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A SOCIOLOGIA DE DURKHEIl\-1

1. Situação do Autor1 , 1 , Marcos sociais]

Na adolescência, o jovem Da-vid Emile presenciou uma sé-rie de acontecimentos quemarcaram decisivamente todosos franceses em geral c a elepróprio em particular: a 1,0de setembro de 1870, a. der-rota de Scdan; 3. 28 dejaneiro de 1871, a capitula-ção diante das tropas alemãs;de 18 de marco a 28 de maio,a insurreição da Comuna de

Paris; a 4 de setembro, a proclamação da que ficou conhecida comoIll República, com a formação do governo provisório de Thiers atéa votação da Constituição de 1875 e a eleição do seu primeiro l';c-sidente (Mac-Mahon ). Thiers fora encarregado tanto de assinar otratado de Francfort como de reprimir os communards, até à liqui-dação dos últimos remanescentes no "muro dos íederados". Poroutro lado, a vida de David Emile foi marcada pela disputa franco--alemã: em !871, com a perda de uma parte da Lorena, sua terranatal tornou-se uma cidade fronteiriça; com o advento da Primeira

1 O conceito de marcos sociais é emprestado de GURVITCH (1959a) e jáaplicado, no caso de Durkheim, por N1SBET (1965) e SlCARD (1959).

A mais recente e valiosa contribuição, na linha da Sociologia doConhecimento, é devida a CU.RK, 1973. Trata-se também da mais originale profícua abordagem da Escola Sociológica Francesa,

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\\- .~ ~~ tJu::.r.ra Mundial, ele viu partir para s.uen: ~meros~~Eiscípulosf-jY. r. seus. ~ns dos quais não regressaraE21_in<:L~_~iY~__~:Jl_Wh.9p.b.!1dres,,,-..., -- -- . _._-

(':,\:, g~e par~~~<: destinado a seguir a carreira J2.?tem~..:.

v~ Nesse entretempo, Durkheim assistiu c participou de aconteci-mentos marcantes e que se refletem diretamente nas sua..L.Qbr~ou pelo menos nas suas aula.s. O ambiente é por vezes assinaladocomo sendo o "vazio moral da II I República", 2 marcado seja pelas

. consegüências diretas da derrota francesa e das dívidas humilhantes~~0Pda guerra, seja por uma série de medidas de ordem política. dentrei.)'/ "'. as quais duas merecem destaque especial, pelo rompimento com.,ç:rYf.J- as tradiçÔes que elas representam. A primeira é a chamada lei,'..~-(.../~. Naquet, que instituiu o divórcio na França após acirrados debates~';)//" parlamentares, que se prolongaram de 1882 a 84. A segunda é• .~'-';representada pela instruçào laica, questão levantada na Assembléia:~)-("L;">/ em 1879. por Jules Ferry, encarregado de implantar o novo sistema,-9 ~omo Ministro da Instrução Pública, em 1882. Foi quando a~·o-.0 - 'escaLo_se tornou gratuita para todos. obrigatória dos 6 aos J 3 anos,~0 ' '5- al~ ficar proibido formalmente o ensino da religião. ;; O vazio+f~ . correspondente à ausência do ensino de religião na escola públicaY._ \3"" tenta-se preencher com uma pregação patriótica representada peja

~ ~I que ficou conhecida como "instrução moral e cívica"."?J'-'. . - ." / . -t-:fU..{cte-. _"::>;1'

~o.o ~~s'1no tempo que essas questões políticas e sociais baJi-.-' .....-czavarn o seu tempo, uma outra questão de natureza econômica e...:,..;;)-í~social riào deixava de apresentar continuadas repercussões políticas:/1 -«:....)..-0\ é o que se denominava quest ào social, ou seja, as disputas e con-......f\.'~J.; ~. ' p1"d~'2 Comentando nos A nnulcs (v. 1V, 1899-1900) um livro que Alfred Fouilléc;..r, "1 acabara de publicar (La Franco au point de vue moral. Paris, Alem,, .'"

. t:P~\>1900), Durk heim mostra-se convencido pela argumentação relativa "à une:fR.:.J.. dissolution de nos cr oyanccs rnor ales" e, apesar de discordar das soluções

apontadas para os problemas de criminal idade, concorda com a argumen-tação do A. e afirma: "11 en r ésultc un vér iiablc vide dans notre cons-cicnce rnorale" (DURKHEIM, J969: p. 303). Já em 1888 ("Cours deScience Sociale") reconhecia uma crise moral de seu tempo (DUR.KHEIM,1970: p. 107).3 Em sua obra póstuma Education et Sociologie, Durkheim reconhece:"Estarnos divididos por concepções divergentes e, às vezes, mesmo contra-ditórias". Sua posição nessa polêmica é clara: "Admitido que a educaçãoseja função essencialmente social, não pode o Estado desinteressar-se dela.Ao contrário, tudo o que seja educação deve estar até certo ponto sub-metido à sua influência". Mas adverte: "Isto niio quer dizer que o Estadodeva, necessariamente, monopolizar o ensino" (c/. a trad. port., p. 48 e 47

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~"..2 '1-.'1-t:Jc.. ' Com efeito, apesar dos traumas políticos e sociais que assina-

o :. ô.>. Iam o início da IIIRepública, o final do século XIX e começo-J'y'-1 do século XX correspondem a uma certa sensação de euforia. de

!>U ~ l progresso e de esperança no futuro. Se bem que os êxitos econô-.0J-'t:~1mU:os não fossem de tal ordem que pudessem fazer esquecer aO-:L f',. ~sucessão de crises (J900-0J, 1907,1912-13) e os problemas colo-.fYJ..t ~ cados pela concentração, r.egistrava-se uma série de inovações tec-~' ''\ 110lógicas que fO"ocavam re ercussões imediatas no cam o

.T ~ oJ:f' econômico. a ...era do aço e da eletricidade gue se inaugura,c')..O ': junto com o início do aproveitamento do petróleo como fonte de

.~~ '-~~ ~ ,~ ao ,~ado da eletriCIdade que se notabiliza p_or ser. uma~d-<- t energia 'Iirnpa", em contraste com a negritude do carvao, cuja era. "ro--decJina"3 - e que, ao lado da telegrafia, marcam o início do que

~'~ ,.ú~econvencionou chamar de _"s~gunda revoJu~ão industrial", quala- pLv~~,:;eJa, a do motor de combusulO Interna e do dínamo." ... :.--- ~-_.., . ~.,;.., ~ Além dessas invenções, outras se sucediam. Embora menosÂ-V,OJVI. ,r,'. importantes, eram sem dúvida mais espetaculares, eomo o a\'ião,~;víf.o~~<2...Submarino, o cinema, o automóvel, além das rotativas e do lino--~Q,I tipo que tornaralll as inúústrias do jor·n;}1e do Ii\TO capazes ç!e-rf.b~ t >- prõdUÇ0cs baratas e de atingir \Im pÚblico cada vez maior. Tudo~L,1O isso J:eIletia um <:.~anço ela ciéncia, marcada pelo advento ela teoria

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J.; ,-' Q. respecrivamcnrc ). Por outro lado, a prCOC\lfl:IÇ~O ele Durkhcim com amoral n50 pode ser confundida de uma maneira simplist a, como prco-

~: V-p..eJ t cupação moralista de sua parte. Pode-se dizer mesmo que a análise socio-1__ ~ lógica da moral que empreende (ver por ex. L'éducation mora/e) é lima~- .. -. análise laica, no sentido de não ser informada por uma posição conf'essio-- _ ...-~ nal, que aliás ele não tinha. Sua posição, em última análise, não é 11

A'v-O-: ..~ .. de um moralista - de quem fala com respeito mas guardando a devidaJP- c..~distância - e sim a de um racionalista (ver p. 3-5 e 47, onde diz: "Porque

J.., nós vivemos precisamente numa dessas épocas revolucionárias e crüicus.~ 6..O-~nde a autoridade normalmente enfraquecida da disciplina tradicional pode').-.-'. '&.1 fazer aparecer facilmente o espírito da anarquia"). Seu cornprorne tirnc.uu-tc-<riC,..... com o sistema polirico-social da 111 República será visto mais adinnrc,~lJi~'1

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h~-,~'-"'"J,iL r- f1itos decorrentes da 020sição entre o capital e o trabalho, vale

dizer, entre patrão e empreí.!ado) entre burguesia e proletariado.Um marco dessa questão foi a criação, em 1895, da ConlédérationGénérale du Travail (CGT). A bipolarização social preocupavaprofundamente tanto a políticos Cõmo a intelectuais da época, esua interveniêricia no quadro político e social do chamado iournant

du siécle não deixava de ser perturbadora.

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dos quanta, .da relatividade, da radioatividade, da teoria atômica,além do progresso em outros setores mais diretamente voltadosà aplicação, como a das ondas hertzianas, das vitaminasLd~~de Koch, das vacinas de Pasteur etc,

Não é pois de se admirar que vigorasse um ~tilo de \'idabellc époque, com a Exposição Universal comemorativa do cente-nário da revolução, seguida da exposição de Paris, simultânea coma inauguração do métro em 1900. O último quartel do séculofora marcado, além da renovação da literatura, do teatro e damúsica, pelo advento do impresslOnismo, que tirou a arte pictóriCãdos ambientes fechados, dos grandes acontecimentos e das grandespersonalidades - da monumentalidade, enfim - para se voltar aosgrandes espaços abertos, para as cenas e os homens comuns -para o quotidiano.

.~ Porque este homem comum é que se vê diante dos grandes. ..problemas representados pelo pauperismo, pelo desemprego, pelos;2o.~ grandes fluxos migratórios. Ele é objeto de preocupação do movi-

~ I mente operário, que inaugura, com a fundação da CGT no Con-~esso de Limoges, uma nova era do sindicalismo, .Que usa a gre'.:..c

como instrumento de reivindicação econômica e não mais exclusi-~1têpolítica. B certo que algumas conquistas se sucedem, comos primeiros passos do seguro social e da legislação trabalhista,sobretudo na Alemanha de Bisrnarck.

Mas se objetivarn também medidas tendentes a aumentar aprodutividade do trabalho, como o "taylorisrno" (1912). Tambéma Igreja se volta para o problema, com a encíclica Rerum Nova-rum (1891), de Leão XIII, que difunde a idéia de que o prole-tariado poderia deixar de ser revolucionário na medida em que setornasse proprietário. 1:: a chamada "desproletarização" que seobjetiva, tentada através de algumas "soluções milagrosas", taiscomo o cooperativismo, corporativismo, participação nos lucros etc.Pretende-se ar várias maneiras, contornar a uestã social eeliminar a luta de classes, es ntalhos do industrialismo.

Enfim, estamos diante do "espírito moderno". Na' Ecole Nor-male Supérieure, o jovem David Emile tivera oportunidade de assis-tir às aulas de Boutroux, que assinala os principais traços caracterís-ticos dessa época: progresso da ciência (não mais contemplativa,mas agora transformadora d a realidade), progresso da democracia(resultante do voto secreto e da crescente participação popular

nos negócios públicos), além da genera~ão e .extraordinár!Qprogresso da instrução e do bem-estar. Como corolário desses tra-.-=-::. -ços, o mestre neokantiano ressalta as correntes de idéias derivadas,cuja difusão viria encontrar eco na obra de Durkheim: aspira-se àconstituição de uma moral realmente científica (o progresso moral~uiparando-se ao prog~i1fífiCo); ~oral viria a ser consi-derada como um setor da ciência das conaições das sociedadtê~iiUma~ (a moral é ela própria um fato social); a moral se con-funde enfim com civilização - o povo mais civilizado é o quetem mais direitos e o progresso moral consiste no domínio cres-cente dos povos cuja cultura seja a mais avançada. 4

Não é pois de se admirar que essa época viesse também aassistir a uma nova vaga de colonialismo, não mais o colonialismoda caravela ou do barco a vapor, mas agora o colonialismo donavio a diesel, da locomotiva, do aeroplano, do automóvel e detoda a tecnologia implícita e eficiente, além das novas manifestaçõesmorais e culturais. Enfim, Durkheim foi um homem que assistiuao advento e à expansão do neocapitalisrriõ:""ou do capi!~li.sn~º~opolista. Ele não resistiu aos novos e marcantes acontecimentospolíticos representados pela Primeira Guerra Mundial, com o apa-recimento simultâneo tanto do socialismo na Rússia como da novaroupagem do neocapitalismo, representada pelo Weliare State.

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1 .2. Durkheim e os homens de seu tempo

Durkheim nasceu em Epinal, Departamento de Vosges, quefica exatamente entre a Alsácia e a Lorena, a 15 de abril de 1858.Morreu em 1917. De família judia, seu pai era rabino e ele próprioteve seu período de misticismo, tornando-se porém agnóstico após aida para Paris. Aqui, no Lycée Louis-le-Grand (em pleno coraçãodo Quartier Latin, entre a Sorbonne, o Collêge de France e a Fa-eulté de Droit), preparou-se para o baccalauréat, que lhe permitiuentrar para a Ecole Normale Superieure. Bastou-lhe, pois, atravessara praça do Panthéon para atingir a famosa rue d'Ulm, sem sair por-tanto do mesmo quartier, para completar sua formação.

Na Normale vai se encontrar com alguns homens que mar-caram sua época. Entra em 1879 e sai em 1882, portando o título

4 V. BOUTROUX, Émile, La philosophie de Kant, Paris, J. Vrin, 1926.p. 367-69.

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~ ",C>.. rfl'oA'. "p.;.-~taJ0#\<.também, ~ Isto não impe~e a Nisbet de. dizer que ?urkheim, em

, • :{.0-'- ' .• >,_.:;;".~ompanhla de Weber e Sirnrnel, tenha sido resl?onsavel pela reo-J;~.c\.j},. rientação das cIências sociais no século XX. () ,

~ "";'/--~í..~.y"-1- Achava-se, portanto, plenamente habilitado para iniciar sua ~~ ~

C .í~';:c-/c~rreira bril~ante de pro.fe.ssor universitário, ao ser indicado por-r~dyy--~.P~.LJa:d e EsplOas 'para mlmstrar as aulas de Pedagogia e Ciência cJ"'-:cOe.'f' .J<-- I . SocIal na Faculte de Lemes de Bordeaux, de 1887 a 1902. Foi ~-A). <>~co..<-";'-7 este.o primeiro curso de Sociologia gue se ofereceu num;~niver-'

~ ''''. cit. sidade francesa, tendo sido, pelo prestígio gue lhe emprestou Dur-'v~""".:0"-'-nrffZ' ~heim, transformado em chaire magislrale em 1896. Nessa cidade,~jJ2~ tão voltada para o comércio do Novo Mundo, florescera um espí-.~ •...'~; rito burguês e republicano, simultâneo com a manutenção do ra-/' cf" T~.;..p>-", I'Ja-C" J..:....., n ciona isrno cartesiano.

Entre esses dois homens - tão amigos mas tão adversos _ I!.~nc~~~., . , _Durkheim permaneceu no meio-termo e num plano mais discreto, ~ ,AIO Jovem mestre encontrou condições adequadas para pro-a Diretor da Norma/c era Bersot, crítico literário preocupado com " ....:(~....b, ....duzir o grosso de sua obra, a começar por suas teses de doutora-a velha França e que chama a atenção do jovem Emile para a bl~'", ~-v-.;j:..;!fTiento, A tese principal foi De la di\'ision du (ral'ail social, que al-obra de Montesquieu. Sucede-o na direção Fustel de Coulanges, ~'><- ~~ . cançou grande repercussão: publicada em 1893, foi reeditada nohistoriador de renome que influencia o jovem Érnile no estudo das ':;S2 ' ------:-;.c.~/ ano en: que ~eixou ,Bordcaux (1902). A tese complement~r, e:critainstituições da Grécia e Roma, Ainda como mestres sobressaem ~ -0/4 ---,~L4f!1 latim, fOI, publicada em 1892 mas editada em frances so em

~ ,d?s neokantianos Renouvier e sobretudo o citado Boutroj0: l ~;~ O- -->1/ N,-:~ ~ (::c" 95?, SO? o titulo d:: ~lolZtesquieu ct ROllsseGl:, précurseun~ de 19-:......,...~Yl-~~; .' '" n' c--Li ,\:;\.~ fJ'>~ e. .SocLOlog:e.-Logo apos, em.J895, publicou Les régles de Ia méthode~(;...:: .,.cr Durante os anos em que enSInOU FIlosofIa em vanos IIceus~, .:@1éf1 ..• f ~-"~Lt sociologique e, apenas dOIS anos depois, Le suicide, Assim, num, da pr~\'ín~ia (Sens, SI. Quentin. Troyes ) , yolta seu interesse ~a~ª J;~ e. Cs:~.::.- cj c-"-"~: período de somente sei: ,anos, foram e~itados praticamente três

__ <, [! Socl~logla, A ~rança, ª?esa: de ser, nU~l certo sentido, a pé~tn,a ~ . c,.c/,fÍ) ~ép"'-cP' quartos d~ .abra soclologlCa, d,e Durk heim, que demonstra umada SOCiologIa. nao ofereCIa aInda um enSInO regular dessa dISCI- ~.::J-''\ }~ extraordinária Iecundidade teonca.plina, que sofreu tanto a rCJ(;ão antipositivista do fim do século .:.~~-/como uma certa confusão com socialismo - havia uma certa ~' 5 Este ~roblcma é levantado de forma quase detetivesca por Tiryakian, J1~'

conce ão de ue a Sociolor!ia constituía uma forma científica Se: ..1... artigo intitulado "A. Problem for lhe Sociology of Knowledge: Tbe Mutual. 'I' , I I 1 , L 1 I I ( J; ~[)- íf- Unawarcness of Emile Durkheirn and Max Weber" originalmente publicadosocla isrno. .--."'í .'" I f I -r: ~t'r em European Joumalol Sociology, 1966, p. 330·36 (TIRYAKIAN, 1971:

M,-..r> .'1'1~ Para compensar essa deficiência específica de formação, Dur- !~ if!.,.o.,.::JL' p. 428·34). O A. ressalta ,a~ simililudes da obra (sobre :eligião, que os

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. ,~...,.::>C " , . ,'\_ ' ,. , ~. ' dOIS t~ata~ sem sere~ religiosos) e da PLeocupação metõCTõTõgfca, alémkheim nrou um ano de licença (188_ 86) e se dirigiu a Alemanha, das imciauvas editoriais paralela (L'A ' S . I ' A I' [ii(, s nnee OCIO ogtque e o rc l/ve IIr

~ c0 c] on~e, ~ssj,stiu aulas, ~e ,:Vundt e teve sua atenção ,despertad~ para../',.,,:; ~-v ~Sozialwissenschalr und Sozialpolitikv e do "namo.ro" à distância com o~ ~,iJ; as 'ClenClas do espmto de Dilthey, para o íormalismo de Sirnrnel, ..v' ~D<4.'< SOCIalismo, por parte de ambos. Mas uma COIsa e certa: "The published~ além de tomar conhecimento direto da obra de Têinnies, que lan- -~~ ..t..C-~. works of ~ebe~, and Durkheim ~ave no refer,cnce to eac.h other" =-.ibid,

ft:'.-,rr,iP, ,... ,C? ~uQ. D> p. 430), Tiryakian levanta a hipótese explicativa da "antipatia nacionalista",

.J, cJ,..c • -~ara sua tipologia da Gemetnschaft e Gesellschaft. Mas e surpre- .~rr 'der· além do fato de Weber se identificar m . h' t 'd d -,d<l , , " .' . CY" c" , 1t::J.-~ )." I _ . ais como Iso,na or a economIa&.. endente verificar-se que, apesar de certa familiaridade com a litera- ,u,.. ~'V e. . do que como 50C,IOIO&Q,Mas IStO nao impediu Dur kheirn de publicar uma

~'" \ tura filosófica e sociológica alemã, Durkheim não chegou a tomar ., J resenha de um livro da mulher de Weber (ver p. 15),b1 r u> / G"Th h ' d '-<', ' ". conhecimento da obra de Weber _ e foi por este desconhecidr • ., ,':; 7f) , e t ,ree rmn sare, m a very real sensc, the essence of contemporaryI &vv...,."v-..-J ~8GLf -- ( sociology" (NISBET, 1965: p. 3).

&~ t ~~ ~C~c.:.c..&e--c~o(J e P~(,j:~ ~Á~

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de Agrégé de Philosophie. Ali se tornara amigo íntimo de Jaures,que obtivera o 1.0 lugar na classificação de 1876 e saíra em 3.0

na agrégation de 1881; foi colega de Bergson, que entrou igual-mente em 1876 em 3.0 lugar e saiu em 1881 em 2,0. Dois colegasque se notabilizaram: o primeiro como filósofo, mas sobretudo comotribuno, líder socialista, que se popularizou como defensor de Drey-íus e acabou por ser assassinado em meio ao clima de tensãopolítica às vésperas da deflagração da guerra em 1914; o segundo,filósofo de maior expressão, adotou uma linha menos participantee muito mística, apesar de permanecer no index do Vaticano, ealcançou os píncaros da glória, nas Academias, no Collêge de Fran-ce, na Sociedade das Nações e como Prêmio Nobel de Literaturaem 1928.

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~<?1~ Talvez o curto lapso de tempo entre suas principais obras~~~ . tenha propiciado uma notável coerência na elaboração e na apli-

~Lv.;.. cf cação de uma metodologia com sólidos fundamentos teóricos. Além<'j~7f"'riSSO, escreveu uma série de importantes artigos para publicação:~ imediata e outros. editados. mais tarde, sobretudo seus cursos, que'- : rnC" eram sempre escntos previamente.(J.?2c:JJ.. O que surpreende ainda em sua trajetória intelectual não é~...-/ só a referida fecundidade, mas sobretudo a relativa mocidade com~\ LJc c'~ue produziu a maior parte de sua obra. Fora para Bordeaux aos~-nJ-';W anos incompletos e, no decorrer de uma década, já havia feito;-t- ~~ suficiente para se tornar o mais notável sociólogo francês, depois;~ót! 9ue Comte criara esta disciplina .• E preciso não se perder de vista~ ' »:....--0 fato de que o prestígio intelectual era, _no se~..!.emp2>_~?;du.siyi-

;----- . c- ~ade c!.S:'.s.~~!.~.2.~,mas nenhum dos retratos ou fotos de Durkheim1:';'- ~; conhecidos fixa os momentos bordelenses de sua vida, os quais.&. ~.\.- como se viu, foram decisivos.

J. Ó_V':2·A . Sua primeira aula na universidade versou sobre a solidariedade,;:"").. ...

r ~ /=-. social, refletindo uma preocupação muito em voga n~._~S2' Além(.C~. disso, a ~_olidariedade constitui o ponto de partida não apenas de:-t.~ ~o- sua teoria. sociológica, mas tam~ém da primeira obra estritamente~;\O~/ sociol~ica que publico~. O esquema durkheimiano apresentado

mais adiante procura fixar de maneira bem nítida essa característica.Sua intensa atividade intelectual pode ser comprovada tarn-

II ~.;V-:"'bém pela iniciativa, tomada em J 896, de fundar uma grande .IT:..

~ ,i..;.-J~' qual seja, L'Année Sociologique, que se converteu num--jt-c#''' .}v~..!:9~cl.ei.~.2._~@baJ.~~_de labo~tó!i~, na expressão de Duvignaud. ~

~ \Os propósitos enunciados no prefácio do volume I não são apenas'''apresentar um ~dro anual do estado em gue se e~~ontra aliteratura propriamente ~ógica"! o que constituiria uma tar.efarestrita e medíocre. Para ele, o que os sociólogos necessitam- I.

"é de ser regularmente informados das pesquisas que se fazem~ II ~as_ ciências ,es.peciais, histó~ia ?o direi:o, .dos costumes, das, re:

Jigiõcs, estatisuca moral, crencias econormcas etc., porque e aique se encontram os materiais com os quais se deve construira Sociologia" (cf. lournal Sociologique. p. 31).

Uma peculiaridade curiosa, relacionada com o referido desco-nhecimento mútuo de Durkheim e Weber, reside no fato de aqueleter publicado em L'Année (v. XI, 1906/1909) uma resenha de

) um livro de Marí;nne WebelJ nada menos que a mulher de Max..~ Weber; trata-se de Ehejrau und Mutter in der Rechtsentwicklung,

(

publicado em 1907, que parece ter interessado a Durkheim porsuas preoc~açõeS-E.0l!1-ºL12I9.hlemaSc...da.l;lmíli.ª_~imônio. Elec!i!ica o simplismo da argumentação de 1\.1.1110 Webe~.L~2 __~~~~n.~

\ v.9lver sua tese de que a família patriarcal determinou uma com-pleta sUDServiência da mulher (cf. ibid. p. 644-49). ------- ---------------

Em Bordeaux teve como colegas os filósofos Hamelin e Ro-dier, este comentarista de Aristóteles e aquele, discípulo de Renou-vier, tendendo, porém, mais para o idealismo hegeliano do que parao criticismo kantiano. Ao deixar essa cidade, sucedeu-o GastonRichard, seu antigo colega na Normale, mas que, dissidente maistarde de L' A nnée, veio a se tornar um dos maiores críticos deDurkheim. Este, por sua vez, empreende sua segunda migraçãoda província para a capital, como todo intelectual francês que seprojeta.

~ Em Paris é nomeado assistente de Buisson na cadeira de~ .~ncia da Educação na Sorbonne, em 1902. Quatro anos após,

, ~ O G- com a morte do titular, assume esse cargo. Mantém a orientaçãoI . Q.,:r.fl. laica imprimida por seu antecessor, mas ~m 1910 consegue trans-

ít.:~~lfo-"- &dormá-Ia em cátedra de Sociologia gue, pelas suas mãos, penetracop;.. .t.0- assim no recinto tradicional da maior instituição universitária fran-:-:l~~; ~a, consolidando pois o .status a~.~dêmic..2....c.!.~_~~disciplin~ .. Suas(Z.:..'i...~ ~Ias na Sorbonne transformaram-se em verdadeiros acontecirncn-

n _.......-------~.tos, exigindo um grande anfiteatro para comportar o elevado núme-ro de ouvintes, que afluíam por vezes com uma hora de ante-cedência para obter um lugar de onde se pudesse ver e ouvir omestre, já então definitivamente consagrado.

t Rebatendo as críticas de KROEBER (1935) sobre a ausência de pesquisasde campo nos trabalhos de Durkheim, seu atual sucessor na Sorbonneescreve: "li s'agit, à proprement parler, d'une tache de laboratoire, en [inde com pt e aussi concrête que celle de l'observation sur le terrain" (Duvro-NAUD. Apud DURKHEIM, 1969: p. 16. Grifos do original).

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O ambiente intelectual foi para Durkheim o mesmo que aágua para o peixe, o que ele herdou de seu pai e transmitiu aosseus fil~~s. Seu filho, morto na guerra, preparava um ensaio sobreLeibniz~ua filha casou-se com o historiador Halphen. Seu sobri-nho MareeI Mauss tornou-se um dos grandes antropólogos, colabo-rador e co-autor de "De quelques formes primitives de classiíi-cation" (p. 183 desta coletânea). A família praticamente seestende aos seus discípulos, que se notabilizaram nos estudos sobre

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:.'.Grécia ( Glotz ), os celtas (Hubert), a China (Granel), o Norteda Africa (Maunier ), o direito romano (Declareuil). Os maisnumerosos 'tornam-se membros da que ficou conhecida como EscolaSociol ágica Francesa: além de Mauss, Fauconnet, Davy, Halbwachs,Simiand, Bouglé, Lalo, Duguit, Darbon, Milhau etc. etc. Trata-sena verdade de uma escola que não cerrou as portas.

{ 2. A obra ,~t.'~ ~

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,..P2 , 1 . Sua posição no desenvolvimento da Sociologia -'",' ~--v1 .-{"\./

Em artigo publicado em 1900 na Revue Bleue ("La Socio-" ~ «:logie en France ao XIX" siccle"), defende a tese de que a ~- ..x-" ffl.I~ia é "uma ciência essencialmente francesa" (DURKHEIM, 1970:~p, J I j ), dado seu nascimento com Augusto Comte. Mas, morto " -J.n íf}'o mestre, a atividade intelect~al soc~~lógica de seu~ dis~íp~los :oi ~.?r.pL~sobrepujada pelas preocupaçoes políticas. E a SOCiologia Imoblll-'-~ eJ.1f-~zou-se durante toda uma ceração na França. Mas prosseguira, ~ ~_ .enquanto i~so. scu c3minho na Inglaterra, com Spencer e o orga-~)..~nicismo. A França pós-napoleónica viveu num engourdissement 't""-.. -mental, que só se interromperia momentaneamente com a Revolu-ção de 1848 e, posteriormente, com a Com uno. de Paris.

~m é se\'er~o julg,amento do perío.Q9---ºue o antecedeu

~e imediato: fala mesmo de uma "~almia intelectual gue desonro~ ~o meado uo século e que seria um desastre para a nação" (id .. ~01<"~ibid . p. 136). \_ .~}

O revi1!oramento da Sociolocia se teria iniciado com ESPinas,:.>~que introduziu o organicismo na França, ao mostra~e as socie- ~~dades ~ão organismos, distintos dos puramente físicos - são orga-...,..:J- ç:tz.·1nizaçôcs de idéias. Mas Rara Durkheim tais formulacÕes são prÓ- .o..<clV-~>prias de uma fase heróica, em que os sociólogos procuram abranger ~~;~na Sociologia todas as ciências. -1'0 {

r... d . d' I - f' ~~l'V;f:"E tempo e entrar mais irctarnente em re açao com os atos, ~, Ii.<. .. ~

'. \ de adquirir com seu contato o sentimento de sua diversidade e éJu7 . li'

! I sua especif icidade, a fim de diversificar os próprios problemas, '\_ 7" 1 I de os determinar e aplicar-lhes um método que seja imediata-'I mente apropriado à natureza especial das coisas coletivas" (id.,i ihid. p. 125-26).

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I\

Nada disso podia fazer o organicismo, que não nos dera uma Jejsequer.

p...t_~a a que se P!212-ôs Durkheim.Joi--

"em lugar de tratar a Sociologia in genere, nós nos fechamosmetodicamente numa ordem de fatos nitidamente delimitados:salvo as excursões necessárias nos domínios limítrofes daqueleque exploramos, ocupamo-nos apenas das regras jurídicas e mo-rais, estudadas seja no seu devir e sua gênese [ct. Division durral'ail] por meio da História e da Etnografia comparadas, sejano seu funcionamento por meio da Estatística ict. Le suicide].Nesse mesmo círculo circunscrito nos apegamos aos problemasmais e mais restritos. Em uma palavra, ~sforçamo-nos em ~~ue se refe_~Sociologia na . .f!~~--ª.ffil~_q~e C~~~havia chamado a era da especi<l:lidaçlJt (DURKHElM, 1970: p.126),

I Eis, em suas próprias palavras, as linhas mestras de sua obra.

Sua preocupação foi orientada pelo fato de que a noção delei estava sempre ausente dos trabalhos que visavam mais à lite-ratura e à erudição do que à ciência;

1"A reforma mais urgente era pois fazer descer a idéia socio-lógica nestas técnicas especiais e, por isso mesmo, transformá--Ias, tornando realidade as ciências sociais" (id., ibid. p. 127).

A superação dessa "rnetaíísica abstrata" exigia um método, talcomo o fez em Les rêgles de Ia méthode sociologique. Mas estasnão surgiram de elaborações abstratas

• cJ-,,-t?; "desses filósofos que legiferam diariamente sobre o método S(1-{cv..p.\ ~. ciológico, sem ter jamais entrado em contato com os fatos./ .~ oJ""{J:..-f1' sociais. Assim, somente depois que ensaiamos um certo nú-1~d-'0- ./.:~ mero de estudos suficientemente variados, é que ousamos tra-JL ~~ oJ,.é> duzir em preceitos a técnica que havíamos elaborado. O rné-

().._~i'\Q.~ .2)"(..1 ~g:'..[l1e expusemos não é senão o resumo da nossa prática"

~y. ;p v~'(hl:;ul81d. p. 128).

c.~ í if. •.. .. ~ . e'~ A tarefa a que se propos era, pOIS, consCIentemente da maIOr

~ " eP envergadura. Ela se tornou possível no final do século XIX devidQt ~~ (L//..:' à "reação científica" que estava oco;rend.a- Nesse sentido, a ~rança

~ ~.ofoO voltava. a d.esemp~nhar o papel p~edes.tmado ~? ?esenvolvlmento~!~:;;:~ SoclOl~gl,!. OIS fator~~ fav~reclam ISSO: pnmeiro, o acentuad?t ~ Q( ~fraqueclmen o do tradlClOnahsmo e, segundo, _o estado de espl-

'.r(o.t~ ~ JJ-~\J. '1' Q. •. ~~ rt-r' _,.,Q/>'/ ./ t", ~ _;j;"r '(

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" 18

rito racionalista. A França é o país de Descartes e, apesar de suaconcepção ultrapassada de racionalisrno, para superá-Ia era maisimportante ainda conservar 0.5 seus princípios: "Devemos empre-ender maneiras de pensar mais complexas, mas conservar esseculto das idéias distintas, que está na própria raiz do espírito fran-ccs, como na base de toda ciência" (id., ibid. p. 135). Eis-nosportanto diante de um renascimento do iluminismo, na figura desseDescartes moderno que foi Ernile Durkheim.

2 . 2 . Concepção de Ciência c de Sociologia '\

Dentro da tradição positi\'ista de delimitar claramente os obje-.. ~ tos das ciências para melhor situá-Ias no campo do conhecimento,r..r~,.S:.. purkheim aponta um reino social, com mdlvldualidade dlstmta

'~.; ,dos rcir~os animal e mineral.. Trata-se de um camp~ com ~arac-_.~-<11~eres propnos e que deve por ISSO ser explorado atraves de metados

cv- c- -r.:.~lprorriados. Mas esse reino não se situa à parte dos demais, p'0s-"- [~.., suindo um caráter ahrangente.~c:P\...\

-v. r,. ;:P..}-~"'"

Fie,....· .'>'-\ :~',~r"( .t. ',,-~..:;::; <. c- Nesse mesmo artigo (datado também de 1900), em que con-~...;zL. cL--::J trapóe suas concepções àquelas íormalistas de Simmel, e onde~U-.~0 ' antecipa várias colocações posteriores (como sua divisão da Socio-~Iogia, cf. p. 41), \Durkheim fala também de um reino moral. ao~:...~.~ concluir que: \

:Al" '-\. ~-. -.. ----:-

~ \ \ "a vida social não é outra coisa que o meio moral, ou melhor,; \ o conjunto dos diversos meios morais que cercam o indivíduo"

------?> \ (ir/., ibid. p. J 98).I

Aprovei ta para esclarecer o que entende .p_or fenômenos morais:- .._~ .

"porque não existe fenômeno que não se desenvolva na socie-dade, desde os fatos físico-químicos até os fatos verdadeira-mente sociais" ("1.a Sociologie e! son domaine scientifique.".-i{J/ld ClJVIl.UER, 195:1: p. :79),

)

"Qualificando-os de morais, queremos dizer que se trata demeios constituídos pelas idéias; eles são, portanto, face às cons-

I ciências individuais, como os meios físicos com relação aosorganismos vivos" tid., ibid.).

No início de sua carreira Durkheim empregava o termo "ciên-cias sociais", paulatinamente substituído peJo de "sociologia", masreservando aquele ainda para designar as "ciências sociais 'parti-

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-:-yc>-'~~lares': _(i. é, Mor~olog!a Social, Sociologia Religiosa etc.) , que~('>- -;Zao divisões da SOCIOlogia.

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~~.o-. ./ Ao iniciar suas Iunçóes em Bordcaux, foi convidado a pro-r,tj. ,p ~unciar a aula inaugural do ano letivo de i 887-88, publicada neste,~~é ...aI' _ último ano sob o título de "Cours de Science Sociale" (DuRKHEiM,

;':'~j.:.cP~~;::1953: p. 77-J 10). Ele corresponde na verdade ~ um ?r.ograma de:.fi ~'- (:~/trabalho e serve para expressar suas concepçoes básicas e sua~t1'- , preocupação dominante de limitar e circunscrever ao máximo a 0;- .:v. ú,,'7 tensão de suas investigações. Nesse sentido, a Sociologia.c9~

;'uma ciência no meio de outras ciências positivas" (id., ibid. p.78). E por ciência positiva entende um ;'estudo metódico" que~onàuz ao estabelecimento das leis, mais bem feito pela experimen-t3ção:

~

"Se existe um ponto fora de dúvida atualmente é que todos os. : seres da natureza, desde o mineral ate; o homem, dizem respeito\ i à, ciência positiva, isto é, que: tudo 'c passa segundo as' leis

necessárias" t id., ibid, p. S::).

Desde Comte a Sociologia tem um objeto, que permaneceentretanto indeterrninado: ela deve estudar a Sociedade, mas aSociedade não existe: "]1 y a dcs sociétés" (id., ibid. p. 88) -que se classificam em gêneros e espécies, como os vegetais c osanimais. Após repassar os principais autores que lidaram com essadisciplina, conel ui:

I i\ "Ela Ia Sociologia,: tem um nhjet~ claramente d.cfinido c, umi método para cstudá-lo. O objeto sao os faros sociais; o mctocoli! é a observação c a ex pcrimcntaçâo indireta, em outros termos,

, o método comparativo. O que falta atualmente é traçar c'~ II quadros gerais da ciência c assinalar suas divisões essenciais.! ( ... ) Uma ciência não se constitui verdadeiramente senão

I \ quando é dividida e subdividida, quando compreende um certoI número de problemas diferentes e solidários entre si" (id., ibid.p. 100).

o domínio da ciência, por sua vez, corresponde ao universoempírico e não se preocupa senão com essa realidade. No men-cionado artigo publicado na Revue Bleue, e antes de tratar dotema a que se propusera, faz algumas considerações de grande in-teresse, para mostrar como a Sociologia é uma ciência que seconstitui num momento de crise - "O que é certo é que, no diaem que passou a tempestade revolucionária, a noção da ciência so-

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'11

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20

cial se constituiu como por encantamento" (id., ibid. p. 115) -e quando domina um \ivo sentimento de unidade do saber humano.

Parte de uma distinção entre ciência e arte. Aquela estudaos fatos unicamente para os conhecer e se desinteressa pelas apli-cações que possam prestar às noções que elabora. A arte, aocontrário, só os considera para saber o que é possível fazer comeles, em que fins úteis eles podem ser empregados, que efeitos inde-sejáveis podem impedir que ocorram e por que meio um ou outroresultado pode ser obtido. "Mas não há arte que não contenha emsi teorias em estado irnanerue " (id., ibid. p. 112). s

·.'A ciência só aparece quando o espírito, fazendo abstração---~7 de tod:; preocupação prática, aborda as coisas com o único fim de

/' representá-Ias" (id., ibid . p. I 13). Porque estudar os fatos unica-mente para saber o que eles são implica uma dissociação entreteoria e prática. () que supõe uma mentalidade relativamente avan-çada, como no caso de se chegar a estabelecer leis - relações ne-cessárias, segundo a concepção de Montesquieu. Ora, ~ respeitoà Sociologia, Durkheim concebe que as leis não podem penetrarsenão a duras penas no mundo dos fatos sociais: "e isto foi oque fez com que a Sociologia não pudesse aparecer senão nummomento tardio da evolução científica" i id., ibid.). Esta é uma

'j idéia repetidas vezes encontrada nos vários artigos que DurkheirnSU~\)...l.'>(iÚ~liC~~ na virada do ~é~~I(). como. por exemplo. na mencionadac\~{c;:r:\.'luLl inaugural de Bordcaux.

~ " . -; c\i-.:;c. Fica c\identc que, apes:Jr do seu desenvolvimento tardio. ai ~~~i~i_~~~~~ia:-~J!:_u...!.S~~~ un.!J e\''::.~JS~.2...i~_~:i.~r!Ei~ Ela .nasce à so.mbrê,Vv~~~l>-~as <':Ienclas natur ais; CIS a idéia final do mencionado artigo aw (;Y- propósito de Sim mel : a Sociologia não corresponde a uma sim-

.J; o. ples adição ao vocabulário, a esperança é a de que "ela seja e...•• ~tnC' permaneça o sinal de uma renovação profunda de todas as ciên-~Id'''''' cias que tenham por objeto o reino humano" (apud CUVILLlER.

.S...,.,' 1953: p. 207).ctP-~'- ,,t;..-

~.c)5~ -----.-pp-0-' 'Observe-se que Durkheim está usando arte não no sentido estético.. mas

no sentido técnico. tal como se fazia na distinção que nos vem desde aantigüidade. entre: artes mecânicas (carpintaria, por ex.) , belas-artes (pin-tura, por ex.) e artes liberais (cf. O trivium e o quudrivium que formavamas sete artes do programa pedagógico greco-rornano ), sendo estas desti-nadas a liberar o espírito. V. L~LANDE. "Ar t." Vocabulaire technique etcritique de' I({ phílosoohi«,

3. O método

Les rêgles de Ia méthode sociologique (1895) constnui aprimeira obra exclusivamente metodológica escrita por um soció-logo e voltada para a investigação e explicação sociológica. Eimportante ressaltar sua própria posição cronológica: publicadadepois de Division du travail social (tese de doutoramento em1893), seus princípios metodológicos são inferidos dessa investi-gação (ainda que não fosse trabalho de campo); tais princípiospor sua vez são postos à prova e aplicados numa monografiaexemplar que é Le suicide (J 897), em que a manipulação devariáveis e dados empíricos é feita pela primeira vez num trabalhosociológico sistemático e devidamente delimitado.

Simultaneamente com a elaboração dessa monografia em queutiliza o método estatístico, Durkheim organiza uma outra de menorporte em J 896 ("La prohibition de J'inceste et ses origines." Dl:R-KHEJI\f, 1969: p. 37-101), e onde o método de análise de dadosctnográficos é aplicado numa perspectiva sociológica. Esta linhade investigação tem prosseguimento na sua não menos importantemonografia publicada em 1901-02 - "De quelques formes prirni-tives de classif ication" (id., ibid. p. 395-460), elaborada de par-ceria com Mauss. Estas duas monografias antecipam a última fasemciodológica de Durkheim, que culmina com a publicação relati-vamente tardia de Les [ormes clérncnt aircs de Ia vie religieuse( J ') J 2).

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Essa fase é de grande originalidade do ponto de vista método-lógico, na medida em que .a manipulação de dados etnog r áficr«permite a análise de representações coletivas, que são encaradas,num sentido estrito, como representações mentais ou, melhor dito,representações simbólicas que, por sua vez, são imagens da reali-dade ernpírica. Em outros termos, Durkheim empreende os pri-meiros delineamentos da sociologia do conhecimento. Sua origina-lidade consiste em que, através da análise das religiões primitivas- o totemismo como sua forma primeira e mais simples -, pode--se perceber <':0(110os homens encaram a realidade e constroemuma certa concepção do mundo e, mais ainda, como eles própriosse organizam hierarquicamente, informados por tal concepção.Como se viu, a sucessiva introdução de elementos enriquecedoresda analise adquire um significado metodológico especial, pois cons-

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o..• 22

Se nesse capítulo Com te se mostra largamente influenciadopor Bacon e parcialmente por Descartes, pode-se perceber comoeste também influenciou Durkheim. Mas talvez se deva a Montes-quieu a maior dose de influência sobre o autor das Rêgles. Emboraeste não se mostre preocupado simplesmente em estabelecer leis ex-plicativas dos fenômenos sociais, acha-se implícita a idéia das "rela-ções necessárias" que se estabelecem no âmbito dos fenômenos dasociedade. Já na sua tese complementar sobre Montesquieu eleevidenciara sua preocupação com duas instâncias encadeadas dedescrever e interpretar a realidade social. 9

Com respeito a Descartes, a vinculação é menos evidente, masnão se pode deixar de assinalar certa semelhança na formulaçãode Les rêgles de Ia méthode sociologique com as Rêgles pau r Iadir ection de l'esprit, uma espécie de manual inacabado de meta-física e publicado post-mort em. 10 A primeira regra cartesiana po-deria servir perfeitamente como epígrafe das Rêgles de Durkheim:

"Os estudos devem ter por finalidade dar ao espírito [ingeniumno original latino] uma direção que lhe permita conduzir ajulgamentos sólidos e verdadeiros sobre tudo que se lhe apre-sente" (DESCARTES, Rêgles. 1970: p. I).

Apesar de Descartes utilizar a aritmética e a geometria nassuas exemplificações e demonstrações, fica claro que suas regrasnão se limitam às matemáticas ali tomadas como protótipo dasciências. O tratamento dos fenômenos como coisa é uma constantenesse trabalho de Descartes, tal como no de Durkheim. Assim, aRegra XV (de Descartes) recomenda que, ao se tomar a figura

tit ui -- ao lado de conhecimentos pOSItIVOS que proporcionaclara demonstração do processo de indução científica.

Em "De quclqucs formes primitives de classiíication", Dur-khcirn e Mauss escrevem:

··Todos os membro, da tribo se encontram assim classificadosem quadros definidos e que se encaixam uns nos outros. Ora,li classiíicnção das coisas rcprodu; essa classijicação dos ho-m cns" (DURKHEIM, j969: p. 402. Grifas do original).

Essa é, em última análise, a tese de Les formes élémentaires eque, naquele mesmo texto, é igualmente enunciada come segue:

·"En1 resumo, se não cstarnos bem certos de dizer que essamaneira de classificar as coisas está necessariamente implicadano iotcrnisrno, é, em todo caso, certo que ela se encontra muitofr eqiicntcrnente nas sociedades que são organizadas sobre umabase totêrnica. Existe pois lima ligaçiio estreita, e não apenas1/11/11 rclll(·iio acidental, entre esse sistema social c esse sist em«lógico·· (id. ihid. p. ":25. Grifas nossos).

A questão cpistcrnológica que se levanta é da maior relevân-cia científica e do maior interesse sociológico. Em síntese, não éapenas através das vcrbalizaçóes que o homem procura representara realidade: ele () faz até mesmo pela maneira C0l110 se dispõetcrrito rialmentc. face a essa realidade. E suas formas organizacio-nais da vida social. além ele mediações empíricas, são portadorasde uma ideologia implícita, que forma um arcabouço interno --qua:,c disfarçado se nào fora a agudeza de penetraçào do espíritocientífico do investigador - susteruador virtual do sistema social.E necessário um método apurado, tal C0l110 desenvolveu Durkhcirn,para que se possa ver, descrever c, o que é mais importante doponto de vista científico, classificar a t s ) realidade(s). Essa nosparece uma das mais notáveis contribuições científicas da Socio-logia, cujos méritos devem ser priorit ariamente creditados aDurkheim.

Na "Introdução" de Les rêgtes Durkheim chama a atençãopara o fato 0e que 05 sociólogos se mostram pouco preocupadosem caracterizar e definir o método que aplicam: está ausente naobra de Spencer; a lógica de Stuart Mill se preocupou sobretudoem passar sob o crivo da dia1ética as afirmativas de Comte; en-quanto este lhe dedica um só capítulo de seu Cours de philosophiepositive (v. VI, 58.a lição) - "o único estudo original e impor-tante que temos sobre o assunto" (DURKHEI\1, 1895: p. J).

!, Dt..:RKHEIM, 1953: capo 1.0, itens II e III, p. 35 et seqs. "Montesquicucompreendeu não somente que as coisas sociais são objeto de ciência, mascontribuiu para estabelecer as noções-chave indispensáveis para a consti-tuição dessa ciéncia. Essas noções são em número de dois: a noção detipo e a noção de lei" (p. 110).lU Há uma vinculação direta com a Logique de Port-Royal de AntoineArnaud, que constitui um dos primeiros estudos rnetodológicos da filosofiamoderna, publicado em 1662. As Rêgles de Descartes, apesar de pub!icadasem 1701, foram escritas antes de 1629 em latim. A Logique de Port-Rayalcontém duas regras (XVII e XVII!) que são copiadas do manuscritocartesiano que circulou por muito tempo antes de ser publicado, o que erahábito do grupo de Port-Royal a que Descartes estava ligado. V. JOWUJAN,

Charles (org.). Logique de Port-Royal, précedée d'une no/ice sur les tra-vour philosophiqu es d'Antoin e Arnaud. Nova ed. Paris, Hachette, 1877.396 p.

23

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de um corpo, deve-se iruçá-!a e apresentá-Ia ordinariamente aossentidos externos.)'\;J Regra V. Descartes define o método:

"Todo método consiste na ordem e arranjo dos objetos sobrel)~ quais se deve coriduz ir a penetração da inteligência paradescobrir qualquer verdade (ia .. ihid. p. 29).

E na Regra \'1 faz uma recomendação que é largamente desenvol-vida em Logiqu e de Port-Royal: distinguir as coisas mais simplesdaquelas mais complexas c que, como todas as coisas podem serdistribuídas em séries, é preciso disccrnir nestas o que é mais sim-ples. Na Regra XIl essa colocação é retomada. para mostrar todosos recursos necessários para se ter uma intuição distinta das pro-posições simples, seja p:1I'<l fins classi íicatór ios. seja para finscomparativos. Tais colocações não deixam de estar presentes narccorncndacâo básica de Durkheirn. no que se refere à constituição(h)' upos sociais (cap. 1\'):

"ClJnICç,l-'C p(1r clas,ificar as sociedades segundo o grau dec.unpos içào que estas apresentam, tornando por base a socic-J"dc pc rIrit arncntc simples ou de segmento único; no interiordc~,~",·I:..s,c,'c distinguirà0 as diferentes variedades, conformeSl' í'wJlIza ou nào um" coalescência completa dos segmentosini,'ial<' ([)l:j{KHEI\1. ISLJ5: p. ~6). II

A utilização da estatística como instrumento de análise é feitaaí por Durkheim, ao mesmo tempo que, na Inglaterra, Booth,Rowntree e Bowley usam métodos estatísticos refinados no estudode problemas ligados ao pauperismo. 12. Mas foi a descobertaamericana de Le suicide que veio colocar definitivamente esta obrano rol dos clássicos imperecíveis e sempre modernos, após a tra-dução inglesa feita em 1951 por John A. Spaulding e GeorgeSirnpson, com introdução assinada pelo último. Algumas valo-rizações específicas devem ser citadas:

• Merton apresenta-a como um dos melhores exemplos do que eleveio a chamar "teoria de médio alcance" - uma generalizaçãosegura à base de dados empíricos tratados com precisão e segu-rança - ao lado de A Ética Protestante e o Espírito Capitaiisiade Weber (MERTO~, 1968: capo lI, esp. p. 59 e 63).

• Rosenberg mostra como Durkheirn pôs em prática a general i-zação descritiva do tiro replicação, que envolve diferentes popu-lações para a análise comparativa de um fenómeno (ROSENBERG,

1968: p. 224). l:!

• Stinchcornbe, ao estudar as formas fundamentais da iníerênciacientífica, recorre a Le suicide para mostrar como a prova múl-tipla de uma teoria é mais convincente do que a prova simplesc para ilustrar um "experimento crucial" (no sentido baconiano):Durkheirn pôs à prova a noção vulgar de seu tempo de queo suicídio resultaria de urna enfermidade mental, e comparoupopulações diferentes para mostrar que, se fosse o caso, aspopulações com altas taxas de enfermidade mental teriam aliastaxas de suicídio:

3.1. Lc suicide: uma monografia exemplar

Ou:!,C 70 anos após SU,t publicação. um sociólogo americano.Sclvin. fez inserir um arug o no AI7lt'ricm; l ournal oí Sociotoevem que l! C,lUc!O de: Durkhcirn c' considcr.rdo "ainda um modeiode pesquisa social", onde o método ccntr al utilizado é o da análisernul rivar iuda (" mtroducào de propessiv<ls variáveis adicionaispermite aprofunuar (1 tratamento do problema Lllé garantir g.ene-ralizacócs sc~ur:1S). i ;

"Assim Durkheim póde descrever um conjunto de observações(as ~-::lações entre taxas de enfermidade mental e taxas desuicídio para várias regiões) que dariam um resultado (corre-lação positiva), se a enfermidade mental causasse o suicídio. C

outro resultado diferente (correlação insignificante), se ope-rassem as causas sociais. Durkheim realizou depois estas obser-vações e a correlação entre taxas de enfermidade mental ctaxas de suicídio resultou insignificante. Isto refutou a teoria

II Durl.hcim ~lnun('i,,,", em seu ;, r li~l) "Sociologic et Sciences Soei ales"I DL'nKIIU'l. ]Y70: p. I';") urna "cla5~iflcaç:,o metódica dos fatos sociais"considerada então prcmatu.u. M as nunca concretizou esse projeto senâopara f m os panicubres \ tipos ele' solidariedade social. tipos de direito, t'iposde suicídio). Observe-se ainda que o conceito de [uto social é restrito. ouseja. meramente oper.icional i c], L1'.I Riglc.,) e nunca chegou a ser umconceito sistê mico (1;;\ como fizera Wcber com seu conceito de ação social).

l~ O artigo foi iccditudo em NISIIC'I. 1965: p. j 13·36. sob o título "Dur-khcirns .\1I;cirh: Furrher Th()ll~hl' 011 " ivlclhndological Classic".

l2e CI. HAGENBUCH, W. Economia Social. Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1961.capo IV, esp. p. 165 et seqs.

1~ Segundo o citado artigo de Selvin (apud NISDET, 1965: p. 121), rcpli-cação "é o reesiudo sistemático de uma dada relação em diferentes con-textos".(~·

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alternativa (tal como estava formulada) c fez com que suateoria fosse muito mais veraz" (STINCHCOMBE, 1970: capo 2,esp. p. 36).

• Madge, enfim (last but not least), mostra como Durkheirnescolheu esse tema por três razões: 1) o termo "suicídio" pode-ria ser facilmente definido; 2) existe muita estatística a respeito:3) é uma questão de considerável importância.

"Durkhcim estava absolutamente seguro de sua tarefa, que erademonstrar que as ciências sociais podem examinar urna questãosocial importante, sobre a qual outras pessoas haviam filosofadopor muito tempo, e pôde mostrar, mediante a apresentação sis-temática de fatos existentes, que é possível chegar a conclusõesúteis que podem ajudar com proposições práticas as ações fu-turas" (MADGE, 1967: capo 2, esp. p. 16).

que instruiu tanto concepções conservadoras - tal com~.--ª---º-~.Spencer - quanto soclarlstas - tal como a de John -R_~_kin. ~4

Na verdade, qualquer tentativa de simplesmente explicar o socialpelo orgânico esbarraria com os preceitos metodológicos explici-tados nas Rêgles.

Ao concluir Les rêgles, Durkheim sintetiza seu método emtrês pontos básicos: a) independe de toda filosofia; b) é objetivo;c) é exclusivamente sociológico - e os fatos sociais são antesde tudo coisas sociais. Buscando uma "emancipação da Sociolo-gia" (DURKHEIM, 1895: p. 140) e procurando dar-lhe "uma per-sonalidade independente" (id., ibid. p. 143) diz claramente naspáginas finais:

"Fizemos ver que um fato social não pode ser explicadosenão por um outro fato social e, ao mesmo tempo, mostramoscomo esse tipo de explicação é possível ao assinalar no meiosocial interno o motor principal da evolução coletiva. A Socio-logia não é, pois, o anexo de qualquer outra ciência; é, elamesma, uma ciência distinta e autônoma, e o sentimento doque tem de especial a realidade social é de tal' maneira ne-cessário ao sociólogo, que apenas uma cultura especial!!lcnte.sociológica pode prepará-Io para_a compreensão d~_ fat~_so-ciais" (id, ibid.). .

A~ O enquadramento que se pode fazer de Durkheirnnuma ou noutra corrente sociológica só é válido para aspectosparciais de sua obra. Florestan Fernandes ressalta que "a primeiraformulação adequada dos fenômenos de função e da utilização daexplicação funcionalista na Sociologia surge com A Divisão doTrabalho Social e As Regras do Método Sociológico de Durkheim"(FERMNDES, 1959: p. 204-05). Em sua obra metodológica Dur-

3 .2. Posição mctodológica

3>

Lcs Rêgles constituem um esforço sistemático com vistas àelaboração de uma "teoria da investigação sociológica" (FERNAN-DES, I 959: p. 78), voltada para a busca de regularidades que sãopróprias do "reino social" e que permitem explicar os fenômenosque ocorrem nesse meio sem precisar tomar explicações empresta-das de outros reinos. A posição metodológica de Durkheirn é, porconseguinte, estritamente sociológica, a tal ponto que se torna difí-cil enquadrá-Ia numa determinada corrente sociológica sem correro risco ele toma r a parte pelo todo.

Assim, por exemplo. sua tipolcgia social evolutiva estabele-cida a partir da solidariedade social mecânica e orgânica poderiasugerir, tal como as primeiras páginas de La division du travailpoderiam confirmar, que se trata meramente de um organicista.Mas o problema n30 se coloca de maneira tão simplista. Paracompreendê-I o é preciso levar em conta o ambiente intelectualdo.~culo XIX- quando surgiu, principalmente na Inglaterra mer-gulhada no industrialismo, uma reação contra a ~pção mecâ-nica da sociedade, fruto desse mesrr:!.~U!ldusu:iali.s.m.93 __~ª-~~_<:d~isão do trabalh?~_al?!~sent~omo ~..Rrªn.Qcc..o.oQ1Üj_t_'!do espírito inventiva do homem. --- ----

Essa reação visava antes de tudo a uma valorillião do homem,para superar a excessiva valorização da máquina. Daí uma sériede esforços no sentido detuma concepção oruànica da sociedade.~ •.. -'

)< O termo orgânico ocupa uma importante posição entre os saint-simonia-nos. Para eles o desenvolvimento da humanidade se alternou em "épocascríticas" (períodos de crise, de negação, de dissolução) e "épocas orgânicas"(períodos em que reina um pensamento unificado e uma concepção cole-tiva da vida). Tal emprego é feito pelo carbonário Buchez (cf. ISAMBERT,Fr.-André. "Époques critiques et époques organiques, Une contribution deBuchez à l'élaboration de Ia théorie sociale des saint-simoniens." Cahiersl nt ernation aux de Sociologie. 1959. v. XXVII (nova série), p. 131-52, esp.p. 140) e pelas exposições gerais dessa escola (ci . BOUGLÉe HALÉVY(org.).Doctrine de Saint-Simon, Ex position, premiêr e année, 1829. Nova ed. Paris,Marcel Riviêre, 1924. Segunda sessão, p. 157-78, esp. p. 161). As con-cepções são diferentes, mas é certo que se tratava de um termo em voga,antes do advento do organicismo. C]. também WILLlAMS,Rayrnond. Culturae Sociedade. São Paulo. Cia. Ed. Nacional, 1969. capo VII, esp. p. 152-55.

27

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Com efeito, a clareza das posições conceituais d_~.!!Jkheim

obedece a uma constante metodo!.Qg~c:~i!iscute.p'riTI1cir~f!1~!!~~.,~~concepções correntes (vulgares ou não) a respeito de um Ienôme-nã, para, em sc'guida, aprcsc-;;t;;;~!Óprja, soljº-?~eB~,e._~QP.,~_·

tLuÍda em termos coerentcs com uma interpretação estritamentesociológica. --.----------

(' Após a análise e interpretação dos dados ernpíricos, a dis-

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cussão teórica do problema é retomada, com vistas a chegar aconclusões que não só caracterizem em definitivo o fenômeno estu-

I dado, mas constituam também acréscimo valorativo das teorias,/17 .•.-J anteriormente elaboradas. Nesse sentido, Le suicide e Les formes

1(0'-' "I constituem modelos de trabalho científico no campo das ciênciassociais e a demonstração de como fazer um estudo, seja de umfenômeno isolado, seja de um fenômeno de delimitação mais difí-cil. Este é o caso da vida religiosa, em que o ponto de partidada análise foi localizado no estudo das manifestações religiosasmais antigas e, por conseguinte, mais simples - o totemismo _para se atingir em seguida os aspectos mais complexos cio ícnô-

\ meno. Concretiza-s.e, assim, .a !á mencionada influência cartcsiunn. sobre a metodologia durkheimiana.

28

kheirn coloca a explicação, posteriormente chamada funcionalista(embora não revestida de preocupações teleoJógicas que, segundoele, levariam a confusões com a filosofia), entre outras explicaçõesque não se enquadram nessa corrente e mesmo a contradizem.Assim ocorre com a explicação genética, que tanto repudiam osIuncicnalistas modernos. 1:, Em suas obras posteriores, a abordagemfuncionalista está ausente (Le suicide) ou aparece esporádica esecundariamente (Les formes élémentaires de Ia vil' religieuse).

Outras caracterizações comumente feitas de Durkheirn enqua-dram-no como sociologista e/ou positivista. Sua caracterizaçãocomo socioJogista, tal como faz Sorokin, por exemplo, coloca-o aolado de Corntc e serve sobretudo para marcar uma linha divisóriaentre Durkheirn e Tarde. este caracterizado como psicologista(SORO"J~. 1938: capo VIII. esp. p. 329 et seqs.s, A divergênciabásica consiste na precedência ou proeminência do indivíduo e dasociedade. Durk heirn. na medida em que desenvolve sua teoriamediante a adoção de conceitos básicos de coerção, solidariedade,autoridade, representações coletivas etc., está na realidade funda-mentalmente preocupado com a manutenção da ordem social. Nessesentido, sua posição é antiatornistu e se antepõe à abordagem deSpencer e Tarde sobretudo. essencialmente individualistas e em linhacom a tradição liberal do século XIX com que, na medida em que oindivíduo busca sua rcalizacào pessoal (sobretudo sua riqueza),estará contribuindo para o bem-estar social. A posição durkhei-miaria a propósito das relações indivíduo-sociedade talvez seja umadas mais universais e coerentes em toda a sua obra.

Apesar de urna interpretação muito pessoal - que não vemao C:.lSO discutir aqui - das formulações dur kheimianas, Parsonsressalta que a metodologia de Durkheim é a do "positivisrno socio-logista" (PARSO:--;S, 1968: v. I. capo IX, p. 460 et scqs.; para ascitações a seguir. ver p. 307. ó I e 343 respectivamente). 1'; ldenti-

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1:, COSER, IlJ7I: p. 141, reconhece o conceito de f unçào como dcsernpe-nhando um papel crucial na obra de Dur kheirn. mas assinala igualmentea ocorrência de outros procedimentos analíticos,

1'; O enquadrurnento feito por Parsons de Durkheim como um positivisiufoi formalmente contestado por POPE (1973: p. 400) em artigo recente.Aquela interpretação estaria baseada numa acumulação de erros cometidospor Parsons. Na opinião de Pope. sempre Dur khcirn permaneceu um reu-lista social, que jamais buscou outras e xplicacôes par;\ os fenômenos sociaisscnâo nos fatores sociais.

ficando-o como "herdeiro espiritual de Comte", seu positivismoimplica "o ponto de vista de que a ciência positiva constitui aúnica posição cognitiva possível" do homem face à realidade externa.Parsons ressalta que a originalidade de Durkheim está em diferen-ciar-se de seus antecessores, para quem a tradição positivista tinhasido predominantemente individualista. Ele elevou o "fator social"ao status de elemento básico e decisivo para explicar os fenômenosque tinham lugar no "reino social", e que o social só se explicapelo social e que a sociedade é um fenômeno sui generis, indepen-dente das manifestações individuais de seus membros componentes.Parsons chama a atenção para o fato de que na obra metodológicamais antiga de Durkheim (Division du travai/) se encontram duaslinhas principais de pensamento:

"Uma, polêmica, é uma crítica do nível metodológico das con-cepções subjacentes do individualismo utilitarista. Outra, suaprópria doutrina, é um desenvolvimento da tradição posítivistageral, a que a maior parte do argumento deste estudo se refere".

."

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.é' 30

4 . O esquema teórico

o esquema aqui apresentado para sintetizar a teoria socio-lógica durkheimiana constitui antes uma leitura dessa teoria queuma criação original propriamente dita do chefe da Escola Socio-lógica Francesa. Nesse sentido, corresponde a uma certa violen-tação, justificada porém numa coleção para fins didáticos. Assim,o esquema funciona como um guia para o leitor, visando à inte-gração dos textos adiante selecionados.

O leitor pode encontrar no esquema os principais elementoscontidos na teoria durkheimiana, mas, evidentemente, não encontraali suas formulações. Estas podem ser encontradas nos textos sele-cionados, os quais podem ser melhor situados no conjunto da obrade Durkheirn e no esquema em foco, onde as vinculações entreas partes selecionadas da obra podem ser vistas, ainda que esque-matizadas; o que é, a um só tempo, defeito e qualidade do esquema.Assim sendo, o esquema não explica propriamente a teoria, masé explicado por ela - ou pretende sê-I o, na forma em que foigraficamente construído.

O esquema pretende ser tanto diacrónico como sincrónico, porse supor que arnbas as direrivas podem ser encontradas na teoriasociológica de Durkheim. A diacronia é representada horizontal-mente, tendo a solidariedade social - ponto de partida da teoriadurkheimiana ao iniciar seus cursos em Bordeaux - como pontede partida também da organização social; e a anemia como fimdesta, melhor dito, quando ela afrouxa seus laços c permite adesorganização individual, ou ausência dos liames e normas dasolidariedade. A sincronia é simultaneamente representada na ver-tical - tal como uma estrutura J~ ---' a partir de um fundamento

J~ "Sem dúvida, os fenômenos que concernern à estrutura têm qualquercoisa de mais estável que os fenômenos funcionais, mas entre as duasordens de fatos não existem senão diferenças de graus. A própria estruturase reencontra no vir a ser [devcnirj e não se pode esclarecê-Ia senão coma condição de não perder de vista esse processo de vir a ser. Ela seforma e se decompõe sem cessar; ela é a vida que atingiu um certograu de consolidação; e distingui-Ia da vida de onde ela deriva ou da vidaque ela determina, equivale a dissociar coisas inseparáveis" i apud CUYILLlER,

1953: p. 190). Cuvillier, em nota a essa página, diz: "Vê-se aqui o quantoé falso se acusar Durkheim, tal como ainda se faz comumcnte [por Gur-vitch], de não ter percebido senão o Jado cristalizado, estereotipado Uigé]da vida social",

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32

concreto e objetivo, que é 3. morfologia social, até atingir a fisio-logia social, assim definida pelo próprio:

"Essas normas impessoais do pensamento e da ação são aquelasque constituem o fenômeno sociológico por excelência e se en-contram com relação à sociedade da mesma forma que as fun-ções vitais com respeito ao organismo: elas exprimem a maneiracomo se manifestam a inteligência e a vontade coletivas" (apudCUVILlIER, 1953: p. 200-01).

No cruzamento das linhas de sincronia e diacronia se situaa sociedade como organização central, que pode ser apreendidapelos fatos sociais e de onde emanam tanto efeitos coercitivos sobreindivíduos e grupos como fenômenos abstratos de consciência cole-tiva e suas manifestações concretas que são as representações cole-tivas - a própria matéria da Sociologia, tal como declara no seuestudo "La prohibition de linccsre et ses origines" (DURKHEIM,J 969: p. 100). Daqui surgem manifestações polares, como os fenô-menos culturais sagrados ou profanos, e os dois tipos de direito(repressivo e restitutivo ) vinculados diretamente aos tipos de soli-dariedade social (mecânica e orgânica), as quais determinam porsua vez dois tipos diferentes e evolutivos de organização social.

Nos quatro cantos do esquema são colocados núcleos primor-diais da produção durkheirniana, a que correspondem quatro obrasimportantes. No canto superior direito, a religião, vinculada àsrepresentações coletivas, constitui a via através da qual veio aelaborar os primeiros delineamentos da sociologia do conhecimento- a religião é uma forma de representação do mundo, ou mesmouma forma de concerç~lodo mundo. No canto superior esquerdo,a moral representa uma preocupação constante do autor, que sóa desenvolveu em cursos publicados postumamente; ela está estrei-tamente vinculada à educação como forma de socialização doshomens, ou de iniernalizaçào de traços constitutivos da consciên-cia coletiva. is No canto inferior esquerdo situou-se a divisão do

trabalho, perspectiva básica - quase morfológica - e estreita-mente vinculada aos tipos de solidariedade social, os quais sãosimbolizados no esquema pelas funções, que refletem a influênciaorganicista revelada especialmente nesta parte, que é a primeirada obra de Durkheim. No canto inferior direito, situou-se o suicí-dio, cuja monografia propiciou a elaboração de uma outra tipo-logia: a que permite mostrar o comportamento individualista, ogrupal e o que reflete a frouxidão das normas sociais que conduzemà anemia.

5. Síntese

Em síntese, a obra sociológica de Durkheirn é um exemplode obra imperecível, aberta não a reformulações, mas a continui-dades - e que marca a etapa mais decisiva na consolidação aca-dêmica da Sociologia. Sua maior qualidade talvez seja a prioridadedo social na explicação da realidade natural, física e mental emque vive o homem. Essas qualidades que se exigem de um clássicoestão presentes por toda sua obra, e da qual se procura dar umaidéia -- por fragmentária que seja - nos textos adiante selecio-nados. J:' Apesar de suas raizes no tempo em que viveu, a obrade Durkheirn - respondendo a preocupações da sociedade e daSociologia de sua época - constitui um modelo do produto socio-hígico. cujo consumo não se esgota na leitura, mas continua afruir nos produtos de seus discípulos e leitores.

Se ela apresenta lacunas - a ausência das classes sociais é umexemplo -. isto não diminui o seu valor específico. Essa "falha",bem como a ausência da pesquisa de campo notada por Kroeber,não seriam antes fruto de indagações e preocupações posterioresa ele c não propriamente de seu tempo?

Lé vi-Str auss vê em Mauss, sobrinho e discípulo dileto de Dur-k hc irn, um marco involuntário do iournant durkheimienne, ao mes-mo tempo que assinala um declínio intelectual da Escola Socioló-gica Francesa, só compensado pelo renascimento americano de

Jk Na falta de um texto especial nesta seleção. convém remeter o leitorà 2" lição de L'éducation mora/e, onde a moral é definida como "umsistema de regras de ação que predeterminam a condu Ia", as quais nosdizem como devemos agir - "e bem agir é obedecer bem" (DuRKHEJM,J 925: p. 2 J). É clara a vinculação com a autoridade. Daí esta colocaçãocomplementar: "A moral não é pois apenas um sistema de hábitos, é umsistema de comando" (id., ibid, p. 27). Não se pode perder de vista a liçãobásica das Rêgles de que a moral é um fato social e que se impõe aosindivíduos por intermédio da coerção social.

j" Na organização dos textos foram suprimidas algumas notas de rodapéconsider adas dispensáveis numa coletânea deste tipo. Foram porém rnanti-<1:1' lodas as que continham referências hibliopr áf icas.

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1, 1922 -

I 1924 -

1

11925 -

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Durkheirn nos anos 50. f:. curioso que dois dos críticos 20 maisseveros de Durkheim achavam-se nos Estados Unidos no fim daSegunda Guerra Mundial, justamente quando e onde a Sociologiamoderna deslancha suas grandes contribuições renovadoras quenão deixam de reconhecer uma posição proeminente de Durkheirn.

O fato importante a ressaltar é que a Sociologia só se desen-volve e se completa na medida em que assimila as contribuiçõesde seus grandes mestres. O mérito creditado a estes está sobretudoem proporcionar a todos nós, seus discípulos, uma série daquiloque Merton repete de Salvernini - os libri fecondatori capazesde aguçar as faculdades dos leitores exigentes.

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Ili

\20 O outro é Gurvitch, que, n50 obstante, reconhece ser a obra sociológicade Durk heirn "o esforço mais bem sucedido, até o presente, de junçãoentre teoria sociológica e pesquisa cmpírica" (GURVJ1CH, 1959b: p. 3).• A bibliografia completa de Durk heirn é apresentada por LUKES, 1972,completada por uma "Cornpr ehensive Bibliography of Writings on or Di-rectly Rclcvant to Durk heim", além de apêndices do maior interesse (títulosdos cursos, participação em bancas de doutoramento com trechos das ar-güições e colaboradores do Année Sociologique no período de vida deDurkheirn ). Ela foi posteriormente complemen tada por Kar ady (DURKHEIM,

1975).;Iil

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