A ALTERIDADE INTRNSECA NA TEORIA MARXISTA: UM ESTUDO A
PARTIR DA OBRA O CAPITAL
Mrcia Alves de Carvalho Machado1
GT9 Polticas Pbicas e Gesto Socieducacional
Resumo:
Este trabalho parte do pressuposto que possvel reconhecer a alteridade como elemento
intrseco teoria marxista. Neste sentido, a pesquisa investigou a existncia de uma alteridade
nas teorias marxista, a partir da obra O Capital. A investigao foi desenvolvida em bases
tericas, com utilizao de pesquisa bibliogrfica. Inicialmente buscou-se compreender a noo
de alteridade, e depois evidenciar a partir da noo antropolgica e sociolgica deste objeto a
sua insero no pensamento marxista. Estas anlises possibilita concluir que a relao da
alteridade, existente no pensamento marxista, com o modo de produo capitalista que o
segundo leva a uma ausncia progressiva do primeiro, o que contribui para que o trabalhador
seja visto apenas como mercadoria, e no mais como um ser social.
Palavras-chave: Alteridade. Teoria Marxista. Modo de Produo Capitalista.
(Des)humanizao.
THE ALTERITY INTRINSIC IN MARXIST THEORY: A STUDY FROM THE
WORK "CAPITAL"
Abstract:
This paper assumes that it is possible to recognize otherness as an element intrinsic to Marxist
theory. In this sense, the research investigated the existence of an otherness in marxist theories,
from the work Capital. The research was developed on theoretical grounds, using literature.
Initially we sought to understand the notion of otherness, and then show from the
anthropological and sociological notion of this object to its inclusion in marxist thought. These
analyzes allow to conclude that the relationship of otherness, existing in marxist thought, with
the capitalist mode of production is the second leads to a progressive absence of the first, which
contributes to the worker to be seen only as a commodity, rather than as a social being.
Keywords: Otherness. Marxist Theory. Capitalist Mode of Production. (Des) humanization.
Introduo
A alteridade frequentemente objeto de investigao de vrias cincias,
entre elas a filosofia, a sociologia, a psicologia e a antropologia. Embora muitas vezes
este objeto esteja intrseco aos processos estudados por estas cincias, foi possvel aos
1 Mestranda em Educao da Universidade Tiradentes.
seus representantes fundamentar teorias a partir dos mtodos especficos a cada uma
delas.
A alteridade como objeto de estudo no comum a cincia econmica e
portanto torna-se um desafio buscar evidenciar este tema a partir das teorias deste
campo. Neste aspecto, toma-se como base para este estudo a teoria marxista, inscrita por
alguns estudiosos, como por exemplo Eric Robsbawm, no vis econmico e social.
Assim este trabalho parte do pressuposto que possvel reconhecer a
alteridade como elemento intrseco teoria marxista, especificamente na obra O
Capital. Mas um questionamento permeia a confirmao deste pressuposto, qual a
relao da alteridade, existente no pensamento marxista, e o modo de produo
capitalista?
Neste sentido, esta pesquisa buscou investigar a existncia de uma
alteridade nas teorias marxista, a partir da obra O Capital. A investigao foi
desenvolvida em bases tericas, com utilizao de pesquisa bibliogrfica.
Compreenso da noo de alteridade
Inicialmente preciso que se entenda a noo de alteridade, construda a
partir de diversos campos da cincia.
Etmologicamente, conforme o dicionrio Houaiss, o termo vem do latim
altaritas de meados do sculo IV e do francs altrit (1270) significando alterao e
mudana. Para filosofia representa a situao, estado ou qualidade que se constitui
atravs de relaes de contraste, distino e diferena, e adquiriu centralidade e
relevncia ontolgica na filosofia moderna atravs do hegelianismo e na
contemporaneidade no ps-estruturalismo. No sculo XX representa a natureza ou
condio do que outro, do que distinto (HOUAISS ON-LINE, 2013).
Em estudo sobre a construo da noo de alteridade, Molar (2008) afirma
que a noo de alteridade recebeu vieses distintos, inclusive, quanto a sua etimologia,
assim, para a psicologia conforme o Dicionrio de Psicologia (1973, p.75) entende-se
como o conceito que o indivduo tem segundo o qual os outros seres so distintos dele.
Contrrio a ego; para a filosofia segundo Abbagnano (1998, p. 34-35): do latim
alteritas. Ser outro, colocar-se ou constituir-se como outro (MOLAR 2008).
Para a antropologia a alteridade, origina-se tambm do latim alteritas: ser o
Outro, representa a perceo e aceitao dos valores do Outro, a qualidade do que o
Outro, nessa concepo a existncia do homem social s possvel mediante o contato
com o Outro.
Na sociologia a alteridade entendida a partir da oposio com a identidade,
assim, no que se refere as relaes estabelecidas entre os individuos, a identidade refere-
se as relaes entre membros de uma mesma cultura, e a alteridade, a relao entre
membros de culturas diferentes.
Karl Marx, estudou direito em Bonn e Berlim, no sculo XIX. Sua tese de
doutorado foi na rea de Filosofia, no qual comparou as opinies de Demcrito e
Epicuro. No conseguindo conquistar um trabalho acadmico ao final de seu
doutoramento, em 1841, devido sua posio como membro de um grupo radical de
pensadores, ele torna-se jornalista e rapidamente se v envolvido em questes polticas
e sociais, o que lhe aproxima da teoria comunista (STANFORT, 2013). Revolucionrio,
socilogo, historiador e economista, publicou (com Friedrich Engels) Manifest der
Kommunistischen Partei, em 1848, comumente conhecido como O Manifesto
Comunista , o panfleto mais clebre na histria do movimento socialista. Ele tambm
foi o autor do livro mais importante do movimento, Das Kapital (O Capital). Estes e
outros escritos de Marx e Engels, formam a base do corpo de pensamento e da crena
conhecida como marxismo (GLOBAL BRITANNICA, 2013).
pois com base na obra O Capital que este estudo buscou evidenciar a
existncia de uma alteridade inscrita no pensamento marxista.
A alteridade no pensamento marxista
Como mencionado anteriormente, a teoria marxista inscreve-se nos campos
econmico e social, embora tenha confirmada sua relevncia tambm em outras reas,
como na histria e na filosofia.
Ao analisar o pensamento marxista, Robsbawm (1996, p. 15), considera a
dificuldade dessa anlise, uma vez que esta transcorre num nvel elevado de
generalizao, ou seja, em termos altamente abstratos. Para Robsbawm, Marx
preocupa-se:
[...] em estabelecer o mecanismo geral de todas as transformaes
sociais: isto a formao das relaes sociais de produo que
correspondem a um estgio definido de desenvolvimento das foras
produtivas materiais; o desenvolvimento peridico de conflitos entre
as foras produtivas e as relaes de produo; as "pocas de
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revoluo social" em que as relaes de produo se ajustam
novamente ao nvel das foras produtivas. Esta anlise geral no
implica nenhuma formulao sobre perodos histricos especficos
nem sobre relaes de produo e foras produtivas concretas
(HOBSBAWM in MARX, 1996).
Este exerccio anlitico de Marx encontra-se ancorado numa base
humanista. Hobsbawm (1996), entende que a base objetiva do humanismo de Marx e,
simultaneamente, de sua teoria da evoluo social e econmica a anlise do homem
como um animal social.
Para o alcance do objetivo aqui traado ser utilizada o entendimento de
alteridade a partir da antropologia, no qual a existncia do homem social s possvel
mediante o contato com o Outro, e da sociologia na qual a alteridade entendida a partir
da oposio com a identidade, sendo a identidade entendida a partir das relaes entre
membros de uma mesma cultura, e a alteridade, das relaes entre membros de culturas
diferentes.
Esta escolha tambm est amparada na ideia de que, mesmo O Capital
sendo uma obra de Economia Poltica, do ponto de vista antropolgico:
[...] sobreleva a relao do homem com a natureza por meio do
trabalho e a humanizao sob o aspecto de autocriao do homem no
processo de transformao da natureza pelo trabalho. As mudanas
nas formas de trabalho constituem os indicadores bsicos da mudana
das relaes de produo e das formas sociais em geral do intercurso
humano. O trabalho , portanto, o fundamento antropolgico das
relaes econmicas e sociais em geral. Ou seja, em resumo, o que
Marx prope a Antropologia do homo faber (MA