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NOTAS E COMENTÁRIOS

A Competitividade da IndústriaBrasileira de Alumínio:Avaliação e Perspectivas:• James M. G. Weiss

Pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia deSistemas do IPT e Professor do Departamento dePlanejamento e Análise Econômica Aplicados àAdministração da EAESP/FGV.

* RESUMO: A indústria do alumínio é um dos setores maiscompetitivos do país, sendo responsável por quase 10% dosaldo da balança comercial brasileira. Apenas cinco empresasdisputam o mercado doméstico e aproximadamente 90% dasexportações brasileiras são constituídas de metal primário. Aexpansão desta indústria no mercado internacional deu-senum contexto de escassez energética nos países industrializa-dos que coincide com um período de grande retração da econo-mia brasileira. Através da análise dos determinantes das van-tagens comparativas nacionais, explicam-se as razões do ele-vado grau de competitividade internacional alcan.çado por es-te setor industrial. São também indicados alguns Importantesfatores que poderão comprometer, no futuro, a competitivida-de das empresas brasileiras de alumínio.

* PALAVRAS-CHAVE: Alumínio, competitividade, setor de

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alumínio, vantagem competitiva, estrutura setorial, competi-ção internacional.

* ABSTRACT: The aluminium industry is one of the mostcompetitive brazilian industrial sectors. It is respon~ible forapproximately 10% of the brazilian trade balan~e. FlVe com.-panies compete in the domestic market and pnmary alur~ll-nium accounts for almost 90% of the exports. The expanslOnof this industry in the interna~io~al market was und~rtakenin the context of energy scarciiu In developed couniries andduring a period of economic recession in Brazil. An analysisof the determinants of national cOl1}petitive advanta~e. m,akespossible an understanding of the high. level of compeiiiitniu ofthis industrial sector. Some important factors that can aftectthe competitive position of brazilian aluminium companiesare also pointed out.

* KEY WORDS: Aluminium, competitiveness, aluminiumindustry, competitive advantage, structure of the industry,international competition.

• Agradeço ao Eng. Raymundo Machado pelas informações fornecidase ao Prof. Dr. [acques Marcovitch pelas valiosas sugestões.

São Paulo, 32(1): 48-59 Jan./Mar. 1992

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DEALUMíNIO

INTRODUÇÃO o presente artigo analisa a indústriabrasileira de alumínio com o objetivo deidentificar e avaliar os determinantes dacompetitividade internacional deste setor.Para tanto, utiliza-se o frame-work propos-to por Porter', obtido a partir do estudo dasvantagens comparativas de dez países in-dustrializados, líderes do mercado mun-dial de produtos industrializados.

A aplicação deste modelo a um dos seto-res mais fortemente exportadores da eco-nomia nacional tem por objetivo identificaros determinantes da competitividade nestecaso, contribuindo para o debate sobre di-retrizes para o desenvolvimento econômi-co nacional e para o delineamento de estra-tégias de ação de setores e/ou empresasnacionais potencialmente competitivos.

Aindústria brasileira de alumínio pri-mário é fortemente exportadora,contribuindo de maneira significati-

va para o saldo positivo da balança comer-cial brasileira. Em 1990, o país exportou1,16bilhões de dólares (FOB) em alumínioprimário, ligas e produtos semimanufatu-rados de alumínio, tendo importado ape-nas 97 milhões de dólares destes produtos.A contribuição do setor de alumínio ao sal-do positivo da balança comercial brasileirafoi de 1,06bilhões de dólares, ou seja, 9,6%do total.

Uma avaliação mais aprofundadaaponta, no entanto, vários fatores que têmcontribuído para o desenvolvimento dessaindústria no Brasil, entre eles as tarifas deenergia elétrica subsidiadas e a disposiçãodos países industrializados em deslocarpara o Terceiro Mundo a produção de ma-térias-primas industriais fortemente po-luidoras e/ ou consumidoras de energia.

No âmbito mundial, o setor de alumínioprimário caracteriza-se como uma indús-tria madura, com taxa de crescimento de-clinante, excesso de capacidade instalada esujeita a grandes oscilações nas cotaçõesinternacionais do produto. O elevado graude rivalidade interna, característico de umsetor que atinge a maturidade, tem provo-cado a retirada de muitos concorrentes im-portantes que, antes, disputavam essemercado. Por outro lado, condições espe-cíficas de fatores de produção têm facilita-do a entrada de novos concorrentes, entreeles as empresas brasileiras.

O alumínio primário é uma commoditycotada nas principais Bolsas de Mercado-rias do Mundo. Os produtores competementre si racionalizando seus custos de pro-dução de modo a maximizar as margensobtidas no negócio, uma vez que o preçodo produto resulta do balanço entre a ofer-ta e a demanda mundiais.

O principal insumo para a produção dealumínio é a energia elétrica que, emboraainda seja abundante no Brasil, se torna acada dia mais escassa em função do cresci-mento da demanda interna e da ausênciade investimentos no setor de geração elé-trica. Existe hoje, no país, uma tendênciageral ao aumento de tarifas elétricas e/ oulimitação do consumo interno. Sendo a in-dústria do alumínio altamente consumi-dora de energia elétrica, é de se esperaruma sensível redução de sua posição com-petitiva internacional à medida que o ce-nário de escassez energética se concretize.

O CONTEXTO MUNDIAL DA INDÚSTRIADO ALUMíNIO

A indústria do alumínio primário apre-sentou um faturamento total de 35,1 bi-lhões de dólares em 1989.2 O volume deprodução atingiu 17.980 mil toneladas,2,1% superior à produção do ano anterior.'

Esse setor apresenta todas as caracterís-ticas de uma indústria global. As empresasprodutoras atuam internacionalmente, ex-traindo minério, refinando alumina, pro-duzindo alumínio e comercializando ometal na forma primária ou semitransfor-mada, em países que apresentem condi-ções locais favoráveis, seja em relação àdisponibilidade de recursos naturais, sejaem relação a estruturas de subsídios e in-centivos governamentais.

O alumínio é, depois do silício, o metalmais abundante na crosta terrestre. Alémde abundante, o alumínio pode ser obtidopor um processo químico extremamentesimples e conhecido: a redução eletrolíticado óxido de alumínio (alumina), o qual érefinado a partir da alumina hidratada im-pura existente no minério de bauxita.' Oprocesso apresenta, no entanto, o inconve-niente de consumir grandes quantidadesde energia elétrica, sendo esta uma dasprincipais razões do preço relativamenteelevado deste metal.

Em virtude de suas propriedades físi-cas, o alumínio é um metal amplamenteutilizado como matéria-prima de inúme-ros produtos industriais,. Basicamente, oalumínio é um material maleável, dúctil,resistente à corrosão, de elevada conduti-vidade térmica e elétrica, além de ser mui-to leve. Tais características justificam o usodeste material em diversos segmentos in-

1. PORTER, Michael E. TheCompetitive Advantage of Na-tions. New York, The FreePress, 1990.2. Estimativa baseada na cota-ção média do ano (US$1952.77 /t), levantada pelaABAL, multiplicada pela produ-ção mundial do mesmo ano:17.98_0 mil toneladas. ASSO-CIACAO BRASILEIRA DE ALU-MINlO. Anuário EstatísticoABAL.1989.3. ALUMINIUM ASSOCIA-TION. Aluminium statistical re-view 1989. Washington, 1990,63p.4. UNITED STATES BUREAUOF MINES. Mineral facts andproblems. Washington, 1985,bul, 675, 956 p.

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5. sÁ, Paulo de. From oligo-po/y to competition: The chan-ging a/uminium industry. Cen-tre d'Economie des Ressour-ces Naturelles. Paris, 1989,34 p,6. ROSKILL Information servi-ces. The economics of a/umi-nium. 2ª ed. Londres, 1985.7. Os quais importavam miné-rio e energia para produzir alu-mínio.8. ASSOGIA8ÃO BRASILEIRADE ALUMINI . Op. cit.

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dustriais importantes, tais corno: motores,aeronaves, condutores elétricos, esqua-drias metálicas, recipientes e embalagens,componentes mecânicos e estruturais demáquinas e veículos etc.

A despeito da ampla gama de aplica-ções e usos deste metal, a indústria do alu-mínio é altamente concentrada. Os seismaiores produtores de alumínio primáriodetêm aproximadamente 50% do mercadomundial. São eles a Alcoa, Alcan, Kaiser,Reynolds, Alussuisse e Pechiney. No en-tanto, o primeiro choque do petróleo(1973) desencadeou um profundo proces-so de reestruturação setorial que, entre ou-tras conseqüências, vem diminuindo ograu de concentração dessa indústria," Onovo patamar de preços dos insumos ener-géticos representou, não apenas um subs-tancial aumento dos custos de produção econseqüente aumento dos preços do pro-duto, corno também provocou urna forteretração da demanda mundial.

O reajuste recessivo a que foram sub-metidas as economias industrializadasapós 1973 teve urna influência decisiva so-bre a reestruturação da indústria do alumí-nio. Variações nas taxas de câmbio e nas ta-xas de juros provocaram a retração do co-mércio internacional e da atividade indus-trial corno um todo. Sendo o alumínio urnamatéria-prima de amplo uso industrial, énatural que a redução da atividade econô-mica nos países industrializados provo-casse a retração do seu consumo. Essa re-tração ultrapassou, no entanto, todas asexpectativas do setor. O gráfico 1 apresen-ta a produção e o consumo mundial de alu-mínio primário e secundário, de 1962 a1989. Nele pode ser observada a retraçãodo consumo mundial de alumínio primá-rio ocorrida após 1979.O crescimento mé-dio da demanda, que fora de 10% ao anoentre 1960 e 1973, caiu para aproximada-mente 2% ao ano, entre 1973e 1984.s

Essa grande retração do consumo, as-sociada ao aumento dos custos de produ-ção, expulsou do setor muitos fabricantesimportantes, inclusive a quase totalidadedos produtores japoneses.' A produçãomundial de alumínio deslocou-se para ospaíses em desenvolvimento e/ou comampla disponibilidade de recursos ener-géticos, entre eles o Brasil, a Venezuela, aNova Zelândia e a Austrália. O Brasil, emparticular, possuía não apenas recursoshídricos abundantes, corno também gran-des reservas de bauxita com elevado teorde alumínio.

Nesse contexto, houve a expansão daindústria brasileira de alumínio e a con-quista de urna posição de destaque entreos países exportadores do produto.

Durante as décadas de 50 e 60, o preçodo alumínio havia sido mantido em tomode US$ 550/ tonelada, representando umgrande estímulo ao consumo e induzindoa substituição de outras matérias-primasindustriais por este metal. Após o choquedo petróleo, tomou-se praticamente im-possível manter a estabilidade do preço doalumínio. A partir de 1979, o metal primá-rio passou a ser cotado na Bolsa de Merca-dorias de Londres (LME), tomando-se al-vo de movimentos especulativos e debruscas variações de preços. Durante a dé-cada de 80, a cotação internacional do pro-duto atingiu um nível inferior de US$900/ t e um nível superior de US$ 4000/ t.8

..............................................................A competitividade de uma

nação é,pois, um processo quedepende basicamente da

capacidade de seus setoreseconômicos em inovar eaperfeiçoar processos,produtos e canais de

comercialização.

O gráfico 2 apresenta a evolução da co-tação média anual do produto na Bolsa deMercadorias de Londres, comparando-acom a evolução dos estoques comerciaisexistentes no mundo, durante o período1979-1990.Verifica-se que o mercado é ca-racterizado por freqüentes desequilíbriosentre a oferta e a demanda e que as cota-ções do produto têm refletido esses dese-quilíbrios.

o PROCESSO PRODUTIVO EOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

Dada a relativa abundância de minériode alumínio na face da Terra, o insumo maisescasso para a produção do alumínio é aenergia elétrica. Apenas no processo de re-dução da alurnina (óxido de alumínio) dís-pendem-se 13.750 a 19.400 KWh/toneladade alumínio, dependendo da tecnologia deprodução utilizada. As plantas mais mo-dernas, de elevada capacidade instalada,

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

Gráfico 1: Produção e consumo mundial de alumínio (1962-90)

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74 76 78 80 82 84 86 88 9062 64 66 68 70 72

Fontes: IPAI-INTERNATIONAL PRIMARY ALUMINIUM INSTITUTE.lntemational Statistics, Londres; WORLD BUREAU OFMETAL STATISTCS, World Metal Statistics, Lond res.

Gráfico 2: Estoques e cotações internacionais de alumínio primário (1979-90)

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81 82 83 84 85 86 8880 87 89Fontes: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMíNIO. Op. cit. (cotações); World Metal Statistics. Op. cit. (estoques)

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PROD. PRIMÁRIO

CONS. PRIMÁRIO

PROD. SECUNDÁRIO

COTAÇÕES (US$/I)

ESTOQUES (1000t)

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9. ADAMS, R. G. Competitiveeconomics and the manage-ment of structural change. In:5th INTERNATIONAL ALUMI-NIUM CONFERENCE, Caracas,30-31 novo 1988.10. ASSOÇIACÃO BRASILEIRADE ALUMINIO. Op. cit.11. MACHADO, Raymundo C.Apontamentos da história doalumínio no Brasil. Ouro Preto,Fundação Gorceix, 1985, 61 Op.12. Dado o caráter contínuo doprocesso de produção do alu-mínio, a capacidade nominal deuma fábrica é praticamenteigual à produção, podendo in-clusive superá-Ia.

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tendem a apresentar rendimentos próxi-mos de 13.750KWh/ tonelada produzida.

Trata-se de um setor profundamenteheterogêneo, no qual, em todo o mundo,instalações muito antigas coexistem complantas de elevado grau de sofisticaçãotecnológica. Diversos fatores contribuempara a operação de plantas tecnologica-mente defasadas, entre eles os subsídiosgovernamentais, a existência de fontes pri-vilegiadas de energia elétrica, a longa vidaútil das instalações e o elevado montantede capital requerido pelas instalações paraprodução de alumínio.

A estrutura de custos médios de produ-ção de uma planta tecnologicamente mo-derna de alumínio primário é apresentadana tabela 1.9 Verifica-se que 33,9% a 38,2%dos custos de produção se referem à amorti-zação do capital. O custo de capital referen-te a uma unidade de produção varia de3.750a 4.250dólares por tonelada de capaci-dade instalada. Considerando a escala deprodução característica das fábricas moder-nas, em tomo de 100mil toneladas/ ano, ve-rifica-se que uma fábrica nova de alumínioprimário representa um investimento da or-dem de 400milhões de dólares. A atividadeé, portanto, tipicamente capital-intensiva.

No Brasil, a existência de plantas mo-dernas e antigas, produzindo conjunta-mente, conduz a um coeficiente médio deconsumo energético igual a 15.700KWh/tonelada de alumínio." As plantasmais modernas estão situadas na RegiãoNorte do país e contam com tarifas de for-necimento de energia elétrica subsidiadaspelo Governo. São elas a Albrás e a Alu-mar. A primeira, situada em Belém (PA), éuma joint-venture da Companhia Vale doRio Doce com um consórcio de empresasjaponesas consumidoras de alumínio(NAAC), e a segunda, situada em São Luís(MA), é uma joint-venture entre as multina-cionais Alcoa (líder mundial do setor) eBilliton (empresa do Grupo Shell),

BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIADO ALUMíNIO NO BRASIL

O Brasil é o quinto maior produtormundial de alumínio primário, tendo pro-duzido 930,6 mil toneladas em 1990. Aprodução de alumínio foi introduzida noBrasil logo após a Segunda Guerra Mun-dial como parte do amplo processo desubstituição de importações que caracteri-zou a economia brasileira no período. Aprodução voltava-se basicamente ao mer-cado interno.

Foi somente a partir de 1982que o Brasilse tomou exportador de alumínio, em par-te como conseqüência da maturação dosinvestimentos governamentais implemen-tados no âmbito do 11PND (1974-1978).Nesse contexto, em janeiro de 1982, entrouem operação a fábrica da Valesul Alumí-nio S.A. (localizada em Santa Cruz, RJ),empresa holding da Companhia Vale doRio Doce, em associação com a Billiton. Oprojeto tivera início em 1975,durante o go-verno Geísel."

O gráfico 3 apresenta a evolução da pro-dução nacional, do consumo doméstico,das exportações e das importações de alu-mínio entre 1975 e 1989. Verifica-se que agrande expansão da indústria nacional sedá a partir de 1982,exatamente quando en-trou em operação a usina da Valesul, cujaprodução anual era 92 mil t/ ano. Em 1984,a usina da Alumar (Alcoa + Billiton), loca-lizada em São Luís (MA), iniciou sua pro-dução, fabricando 100 mil t/ ano. No anoseguinte, a Albrás (CVRD + consórcio ja-ponês) colocou em operação seu primeiromódulo de produção, fabricando 80 milt/ano. Entre 1981 e 1985, a CBA (empresado grupo privado nacional Votorantim)também expandiu sua produção, passan-do de 83 mil t/ano para 170 mil t/ano. De1982a 1988, a produção nacional de alumí-nio mais do que triplicou, aumentando de261 mil t/ano para 875 mil t/ano."

A classificação das empresas brasilei-ras de alumínio, realizada pela revistaExame, é apresentada na tabela 2. Verifica-se que a liderança do setor, no Brasil, é dis-putada pela Alcoa e pela CBA. Esta tem si-

. do, nos últimos anos, sistematicamenteeleita como a melhor do ano no setor demetalurgia, que engloba as indústrias pro-dutoras de metais não-ferrosos. Verifica-se a grande instabilidade do setor em rela-ção à lucratividade das empresas. Em1989, todas as cinco produtoras nacionaisde alumínio primário apresentaram mar-gens satisfatórias de lucro. No ano seguin-te, apenas a CBA conseguiu apresentar lu-cro enquanto as demais tiveram prejuízossignificativos e grandes reduções em seuspatrimônios.

OS DETERMINANTES DAVANTAGEM COMPETITIVA NACIONAL:UM MODELO DE ANÁLISE

O comércio internacional está cada vezmais fundado em economias de escala, li-derança tecnológica e produtos diferencia-dos. Neste contexto, apenas as empresas

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

capacitadas a produzir de acordo com es-tas condições serão competitivas no mer-cado mundial. Porter", analisando as van-tagens comparativas dos países industria-lizados, verificou que os padrões de com-petição, bem corno as fontes de vantagenscomparativas, variam muito dependendodos setores industriais ou, mesmo, dossegmentos industriais considerados. Poroutro lado, as condições econômicas espe-cíficas dos países considerados têm um pa-pel determinante sobre a competitividade

internacional dos setores econômicos ne-les sediados.

Empresas obtêm e mantêm vantagenscomparativas através de aperfeiçoamento,inovação e desenvolvimento de novas tec-nologias ou métodos envolvendo novosprodutos, novas técnicas de produção, no-vas concepções de markeiing, identificaçãode novos grupos de clientes etc. O processoapresenta um caráter profundamente dinâ-mico cuja natureza não é o equilíbrio, masum contínuo estado de mudança. Assim

Tabela 1: Estrutura de custos de produção de alumínio primário

Item Países em desenvolvimento Países indusfrializados( US$/t) (%) ( US$/t) (%)

"Alumina 352,73 23,7% 382,73 25,9%.-

Mão-de-obra 50,00 3,4% 130,00 8.,9%

Energia 206,25 13,9% 206,25 13,9%.. ._-

Transporte 55,00 3,7% 35,00 2,4%-l- I- - I

Capital de giro 29,63 2,0% 23,85 1,6%-

Outros custos 225,00 15,1% 200,00 13,5%

Subtotal 918,61 61,8% 977,83 66,1%- ,. -

Custo de capital 568,94 38,2% 502,01 33,9%

Total 1487,55 100,0% 1479,84 33,9%

Fonte: ADAMS, R.G. Op. cit

Gráfico 3: Alumínio - Produção, consumo doméstico e exportações brasileiras (1975-90)

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600

500

400

3no200

100

o75 76 77 78 79 80 81

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMíNIO. Op. cit.

13. PORTER, M.E. Op, cit,

PROD.NACIONAl

CONS.DOMÉSTICO

IMPORTAÇÕES

EXPORTAÇÕES

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Tabela 2: Classificação das empresas brasileiras de alumínio primário (1989 e 1990)(1989)* (US$ milhões)Empresa Receita Lucro Patrimônio Controle

líquido líquido

AlCOA 874,3 165,7 619,7 AmericanoCBA 604,3 157,8 600,7 BrasileiroAlCAN 566,4 21,9 181,1 Canadense

AlBRÁS 245,1 20,6 227,1 EstatalBllllTON 288,1 44,8 473,5 Inglês(1990)** (US$ milhões)

Empresa Receita lucro Patrimônio Controlelíquido líquido

AlCOA 563,2 -55,7 316,4 AmericanoAlCAN 497,6 -99,0 15,1 CanadenseCBA 424,9 57,2 439,0 BrasileiroAlBRÁS 309,5 -187,5 -18,3 Estatal

BllllTON 191,2 -39,9 374,8 Inglês

*Fonte:Exame, agosto1990."Fonte: Exame, agosto1991.

sendo, abusca de explicaçãopara vantagenscomparativas de empresas exportadorasenvolve a análise do papel das economiasnacionais, enquanto geradoras ou estimula-doras de aperfeiçoamento e inovaçõesno in-terior de determinados setores econômicos.

Algumas nações oferecem um ambienteeconômico no qual empresas aperfeiçoame inovam e continuam a fazer isso de ma-neira mais intensa e em direções maisapropriadas do que as empresas sediadasem outras nações. Por outro lado, empre-sas internacionalmente competitivas sãofreqüentemente aquelas que não apenaspercebem novos mercados e o potencial denovas tecnologias, mas também se movi-mentam de maneira agressiva para explo-rá-los. Nesse sentido, o ambienteeconômi-co de determinados países parece induzirmovimentos mais rápidos e mais agressi-vos das empresas neles sediados.

A competitividade de uma nação é,pois, um processo que depende basica-mente da capacidade de seus setores eco-nômicos em inovar e aperfeiçoar proces-sos, produtos e canais de comercialização.

Os determinantes da competitividadenacional em setores econômicos específicosresidem em quatro importantes atributos:(1)condições de fatores, (2)as condições dedemanda locais, (3)os setores relacionadosou de apoio e (4) a estrutura, estratégia egrau de rivalidade das empresas do setor.

Tais atributos são definidos da seguinteforma:

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1.Condições de fatores: a disponibilidadeem fatores econômicos utilizados nos pro-cessos de produção característicos do se-tor, por exemplo: mão-de-obra treinada equalificada, infra-estrutura de apoio e re-cursos naturais. Para Porter, as condiçõesde fatores não decorrem necessariamenteda dotação de recursos básicos da naçãomas, principalmente, da forma como estessão desenvolvidos e utilizados.

2. Condições de demanda: a natureza dademanda interna da nação pelo produtoou serviço oferecido pelo setor. Tão impor-tante ou mais que a dimensão do mercadointerno é o grau de sofisticação e exigênciados consumidores, o qual representa umestímulo para o constante aprimoramentodos produtos.

3. Setores relacionados ou de apoio: aexistência de fornecedores e de setoresrelacionados que sejam internacional-mente competitivos. Setores relaciona-dos são aqueles onde empresas podempartilhar atividades na cadeia produtiva(canais de distribuição, pesquisa e desen-volvimento etc.) ou transferir tecnologiade um setor para outro (por exemplo,através da indústria de máquinas e equi-pamentos e das empresas de engenhariaconsultiva).

4. Estrutura, estratégia e grau de rivalida-de: as condições determinantes da manei-

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A COMPET/TIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

capita de alumínio no Brasil foi de apenas2,67 Kg/hab./ ano, menos de um décimo doconsumo norte-americano ou japonês. Ademanda interna extremamente fraca inibeo desenvolvimento de elos mais complexosda cadeia produtiva e mantém o país na po-sição de exportador do metal primário.

O baixo nível de atividade industrialque caracterizou a economia brasileira nadécada de 80 foi também um fator inibidordo consumo de alumínio no país. O consu-mo doméstico de alumínio expandiu-se de356,8 t em 1980 para 392,7 t em 1989, ou se-ja, apenas 10% em toda uma década.

ra como as empresas locais são criadas, or-ganizadas e geridas, bem como a naturezada rivalidade entre estas empresas. Deacordo com Porter, as empresas se aperfei-çoam quando são forçadas a enfrentaruma concorrência local acirrada e quandoos governos estabelecem regulamentos epadrões exigentes."

OS DETERMINANTES DA COMPETITIVIOADEINTERNACIONAL E O SETOR BRASILEIRODE ALUMíNIO PRIMÁRIO

A aplicação do modelo de análise dacompetitividade de Porter ao caso da in-dústria brasileira de alumínio conduz a al-gumas constatações que são discutidas aseguir.

3. Estrutura, estratégia e graude rivalidade

Tratando-se de um processo de produ-ção intensivo em capital, as empresas pro-dutoras de alumínio são, em geral, verti-calmente integradas, da extração de miné-rio à produção do metal primário. A tecno-logia de produção é internacionalmentedifundida e os ganhos de produtividadesão incrementais.

No interior do setor brasileiro de alumí-nio, o número de empresas é pequeno e ograu de rivalidade é baixo. Existem váriasjoint-ventures entre as empresas para pro-dução de metal, alumina e minério, reve-lando um relativo grau de cooperação en-tre elas. Essas empresas se expandiram apartir do programa de substituição de im-portações traçado pelo 11PND, e se toma-ram exportadoras a partir de 1982, quandose acumularam grandes excedentes deprodução, não absorvidos pelo mercadointerno. No mercado externo, as empresasbrasileiras enfrentaram cotações declinan-tes do produto (vide gráfico 2) e uma con-juntura em que vários concorrentes inter-nacionais se retiraram do setor, que, então,atingia a maturidade.

No Brasil, as três maiores empresas dosetor (Alcoa, CBA e Alcan) adotaram es-tratégias de integração vertical, do minérioao metal primário, e deste aos semímanu-faturados de alumínio, sendo as que siste-maticamente apresentam melhores resul-tados financeiros. A CBA, em particular,adota uma política de geração própria deenergia elétrica que a protege das ameaçasde racionamento ou de aumentos proibiti-vos das tarifas elétricas: 60% do seu consu-mo é gerado internamente. A Billiton e aCompanhia Vale do Rio Doce são empre-sas de mineração que estabeleceram estra-tégias de integração para cima, de modo aproduzirem o metal primário, de maiorvalor adicionado que o minério. A Billiton

1. Condições de fatores de produçãoO Brasil é um país rico em recursos na-

turais, entre os quais se encontram gran-des jazidas de minério de bauxita com ele-vado teor de alumínio. O país é um dosmaiores exportadores de bauxita do mun-do. Além disso, a energia hidroelétrica érelativamente abundante. A presença des-ses dois insumos fundamentais para a pro-dução de alumínio primário conduziu opaís à posição de destaque que ocupa entreos produtores mundiais do produto.

Por outro lado, a crise da dívida externatem limitado, de forma determinante, oacesso a fontes de financiamento de longoprazo requeridas por uma atividade in-dustrial intensiva em capital. A capacida-de instalada no país é basicamente resulta-do das inversões feitas no período anteriorà crise. Assim, o principal insumo para aprodução de alumínio (o capital) é, hoje,extremamente escasso no país.

A mão-de-obra, embora abundante e ba-rata no Brasil, é pouco relevante nesta ativi-dade que, como se viu, é capital-intensiva.

A energia elétrica é ainda disponível,mas os custos de geração são crescentes,não apenas em virtude do custo de capital,como também das características físicas dasbacias hídricas ainda inexploradas. As ba-cias hídricas mais rentáveis do país já foramaproveitadas e as que restaram apresentamcustos de geração muito superiores aos dasusinas hidrelétricas atualmente existentes.

2. Demanda internaNo Brasil, a demanda interna é não ape-

nas limitada, como pouco exigente. Diver-sos estudos empíricos já mostraram que ademanda por alumínio é função da rendaper capita nacional." Em 1989, o consumo per

14. Idem ibidem, p.71.15. RUGERONI, L. World Mar-ket Trends. In: 5th INTERNA-TIONAl AlUMINIUM CONFE-RENCE, Caracas, 30-31 novo1988.

ss

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RAE

de articulação com o setor de mineração éelevado: todas as empresas participam deatividades de mineração e as joint-venturessão freqüentes. O setor brasileiro de mine-ração é internacionalmente competitivo. Jáo setor de geração elétrica, embora bem ar-ticulado com a indústria de alumínio, en-frenta sérios problemas de descapitaliza-ção e falta de estrutura para atender aocrescimento da demanda de energia elétri-ca para uso doméstico. A perspectiva deracionamento de energia, num futuro pró-ximo, possivelmente gerará conflitos entreesses dois setores e provocará a revisãodos contratos de fornecimento de energiapara o setor de alumínio.

Quando se verificam as possibilidadesde integração para cima, com a produção eexportação de transformados de alumínio,constata-se que o nível de articulação como complexo metal-mecânico nacional éainda limitado. Alcoa e Alcan assumem ocompromisso com a produção de semima-nufaturados de alumínio, seja através deunidades próprias de processamento, sejaatravés de contratos de fornecimento atransformadores nacionais. A Valesul, aAlbrás e a Billiton são basicamente expor-tadores ou fornecedores descompromissa-dos do mercado interno. A CBA praticauma política de produção flexível, forne-cendo semitransformados ao mercado in-terno ou exportando lingotes do metal, deacordo com as cotações desses produtos.Para que o país se tome um exportador ex-pressivo de transformados de alumíniofaltam não apenas o domínio das tecnolo-gias de transformação mecânica, comotambém a proximidade dos grandes cen-tros consumidores mundiais. O transportede alumínio transformado apresenta, emgeral, grandes problemas de acondiciona-mento, sendo mais econômico transportá-lo na forma de lingotes e transformá-lo lo-calmente. A empresa norueguesa NorskeHidro, por exemplo, grande exportadorade alumínio, possui 14 unidades de trans-formação localizadas em diferentes paísesda Europa.

16. Entrevista com Miguel deCarvalho Dias, vice-presidenteda CBA, realizada em 3/7/91.

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adotou uma política de participação em di-ferentes empreendimentos conjuntos comoutros produtores, inclusive a estatal Valedo Rio Doce; seus resultados dependemdos resultados dos seus parceiros nestesempreendimentos. As empresas controla-das pela Companhia Vale do Rio Doce sãoas que apresentam maiores problemas dedescoordenação estratégica e também ospiores resultados financeiros.

A usina da Valesul, por exemplo, apre-senta desde a sua inauguração três impor-tantes pontos fracos. Em primeiro lugar, alocalização no Sudeste do País, onde as ta-xas de expansão de consumo energéticosão mais elevadas e os recursos hídricossão muito limitados. Em segundo lugar, oinvestimento de recursos governamentaisem um setor cujo mercado interno estavasendo satisfatoriamente atendido pela ini-ciativa privada. E, por último, a dependên-cia da usina em relação ao óxido de alumí-nio (alumina) importado. Além destes, aempresa iniciou sua produção no momen-to de maior depressão de preços da histó-ria do alumínio.

A Albrás é outra empresa do grupo Va-le do Rio Doce, voltada essencialmente àsexportações, cujo suprimento de óxido dealumínio (alumina) é também problemáti-co. O empreendimento, originalmenteconcebido para ser integrado, do minérioao metal primário, sofreu diversas altera-ções ao longo do tempo, e a construção dausina de beneficiamento de alumina foitemporariamente abandonada. Este proje-to foi retomado no ano passado e deveráestar concluído em abril de 1994. Até lá, ocomplexo Albrás dependerá de óxido dealumínio importado para suprir a fábricade alumínio que, hoje, produz 194 milt/ano.

Observa-se, portanto, que o principalproblema das usinas estatais de alumínioprimário consiste na ausência do elo da ca-deia produtiva relativo à transformaçãodo minério em óxido de alumínio (alumi-na). O que é um problema para a Compa-nhia Vale do Rio Doce é a fonte de compe-titividade para a CBA que produz todo ominério e alumina que consome, gera 60%da energia elétrica que consome e realizatodos os seus investimentos preferencial-mente com capital próprio."

4. Setores relacionados e de apoioBasicamente, a indústria de alumínio

interage com os setores de geração elétricae mineração (fornecedores) e com o com-plexo metal-mecânico (clientes). O nível

TENDÊNCIAS MUNDIAIS

A produção mundial de alumínio pri-mário passa por um processo de desloca-mento em direção a países dotados de re-cursos energéticos abundantes. Este pro-cesso se originou no primeiro choque dopetróleo (1973) e ainda não está totalmenteconcluído. A longa vida útil das fábricasde alumínio, bem como o elevado montan-

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

te de capital exigido na atividade viabili-zam a operação de plantas antigas e inefi-cientes (geralmente já depreciadas) mes-mo nos países industrializados. O Japão,dada a sua total carência de recursos natu-rais, já abandonou esta atividade, tornan-do-se o maior importador mundial do pro-duto. O gráfico 4 mostra a evolução, de1975a 1990,do consumo menos a produ-ção doméstica de alumínio primário no Ja-pão, EUAe Europa Ocidental. Observa-seque o Japão parte de uma quase auto-su-ficiência, em 1975, para um grande cres-cimento do consumo de metal importa-do, atingindo, em 1990,um consumo de2.380, 1 mil toneladas contra uma produ-ção doméstica de apenas 34,2 mil t. OsEUA apresentam grandes oscilações nobalanço consumo menos produção do-méstica, observando-se, a partir da com-paração dos gráficos 2 e 4, uma tendênciade aumento das importações nos períodosem que as cotações internacionais do pro-duto estão em baixa. Neste país, a partemais antiga da capacidade produtiva é de-sativada quando os preços do metal estãodeprimidos e reativada quando estes vol-tam a aumentar. A Europa Ocidental, porsua vez, tem apresentado um grande cres-

cimento do consumo de metal importadode outras regiões do mundo. Entre 1980e1990,este consumo aumentou de 94,5mil tpara 872,4mil t.

Os maiores exportadores mundiais dealumínio primário são Canadá, Austrália,Noruega e Brasil. O gráfico 5 apresenta aevolução, de 1975a 1990,das exportaçõesdesses países, mostrando que a produçãoestá se deslocando principalmente paraCanadá, Austrália e Brasil. Canadá e No-ruega, por serem ricos em recursos hídri-cos, são tradicionais exportadores do me-tal. A Austrália possui grandes jazidas decarvão mineral de onde extrai energia paraprodução de alumínio. O Brasil só se tor-nou exportador a partir de 1982,quandomaturaram os investimentos feitos no âm-bito do II PND.

A POSiÇÃO COMPETITIVA NACIONAL

A análise do setor brasileiro de alumí-nio primário mostra que a competitivida-de desta indústria está excessivamentecentrada nos recursos naturais do país:bauxita e energia elétrica. No caso do mi-nério, essa dependência não representaproblema na medida em que o país dispõe

Gráfico 4: Alumínio - Consumo menos produção. Países selecionados

2000

1500

1000

500

o

75 76 77 78 79 80 81Fonte: ALUMINIUM ASSOCIATION. Aluminium Statistical Review. Washington (vários anos).

82 83 84 85 86 87 88 89 90

(x1000 t)2500~--~--~--~--~-.--~--~--~--~--~~--~--~--~~EUROPA

JAPÃO

EUA

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RAE

Gráfico 5: Alumínio-Exportações menos importações. Países Selecionados

(x1ODO t)1400~------------------~--~--~--~--~------~--~--~--~--~

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400

200

75 76 77 78 79 80 81

NORUEGA

CANADÁ

AUSTRÁLIA

BRASil

Obs.: Alumínioprimário.

Fonte: Aluminium Association, Aluminium Statistical Review Washington(váriosanos),

Quadro 1: Posicionamento do setor brasileiro de alumínio frente aos determinantes da competitividade

Determinantes Propulsores Inibidores..

• ProdUÇãOde aiumma1. Condição de • Disponibilidade • Setor elétrico no

de minério limite dafatores • Fábricas modernas capacidade

• Custo de capitalelevado

,-

• Baixa renda per2-. Demanda capita

interna • Produção industrialestagnada

• Falta de tecnologia3. Estrutura, • Integração do minério

própriaestratég ia, • Pequeno númerorivalidade

ao metal primário de empresas• Plantas estatais

não integradas

4. Setores • Falta de integraçãorelacionados • Setor de mineração para cima (semi-e de apoio competitivo manufaturados)

• Setor energéticodescapitalizado

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

petitivo. No âmbito da estratégia das em-presas, verifica-se que a maior parte delasé verticalmente integrada, do minério àprodução de metal primário, seguindo atendência mundial do setor. A exceção res-tringe-se às fábricas estatais cuja etapa deprodução de óxido de alumínio (alumina)só estará concluída a partir de 1994.

O número de inibidores da competitivi-dade internacional no setor brasileiro dealumínio é, no entanto, muito superior aonúmero de propulsores. No âmbito dos fa-tores de produção, destacam-se a já citadafalta de capacidade instalada para produ-ção de óxido de alumínio (alumina) nas fá-bricas estatais, a capacidade limitada degeração elétrica e o elevado custo de capi-tal vigente no país. Com relação à deman-da interna, o principal inibidor da compe-titividade do setor deriva da baixa rendaper capita que caracteriza a economia na-cional. O consumo interno de alumínio sópoderá aumentar à medida que a rendanacional aumente. E a conjuntura atual deestagnação da produção industrial nãopermite visualizar a superação da criseeconômica a curto prazo.

O pequeno número de empresas pro-dutoras (cinco no total) e o reduzido graude rivalidade entre estas são outros ele-mentos que atenuam as pressões no senti-do do aperfeiçoamento, mas que são carac-terísticos de um setor capital-intensivo. Aintegração para cima, com a produção detransformados de alumínio, é ainda restri-ta no país, podendo ser atribuída princi-palmente à distância dos grandes centrosconsumidores (Europa e Japão) e às difi-culdades de transporte deste tipo de pro-duto. Além disso, o complexo metal-mecâ-nico brasileiro não é internacionalmentecompetitivo e articulado com o setor dealumínio.

Em síntese, o setor brasileiro de alumí-nio primário não apresenta elos de ligaçãosignificativos entre os quatro determinan-tes da competitividade internacional. Acompetitividade desse setor é fundada emapenas um dos determinantes: os fatoresde produção, no caso, recursos naturais eenergia. Estes, aliás, são abundantes e, empelo menos parte da produção nacional,incorretamente alocados e administrados.Assim, em pelo menos dois dos determi-nantes (demanda interna e os setores rela-cionados e de apoio), detectam-se impor-tantes obstáculos à manutenção, no longoprazo, da posição competitiva do setorbrasileiro de alumínio primário no merca-do internacional.O

de grandes reservas de bauxita de elevadaqualidade. No caso da energia elétrica, en-tretanto, o cenário é preocupante: o setorhidrelétrico nacional encontra-se próximodo limite de sua capacidade de geração eenfrenta sérias dificuldades para atenderao crescimento da demanda interna. Este éo principal problema que o setor de alumí-nio enfrentará num futuro próximo e quepoderá comprometer seriamente a posiçãocompetitiva internacional até agora con-quistada. O custo da energia utilizada naprodução de alumínio, que era de US$14/MWh no início da década de 80, pas-sou a ser US$ 27/MWh em 1989 (média daindústria)."

No Brasil, a demanda interna é nãoapenas limitada, como pouco

exigente. Diversos estudos emíricosjá mostraram que a demanda poralumínio é função da renda per

capita nacional.

Considerando a tarifa média atual daenergia elétrica no Brasil (US$ 27/MWh),constata-se que o custo da energia paraprodução de alumínio em uma fábrica detecnologia moderna (13.750 kWh/tonela-da de metal) tende a ser US$ 371 por tone-lada produzida, ou seja, 1,8vezes superiorà tendência mundial do setor (vide tabela1). Esses dados mostram que, no âmbitodos custos de produção, o país não podeser considerado competitivo para projetosde expansão da capacidade produtiva dealumínio primário.

O quadro 1 sintetiza o posicionamentodo setor brasileiro de alumínio frente aosdeterminantes da competitividade, segun-do o modelo de Porter. A comparação deelementos propulsores e inibidores dacompetitividade internacional, apresenta-da neste quadro, revela um grande núme-ro de inibidores e um número escasso deelementos propulsores.

Entre os elementos propulsores da com-petitividade destaca-se, além da disponi-bilidade de minério, a existência de fábri-cas modernas de tecnologia recente, cujoconsumo energético é relativamente redu-zido. Além disso, o país conta com um se-tor de mineração internacionalmente com- 17. ASSOCIACÃO BRASILEIRA

DE ALUMINIÓ. Op. cit.

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