UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTOCENTRO PEDAGGICO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
MARIA DA PENHA FONSECA
A ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ARTSTICAS ESUAS CONTRIBUIES PARA UM PROCESSO
EDUCATIVO EM ARTE.
VITRIA2007
http://www.pdfdesk.comMARIA DA PENHA FONSECA
A ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ARTSTICAS ESUAS CONTRIBUIES PARA UM PROCESSO
EDUCATIVO EM ARTE.
Dissertao apresentada ao Programa dePs-graduao em Educao do CentroPedaggico da Universidade Federal doEsprito Santo, como requisito parcial paraobteno do grau de Mestre em Educao,na rea de Educao e Linguagem noverbal.Orientadora: Prof Dr Moema MartinsRebouas.
VITRIA2007
http://www.pdfdesk.comF676a Fonseca, Maria da Penha.Arte Contempornea: instalaes artsticas e suas contribuies para umprocesso educativo em arte / Maria da Penha Fonseca 2007165 f.
Orientador: Moema Martins RebouasDissertao (mestrado) Universidade Federal do Esprito Santo, CentroPedaggico.
1. Educao. 2. Arte-Educao. I Rebouas, Moema Martins. IIUniversidade Federal do Esprito Santo. Centro Pedaggico. III.Ttulo.
CDD700.1
http://www.pdfdesk.comMARIA DA PENHA FONSECA
A ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ARTSTICAS ESUAS CONTRIBUIES PARA UM PROCESSO
EDUCATIVO EM ARTE.
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao do CentroPedaggico da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial paraobteno do grau de Mestre em Educao na rea de Educao e Linguagem noverbal.
Aprovada em 12 de novembro de 2007.
COMISSO EXAMINADORA
_____________________________________________Prof Dr. Moema Martins RebouasUniversidade Federal do Esprito SantoOrientadora
_____________________________________________Prof Dr. Anamelia Bueno BuoroFaculdade de Comunicao e Arte Senac/SPFaculdade de Moda Senac/SPCurso Superior de Formao de Professores Singularidades/SP
_____________________________________________Prof Dr. Maria Auxiliadora CorassaUniversidade Federal do Esprito Santo
_____________________________________________Prof. Dr. Csar ColaUniversidade Federal do Esprito Santo
http://www.pdfdesk.comA Carlos, Bruno e Cristiano, razo de minha vida.Meus pais Elson (in memorian) e Elza, que me deram a vida.Meus familiares, aos profissionais do Colgio Marista e amigos quecompreenderam minhas ausncias.Aos Arte Educadores da Rede Municipal de Ensino - Vila Velha,ES.A Equipe do Museu Ferrovirio Vale do Rio Doce.E especialmente prof Dra. Moema Rebouas, minha orientadoraa quem agradeo o companheirismo, a ajuda e as trocas.
http://www.pdfdesk.comA grandeza de uma obra de arte estfundamentalmente no seu carter ambguo, quedeixa ao espectador decidir sobre o seu significado.
Theodor Adorno
http://www.pdfdesk.comRESUMO
A pesquisa busca analisar como se configura o saber, fazer e refletir, desenvolvidos
por um grupo de professores de Arte, que participam dos encontros de formao
continuada por rea, na Rede Municipal de Educao e Ensino de Vila Velha, a
partir da insero da arte contempornea no processo educativo: as instalaes
artsticas como fonte para a produo e socializao do conhecimento artstico; das
instalaes como expresso artstica e como proposta educativa que deve ser
submetida a uma escolha e anlise por parte do professor; da semitica discursiva
como proposta metodolgica para leitura do texto imagtico, com estratgias
descritivas que possibilitam a construo do sentido do texto no ato de sua anlise.
Autores diversos - tericos da Educao, da Arte-Educao, da Filosofia da Arte, da
Linguagem entre outros - ajudaram a construir os conceitos e conhecimentos
necessrios pesquisa. A realizao de uma oficina-pedaggica para a
contextualizao da arte contempornea, a visitao Exposio Babel, do artista
carioca Cildo Meireles e a realizao de um workshop no Museu Ferrovirio Vale do
Rio Doce durante a exposio foram os recursos metodolgicos de coleta e anlise
de dados. Conclumos que a explorao de uma abordagem discursiva, por meio do
princpio esttico-expressivo das instalaes artsticas, poder contribuir para uma
experincia de ensino-aprendizagem que possibilite o fazer, o apreciar e o refletir a
produo social e cultural da arte por meio do sensvel, contextualizando os objetos
artsticos e seus contedos. Para que tal abordagem se concretize fundamental
que o professor esteja em estado de busca constante de pesquisa, de estudo e de
produo reflexiva, de modo que possa garantir um contedo atualizado em relao
cultura e educao para aqueles a quem ele educa.
PALAVRAS-CHAVES: Formao de professores. Arte Contempornea.Instalao Artstica. Semitica Discursiva.
http://www.pdfdesk.comABSTRACT
This research search to analyze as the knowledge is configured, the practice and the
reflecting developed by a group of Art teachers that were part of meetings on
continuous study in Rede Municipal de Educao e Ensino de Vila Velha, starting
from the insertion of Contemporaneous Art in the educational process: artistic
installations as a source for production and socialization of artistic knowledge;
installations as artistic expressions and as educational proposal that must be
submitted to a choice and to an analyzes by a teacher; about discursive semiotics as
a methodological proposal for reading an imagetic text, with descriptive strategies
that allow the building of sense in the text during its analysis. Several authors
theoretitians in Education, Art-Education, Philosophy of Art and Language among
others have helped us build concepts and knowledge necessary to our research.
Having a pedagogical workshop to contextualize Contemporaneous Art, visiting
Babel art exhibit, by Cildo Meireles from Rio de Janeiro, and having a workshop in
Museu Ferrovirio Vale do Rio Doce during the exhibit were methodological sources
to collect and analyze data.
We realize that exploring a discursive approach, through the aesthetic-expressive
principle of the artistic installations may contribute to an experience on learning-
teaching that allows the practice, the appreciation and the reflection on the social and
cultural production of art through the sensitive, contextualizing the objects of art and
its contents. In order to make that approach possible it is fundamental that the
teacher is in a state of constant search and research, study and reflective production,
in a way that he may guarantee a current content related to culture, education and
the ones he teaches.
KEY WORDS: Teacher continuous study. Contemporaneous Art. Artistic Installation.
Discursive Semiotics.
http://www.pdfdesk.comLISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1 Natureza-morta .......................................................................... 15
Fotografia 2 Ventilador ................................................................................... 15
Fotografia 3 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 16
Fotografia 4 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 16
Fotografia 5 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17
Fotografia 6 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17
Fotografia 7 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17
Fotografia 8 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17
Fotografia 9 Projeto Cpsula do Tempo ........................................................ 18
Fotografia 10 Alunas confeccionando arranjos de flores com garrafa PET ..... 21
Fotografia 11 Alunas montando a Instalao Arte e Meio Ambiente ............... 21
Fotografia 12 Visita a Exposio/Alunos da EI................................................. 22
Fotografia 13 Visita a Exposio/Alunos da EI................................................. 22
Fotografia 14 Alunos na Instalao Arte e Meio Ambiente .............................. 22
Fotografia 15 Avaliao da produo plstica ................................................. 22
Fotografia 16 Blide Cara de Cavalo, de HO.................................................... 46
Fotografia 17 Detalhe do Blide Cara de Cavalo, de HO ................................ 46
Fotografia 18 Hlio Oiticica e a obra Blide Cara de Cavalo ........................... 46
Fotografia 19 ltima Ceia, de Leonardo da Vinci (1495 1498) ..................... 61
Fotografia 20 Santa Ceia, de Nelson Leirner (1990) ....................................... 62
Fotografia 21 Homem rolando fumo, de Almeida Jnior ................................. 75
Fotografia 22 O Mamoeiro, de Tarsila do Amaral ............................................ 76
Fotografia 23 Caixa de Baratas, de Lygia Pape .............................................. 80
Fotografia 24 Os Bichos, de Lygia Clark .......................................................... 82
Fotografia 25 Parangols, de Hlio Oiticica ..................................................... 83
Fotografia 26 Parangols, de Hlio Oiticica ..................................................... 83
Fotografia 27 Parangols, de Hlio Oiticica ..................................................... 83
Fotografia 28 Parla, de Cildo Meireles ............................................................. 86
Fotografia 29 Tropiclia, de Hlio Oiticica ....................................................... 88
Fotografia 30 Penetrveis PN2 e PN3, de Hlio Oiticica ................................. 88
Fotografia 31 Desvio para o vermelho, de Cildo Meireles ............................... 89
http://www.pdfdesk.comFotografia 32 Sala dos espelhos, de Ken Lum ................................................ 90
Fotografia 33 a, e, i, o, u, de Miroslaw Balka ................................................. 91
Fotografia 34 a, e, i, o, u, de Miroslaw Balka ................................................. 91
Fotografia 35 True Rouge, de Tunga (1998) ................................................... 93
Fotografia 36 Prdio do Museu Vale do Rio Doce ......................... 99
Fotografia 37 Locomotiva (1945) MVRD .................................................... 100
Fotografia 38 Montagem da obra Torre de Babel, no MVRD ........................ 108
Fotografia 39 Inseres em Circuitos Ideolgicos, de Cildo Meireles ............. 111
Fotografia 40 Inseres em Circuitos Ideolgicos, de Cildo Meireles ............. 111
Fotografia 41 Inseres em Circuitos Ideolgicos, de Cildo Meireles ............. 111
Fotografia 42 Espaos Virtuais, de Cildo Meireles .......................................... 112
Fotografia 43 Documenta 11 Alemanha ....................................................... 113
Fotografia 44 Elemento em vias de desaparecimento, de Cildo Meireles ....... 113
Fotografia 45 Noite de Vernissage - Torre de Babel, de Cildo Meireles .......... 115
Fotografia 46 Noite de Vernissage Marulho, de Cildo Meireles .................... 115
Fotografia 47 Noite de Vernissage - Cildo Meireles e Penha Fonseca ........... 115
Fotografia 48 Malhas da Liberdade, de Cildo Meireles ................................... 119
Fotografia 49 Torre de Babel, de Cildo Meireles ............................................. 122
Fotografia 50 Professora apreciando a obra Torre de Babel .......................... 122
Fotografia 51 Glover Trotter, de Cildo Meireles ............................................... 126
Fotografia 52 Professoras apreciando a obra Glover Trotter ........................... 126
Fotografia 53 Professoras apreciando a obra Marulhos .................................. 128
Fotografia 54 Professoras apreciando a obra Marulhos .................................. 128
Fotografia 55 Professoras no Workshop MVRD ... 132
Fotografia 56 Professoras no Workshop MVRD ... 132
Fotografia 57 Professoras no Workshop MVRD ... 133
Fotografia 58 Caixas produzidas no Workshop MVRD ............................ 134
Fotografia 59 Produo de alunos / relato de experincia .............................. 137
Fotografia 60 Produo de alunos / relato de experincia .............................. 137
Fotografia 61 Produo de alunos / relato de experincia ............................... 137
Fotografia 62 Produo de alunos / relato de experincia ............................... 138
http://www.pdfdesk.comLISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Pesquisas desenvolvidas no PPGE Grande Vitria ................... 67
Grfico 2 Questionrios Respondidos ........................... ............................... 69
Grfico 3 Tempo de Formao na rea ......................................................... 70
Grfico 4 - Mantm-se informado sobre as manifestaes artsticas cont. ...... 71
Grfico 5 Gosta de arte contempornea? ..................................................... 71
Grfico 6 Freqenta espaos artsticos culturais? ......................................... 72
Grfico 7 Preferncias artsticas na Arte Contempornea ........................... 72
Grfico 8 J visitou Exposies com Instalaes Artsticas ......................... 73
Grfico 9 Utiliza Arte Contempornea em projetos na escola ...................... 73
http://www.pdfdesk.comLISTA DE SIGLAS
CACI Centro de Arte Contempornea de Inhotim
CEB - Cmara de Educao Bsica
CNE - Conselho Nacional de Educao
EFVM - Estrada de Ferro Vitria a Minas
FAEB - Federao de Arte Educadores do Brasil
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
MAM-RIO Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
MEC/SEF Ministrio da Educao e Cultura
MFVRD Museu Ferrovirio Vale do Rio Doce
MOMA Museu de Arte Moderna de Nova York
PCNs - Parmetros Curriculares Nacionais
PPPP Projeto Poltico Pastoral Pedaggico
PUC-RJ Pontifcia Universitria Catlica do Rio de Janeiro
PUC-SP Pontifcia Universitria Catlica de So Paulo
UFES Universidade Federal do Esprito Santo
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
http://www.pdfdesk.comSUMRIO
TEMPOS E ESPAOS RE-ENCONTRADOS ............................................... 141 DELIMITANDO A PROBLEMTICA E DEFININDO OBJETIVOS............. 261.1 O ENSINO DA ARTE E SUA PRTICA EDUCATIVA ............................. 271.1.1 Da Legislao e da Prtica ................................................................... 271.1.2 Arte e Conhecimento ........................................................................... 311.2 OBJETIVOS .............................................................................................. 331.2.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 331.2.2 Objetivos Especficos .......................................................................... 332 REFERENCIAL TERICO .......................................................................... 342.1 ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ............................................. 342.1.1 Contextualizando a Arte Contempornea ............................................ 352.2 A CENA CONTEMPORNEA NAS DIFERENTES LINGUAGENS............ 422.2.1 As Linguagens Artsticas Contemporneas ........................................ 432.2.2 Produo Cultural na Contemporaneidade ....................................... 442.3 A EXPERIENCIA ESTTICA COM A ARTE CONTEMPORNEA ......... 472.4 PRESENA DA ARTE NA EDUCAO ................................................... 502.5 SEMITICA, TEXTO E DISCURSO ......................................................... 542.6 INTERTEXTUALIDADE E CONTRATOS COMUNICACIONAIS .............. 593 A EXPERINCIA ESTTICA NA ARTE CONTEMPORNEA ................... 663.1 OS SUJEITOS DA PESQUISA .................................................................. 673.2 FORMAO PEDAGGICA .................................................................... 683.2.1 Inscries e Coleta de Dados .............................................................. 693.2.1.1 Coleta dos dados dos questionrios ................................................... 703.2.2 Oficina: Arte Contempornea Instalaes Artsticas .................... 743.2.2.1 Da arte Acadmica Arte Contempornea 753.2.2.2 Instalaes artsticas ........................................................................... 874 O ESPAO E A OBRA DE ARTE CONTEMPORNEA ............................ 994.1 O MUSEU VALE DO RIO DOCE ................................................................. 994.1.1 Memria Ferroviria ............................................................................. 1004.1.2 Cultura .................................................................................................. 1014.1.3 Educao .............................................................................................. 1044.2 CILDO MEIRELES E SUA POTICA ESTTICA ...................................... 107
http://www.pdfdesk.com4.2.1 A Produo Artstica de Cildo Meireles .............................................. 1104.2.1.1 Inseres em Circuitos Ideolgicos ..................................................... 1114.2.1.2 Espaos Virtuais .................................................................................. 1114.2.1.3 Elemento em vias de desaparecimento .............................................. 1124.2.2 Exposio Babel ................................................................................... 1144.2.3 Visitao a Exposio Babel, de Cildo Meireles ................................ 1174.2.3.1 Malhas da Liberdade ........................................................................... 1194.2.3.2 Torre de Babel ..................................................................................... 1214.2.3.3 Glover Trotter ....................................................................................... 1254.2.3.4 Marulhos .............................................................................................. 1274.2.4 Workshop............................................................................................. 1304.2.5 Relato de Experincia ........................................................................... 1364.2.5.1 Relato: Satlites Coloridos ................................................................... 1365 CONSIDERAES FINAIS.......................................................................... 141REFERNCIAS................................................................................................ 147ANEXOS .......................................................................................................... 153
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TEMPOS E ESPAOS RE-ENCONTRADOS
Esta pesquisa nasceu ao retornar um olhar para a prtica pedaggica em sala de
aula, como professora de Arte, no Colgio Marista Nossa Senhora da Penha, em
Vila Velha / ES. Desde 1995, venho compartilhando e vivenciando as modificaes
do ensino da arte, no universo escolar do qual fao parte e me vejo como uma
apaixonada pela arte contempornea, acreditando que por meio dela existem
possibilidades infinitas de desenvolver projetos interdisciplinares (envolvendo outras
disciplinas de forma integrada), transdisciplinares (utilizando teorias, conceitos e
instrumentos de outras reas de conhecimento) e transversais (temas integrados na
Educao para a cidadania: tica, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Sade,
Educao Sexual, Trabalho e Consumo), desenvolvendo com o aluno a capacidade
criadora e reflexiva, assim como o olhar crtico sobre a forma como o homem se
integra ao mundo natural.
Ao rever esse percurso pedaggico, foram resgatados alguns trabalhos
desenvolvidos, conforme se segue:
O Projeto Fotografando e Desenhando o Espao Escolar partiu do estudo da
imagem fotogrfica com os alunos da 4 srie do Ensino Fundamental, marcando o
incio do interesse pela arte contempornea. Tal proposta surgiu aps assistir a uma
palestra com a professora Lucimar Bello, no Seminrio Capixaba sobre o Ensino de
Arte Centro de Artes / UFES, oportunidade em que a mesma relatou uma
experincia realizada em Uberlndia, MG, na qual convidava, em tardes de domingo,
os transeuntes do Parque Municipal a recolherem materiais que encontrassem soltos
na praa (folhas, galhos, latas e/ou outros objetos encontrados). Ao retornarem,
esses materiais, eram transformados em objetos plsticos, provocando assim na
comunidade uma sensibilizao pela arte.
Aps relatar aos alunos a experincia vivida pela professora e artista, propus a
realizao de desenhos com materiais recolhidos no espao escolar, os quais
seriam fotografados.
Num primeiro momento samos pelo colgio recolhendo materiais encontrados
cados no cho (folhas, latas de refrigerante, flores, guardanapos de lanche, pacote
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de biscoito). Feito o desenho, tudo foi fotografado. O resultado foi muito variado e,
dependendo do horrio, antes ou aps o recreio, os materiais eram diferentes.
Aproveitamos a oportunidade para conversar de que forma tal comportamento (uso
inadequado das lixeiras) pode prejudicar o Meio Ambiente, ressaltando que esse
no um espao distante, mas sim o ambiente no qual vivemos. Portanto, ao
destru-lo, prejudicamos a ns mesmos, por sermos parte desse meio, fazermos
parte do planeta Terra e termos responsabilidades sobre ele.
No segundo momento, j com as fotografias reveladas, efetuamos a apreciao das
imagens. No era uma fotografia tal qual eles estavam acostumados a observar,
como a de pessoas, de paisagens, de comemoraes e outras, mas uma fotografia
em que os elementos, por serem inusitados, apresentavam-se como uma nova
linguagem com objetos que desenhavam linhas, formas, texturas, algo como nunca
tinham pensado antes. Aps a reflexo do processo da produo fotogrfica, os
alunos escolheram ttulos para as mesmas, registraram relatos e num terceiro
momento realizamos a exposio fotogrfica, a fim de partilhar com a comunidade
escolar as imagens produzidas pelas turmas de 4 srie.
As fotografias 1 e 2 so exemplos dessa produo.
Fotografia 1: Natureza-morta Fotografia 2: VentiladorFonte: Fotos pelo autor Fonte: Fotos pelo autor
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O Projeto: Carnaval do Ecolixo foi uma proposta transdisciplinar com o objetivo de
reduzir, reutilizar, recuperar, reciclar e repensar o lixo, contribuindo no apenas para
a formao de uma conscincia ecolgica, mas tambm visando tratar de questes
mais amplas como a Ecologia Integral.
Nas aulas que antecederam ao Carnaval, conversamos sobre a questo do
consumo consciente e o lixo que se produz no dia-a-dia. A proposta envolveu
vrias linguagens e abrangeu diferentes reas de conhecimento, ficando a cargo das
Artes Visuais a criao (desenho e confeco) de fantasias com materiais reciclveis
e reutilizveis, utilizando-se sucatas e materiais diversos; das Artes Musicais, a
composio de pardias dos Sambas enredos, enfatizando a problemtica do Meio
Ambiente; e em Ingls e Educao Fsica a elaborao das coreografias.
Esse evento acontece h sete anos no interior do Colgio. Os pais so convidados
para assistirem e/ou participarem. O tema : Ecologia Integral: Voc. Os outros. A
cidade. A natureza. Tudo importa.
As fotografias de 3 a 8 expem o resultado do trabalho desenvolvido pelos alunos.
Fotografias 3 e 4: Fantasias produzidas com materiais reciclveis e reutilizveis.Fonte: Fotos pelo autor
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Fotografias 5 a 8: Fantasias produzidas com materiais reciclveis e reutilizveis.Fonte: Fotos pelo autor
Na passagem do milnio, desenvolvemos uma proposta a qual denominamos A
Cpsula do Tempo, uma escultura confeccionada pelas turmas da 4 srie,
utilizando uma caixa de madeira, com um metro quadrado, fixada em forma de
desequilbrio sobre um suporte do mesmo material. A finalidade da construo dessa
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escultura foi a de depositar as metas traadas para a entrada do novo sculo pelos
alunos da Educao Infantil ao Ensino Mdio. Tais metas foram apresentadas em
forma de desenhos ou textos verbais, registrando as expectativas dos alunos em
relao a esse momento e foram guardadas dentro da escultura, separadas por
turmas, em envelopes ou caixas. A Cpsula do Tempo foi lacrada e colocada na
recepo central do Colgio, onde permaneceu at o fim do ano. Essa escultura fez
parte do Projeto Preservar Preciso, com o objetivo de conscientizao da
importncia de preservar-se o meio e de nos colocar como construtores da histria,
considerando que esse perodo foi exatamente a virada do milnio. Ao final do ano
letivo, a Cpsula do Tempo foi aberta e os envelopes devolvidos aos alunos para
fazerem uma anlise e reflexo do que havia sido proposto no incio do ano, suas
conquistas e/ou frustraes.
Fotografia 9: Escultura Cpsula do TempoFonte: A Tribuna - Vitria-ES, em 04 de maio de 2001
O Projeto Arte e Meio Ambiente marcou o interesse da turma em pesquisar sobre a
Arte Contempornea, tornando-se mais latente ainda em 2004, a partir do
desenvolvimento de uma proposta transdisciplinar, envolvendo as disciplinas de Arte
(Artes Visuais e Msica) e Educao Fsica, com alunos do Ensino Fundamental - 1
[...] A cpsula foi construda pelas turmas de 4 srie doEnsino Fundamental. Com criatividade, as crianasrevestiram uma caixa de madeira com vrios tipos dematerial reciclado, como tampinhas de garrafa, rolos depapel higinico, jornal, plstico, rolhas, barbantes.A professora de Arte Maria da Penha Fonseca disse queos alunos ficaram entusiasmados com a idia deconstrurem uma cpsula do tempo.Quando comearam a ver o efeito que estavam criandocom os materiais, as cores, as texturas, eles seempolgaram com o trabalho. Muitas crianas at ficaramna sala de Arte na hora do recreio porque no queriamparar de fazer a caixa (A TRIBUNA - VITRIA-ES -Sexta-feira - 04/05/2001).
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4 srie, tendo como temtica: Arte e Meio Ambiente. Como contedo na disciplina
Arte, procurou-se contemplar a Esttica e Crtica da Arte, A Funo da Arte, Histria
da Arte no Brasil: Arte Contempornea: Objeto e Instalao1, seguindo orientaes
do Projeto Poltico Pastoral Pedaggico (PPPP).
Nas aulas de Artes Visuais, antes de apresentarmos algumas imagens e o conceito
de Instalaes Artsticas2, iniciamos o estudo com as Construes e Objetos3
tridimensionais, produzidas por Pablo Picasso, Menina pulando corda e Cabea de
Touro, por j ser um artista trabalhado anteriormente no incio do ano letivo; e de
Marcel Duchamp, Roda de Bicicleta.
Durante as apreciaes das obras xerocadas em transparncia e ampliadas em
retroprojetor, demos nfase ao processo criativo dos artistas que fizeram uso de
materiais prontos e j existentes, fazendo a apropriao / transformao em objeto
artstico.
Buscamos conhecer um pouco da vida dos artistas Picasso e Marcel Duchamp. Em
Picasso enfatizamos as pesquisas e proposies para a produo artstica com a
apropriao de materiais extra-artsticos, tais como: objetos de cozinha; restos de
madeira; pedaos de jornais e sucatas diversas reagrupando-os em esculturas e
objetos. Sua participao destaca-se em diversos movimentos da arte moderna e no
movimento cubista4. E em Duchamp, a apropriao e uso de objetos j prontos,
usados no dia-a-dia, transformados em obras de arte os ready-made, que em
portugus quer dizer j prontos.
Consideramos a importncia do conhecimento de fatos e aes que contribuem com
a obra do artista e nela esto presentes, tais como: o contexto da poca em que elas
foram produzidas; os fatores que os motivaram para a busca de novas formas de
expresso artstica e a contribuio para uma compreenso da obra apreciada.
1 Tpicos que norteiam o Ensino da Arte no PPPP MARISTA- volume 6.2 As instalaes so construdas como ambientes cenogrficos, geralmente fechados, que possuemdiversas formas de expresso artstica em conjunto com os cinco sentidos humanos. Seu objetivoprincipal o de envolver o espectador atravs da interatividade direta e completa.3 Tipo de escultura em que so utilizados elementos colados, soldados ou amarrados. Podem serformadas de um mesmo material ou de materiais variados.4 Cubismo O cubismo um movimento esttico que ocorreu entre 1907 e 1914, tendo comoprincipais fundadores Pablo Picasso e Georges Braque. O cubismo tratava as formas da natureza pormeio de figuras geomtricas, representando todas as partes de um objeto no mesmo plano.
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Ressaltamos, entretanto, que s vezes declina-se a relatar dados biogrficos ou
fofocas ntimas dos artistas que em nada auxiliam para o estudo das obras.
As produes foram realizadas coletivamente, utilizando-se sucatas diversas, como
tampinhas, copos de iogurte, bandejas de isopor, latinhas de refrigerante, caixas de
sapatos e outros objetos descartveis, resultando numa variedade de peas
consideradas tanto como elementos plsticos quanto elementos ldicos.
Constatamos que, trabalhando o projeto e a montagem da construo de uma
escultura ou de um objeto, os alunos percebem a profundidade, a sobreposio, a
incidncia de luz e os diferentes materiais que compem um objeto tridimensional.
Consideramos gratificante o envolvimento deles, visto que trouxeram materiais de
casa e buscaram informaes na biblioteca, revistas e sites, enriquecendo as idias
iniciais, que lhes proporcionou a construo de conhecimentos, assim como o
trabalho coletivo.
Ao final da proposta, realizamos a avaliao do projeto e os alunos apontaram como
pontos positivos: a integrao de idias, a partilha de materiais, o raciocnio para a
elaborao, o trabalho em grupo e o fato de criarem algo novo com o j existente e
considerado por muitos como lixo.
A partir dos conhecimentos adquiridos sobre Objetos e Construes, os alunos
quiseram saber mais sobre Instalaes, pois ao pesquisarem haviam encontrado
imagens em revistas, jornais, catlogos e outros materiais impressos. Alguns alunos
comentaram que ao perguntarem aos pais sobre o tema, receberam como resposta
que sabiam o que era uma instalao eltrica ou hidrulica, mas artstica no. O que
eles acharam muito engraado, uma palavra com mais de um sentido e o
desconhecimento dos pais sobre a linguagem artstica.
As imagens de obras artsticas, encontradas pelos alunos eram de diferentes
artistas: Alexander Calder, Hlio Oiticica, Cildo Meireles, Lygia Clark e Siron Franco.
Com essas imagens e reportagens organizamos um painel informativo, deixando um
espao em aberto: aprendendo mais... para acrescentarem novas informaes.
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Aps analisarmos as informaes e imagens, alguns alunos concluram que as
Instalaes possuem criticidade, podendo estar relacionadas a alguns problemas
sociais, econmicos, ambientais, estticos, ticos e outros.
Com a pesquisa, surgiu ento a proposta de fazermos a Instalao: ARTE e Meio
Ambiente, utilizando como suporte as garrafas PET5, material esse que havia
sobrado do trabalho anterior. Tal escolha deu-se ao fato de os alunos j terem
estudado e identificado o material altamente poluente. O mesmo ao ser jogado ao
meio ambiente leva por volta de 400 anos para se decompor, e devido ao alto
consumo de refrigerantes em suas famlias, questionaram sobre o que poderia
acontecer aps dez anos, se todos os dias forem lanadas em grande quantidade no
meio ambiente. Outro dado levantado foi que no municpio de Vila Velha no existe
recolhimento seletivo de lixo, nem tampouco uma usina de seleo de lixo ou
indstrias de reciclagem. Sabe-se, tambm, que o consumo de bebidas que utilizam
esse tipo de embalagem relativamente grande. Tais questes e reflexes sobre o
tema enriqueceram o desenvolvimento da produo plstica.
Durante todo o ms de maio, as garrafas PET foram transformadas em arranjos de
flores, e no dia cinco de junho, um sbado, culminou na Instalao Arte e Meio
Ambiente, em comemorao ao Dia do Meio Ambiente, conforme fotografias 10 e 11
Fotografia 10: Confeco de arranjos de flores Fotografia 11: Montagem da Instalao ArtsticaFonte: Foto pelo autor Fonte: Foto pelo autor
5 PET ou Poli Tereftalato de Etila, um polister, polmero termoplstico ou plstico, desenvolvidopor dois qumicos britnicos Whinfield e Dickson em 1941, formado pela reao entre o cidotereftlico e o etileno glicol, formando um polister. Utiliza-se principalmente na forma de fibras paratecelagem e de embalagens para bebidas. Disponvel em: . Acessoem: 25 jul. 2007.
http://pt.wikipedia.org/wiki/PET>.http://www.pdfdesk.com22
A montagem foi nos corredores do Colgio formando um enorme tapete. Utilizaram
tambm papis de bala, embalagens de sucos, biscoitos e outros elementos
recolhidos durante a semana no ptio do recreio, pela rea de Educao Fsica e
penduraram-se, nas laterais e tetos, mbiles sonoros feitos tambm com sucatas
diversas.
As fotografias 12 e 13 mostram os alunos da Educao Infantil visitando o trabalho
de arte e conversando sobre a exposio.
Fotografia 12: Visita a Exposio/Alunos da EI Fotografia 13: Visita a Exposio/Alunos da EIFonte: Foto pelo autor Foto pelo autor
Ao ser concluda toda a montagem da Instalao, realizamos a apreciao e a
reflexo com os alunos participantes, buscando relacionar conceitos de belo e feio,
por meio de sensaes como agradvel (belo) e desagradvel (feio) e ainda o que
queremos perto de nossa casa e o que mandamos para perto da casa de outros.
Refletimos sobre os menos favorecidos e os mais favorecidos e qual a postura que
devemos ter em relao ao meio ambiente. As fotografias 14 e 15 retratam a
participao dos alunos e professores na reflexo sobre a atividade desenvolvida.
Fotografia 14: Alunos na Instalao Fotografia 15: Avaliao da produo plsticaFonte: Foto pelo autor Fonte: Foto pelo autor
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Ressaltamos a relevncia de um projeto que teve como ponto de partida um material
descartvel e descartado cotidianamente por ns, como a PET, e como se pode
propor sua reutilizao atribuindo-lhe uma outra definio ou destinao tanto
esttica quanto tica.
O tempo proposto para a Instalao ficar exposta foi at o dia nove de junho,
vspera do feriado de Corpus Christi, porm, antes da data prevista, houve a
necessidade de resignificarmos o espao, pois devido apropriao de materiais
tais como papis de bala e outros, surgiram outros sujeitos dispostos a participar: as
formigas. Alteramos o espao, distribuindo os arranjos nas janelas e muro dos
corredores, o que foi aprovado por todos que por ali passavam, inclusive os
familiares.
Ao avaliarmos o desenvolvimento das aes junto aos alunos, percebemos que o
projeto proposto inicialmente passou por adequaes que foram positivas para o
resultado final e se fizeram necessrias em diferentes momentos, tais como:
adaptao ao material trabalhado, grande nmero de pessoas envolvidas, tempo
para elaborao (1 hora / aula semanal por turma), decomposio do material
utilizado. H aqui uma processualidade que est presente nas obras de arte
contempornea, marcando a modificao da matria, sua interveno no meio e sua
temporalidade.
Projetos dessa natureza em espaos educativos aproximam os alunos a uma
vivncia da arte no que ela traz de imprevisvel, de processual, de dinmica.
Durante o desenvolvimento desse projeto, da busca de fontes bibliogrficas sobre a
temtica, das pesquisas on-line, da tentativa de agendar visitas para os alunos a um
espao cultural no qual se estivessem expondo Instalaes, diversas questes me
inquietaram: primeiramente veio a frustrao e depois a constatao de que as
dificuldades encontradas eram devido s poucas publicaes e reflexes sobre a
Arte Contempornea e de modo especial - as Instalaes artsticas em espaos
escolares.
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Os questionamentos e a busca de solues para os problemas surgidos no dia-a-dia
na sala de aula levaram-me ento a pensar em investigar e pesquisar um estudo
que possibilitasse a mim e a outros professores de arte, uma explorao mais eficaz
e profunda de conhecimentos especficos sobre a arte contempornea, em especial
as instalaes artsticas.
Portanto, no corpo desse trabalho, apresentaremos a pesquisa realizada, expondo
os caminhos percorridos e as consideraes s quais chegamos.
No primeiro captulo situamos a escolha pela temtica, fundamentando e justificando
essa seleo, delimitando a problemtica, definindo objetivos e apresentando um
panorama sobre o ensino da Arte na educao escolar, a legislao e as
proposies da arte como disciplina no currculo.
No segundo captulo apresentamos os conceitos, os autores e as fundamentaes
tericas que nortearam esta pesquisa.
Com Coelho (2001), Favaretto (2000), Canton (2007), Jameson (1995), entre outros
construmos o conceito de arte, sua contextualizao, as diferentes linguagens
artsticas contemporneas e a produo cultural na contemporaneidade.
A experincia esttica com a arte contempornea no mbito educacional, descrita
por Teixeira (2000) em sua dissertao de mestrado, muito motivou a busca de
conhecimentos e possibilidades de prticas artsticas em sala de aula.
Na Semitica Discursiva encontramos o embasamento metodolgico para a leitura
do texto imagtico com Oliveira (2004) e Rebouas (2003) o qual foi ampliado e
enriquecido com a pesquisa de Betts (2002) ao tratar da Intertextualidade e
contratos comunicacionais.
Relacionando os conceitos abordados por esses estudiosos com o nosso foco de
estudo na Arte-Educao, buscamos embasamento em pesquisas e teorias
desenvolvidas por Barbosa (1998/2002), Buoro (1996/2002), Ferreira (2004),
Hernandez (2001) e Iavelberg (2003).
No terceiro captulo, abordamos os caminhos metodolgicos desta pesquisa que
possui natureza qualitativa e como instrumentos de coletas de dados recorremos a
um questionrio, entrevista, observao participante e oficina pedaggica.
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No quarto captulo tratamos da apresentao do espao cultural no qual
desenvolvemos a pesquisa por se tratar de um espao voltado arte
contempornea, ressaltando como o mesmo promove a arte contempornea nos
mbitos cultural, educacional e cultural. Ainda nesse captulo tratamos do processo
criativo do artista Cildo Meireles, comentando algumas de suas obras e em especial
as da exposio Babel, na qual focamos o olhar durante a pesquisa. Empreendemos
a anlise dos dados coletados no espao de formao continuada; na oficina-
pedaggica; na visitao Exposio Babel, do artista carioca Cildo Meireles; no
workshop e no relato de experincia esttica desenvolvida por uma das professoras
integrantes do grupo envolvido na pesquisa. Utilizamos para as anlises a
triangulao das informaes e a anlise do discurso.
Por fim, abordamos os aspectos vislumbrados nas anlises do papel do professor,
como responsvel por sua prpria formao continuada, e a sua participao tanto
nas oficinas-pedaggicas quanto no espao de vivncia e experincia artstica.
Ressaltamos a insero das instalaes artsticas em sala de aula como uma
possibilidade de desenvolvimento do olhar sensvel, crtico e esttico do apreciador
em relao ao texto presente na obra.
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1 DELIMITANDO A PROBLEMTICA E DEFININDO OBJETIVOS
A proposta desta pesquisa tem como foco a Arte Contempornea: as Instalaes
Artsticas e suas contribuies para um processo educativo em Arte no Ensino
Fundamental se justificando pela sua relevncia nas dimenses da vivncia pessoal,
terica / prtica, por meio da valorizao da experincia esttica, do uso da arte
contempornea e seus recursos plsticos.
A inteno no simplesmente incluir a Arte contempornea na Educao; mas por
meio da formao continuada do professor, de uma proposta de estudo, de visitas a
exposies e da experimentao de materiais com participao em workshop, lev-
lo a repensar suas metodologias, seus conhecimentos prvios sobre a arte e sua
prtica educativa no ensino bsico.
Os Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs ARTE (MEC/SEF, 1998), orientam
para que o professor de Arte tenha momentos de vivncias de criao pessoal em
arte, a fim de lhe propiciar a assimilao de conhecimentos especficos, envolvendo
a apreciao, a reflexo e o fazer artstico. As vivncias artsticas possibilitam-nos
ao reconhecimento das manifestaes artsticas como produto cultural e histrico da
humanidade. Portanto, podemos dizer que o contato e a apreciao da arte
enriquece e acrescenta conhecimentos, procedimentos e habilidades na formao
do professor de Arte, possibilitando-lhe melhor desempenho na realizao da
transposio didtica nas situaes de aprendizagem, facilitando a elaborao de
propostas e ou projetos pedaggicos, o que conseqentemente evitar que esteja
preso s chamadas atividades prontas.
Hoje, a profisso j no a transmisso de um conhecimento acadmicoou a transformao do conhecimento comum dos alunos em umconhecimento acadmico. A profisso exerce outras funes: motivao,luta contra a excluso social, participao, animao de grupos, relaescom estruturas sociais, com a comunidade... E claro que tudo isso requeruma formao: inicial e permanente (IMBERNN, 2005, p. 14).
A formao permanente do profissional de educao necessria e, atravs de
leituras, observou-se em algumas pesquisas6 realizadas que uma parcela de
6 Nardin e Ferraro (apud Ferreira, 2004), Teixeira (2000) e sobre as discusses: Docncia, artista:arte, gnero e tico-esttica docente realizada no GT de Formao do Professor na 28 ANPEd, emCaxambu, MG
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professores de Arte tem dificuldades em lidar com o ensino da Arte Contempornea,
devido falta de formao inicial e permanente, ao tempo de servio e/ou formao,
falta de leitura, participaes em seminrios, congressos e outros.
O professor deve manter-se atualizado e bem informado, tanto acerca dos
conhecimentos especficos em arte quanto aos conhecimentos gerais, sem se
esquecer dos avanos tecnolgicos e sua insero na Educao e na produo
artstica contempornea.
Com o objetivo de compreender a arte dentro do contexto escolar, resgatamos um
pouco da histria do Ensino de Arte no currculo escolar brasileiro: a legislao e a
prtica.
1.1 O ENSINO DA ARTE E SUA PRTICA EDUCATIVA
1.1.1 Da Legislao e da Prtica
Segundo os PCNs7 ARTE (5 a 8 srie), a Arte na escola j foi considerada
matria, disciplina, atividade, mas sempre mantida margem das reas curriculares
tidas como mais importantes. Esse lugar menos privilegiado corresponde ao
desconhecimento de como trabalhar o poder da imagem, do som, do movimento e
da percepo esttica como fonte de expresso e de conhecimento. At fins da
dcada de 60 existiam pouqussimos cursos de formao de professores nessa rea
no Brasil, e professores de quaisquer disciplinas, artistas e outros que
demonstrassem habilidades no artesanato ou nos trabalhos manuais poderiam
assumir as disciplinas de Desenho, Desenho Geomtrico, Artes Plsticas, Msica e
Arte Dramtica.
Em 1971, a Arte includa no currculo escolar baseada em ideologias de
educadores norte-americanos que, sob um acordo oficial (Acordo MEC-USAID),
reformularam a Educao Brasileira, estabelecendo os objetivos e o currculo
7 Os Parmetros Curriculares Nacionais so um conjunto de documentos criados por comisses deeducadores, num projeto promovido pelo Governo Federal, onde cada professor de escola pblicaganhou um kit com diversas temticas para trabalhar em sala de aula. Os Parmetros incluem umaparte de contedos, metodologias, avaliao e uma bibliografia a ser utilizada. O PCN ARTE propeque o professor desenvolva o estudo das Artes Visuais, do Teatro, da Dana e da Msica.
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configurado na Lei n 5692, denominada Diretrizes e Bases da Educao (LDB), a
qual propunha uma educao tecnologicamente voltada para a profissionalizao
dos alunos a partir da 7 srie, a fim de formar mo-de-obra barata para as
companhias multinacionais que conquistavam espao dentro da economia brasileira,
sob o regime de ditadura militar de 1964 a 1983.
Nesse perodo, aqui no Brasil, no havia curso de Licenciatura em Arte nas
universidades, apenas cursos tcnicos8 para preparar professores de desenho, e
principalmente de desenho geomtrico.
Fora das universidades surgiram as Escolinhas de Arte9, que ofereciam cursos,
estudos e estgios para professores e artistas, assim como oficinas para crianas e
adolescentes com o objetivo de uma educao pela arte.
Conforme Frange (2001), as Escolinhas de Arte no Brasil foram desencadeadoras
de idias e experincias que, ao longo dos anos, possibilitaram novas diretrizes e
outros ncleos de educao criativa. No Brasil foram fundadas 130 Escolinhas de
Arte, que tiveram forte influncia do pensamento de Herbert Read em educao
principalmente a partir de seu livro Educao atravs da Arte.
[...] Na tica Readiana o artista autntico era capaz de simbolizarsentimentos arqutipos e intuies em formas jamais vistas. E o que essepensador escreveu sobre Henry Moore esclarece de modo mais precisoessa sua concepo:mas o artista no um cientista, um psiclogo ou umhistoriador. Ele um criador de imagens... e impelido a faz-la pelo seusenso de percepo das formas que so vitais vida da humanidade.(FRANGE, 2001, p. 215)
No entanto, os cursos de formao de professores realizados nas Escolinhas de Arte
no eram reconhecidos e aceitos pelo sistema governamental, que exigia do
professor o grau universitrio para lecionar.
Na expectativa de solucionar o problema, em 1973, o Governo Federal criou como
alternativa o curso universitrio de licenciatura curta (durao de dois anos),
coexistindo com a licenciatura plena (durao de quatro anos), com o objetivo de
preparar professores para a disciplina Educao Artstica, habilitando-os para o
8 Artes Plsticas, Desenho, Msica, Artes Industriais e Artes Cnicas.9 As Escolinhas tiveram seu incio em 1948, no Rio de Janeiro, com o encontro de trs artistas:Augusto Rodrigues, Lcia Alencastro Guimares (hoje, Lcia Valentim) e Margaret Spence.(FRANGE, 2001, p. 218)
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domnio das diferentes linguagens (Artes Plsticas, Educao Musical e Artes
Cnicas). Entretanto, tal ao no alcanou uma boa qualidade de educao,
conforme o histrico do ensino de Arte no Brasil apresentado nos PCNs ARTE,
formando professores que no dominavam conhecimentos especficos das
linguagens. A falta dos conhecimentos especficos nas diferentes linguagens
ocasionou a busca por maiores informaes em documentos oficiais (guias
curriculares para professores) e livros didticos, que em geral privilegiavam a
aprendizagem reprodutiva de modelos e tcnicas, os quais no explicitavam
fundamentos, orientaes terico-metodolgicas, ou mesmo bibliografias
especficas.
A partir dos anos 80, inicia-se com o movimento Arte - Educao10 a proposta do
Ensino da Arte numa nova perspectiva. Professores de Arte de todo o pas
participam da ampliao das discusses sobre o compromisso, valorizao e
formao do professor. Tais idias e mudanas da concepo da arte na educao
se expandiram pelo pas por meio de encontros, seminrios, congressos promovidos
por instituies pblicas e particulares, fazendo surgir novos paradigmas e
metodologias para o ensino e aprendizagem de Arte nas escolas.
Com a promulgao da Constituio Brasileira em 1988, iniciam-se as discusses
sobre a nova LDB, sancionada apenas em 1996, com a Lei n 9.394/96, em que a
Arte passa a se constituir como disciplina obrigatria em toda a educao bsica: O
ensino da Arte constituir componente curricular obrigatrio, nos diversos nveis da
educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos
(artigo 26, pargrafo 2).
Porm, mesmo aps a promulgao da lei, muitas metas ainda no foram
conquistadas, permanecendo o ensino da arte em diversas regies do pas de forma
inadequada, inclusive em nosso estado, com professores sem a formao
especfica.
10 Tendo como finalidade conscientizar e organizar os profissionais, o que resultou na mobilizao degrupos de professores de arte, tanto de educao formal como da informal. Esse movimento permitiuque se ampliassem as discusses sobre a valorizao e o aprimoramento do professor [...](PCNs:ARTE, 1997, p. 30).
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A prpria nomenclatura da disciplina ficou indefinida de 1996 at 2005, sendo
denominada nesse perodo como: Educao Artstica, Arte-Educao, Arte ou
Ensino da Arte.
Em novembro de 2005, conforme o Boletim Notcias do Instituto Arte na Escola (ano
II n 17 novembro de 2005), a retificao solicitada h tantos anos aprovada
por unanimidade pela Cmara de Educao Bsica (CEB) do Conselho Nacional de
Educao (CNE), no dia quatro de novembro, com a resoluo n. 22/2005,
constante do Anexo A, deste estudo, que substitui nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental a denominao Educao Artstica por Arte.
A mesma foi solicitada pela Federao de Arte Educadores do Brasil (FAEB), para
quem a substituio do termo define melhor a noo de rea de conhecimento e fica
em consonncia com a LDB.
Durante as dcadas de 80 e 90 muitas pesquisas foram realizadas sobre o ensino
da arte, desenvolvidas por Ana Mae Barbosa, Anamelia Bueno Buoro, Analice Pillar
Dutra, Maria Helosa Ferraz, Fayga Ostrower, Mariazinha Fusari, Lucimar Bello
Frange, Rosa Iavelberg, Mirian Celeste Martins, Lcia Pimentel, entre outras. Tais
pesquisas trouxeram dados importantes para a elaborao de propostas
pedaggicas, pois consideram tanto os contedos a serem ensinados quanto os
processos de aprendizagem dos alunos.
[...] importante desenvolver-se a competncia de saber ver e analisar aimagem, para que se possa, ao produzir imagens, fazer com que ela tenhasignificao tanto para @ autor @ quanto para quem vai v-la. Assim, preciso conhecer a produo artstica visual contempornea, valorizarnossa herana cultural e ter conscincia da nossa participao enquantofruidores e construtores da cultura do nosso tempo (PIMENTEL, in:BARBOSA, 2002, p. 113-114).
Considerando tal caminhada, percebe-se que o Ensino da Arte nas ltimas dcadas
vem ampliando e conquistando o respeito graas ao envolvimento de vrios
profissionais da rea que se organizaram nas mais diversas localidades do Brasil,
buscando melhor formao profissional, participando de seminrios e congressos,
ocasionando, conseqentemente, o surgimento de novos pesquisadores, a
elaborao de materiais didticos e paradidticos atualizados e de melhor qualidade.
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Tal postura promove, por conseguinte, a mudana de viso de alunos, professores
de outras reas de conhecimento, coordenaes, diretorias e familiares dos alunos
em relao ao espao da arte no currculo escolar.
1.1.2 Arte e Conhecimento
A partir dos estudos desenvolvidos por Buoro (2002) e Teixeira (2000),
aprofundaram-se as abordagens contemporneas11, assim denominadas por Ana
Mae Barbosa, para o ensino da arte com a leitura da imagem visual, considerando-a
como um dos desafios a ser aprimorado por ns, professores de Arte, a fim de
enriquecermos o processo de ensino-aprendizagem.
Em sua dissertao de mestrado, Buoro (1996) apresenta uma experincia em Arte,
realizada no Ensino Fundamental 1 4 srie utilizando como eixo central a
pintura modernista e contempornea. Seu projeto pedaggico um dilogo entre a
prtica e a reflexo terica e tem como objetivo construir um olhar a partir do ver,
observar, sentir, fazer, expressar e refletir o objeto artstico.
Tal pesquisa ampliada pela autora em sua tese de doutorado, ao defender que
para o professor adquirir conhecimentos a fim de construir um olhar necessrio
que seja capaz de construir sua prpria competncia, movido por aes de querer,
poder, dever e fazer, apropriando-se conscientemente da prpria vontade de ser
competente. Ou seja, deve estar mobilizado por um querer ser professor, mais que
um dever definido pela Instituio na qual trabalha.
Percebemos, portanto, que por meio da ao pedaggica, com os conhecimentos
especficos do ensino da Arte, que o professor direciona o processo de
aprendizagem da leitura visual, motivando assim o aluno a desenvolver a habilidade
de leitura de mundo, considerando sua vivncia anterior, possibilitando a
sensibilidade do olhar e ampliando seus repertrios visuais e grficos, e tambm
construindo uma conscincia mais crtica da sociedade em que vive.
11 Abordagens contemporneas termo utilizado por BARBOSA (1991) com relao Arte dos anos80 e novos anos.
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[...] de fundamental importncia investir na formao e na sensibilizaodo professor para a leitura da imagem, a fim de que, de posse plena dessacompetncia, ele se torne capaz de trabalhar na contracorrente dequalquer olhar redutor, condicionado e esvaziado, imposto pelos ritmos docotidiano, em meio superabundncia de imagens que se alternam diantedo olhar (BUORO, 2002, p. 43).
Assim, vale ressaltarmos que cabe ao professor a tarefa de investir em sua
formao, para que ento seja capaz de desenvolver em seu aluno a competncia
de compreender e realizar a leitura da imagem visual, percebendo-a presente na
histria da humanidade desde as primeiras manifestaes da pr-histria. A Arte
um meio do homem entender o mundo ao seu redor e a relacionar-se com o mesmo.
Considerando a Arte como manifestao humana, contextualizada em cada
momento especfico e de acordo com a cultura, percebemos que a produo
artstica est impregnada de marcas scio-culturais, histricas, filosficas, estticas
e ticas.
O conhecimento do meio bsico para a sobrevivncia, e represent-lo fazparte do prprio processo pelo qual o ser humano amplia seu saber.Esse processo de conhecimento pressupe o desenvolvimento decapacidades de abstrao da mente, tais como identificar, selecionar,classificar, analisar, sintetizar e generalizar. Tais atividades so ativadaspor uma necessidade intelectual existente na prpria organizao humana(BUORO, 1996 p. 20).
Compreendendo-a como resultado do embate homem / mundo, ou seja, que por
meio dela que o homem interpreta sua prpria natureza, construindo formas de
descobrir, inventar, figurar e conhecer.
A partir do pressuposto, que o homem est inserido na histria de sua poca e que
manifesta por meio da arte sua maneira de ver, perceber e sentir o mundo deixando
suas marcas impressas e/ou presentes na sua produo artstica, sentimos a
motivao em observar e investigar como a Arte Contempornea est presente no
processo educativo, direcionando o foco da pesquisa para as instalaes artsticas.
Como elas configuram-se como linguagens no mbito educacional para professores
do Ensino Fundamental e, como tal, quais so as possibilidades de leitura utilizadas.
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1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Analisar como se configuram os saberes/fazeres desenvolvidos por um grupo de
professores de Arte, que participam dos encontros de formao continuada por rea,
no Sistema Municipal de Ensino de Vila Velha, a partir da insero da Arte
Contempornea Instalaes artsticas e suas contribuies para um processo
educativo em Arte como fonte de leitura imagtica, produo e socializao do
conhecimento histrico em sries do Ensino Fundamental;
1.2.2 Objetivos Especficos
Refletir com os professores de Arte sobre as possibilidades da utilizao da
Arte Contempornea: Instalaes Artsticas no processo de ensino-
aprendizagem do Ensino Fundamental e Ensino Mdio, compreendendo-a
como uma linguagem artstica;
Analisar a construo do discurso visual presente na obra artstica, a partir do
dilogo entre o mtodo e o instrumental terico da semitica discursiva;
Promover uma socializao sobre o conceito de Arte Contempornea
Instalaes Artsticas, atravs de uma oficina pedaggica, da visitao ao
Museu Vale do Rio Doce Exposio Babel do artista carioca Cildo Meireles
e participao de workshop no mesmo espao artstico, de forma que os
professores enriqueam, fundamentem, critiquem, questionem, vivenciem,
experimentem e elaborem possibilidades de estratgias educativas em sala
de aula;
Realizar anlise do discurso dos professores de Arte, sobre as implicaes da
abordagem discursiva de obras artsticas contemporneas, para os
saberes/fazeres de sua prtica docente.
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2 REFERENCIAL TERICO
Durante a busca por trabalhos j realizados sobre a temtica, encontramos poucas
pesquisas que abordassem a Arte Contempornea, especialmente as Instalaes
Artsticas no mbito educacional. Primamos por pesquisar trabalhos que
demonstrassem mudanas na prtica pedaggica12 para o Ensino da Arte a partir de
discusses tericas iniciadas na dcada de 80, que auxiliassem no desenvolvimento
da pesquisa, norteando, assim, todo o processo realizado.
Detivemo-nos na pesquisa realizada por Teixeira (2000), em sua dissertao de
Mestrado, sob o ttulo: A experincia esttica ampliada em Lygia Clark e Hlio
Oiticica: uma proposta em Arte Educao, envolvendo jovens de diferentes camadas
sociais, com idade entre dezesseis a vinte anos, no Colgio de Aplicao da UFRJ -
Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Rio de Janeiro, onde lecionava e a
desenvolvida por Betts (2002) tambm em sua dissertao de Mestrado na PUC -
SP, sob o ttulo: Intertextualidade e contratos comunicacionais apropriaes
semiticas na obra de Nelson Leirner.
Ambas pesquisas contriburam para a construo de conceitos e abordagens
relativas Arte Contempornea e nos impulsionaram a pesquisar mais, buscando
embasamento em outros autores especficos da Arte, os quais citaremos no decorrer
dessa pesquisa.
2.1 ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES
Atualmente convivemos com linguagens artsticas desde as mais tradicionais como a
pintura, escultura, arquitetura e gravura at as surgidas a partir da evoluo
tecnolgica, como a fotografia, cinema, vdeos, instalaes, infoarte e outros que
tm como suporte o computador.
12 Mudanas na prtica pedaggica no ensino da Arte: maior compromisso com a cultura e com ahistria; nfase na inter-relao entre o fazer, a leitura da obra de arte e as contextualizaeshistricas, estticas e sociais da obra; Arte quanto rea de conhecimento especfico, etc.
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Entre tantas elegemos a Instalao, por ser uma expresso artstica contempornea
que mistura pintura, escultura e objetos industrializados em ambientes preparados
para estimular as percepes sensoriais, que podem ser apropriados no meio, tanto
da natureza quanto de objetos industrializados, resignificados e da mdia (som, TV,
vdeo, computador). Nessa manifestao artstica, geralmente, o artista tem como
objetivo provocar o espectador a se aventurar, a perceber, a ter uma postura mais
participativa extrapolando muito os limites do deleite com o belo, a criticar e refletir
sobre a prpria vida e o meio que o cerca. Os artistas esto cada vez mais
interessados em explorar a percepo e a ao imaginativa do espectador,
propondo muitas possibilidades de leitura de seus atos e de suas produes.
Advogamos que a Instalao uma expresso artstica que, ao ser trabalhada no
Ensino da Arte integrada s demais disciplinas, pode ser um eixo norteador de
aprendizagem. Como exemplo, citamos as obras da Arte Contempornea,
desenvolvidas por artistas brasileiros como Hlio Oiticica, Lygia Clark, Nelson
Leirner e Cildo Meireles, entre outros, que contextualizadas em relao ao tempo e
espao, fazem com que o aluno perceba a histria da arte presente na histria da
humanidade, critique ou questione as questes polmicas de nosso tempo (polticas,
sociais, econmicas e culturais), quebre com paradigmas de ideais de beleza e
outras categorias, tais como harmonia, perfeio, acabamento e o naturalismo.
Defendemos a opo pela arte contempornea na escola proporcionando um
processo formativo pelo qual o aluno desenvolve sentidos e significados que
orientam sua ao no mundo, transcendendo os muros da escola para inserir-se no
contexto cultural em que se encontra.
2.1.1 Contextualizando a Arte Contempornea
Para compreendermos o conceito de Arte Contempornea preciso saber identificar
os movimentos artsticos na arte ocidental e as transformaes provocadas pelos
mesmos na produo artstica de cada poca histrica, do renascimento ao moderno
e conseqentemente ao ps-moderno.
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Segundo Buoro (2002), a Arte uma manifestao humana, contextualizada em
cada momento especfico e de acordo com a cultura, s assim percebe-se que a
produo artstica est impregnada de marcas socioculturais, histricas, filosficas,
estticas e ticas.
Assim sendo, torna-se necessrio retomarmos alguns conceitos para uma melhor
compreenso da contemporaneidade.
As obras criadas no Renascimento, final do sculo quinze, foram concebidas a partir
de ideais da arte mimtica (tal qual se v no mundo natural, a natureza), sob um
olhar aristotlico, em que reinava a harmonia, perfeio, beleza e apuro tcnico.
Alguns destes princpios permaneceram em movimentos e estilos como no Barroco,
Romantismo, Realismo, Neoclassicismo, permanecendo, portanto, a nfase na
figurao que vai ser rompida com a arte moderna. Porm, mesmo depois de seu
surgimento, muitas pessoas do sculo XX, e mesmo desse incio de sculo XXI,
consideram as obras modernistas e contemporneas, no mnimo, muito estranhas.
O estranhamento s manifestaes da arte modernista e contempornea pode estar
associado a um olhar ainda impregnado por uma esttica clssica e idealista que
busca uma interao com a obra, reconhecendo em sua figuratividade os elementos
do mundo natural e os ideais de beleza propostos para essa viso de mundo.
Na viso de Coelho (2001, p. 14) a maioria das pessoas sabe reconhecer alguma
coisa como moderna, embora seja incapaz de descrever ou definir em que consiste
essa modernidade. Isto no porque a palavra moderna seja vazia, mas porque oca
na verdade nossa referncia do que seja moderna, oca nossa idia de moderno,
oco o pensamento do moderno.
Ele define o Modernismo como, antes de qualquer coisa, um estilo. Uma linguagem,
um cdigo, um sistema ou um conjunto de signos com suas normas e unidades de
significaes. Porm, devemos estar atentos a tal definio, considerando que o
modernismo no um nico estilo, pois ele congrega vrios estilos, como
surrealismo, fauvismo, cubismo, concretismo e outros.
Conforme Coelho (2001, p. 13) o incio do Projeto de Modernidade est delimitado
nos ltimos trs sculos da cultura ocidental, quando passou a existir a clara
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distino entre cincia, arte, moral e com o aparecimento posterior de outros
campos, como o da lei e o da poltica. Na base dessa diviso est a segmentao
da religio em domnios distintos do conhecimento. No incio do sculo XVII, cincia
e religio formavam um par e quem propusesse a sua separao poderia acabar na
fogueira em praa pblica, como aconteceu com Giordano Bruno. Mais adiante, a
Arte deixa de estar atrelada religio e passou a ter o seu prprio projeto a partir
dos iluministas que propem a separao entre pensamento e ao: a f de um
lado, a verdade (cincia) de outro.
No inicio do sculo XVI um mesmo homem podia avanar pelos caminhos da
cincia, da tcnica, da esttica, da arte e outros tantos, como Da Vinci, mas
medida que se avanou em direo ao sculo XIX, essa diversidade num s homem
tornou-se mais especfica, no s a arte, mas tambm a cincia, a filosofia e a
cultura como um todo.
As teorias de Einsten tiveram um impacto que a sociedade contemporneaainda no absorveu e incorporou. Podemos perceber tal fato namodalidade clssica da narrativa, na literatura, no cinema ou teatro, aaplicao da concepo newtoniana do espao-tempo: comeo-meio-fim; Ainterrupo da narrativa do presente para que a personagem se recorde dealgo acontecido no passado foi uma inovao tcnica que esta sociedadeno digeriu completamente. um recurso moderno muito utilizado pela TVnas novelas e no cinema. Seria Newton um moderno e Einstein um ps-moderno? (COELHO, 2001, p. 26).
Considerando a citao anterior, observa-se que ao apreciarem-se obras artsticas
da modernidade ressalta-se uma de suas caractersticas, que s a ps-modernidade
comear a praticar: que uma viso de mundo no supera a outra, convive com ela,
ou seja, no h uma compartimentalizao nem uma hierarquizao e sim uma
simultaneidade. Os signos da modernidade geram a si mesmos e se sobrepem
num ritmo exasperante e sufocam a histria.
Como exemplo, trazemos um comentrio de Coelho (2001, p. 27) destacando que
em 1907 diferentes estilos eram representados, quando Picasso concluiu a tela
Demoiselles dAvignon, obra que prenuncia o nascimento da pintura cubista, que
quase a aplicao da teoria da relatividade pintura, com o objeto visto ao mesmo
tempo sob vrios aspectos, variando de acordo com o ngulo de observao.
Acrescentamos aqui o Fovismo com relao ao uso cromtico bastante diferente do
real. Podemos considerar portanto, o Cubismo e o Fovismo como os primeiros
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movimentos do sculo XX a lanarem bases de uma nova esttica visual ao no
representar a imitao do real. No nos importa se Picasso e Matisse tinham
conhecimento de tal teoria, mas sim que os princpios destas so um trao cultural
do momento, passvel de aflorar em vrios ramos da reflexo quase ao mesmo
tempo. A importncia desses movimentos est no rompimento com o modelo de ver
da Antigidade, o primeiro baseado no conceito de ver a perspectiva de um s
ponto, passando a observar o objeto em sua totalidade, de vrios pontos de vista e o
segundo com a proposta de uma pintura diferente do real, com o uso de cores
puras.
Outro paradigma importante para o ensino da Arte que a sociedade ps-moderna
passa por mudanas muito rpidas, ou seja, primeiramente na sociedade moderna
os avanos tecnolgicos aconteciam de dcadas em dcadas, anos em anos e na
atualidade acontecem quase que diariamente, ou ainda sem querer exagerar, de
minuto a minuto. E tais avanos ocasionam mudanas sociais, morais e ideolgicas,
como por exemplo na relao mulher/homem, empregado/patro, negro/branco e
criana/adulto.
Favaretto (2000), no livro As invenes de Hlio Oiticica, faz referncias sobre as
mudanas ocorridas no perodo de vanguarda e como os artistas que fazem parte
dessa sociedade vivenciam esse momento.
A modernidade vanguardista do incio do sculo XX libera os artistas para aaventura da constituio da autonomia da arte, ancorados na presuno deruptura do sistema da arte e na valorizao absoluta do binmiodesconstruo-construo. [...] Simultaneamente, por efeito do mpetoutpico, pretende tirar partido de uma situao histrica que permite aosartistas a iluso de poder utilizar a arte como aspecto de luta pelatransformao social, agenciando experimentalismo, inconformismoesttico e crtica cultural que, imbricados compe a atitude tico-poltica.[...] a modernidade investe o desejo na desmontagem das mistificaesque recobrem a concepo idealizada da arte, sem a imposio dequalquer realidade e individualidade prvias. (FAVARETTO, 2000, p. 20).
Para ele, durante a dcada de 60 constata-se na arte um fenmeno, em que as
diversas tendncias exercitam a multiplicidade de estilos, a mescla de tcnicas, o
carter heterogneo e multidisciplinar da arte. Pintura, escultura, msica, teatro,
cinema e poesia convivem em um espao esttico aberto, tendo como referencial os
herdeiros do Dad e os construtivistas. A produo artstica desse perodo passa
por transformaes quanto eficcia de suas aes, devido tendncia da
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especializao de mercado - efeito de uma reavaliao do sentido e funo da arte
na sociedade de consumo e a aceitao da integrao arte / consumo,
principalmente na TV e no cinema. Esse confronto atinge duramente a relao dos
artistas com o circuito e o pblico, contaminando as estratgias dos artistas, por
expectativas do pblico e provocando reviravoltas no processo de criao. Alguns
artistas visando projetos em que o espectador arrancado de sua imobilidade,
estimulado por objetos, situaes, idias, exercitando o ldico num misto de
abandono e de escolha. O artista espera por um pblico sensvel e informado, quel
passar da posio de espectador, consumidor ou contemplador, para a de
participante, construtor, destruidor e devorador.
Em contrapartida, diferentes tendncias empenham-se em arruinar as circunstncias
da noo e da prtica da arte. uma luta de duas foras; de um lado, o confronto
com o mercado e o pblico; de outro, a exacerbao de procedimentos, alguns j
experimentados, visando ao seu limite expressivo.
Frente a esse quadro, mas sem se deixar determinar exclusivamente pelassolues predominantes de um lado, as provenientes do circuitointernacional e, de outro, por aquelas que no Brasil pretendem assumir oconflito entre experimentao e participao social -, o programa de HlioOiticica cifra as propostas da vanguarda brasileira, considerada por elecomo posio especifica e fenmeno novo no programa internacional daarte. Seguindo-se uma interessante idia de Lyotard, pode-se dizer que asintervenes de Oiticica configuram um trabalho de anamnese:manifestam, pelo vigor das proposies e ousadia das aes, a situaocrtica do processo de integrao e destruio do projeto moderno no Brasil(Ibidem, 2000, p. 23).
Observamos que com o passar do tempo, a arte moderna sofreu um desgaste. Por
um lado, tornou-se to experimental que acabou por afastar-se do pblico, que
passou a achar suas manifestaes cada vez mais estranhas e de difcil
compreenso. No final dos anos 60, o movimento da arte conceitual fazia uma
reviso no que se entendia por histria e por histria da arte, como uma arte
imaterial, sem suporte material, com suporte efmero, propondo, como todo o ps-
modernismo que se seguiu, no uma anti-histria, apenas uma crtica radical ao
passado.
Isso aconteceu particularmente a partir dos anos 60 e 70, em Nova York, para onde
se transferiu a vanguarda artstica dos centros europeus depois da Segunda Guerra.
A importncia dada moda, aparncia e atitude, produziram um padro de
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beleza sociedade, que aliada a uma tecnologia sofisticada levaram a busca de
formas perfeitas por meio de cirurgias, implantes, aparelhos de ginstica, fazendo
do corpo um campo de experimentaes e de boa forma. A valorizao das formas
perfeitas, ao corpo em forma passa a ser utilizado por diferentes artistas
contemporneos, tornando a representao do corpo dentro do momento histrico
um grande assunto a ser tratado. Alguns artistas destacam e refletem em suas obras
que os avanos rpidos e simultneos afetam a capacidade da sociedade em lidar
com a memria, com a afetividade, com o corpo e com a identidade.
Como podemos perceber, desvendar os mistrios propostos pelos artistas nas obras
de arte, no uma tarefa das mais fceis, at mesmo porque a arte sempre foi um
terreno de inquietudes e experimentaes. Para decifr-las, preciso o
desenvolvimento de uma cultura de formao, de leitura, de vivncia e de
apreciao da produo artstica, principalmente quando se fala em arte
contempornea, j que se est acompanhando seu processo, o surgimento de
novos suportes e tcnicas.
E hoje podemos dizer que as informaes so transmitidas em alta velocidade,
nosso tempo em contato com o mundo muito rpido, em poucos segundos
sabemos e assistimos a cenas que acontecem do outro lado do mundo, ou seja, so
muitas coisas a que se tem acesso simultaneamente e isso logicamente interfere em
nossa maneira de ser e na produo artstica contempornea.
As manifestaes da ps-modernidade aparecem como reaes s formascannicas da modernidade, opondo-se ao predomnio dos modelosmodernistas ainda muito utilizados pelas universidades, em museus eoutros locais culturais. Outro fator que caracteriza essas manifestaes odesgaste da velha distino entre cultura erudita e cultura popular (acultura de massas) (JAMESON, 1985, p. 12).
O que Jameson (1995) faz uma crtica assumidamente perplexa sobre o assunto,
o modo de viver na contemporaneidade, valendo-se da questo do desaparecimento
da histria, ou seja, de como a sociedade contempornea parece ter perdido a
capacidade de reter seu prprio passado - vivendo um presente perptuo e/ou
intenso e uma perptua mudana que faz esquecer os tipos de tradies
preservadas por formaes sociais anteriores. Em seu modo de ver, o ps-
modernismo revela um tempo e espao de mutao ainda no acompanhado por
nossa percepo. Isto pelo fato de nossa percepo estar formada ainda sob os
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matizes do modernismo cannico. Para ele, a modernidade se baseou na inveno
de um estilo pessoal e privado, sua esttica liga-se a uma concepo de um eu e de
uma identidade privada nicos e singulares, a partir da ideologia do individualismo
burgus. Com o declnio desta ideologia, a modernidade cede espao ao ps-
modernismo.
A arte moderna rompeu com paradigmas de movimentos artsticos anteriores em
que predominava a representao da natureza, experimentando novas
possibilidades de expresso. A Arte Contempornea aquela que prope um novo
sobre o novo proposto pela Arte Moderna, ou seja, experimenta novas tcnicas,
suportes e manifestaes na atualidade. Ela est em desenvolvimento, em
construo e em formao.
Segundo Nardin & Ferraro (in: FERREIRA, 2004, p. 191) pode-se falar da obra
contempornea como uma estrutura em rede, pluralista, multicultural, que interliga
em si diversos e variados smbolos: imagens e formas que podem fazer parte da
vida cotidiana dos indivduos e tambm da histria das culturas e das artes.
Ktia Canton (2007), em seu artigo Pulsao de nosso tempo, diz que a Arte
Contempornea supera as divises do Modernismo e reflete o esprito de nossa
poca, ocupada com as questes da identidade: o corpo, o afeto, a memria etc.
Artistas contemporneos buscam sentidos (...) que fincam seus valores nacompreenso (e apreenso) da realidade, infiltrada na passagem do tempoe na formatao da memria, na constituio dos territrios que constitueme legitimam a vida, nos meandros da histria, da poltica e da economia,nas vias do corpo como carne e smbolo, nos territrios da afetividade.(CANTON, in SEMINRIOS INTERNACIONAIS VALE DO RIO DOCE,2007. p. 23).
Como percebemos, a Arte Contempornea entra em cena com a mudana global
que se delineia em meados do sculo XX, tornando-se mais gritante ainda a
necessidade de uma modificao no conceito de arte. Mais do que isso: se adapte
aos novos paradigmas do fim do sculo XX e incio do sculo XXI, por meio de
narrativas, de imagens ligadas prpria histria de vida do artista e as micropolticas
referentes sociedade.
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2.2 A CENA CONTEMPORNEA NAS DIFERENTES LINGUAGENS
Conforme j comentamos anteriormente, a Arte Contempornea est presente em
diferentes linguagens artsticas desde meados do sculo XX, entretanto, existem
pessoas que diante de uma obra contempornea ainda se sentem incomodadas,
no a compreendem e no a reconhecem como objeto artstico. Elas ainda possuem
uma viso artstica da renascena, em que a imagem naturalista teve sua
predominncia, olhar esse que nem chegou a ser moderno, no compreendendo,
portanto, os paradigmas da modernidade, como por exemplo arte abstrata, em que
predomina as formas, as cores, a expresso de marcas e de movimentos.
No decorrer de minha docncia tenho presenciado muitos momentos em que alunos,
independente da faixa etria ou segmento, indo do Ensino Fundamental ao Nvel
Superior, ao se depararem com uma obra abstrata dizem: Isso arte?, Isso
tambm eu fao!, Algum compra esses rabiscos?, Vou fazer o mesmo e ganhar
uma nota!, entre outros comentrios.
No se pode dizer que tal situao se deve falta de publicaes sobre o assunto,
pois, desde o incio da Arte Contempornea no Brasil, vrios artigos foram editados
com o objetivo de informar a sociedade sobre o assunto, colocando em circulao
informaes e conceitos ainda pouco difundidos. Como exemplo podemos citar:
Entre maro /1959 e outubro /1960, Ferreira Gullar publicou no SuplementoDominical do Jornal do Brasil, uma srie de artigos sob a denominaogeral: Etapas da Arte Contempornea. (FAVARETTO, 2000. p 31).
Mrio Pedrosa, em 26 de junho de 1966, publicou um artigo no jornalCorreio da Manh com o titulo Arte Ambiental, arte ps-moderna, HlioOiticica, fazendo referncia ao aparecimento da arte-ps-moderna noBrasil, diferenciando-o radicalmente do movimento de arte moderna,inaugurado por Picasso, em Mademoisellles dAvignon e ao novomovimento, Pop Art e que teria uma vocao antiarte. (COELHO, 2001. p.58).
A compreenso da obra artstica tambm foi tema recente publicado no Caderno
Dois, do Jornal A Gazeta, com o ttulo Quem tem medo de arte?, sinalizando a
importncia da formao do pblico para a visitao das exposies, principalmente
da Arte Contempornea. A reportagem destaca que diferentes espaos culturais,
como museus e galerias esto tomando a iniciativa e promovendo encontros com
artistas, debates, catlogos e uma srie de outras atividades para aproximar os
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visitantes. Uma das galerias oferece inclusive ao pblico que freqenta o espao,
numa livraria anexa, diversos ttulos sobre arte. Para a galerista Lcia Brotas, uma
das principais vantagens da leitura a formao de pblico. Essas publicaes
ajudam a quem quer comear a entender. A partir desse momento comea a
conhecer e dominar esse universo, surge ento o envolvimento (A GAZETA, 10
maio. 2007, p. 1)
2.2.1 As Linguagens Artsticas Contemporneas
Na Arte Contempornea, as diferentes linguagens artsticas: a arquitetura, a msica,
a dana, o teatro e a pintura, assumem um aspecto diferente, devido s mudanas
de paradigmas sociais, polticos, econmicos, culturais e estticos provocados pela
industrializao, globalizao, redimensionamento das geografias mundiais e
institucionais, entre outros.
Destacamos que vrias linguagens aparecem como ps-modernas: arquitetura,
cinema, fotografia, artes plsticas, porm no so rigorosamente contemporneas,
por no pertencerem ao mesmo tempo sob vrios aspectos. Cada uma tem um
tempo e um espao prprio, cada uma vive sua ps-modernidade e deixa seus
traos13 que somados ou colocados uns ao lado dos outros no conseguiro compor
o quadro geral da ps-modernidade. Imagem do todo, mas o todo ser bem mais
amplo que o conjunto das imagens parciais.
As instalaes quebram um pouco esses paradigmas, pegando a mesmice dos
objetos e unificando-a com o mundo dos que a visitam. Promovendo o deslocamento
espacial e propondo funes diferentes, em que o espao faz parte do objeto, do
mesmo modo como o objeto faz parte do espao, que , por sua vez, resultado de
interao entre artes visuais e arquitetura e vice-versa. Por outro lado, h tambm
por parte do sujeito que interage com /e numa instalao o ato de assumir um papel,
sem, entretanto, abandonar o seu eu, como o do ator que vivencia a experincia de
uma encenao.
13 Coelho determina como traos da ps-modernidade: vestgios, pistas, indcios, sugestes,pegadas, etc.
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Apesar das diferenas existentes entre as linguagens artsticas, Coelho prope uma
zona comum entre as mesmas:
Parataxe: processo que consiste em dispor, lado a lado, blocos de
significao sem que fique explcita a relao que os une;
Aproximao entre arte e cincia: para a ps-modernidade, no haver mais
essa distino entre ambos os procedimentos. A arte no combate mais a
cincia e tecnologia como era no moderno; porm, no significa que a arte
tenha aderido aos procedimentos da cincia e da tecnologia, a cincia que
se aproxima do processo potico. Ambos se colocam num mesmo plano;
A relao com a histria um dos principais pontos de atrito entre ps-
modernidade e seus crticos diz respeito s relaes do ps-moderno com a
histria, ao uso que o ps-moderno faz da histria. Coelho destaca as crticas
feitas ao ps-moderno por ser este um retorno ao passado, algumas atitudes
reacionrias, s quais se contraporia a outra atitude revolucionria e
progressista, voltada apenas para o futuro. Deve-se perceber em que
consistem as crticas mais consistentes a respeito das relaes entre ps-
modernidade e histria.
Na contemporaneidade no se coloca a questo da verdade e sim a sua pluralidade.
No significa confundir a histria com o passado; significa outra viso da Histria e
do passado que no pode ser entendida pelos que se aprisionam numa concepo
de histria como expresso da verdade e da razo apenas. Para o presente ser
realmente contemporneo, tem-se de aprender a conviver com a pluralidade.
Retomando os conceitos at aqui levantados, fica-nos claro que a Arte
Contempornea corresponde ao desdobramento, a consumao e a superao da
Arte Moderna, a arte no tem mais a funo de representar a realidade, mas de criar
uma realidade, superando assim conceitos postulados anteriormente.
2.2.2 Produo Cultural na Contemporaneidade
A Arte Contempornea tem ainda como caracterstica as apropriaes, os diferentes
estilos acontecendo simultaneamente e a insero da tecnologia na Arte.
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Coelho (2001) destaca a Bienal de Veneza de 1982 como um dos momentos que
mostra claramente tais caractersticas, pois a mesma props ao mundo um novo
olhar sobre a vanguarda e o novo, quando abriu uma seo dedicada gerao de
artistas de hoje que ficaram sombra do grande barulho feito ao redor das
vanguardas tradicionais. Essa atitude considerada ps-moderna, um novo
conceito de histria que comea, e isso significa que a vanguarda passa a ter novos
companheiros de viagem.
No podemos desconsiderar as relaes entre vanguarda e herosmo, uma vez que
a vanguarda s tem sentido enquanto espao para o heri, seja poltico, militar ou
heri de criao (pessoa de destaque).
Coelho destaca que aqui no Brasil entre os anos entre 1964 e 1974, o heri poltico
sumiu. Segundo seu ponto de vista, na contemporaneidade a relao entre arte,
artista e pblico se faz conforme os cdigos que esto inseridos em cada
manifestao artstica e nesse perodo nas relaes entre vanguarda e heri, o heri
militar poltico, o indivduo que se destaca. O prprio fato poltico vivido aqui entre
esses anos fez com que o heri sasse de circulao. A eleio indireta de Tancredo
Neves, que encerra um perodo de ditadura militar de vinte anos, est longe de ser
um movimento herico por ser um resultado de massas que se mobilizaram.
Tancredo Neves nada tem de heri, nem outros polticos que participaram do
movimento, ningum heri.
No entanto, o ser humano necessita da figura do heri e de tempos em tempos
surgem figuras que se destacam ou so destacadas na sociedade. Existem inclusive
tentativas ao longo da modernidade e da ps-modernidade da construo de um
novo conceito de heri. Como por exemplo, Hlio Oiticica, em 1966 constri seu
blide Cara de Cavalo, numa tentativa de construo bizarra de heri.
Segundo Favaretto (200, p. 131), Oiticica ressalta uma atitude individual do
inconformismo social, como figura de sua prpria marginalidade. Nas faces internas
de uma caixa (sem tampa e com a parede anterior estendida ao solo) h fotografias
do bandido Cara de Cavalo, amigo de Oiticica, morto pela polcia.Trata-se de uma
caixa-poema, no expresso de Oiticica, que falava do silncio herico do
marginal. Mais tarde, em 1968, a caixa virava uma bandeira-poema onde se via o
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corpo do marginal deitado no cho quase na posio de Cristo crucificado e a
inscrio: Seja marginal, seja heri. Oiticica via-o como vtima da sociedade,
conforme mostram as fotografias 16, 17 e 18.
Fotografias 16, 17 e 18: Detalhes da obra Cara de Cavalo, de Oiticica e Hlio OiticicaFonte: Acesso em 25 jul. 2005.
[...] Conheci Cara de Cavalo pessoalmente e posso dizer que era meuamigo, mas para a sociedade ele era um inimigo pblico n 1,... O que medeixava perplexo era o contraste entre o que eu conhecia dele como amigoalgum com quem eu conversava no contexto do cotidiano tal comofazemos com qualquer pessoa, e a imagem feita pela sociedade, ou amaneira como seu comportamento atuava e em todo mundo mais. Vocnunca pode pressupor o que ser a atuao de uma pessoa na vidasocial: existe uma diferena de nveis entre sua maneira de ser consigomesmo e a maneira como age como ser social... Violncia justificadacomo sentido de revolta, mas nunca de opresso (OITICICA, inFAVARETTO, 2000, p. 131).
Em maio de 1994, a Bienal Brasil coloca uma seo dedicada contemporaneidade
sob o signo de Hlio Oiticica e Lygia Clark. E o totem da contemporaneidade mostra
exatamente uma reproduo da Bandeira Poema de 1968 Seja marginal, seja
heri.
Percebemos nas obras de Oiticica sua preocupao poltica, tica e social, trata-se
de um smbolo que permanece em muitas delas. Tal posicionamento est presente
inclusive em seus comentrios sobre as mesmas, como podemos observar no
pequeno trecho sobre Manifestaes Ambientais:
[...] Surge a uma necessidade tica de outra ordem de manifestao, queincluo tambm dentro da ambiental, j que os seus meios se realizamatravs da palavra, escrita ou falada, e mais complexamente do discurso: a manifestao social, incluindo a fundamentalmente uma posio tica(assim como poltica) que se resume em manifestaes do comportamentoindividual... (OITICICA , in FAVARETTO, 2000, p. 122).
http://ar.geocities.com/marginalia2000/dossier/index.html>http://www.pdfdesk.com47
Compreende-se que a obra de Oiticica importante para a Arte Contempornea no
Brasil, visto que abre caminho para muitos outro