.

\ AtençãoEm nosso país, um dos traços característicos da assistência social é o seu caráter não contributivo, bem como a sua função de suprir as necessidades básicas das pessoas, como alimentação, moradia básica e vestuário.

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Em regra, apenas as pessoas não cobertas por um regime previden-ciário ou pela família farão jus às medidas assistencialistas, justamente porque já gozam de uma proteção que ensejará o pagamento de presta-ções previdenciárias ou alimentares, salvo se também preencherem os requisitos para as benesses assistenciais, a exemplo do Programa Bolsa--família, que beneficia vários segurados da previdência com baixa renda.

5.2. Objetivos

Os objetivos da assistência social brasileira estão consignados nos artigo 203, da Constituição Federal:

“I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescên-cia e à velhice;

II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de defi-

ciência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pes-

soa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei”.

5.3. Benefício do amparo assistencial ao idoso ou deficiente carente

Conforme acima visto, é objetivo da assistência social brasileira a ga-rantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dis-puser a lei, nos termos do artigo 203, inciso V, da Constituição Federal.

A regulamentação deste benefício assistencial foi promovida pelos artigos 20 e 21, da Lei 8.742/93, pelo artigo 34, da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) e pelo Decreto 6.214/2007, tendo o Estatuto do Idoso reduzido a idade mínima de concessão para os 65 anos de ida-de (no caso dos idosos).

Para fazer jus ao amparo de um salário mínimo, o idoso ou defi-ciente deverão comprovar o seu estado de miserabilidade. Pelo crité-rio legal, considera-se incapaz de prover a sua própria manutenção a pessoa portadora de deficiência ou idosa, em que a renda mensal per capita familiar seja inferior a 1/4 (um quarto) de salário mínimo.

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Logo, a norma instituiu um critério objetivo para a aferição do esta-do de carência do idoso ou do deficiente: renda per capita familiar infe-rior a ¼ de salário mínimo, ressaltando-se que se entendia como família o conjunto de pessoas elencadas no artigo 16, da Lei no 8.213/91, desde que vivessem sob o mesmo teto: I – o cônjuge, a companheira, o com-panheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido; II – os pais; III – o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido.

Todavia, com o advento da Lei 12.435/2011, foi alterado o artigo 20, §1º, da Lei 8.742/93, considerando-se que a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

Assim, como inovação, foram coerentemente inseridos a ma-drasta ou o padrasto (na falta dos pais) na composição da família. Da mesma forma, os irmãos solteiros e os filhos de qualquer ida-de passaram a entra na formação do grupo familiar, não existindo mais a idade limite de 21 anos, desde que vivam sob o mesmo teto.

\ POSIÇÃO DO STFNo entanto, nos dias 17 e 18.4.2013, o STF pronunciou a inconstitucionalidade inci-dental do §3º, do artigo 20, da Lei 8.742/93 (“§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 do salário mínimo”), no julgamento dos Recursos Extraordinários 567985/MT e 580963/PR.Conforme narrado no Informativo 702, prevaleceu o voto do Min. Gilmar Mendes, rela-tor do RE 580963/PR. Ressaltou haver esvaziamento da decisão tomada na ADI 1232/DF — na qual assentada a constitucionalidade do art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 —, es-pecialmente por verificar que inúmeras reclamações ajuizadas teriam sido indeferidas a partir de condições específicas, a demonstrar a adoção de outros parâmetros para a definição de miserabilidade.O Min. Gilmar Mendes aludiu que a Corte deveria revisitar a controvérsia, tendo em conta discrepâncias, haja vista a existência de ação direta de inconstitucionalidade com efeito vinculante e, ao mesmo tempo, pronunciamentos em reclamações, julgadas de alguma forma improcedentes, com a validação de decisões contrárias ao que naquela decidido. Enfatizou que a questão seria relevante sob dois prismas: 1º) a evolução ocor-rida; e 2º) a concessão de outros benefícios com a adoção de critérios distintos de 1/4 do salário mínimo.Por fim, não se alcançou o quórum de 2/3 para modulação dos efeitos da decisão no sentido de que os preceitos impugnados tivessem validade até 31.12.2015, consoante requerido pela Advocacia-Geral da União. Votaram pela modulação os Ministros Gilmar Mendes, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Celso de Mello.

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\ POSIÇÃO DO STJO STJ vem decidindo pela possibilidade da utilização de outros critérios para a aferição do estado de miserabilidade do idoso ou deficiente. No julgamento do AgRg no REsp 946.253, de 16.10.2008, decidiu a Corte Superior que “o preceito contido no art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93 não é o único critério válido para comprovar a condição de miserabilidade. A renda familiar per capita inferior a 1/4 do salário-mínimo deve ser considerada como um limite mínimo, um quantum objetivamente considerado insufi-ciente à subsistência do portador de deficiência e do idoso, o que não impede que o julgador faça uso de outros fatores que tenham o condão de comprovar a condição de miserabilidade do autor”.

Por força do artigo 34, parágrafo único, do Estatuto do Idoso, “o benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do ca-put não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS”.

Logo, se um casal de idosos carentes reside sozinho, o benefício assistencial percebido por um deles será desconsiderado como renda familiar, o que permite a concessão de dois amparos, ante a expressa determinação legal. Caso contrário, a renda per capita seria de ½ salá-rio mínimo, o que impediria a concessão da segunda prestação.

\ POSIÇÃO DO STFNo entanto, nos dias 17 e 18.4.2013, o STF pronunciou a inconstitucionalidade inci-dental do artigo 34, parágrafo único, do Estatuto do Idoso (“O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas”), no julgamento dos Recur-sos Extraordinários 567985/MT e 580963/PR.Conforme narrado no Informativo 702, prevaleceu o voto do Min. Gilmar Mendes, rela-tor do RE 580963/PR. No tocante ao parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso, o Min. Gilmar Mendes reputou violado o princípio da isonomia. Realçou que, no referido estatuto, abrira-se exceção para o recebimento de dois benefícios assistenciais de idoso, mas não permitira a percepção conjunta de benefício de idoso com o de deficiente ou de qualquer outro previdenciário. Asseverou que o legislador incorrera em equívoco, pois, em situação absolutamente idêntica, deveria ser possível a exclusão do cômputo do benefício, independentemente de sua origem.

Por sua vez, com o advento da Lei 12.470, de 31.08.2011, foi in-serido o §9º, no artigo 20, da Lei 8.742/93, que prevê que a remu-neração da pessoa com deficiência na condição de aprendiz não será considerada para fins do cálculo da renda per capita familiar.

Outrossim, a contratação de pessoa com deficiência como apren-diz não acarretará a suspensão do benefício de prestação continuada,

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limitado a 2 (dois) anos o recebimento concomitante da remune-ração e do benefício.

Logo, após o biênio, será possível que o deficiente aprendiz tenha a suspensão do amparo assistencial, pois a remuneração percebida como aprendiz será considerada no cálculo da renda per capita fami-liar.

No que concerne ao deficiente, era assim considerada a pessoa incapacitada para a vida independente e para o trabalho, na for-ma do artigo 20, §2º, da Lei 8.742/93, em sua redação original.

Entretanto, com o advento da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ratificada pelo Brasil pelo Decreto-legis-lativo 186/2008, tendo sido promulgada pelo Decreto presidencial 6.949/2009, o INSS vem trabalhando administrativamente com a de-finição de deficiência desse tratado, que considerada que as “pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barrei-ras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas”.

\ AtençãoFinalmente, no dia 07/07/2011, foi publicada a Lei 12.435, que alterou a redação do ar-tigo 20, da Lei 8.742/93, que sofreu leves modificações pela Lei 12.470, de 31/08/2011, passando a considerar a pessoa com deficiência como aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, assim como impedimentos de longo prazo como aqueles que aqueles que produzam os efeitos referidos pelo prazo mínimo de 02 anos.

Vale ressaltar que o desenvolvimento das capacidades cognitivas, motoras ou educacionais e a realização de atividades não remunera-das de habilitação e reabilitação, entre outras, não constituem motivo de suspensão ou cessação do benefício da pessoa com deficiência.

Ademais, a condição de acolhimento em instituições de longa per-manência não prejudica o direito do idoso ou da pessoa com deficiên-cia ao benefício de prestação continuada.

Para a concessão do amparo aos menores de 16 anos, deverá ser avaliada a existência da deficiência e o seu impacto na limitação do

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desempenho de atividade e restrição da participação social, compatí-vel com a idade, sendo dispensável proceder à avaliação da incapaci-dade para o trabalho, haja vista a vedação constitucional que proíbe o trabalho aos menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.

Outrossim, o amparo assistencial não poderá ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o da assistência médica ou pensão especial de natureza indenizatória (artigo 5º, do Decreto 6.214/07, com redação dada pelo Decreto 6.564/08).

Ademais, a concessão do benefício de prestação continuada inde-penderá da interdição judicial do idoso ou da pessoa com deficiência, ao passo que a interdição, por si só, não vinculará o INSS, haja vista as suas causas não serem exatamente idênticas aos pressupostos do benefício, não tendo o condão de vincular a autarquia federal previ-denciária, que não foi parte no processo gracioso de interdição.

Esse benefício não gerará gratificação natalina nem instituirá pensão por morte, tendo índole personalíssima, devendo ser revis-to, pelo menos, a cada dois anos, para ser verificada se as condições de concessão persistem, podendo ser cassado a qualquer momento, desde que não mais satisfeitas às condições legais (caráter precário).

Apesar de ser um benefício assistencial, é gerido pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, por questões de conveniência admi-nistrativa, competindo à União arcar com o seu pagamento, conforme previsto no artigo 29, parágrafo único, da Lei 8.742/93.

\ POSIÇÃO DO STJNo caso das lides judiciais, o STJ vem reconhecendo a legitimidade passiva exclusiva do INSS, não devendo a União ser ré no processo, a exemplo do julgamento do AgRg no REsp 735.447, de 29.08.2005.

6. SAÚDE

6.1. Introdução, definição e natureza jurídica

A saúde é certamente um dos direitos fundamentais mais difí-ceis de ser implementado com qualidade, justamente em razão dos

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