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5ª COMISSÃO DISCIPLINAR
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA
Processo nº 044/2017 Sessão do dia 13/06/2017
Relator: Auditor José Nascimento
Denunciados: 1) Sport Club Internacional, como incurso no artigo 61,
combinado com o artigo 136, ambos do Código Disciplinar da Fifa; e
2) Sr. Vitorio Costi Píffero, ex-Presidente do Sport Club
Internacional, por conduta tipificada nos artigos 234, parágrafo 1º, e artigos
258, “caput”, combinado com o 184 do CBJD.
Trata-se de Denúncia oferecida pela D. Procuradoria da
Justiça Desportiva em face do Sport Club Internacional, como incurso no artigo
61, combinado com o artigo 136, ambos do Código Disciplinar da Fifa, e do Sr.
Vitorio Costi Píffero, ex-Presidente da agremiação Denunciada, por conduta
tipificada nos artigos 234, parágrafo 1º, e 258, “caput”, combinado com o 184 do
CBJD.
Basicamente, durante o ano de 2016 foram feitos a partir do
mês de março questionamentos perante o Tribunal de Justiça Desportiva do
Futebol da Bahia, relativos à escalação do jogador VICTOR RAMOS pelo
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Esporte Clube Vitória, alegando que o jogador seria pertencente ao Club
Monterrey do México, e que por se tratar de uma negociação internacional o
jogador estaria irregular.
Em abril de 2016 foi aberto Inquérito no STJD para apurar
tal infração, tendo os autos sido arquivados em 26 de junho de 2016, após
Embargos opostos pelo Esporte Clube Bahia, sendo que a negociação e a
escalação do jogador acima citado foi considerada regular pelo Pleno do STJD.
Cumpre destacar que este caso envolvendo o Atleta
VICTOR RAMOS foi objeto de uma consulta a FIFA, respondida pelo Sr. Omar
Ongaro, esclarecendo que se tratava de uma transferência nacional, e mesmo
assim foi objeto de julgamento perante o STJD, sendo ainda investigado pelo
“compliance” do TMS da FIFA e arquivado.
O então Diretor do VITÓRIA, Sr. ANDERSON FILHO DE
BARROS, foi ouvido conforme fls. 53/54 do Inquérito apenso, e sobre o tema
afirmou que:
“(...) Que com relação aos fatos aqui apurados pode esclarecer
que envolveram o empréstimo do atleta Victor Ramos que é
vinculado ao Cçlube Monterey do México e tinha o seu
documento de transferência ITC (CTI – Certificado de
Transferência Internacional) já no Brasil e estava sendo
emprestado ao Vitória após o término do contrato de empréstimo
com o Palmeiras, Que foi uma transferência nacional e não
internacional, fato esse já foi apurado pelo STJD, pela CBF e
pelo Compliance da FIFA (...)” (grifei e destaquei).
Assim é de se esperar que tal Atleta, que estava à disposição
do Esporte Clube Vitória e em condições de jogo segundo a CBF, segundo o
STJD e segundo a FIFA, tenha atuado em inúmeras partidas, até porque, na ótica
da Equipe do VITÓRIA, estava tudo correto.
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Mesmo assim em 7 de dezembro de 2016 tal Processo foi
reaberto, diante de petição apresentada pelo Sport Club Internacional, na
condição de terceiro interessado, onde apresentava a título de “provas novas”
cópia de e-mails trocados entre a CBF e o E. C. Vitória em conversa privada,
onde se debatia a contratação do jogador já citado.
O Sport Club Internacional apresentou tal petição acostando-
a aos processos nºs 71/2016 e 425/2016, o que levou a CBF a tomar
conhecimento dos documentos apresentados, e, por apurar que os mesmos
tinham sido adulterados, oficiou o STJD para as providências cabíveis.
Com isto foi aberta a Notícia de Infração nº 06/2017, que
resultou na instauração do Inquérito nº 12/2017.
No curso do Inquérito nº 12/2017 foram produzidas
inúmeras provas e acostados laudos e pareceres, inclusive pelo Clube
Denunciado, que de fato exerceu com excelência o seu direito à ampla defesa e
pleno contraditório no que tange ao mérito da acusação imposta.
Na Denúncia apresentada pretende a Procuradoria que o
Clube Denunciado seja punido com base no Código Disciplinar da Fifa, posto
que esta legislação seria aplicável, conforme interpretação já dada pelo Pleno do
STJD.
No que tange às alterações nos e-mails originais, o Inquérito
nº 12/2017 apurou que as mesmas foram procedidas pelo Sr. Francisco José de
Godoy Antunes Ferreira, agente do jogador Victor Ramos, que teria resumido as
informações recebidas e assim procedido sem que ninguém solicitasse essas
mudanças, quando estaria a auxiliar o Clube Mexicano para se defender de uma
penalidade econômica perante a FIFA.
A grande questão, porém, é que o Sport Club Internacional
nunca fora parte nas conversas particulares via e-mail que acabou apresentando
para a Justiça Desportiva como Terceiro Interessado.
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O Inter recebeu tais e-mails, não se preocupou em checar as
informações, e quando alertado da possibilidade de se tratar de falsidade
documental, propagou, inclusive pela pessoa do seu Presidente Denunciado, que
os documentos não eram falsos – vide fls. 113, 115, 116, 120, 123, 125 a 127,
129, 132, 136, 138 a 140, 271 a 273, 275 e 276, 280, e 637 a 653.
Ao assim proceder perdeu a oportunidade de incorrer em
situações juridicamente mais leves, como por analogia prevê o Código Penal ao
tipificar a “desistência voluntária” e o “arrependimento eficaz”. Insistiu num
caminho que não era necessário.
A dinâmica de como ocorreram as alterações nos e-mails,
seus envios e a apresentação da petição por parte do SPORT CLUB
INTERNACIONAL consta em pormenores do Relatório do Inquérito nº 12/2017,
em particular das fls. 754/758, e este Relator, em respeito ao princípio da
economia, se reporta a este Relatório na integra, como se aqui estivesse transcrito
para todos os efeitos.
Vale ainda destacar que o SPORT CLUB
INTERNACIONAL alega a prescrição da pretensão punitiva da D. Procuradoria
da Justiça Desportiva, por excesso de prazo para a conclusão do Inquérito.
Distribuído o presente Processo a este Auditor relator o
SPORT CLUB INTERNACIONAL apresentou petição requerendo a realização
de 3 (três) oitivas, o que foi deferido por este Signatário.
É o Relatório.
DEBATES
Em Plenário foram colhidos diversos depoimentos
relevantes.
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O Sr. VITORIO COSTI PIFFERO, Denunciado neste
Processo, confirmou que chegou a ter contato com o Diretor Dr. Carlo Eugênio
Lopes, mas entendia que a CBF não seria imparcial para merecer acolhida
qualquer pedido de desistência da tese apresentada pelo INTERNACIONAL,
sendo que o Presidente Denunciado entendeu ser o caso de seguir com a opinião
de seus advogados, nos quais reitera sua confiança.
O Sr. CARLOS EUGÊNIO LOPES, após prestar o
compromisso de falar a verdade, sob pena de falso testemunho, afirmou que
CONVERSOU POR DUAS OPORTUNIDADES COM O ENTÃO
PRESIDENTE DO INTERNACIONAL, alertando-o de que havia indício de que
os e-mails apresentados tinham sofrido adulteração, ao que ouviu, nas duas
oportunidades, que o Presidente confiava no seu Departamento Jurídico.
O Sr. BERNARDO ZALAN, após prestar o compromisso de
falar a verdade, sob pena de falso testemunho, afirmou que entende, como
partícipe da conversa de e-mail que gerou este processo, que os e-mails
apresentados pelo INTERNACIONAL tiveram uma alteração relevante, e que
considera que houve sim adulteração que permite ter outras interpretações.
O Sr. REYNALDO BUZZONI, após prestar o compromisso
de falar a verdade, sob pena de falso testemunho, afirmou que entende, como
partícipe da conversa de e-mail que gerou este processo, que os e-mails
apresentados pelo INTERNACIONAL tiveram uma alteração relevante, e que
considera que houve sim adulteração que permite ter outras interpretações.
Afirmou que a transferência do atleta VICTOR RAMOS foi legal, sendo a
mesma Nacional e não Internacional, e ainda que há vários casos análogos a este,
com o ITC no Brasil, onde foi adotado o mesmo entendimento.
Por Fim o INTERNACIONAL requereu a oitiva do Sr.
PITÁGORA DYTZ, o que foi indeferido pelo Exmo. Sr. Auditor Presidente, com
o que concorda este Auditor Relator signatário para todos os fins e efeitos, pois o
Nominado não é testemunha de qualquer fato relacionado a este Processo.
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Neste sentido as oitivas hoje realizadas tiveram por objetivo
não apenas o esclarecimento deste Tribunal, mas também permitir ao
INTERNACIONAL apresentar perguntas aos oitivados, tendo em vista seus
argumentos pretéritos, no âmbito do Inquérito 12/2017, de mitigação da ampla
defesa e do pleno contraditório, sendo que com tais depoimentos tal argumento
perde seu fundamento fático estando preservado o contraditório.
Não é este, porém, o caso do Sr. PITÁGORA DYTZ, sendo
que o INTERNACIONAL apresenta nesta data parecer da lavra deste Eminente
Jurista e Advogado da União, o qual determino seja juntado aos autos, com o que
a ampla defesa é novamente preservada, mesmo sem a realização desta oitiva,
sendo que tal Parecer não trata especificamente do caso do INTERNACIONAL.
VOTO
Na reta final do Campeonato Brasileiro de 2016, mais
especificamente no dia 07 de dezembro de 2016, o Internacional convivia com o
temor de um rebaixamento, algo inédito e péssimo para a história de um dos
maiores Clubes do Brasil.
Disputava com o Esporte Clube Vitória uma vaga para a
série B do Brasileirão, e este temor gerava estrondosos calafrios em toda Nação
“Colorada”.
A Nação Colorada, vermelha e branca desde a presença de
mais venezianos na segunda reunião da História do Centenário Inter, não está
localizada num bairro, numa Cidade, num Estado ou em um País. É uma Nação
global, e que leva não apenas sua Bandeira, mas também as tradições gaúchas
para todos os cantos deste Planeta.
No campo desportivo o Sport Club Internacional é um Clube
que engrandece o futebol brasileiro. Sua história invejável inclui um Título
Mundial, um Bicampeonato da Libertadores, único campeão brasileiro de forma
invicta no ano de 1979, primeiro time brasileiro a levantar, novamente de forma
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invicta, a Taça da Copa Sul-Americana no ano de 2008, e ainda a façanha de ser
o único octacampeão gaúcho entre os anos de 1969 a 1976.
Esta última façanha do Inter merece destaque pois em 1968
o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, seu grande rival, conquistara um
heptacampeonato Estadual. Anos mais tarde, qualidade, trabalho e rivalidade
levaram ambos os Times a ganhar não apenas o Brasil, mas a América e o
Mundo, com títulos mundiais de ambos os lados.
E naquele início de dezembro de 2016 os calafrios colorados
não decorriam da esperança de se levantar mais uma Taça, mas pelo contrário. O
medo era igualar o rival num aspecto negativo, o de ser rebaixado para a série B
do Campeonato Brasileiro.
O Gigante Gaúcho não temia apenas pela perda de receitas
milionárias, a luta era para permanecer no seleto grupo de Clubes que nunca
foram rebaixados, principalmente e sem dúvida pela rivalidade local contra o
Grêmio, já que este era exatamente o ponto que todo Colorado podia tripudiar
diante de um gremista. Até então.
E seus dirigentes, aceitando que dentro das quatro linhas o
Inter não fosse se garantir, passaram a atuar fora dos gramados, dentro dos
tribunais, apresentando documentos pela petição datada de 07 de dezembro de
2016 ao Doutor Procurador Geral do Egrégio Superior Tribunal de Justiça
Desportiva do Futebol, conforme documento de fls. 06 do Apenso 1.
Visava ali o INTER fosse ao final aplicada penalidade ao E.
C. VITORIA, para que este Clube fosse punido fora das quatro linhas,
garantindo-se o Inter na Série A do Campeonato Brasileiro não pelo mérito de
jogadores e comissão técnica, mas pela qualidade de seus advogados e demais
contratados.
E estes documentos apresentados pelo Inter são naturalmente
suspeitos desde o início, pois se tratavam de e-mails onde pessoa ligada ao
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Internacional não era parte na troca de mensagens. Disto deveria resultar uma
cautela maior daqueles que representavam o Inter, ao manusear esta Informação.
Ademais cumpre destacar que há um elemento de grande
gravidade na petição: em sendo os fatos verdadeiros poder-se-ia falar até em
prevaricação por parte do Diretor de Registro e Transferências da CBF, Sr.
Reynaldo Buzzoni, que teria o dever de atuar independente da manifestação do
Inter e que era parte nesta troca de mensagens via e-mail.
E foi exatamente este e-mail, juntado às fls. 174 do Processo
nº 425/2016, que gerou todos os fatos aqui apurados.
Claramente se observa uma supressão de diversas palavras
relevantes em sendo comparadas as redações apresentada pelo Inter às fls. 174
daqueles autos, com aquilo que consta das fls. 13 deste Apenso I. A redação faz
um corte que interessa ao Inter, pois se aborda apenas a possibilidade de se tratar
de uma negociação ao final irregular, deletando-se todos os termos que estavam
lá escrito e que apontavam para a regularidade ao final da situação do atleta do
Vitória.
E isto num e-mail privado, numa conversa particular, onde o
SPORT CLUB INTERNACIONAL não era parte, sendo que tudo ocorreu na
época dos fatos com um escopo objetivo e que pode ser assim resumido: o Inter
não poder cair.
Disto decorreu a instauração do Inquérito nº 12/2017, para
apuração da falsidade operada, com o uso indevido do documento falso.
E neste Inquérito o Inter vem se utilizando do contraditório e
da ampla defesa, já que o SPORT CLUB INTERNACIONAL se manifestou
naquele Processo em 20.02.2017, ou seja há quase 4 (quatro) meses, não
podendo se falar em surpresa com os fatos objetos da presente Denúncia, que se
sustentam no Inquérito que lhe antecipou.
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Como os fatos aqui apurados decorrem exatamente deste
Inquérito inicial, o prazo exíguo para julgamento pouco altera a realidade da
defesa, já que não há provas novas a partir da conclusão deste Inquérito de
número 12/2017. E mesmo assim cabe salientar o belo trabalho dos Nobres
Advogados do Internacional, que apresentaram muitos dados e documentos.
Mas retornando ao Inquérito inicial, na sua primeira
manifestação o Inter alega que os advogados signatários da petição que
apresentou o e-mail falso “não pertencem ao Departamento Jurídico do Sport
Club Internacional”, prestando ao clube gaúcho de forma terceirizada. Neste
ponto entendo que os fatos eram muito relevantes e o Inter deveria proceder
análise mais minuciosa, principalmente por se tratarem de e-mails PRIVADOS,
sendo que o Inter não era parte na conversa.
Vale destacar que o Presidente Denunciado foi informado
pelo Diretor Dr. Carlo Eugênio Lopes que tais documentos eram falsos,
conforme contato pessoal e telefônico entre ambos.
De fato conforme depoimento de fls. 361 e 362 do Inquérito
apenso, ratificado no seu depoimento neste Plenário na data de hoje, o citado
Diretor contatou o Presidente Denunciado “informando que os documentos eram
falsos” e “aconselhando-o a não usar tais documentos viciados, o que não foi
feito”. Continua o citado Depoente que ao encontrar o Presidente Denunciado na
CBF, reiterou as ponderações anteriores tendo ouvido “que os documentos não
eram falsos e não iria retira-los dos autos”.
Ora, se até então existia alguma dúvida a mesma se dissipou
neste momento, já que o uso de documento falso agora não era ignorado, tendo
os Denunciados incorrido no chamado dolo eventual, já que havia uma fundada
suspeita para se adotar cautelas que deveriam ser promovidas antes mesmo da
petição apresentada em 7 de dezembro de 2016, e agora mais do que nunca.
E mesmo depois disto, conforme fls. 48 do Inquérito apenso,
o Exmo. Auditor Dr. Mauro Marcelo determinou a intimação do
INTERNACIONAL, sendo esta uma oportunidade para reconhecer o seu erro, e
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não para insistir na defesa daquilo que, com a devida vênia, já começou muito
errado, já teve por ponto de partida o desrespeito à privacidade das comunicações
eletrônicas.
E na sua primeira manifestação subsequente a esta
intimação, muito pelo contrário de reconhecer o erro, procurou o
INTERNACIONAL defender aquilo que sempre foi antiético. Sua petição
começa alegando nulidade, continua com arguição de impedimento e/ou
suspeição do Auditor acima citado, e termina juntando uma série de notícias que
apenas se distanciam do mérito da causa – vide fls. 62/82.
Ora se o INTERNACIONAL estava com a razão, porque
alegar nulidades e exceções de suspeição ou impedimento? Por que não atacar o
mérito da causa e ganhar o caso?
Não faltou, porém, apelo midiático para tentar defender esta
linha escolhida pelo Presidente Denunciado, conforme farta documentação que
indica entrevistas neste sentido, das fls. 113 às fls. 142.
A partir daí há uma sucessão de manifestações do Inter de
março de 2017, onde são apresentados e reiterados apenas argumentos formais.
Nulidade em razão de suspeição do Auditor que seria amigo pessoal do
Presidente da CBF, ausência de respeito à ampla defesa e ao contraditório no
Inquérito Administrativo, ausência de alteração nos e-mails, foram os
argumentos utilizados pelo Internacional.
Novamente, será que se tivesse o SPORT CLUB
INTERNACIONAL o direito material do seu lado, com a verdade real como sua
espada, seriam apresentados e reiterados argumentos como os acima resumidos?
Evidente que não.
A ampla defesa e o contraditório são princípio de defesa. A
parte tem que provar um prejuízo a sua defesa para que a afronta ao princípio se
materialize. Tem que demonstrar onde sofreu um prejuízo específico. E não
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defender, como faz, a nulidade de tudo e todas as coisas apenas pela aplicação
dos princípios citados.
Objetivamente falando qual foi o prejuízo que teve a defesa
do SPORT CLUB INTERNACIONAL? Qual o argumento que o SPORT CLUB
INTERNACIONAL deseja ver aqui examinado? A afronta aos princípios da
ampla defesa e do pleno contraditório decorre destas respostas.
De qualquer forma, o INTERNACIONAL alega a prescrição
diante do longo lapso de tempo para conclusão do Inquérito n. 12/17:
primeiramente trata-se de Inquérito com diligências de grande complexidade,
conforme atestam os laudos que constam dos autos. Em segundo ponto muitas
das provas técnicas foram apresentadas pelo próprio INTERNACIONAL, assim
sendo a análise delas demanda tempo.
Não bastassem tais argumentos o artigo 165-B do CBJD
assevera que “não haverá, em nenhuma hipótese, prescrição intercorrente”, e o
artigo 168 também do CBJD prevê que a instauração de inquérito interrompe a
prescrição, tendo o Inquérito 12/2017 sido instaurado em 09 de fevereiro de
2017, menos de 90 dias após a protocolização da petição com os e-mails pelo
INTERNACIONAL, que é datada de 07 de dezembro de 2016, o que afasta
também por este aspecto a alegada prescrição.
Vale salientar, conforme jurisprudência do STF que se
confere em decisão da Ministra CÁRMEM LÚCIA, o prazo para conclusão do
Inquérito “é impróprio, não prevendo a lei qualquer consequência processual”,
conforme decisão exarada no Habeas Corpus n. 107.382 – e se é assim na Justiça
Criminal, com mais razão o será na Justiça Desportiva, onde impera o não
formalismo, conforme se interpreta da leitura dos artigos 52 a 54 do CBJD.
Além disso, preciso destacar que em conformidade ao art.
169 do CBJD, uma vez interrompida, a prescrição só “recomeça a correr do
último ato do processo que a interrompeu”, ou seja, da conclusão do inquérito, e
não da abertura, como sustentou a defesa, na medida em que o inquérito é
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procedimento – que não se confunde com processo – que não se realiza em um
único ato.
Sobre a suspeição do Exmo. Auditor Mauro Marcelo,
entendo não ser cabível o argumento, já que a CBF claramente visou que o
presente caso não virasse o processo hoje existente. Primeiro pelo seu Diretor
que contatou o Presidente do INTER, antes da instauração deste questionado
Inquérito n. 12/2017.
Ademais disso os Auditores têm o dever legal de aplicar os
princípios e normas cabíveis aos casos que são apresentados, sob pena de
incorrer em prevaricação. Por fim os casos de impedimento e suspeição estão
previstos nos artigos 17 e 18 do CBJD, e não agasalham a tese apresentada pelo
INTERNACIONAL.
Sobre a mitigação aos princípios da ampla defesa e do pleno
contraditório, em Plenário foram realizados os depoimentos anteriormente
requeridos pelo INTERNACIONAL, que bem exerceu seu direito de defesa, não
havano nulidade também neste particular.
Cabe ponderar que a todos agride ver prevalecer a
ilegalidade e a injustiça, com base num suposto formalismo processual, e em
detrimento da Verdade. E a verdade é que o VITÓRIA não foi rebaixado em
Campo. Conquistou com brio e luta o direito de permanecer na série A do
Campeonato Brasileiro, e o INTERNACIONAL, se valendo de e-mails que não
tinha a menor ideia se eram verdadeiros ou não, tentou rebaixar o VITÓRIA no
tapetão, com o que não teve êxito.
Já sobre a defesa material do SPORT CLUB
INTERNACIONAL não foi afetada, tanto que elaborou importantes provas que
foram efetivamente juntadas ao Inquérito 12/2017, conforme petição datada de
05 de abril de 2017, fls. 364/365 do Inquérito apenso, com diversos Laudos,
Pareceres e Considerações de fls. 366/512.
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E estes Laudos, em que pese o respeito devido, acabam por
ratificar a viabilidade da denúncia apresentada. Neste ponto merece destaque:
I) o Parecer linguístico deixa evidente às fls. 366 do Inquérito apenso
que a intenção do SPORT CLUB INTERNACIONAL era que o “time
baiano deveria ser penalizado com a perda de pontos prevista no
regulamento”;
II) no mesmo Parecer se afirma, também nas fls. 366, que o SPORT
CLUB INTERNACIONAL teria recebido os e-mails “de uma fonte
cujo nome é preservado”. Ora, nestas condições o dever de cuidado
com a informação apresentada ao Internacional deveria ser redobrado,
pois a conduta alegada envolveria em tese a prevaricação de Diretor da
CBF; e
III) ainda no Parecer citado, às fls. 370 se alega sobre o trecho suprimido
do e-mail que: “apesar da extensa, a passagem apenas descrevia uma
hipótese que logo em seguida perdeu o sentido quando se comprovou,
na realidade, que o vínculo do atleta com o time mexicano persistia.”
Neste último ponto, item “III)” acima, se comprova que um
experto na língua portuguesa está a se manifestar sobre o julgamento do mérito
de uma negociação entre clubes de futebol, matéria completamente alheia à sua
gama de conhecimento, conforme nota de rodapé de fls. 372 do Parecer em
questão, para defender a inexistência de alteração no conteúdo material do e-
mail.
Com todo o respeito em razão desta ponderação per si só se
vê que a supressão é relevante, e que para se defender a mesma há um novo
retorno para a questão da irregularidade da negociação do Atleta do Vitória, se
defendendo novamente este ponto de vista, para alegar a ausência de alteração.
Só que do ponto de vista oposto, ou seja, daquele que sustenta a regularidade da
contratação, é exatamente o trecho suprimido o mais relevante.
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Mas mais importante do que isto quando se analisa uma
conversa de e-mail, particular, e que sofreu no mínimo modificações formais, no
que tange à supressão de termos e palavras, é o ponto de vista daqueles que
participaram da conversa para termos uma ideia, sob o elemento subjetivo dos
que tiveram sua privacidade afrontada, do que pensam eles sobre o tema:
E o Diretor REYNALDO BUZZONI DE OLIVEIRA NETO
se manifestou às fls. 33 do Inquérito Apenso “(...) QUE o mais absurdo é que
esse e-mail foi deliberadamente alterado em sua forma (supressão de frase) e
feito uma colagem (inserção) de seu nome e assinatura com a clara intenção de
tentar adulterara compreensão do conteúdo e induzir em erro a Justiça
Desportiva”, o que foi ratificado no seu depoimento neste Plenário na data de
hoje.
Da mesma forma em relação à pessoa de BERNARDO
ZALAN, também ouvido neste Plenário, e que afirmou, claramente, que entende
que houve alteração do conteúdo e do sentido dos e-mails originais, sendo esta
Pessoa parte nas conversas privadas que acabaram expostas pelo
INTERNACIONAL.
Ora, como se observa e independente de pareceres ou laudos
– já que existem nos autos documentos em sentidos antagônicos – entendo que a
percepção das vítimas sobre o tema é de grande relevância. E o citado Diretor
REYNALDO considerou isto um absurdo, com adulteração da compreensão do
conteúdo. Ou seja, no entendimento de quem foi parte no caso, o e-mail foi
modificado de forma significativa, sendo esta alteração, esta adulteração, sim
uma falsificação, o que é compartilhado por BERNARDO ZALAN.
Outro participante original desta conversa é a pessoa de
ANDERSON FILHO DE BARROS, então Diretor de Futebol do VITÓRIA,
ouvido às fls. 53 e 54 do Inquérito Apenso e que sobre o tema afirmou: “(...) Que
com relação aos e-mails o declarante sabe que o Vitória tomou a iniciativa de
analisar os e-mails trocados e concluíram que houve adulteração”.
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E-mails que não têm o Internacional como destinatário, e são
por este Clube utilizados para defesa de seus interesses, se constituem em
documentos relevantes que não podem ser manuseados sem qualquer cautela.
No mínimo deveria o Internacional ter destacado na petição
apresentada no início de dezembro de 2016, quando ainda pretendia fugir do
rebaixamento, que estava apresentado uma série de e-mails que lhes foram
encaminhados por “fulano de tal”, indicando fatos graves, e por não ser o Sport
Club Internacional parte em tais conversas eletrônicas, requer seja verificado o
conteúdo dos mesmos e adotadas as providências cabíveis, e não começar pelo
final.
O próprio Emérito Jurista MIGUEL REALE JÚNIOR cai
em contradição no seu Parecer, apresentado pelo SPORT CLUB
INTERNACIONAL no Inquérito prévio a este Processo, quando alega às fls.
405, primeiro parágrafo, que a frase que foi cortada era “despicienda”, já que o
fim do vínculo com o clube mexicano era irreal. O Douto MIGUEL REALE se
reportou a um parecer de um professor de linguística para afastar exatamente a
hipótese do e-mail que levaria a uma contratação irregular, quase não abordando
o tema nefrálgico dos autos.
Vale ainda destacar que o Diretor REYNALDO BUZZONI
afirmou neste Plenário na data de hoje que o vínculo com o VITÓRIA era
regular, que a negociação no caso era considerada como NACIONAL, e que
existem outros inúmeros casos no mesmo sentido e onde vale a mesma
conclusão.
De qualquer forma, tal fato é relevante pois está evidente que
o Internacional de nenhuma forma tem ou teve seu direito à ampla defesa
mitigado. Apresentou documentos, laudos e pareceres, na defesa da sua tese, os
quais demonstram a ocorrência do devido processo legal sob a ótica material,
com o contraditório a ele inerente.
Ainda sobre os documentos apresentados pelo Internacional
em sua defesa fica evidente conforme Laudo de fls. 450, que o Inter buscava
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comprovar em dezembro de 2016, “a utilização de atleta em situação irregular
para participar de partidas se deu em razão da inscrição nula do Jogador Victor
Ramos do Esporte Clube Vitória da Bahia, no Campeonato Brasileiro”.
Assim, a alteração procedida no e-mail estava em
consonância com a pretensa irregularidade da contratação e interpretação
pretendida pelo Inter, sendo que o ardil perpetrado por terceiro posteriormente
identificado beneficiava o Inter, que era quem apresentava aquele dado sem
qualquer ressalva.
Assim o uso de documento falso ocorreu, pois no
entendimento deste Auditor Relator a alteração no e-mail foi significativa, sendo
que as provas produzidas são lícitas e válidas, demonstrando o que foi alterado,
sendo que o SPORT CLUB INTERNACIONAL deixou de ter as cautelas
devidas para utilização deste documento, na ânsia de se salvar do rebaixamento a
qualquer preço.
O SPORT CLUB INTERNACIONAL optou por um
caminho na contramão da sua história. Pelos gramados do Brasil e do Mundo
desfilaram com a camisa Colorada jogadores como Batista, Carpeggiani, Elias
Figueroa, Paulo Roberto Falcão e Taffarel, e mais recentemente o
zagueiro Lúcio, e os atacantes Nilmar, Rafael Sóbis, Alexandre Pato e Leandro
Damião.
Ao invés de investir neste tipo de material humano, optou
por pareceres, laudos, entrevistas coletivas, e petições no STJD visando o
rebaixamento do Esporte Clube Vitória via tapetão, ao invés de ganhar na bola,
como mandam as tradições coloradas.
E neste ponto, inobstante a gravidade dos fatos e
contundência das provas carreadas aos autos, não posso acolher o pedido
exclusão do SPORT CLUB INTERNACIONAL da série B do Campeonato
Brasileiro, pois isto seria conceder ao STJD um papel de protagonista que não
lhe pertence.
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A Justiça Desportiva não é um fim em si mesma. Sua
existência é condicionada ao aperfeiçoamento do esporte, atletas, dirigentes e
clubes filiados ao esporte correspondente, e aplicação desta pena traria para o
STJD um papel que não lhe pertence.
A exclusão do SPORT CLUB INTERNACIONAL levaria
ao seu rebaixamento para a série C do Campeonato Brasileiro, sem o prestígio
daquilo que ocorre dentro das quatro linhas, não podendo este Relator concordar
com isto, conforme se depreende do presente voto.
DECISÃO
Posto isto, acolho a denúncia e julgo a mesma totalmente
procedente, para condenar os Denunciados nos seguintes termos:
1) SPORT CLUB INTERNACIONAL, como incurso no artigo 61,
combinado com o artigo 136, ambos do Código Disciplinar da Fifa,
que usando do ardil procurou se beneficiar de documentos
adulterados com o objetivo de evitar o seu rebaixamento, conduta que
reputo de extrema gravidade, e por isto condeno a pena de multa de
R$720.000,00 (setecentos e vinte mil reais), com base no artigo 15 do
Código da Fifa, o que equivale nesta data a aproximadamente
210.000,00 (duzentos e dez mil) Francos Suíços (menos de 25% do
valor da multa máxima prevista neste dispositivo legal), ou seja
penalidade dentro dos limites previstos pela Código Disciplinar da
Fifa.
Consigno aqui que o comportamento delituoso foi de extrema
gravidade, pois poderíamos ter tido um indevido rebaixamento no
tapetão, prejudicando a imagem do futebol brasileiro e a
credibilidade da competição, sendo que o Pleno do STJD já admitiu a
possibilidade de utilização do Código Disciplinar da Fifa, conforme
firmado pelo Pleno do STJD no Recurso Voluntário 191/2013, e em
muitos precedentes, analisando ainda em conjunto com o artigo 283
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do CBJD, até porque o artigo 234 também do CBJD está direcionado
para pessoas físicas.
Por fim neste ponto a sanção a ser imposta tem que ser proporcional à
gravidade da conduta, sendo apta a inibir que a mesma se repita no
futuro, não sendo a legislação pátria suficiente para este fim, o que
reforça a necessidade de aplicação do Código Disciplinar da FIFA –
(vedação à proteção deficiente); e
2) Sr. VITORIO COSTI PÍFFERO, ex-Presidente do SPORT CLUB
INTERNACIONAL, como incurso no artigos 234, parágrafo 1º, onde
o condeno em suspensão de 540 (quinhentos e quarenta) dias e multa
no valor de R$90.000,00 (noventa mil reais), e O condeno também
como incurso na conduta prevista pelo artigos 258, “caput”,
combinado com o 184 do CBJD, já que as manifestações perante a
mídia por parte do Presidente Denunciado foram excessivas e tiveram
apenas a capacidade de criar um clima beligerante, tirando o foco do
rebaixamento do INTER, o que é efetivamente uma conduta contrária
à ética desportiva, onde o condeno em suspensão de 15 (quinze) dias.
Reitero aqui que a conduta foi muito grave, e para fins de dosimetria
se aplicam as circunstâncias agravantes previstas nos artigos 178 e
179, inciso III e IV do CBJD.
É como voto.
JOSÉ NASCIMENTO
Auditor da 5ª Comissão do STJD