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A contribuição da iluminação no aprendizado infantil – estudo de caso das escolas de Ensino Infantil na
cidade de João Pessoa, PB dezembro/2014
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014
A contribuição da iluminação no aprendizado infantil – estudo de
caso das escolas de Ensino Infantil na cidade de João Pessoa, PB
Helena de Cássia Pessoa Nogueira Serrão – [email protected]
Iluminação e Design de Interiores
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
João Pessoa, PB, 25 de abril de 2014
Resumo
As escolas de ensino infantil da rede particular, na cidade de João Pessoa, tiveram um
grande crescimento tanto quantitativo quanto qualitativo nos últimos cinco anos, nas quais
foram incrementadas as atividades lúdico pedagógicas, aperfeiçoados os serviços de
nutrição, psicopedagogia e as atividades recreativas. Frequentemente, essas escolas são
instaladas em edificações originadas da adaptação de antigas residências de alto padrão,
onde se pode observar o grande investimento realizados em elementos de apelo visual e
equipamentos que auxiliem nas suas propostas lúdico-pedagógicas. Apesar disso, muitas
apresentam defici~encias na área de iluminação. É perceptível a falta de preocupação com
esse componente de projeto, tanto de ordem natural quanto artificial, nesses
estabelecimentos. A presente pesquisa consiste na verificação e na análise da iluminância
encontrada em uma amostragem das escolas de ensino infantil na cidade de João Pessoa.
Para isso, foi empregada como metodologia a pesquisa in loco em três estabelecimentos, nos
quais se coletou dados, também, sobre o grau de conhecimento dos professores sobre a
temática. As medições apresentaram as deficiências lumínicas, em relação à ABNT NBR
ISO/CIE 8995-1:2013, na maioria dos ambientes pesquisados, e, as entrevistas comprovaram
que os conceitos de iluminação e os seus efeitos na saúde precisam ser mais divulgados, tanto
entre os seus usuários, como no meio profissional, de arquitetos a designeres, que projetam
espaços nos quais a iluminação é um componente tão determinante.
Palavras-chave: Iluminação. Educação Infantil, Verificação de Iluminância, Arquitetura de
Escolas.
1. Introdução
O número de escolas voltadas à educação infantil, na cidade de João Pessoa, aumentou
bastante, nos últimos cinco anos. Isso se deveu à diversos fatores, como as modificações
intensas nas relações de trabalho doméstico, o aumento da participação da mulher no mercado
de trabalho com jornada dupla, o aumento do número de divórcios, entre outros. Cada vez
mais as crianças têm passado a frequentar escolas mais cedo – outrora, as crianças
ingressavam nas escolas aos 03 anos de idade, agora estão passando a frequentar creches e
berçários a partir dos 04 meses de idade. Nos últimos cinco anos houve um aumento de 35% a
40%, na quantidade de pedidos de abertura de novos estabelecimentos de ensino, segundo a
Secretaria Estadual de Educação da Paraíba, que é o órgão responsável pela autorização das
escolas particulares em todo o estado. A modalidade de ensino conhecida como Ensino
Infantil foi a que mais cresceu; essa tipologia recebe crianças a partir de 01 ano de idade e a
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introduz em um universo de aprendizado assistido por pedagogas e auxiliares. Muitas dessas
escolas possuem berçários, também, reduzindo, assim, a faixa etária de ingresso dos alunos.
O ensino infantil é uma das etapas mais importantes na educação de um indivíduo; é nessa
fase que a criança passa a ter contado com uma série de experiências sensoriais, de forma
lúdica, porém, com finalidades educativas, que lhes estimularão para etapas mais complexas
no futuro. Segundo Arnheim (2007), “A vida mental das crianças está intimamente ligada à
sua experiência sensória.”
Para isso, é necessário que os espaços voltados à essa modalidade de ensino sejam dotados de
estrutura física capaz de permitir o pleno aproveitamento de todas as atividades propostas pela
equipe pedagógica, a todos os seus usuários. O ambiente deverá influir e auxiliar a dirimir
diferenças de desempenho, promovendo, também, um saudável aprendizado, que incentive e
estimule a autoestima das crianças que o frequentam. A iluminação funcional é um dos itens
fundamentais para que uma pessoa possa usufruir plenamente de um espaço cujas
experiências visuais são predominantes. Caso ela não seja devidamente planejada, pode-se ter
déficits de aprendizagens diversos, bem como alguns prejuízos à saúde. A iluminação de um
ambiente poderá ser natural, artificial ou mista, distribuída uniformemente, em quantidade
proporcional às atividades que serão realizadas e ao perfil de seus usuários.
A luz natural é um dos elementos de maior relevância no deselvolvimento de crianças, sendo
ela determinante para que diversas reações químicas e hormonais ocorram, contribuindo para
o seu completo desenvolvimento. É na presença da luz natural que o Ciclo Circadiano do
corpo humano se orienta - identifica as passagens das horas do dia e as estações do ano,
percebe as horas em que o seu corpo necessita descansar e despertar. A presença de luz
natural nos ambientes de ensino propicia às crianças uma melhor percepção do espaço. A luz
do sol é a que detém o melhor IRC (Indice de Reprodução das Cores), não sendo totalmente
substituída, em qualidade e precisão, por nenhuma fonte de luz artificial; assim, é muito
importante que ambientes de ensino sejam providos de luz natural.
Figura 1 – Diferença entre um objeto iluminado pela luz artificial e pela luz natural
Fonte: Arquitetura e Urbanismo UFSC (2014)
Como nessa fase as crianças estão formando o seu banco de dados visual, as informações
visuais que elas recebem devem ser o mais precisas possível. Arnheim (2007:300) cita que a
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identificação das formas é proporcionada pelos gradientes de claridade que criam
profundidade, através de sombras, que auxiliam nesse processo de percepção.
Uma vez que a claridade da iluminação significa que uma dada superfície está
voltada para a fonte de luz , enquanto a obscuridade significa que está afastada, a
distribuição da claridade ajuda a definir a orientação dos objetos no espaço.
Essa pesquisa buscou apresentar um panorama geral das escolas particulares de ensino infantil
na cidade de João Pessoa, no que diz respeito à iluminação, coletando dados e comparando-os
com a ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013, bem como verificar o grau de conhecimento dos
professores e das pessoas que cuidam das crianças sobre a importãncia desse componente
projetual tanto no aprendizado, como no comportamento dos alunos. Para isso, foram
coletados dados de uma amostragem de três escolas localizadas em bairros de classe média,
nas quais mediu-se a iluminãncia média dos principais setores de aprendizagem e atividades
lúdico-educativas e, realizadas entrevistas com os seus professores sobre a temática da
iluminação. Pôde-se perceber, através da análise dos dados coletados e das respostas nas
entrevistas, que a maioria dos espaços encontram-se em desconformidade com a NBr e que
boa parte das pessoas entrevistadas desconhecem alguns elementos fundamentais que
conferem qualidade à iluminação.
As escolas pequisadas solicitaram o seu anonimato, proibindo a divulgação de seus nomes e
endereços, bem como a realização de fotos. Dessa forma, utilizou-se uma denominação
codificada para as três escolas: Escola A, Escola B e Escola C, com as suas respectivas
caracterizações no corpo do trabalho.
A pesquisa mostrou-se bastante relevante, pois demonstrou as deficiências de ordem
lumínicas desses espaços, que foram adaptados por profissionais da área de arquitetura e
design, evidenciando que é preciso que eles dêem mais atenção ao planejamento da
iluminação funcional nesses estabelecimentos, tornando-os condizentes com a especificidades
de seus usuários.
Segundo Janesh (2013):
Ao observar as salas de aula de creches e pré-escolas percebe-se uma grande
preocupação com o mobiliário, proporcional a facha etária da criança em relação a
média de altura, as cores e decoração nas paredes, porém, ao identificarmos a
iluminação vemos basicamente um simples ponto de luz centralizado no espaço.
3. Conceitos essenciais sobre as grandezas fotométricas necessárias para projetos de
iluminação
A proposição de um sistema de iluminação requer que o projetista esteja familiarizado com
determinados conceitos de ordem qualitativa e técnica para decidir o tipo de luz que será mais
apropriada para determinado ambiente. Para isso, ele deverá procurar compreender bem a
atividade que será desenvolvida no local e ter um perfil bem traçado de seus usuários para
definir o tipo de iluminação que será instalada. Segundo Farina, Perez e Bastos (2006), “a luz
é mediação. Os objetos do mundo aguardam inertes e latentes a sua manifestação, que só será
possível, quando levados por feixes luminosos até os nossos olhos.”
Diversos componentes deverão ser considerados para a definição de uma proposta de
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iluminação, dentre elas destacamos a Temperatura de Cor, o Índice de Reprodução de Cores,
o iluminamento necessário em conformidade com a ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013, as
cores das superfícies, suas respectivas texturas e refletâncias; também se devem considerar
fatores de desempenho e idade dos usuários, assim como a natureza da tarefa que irá ser
desempenhada no local. O aproveitamento da luz natural depende da avaliação da oferta de
luz no ambiente e da sua distribuição, para que se possa definir a melhor estratégia de para a
sua utilização.
Vianna e Gonçalves (2001) dividem as grandezas fotométricas a partir do tipo de luz com a
qual se irá trabalhar. Trabalhando-se com a luz natural, o projetista deverá considerar a
Luminância, a Iluminância e o Contraste; já em se tratando da luz artificial, ele deverá
considerar, além das três anteriores, também o Fluxo Energético, o Fluxo Luminoso, a
Intensidade Luminosa a Eficiência Luminosa, a Temperatura de Cor e o Índice de
Reprodução de Cor.
A Luminância é a luz refletida pelos corpos, sendo visível; e, a Iluminância é a luz incidente,
não visível. O contraste é a diferença existente entre as luminâncias de um determinado objeto
e o seu entorno. O Fluxo energético é a potência absorvida pela fonte luminosa, ou seja,
refere-se ao que essa fonte luminosa precisa consumir de energia para produzir luz e a sua
unidade de medida é o watt (W). O Fluxo Luminoso, cuja unidade é lumens, refere-se a
radiação total emitida por uma fonte luminosa, dentro dos limites que produzem estímulos
visuais. A Intensidade Luminosa é o fluxo luminoso irradiado em uma determinada direção,
ou seja, é quando ele se torna um vetor. Utilizado para iluminação pontual. Sua unidade é a
Candela (cd). A Eficiência luminosa ou rendimento, segundo Vianna e Gonçalves (2001),
consiste na “relação entre o fluxo luminoso em lúmen emitido por uma fonte e o seu fluxo
energético (potência) consumido para produzi-lo.” Sua unidade de medida é lúmen/watt.
A Temperatura de Cor, de acordo com Silva (2004) é uma grandeza que define a cor da luz
emitida pela fonte luminosa. Quanto maior for a temperatura, ou calor, emitida pela fonte,
mais branca será a cor da luz emitida. Sua unidade de medida é o Kelvin, conforme
demonstrado na figura 2.
Figura 2 – Escala Demonstrative de Temperatura e Fontes de Luz
Fonte: RPDesigner Fly (2014)
O Índice de Reprodução de Cores – IRC - é um parâmetro comparativo entre a luz artificial e
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a luz natural. Ele procura medir quanto que a luz artificial consegue imitar a luz natural, em
termos de eficiência e precisão na reprodução das cores. A luz solar possui IRC igual a 100.
As diversas fontes de luz artificial não chegam a atingir esse índice, sendo as incandescentes
as que mais se aproximam, passando de 90.
Figura 3 – Tabela de IRC da maioria das lâmpadas
Fonte: Avant (2014)
Todas essas grandezas deverão ser consideradas no momento de se definir a qualidade da luz
que será projetada em determinado ambiente, considerando-se o que for determinado pela
norma específica para o seu uso.
4. Metodologia
A metodologia empregada nessa pesquisa baseou-se na pesquisa bibliográfica sobre
iluminação e escolas, em especial, em estabelecimentos de educação infantil, revistas
impressas e digitais, livros, entre outros. A coleta de dados foi realizada em três escolas
particulares, na cidade de João Pessoa, localizadas: Escola A, no Bairro dos Estados, Escola
B, no bairro de Tambaú e, a Escola C, no bairro do Jardim Luna. Os três estabelecimentos
permitiram que se realizassem medições, com o uso de luxímetro, entretanto, não permitiram
fotos nem medições para a elaboração de croquis. A pesquisa baseou-se na aferição da
iluminância média encontrada nos principais espaços de atividades lúdico-pedagógicas,
utilizando a metodologia apresentada na NBR 5382/85, para verificação de iluminância em
interiores, comparando-as com as iluminâncias recomendadas e definidas pela ABNT NBR
ISO/CIE 8995-1:2013. Foi feita a verificação das condições de aproveitamento da luz natural
nesses ambientes e de sua distribuição. Finalmente, foram entrevistadas algumas pessoas que
compõem os respectivos corpos docentes das instituições, com a finalidade de conhecer a sua
percepção em relação à iluminação, através de perguntas com respostas diretas.
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5. Resultados obtidos na pesquisa
A pesquisa foi realizada em três escolas caracterizadas dessa forma:
Escola A: localizada no Bairro dos Estados. Funciona como berçário e escola infantil. Possui
Sala de Estimulação (com pérgula), Salas de Aulas, Sala de TV, Quartos de Descanso,
Refeitório, Recepção e Coordenação. Possui área externa com equipamentos para estimulação
ao ar-livre.
Escola B: localizada no bairro de Tambaú. Funciona como berçário e escola infantil. Possui
Sala de Estimulação, Salas de Aula, Sala de Atividades (com pérgula), Brinquedoteca,
Videoteca, Quartos de Descanso, Refeitório, Recepção e Coordenação. A área externa possui
estrutura para atividades de estimulação ao ar-livre.
Escola C: localizada no bairro do Jardim Luna. Funciona como escola de Educação Infantil e
reforço escolar. Sua estrutura física é composta de Salas de Aulas, Sala de Artes, Refeitório,
Sala de Vídeo, Recepção e Coordenação. A área externa possui diversos equipamentos de
estimulação e atividades ao ar-livre, como caixa de areia, cama elástica, piscina de bolinhas,
entre outros.
Os resultados foram divididos em três grupos, conforme situação encontrada nas três escolas:
situação da iluminação artificial, oferta e aproveitamento de luz natural, grau de
conhecimento dos usuários a cerca da iluminação.
As medições de iluminância média foram feitas através do uso de um luxímetro calibrado,
pertencente ao Laboratório de Luz e Cor, do IFPB – Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia da Paraíba. Foi utilizada a metodologia da NBR 5382/85 para medir os três
espaços elencados. Assim, no quesito Iluminação Artificial, foram aferidas as iluminâncias
médias das salas de aulas, das salas de estimulação e das salas de atividades/artes. Verificou-
se que todas as salas possuíam pontos de luz distribuídos em conformidade com o antigo uso
residencial do local – muitas dessas salas localizam-se nos antigos quartos providos de apenas
um ou dois pontos de luz, com lâmpadas de descarga de baixa pressão, do tipo fluorescente
compacta, visivelmente branca em excesso – as lâmpadas que são vendidas em
supermercados e hipermercados possuem IRC igual a 6.500K, que equivale a uma
característica de luz bastante branca.
Abaixo, segue a tabela com os resultados obtidos nas três escolas:
ESCOLA AMBIENTE Salas de Aulas Sala de Estimulação Sala de Artes/Atividades
Escola A 270 255 180
Escola B 220 280 310
Escola C 245 265 230
Figura 4 – Tabela de Aferição de Luz Artificial
Fonte: Elaboração da autora (2014)
Percebe-se que as aferições detectaram níveis de iluminância inferior ao determinado pela
ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013, que determina uma Iluminância Média de 300 lúmens/m2
para esses espaços. Apenas a escola B, conseguiu atingir a norma no tocante a sua sala de
artes. A norma também observa a necessidade da luz ser controlável nas salas de aula. Foram
encontrados, na maioria delas, de um a dois pontos de luz, fixados na laje, demonstrando
serem estes originados do antigo uso da edificação, que não possuem, nenhuma das tr~es,
fôrro de gesso ou outro material que permita a relocação desses pontos.
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As luminárias não possuem nenhum controle de ofuscamento, tratam-se de luminárias nas
quais as lâmpadas são todas do tipo fluorescente econômica, semi-embutidas, ocupando o
antigo suporte de lâmpadas incandecentes. A localização dessas luminárias não permite que o
fluxo luminoso se distribua uniformemente, podendo-se verificar diferenças na medição de
até 90 lúmens nas áreas mais escuras.
No quesito Iluminação Natural, os espaços são, na sua maioria, desprovidos de
aproveitamento, pois a área de janela é composta por esquadrias com venezianas, que se
encontram, geralmente, fechadas, devido ao ar-condicionado. Algumas possuem pérgulas em
poucos ambientes, sendo estas remanescentes do antigo uso residencial, também.
ESCOLA AMBIENTE Salas de Aulas Sala de Estimulação Sala de Artes/Atividades
Escola A Janelsa isoladas Pérgula Janela isolada
Escola B Janelas isoladas Janela isolada Pérgula
Escola C Janelas isoladas Janela isolada Janela isolada
Figura 5 – Tabela de Aferição de Luz Natural
Fonte: Elaboração da autora (2014)
Verificou-se que as poucas entradas de luz natural nessas escolas ocorrem quando as salas
possuem pérgula, entretanto, os resultados da aferição nos dois únicos exemplos são
diferentes. A escola A, que possui pérgula na sala de estimulação não atingiu a iluminância
determinada pela norma, entretanto a Escola B, na sua sala de Artes-Atividades consegue
atingir esse patamar. Essa diferença dar-se em função da diferença de orientação em que se
localizam as pérgulas em ambos os casos. Conclui-se, logo, que essa oferta de luz natural não
foi considerada em conjunto com a luz artificial, que também não aparenta ter sido calculada,
pois aproveita a localização e quantidade dos antigos pontos de luz residencial. Na sala de
estimulação da escola B é possível ver que há uma grande diferença na distribuição da luz
perto da pérgula e o final da sala fica escuro, pois nem sempre a luz artificial é acionada,
devido às professoras acharem que a luz natural já “é suficientemente boa”.
Foram feitas entrevistas com os profissionais que trabalham nessas escolas com a finalidade
de verificar o grau de conhecimento deles em relação à importância da iluminação no
processo de aprendizado e na saúde humana.
As perguntas foram todas de reposta direta, nas quais se procurou introduzir um pouco dos
conceitos sobre grandezas que determinam a qualidade da iluminação.
Também questionou-se sobre as normas de iluminação existentes, inclusive a iluminância
adequada para estabelecimentos de ensino, assim como se enfatizou as diferenças de
necessidades lumínicas nos diferentes ambientes que compõem uma edificação de ensino
Abaixo, segue uma tabela contendo as principais respostas às perguntas elaboradas:
PERGUNTAS ESCOLAS Escola A Escola B Escola C
Para você a iluminação é
importante no processo de
aprendizagem?
É também. É importante. Muito. A criança
precisa enxergar
bem o que está
sendo mostrado.
A iluminação dessa escola
foi planejada?
A escola toda foi
planejada.
Precisa? É tão boa! Acho que sim.
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Acredito que a
iluminação
também.
Você acha importante
aproveitar a luz natural nas
salas de aula?
As vezes atrapalha. É importante. Gasta
menos energia.
Acho que a luz
natural é boa
quando a criança
está lá fora.
Você sabe o que é Índice de
Reprodução das Cores?
Não. Nunca ouvi falar. Sei que é algo que
diz respeito às
cores parecerem
mais bonitas. Mas
não sei como
funciona.
Conhece o termo
Temperatura de Cor
aplicada a lâmpadas?
Conheço lâmpadas
amarelas e brancas.
Gosto mais das
brancas, iluminam
mais.
Temperatura? Não.
Sei que tem
lâmpadas brancas e
amarelas.
Acho que é sobre a
cor das lâmpadas,
não?
Você sabia que a luz
aplicada em um ambiente
interfere no desempenho de
quem o usa?
Sei que um local
mal iluminado,
com o tempo,
poderá causar
danos à vista. Mas
não conheço outros
efeitos.
Aqui a luz é boa. E
a idade das
crianças não exige
muito, é uma fase
mais de
brincadeiras e
joguinhos.
Noto que a luz,
quando está mais
forte, as crianças
ficam mais
agitadas. Aí eu
desligo e deixo-as
só com a luz da
pérgula para elas
ficarem mais
calmas.
Sei que poderá
causar diversos
problemas de vista.
Já vi,também,
matérias em revista
sobre relaxamento
e processos
terapêuticos
utilizando a
cromoterapia – luz
e cores.
Você sabia que existe uma
norma técnica que
determina como a
iluminação de escolas deve
ser?
Sei que deve
existir. Tem norma
pra quase tudo.
Mas como aqui foi
projetado, acho
que deve estar de
acordo com ela.
Sei que existe sim.
Mas não a conheço
nem sei como
funciona.
Acredito que a
norma deva ter sido
seguida, pois a
escola foi aprovada
pelo Conselho de
Educação. Então
deve estar tudo
certo. Figura 6 – Tabela de respostas às entrevistas
Fonte: Elaboração da autora (2014)
Todos consideraram que a iluminação é importante no processo de aprendizagem, entretanto a
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maioria parece desconhecer esse componente projetual.
Pode-se perceber pelas respostas ao roteiro de entrevistas, que a maioria dos profissionais
credita a iluminação ao projeto que foi realizado de adequação do espaço às atividades da
escola. Também desconhecem boa parte dos conceitos que conferem qualidade à iluminação,
porém, intuitivamente, como colocou a entrevistada na escola B, faz uso de meios empíricos
que correlacionam o comportamento das crianças com a iluminação.
Com relação à norma técnica, ela é mesmo desconhecida por todos. Vê-se que esse é um
campo ainda muito restrito. De pouco conhecimento da população, que apenas interage
comercialmente com a luz – tipos de luminárias, padrão de beleza, tecnologias modernas e
lançamentos. Porém, sem um entendimento mínimo para, inclusive, detectar problemas.
6. Recomendações para projetos de iluminação para Escolas de Ensino Infantil
As Escolas de Ensino Infantil são espaços nos quais serão desenvolvidas as primeiras
atividades da vida acadêmica de uma criança. Essas atividades iniciais são apresentadas de
forma bastante lúdica, pois tem como objetivo o desenvolvimento das suas habilidades
cognitivas, em um ambiente que visa, também, o estímulo à socialização e a interação com
estímulos diversos.
A iluminação desses espaços deverá contribuir para o aproveitamento das atividades e o
desenvolvimento das suas percepções, principalmente visuais. O estímulo à percepção, em
crianças, deverá criar situações
Segundo os Parâmetros Básicos para de Infraestrutura para Instituições de educação Infantil,
Encarte 1, Ministério da Educação (2006), as escolas, no tocante à iluminação natural, EM
salas de atividades e salas multiuso – aula, atividades, vídeo, etc - tanto para crianças do
berçário quanto para crianças de 01 a 06 anos de idade, deverão ter aberturas que
correspondam a 1/5 da área de piso do ambiente.
“...janelas com abertura mínima de 1/5 da área do piso, permitindo a ventilação
e a iluminação natural, possibilitando visibilidade para o ambiente externo,
com peitoril de acordo com a altura das crianças, garantindo a segurança”
As aberturas deverão privilegiar uma boa distribuição da luz natural, localizando as janelas
em paredes opostas para que se possa evitar áreas com excesso de iluminância e áreas de
excesso de sombra. Como bem coloca Vianna e Gonçalves (2001):
Adotando-se um sistema de iluminação lateral para as salas de aula, é recomendável
para uma boa distribuição de iluminâncias, que as aberturas sejam simétricas e
estejam em paredes opostas.
Eles ainda citam que “a incorporação da estratégia de bandejas de luz é uma boa alternativa
para se otimizar os efeitos de luz natural desses espaços (sua quantidade e distribuição”.
Recomenda-se que as janelas não ocupem toda a extensão da parede contígua à lousa, para
evitar ofuscamentos na mesma. Tratar essa janelas para evitar a incidência solar direta é uma
boa maneira de evitar, também, ofuscamentos; para isso, pode-se fazer uso de vegetação na
área externa, persianas ou cortinas finas nas janelas, com o cuidado de não reduzir
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drasticamente os níveis de iluminância no interior dos ambientes. Brises móveis, também são
considerados boas alternativas para realizar esse controle.
No tocante à iluminação artificial, deve-se escolher bem o tipo de lâmpada que se irá utilizar
no sistema, em conformidade com a sua temperatura de cor adequada, IRC, fluxo luminoso e
e rendimento. A temperatura de cor não poderá ser muito amarelada, pois iria causar sono e
dispersão nos alunos. Já a iluminação demasiadamente branca, seria inconveniente, pois
deixaria os alunos muito agitados e inquietos, portanto, temperaturas de cor neutras são as
mais indicadas, pois despertam sem lhes tirar a concentração.
Também se devem evitar os ofuscamentos ocasionados pelas fontes de luz, utilizando-se
luminárias que tenham recursos de controle, como sa parabólicas ou duplas parabólicas, por
exemplo, principalmente no plano das carteiras e da lousa.
O nível mínimo de iluminância para salas de aula, salas de estimulação e salas de
atividades/artes é o de 300 lúmens/m2, como consta na ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013,
uniformemente distribuída em toda a sala, com as luminárias dispostas matricialmente.
O Índice de Reprodução das Cores deverá ser superior a 80, para garantir a fidelidade das
cores percebidas pelas crianças, que, de acordo com o que já foi citado, estão em fase de
formação de sua memória visual e necessitam de exatidão nas informações recebidas.
Segundo Lima (2010):
Há vários fatores que interferem na percepção de um objeto: A) os estímulos
sensoriais; B) a localização do objeto no tempo e no espaço; C) a influência das
experiências prévias dos sujeitos, tais como a cultura e a educação.
As superfícies de trabalho, como mesas de estudo e de atividades, deverão ter cores claras e
opacas, para que a luz refletida não possa causar ofuscamentos e ter um rendimento maior.
Todo o ambiente deverá priorizar o uso de cores claras de forma a reduzir as perdas de
iluminâncias por absorção que ocorrem em superfícies escuras.
Figura 7 – Tabela de Coeficientes de Reflexão por materiais e cores
Fonte: Conforto Ambiental CAU Unileste (2014)
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É ideal, como também cita a ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013, que exista algum tipo de
controle para integrar a luz natural ao sistema de luz artificial, de forma que se possa fazer uso
adequado de ambas. O ideal seria que se utilizassem recursos de automação para que esse
controle fosse feito de forma programada, considerando-se as mudanças de iluminância
obtidas pela luz do sol nas diversas horas do dia. Também, a utilização de circuitos diferentes
no sistema de luz artificial em uma mesma sala para propiciar esse controle integrado à luz
natural, através de sensores de luminosidade iriam permitir que a luz natural fosse melhor
aproveitada.
A dimerização também é um recurso útil em ambiente multiuso, nos quais as crianças tem
atividades lúdicas alternadas por sessões de vídeo, pois permitem que se diminua a
intensidade luminosa nos momentos de projeção ao invés de se optar pelo desligamento total
da luz artificial, como ocorre geralmente. Em projeções de vídeo, o contraste excessivo entre
a tela de Tv ou de projeção e o meio prejudica a visão.
7. Conclusões
A pesquisa demonstrou que essa área de atuação no mercado de arquitetos e projetistas ainda
carece de atenção. A iluminação é um fator determinante para a obtenção de bom
desempenho em locais de aprendizado, principalmente nas escolas de educação infantil. Pode-
se verificar, nas entrevistas, que algumas pessoas consideram essa etapa como de brincadeiras
e que o ensino formal só iniciará bem depois; entretanto, essa é a etapa em que as crianças
estarão percebendo o mundo que as cerca e o interpretando pela primeira vez. Ajustando a sua
percepção à valores que lhes são repassados durantes as experiências cotidianas.
Como se verificou nas entrevistas, apesar dos resultados das medições ter evidenciado uma
inadequação das iluminâncias com a ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013, nenhum dos
profissionais de ensino reclamou ou criticou a iluminação dos ambientes pesquisados,
entretanto, o que comprova a capacidade do olho humano de se adaptar à condições adversas.
Mas isso implica em consequências futuras, como redução de acuidade visual e outros
transtornos oftálmicos, em professores e crianças.
A adaptação desses espaços residenciais ao uso de escolas deverá considerar os aspectos
lumínicos que são inerentes à essa atividade, bem como a faixa etária de seus usuários, suas
especificidades e necessidades de percepção espacial.
Referências
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1:2013: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2013.
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