1ª Edição
Belo Horizonte
Edição do Autor
2014
Copyright © by Sameerah Sy
Todos os direitos reservados.
– É PROIBIDA A REPRODUÇÃO –
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou
mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como
traduzida, sem a permissão, por escrito, da autora. Os infratores serão
punidos pela Lei nº 9.610/98.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
1ª Impressão/ 2014
Edição e diagramação: G V B
Revisão de texto: Raquel Ferreira de Souza
Capa: Yume Vy
Edição e tratamento de Imagens: Eric Vaz
[Sy, Sameerah]
Ela é o Meu Pecado – Proteja-me/ Sameerah Sy – Belo Horizonte, Minas
Gerais/ 2014
Registro na Biblioteca Nacional: Nº 627.974/ Livro 1.206/ Folha 14 (Protocolo
de requerimento: 2013MG_152)
1. Literatura Brasileira. I. Título
DEDICATÓRIA
Dedico Àquele que perdoa a todos os nossos “pecados”,
e a minha amada família.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que de alguma forma colaboraram para a realização dessa obra. Em especial aos amigos: Yume Vy quem me apresentou o universo das fanfics, ela é minha conselheira, amiga, ilustradora, e parceira de ideias. Ao Eric Vaz pela amizade e sua preciosa contribuição como designer. À Kelly Dayse por seu apoio incondicional, a partir dele que EMP ressurgiu das cinzas, à Ruana por me aconselhar nos momentos certos, por ser a grande amiga que é, à Magistra (Estrela) quem acreditou na obra e contribuiu imensamente para minha aprendizagem acadêmica, e dela guardo dicas preciosas: “o riso é cruel”!
Agradeço também a Mel, leitora ousada que tatuou minhas
personagens em suas próprias costelas, à Rafa, fonte de inspiração para a construção da protagonista dessa obra, à Betto Diniz do Radiokharma por contribuir com seu talento musical e à Fernando Prates, de quem também sou fã e foi quem criou a ponte para esse novo amigo, ao Dito Brito, meu
amigo e parceiro musical de longa data, que me permitiu utilizar seus arranjos de “Meu Silêncio” como tema para minha letra.
Ao apoio das queridas amigas moderadoras do site Yuri zone Moe
Dono e Love Sama, à Claudius Nefilins (nossas mentes juntas são perversas!) À Lu Fernandes, amiga que embarca em todas as minhas loucuras acadêmicas e projetos, “vamos criar um disco voador?” “Vamos!”.
Nomes são infinitos, não conseguiria espaço para citar todos, mas
sou imensamente grata a cada um de vocês que fizeram e fazem parte desse lindo projeto, desse singelo sonho. Estarei eternamente grata, e não se limita a essa página, a gratidão ela é transcendental e chegará ao coração de todos.
Obrigada meus amigos leitores!
Com amor, Sameerah Sy.
Proteja-me?
Tereza Pereira do Carmo1
A primeira vez que ouvi falar sobre Ela é o meu pecado, quase não ouvi. Sameerah era minha aluna de Teoria da Literatura e procurou-me após a aula para falar sobre sua criação literária. Sua voz era tão baixa que quase não consegui ouvir o que ela dizia, ainda assim pedi que enviasse a obra por e-mail e ela enviou-me.
Grata surpresa! De repente deparo com o cenário de Belo Horizonte
abrigando tipos marginais e sublimes. As ruas, praças, becos, botecos, todo cenário em Ela é o meu pecado deixa a dúvida sobre o horizonte belo, anunciado pelo nome da cidade, céu e inferno misturam-se a terra e tingem o horizonte de cores inusitadas. É em Belo Horizonte, mas poderia ser em qualquer lugar. Decididamente, Sameerah Sy é uma contadora de histórias.
Nos 23 capítulos de Ela é o meu pecado: Proteja-me, lidos pela
primeira vez por mim em uma noite, e detalhadamente a posteriori, temos dois mundos desnudados. Há no livro a presença de mundo real e do fantástico. Dores e pequenas alegrias. Crueldade e esperança. Um grande grito de socorro e a presença certeira do auxílio.
1 Professora de Língua e Literatura Latinas
Cyn e Lynna, a mortal e a imortal. Quem é o pecado de quem? Quem necessita de proteção? A aventura é fantástica. Descobrir os enigmas da vida de Cyn e Lynna com as contradições que equilibram as personagens é um desafio para o leitor. A beleza de Lynna nos machuca, dói. A dor e descrédito de Cyn nos arrastam para o tumulto que é a sua vida. A luta pelo corpo e alma de Cyn nos remete a Dante. A vida é uma divina comédia e Ela é o meu pecado nos coloca como espectadores que desejam assistir o espetáculo até o final.
Cada capítulo nos surpreende ou pela aventura ou pela poesia ou
pela canção. Acompanhamos a narrativa e logo no capítulo quatro deparamos com a poesia de Cyn “Anjo Caído” que reflete exatamente aquilo que a personagem é, tipo alfa, ativa e mandona, mas perdida. No capítulo onze conhecemos a poesia em forma de canção “Meu silêncio” é a ação da brisa fresca sobre a pele que fica arrepiada e cala a alma em forma de rock.
As ilustrações de Yume Vy são de tirar o fôlego. O traço firme e o
colorido traduzem a aura das personagens e suas ações. Texto e imagem complementam-se. Cada ilustração de Yume ilumina e dialoga com o texto de Sameerah. A imagem brota do texto como um cinema mental, um traduz o outro e ambos se completam.
É exatamente assim que Ela é o meu pecado conquistou-me. A
desajustada e antissocial Cyn que é disputada por anjos e demônios, mortais e imortais. As conquistas do ordinário e do extraordinário cotidiano de Lynna e Cyn retiram as duas da penumbra e permitem que os primeiros rasgos do sol iluminem e modifiquem a vida exposta com suas feridas e cicatrizes. Protejam-se!!!!
Salvador, 20 de janeiro de 2014.
Prólogo ________________________________________________________ 11
Capítulo 01 – Cyn _______________________________________________ 13
Capítulo 02 – Garota Perdida _____________________________________ 25
Capítulo 03 – O Dia Seguinte _____________________________________ 33
Capítulo 04 – Começo Conturbado ________________________________ 45
Capítulo 05 – Nas Trevas _________________________________________ 53
Capítulo 06 – Meu Inferno Mal_Dito ______________________________ 63
Capítulo 07 – Coração Bandido ___________________________________ 71
Capítulo 08 – Olho Mágico _______________________________________ 83
Capítulo 09 – Eu Canto em Português Errado _______________________ 89
Capítulo 10 – Sob a Luz do Holofote ________________________________97
Capítulo 11 – Doce Veneno _______________________________________ 107
Capítulo 12 – Convença-me do Contrário __________________________ 121
Capítulo 13 – O X da Questão ____________________________________ 127
Capítulo 14 – Minha Íris ________________________________________ 133
Capítulo 15 – Boneca de Pano ____________________________________ 145
Capítulo 16 – Jantar Familiar _____________________________________ 153
Capítulo 17 – Menina Má ________________________________________ 163
Capítulo 18 – Noite de Halloween ________________________________ 169
Capítulo 19 – Misteriosa Sedução ________________________________ 175
Capítulo 20 – Desejo ____________________________________________ 185
Capítulo 21 – Fúria Sob a Tempestade ____________________________ 193
Capítulo 22 – Caminhos que se Cruzam ___________________________ 199
Capítulo 23 – Cafuné ____________________________________________ 207
Epílogo ________________________________________________________ 213
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Prólogo
Pouco se importava consigo mesma. Sempre deixou que a vida lhe
conduzisse a pontapés, mostrando-se dona de um orgulho sem igual e não
medindo esforços para manter a imagem de durona... Uma fortaleza em
carne e osso. No fundo, porém, ela ansiava compreensão, mas como
desvendar sua alma através daqueles olhos de pedra?
Ela tinha sempre o mesmo pesadelo...
– Pobre fragilidade escondida dentro de sua imperfeição humana.
O sussurro macabro possuía uma sensualidade ímpar que arrepiava
sua pele, atraindo-a como um imã, ao mesmo tempo em que todas as células
de seu corpo gritavam sobre um perigo iminente. Em meio às sombras que a
cercava, havia uma nebulosa energia negra que parecia rastejar em sua
direção, desejando tocá-la. No entanto, seguia sem rumo, desvencilhando-se
daquele mal.
“Proteja-me...” Clamou em pensamento, sentindo o pavor crescer.
A frieza do ser oculto trouxe-lhe uma pontada fria na espinha e,
como de costume, Cyn despertou aflita, sentando-se na cama, com uma fina
camada de suor cobrindo sua pele. Seu coração batia acelerado e seus olhos
verdes, nervosamente, percorreram o quarto escuro, procurando por ajuda...
Alguém que talvez pudesse acabar com a sensação horrível que a consumia,
mas não havia ninguém. Como sempre, estava sozinha...
– Por que diabos me abandonam? Ela questionou, pela primeira vez,
trazendo os joelhos para junto do peito, abraçando-os, como se isso pudesse
a proteger da solidão.
– Se... existe algum Deus, onde Ele está? E sua compaixão por mim?
Cyn falou baixinho, deitando-se mais uma vez.
Ela logo se cobriu e se aconchegou sobre o colchão macio, fechando
os olhos, disposta a esquecer... a enterrar aquele pesadelo, além das suas
próprias fraquezas mais uma vez. Só precisava se trancar novamente e
voltar a ser aquela Cyn inatingível... Este era seu único amparo.
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Capítulo 01 – Cyn
Aquela noite de domingo estava realmente agitada em um peculiar
bar na cidade de Belo Horizonte, um pouco escondido da vista de ‘curiosos’,
onde seus frequentadores se divertiam sem grandes preocupações. A
iluminação era baixa, num tom vermelho e a música alta se misturava às
gargalhadas do grupo de homens que rodeavam uma bela garota. Ela, por
sua vez, se encontrava junto ao balcão, bebendo sua sétima dose de vodca...
Ou seria oitava?
– Vira! Vira! Vira! Vira! Aaaaêêêêêêêêêêê!!! Os rapazes mais jovens
gritavam e vibravam na expectativa do que viria a seguir. Todos eles, e
algumas mulheres também, torciam para que ela subisse na mesa e fizesse
seu famoso striptease, como já havia feito algumas vezes.
– Calma rapazes! Ainda sei contar quantos dedos tenho... Hic... Hic...
A jovem de cabelos vermelhos, repicados e franja desfiada, soluçava,
tentando beber outra dose.
– Ei, gata! Acho que já tá na hora de parar. – Disse o homem que a
servia.
– Por quê? É você que tá pagando a conta? – Perguntou desafiadora.
– Uuuuhhhhhhhh! Os rapazes ao lado dela caçoaram ao ouvir a
cortada, enquanto outros curiosos, mais afastados, apenas olhavam e riam.
A visão da ruiva já distorcida pelo efeito do álcool, fixou-se no olhar
desajeitado do homem baixo, careca e de bigode engraçado. Segurando
agora uma garrafa de Tequila, ele estremeceu e suou frio, temendo o de
sempre! Seu trabalho consistia em servir, mas todas as vezes que caía na
tentativa de encerrar a cota da ruiva, via seu bar virar uma zona de guerra e
se havia alguém capaz de causar muita destruição, era Cyn!
A jovem rebelde ergueu o corpo como uma serpente sobre o balcão,
empunhando um soco-inglês que rapidamente tirou do bolso. Seu
movimento expôs parte da exótica tatuagem que cobria sua costela esquerda
e se estendia em direção as costas. A arte consistia em um emaranhado de
correntes e asas, porém a mesma não podia ser vista em sua totalidade, por
causa da blusa que ela vestia.
Cyn mantinha seus olhos verdes fixos no homem, exigindo, através
de uma ameaça, que ele a servisse, mas antes que pudesse agredi-lo, a ruiva
sentiu sua face ser tocada com a leveza de uma pluma. A feição agressiva se
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desfez ao se dar conta de quem a acariciou e logo direcionou um pequeno
sorriso para Jonny, o homem que sempre a fascinou. Ele tinha trinta e nove
anos, cabelos curtos e negros, apesar de um pouco grisalhos, olhos iguais aos
da sobrinha e uma pele morena que parecia combinar perfeitamente com
todo o resto, lembrando um deus grego, em toda a sua glória!
Jonny era tio de Cyn e o responsável por sua custódia desde que os
pais da jovem morreram. O que indignava a todos que conheciam mais de
perto a história dos dois era o fato de que ele, além de ser seu tutor,
transformou-a em sua amante. Aquele que deveria cuidar e proteger a
garota até maioridade, simplesmente a tomou como mulher, não como
digníssima esposa, mas como uma marionete tratada, na maior parte das
vezes, com descaso. Alguns tinham tentado interferir naquela situação
absurda, mas nada conseguiram, visto que ele era um homem com dinheiro
e contatos perigosos. E Cyn, iludida por suas palavras, sempre negava às
autoridades qualquer veracidade de tais ‘boatos’. Agora ninguém poderia
interferir, pois ela alcançara a maioridade no ano anterior.
– Calma, meu anjo, vou te levar pra casa. O sedutor e maduro
homem a fez baixar a guarda para alívio daquele que a servia.
Jonny sorriu para a ruiva, insinuante, levantando o copo de bebida,
matando-o em um só gole. Com um rápido movimento, segurou-a pela
cintura, deixando sobre o balcão dinheiro suficiente para pagar a conta de
ambos e, sob o olhar de todos, saíram daquele bar, entrando no novo
automóvel comprado pelo moreno, um Ford Fusion preto.
Com as ruas desertas, Jonny não se importou em dirigir acima da
velocidade permitida, não demorando muito para chegar ao Funcionários,
um bairro nobre, que mesclava tradição e modernidade em sua arquitetura e
que, por ser referência cultural e histórica, tornou-se um dos espaços mais
disputados e charmosos da capital mineira. Apertou o controle remoto,
abrindo o portão do prédio em que morava e, satisfeito por chegar em sua
residência, o moreno estacionou. Em silêncio, ele a guiou com toda a
gentileza pelo elevador até a cobertura, observando-a com atenção, fechando
a porta, assim que sua sobrinha entrou.
O apartamento era extremamente aconchegante, lembrando um lar
que Cyn nunca pôde vivenciar de verdade. Logo, a ruiva se virou para o
belo homem, perdendo-se no interior daqueles olhos tão penetrantes,
buscando por coisas que não sabia identificar, permanecendo parada na sua
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frente, permitindo sua aproximação. Era um transe que ela mesma não
compreendia, sabendo que por trás da aparência elegante e limpa de Jonny
se escondia um oportunista de mulheres carentes e... ricas!
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Cyn se viu nos braços dele,
sentindo seus beijos e carícias envolventes. Mesmo alcoolizada, percebeu
que eles caminhavam em direção ao quarto, com as mãos fortes de Jonny
retirando suas roupas com maestria e, quando se deu conta, estava seminua,
deitada na macia cama do homem que a adotara desde seus dez anos,
quando ficara órfã. Seus olhos se encontraram com os dele e antes que
pudesse se manifestar, seus lábios foram tomados e ela se deixou levar, sem
forças para resistir ao seu “protetor”.
O relógio marcava três e meia da madrugada e sob a luz fraca do
abajur, a ruiva respirava ofegante, amolecida sobre a cama. Seus olhos
verdes estavam fechados e tudo o que queria agora era dormir abraçada ao
corpo dele, para se sentir querida e protegida do mundo.
Diferente de qualquer outro, Jonny foi o que se destacou na vida da
”rebeljean”. Era desta forma que seu tio a chamava desde que ela se
transformou em uma linda moça, no auge de seus quatorze anos. Nesta
época, encantado por sua beleza, começou a seduzi-la, até que a tomou pela
primeira vez, tornando-se seu homem a partir de então. Como forma de
agradá-la, emancipou-a, permitindo que vivesse sozinha no apartamento
que herdara dos falecidos pais, no Edifício JK, no centro de Belo Horizonte.
Mas nada daquilo importava no momento, pois aquela seria apenas mais
uma noite em que, no fim, não passariam juntos... E esta era uma certeza que
Cyn evitava pensar.
– Jonny, seu gigolô filho da puta... Cyn sussurrava ainda entregue
àquele homem de porte atlético e muito bem dotado, o que fazia a alegria
das várias mulheres que “o tinham”.
– Vem cá, gata! Quero mais... Ele falou, beijando e mordendo o
pescoço da ruiva.
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– Você é insaciável, Jonny... Tô tão acabada que não conseguiria nem
babar no meio das suas pernas.. Disse, ainda zonza, querendo se
desvencilhar dos braços dele para se levantar.
– Não fala assim que eu me excito! Ele riu, mas deixou que Cyn
escapasse de seus braços, enquanto seus olhos acompanhavam os
movimentos cambaleantes da ruiva em direção ao banheiro para tomar uma
ducha.
Sem demora, Cyn abriu o registro, sentindo a água quente cair sobre
seu corpo. Deixou apenas que os vestígios do sexo fossem lavados de sua
pele e quando se deu por satisfeita, puxou a toalha, enrolando-se e indo para
frente do espelho, penteando seus cabelos repicados. Tentava lembrar o
lugar onde deixara suas roupas, a vaga lembrança das peças sendo jogadas
lhe vinha à mente, mas antes que pudesse pensar com coerência, foi
novamente agarrada pelo moreno.
Sem permitir que ela protestasse, Jonny passeou com suas mãos e
lábios por todas as curvas daquele corpo delicioso. Sentia-se selvagem,
ambicioso e sedento por mais! Não demorou muito e, mais uma vez, a ruiva
estava deitada em sua cama, correspondendo a todos os seus carinhos e
estímulos, e ele ia sintonizando-se a cada movimento dela, a fim de fazê-la
se perder nos delírios do prazer carnal.
Cyn não era rica, mas possuía uma sexualidade tão ativa, que Jonny
nunca a dispensava, pois era a única que o saciava. O prazer dele era egoísta,
mas a ruiva o tinha como única fonte de atenção, então fingia acreditar em
suas promessas fantasiosas, de que um dia fugiria com ela para uma ilha
deserta. Palavras de sedução, dessas baratas, que todo homem maduro usa
para conquistar garotas carentes... Mas que, no caso de Cyn, davam-lhe
conforto temporário.
Os movimentos ritmados aumentavam a excitação do casal, que se
beijava nos poucos intervalos em que suas respirações entrecortadas
permitiam, pois os lábios de Cyn eram tão ávidos e atraentes que ele não
conseguia deixar de prová-los sempre que podia. O prazer logo se elevou,
arrancando gemidos mais altos daquele pecado de olhos verdes que se
contorcia sob o corpo do moreno e, em minutos, Jonny pôde ouvir pedidos
por mais... Pedidos que prontamente atendeu.
– Tudo o que você quiser, meu anjo! Jonny disse, com um sorriso
safado nos lábios. Ele acelerou, acentuando cada investida contra o corpo
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dela, levando-os ao clímax, ouvindo um longo gemido deixar a boca da
ruiva, ao mesmo tempo em que chegava ao orgasmo.
Ao terminar, Jonny se encontrava ofegante e saciado. Mas quando
Cyn se moveu, procurando pelo abraço do seu tio-amante, ele se esquivou e
se sentou, retirando a camisinha, para logo em seguida se levantar e ir ao
banheiro. Ao ser abandonada naquela cama, compreendeu imediatamente o
significado... Ele tomaria uma ducha e ela deveria se vestir para que fosse
levada para casa.
A jovem permaneceu olhando em direção à porta fechada, sentindo o
peito apertar. Por que ele nunca a abraçava depois de fazerem sexo? Ela só
queria poucos minutos assim, nada mais. Porém, parecia que nunca teria
aquilo... Jamais se sentiria confortável nos braços de alguém. Na verdade,
começava a achar que a felicidade plena era impossível e inalcançável.
Com um nó na garganta, Cyn se levantou, procurando pelo quarto e
corredor suas roupas, vestindo-as o mais rápido possível. Desejava ir
embora antes que ele saísse do banheiro, porque seria mais doloroso...
Sempre era! Quando Jonny a levava, a sensação de ser apenas uma boneca
de luxo se tornava maior.
– Vai sozinha hoje? Cyn ouviu a voz de Jonny, que saiu com uma
toalha enrolada na cintura, e praguejou internamente por não ter sido mais
rápida.
– É. Sei me virar. Respondeu sem olhar para ele.
– Já disse que você é linda e perfeita? Jonny sorriu, bajulando-a, ao
notar seu descontentamento.
– Já sim... Sussurrou a ruiva, acenando de costas para ele, saindo do
quarto.
Em passos largos, Cyn deixou o apartamento de Jonny. Chamou o
elevador que rapidamente chegou, levando-a ao térreo e, em poucos
minutos, ela ganhou as ruas, sentindo o vento frio da madrugada.
Suspirando, a ruiva parou por um momento, olhando para cima, mais
especificamente, para a janela do quarto dele.
“É... Linda e perfeita! Mas você diz isso para todas que trepam com você.”
Pensou triste.
Cyn não queria ficar no apartamento de Jonny, muito menos que ele
a levasse para casa, porque se recusava a deixar que aquele homem visse as
lágrimas teimosas que molhavam seu rosto. Tudo o que desejava era ser
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forte e descomprometida, mas sua consciência apontava que tal atitude era
um erro, com um preço muito alto. Lamentava o quanto doía saber que cada
noite como aquela parecia ser apenas mais um surto de paz, que só conhecia
nos braços daquele que percorria suas curvas perigosas, mas tão frágeis
quanto a ponta de um isopor.
Sem muito pensar, Cyn se colocou a caminhar pelas ruas desertas,
sentindo o vento arrepiar sua pele, pois a fina blusa vinho não ajudava nem
um pouco a protegê-la. Olhou para trás, ao notar que um ônibus vinha em
sua direção e deu sinal, vendo-o parar um pouco à frente e após embarcar,
pagou a passagem ao sonolento agente de bordo, indo parar no último
assento do coletivo.
Ainda sentindo o cheiro de Jonny em sua pele, decidiu passar em um
local onde poderia conseguir algo para aliviar a sua tristeza, seu terrível
momento de fraqueza, antes que voltasse para casa. Quando o ônibus
chegou ao final, uma avenida atrás da rodoviária, que permitia acesso ao
metrô da estação Lagoinha, Cyn desceu, caminhando pelas ruas desertas e
em algumas partes, escuras.
O lugar era perigoso para uma garota bonita e jovem como ela
perambular às cinco da manhã, mas a ruiva não sentia medo, pois era figura
repetida, uma velha conhecida dos moradores de rua e daqueles que se
aventuravam a praticar coisas ilícitas na região. Na verdade, era como se
houvesse uma força maior por trás de tamanha tranquilidade que se
contradizia ao modo de vida daquela sedutora jovem.
Havia pouco dinheiro em sua posse, mas era o suficiente para
comprar o necessário para consumir naquele momento. Sem precisar falar
nada, passou o dinheiro para um homem recostado a uma parede escura e o
mesmo lhe deu um pequeno pacotinho, que Cyn imediatamente guardou,
virando as costas. Enquanto deixava aquela viela, assovios e cantadas eram
direcionados a ela, que rapidamente atravessou outra rua, indo em direção a
uma das saídas de ônibus da rodoviária.
Ela parou dois quarteirões depois, sob um viaduto, pegando o
saquinho que continha o pó branco. Consumiu ali mesmo, usando o meio
canudo de uma caneta que estava no bolso de trás de sua calça, querendo
esquecer que ainda era apenas uma garota e voltar a ser a Cyn, poderosa e
forte de sempre... E que, se fosse para depender de algo, que não fosse do
amor, pois este sentimento era apenas uma utopia em sua vida.
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Respirando de forma mais pesada, Cyn notou que a droga em seu
organismo estava começando a fazer efeito, mas ao invés de sentir aquela
euforia característica, sentiu um frio na espinha. Olhando ao redor, tudo o
que a ruiva via eram sombras... Sombras que pareciam rastejar em sua
direção, então balançou a cabeça, dizendo para si que era apenas sua mente
criando falsas sensações de perseguição. A adrenalina em seu corpo parecia
aumentar e quando a impressão de que era observada por olhos sombrios se
tornou insuportável, ela voltou a andar.
Caminhando por um beco escuro, Cyn não sabia mais em que
direção deveria ir. Com passos lentos e desordenados, ela se dirigia à rua,
mas o cheiro forte de urina no ar revirou seu estômago, estimulando-a ao
vômito, que por sorte conseguiu conter. Quando a ruiva saiu daquele lugar,
uma forte luz, que parecia ser o farol de uma motocicleta, a cegou por um
instante, fazendo-a praguejar em voz alta.
Aquela madrugada estava fria e estranhamente tenebrosa. A rua
parecia se estreitar e não havia ninguém, a não ser um vira-lata que a
escoltava até algo o assustar... E seu ganido estridente despertou a
preocupação da jovem, que sentiu o coração acelerar. A sensação gelada em
sua espinha voltou mais uma vez, fazendo-a procurar ao redor aquelas
sombras que sempre a perseguiam em seus pesadelos. E, neste momento,
quando todos os pelos de sua nuca se eriçaram, Cyn percebeu uma intensa
luz pairar sobre a sua cabeça e ao olhar para cima, tudo o que viu foi o
surgimento de algo translúcido e, de imediato, arregalou os olhos.
– Ai, meu Deus! Uma nave! Cyn gritou e disparou a correr como se
fosse uma louca, tropeçando nos desníveis da rua e nas calçadas.
Seu pé direito se chocou contra um pneu velho e isso foi o suficiente
para jogá-la no chão, soltando um único grito, ao sentir uma forte pancada
na cabeça, enquanto algo cortante atingia-lhe a testa. De imediato, ela levou
a mão ao local notando o corte profundo, ao mesmo tempo em que a dor
lancinante se dissipava por seu corpo, como se fosse um veneno,
paralisando-a. Sua visão foi escurecendo e uma onda de náusea atingiu Cyn
de forma tão intensa que o ar pareceu rarefeito e, sem forças para lutar, ela
se perdeu na escuridão.
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Cyn não sabia o que estava acontecendo, apenas tinha certa noção de
que se encontrava em um local escuro e frio... Muito frio. Todo o seu corpo
parecia pesado, impedindo-a de se mover e tal sensação era desagradável
demais! A droga que deveria ter proporcionado uma injeção de ânimo, desta
fez estranhamente não funcionou, dando-lhe a impressão de que jazia
indefesa na escuridão. E tudo o que ela queria era ser forte, mas aquilo não a
transformou na Mulher Maravilha de sempre.
“Merda... Fui enganada! Só posso ter cheirado uma dose de bicarbonato! Se
tivesse experimentado orégano, o barato seria outro.” Pensou incoerente, ainda
mergulhada naquela terrível angústia.
Mas, de repente, tudo aquilo sumiu! A dor, a agonia, o
esmorecimento... Todas aquelas sensações desagradáveis deram lugar a um
calor gostoso que envolveu seu corpo por inteiro, acalentando seu espírito
atormentado. Era tão bom, que a ruiva suspirou aliviada, relaxando
profundamente, desejando que aquele sentimento perdurasse por tempo
indefinido! Ali, envolta naquela esfera quente e luminosa, Cyn se sentiu
protegida do mundo, algo que ninguém havia conseguido proporcioná-la
até então.
“Não... Não suma!” Pediu, quando aquela sensação pareceu se
dissipar, permitindo que emergisse para a consciência.
Seus olhos verdes piscaram repetidas vezes e ela começou a se dar
conta de onde estava, ao reconhecer os prédios e anúncios nas placas.
Apesar do sol ainda não ter nascido e o vento se mostrar persistente, Cyn
não sentia mais frio, pois era embalada por braços quentes e extremamente
aconchegantes.
– “Hein...?! braços?” Perguntou-se, sentindo um suave e delicioso
perfume, notando que uma garota a segurava e a apoiava contra o peito,
enquanto tentava pegar alguma coisa.
– Hummmm... Quem é a puta vestida de branco? Questionou-se
ainda desnorteada, tentando ver quem estava ao seu lado.
– Ei, calminha aí! Não me ofenda. Só estou tentando limpar o seu
ferimento. A voz dela parecia suave e sem traços de irritação.