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ANO LECTIVO 2011-2012

Genética 12ºA - Psicologia

A evolução humana

“O mundo é muito velho e os seres humanos muito novos. Os acontecimentos importantes das nossas

vidas pessoais são medidos em anos ou períodos de tempo mais curto, a nossa vida em décadas, a

genealogia da nossa família em séculos e os factos a que se refere a história escrita em milénios. Mas

fomos precedidos por uma enorme extensão de tempo, que abarca períodos prodigiosos do passado

sobre os quais pouco sabemos – quer por não termos registos escritos, quer por termos uma real

dificuldade em apresentar a imensidão dos intervalos que mediaram entre esses períodos.” SAGAN, C., Os dragões do Éden, Gradiva, 1985, p. 21

“O homem é um animal. Este facto elementar é ignorado em psicologia com excessiva frequência. O

homem é um organismo biológico semelhante a outros animais e, particularmente, a outros primatas,

pela sua estrutura, pelas suas funções e até pelos seus padrões de comportamento. Além disso, o homem

é um animal muito recente. O Homo Sapiens moderno apareceu há cerca de cinquenta milhares de anos

– o que não representa no calendário biológico um espaço de tempo muito grande. Se tentássemos traçar

a árvore genealógica do homem, para além de duzentas gerações, os seus antepassados começariam a

parecer-se muito pouco com os actuais seres humanos. Os primeiros antepassados do Homem

começaram a divergir de outras linhas de primatas há, aproximadamente, dois milhões de anos. Durante

a maior parte deste tempo, as forças irresistivelmente poderosas da seleção natural deram ao homem a

forma de um primata caçador e recolector de alimentos. A cultura de cereais e a domesticação de

animais, atividades que conduziram à formação de populações estáveis e, no essencial, à civilização, tal

como atualmente a conhecemos, ocorreram apenas nos últimos dez milhares de anos, muito depois de o

homem ter já alcançado plenamente a sua forma e aptidões atuais. O homem é a espécie mais

terrivelmente bem sucedida (alguns acrescentariam de „caçador carnívoro‟) que alguma vez apareceu à

face da terra, e este passado modelou o seu presente.” THOMPSON, op. cit., p. 23

Os dois textos que te apresentámos apontam para duas conclusões: os seres humanos são muito recentes,

tendo em conta a história do mundo; os seres humanos são produto de uma evolução.

Foram as pressões do ambiente que provocaram a evolução do ser humano a partir dos primatas

superiores – a passagem da floresta para a savana obriga os nossos antepassados a descer das árvores e a

caçar, para sobreviver. As características físicas e as aptidões comportamentais têm que se adaptar ao

novo habitat: desenvolve a locomoção bípede e a postura vertical, libertando as mãos das suas funções

locomotoras; a mão transforma-se num instrumento flexível graças à oponência do polegar que permite

uma pressão mais forte e precisa.

As mãos passam a ser capazes de fabricar e utilizar utensílios e armas. Contudo, estas atividades só são

possíveis graças ao desenvolvimento do cérebro. É o cérebro que conduz a mão, que é sede de

inteligência e centro da linguagem.

São as pressões do ambiente – mudança do ecossistema – que desencadearam todo um conjunto de

transformações anatómicas que pressupõem mutações genéticas.

Para Edgar Morin, é a dialética pé–mão–cérebro que irá libertar o Homem do domínio da natureza. Na

base do processo de hominização está a adaptação ativa ao meio (práxis), isto é, o Homem modifica a

natureza e, ao transformá-la, transforma-se.

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A todo este processo é inerente o desenvolvimento de relações de cooperação que se vão concretizando

numa organização social cada vez mais complexa. A fala, o meio de comunicação entre os indivíduos, é

inerente à vida social e à própria sobrevivência da espécie. Para Edgar Morin, no processo de

hominização intervêm, de forma interativa, múltiplos fatores: ecológicos, genéticos, sociais e culturais.

As contribuições de Darwin na psicologia

A obra de Darwin trouxe várias consequências para a psicologia. Em primeiro lugar, cai definitivamente a

barreira que separava o Homem do animal – sendo o Homem produto da evolução, o seu comportamento

tem muitas semelhanças com o comportamento animal. Poderemos localizar a origem da psicologia

animal nos trabalhos de Darwin.

Em 1872, publica A expressão da emoção no Homem e nos animais. Nesta obra, Darwin propõe-se

estudar a emoção humana, tendo para o efeito recorrido a diversas fontes. Recolheu, junto de psiquiatras,

dados sobre as expressões da emotividade em doentes mentais. A partir de relatos de antropólogos de

observações feitas em povos primitivos, procura traços comuns nas expressões da emoção. Para além

disto, observa e regista os comportamentos dos seus filhos em diferentes situações: de fome, de

frustração, de agressividade. Fotografa, igualmente, pessoas em situações emocionais.

A partir de todos estes dados, procura descrever detalhadamente as expressões emotivas associadas ao

medo, à cólera, à alegria, à vergonha: postura corporal, mímica facial, movimentos característicos.

Procurou ainda comparar as manifestações da emoção nos animais – concretamente nos macacos –,

considerando que muitas delas são comuns aos seres humanos. Este estudo comparativo serviu para

confirmar as suas teorias sobre a evolução. Muitos etólogos contemporâneos retomaram esta linha de

investigação.

Para além da importância do conteúdo dos seus estudos, Darwin surge como um precursor de modernas

tendências em psicologia que valorizam o estudo do comportamento não verbal, bem como o recurso a

várias fontes de informação e a vários métodos de observação.

A importância do meio e a adaptação que provoca passaram a ser, a partir de Darwin, um tema central,

não só em psicologia, como em muitas outras ciências.

Monteiro, M., Santos, M. Psicologia, Porto: Porto Editora, pp 130-132 (adap)


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