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A CONSTRUÇÃO DE UM “MOVIMENTO DE MULHERES”: DA RELIGIOSIDADE A

PERCEPÇÃO DE GÊNERO. (GUARAPUAVA/PR 2003 – 2013)

Karina de Fatima Visentin Bochnia1

Resumo: Esse texto visa analisar por meio dos pressupostos da categoria de gênero conceituada por Joan Scott, as

maneiras por meio das quais, o denominado: Movimento de Mulheres da Primavera (MMP) da cidade de Guarapuava –

PR legitimou-se de 2003 a 2013, através da religiosidade por meio de atividades destacadas pelas representantes do

grupo, como reivindicativas de direitos sociais e, através dessas ações, buscaram visibilidade para atuar politicamente

como grupo atuante de pautas feministas, principalmente após a eleição de uma de suas representantes como vereadora

da cidade em 2009. No entanto, pelo viés de Michel Foucault, se compreende como se configurou as relações de poder

estruturadas por meio do MMP ao eleger a vereadora, como vice - prefeita do município em 2013 em uma aliança

partidária com um candidato de um dos grupos conservadores da cidade. Dessa forma, o MMP se protagonizou como

coadjuvantes de pautas de feministas na cidade. Para essa análise, foi necessária a utilização da história oral como uma

das principais metodologias, na compreensão desse processo.

Palavras-chave: Religiosidade. Gênero. Relações de Poder.

Este artigo é parte de uma pesquisa de mestrado2, referente á construção do denominado

Movimento de Mulheres da Primavera – (MMP)3 um grupo de aproximadamente 30 mulheres,

moradoras do bairro Primavera na cidade de Guarapuava/PR. E pretende abordar sobre as principais

atividades realizadas pelas mulheres desde o surgimento do denominado MMP em 2003 até 2013

ano em que uma das representantes do grupo, assumiu o cargo de vice – prefeita, fato inédito na

politica local, além disso esta, assumiu neste mesmo ano o cargo de secretária na Secretaria de

Políticas Públicas para as Mulheres em Guarapuava/PR. O objetivo é compreender como as

fundadoras do MMP, legitimaram o surgimento do grupo e suas ações pautadas na religiosidade,

por meio da Igreja Católica, assumindo um modelo feminino, entretanto a partir do momento em

conseguiram visibilidade por meio dos espaços políticos da cidade, passaram a assumir para este,

um caráter de movimento feminista.

A cidade de Guarapuava é baseada economicamente na monocultura para exportação em

grandes áreas de terras, por um lado, e, por outro, na agricultura de subsistência (SILVA, 2005 p.

116). A população da cidade no ano de 2010 era 167.328 pessoas, sendo que 81.797 pessoas eram

1 Mestranda do Programa de Pós – Graduação em História – (PPGH) Universidade Estadual do Centro-Oeste,

UNICENTRO. Guarapuava/PR, Brasil. 2 A “Primavera das Mulheres”: Feminismo e religiosidade em Guarapuava foi o título inicial do projeto de mestrado,

apresentado a Universidade Estadual do Centro – Oeste UNICENTRO no ano de 2015. No entanto a defesa da

dissertação, referente a esta pesquisa está em andamento, com data marcada para o dia 25/07/2017. Serão apresentados

neste texto, alguns aspectos referentes aos capítulos 1 e 2. 3 A partir daqui ao referir-se ao Movimento de Mulheres da Primavera, será utilizado à sigla MMP.

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do sexo masculino e 85.531 eram do sexo feminino4. No entanto, estas informações referentes a

população, foram estereotipadas por meio das relações binárias de gênero. Sendo uma prática

corrente em uma cidade considerada tradicionalista em que, conforme o mapa da violência contra a

mulher em 2012, o município ocupou o 96° no ranking nacional e a 11ª posição no ranking Estadual

paranaense. Foram 8,2 homicídios a cada 100 mil mulheres5. O que destacou o município como um

dos mais violentos do país, nesse período.

Dados que se fizeram necessários para compreender as maneiras pelas quais as mulheres do

MMP buscaram atuação na cidade de Guarapuava. Principalmente a partir do ano de 2009, ano que

foi eleita uma das representantes do MMP como vereadora da cidade, momento em que o grupo

passou a se colocar em defesa de pautas feministas. Sendo necessário compreender primeiramente,

como a partir das entrevistas elas buscaram legitimar discursos de atividades pautadas na

religiosidade a partir de 2003, inserindo-se em um contexto político – religioso. Atividades que

foram modificando o enfoque conforme alcançaram visibilidade na cidade. Principalmente após a

incorporação do grupo mediante um Projeto Político elaborado pelo padre, que atuou na paróquia

da Igreja Nossa Senhora de Fátima do bairro Primavera no ano de 2007, colocando-as em posição

favorável para a eleição de uma de suas representantes ao cargo de vereadora da cidade em 2008.

Representante que será denominada neste texto de Iva6.

A religiosidade como legitimadora das ações femininas.

O Bairro Primavera localiza-se nas margens da PR 466 e da BR 2777, e é considerado pela

população da cidade um bairro de periferia. Devido à localização possui uma economia

impulsionada pelo comércio, indústria e empresas de prestação de serviços. As profissões das

mulheres, variam entre: advogadas, cabeleireiras, catadora de batatas, empregadas domésticas,

professoras, entre outras. Portanto as mulheres que participam do MMP são provenientes deste

local. No grupo a variação geracional vai de 18 a 60 anos, e a composição étnica é variada.

4 Utilizou-se 2010 como referência por ser o ano em que os dados se aproximam mais do contexto de 2013, conforme o

recorte temporal 2003 – 2013. http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=29&uf=41. Acesso em

19/02/2017. 5 Disponível em: http://www.spm.gov.br/sobre/publicacoes/publicacoes/2013/relatorio_cpmi_mulher-. Em Guarapuava

no mês de outubro, todo ano é feita a campanha do Outubro Rosa em prol das mulheres vítimas do câncer, de acordo

com Priscila Schran de Lima no ano de 2013 o mês foi chamado de Outubro Vermelho em memória á cinco mulheres

assassinadas somente no referido mês. Disponível em:

http://eventos.ufpr.br/enpecom/enpecom2015/paper/download/71/20. Acesso em 25/02/2017. 6 Utilizou-se um codinome para identificar a representante do MMP, com a finalidade de preservar a identificação da

mesma, assim como os codinomes serão utilizados para identificação dos demais entrevistados citados. 7 Localização disponível em: http://mapasapp.com/mapa/parana/guarapuava-pr/6131-primavera/. Acesso em

24/02/2017.

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Para compreensão de como ocorreu o processo de surgimento do MMP, além da análise de

fontes variadas, foi fundamental a utilização da metodologia de análise da historia oral, pois de

acordo com Tedeschi, no uso da história oral, em estudos de gênero: “As realidades descritas pela

história passam a ser questionadas em sua construção e interpretação levando a uma crítica

epistemológica dos interesses dos grupos que a constroem e que se apropriam produzindo

percepções e representações dessa mesma realidade” (TEDESCHI, 2014). Sendo necessário ter a

consciência que não existe objetividade em quaisquer que sejam as fontes. (PORTELLI, 1997.p.

35). Ou seja, na análise de qualquer documento, é preciso partir do pressuposto de que nenhum

possui uma verdade absoluta, cada um deles reproduz o sentido a partir do seu lugar, no tempo e no

espaço.

Dessa forma, ao analisar as entrevistas de algumas das mulheres que atuaram desde o início

no grupo, do padre que atuou na paróquia Nossa Senhora de Fátima de 2001 a 2012, de uma das

mulheres que trabalhou nas pastorais da Igreja no ano de 2003, de uma freira, e da ata do

movimento. Compreendeu-se que o discurso fundador do MMP se deu em torno de uma conversa,

em uma roda de chimarrão em que as mulheres as vésperas do dia oito de março, questionavam-se

sobre o real sentido de comemoração da data.

Ao analisar o documento ata e as entrevistas observou-se que, cada uma das fontes

transmitiu o seu ponto de vista, os quais de certa forma se convergirão, visto que em ata a

transcrição se referiu que o surgimento do grupo se deu, por meio da roda de chimarrão em 2003,

por intermédio da freira Léia que as orientou a realizarem as nominadas Romarias da Mulher, as

quais serão comentadas na sequência. Judite uma das fundadoras, e o padre Sérgio comentaram que

nessa roda de chimarrão que ocorreu na casa de uma das representantes, o pároco teria sido o

principal motivador para o início do grupo e da Romaria da Mulher. Na visão da religiosa Léia, o

grupo de mulheres surgiu a partir de encontros bíblicos que as mulheres faziam na paróquia Nossa

Senhora de Fátima, orientados por ela (Léia, 2017). Já no ponto de vista de Giovanna, uma das

mulheres que atuou nas pastorais da paróquia no ano de 2003, o surgimento do grupo ocorreu a

partir da implantação de políticas sociais estatais no bairro e da participação das pastorais sociais no

desenvolvimento destas.

Compreendeu-se que em relação aos discursos de fundação, estes indicaram que o processo

de surgimento do MMP, foi marcado pela relação das representantes com a religiosidade, bem

como a relação que possuíam com programas sociais estatais no período. Por meio dos discursos de

fundação, na conversa em uma roda de chimarrão, as mulheres resolveram dar outra conotação ao

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dia da mulher, a partir da realização da Romaria da Mulher. Evento que passaram a organizar todo

ano, no mês de março a partir do ano de 2004.

Para Pamela uma das representantes do MMP, a Romaria da Mulher foi uma celebração que

elas resolveram fazer, com a ajuda da freira Léia, a qual trabalhou com as pastorais sociais, com

base na metodologia das Romarias da Terra. Conforme Corso, as Romarias da Terra teriam surgido

a partir da organização da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em 1975, por meio da necessidade da

população do campo, em encontrar formas litúrgicas que possibilitassem o encontro dos aspectos

político-econômicos com os aspectos religiosos da luta pela terra (CORSO, 1999, p. 167).

Dessa maneira, na visão de Pamela a adaptação da Romaria da Terra para a Romaria da

Mulher, trouxe as mulheres uma possibilidade de: “[...] rezar e ter uma ação de reivindicação dos

nossos direitos” (Pamela, 2016). A entrevistada buscou atrelar a metodologia de uma manifestação

religiosa, incorporando o grupo de mulheres como atuantes neste campo. O que foi observado tanto

nos discursos de fundação, quanto na análise de materiais referente às Romarias da Mulher, pois por

meio das atividades coletivas, as representantes do MMP buscaram demostrar o envolvimento delas

como mulheres comprometidas com a religiosidade, ao enfatizarem que desde o surgimento do

grupo possuíam consciência política. Nesse sentido, a análise baseou-se na premissa de Scott, para a

qual, gênero é uma primeira forma de dar significado às relações de poder (SCOTT, 1990, p. 22).

Consequentemente, foi necessário investigar as fontes referentes às primeiras Romarias da

Mulher, compreendendo as ditas ações de reivindicação realizadas por elas e, a partir de que

momento, o grupo passou a atrelá-las por meio das relações de gênero, como grupo de mulheres

partidárias aos movimentos feministas.

A primeira Romaria da Mulher foi organizada de acordo com as entrevistadas, com a

participação das mulheres que atuavam nas pastorais da paroquia Nossa Senhora de Fátima e

atuavam em grupos de estudos bíblicos organizados pela freira Léia. No entanto, a crítica da freira

foi em relação à maneira como as mulheres organizaram o evento, conforme a religiosa, a ideia de

realização da Romaria, teria partido do padre que atuava na paróquia, o que inviabilizou a

autonomia das mulheres (Léia, 2017). Na visão da religiosa, a tentativa dela em incentivar as

mulheres a realizarem este trabalho, se deu porque não havia um esforço das mulheres em apoiar-se

na religiosidade para agir politicamente.

Assim, na organização da primeira Romaria da Mulher com a temática: “No teu olhar

mulher, a esperança de um novo dia”, assim como nas demais, foram utilizados pelas mulheres

elementos como: músicas, poesias e teatros proporcionando o objetivo do grupo em despertar a

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participação das demais mulheres na comunidade religiosa. Além do café da manhã, em que elas se

dividiam para levar alimentos, oferecendo-as um espaço de sociabilidade, e a realizarem a

denominada mística: um momento que uma das organizadoras do MMP, orientava as demais a

expressar atos, de fé por meio de orações. Geralmente o espaço era disponibilizado pela paróquia

Nossa Senhora de Fátima. Durante a caminhada, eram realizas paradas em lugares estratégicos, em

que se realizavam os teatros. Ao final, havia a celebração de uma missa, que se realizava em uma

chácara da instituição. O que demostrou o interesse de divulgação da paróquia na organização das

Romarias da Mulher.

Elementos que propiciaram a participação delas, na medida em que se chamava a atenção

por meio do que é aceito socialmente como lugar da mulher, o espaço privado. Conforme

Woodhead, 2001 a exclusão do espaço público, pode reforçar a participação religiosa da mulher,

sendo o espaço doméstico um lugar valorizado pela religião, o que as proporciona sentirem-se

confortáveis. Neste caso, as Romarias da Mulher, mesmo orientada pela freira a ser uma caminhada

pelo bairro, assumindo um caráter mais político conforme ela, inseriu-se por meio do espaço

institucional, da participação do pároco, da freira e das mulheres que atuavam nas pastorais em um

contexto marcado pela religiosidade.

A segunda Romaria da Mulher com o tema: “Mulheres e Homens, renascendo de um novo

parto para uma nova vida”, ocorreu no ano 2005, foi possível observar as orientações da religiosa,

que possuía leitura da teologia feminista, pois ao buscar atingir o público masculino, elas

reforçaram a proposta de equilíbrio entre homens e mulheres, pautando-se nas relações binárias,

advindas do essencialismo da teologia feminista, nos materiais de estudo da religiosa. Em 2006, o

MMP organizou a realização da terceira Romaria da Mulher com o tema: “O fogo matou o corpo,

mas da chama ressurgiu a luta das mulheres”, além de rememorar a história da primeira Romaria,

elas voltaram a focar no encorajamento das mulheres, além de utilizarem exemplos de coragem,

pautadas em personagens bíblicas como Ester e Judite. Esse evento teve a finalidade de incentivá-

las a agir, nos vários espaços da comunidade.

Nesse sentido, foi em 2007, com a realização da quarta Romaria da Mulher, que o

documento ata do MMP demostrou os primeiros indícios de ação das mulheres, a temática foi:

“Feminino em Ação, gerando uma nova nação”. Neste ano, o padre da paróquia havia mobilizado

entre a comunidade do bairro, o nominado Projeto Político pelo Bem Comum. “Este projeto foi

elaborado pela comunidade no ano de 2004, tendo o objetivo de eleger um representante do bairro

para atuar na casa de leis” (Sérgio, 2016). Porém, não tendo êxito na eleição do representante

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escolhido naquele ano, a proposta foi reelaborada, e apresentada à comunidade na quarta Romaria

da Mulher em 2007, pois este era o evento que mais reunia pessoas e chamava a atenção dos

moradores no bairro.

Foi possível inferir que, na organização das Romarias da Mulher de 2004 a 2007 as ações do

MMP, restringiram-se a uma atuação religiosa, visto o contexto em que legitimaram o discurso de

fundação do grupo, bem como uma atuação de caráter mais feminino do que feminista. Desse

modo, faz-se necessário compreender como as ditas ações de reivindicação do MMP por meio das

Romarias das Mulheres, passaram a ter mais visibilidade no bairro, após o momento em que a

representante do MMP Iva, foi escolhida em agosto de 2007 para representar o Projeto Político pelo

Bem Comum (Marinho, 2012, p.147.) lançado pelo pároco, como candidata a vereadora da cidade

de Guarapuava.

Da representação religiosa a ação política.

No ano de 2008 o MMP passou a empenhar-se em se destacar tanto a atuação da candidata,

como a representação do grupo, como mulheres atuantes de ações em benefício da comunidade. Ao

Iniciar a campanha eleitoral, o MMP passou a destacar junto a jornais informativos do bairro, a

atuação da candidata juntamente ao MMP colocando-a como o modelo de feminilidade em que as

mulheres deveriam depositar sua confiança, sendo a candidata capaz de representar o denominado

Projeto pelo Bem Comum. Em um jornal de campanha eleitoral de 2008, se observou a ênfase nas

características, femininas de Iva, como : “Mãe, esposa, comprometida com as pastorais sociais e

com o bem comum, sempre manteve uma postura ética, e com sua sensibilidade humana, foi

escolhida para representar o projeto político[...]8”. Foi por meio dos ditos papéis femininos que

Iva, se portou perante as propagandas. Ao buscarem se respaldar em ações do MMP, para a

campanha, foi possível também a análise de um jornal eleitoral patrocinado pela paróquia,

denominado: Informativo Pelo Bem Comum 2008, p.01, este apresentou na matéria de capa, as

mulheres do grupo em uma ação de limpeza do popularmente conhecido como rio Xarquinho, rio

que atravessa o bairro Primavera.

Uma das ações mais comentada pelas entrevistadas, de acordo com elas essa ação teria

ocorrido em 2007 após a realização da quinta Romaria da mulher. Porém, uma das entrevistadas

relatou que a ação não teria sido exclusiva do MMP, mas foi em parceria com outras entidades,

como uma escola Estadual do bairro, contando com o apoio das mulheres que atuavam nas pastorais

8 Informativo eleitoral, 2008.

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da paróquia (Ester, 2016). Nesse sentido, ao buscar se colocar como grupo que atuava em favor de

reivindicações á comunidade, o MMP não era independente das demais instituições, e respaldava-se

principalmente no apoio das mulheres que atuavam na Igreja. Ao passar o período das eleições, no

início de 2009, com a vereadora Iva eleita, realizou-se a sexta Romaria da Mulher com o tema: “Sei

o meu valor, acredito nas mulheres”. Logo, tornou-se um evento comemorativo das eleições. A

partir desse momento, algumas das representantes do MMP criaram mecanismos de divulgação das

atividades exercidas pela vereadora, como um site exclusivo da vereadora9, e um jornal informativo

- semestral em parceria com a paróquia os quais destacavam funções exercidas por ela, durante o

mandato.

Outro fato relevante foi o registro do denominado MMP, com caráter de associação em

cartório, passando a utilizar o nome de Movimento de Mulheres da Primavera, pois até então, de

acordo com uma das entrevistadas, o termo utilizado ao se referir ao grupo, era grupo de mulheres

(Marcela, 2017). Além de adotarem o costume de registar as reuniões em ata. O que expressou a

necessidade de formalização e organização do grupo, após a eleição da vereadora, visto que esse se

tornou rede de apoio à mesma. O grupo de mulheres passou então a amparar o mandato da

vereadora, organizando outro evento realizado durante o mandato de 2009 a 2012, uma vez por ano

no bairro, ainda nas dependências da paróquia, porém com apoio da vereadora. O evento nominava-

se “Encontro das Mulheres que Lutam e Sonham10”. Sendo possível, observar, principalmente por

meio dos panfletos de divulgação dos encontros, e das imagens e cores, que estes materiais faziam

menção à inserção delas como partidárias dos movimentos feministas. Contudo em um dos

materiais, ao convidar as mulheres, o assunto se registrou: “relativos ao papel da mulher no mundo

de hoje” 11. Ao informar as demais mulheres, foi necessário utilizar a linguagem feminina, pois era

dessa forma que elas haviam agindo. Embora de acordo com a Sempre Viva Organização

Feminista, (SOF) não exista separação, entre os movimentos de mulheres e os movimentos

feministas12.

Todavia, foi com respaldo na inserção política das mulheres, que o MMP trouxe ao primeiro

evento em 2009, duas figuras políticas do Partido dos Trabalhadores (PT) para a palestra: a então

Senadora Gleisy Hofmann e a líder do Sindicato de Trabalhadores da Educação Pública do Paraná

(APP – Sindicato) Janislei Albuquerque. Embora o mandato da vereadora pertencesse ao Partido

9 O site não se encontra mais ativo na rede. 10 Arquivo do Movimento de Mulheres da Primavera, 2009. 11 Panfleto do 1° Encontro das Mulheres que lutam e Sonham. Arquivo do Movimento das Mulheres da Primavera.

Guarapuava, 2009. 12 SOF, 2014, p. 246.

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Humanista da Solidariedade, um partido de base ideológica centro direita, esta possuía uma relação

de proximidade com pessoas que atuavam nos partidos de centro - esquerda. Dessa maneira, foi

possível perceber que nos primeiros momentos em que o grupo se mostrou simpático a causa

feminista, manifestou também o interesse na atuação político - partidária.

Nessa perspectiva, a proximidade com as pautas dos movimentos feministas se fez ainda

mais significativa na sétima Romaria da Mulher em 2010, com o tema: Seguiremos lutando até que

todas sejam ouvidas.13 Visto que, a temática da Terceira Ação Internacional do Marcha Mundial das

Mulheres (MMM) – teve como tema: Seguiremos em Marcha até que todas sejam livres14. Embora

o MMP não tivesse nenhuma das lideranças filiadas a essa organização, dois dos campos de ação,

levantados como bandeira na marcha: “Trabalho e autonomia econômica das mulheres; Violência

contra as mulheres” 15passaram a fazer parte dos objetivos de atuação do grupo.

A partir dessa Romaria da Mulher, o MMP rememorou as Romarias anteriores,

relacionando-as aos enfoques feministas, pois de acordo com as políticas para as mulheres

implantadas pelo Governo Federal, era necessário que elas se inserissem dentro desse quadro, já que

possuíam proximidade com algumas representantes do PT. Assim, na oitava Romaria da Mulher em

2011, a temática proposta por elas foi: Mulher e Terra: vidas que geram vidas 16. Novamente o

tema retomou os debates da teologia feminista, principalmente por meio do ecofeminismo, definido

por Ivone Gebara: “O movimento ecofeminista defende a posição de uma relação estreita entre a

exploração e a submissão da natureza, das mulheres e dos povos estrangeiros pelo poder patriarcal”

(GEBARA, 1994 p.6). A terceira fase da teologia feminista propunha a ruptura nas relações de

gênero, baseadas na lógica binária, pois da mesma maneira que a mulher, a natureza também teria

sido tratada pelos princípios da dominação patriarcal. Percebeu-se desta forma que, a questão de

gênero foi enfocada por elas por meio do lugar social em que estavam inseridas, ou seja, a Igreja

Católica, nesse sentido ao assumir-se enquanto feministas, também não poderiam romper dentro do

próprio campo ao qual buscaram legitimar-se.

Outro acontecimento destacado pelas entrevistadas como ação de reivindicação, nesta

Romaria da Mulher, foi às reivindicações contra os buracos que havia no asfalto do bairro, em que

elas plantaram flores nos mesmos, a notícia saiu no jornal Diário de Guarapuava, 2010 p. 21 um

dos jornais da cidade. Sendo também esta, uma forma de chamar a atenção da comunidade,

13 Ata n° 01, 2009, p. 05. 14 SOF, 2014, p. 246 15 Idem. 16 Ata n° 01 , 2009. p. 09.

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mostrando a oposição ao Poder Público Municipal, em razão de que, haviam perdido a eleição da

candidata ao cargo de Deputada Estadual em 2010, tendo a necessidade de transmitir a organização

do grupo e a preocupação com as causas da comunidade.

Neste mesmo ano, outra ação considerada por elas como ação de reivindicação, foi a coleta

de assinaturas para a construção de creches na cidade. Sendo esta uma das ações mais comentadas

pelas entrevistadas, e mais utilizada como fonte de divulgação do MMP, observaram-se nos jornais

diários, panfletos e mobilizações no centro da cidade, o modo como elas organizaram-se para coleta

de assinaturas em um abaixo assinado, o qual foi entregue por um das representantes do MMP, em

16/04/2012 a senadora Gleisy Hoffmann17. Este ano também foi ressaltado por elas por meio do

documento ata, como o ano em que elas mais se envolveram com a União Brasileira das Mulheres

(UBM), e que as representantes do grupo realizaram a 1ª Conferência Municipal dos Direitos da

Mulher, trazendo para o evento a Secretária da Secretaria de Políticas para as Mulheres de Maringá-

PR18

Em 2012, último ano de mandato da vereadora, a temática da nona Romaria da Mulher foi:

Mulheres e homens juntos pelo equilíbrio19. A realização do evento foi em parceria com as

mulheres que atuavam nas pastorais da paróquia da Igreja São Pedro do Bairro Boa Vista20, em um

bairro próximo ao bairro Primavera, durante o evento elas realizaram críticas em relação ao descaso

das políticas públicas, e inseriram o tema da campanha da fraternidade daquele ano: Fraternidade e

a Vida no Planeta21. Após a realização desta Romaria, as representantes do MMP avaliaram de

maneira negativa a abordagem dos temas debatidos pela Igreja. Desta forma, compreendeu-se que

ao buscar alcançar a visibilidade de um público para além do bairro, elas visualizaram a necessidade

destacar assuntos mais próximos ao cotidiano, e menos religiosos, entretanto a própria configuração

do grupo, não permitiu essa separação, limitando as ações denominadas pelo grupo como ações de

reivindicação, sendo estas delimitadas pelo poder institucional da Igreja Católica.

Durante o decorrer do ano de 2012, o MMP procurou um dos representantes das famílias

tradicionais da cidade, Cesar Augusto Silvestri Carollo Filho do Partido Popular Socialista (PPS)

Deputado Estadual no período e candidato a prefeito, e propôs a este, que levasse a vereadora Iva

(PHS) a assumir com ele o cargo de vice - prefeita da cidade. Mesmo porque, conforme os contatos

17 Ofício nº 1001, 2012. 18 Ata n° 01, 2009, p.16. 19 Ibid. p. 18-19. 20O bairro localiza-se na PR 466. A distância a pé entre o bairro Primavera e o bairro Boa Vista é de aproximadamente

35 minutos com aproximadamente 2,8 km de distância. 21 Disponível em: <https://www.letras.mus.br/cnbb/hino-da-cf-2012/>Acesso em: 17 out. 2016.

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estabelecidos entre o MMP e a secretária da Secretaria de Políticas Públicas em Campo Mourão,

havia no grupo uma cogitação de implantação de uma Secretaria de Políticas Públicas na cidade de

Guarapuava - PR. Para isso, foi necessário atrelar-se partidariamente a um grupo politicamente mais

favorecido economicamente, pois de acordo com a entrevistada Iva, 2017, o PHS não possuía

recurso financeiro, e o PT não aceitou fazer coligação com o partido delas. Além do que, as ditas

reivindicações, que deram a visibilidade ao grupo por meio da mídia, chamou a atenção do Poder

Público. Desta maneira, o candidato Cesar Augusto Silvestri Carollo Filho do PPS e a vereadora Iva

do PHS, compuseram a chapa de eleição em 2012, vencendo as eleições, assumindo os cargos em

01 de janeiro de 2013 na Prefeitura Municipal de Guarapuava.

Assim a décima Romaria da Mulher realizada no ano de 2013, com o tema: “Direitos da

Mulher na lei e na Vida - 10 anos de história”, não deixou de ser mais um evento comemorativo,

que além de celebrar os dez anos de organização das Romarias da Mulher, festejaram a posse de

uma das representantes ao cargo de vice- prefeita. Nessa Romaria, foi utilizada a representação de

uma deusa grega: Thêmis, por meio de uma representante negra do MMP, que vestia um cinto com

as cores do movimento Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros (LGBTTT),

simbolizando a deusa da justiça, que em uma balança colocava os direitos das mulheres que haviam

sido conquistados nos últimos anos, e ainda aqueles que deveriam ser ainda efetivados.

Esse evento foi um dos mais representativos, na medida em que evidenciou o caleidoscópio

em que o MMP se tornou, no emprego de termos religiosos, pagão (Têmis), LGBTTT e feminista.

Sendo também um dos eventos que mais causou polêmica na comunidade religiosa. O que de

acordo com uma das entrevistadas, atingiu o objetivo pretendido (Pamela, 2016). Visto que, para se

efetivarem por meio da criação da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, era necessário,

o reconhecimento do grupo como defensoras de direitos sociais. A Secretaria foi inaugurada em

28/03/201322

Considerações finais:

Compreendeu-se que ao legitimarem-se na religiosidade, as representantes utilizaram-se

desse artificio, como ponte política para eleger uma de suas representantes ao cargo de vereadora da

cidade de Guarapuava/PR, o MMP vislumbrou a oportunidade de aproximar-se das pautas de

gênero. Entretanto, conforme as relações de poder estabelecidas entre a Igreja Católica e os grupos

políticos da cidade, foi por meio da política conservadora que as representantes do MMP inseriram

22 Secretaria da Mulher inaugura sede própria em Guarapuava. Jornal Rede Sul Guarapuava – PR. 28/03/2013.

Disponível em: <http://www.redesuldenoticias.com.br/home.asp?id=50860>. Acesso em: 05 jun. 2017

Page 11: A CONSTRUÇÃO DE UM “MOVIMENTO DE MULHERES”: DA ......1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017,

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

uma de suas representantes na política partidária, porém buscando legitimar-se como grupo

favorável á causas sociais, característica ideológica de partidos de esquerda.

Fontes Orais:

Pamela. Entrevista concedida em 10/08/2016. Guarapuava/PR.

Judite. Entrevista concedida em 18/03/2014. Guarapuava/PR

Léia. Entrevista concedida em 25/02/2017. Prudentópolis/PR.

Sérgio. Entrevista concedida em 10/08/2016. Guarapuava/PR

Referências

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p. 07. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/PoliEtica/article/download/19492/1810>.

Acesso em: 19 mai. 2017.

CORSO, João Carlos. A mística da terra: Um estudo sobre a Romaria da Terra (Rio Bonito do

Iguaçu- PR-1997). Guarapuava, 1999, p. 67. 132 p. Dissertação (Mestrado em História). UNESP.

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2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola,

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1994.p.6.

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2014. p. 14. Disponível em: <http://www.marchamundialdasmulheres.org.br>. Acesso em 24 mai.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

SPRING OF WOMEN: FROM RELIGIOUSNESS TO GENDER PERCEPTION.

(GUARAPUAVA/PR 2003 – 2013)

Astract: Abstract: This text aims to analyze, through the assumptions of gender category classified

by Joan Scott, the ways by which the Movement of the Primavera Women (MMP – Portuguese

Abbreviation) from Guarapuava – PR justified itself from 2003 to 2013; through religiousness and

activities that were emphasized by the group representatives as revendicative of social rights, the

movement searched for visibility to proceed politically as an active group of feminist guidelines,

mainly after the election of one their representatives as council-woman in the city in 2009.

Nevertheless, through Michel Foucault´s point of view, it is possible to understand how the

structured power relationships are configured by the MMP (Portuguese abbreviation) in electing the

mentioned council-woman as the deputy-major in 2013 in allying with one of the conservative

political group in the city. Thus, the MMP (Portuguese abbreviation) has played the supporting role

in the feminist guidelines in the city. In order to develop the analysis, it was necessary to use the

oral history as one of the principal methodologies in the comprehension of that process.

Keywords: Religiousness.Gender. Power relations.


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