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GLOBALIZAO E ORGANIZAO DO ESPAO: CONTRIBUIES AO MTODO
DA GEOGRAFIA NOVA NUM VIS MILTONIANO
Fernando Antonio da SILVA
Graduando em Geografia pela Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL
Membro do Ncleo de Estudos do Pensamento Miltoniano NEPEM [email protected]
Reinaldo SOUSA
Professor da Universidade Estadual de Alagoas UNEAL Coordenador do Ncleo de Estudos do Pensamento Miltoniano NEPEM
RESUMO:
Esse trabalho, ainda em andamento, foi desenvolvido no Ncleo de Pesquisa Geogrfica da
Universidade Estadual de Alagoas. uma pesquisa do tipo bibliogrfica com posterior trabalho
de campo. O trabalho procura discutir ou (re)pensar alguns elementos do mtodo miltoniano de
anlise do espao, considerando sua importncia dentro da conjuntura do movimento de
Renovao da Geografia para os trabalhos de pesquisa em ensino no Brasil, mais especificamente
no mbito do pensamento crtico. O objetivo do texto demonstrar como o mtodo miltoniano se
mostra eficaz no processo de anlise do espao geogrfico atual, sobretudo em meio s
caractersticas do mundo contemporneo, e assim explicitar a importncia da unio entre a
proposta de renovao e as propostas metodolgicas.
PALAVRAS-CHAVE: Renovao da Geografia; Milton Santos; Mtodo.
ABSTRACT:
This work, still in progress, was developed in the Geografic Research Center State University of
Alagoas. Is a type of literature search with subsequent field work. The paper aims to discuss or
(re) consider some aspects of Milton's method of analysis of space, considering its importance in
the renewal of the movement of Geography and research papers on education in Brazil, more
specifically in the context of critical thinking. The paper aims to show how Milton's method has
proven efficient in the process of analyzing the current geographic area, especially among the
characteristics of the contemporary world, and so explain the importance of unity between the
proposed renovation and methodological proposals.
KEYWORDS: Geography renewal; Milton Santos; Method.
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INTRODUO
No campo do conhecimento, estruturado em bases cientficas, a questo do mtodo
assume destaque no trabalho do pesquisador e, por conseguinte, tem sido um dos temas mais
evocados no mbito das diversas disciplinas. A lgica sistemtica que orienta o conhecimento das
cincias confere ao mtodo grande importncia de forma que, qualquer que seja a rea de estudo,
a apreenso dos fenmenos passa pela opo de um vis metodolgico.
Para Santos e Fernandes apud Vale [...] a questo do mtodo fundamental. Sem mtodo
no h possibilidade de investigar a realidade em bases racionais. O mtodo o caminho para o
conhecimento estruturado (2001, p.10). Corroborando com esse pensamento Santos e Silveira
afirmam que escolher um caminho de mtodo significa levar em conta diversas escalas de
manifestao da realidade, de modo a encontrar as variveis explicativas fundamentais (2005,
p.11).
Conforme depreendido destas inferncias a escolha de um mtodo condio sine qua
non no desenvolvimento de uma pesquisa cientifica, do qual depender a consistncia do
conhecimento elaborado, sendo este resultado do caminho metodolgico percorrido.
O movimento de renovao da Geografia Brasileira, despontado aproximadamente em
meados do sculo passado e firmado nos decnios posteriores, leva a uma reviso das bases
terico-conceituais dessa disciplina como tambm de seu mtodo com vistas em atender as
demandas da nova realidade (CORRA, 1986).
Marcada pela indefinio do objeto de estudo ao longo de sua trajetria a cincia
geogrfica, at ento calcada na descrio e/ou comparao enquanto mtodo, necessita caminhar
em compasso com os ditames do mundo do presente, haja vista sua difcil tarefa de desvelar uma
realidade caracterizada sobretudo pelo processo de globalizao hegemnica e a reafirmao cada
vez mais crescente de sua expresso geogrfica, qual seja, o meio tcnico-cientfco-
informacional.
Tudo isso requer um novo enfoque metodolgico da Geografia sob pena de sua pretensa
renovao ocorrer apenas no discurso, pois, pensar um mtodo e toda sua complexidade ao
mesmo tempo abrir possibilidades para um estudo mais acurado da realidade. Entretanto a
redefinio de um mtodo no tarefa fcil principalmente em meio acelerao contempornea,
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por isso, as propostas de renovao da Geografia so muitas, porm, poucas aquelas que vm
acompanhadas de um caminho metodolgico.
GLOBALIZAO E COMPLEXIDADE DO ESPAO
Santos (2008, p. 33), tomando por base a importncia da historicidade1i do espao,
classifica os perodos histricos em trs grandes divises, cada qual marcado por uma grande
revoluo. O primeiro iniciado no fim no sculo XV marcado pela revoluo dos transportes
martimos quando o mundo comea a ser conhecido como um todo sob o comando comercial de
Espanha e Portugal; o segundo que comea em meados do sculo XVIII, caracterizado pela
revoluo industrial; e o terceiro marcado pela revoluo tecnolgica, o perodo atual, cujas
texturas se verificam aps a segunda guerra mundial.
O perodo histrico atual, muito distinto dos que os precederam, tem como fundamento
marcante o trip tcnica, cincia e informao, sendo por isso denominado por Milton Santos de
meio tcnico-cientifico-informacional, conforme enunciado anteriormente. Tcnica esta
universalizada relacionalmente e presente em cada lugar de forma potencial. Vive-se um mundo
em que a cincia o motor do desenvolvimento, onde o trabalho intelectual ganha importncia
primria e as informaes em massa se processam vertiginosamente. Porm, como adverte Santos
(2006, p. 39), uma informao no face a face, mas mediada, preparada e servida pelos atores
hegemnicos do sistema. As especificidades dos nossos tempos podem ser notadas nas palavras
do autor, para quem:
Pela primeira vez na histria dos pases subdesenvolvidos, duas variveis
elaboradas no centro do sistema encontram uma difuso generalizada nos pases
perifricos. Trata-se da informao e do consumo a primeira estando a servio do segundo -, cuja generalizao constitui um fator fundamental de
transformao da economia, da sociedade e da organizao do espao
(SANTOS, 2008, p. 36).
O processo de globalizao ou terceiro perodo da histria, que ganhou corpo a partir do
fim da segunda guerra mundial, gerou grandes metamorfoses no espao enquanto totalidade, com
implicaes diretas nos lugares que passam a ser reflexos do mundo, impedindo que espaos
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distantes fiquem isolados e causando um hibridismo cultural nunca antes presenciado na histria
humana. Esse mesmo processo permite articular as diversas partes que compe a totalidade,
alargando contextos e encurtando distncias, pois as tecnologias de ponta geram novas
possibilidades de fluidez, base de expanso e de intercmbio.
Contudo, a globalizao no conhecida por todos, sendo, sobretudo, um processo
paradoxal e fragmentador, pois, ao tempo em que cria novas possibilidades uma fbrica de
perversidades. Como afirma Santos:
A mundializao que se v perversa [...]. Concentrao e centralizao da
economia e do poder poltico, cultura de massa, cientifizao da burocracia,
centralizao agravada das decises e da informao, tudo isso forma a base de
um acirramento das desigualdades entre pases e entre classes sociais, assim
como da opresso e desintegrao do indivduo (SANTOS, 1997b, p.17).
As possibilidades trazidas pelo processo de globalizao, como a de tudo conhecer num
curto lapso de tempo, tm se apresentado apenas como fabulaes para a grande maioria das
pessoas, pois as contradies no tocante distribuio do capital se acentuam e as perversidades
impostas podem ser vistas em todos os lugares (SANTOS, 2006, p. 41). Em Economia Espacial:
criticas e alternativas M. Santos se refere formao socioeconmica produzida pelo atual
sistema capitalista como uma Totalidade do Diabo justamente por funcionar em detrimento da
grande maioria da nao. Para autor:
Quando sua evoluo governada diretamente de fora, sem a participao do
povo envolvido, a estrutura prevalecente uma armadilha na qual as aes se localizam no da nao, mas sim a estrutura global do sistema capitalista. As formas introduzidas deste modo servem ao modo de produo dominante em
vez de servir a formao socioeconmica local e s suas necessidades
especficas. Trata-se de uma totalidade doente, perversa e prejudicial (SANTOS,
2007, p. 202).
A tarefa da Geografia frente a essa realidade compreender os processos de desigualdade,
de falsa democracia, que se acentuam nesse perodo da globalizao e ao mesmo tempo so
maquiadas pelo progresso tcnico. Neste sentido ressurge a importncia de um mtodo, pois,
marca desse contexto neoliberal/capitalista/globalizado uma complexidade nunca antes
presenciada na histria humana.
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Compreender o lugar, nesse contexto, supe reconhecer que este se tornou ao mesmo
tempo, e estranhamente, singular pelas influncias do contexto, e mundializado na medida em
que receptculo das possibilidades trazidas pela globalizao. Nesse sentido a noo de lugar-
mundo e mundo-lugar, deve perpassar a todo tempo o entendimento do espao contemporneo.
DA COMPLEXIDADE DO ESPAO REDEFINIO DE UM MTODO
Conforme assinalado no item precedente a partir do momento em que o mundo se tornou
globalizado a realidade local no pode mais ser explicada em si s, pois, o mais distante lugar
passou a estabelecer relaes das mais diversas com o restante do mundo. Logo o mundo se
concretiza no lugar, e este evolui contraditoriamente em virtude das determinaes externas
(globais) e daquelas que lhe so prprias (internas). Por conseguinte as relaes de ordem
polticas, sociais e econmicas mudam substancialmente no s quantitativamente, mas tambm
no que tange ao aspecto qualitativo, caracterizando-se pela densidade, visto que, consegue
abarcar todos os lugares do globo; Como resultado, estes (os lugares) adquirem novos contedos
tcnicos passando a funcionar como subespao dentro do espao total.
Neste sentido, em primeira anlise, uma questo fundamental que O espao, como
realidade, uno e total (1985, p. 64). As novas dimenses da internacionalizao que
culminaram no atual processo de globalizao no permitem a compreenso de fraes do
territrio de forma isolada. Isso, contudo, no significa que o espao mundial seja homogneo, ao
contrrio, pois da que emergem as diferenas e o espao se torna ainda mais heterogneo.
Em O Espao Dividido, Os dois Circuitos de Economia Urbana dos Pases
Subdesenvolvidos, numa breve descrio das modernizaes, Santos indica que em cada
perodo histrico as regies polarizadoras funcionam como centro de disperso das
modernizaes, que, dispondo de energia potencial, impactam os subsistemas subordinados
fazendo com que estes entre no sistema global. Dessa forma, as mudanas nesses espaos
perifricos iro depender do primeiro momento de interveno das foras exgenas e dos
impactos futuros. Desse modo
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Todo espao conhece assim uma evoluo prpria, resultado de uma conjugao
de foras externas pertencentes a um sistema cujo centro se encontra nos pases-
plos e de foras j existentes nesse espao. Resulta da a diversidade das
condies de subdesenvolvimento e a originalidade das situaes para cada
lugar (SANTOS, 2008b, p. 32).
Assim a condio local sempre singular, posto que, apesar do impacto global a
combinao das variveis sempre especifica, pois depende dos arranjos preexistentes, de modo
que, ao se agregarem (o original e o novo) formam uma situao completamente distinta dos
outros lugares.
Nesse contexto, para Santos o espao no nem uma coisa, nem um sistema de coisas
[...] (1997b, p.26). Reconhecendo que a realidade algo essencialmente dinmico, adotar a
concepo de que o espao geogrfico uma coisa acarreta srios problemas epistemolgicos e
metodolgicos, pois, a coisa seria em pouco tempo transformada em outra coisa, e os
conceitos envelheceriam muito rapidamente. Desse modo, continua o autor, o espao [...] uma
realidade relacional: coisas e relaes juntas (SANTOS, 1997b, p. 26).
A propsito dessa problemtica, M. Santos submete o conceito de espao geogrfico a
uma completa releitura, tendo em vista a insuficincia das noes clssicas dessa categoria
central da Geografia, e elabora uma definio com base na historicidade supracitada analisando o
processo de evoluo humana que resultou no controle, s vezes passivo, dos processos da
natureza e na complexidade da sociedade atual. Assim, admite o autor, No comeo da histria
do homem, a configurao territorial simplesmente o conjunto dos complexos naturais (1997a,
p. 51). Acontece que, com o progresso das tcnicas, principalmente com o adentrar do atual
perodo tecnolgico, a natureza se torna cada vez mais humanizada, artificializada com
verdadeiras prteses, de modo que, a organizao do espao se caracteriza, sobretudo, por
construes humanas. Por isso Santos define espao geogrfico como
[...] um conjunto indissocivel, solidrio e tambm contraditrio de sistemas de
objetos e de sistemas de aes, no considerados isoladamente, mas como um
quadro nico no qual a histria se d. No comeo era a natureza selvagem,
formada por objetos naturais, que ao longo da histria vo sendo substitudo por
objetos fabricados, objetos tcnicos, mecanizados e, depois, cibernticos,
fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma mquina.
Atravs da presena desses objetos tcnicos: hidreltricas, fbricas, fazendas
modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espao
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marcado por esses acrscimos, que lhe do um contedo extremamente tcnico
(1997a, p. 51).
O espao geogrfico se torna, destarte, cada vez mais complexo caminhando num ritmo
de transformao acelerado e com ele as instncias sociais, econmicas e polticas que o contm
e so contidas. Faz-se ento importante apreender o modo como a sociedade age sobre esse
espao e vive-versa, ou seja, os aspectos concernentes produo do espao na ao recproca
entre os objetos e as aes humanas, se a pretenso for refletir sobre a redefinio de um mtodo,
como no presente ensaio.
Embora o espao se comporte, em termos concretos e conceituais, enquanto totalidade no
processo de anlise, na perspectiva metodolgica, No resta dvida que no se pode estudar o
todo pelo todo (SANTOS, 1985, p. 57), pois o todo se mostra dialeticamente divisvel. Torna-se
imperativo o conhecimento aprofundado das partes, pois a partir delas que se pode gerar a
conscincia do todo. Conforme Santos
O todo somente pode ser conhecido atravs do conhecimento das partes e as
partes somente podem ser conhecidas atravs do conhecimento do todo. Essas
duas verdades so, porm, parciais. Para alcanar a verdade total, necessrio
reconhecer o movimento conjunto do todo e das partes, atravs do processo de
totalizao (1997a, p. 96).
Isso porque O processo pelo qual o todo se torna um outro todo um processo de
desmanche, de fragmentao e de recomposio, um processo de anlise e sntese ao mesmo
tempo. Trata-se de um movimento pelo qual o nico se torna mltiplo e vice-versa (SANTOS,
1997a, p. 96).
Assim, a cada momento o todo refuncionaliza as partes e as partes refuncionalizadas
formam um outro todo. Acontece que a outra totalidade produzida no esttica, pois, quando
pronta, est novamente e simultaneamente sendo reproduzida atravs das partes; isso constituiria,
no dizer de Milton Santos, uma totalidade imperfeita, em constante processo de totalizao. Cada
nova totalidade age de maneira diferente sobre as partes. Com efeito, com o movimento da
totalidade as partes nunca sero as mesmas, e com a atuao das partes modificadas sobre o todo,
este tambm ser completamente diverso do que fora outrora.
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nessa perspectiva que, embasando-se em Karl Marx, Milton Santos defende o mtodo
de anlise e sntese como cientificamente correto (VALE, 2001, p.10). A anlise uma forma de
conhecimento acurado do espao atravs do estudo das partes que projetam o futuro da totalidade
espacial; por outro lado, a sntese permite entender o caminho percorrido, visto que o espao
busca constantemente totalizar-se.
Partindo da premissa que o espao geogrfico assim se comporta e evolui, a questo
encontrar as categorias adequadas que permitam perfazer esse caminho dialtico da reconstruo
do todo atravs das partes e tambm o inverso, isto , analisar para em seguida sintetizar. Nas
palavras do prprio M. Santos, O problema encontrar as categorias de anlise que nos
permitem o seu conhecimento sistemtico, isto , a possibilidade de propor uma anlise e uma
sntese cujos elementos constituintes sejam os mesmos (1997b, p. 25).
ANLISE E SNTESE: FORMA, FUNO, ESTRUTURA E PROCESSO
Compreender as relaes contraditrias que perpassam no espao o primeiro passo rumo
elaborao e compreenso de um mtodo, deveras, eficaz. Na busca por compreenso
consistente do espao Santos prope uma anlise partir das categorias forma, funo, estrutura e
processo. Segundo Santos apud Corra para uma melhor compreenso da organizao espacial e
sua evoluo quer dizer, a evoluo da totalidade social espacializada -, imperativo que se
interprete a relao dialtica entre estrutura, processo, funo e forma. Estas so as categorias de
anlise que permitem uma melhor compreenso da totalidade social e sua espacializao.
(CORRA, 1986).
Para ele a forma seria o aspecto visvel e exterior de cada objeto. Uma casa, por exemplo,
constituiria uma forma. Dela para um bairro ou uma cidade variaria apenas a escala,mas todas
constituiriam formas. J a funo implicaria numa tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado
pelo objeto criado. Assim, passa a possuir um aspecto exterior, tambm visvel, a forma, e
desempenha uma atividade, a funo (CORRA, 1986).
Estrutura, na perspectiva miltoniana, se relacionaria maneira como os objetos se
organizam. Como se relacionam entre si. Seria, ainda segundo Corra (1986), a natureza social e
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econmica de uma sociedade em um recorte de tempo. A estrutura espacial de um dado lugar o
resultado da interao de vrias estruturas que subsistem indissociavelmente, como nos lembra
Santos:
A estrutura espacial algo assim: uma combinao localizada de uma estrutura demogrfica especfica, de uma estrutura de produo especfica, de uma
estrutura de renda especfica, de uma estrutura de consumo especfica, de uma
estrutura de classes especfica e de um arranjo especfico de tcnicas produtivas
e organizativas utilizadas por aquelas estruturas e que definem as relaes entre
os recursos presentes (SANTOS, 1985, p. 17).
Para apreenso da realidade a geografia no pode se interessar mais pela forma das coisas
do que pela sua formao. Por isso, outro fator inerente ao estudo do espao o processo. Este
seria o constante devir social que constri, (re)constri e (des)constri as formas ao longo da
histria, uma ao que se realiza continuamente, visando um resultado qualquer, implicando
tempo e mudana. Em outras palavras uma espcie de estrutura em seu movimento de
transformao (CORRA, 1986). O processo dinmico, ou seja, processa e processado,
modifica e modificado, ao mesmo tempo resultado e condio da histria.
Desse modo, o estudo do processo se faz necessrio na medida em que se busca entender
a gestao das formas, o que impreterivelmente facilitar a compreenso das funes por elas
exercidas. Nesse sentido a histria se constitui numa ferramenta intimamente relacionada, onde
se evidencia a indissociabilidade espao/tempo, a qual preciso recorrer constantemente.
primeira vista o gegrafo pode ser induzido a estudar pura e simplesmente a forma.
Porm, no se pode a separar concreta e conceitualmente das demais categorias sob pena de no
se compreender a contento os diversos aspectos que compe o espao. Como nos afirma Santos:
Para se compreender o espao social em qualquer tempo, fundamental tomar
em conjunto a forma, a funo e a estrutura, como se tratasse de um conceito
nico. No se pode analisar o espao atravs de um s desses conceitos, ou
mesmo de uma combinao de dois deles. Se examinarmos apenas a forma e a
estrutura, eliminando a funo, perderemos a histria da totalidade espacial,
simplesmente porque a funo no se repete duas vezes. Separando estrutura e
funo, o passado e o presente so suprimidos, com o que a idia de
transformao nos escapa e as instituies se tornam incapazes de projetar-se no
futuro. Examinar forma e funo, sem a estrutura, deixa-nos a braos com uma
sociedade inteiramente esttica, destituda de qualquer impulso dominante.
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Como a estrutura dita a funo, seria absurdo tentar uma anlise sem esse
elemento (SANTOS, 1985, p. 56).
Assim, forma, funo, estrutura e processo, este ltimo sinnimo de tempo, quando
consideradas em conjunto impedem a compreenso superficial e descritiva dos fenmenos que
todo cientista deve evitar. Portanto, esse mtodo constitui uma base forte que auxilia o gegrafo
na leitura e interpretao da realidade.
CONSIDERAES FINAIS
Este trabalho procurou evidenciar a aplicabilidade concreta e conceitual das categorias
Miltonianas: forma, funo, estrutura e processo, enquanto mtodo de anlise para compreenso
da organizao scio-espacial, revelando as contradies do processo de globalizao, quando
consideradas indissociavelmente. Para tanto, foi necessrio recorrer aos principais fundamentos
dessa nova realidade geogrfica presenciada aproximadamente em meados do sculo passado,
visto que, analisar as caractersticas desse perodo histrico condio essencial para a
(re)definio de um mtodo que no fuja atualidade e sobreviva ao movimento. Como afirmou
Milton Santos o estudo da totalidade conduz a uma escolha de categorias analticas que devem
refletir o movimento real da totalidade (2007, p. 199).
Portanto, a contribuio Miltoniana, para o mtodo da geografia em tempos de
globalizao, impede que o gegrafo faa uma anlise descompassada da realidade em meio
complexidade gerada em virtude da instantaneidade e movimento do meio tcnico-cientfico-
informacional. Trata-se de um modelo eficaz para se detectar as principais contradies e poder
atuar no sentido de transformar uma realidade posta.
NOTAS:
1i Segundo Ruy Moreira (2007, p.27) a noo de historicidade, internalizada por Milton Santos no pensamento geogrfico no fim da dcada de 1970 com o lanamento do livro Por uma Geografia Nova: da crtica da geografia a uma geografia crtica, aparece
como conceito fundamental na interpretao do espao geogrfico, pois, a partir dele que se pode compreender que a sociedade seu espao geogrfico e vice-versa, o que permite entender a produo do espao enquanto objeto de estudo. Da resulta a
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importncia da periodizao na qual se evidencia a ntima relao entre espao e tempo, outro fator de extrema relevncia na
proposta terico-metodolgica de Milton Santos.
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