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  • 28MacroeconmicaCONJUNTURA

    M a i o d e 2012 C o n j u n t u r a E c o n m i c a

    Por que as naes fracassam?

    Fernando de Holanda Barbosa

    As naes fracassam economicamente devido a suas instituies polticas. Esta a resposta de Acemoglu e Ro-binson pergunta deste artigo, ttulo do livro publicado recentemente por esses autores, nos Estados Unidos.1 Esse livro ser leitura obrigatria para todos aqueles que querem compreen-der o processo de crescimento eco-nmico. A mecnica do crescimento econmico j bastante conhecida da teoria econmica e baseia-se na acu-mulao de capital fsico, de capital humano e na inovao tecnolgica. Por que muitas naes pobres so incapazes de usar esse conhecimento comum, disponvel em qualquer livro texto de economia, para transfor-marem suas economias trilhando o caminho do crescimento?

    Em Zimbbue e Serra Leoa, da frica, na Argentina, Bolvia e Vene-zuela, da Amrica Latina, na Coreia do Norte e no Uzbequisto, da sia, no Egito, do Oriente Mdio, no a geografia, a cultura, tampouco a sor-te ou a ignorncia da classe dirigente que explicam o fracasso econmico dos mesmos. Onde est o n grdio dessa questo?

    A origem do fracasso reside na incapacidade desses pases de cons-

    trurem instituies econmicas, que determinam os incen-tivos e as restries para os diferentes agentes econmicos (consumidores, trabalhadores, empresrios, polticos) e que moldam os resultados econmicos. Essas instituies abrangem o direito de propriedade, a liberdade de esco-lha de cada cidado, o respeito aos contratos e s leis, o desenho de mecanismos e polticas para que grupos de interesse no se apropriem do bolo sem terem participado na sua produo, a segurana e a proteo das pessoas e a igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade em qualquer ao e/ou atividade.

    Dependncia A construo das instituies econmicas, segundo a teoria de Acemoglu e Robinson, depende das instituies polticas. Estas so classificadas em dois tipos: extrativas e inclusivas. Instituies polticas extrativas criam instituies econmi-cas extrativas, transferindo riqueza e poder para as elites do pas, deixando marginalizada a maior parte da populao. Esse tipo de instituio pode at produzir crescimento eco-nmico. Mas esse crescimento no sustentvel porque esse processo incompatvel com a manuteno e a concentrao do poder na mo de uma elite predadora.

    As instituies polticas inclusivas so baseadas no plura-lismo, produzem o imprio da lei, princpio segundo o qual as leis devem ser aplicadas igualmente para todo mundo. Essas instituies polticas geram instituies econmicas com os incentivos apropriados para o investimento em capital fsico, a formao do capital humano e a inovao tecnolgica que levam prosperidade, e, portanto, ao aumento do bem-estar material da populao. A segunda

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    parte da teoria de Acemoglu e Robinson procura explicar porque instituies polticas inclusivas surgiram em algu-mas partes do mundo e no em outras.

    O livro de Acemoglu e Robinson relata tambm fatos pitorescos, que na verdade fazem parte da tragdia de alguns pases, como o caso da Argentina. Segundo os au-tores, Simon Kuznets, Prmio Nobel de Economia de 1971, afirmava que no mundo existiam quatro tipos de pases: desenvolvidos, subdesenvolvidos, Japo e Argentina. O Japo entrava nessa classificao devido ao seu crescimento, depois da Segunda Guerra Mundial, tornando-se um pas do Primeiro Mundo. Quanto Argentina, a afirmao de Kuznets baseava-se no fato de que na poca da Primeira Guerra Mundial aquele pas era um dos mais ricos do mundo. De l para c a Argentina vem ladeira abaixo e hoje em dia um pas considerado emergente, o novo jargo para subdesenvolvimento. Por que eles andaram para trs? A resposta, de Acemoglu e Robinson, baseia-se no fato de que as instituies polticas da Argentina so extrativas, construdas na poca de ouro da economia exportadora de produtos agrcolas. Essas instituies perduram at os dias atuais, num equilbrio poltico de foras retrgradas que mantm o status quo, impedindo o surgimento de instituies polticas do tipo inclusivas que produziriam instituies econmicas capazes de gerar o crculo virtuoso do crescimento econmico.

    Brasil O livro de Acemoglu e Robinson trata tambm do caso brasileiro. Afinal de contas nossas instituies polticas so inclusivas ou extrativas? Os autores descrevem a coalizo das foras polticas e das organizaes sociais na redemo-cratizao do Brasil, que, em grande parte, so responsveis pela construo das instituies polticas depois do regime militar. Eles descrevem a greve dos metalrgicos na fbrica da Scania, na cidade de So Bernardo, em maio de 1978, o surgimento do lder metalrgico Luiz Incio Lula da Silva, sua transformao em lder poltico com a criao do Parti-do dos Trabalhadores (PT), e sua ascenso Presidncia da Repblica. Atribui, erradamente, um papel desempenhado pelo PT na construo de instituies econmicas inclusivas no Brasil, que somente ocorreu depois da Carta aos Brasilei-ros, na campanha poltica da primeira eleio do presidente

    A origem do fracasso

    reside na incapacidade

    dos pases de construrem

    instituies econmicas,

    que determinam os

    incentivos e as restries

    para os diferentes agentes

    econmicos

    Lula. Nessa carta, o PT deixa de lado o projeto antimercado de sua tradio histrica, de reverncia sistemtica ao modelo cubano, e embarca na canoa da democracia social, no rio j navegado pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso.

    Acemoglu e Robinson erraram no varejo no caso brasileiro, mas o livro acerta no atacado, mostrando a importncia das instituies polticas aqui e em qualquer lugar do mundo, onde se queira levar adiante um processo de crescimento econmico com justia social. O Brasil est no caminho certo, mas h um longo caminho a percorrer.

    Fernando de Holanda Barbosa professor da

    Escola de Ps-Graduao em Economia da FGV

    1Acemoglu, Daron; Robinson, James. Why nations fail: the origins of power, prosperity and poverty. Nova York: Gown Publishers, 2012.