Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
A CONTRIBUIÇÃO DA PERÍCIA
ODONTOLÓGICA NA IDENTIFICAÇÃO DE
CADÁVERES
SUSANA DO CARMO PEREIRA SILVA
Abril 2007
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
A CONTRIBUIÇÃO DA PERÍCIA
ODONTOLÓGICA NA IDENTIFICAÇÃO DE
CADÁVERES
SUSANA DO CARMO PEREIRA SILVA
Tese de Mestrado em Ciências Forenses
Trabalho realizado sob orientação do Prof. Doutor Américo Afonso
Abril 2007
Sumário
I
I
SUMÁRIO
ÍNDICE DE FIGURAS.......................................................................................................IV
ÍNDICE DE TABELAS....................................................................................................... V
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................VI
RESUMO.......................................................................................................................... VII
ABSTRACT..................................................................................................................... VIII
I. INTRODUÇÃO ............................................................................................................1
II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO................................................................................ 7
1 DEFINIÇÃO E OBJECTIVOS DA IDENTIFICAÇÃO..............................................7
1.1 Definição de identificação ....................................................................................7
1.1 Reconhecimento versus identificação...................................................................8
1.2 Identificação geral versus identificação individual.............................................10
1.3 Objectivos da identificação.................................................................................12
2 DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO...........................13
3 TÉCNICAS DE IDENTIFICAÇÃO...........................................................................16
3.1 Técnicas de identificação não dentárias..............................................................16
3.2 Técnicas dentárias de identificação ....................................................................22
4 DADOS DENTÁRIOS ESTABELECIDOS ANTE-MORTEM .................................45
4.1 Fichas dentárias................................................................................................... 45
4.2 Fotografias dentárias...........................................................................................49
4.3 Radiografias crânio faciais e dentárias ...............................................................49
4.4 Marcação de próteses removíveis .......................................................................51
5 A PERÍCIA EM MEDICINA DENTÁRIA FORENSE............................................. 51
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
II
5.1 Ficha dentária para a identificação forense.........................................................54
5.2 A prova pericial em Medicina Dentária Forense. ...............................................57
6 RELATO DE CASOS - REVISÃO DE LITERATURA ...........................................60
III. OBJECTIVOS.............................................................................................................65
IV. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 66
1 PARTICIPANTES...................................................................................................... 66
2 METODOLOGIA.......................................................................................................67
2.1 Questionário........................................................................................................67
2.2 Aplicação do questionário...................................................................................67
3 ANÁLISE ESTATÍSTICA .........................................................................................70
V. RESULTADOS...........................................................................................................72
1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS AMOSTRAIS ..................................................... 72
1.1 Variáveis Classificatórias, Perfil Geral da Amostra ...........................................72
1.2 Questões que abordam as Técnicas de Identificação Utilizadas.........................74
1.3 Questões que averiguam a realização de um exame da cavidade oral e de
perícia odontológica........................................................................................................78
1.4 Perícia Odontológica em particular ....................................................................81
1.5 Questões que determinam a Importância da Perícia Odontológica ....................83
VI. DISCUSSÃO ..............................................................................................................85
VII. CONCLUSÕES ........................................................................................................105
1 SÚMULA DOS RESULTADOS OBTIDOS ........................................................... 106
2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO................................................................................... 108
3 LINHAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO............................................................ 109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................110
Sumário
III
III
ANEXOS..........................................................................................................................116
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
IV
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Variações do ângulo mandibular em função da idade.................................. 28
Figura 2. Determinação da idade pelo desgaste da coroa. ......................................... 29
Figura 3. Esquema de 4 dos 6 estágios evolutivos do desgaste dentário................... 30
Figura 4. Esquema que exemplifica o cálculo da altura a partir dos dentes ............... 33
Figura 5 As quatro disposições fundamentais das rugosidades palatinas................... 38
Figura 6 Representação modificada do diagrama utilizado pela Interpol................... 56
Figura 7. Resultados das perguntas 9, 10, 11,12........................................................ 79
Índice de Tabelas
V
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.......................................................................................................................... 28
Determinação da idade pelo ângulo mandibular............................................................ 28
Tabela 2.......................................................................................................................... 31
Tabela 3. Gabinete/Delegação onde o perito trabalha ................................................. 73
Tabela 4. Quantidade de anos que o perito trabalha na área médico-legal.................. 74
Tabela 5. Nº autópsias / ano......................................................................................... 74
Tabela 6. Não identificados / ano ............................................................................... 75
Tabela 7. Casos que terminam identificação positiva.................................................. 75
Tabela 8. Técnicas de identificação utilizadas............................................................. 76
Tabela 9. Dificuldades técnicas ................................................................................... 77
Tabela 10. Tipo de dificuldades técnicas..................................................................... 77
Tabela 11. Tipo de exame da cavidade oral realizado como rotina............................ 79
Tabela 12. Exame da cavidade oral em cadáveres não identificados .......................... 80
Tabela 13. Exame da cavidade oral efectuado aos cadáveres não identificados ........ 80
Tabela 14. Perícia odontológica.................................................................................... 81
Tabela 15........................................................................................................................ 81
Tabela 16. Quando é requisitada a perícia odontológica ............................................. 82
Tabela 17........................................................................................................................ 82
Tabela 18. Quando não é requisitada a perícia odontológica ........................................ 83
Tabela 19. Perícia odontológica poderia ter alterado o resultado................................ 84
Tabela 20. Importância de estabelecer perícia odontológica como rotina................... 84
Tabela 22 - Movimento de Tanatologia Forense Delegação (2004/ 2005) ................. 87
Tabela 23 - Movimento de Tanatologia dos GML (2004/2005) ................................... 87
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
VI
AGRADECIMENTOS
Este espaço é dedicado àqueles que deram a sua contribuição para que esta
dissertação fosse realizada. A todos eles deixo aqui o meu agradecimento sincero.
Em primeiro lugar agradeço ao Prof. Doutor Américo Afonso a forma como
orientou o meu trabalho. As notas dominantes da sua orientação foram a utilidade das
suas recomendações e a amabilidade com que sempre me recebeu. Estou grata por
ambas e também pela liberdade de acção que me permitiu, que foi decisiva para que
este trabalho contribuísse para o meu desenvolvimento pessoal e profissional.
Em segundo lugar, agradeço à Prof. Doutora Teresa Magalhães pelo incentivo
amigo e por me ter disponibilizado o acesso aos peritos médico-legais para a entrega
dos questionários.
Deixo também uma palavra de agradecimento aos professores do Mestrado
em Ciências Forenses pela forma como leccionaram o mestrado e por me terem
transmitido o interesse pelas matérias forenses. São também dignos de uma nota de
apreço os colegas que me acompanharam no mestrado e, em particular, a Liliana
pela amizade e pela informação disponível na sua tese de mestrado.
Finalmente, gostaria de deixar um agradecimento muito especial ao Rogério,
aos meus pais, irmãs, cunhados e sobrinhos.
Resumo/Abstract
VII
RESUMO
A identificação humana post-mortem é uma das grandes áreas de estudo e pesquisa da Medicina Dentária Forense, o que faz com que os médicos dentistas forenses sejam elementos indispensáveis de uma equipa forense. A identificação através de técnicas dentárias tem ganho cada vez maior importância em consequência do aumento progressivo da criminalidade e, sobretudo, da frequência com que ocorrem desastres, tais como acidentes rodoviários de grandes proporções, incêndios, explosões, acidentes de viação, actos de terrorismo, entre outros. O presente estudo tem por objectivo determinar quais as técnicas utilizadas pelos peritos médico-legais do Norte de Portugal na identificação de cadáveres e determinar a contribuição da Medicina Dentária Forense nesse processo. De igual modo, pretende-se avaliar o resultado das técnicas de identificação utilizadas, correlacionando-as com o estado de conservação do cadáver. No final determina-se se existe a necessidade por parte dos peritos médico-legais na introdução da perícia odontológica como procedimento de rotina nos casos atrás referidos. Para a recolha de dados recorreu-se a um questionário, feito propositadamente para o efeito deste estudo. Foram incluídos todos os peritos médico-legais da região Norte de Portugal, que trabalham na área da tanatologia. As técnicas dentárias, segundo os resultados deste estudo, somente são utilizadas como método de identificação nos cadáveres esqueletizados (28,6%) e nos putrefactos (16,7%), não sendo usadas nos cadáveres recentes. Quanto à requisição da perícia odontológica, a informação mais evidente é de que na maior parte dos casos esta não é solicitada. Quando a amostra é inquirida sobre o motivo por que não é requisitada a perícia odontológica, mais de dois terços das respostas (76,2%) indicaram que não se faz porque não existe um médico dentista ou não existe um local para reencaminhar essa perícia. De uma maneira geral, a perícia odontológica parece ter o seu lugar minimizado ou substituído pelo exame da cavidade oral. Além disso, o exame da cavidade oral realizado é simples, podendo ser considerado precário para ser utilizado no processo de identificação. Apesar disso, com base nas respostas de que a perícia odontológica poderia ter alterado o resultado (95,2%) e também, na informação de que os peritos acham importante o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento de rotina em cadáveres não identificados (100%), demonstra-se que há interesse no aprofundamento da matéria, ou pelo menos é considerada importante.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
VIII
ABSTRACT
The human post mortem identification is one of the main study objects and research of Forensic Dentistry. This makes the forensic dentist a indispensable member of the forensic team. The identification through dental techniques has gain importance in consequence of the growth of criminality, specially the frequency of disasters, such as big proportion ferry accidents, fires, explosions, car accidents, terrorism acts, between others. The present study has the goal of determinate which techniques are used in corpses identification by the medico legal experts in North Portugal, and determinate the contribution of Forensic Dentistry in that process. Likewise, we pretend to appraise the result of the used identification techniques, and make the correlation with the corpses conservation. Finally it’s determinate if there is necessity by the medico legal experts, in introducing the forensic dental skills us a routine proceeding in those cases. Were included all the medico legal experts in North Portugal that work in tanatology. The dental techniques, according to this study, are only used in skeletal remains (28,6%) and putrefaction corpses (16,7%), and are not used at all in fresh bodies. About the requisition of the forensic dental skills, the most evident information is that, in most cases, is not requested. When the sample is inquired about the motive of this event, more than two thirds (76,2%), say that there is no dentist at the moment of the autopsy, or there isn’t a place to set forward the material. In general the forensic dental skills seems to have it’s place minimized or replaced by the oral cavity examination. Besides, the oral examination that is done, is very simple, and may be considered precarious to be used in the identification process. The answers that the forensic dental skills could have changed the result (95,2%), and the information that medico legal experts think that it is important the establishment of forensic dental evaluation as a routine procedure in non identified corpses (100%), demonstrates that there is interest in studying in depth the subject, or at least finding it important.
Introdução
1
I. INTRODUÇÃO
Os médicos dentistas forenses aplicam os conhecimentos específicos da
Medicina Dentária à área médico-legal. Os aspectos fisiológicos e as variações
adquiridas do aparelho estomatognático como reflexo da actividade socioeconómica
do Homem, podem ser utilizados na Medicina Legal, abrangendo áreas que vão desde
a avaliação do dano orofacial pós-traumático (no âmbito da clínica médico-legal do
direito penal, civil ou do trabalho), até à identificação de indivíduos mortos ou à
identificação de agressores (1). Em virtude da sua resistência (as estruturas dentárias
representam os mais duros e resistentes tecidos do corpo humano (2), resistindo à
putrefacção, ao calor, aos traumatismos e à acção de certos agentes químicos) e
especificidade (cada dentadura é única), os dentes vieram a mostrar-se essenciais ao
processo de identificação. A cavidade oral e os dentes nela presentes foi comparada à
caixa negra dos aviões, graças à qual se pode saber o que sucedeu nos momentos
imediatamente anteriores ao acidente aéreo (3). Esta ideia baseia-se no princípio
axiomático da grande variabilidade dos elementos que constituem a cavidade oral.
Não há dois indivíduos que tenham os dentes iguais, nem o conjunto da dentadura
igual.
É objectivo deste estudo perceber a actual contribuição da perícia odontológica
na identificação de cadáveres na Delegação do Porto do INML (Instituto Nacional de
Medicina Legal) e nos Gabinetes Médico-legais por ela subordinados. Para isso
necessitamos de determinar um conjunto de factores que nos dêem a conhecer, de um
modo geral, o protocolo seguido actualmente nos processos de identificação nesta
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
2
instituição. Pretendemos saber se a perícia odontológica é utilizada na identificação
post-mortem e queremos revelar, nos casos em que não é requisitada, as razões que
levaram o perito a tomar esta decisão, de forma a que no futuro se possam tomar as
medidas necessárias para que esta perícia se torne um procedimento de rotina.
A dissertação está organizada em 7 capítulos e 2 anexos.
O capítulo 1, é a apresentação da estrutura da dissertação. Este capítulo inicia-
se com uma secção dedicada aos Agradecimentos e outra que constitui o
Resumo/Abstract. Seguidamente mostra-se o presente subcapítulo, que constitui uma
introdução ao trabalho, e no qual se definem o problema e objectivos genéricos deste
trabalho, se faz uma descrição dos diversos capítulos e, por fim, se apresentam as
conclusões gerais.
O capítulo 2 apresenta o Enquadramento Teórico da Tese, e está estruturado em
6 subcapítulos:
• No primeiro, Definição e objectivos da identificação, começa-se por definir
identificação do ponto de vista médico-legal, passando depois à distinção entre
reconhecimento e identificação, e entre identificação geral e individual. Descrevem-se
também os objectivos da identificação médico-legal.
• No segundo, Desenvolvimento do processo de identificação, a estratégia
utilizada foi a de apresentar os procedimentos a adoptar desde que chega um cadáver
não identificado aos serviços médico-legais, até se conseguir um resultado positivo
fazendo-se também neste ponto, a distinção entre métodos reconstructivos e
comparativos.
• No subcapítulo seguinte, Técnicas de identificação, começámos por descrever
superficialmente as principais técnicas não dentárias, passando de seguida a uma
Introdução
3
exposição detalhada das técnicas dentárias, onde se explica de que maneira é que elas
podem contribuir para a determinação da espécie, do grupo étnico, do sexo, da idade,
e da altura. Também foram descritos os elementos congénitos que os dentes podem
revelar, bem como alguns estigmas patológicos e traumatismos dentários. Terminou-
se esta exposição com referência às patologias fetais e da infância relacionadas com a
cavidade oral, e aos tratamentos médico-dentários.
• O quarto subcapítulo, Dados dentários estabelecidos ante-mortem, apresenta
elementos dentários de natureza diversa, começando-se pelas fichas clínicas,
seguindo-se as fotografias, as radiografias crânio-faciais, terminando-se por uma
referência à marcação de próteses removíveis.
• O quinto subcapítulo A perícia em Medicina Dentária Forense tem o objectivo
de descrever de forma pormenorizada a perícia odontológica, desde o preenchimento
da ficha dentária para identificação forense, até à execução do relatório pericial.
• Finalmente, o último, Relato de casos - revisão de literatura, pretende
demonstrar a importância inequívoca da Medicina Dentária Forense nos processos de
identificação, ao fazer um exposição de casos em que esta ciência foi determinante
para a conclusão definitiva do processo em causa.
O capítulo 3 Objectivos, é dedicado à definição do problema. Aqui apresenta-se
o problema genérico em estudo, apresentando-se depois as questões específicas do
mesmo.
O capítulo 4 Material e Métodos, começa pelo subcapítulo Participantes, onde
se faz a caracterização demográfica da amostra. Apresenta-se também a problemática
da escolha da amostra, justificando as escolhas realizadas. No subcapítulo seguinte,
Métodos, expõe-se em primeiro lugar a forma como foi construído o questionário,
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
4
instrumento escolhido para a recolha dos dados. Seguidamente explicam-se os
procedimentos utilizados para aplicação do questionário, e por fim apresentam-se os
métodos de análise estatística para os elementos obtidos.
O capítulo 5 Resultados, consiste na descrição das respostas obtidas e análise
descritiva dos dados.
O capítulo seguinte, Discussão, pretende fazer uma análise conjunta dos
resultados, correlacionado-os entre si, e também com dados recolhidos por outros
autores.
O capítulo 7 Conclusões, faz, em primeiro lugar, uma súmula dos resultados,
seguindo-se uma abordagem às limitações do estudo, onde se faz uma resenha das
presentes neste trabalho, abrangendo quer as que são específicas da forma como a tese
foi conduzida, quer as que decorrem mais genericamente. Finalmente apresentam-se
as linhas futuras de investigação, num subcapítulo próprio, começando por apontar
aquelas recomendações que derivam directamente do estudo, mas apresentando
também outras de âmbito mais alargado.
O texto desta dissertação conclui-se com os 2 anexos, o anexo 1, Carta
introdutória e o anexo 2, Questionário. Nos anexos apresentam-se os exemplares da
carta introdutória e do questionário, tal como foram fornecidos aos elementos da
amostra inquirida para preenchimento.
Os resultados deste estudo estão condicionados pela amostra que, por ser uma
amostra de conveniência, não permite resultados generalizáveis. Para além disso a
amostra sofre de várias limitações, das quais a mais importante é, em princípio, o
reduzido número de peritos.
Introdução
5
Dos 45 questionários enviados aos Gabinetes Médico Legais do Norte de
Portugal e Delegação do Porto do INML, obteve-se o retorno de 21 questionários. Em
relação às técnicas de identificação mais utilizadas: no cadáver recente, o método mais
frequente foi o reconhecimento visual, no cadáver putrefacto, foi mais utilizado o
reconhecimento por objectos pessoais, e no cadáver esqueletizado, as técnicas mais
utilizadas foram as dentárias e a análise do ADNI com a mesma taxa de utilização. As
técnicas dentárias somente foram utilizadas como método de identificação nos
cadáveres esqueletizados e nos putrefactos, não tendo sido usada em nenhum caso
nos cadáveres recentes. Questionaram-se os peritos sobre a existência de dificuldades
técnicas que atrasavam ou impossibilitavam a identificação. 81% dos peritos
responderam afirmativamente, sendo que a maior dificuldade com que se deparavam
era o facto de não haver dados ante-mortem para comparação. Quanto à requisição da
perícia odontológica nos cadáveres não identificados, a informação mais evidente é de
que na maior parte dos casos esta não é solicitada. Quando se pergunta qual é o
motivo por que não é requisitada esta perícia, mais de dois terços das respostas
indicaram que não se faz porque não existe um médico dentista no local ou não existe
um local para reencaminhar a perícia.
O exame da cavidade oral realizado por rotina na autópsia é extremamente
simples, podendo ser considerado precário para ser utilizado em processos de
identificação. Apesar disso, com base nas respostas de que a perícia odontológica
poderia ter alterado o resultado da identificação (95,2%), e também, na resposta de
que acham importante o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento
I Ácido Desoxiribonucléico
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
6
de rotina em cadáveres não identificados (100%), verifica-se que há interesse no
aprofundamento da matéria, ou pelo menos consideram-na importante.
Enquadramento Teórico
7
II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1 DEFINIÇÃO E OBJECTIVOS DA IDENTIFICAÇÃO
1.1 Definição de identificação
A identificação humana pode definir-se como sendo o resultado positivo de um
exame, ou o registo de todos os dados relevantes presentes numa pessoa viva ou
presentes num cadáver, de modo a poder restabelecer-se a sua identidade (4).
Os dados disponíveis e pertinentes à identificação podem apresentar uma grande
variabilidade conforme os casos, o que explica a existência de diferentes técnicas ou
métodos de identificação e que, conforme a técnica(s) mais indicada (s), tenha de
recorrer-se a peritos especializados em diferentes áreas.
As circunstâncias a ter em conta no processo de identificação de cadáveres são as
seguintes:
a) Cadáveres recentes (a morte ocorreu num intervalo inferior ou igual a 72
horas): acidentes em massa, avião, comboio, incêndios em locais públicos,
desastres colectivos (por exemplo terramotos e inundações), vítimas
deformadas bombas, cremações, entre outros.
b) Cadáveres putrefactos (a morte ocorreu num intervalo superior a 72 horas.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
8
c) Cadáveres esqueletizados.
Inicialmente, é importante que façamos algumas considerações sobre identidade.
A identidade pode ser estudada nos seus aspectos, subjectivo ou objectivo (4). No
aspecto subjectivo, estuda-se a noção que cada indivíduo tem de si mesmo, no tempo
e no espaço, e a consciência do eu. Este auto conceito pode variar devido a estados
patológicos. Já a identidade objectiva, é o conjunto de características físicas,
funcionais ou psíquicas, normais ou patológicas que individualizam determinada
pessoa (14).
1.1 Reconhecimento versus identificação
Um aspecto importante para o objecto do nosso estudo, diz respeito à distinção
entre reconhecimento e identificação. O reconhecimento pode ser entendido como
uma identificação empírica, subjectiva sem rigor científico. O reconhecimento
médico-legal é normalmente visual, realizado por parentes ou conhecidos da vítima,
sendo muito susceptível a enganos e falhas. Estas imprecisões ocorrem, na grande
maioria das vezes, não por má-fé das pessoas que fazem o reconhecimento, mas
devido às próprias limitações deste método. A influência do estado emocional das
pessoas responsáveis pelo reconhecimento, causada pela provável perda de um ente
querido, ou mesmo pelo ambiente lúgubre dos Institutos Médico-Legais, pode levar a
uma identificação errónea. Já a identificação é caracterizada pelo uso de técnicas
científicas e meios propícios para se chegar à identidade (6).
Enquadramento Teórico
9
Esta identificação pode ser realizada por técnicos especializados (identificação
judiciária ou policial) tendo o seu maior exemplo na dactiloscopia, ou pode ser
realizada por profissionais com conhecimentos diferenciados e específicos na área
biológica (identificação médico-legal) tendo esta uma sucessão praticamente ilimitada
de técnicas e meios propícios, para se chegar à identidade humana.
O senso comum remete-nos a ideia de que o médico dentista forense trabalha
exclusivamente em corpos carbonizados, avaliando os trabalhos dentários realizados.
Esta é uma ideia que não corresponde à realidade. Na actualidade, o auxílio prestado
pela Medicina Dentária Forense no processo de identificação humana, não se limita
apenas ao reconhecimento de trabalhos dentários e protéticos realizados, com o fim de
determinar a identidade física de um cadáver irreconhecível, ou esqueleto. Hoje, o
singelo e duvidoso reconhecimento cedeu lugar ao complexo, científico e seguro
processo de identificação médico-legal por técnicas dentárias (7).
Tal desenvolvimento no processo de identificação humana post-mortem, trouxe
como consequência, a necessidade de se organizar em graus sucessivos de
complexidade, os procedimentos deste processo, fazendo com que o processo de
identificação humana post-mortem fosse dividido em Geral e Individual. Entretanto,
por mais que a Medicina Dentária Forense se desenvolva, e aprofunde os seus
conhecimentos, o trabalho em equipa com profissionais de outras áreas das Ciências
Forenses como: Medicina Legal, Direito, Farmácia, Antropologia, Informática,
Fotografia, Bioquímica, entre outros, é que permitirá, que cada vez mais, a justiça
tenha elementos objectivos e seguros, ou seja, elementos de prova.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
10
1.2 Identificação geral versus identificação individual
1.2.1 Identificação geral
A identificação geral trata do estudo de vários aspectos sinaléticos, que irão
formar um biótipo do indivíduo. Estes estudos iniciam-se com a determinação da
espécie animal, que é realizada através de estudos antropológicos.
Por esta razão, todos os Institutos Médico-Legais possuem, habitualmente, um
profissional responsável pelo sector de Antropologia Forense. É para este sector que
são encaminhados os cadáveres putrefactos, carbonizados ou reduzidos a esqueleto,
para estudo e identificação, e onde, o médico dentista forense é membro indispensável
da equipa, devido aos seus conhecimentos específicos, principalmente no que respeita
ao crânio humano.
Outras questões passíveis de serem esclarecidas pelo médico dentista forense na
identificação geral post-mortem, dizem respeito à estimativa do sexo, estimativa da
idade, estimativa da estatura, determinação do grupo étnico, entre outros. Podem,
também ser determinadas outras características, como o diagnóstico de manchas ou
líquidos provenientes da cavidade bucal ou nela contidos (Erro! Indicador não
definido.).
Enquadramento Teórico
11
1.2.2 Identificação individual
A identificação individual distingue-se pela necessidade da presença de
elementos comparativos anteriores à morte. Este tipo de identificação ocorre, por
exemplo, em corpos carbonizados onde os elementos dentários são confrontados com
os dados da ficha clínica dentária anterior aos acontecimentos.
Nestes casos a identidade é instituída quando há coincidências suficientes e não são
encontrados aspectos discrepantes, estabelecendo-se assim a identidade absoluta de
uma pessoa. A destruição do corpo pode apresentar-se, em maior ou menor grau,
como consequência da putrefacção ou da acção de agentes químicos ou físicos.
Também se torna particularmente difícil a identificação nas situações de homicídio em
que o criminoso provoca intencionalmente mutilações que visam dificultar a
identificação, ou para ocultar o corpo.
A identificação individual é muito importante em Medicina Forense, tanto por
razões legais como por razões humanitárias, sendo frequentemente iniciada antes
mesmo de se determinar a causa da morte (8). Muitos indivíduos são vítimas de
homicídio ou encontram-se desaparecidos, dependendo a investigação destes casos da
correcta identificação. Desta forma, o processo de identificação passou a ser
primordial para a autópsia forense. Quer na Medicina Dentária quer na Medicina
Legal, o material é o mesmo, o corpo humano. O objectivo final é sempre o mesmo,
ou seja, estabelecer a identidade humana.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
12
1.3 Objectivos da identificação
Segundo Adão Pereira (4), quanto à intervenção médico-legal realizada no
sentido de se estabelecer a identificação de cadáveres ou de ossadas não reconhecidas,
os objectivos podem ser diversos e agrupam-se da maneira seguinte:
1.3.1 Objectivos Sentimentais
Quando uma pessoa é dada como desaparecida, os familiares e amigos mais
próximos exigem saber, o mais rapidamente possível o que aconteceu ao seu ente
querido. Em primeiro lugar querem saber se essa pessoa está viva ou morta, e nesta
última hipótese desejam poder fazer-lhe o funeral e dar-lhe uma sepultura que não seja
anónima.
1.3.2 Objectivos Legais e Sociais
Enquadramento Teórico
13
Quando um corpo não é identificado, o respectivo certificado de óbito não pode
ser passado, criando-se uma situação de “vazio social”, verificando-se a
impossibilidade imediata da satisfação de requisitos da lei civil, como a transmissão
do património do falecido e o estabelecimento do estado civil do cônjuge
sobrevivente. Também na investigação judiciária de um crime é necessária a
existência do “corpo de delito” (facto material em que se baseia a prova do crime).
2 DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO
No processo de identificação devem ser utilizados todas as técnicas reconhecidas
cientificamente, não esquecendo de ter em conta, a disponibilidade de recursos, a
eficiência das técnicas e o treino da equipa pericial.
Gustafson (14) considera que o processo de identificação humana se desenvolve
em três fases principais cuja sequência lógica é a seguinte: Quando aparece um
cadáver desconhecido, procede-se à observação e descrição cuidadosa de todas as suas
características que possam vir a ser úteis para a sua posterior identificação. De se
guida recolhem-se todas as informações dum tipo semelhante e relacionadas com a
pessoa desaparecida. Finalmente, procede-se a um estado comparativo dos dados
obtidos a partir do cadáver com aqueles que foram recolhidos em relação à pessoa
desaparecida.
Neste momento resulta importante distinguir métodos comparativos de
reconstructivos. Nas técnicas de identificação humana utilizam-se diferentes
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
14
métodos que, de acordo com Sassouni (9), podem ser classificados em métodos
comparativos e métodos reconstrutivos. A utilização de métodos comparativos
pressupõe a existência de elementos altamente fiáveis estabelecidos ante-mortem,
nomeadamente, impressões digitais, radiografias, fichas médicas ou dentárias, os
quais servem de referência aquando do exame comparativo.
Os métodos reconstructivos são utilizados quando não existem dados estabelecidos
ante-mortem, uma situação que, com relativa frequência, torna muito difícil a
obtenção duma identificação positiva. Em tal caso, a investigação desenvolve-se a
partir das informações obtidas pela observação do cadáver e tem como finalidade a
determinação tão exacta quanto possível da idade, sexo, altura, raça e profissão da
pessoa a que correspondem o cadáver ou as ossadas encontradas. Obtidos estes
elementos, o acesso a determinadas elementos torna-se mais fácil, sendo então
possível o recurso aos métodos comparativos que, por sua vez, podem tornar
exequível uma identificação positiva. Na determinação da idade, os dados dentários
oferecem mais confiança do que os dados fornecidos pelo exame do esqueleto pois a
cronologia do desenvolvimento dentário é menos passível de variações que o
desenvolvimento ósseo. Estas são conclusões de Johansen (10), autor que considera
três períodos distintos na vida dos indivíduos quanto à dentição: um primeiro período
in utero, até ao nascimento, um segundo período desde o nascimento até aos 14 anos,
e um terceiro período desde os 14 anos até à perda dos dentes ou até à morte do
indivíduo.
Geralmente, e mesmo antes que se verifique o aparecimento dos respectivos
cadáveres, acontece que as autoridades policiais recolhem e arquivam todos os dados
relativos às pessoas dadas como desaparecidas, o que pode vir a revelar-se muito útil
Enquadramento Teórico
15
para efeitos de identificação.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
16
3 TÉCNICAS DE IDENTIFICAÇÃO
Têm sido propostas e frequentemente utilizadas diversas técnicas de identificação
humana. Neste trabalho classificámo-las em dois grandes grupos: técnicas de
identificação não dentárias e técnicas de identificação dentárias.
3.1 Técnicas de identificação não dentárias
As técnicas de identificação não dentárias incluem as comparações
morfológicas, as técnicas radiográficas, o reconhecimento visual, o reconhecimento
por objectos pessoais, os métodos osteoantropométricos, a reconstrução facial, a
análise documental, a análise de ADN, a dactiloscopia, entre outras.
O reconhecimento visual, o reconhecimento por objectos pessoais e a análise
documental não são mais do que aproximações indiciárias de uma hipotética
identificação, que têm que ser comprovadas cientificamente (11,12).
Diferentes técnicas não dentárias, de identificação humana, têm sido utilizadas
frequentemente e desde longa data. A propósito dos métodos não dentários de
identificação, utilizados no Instituto de Medicina Legal de Lisboa, Reys (13)
classifica-os em métodos dactiloscópicos, osteoantropométricos, radiológicos e
biológicos.
Por sua vez, Gustafson (14) refere o reconhecimento visual, o reconhecimento por
objectos pessoais, a identificação pelas características corporais e pelas impressões
digitais. Qualquer destas técnicas têm-se revelado insuficientes, em numerosos casos,
e algumas delas têm conduzido, inclusivamente, a graves erros judiciários (Erro!
Indicador não definido.,Erro! Indicador não definido.,15).
Enquadramento Teórico
17
3.1.1 Comparações morfológicas
As características corporais com interesse para efeito de identificação são
constituídas, nomeadamente, por traços faciais particulares, deformidades, cicatrizes e
manchas cutâneas. Compreende-se que a sua importância seja pequena ou mesmo
nula quando o cadáver sofreu alterações mais ou menos profundas, em consequência
de fenómenos de putrefacção ou por acção de agentes físicos ou químicos e,
principalmente, quando ocorreu a sua exposição prolongada a um fogo intenso. Por
outro lado, e com o intuito de dificultarem ou impossibilitarem a identificação da sua
vítima, os criminosos produzem, com bastante frequência, a amputação dos membros
do cadáver, da cabeça, das orelhas, do nariz ou de outros órgãos.
3.1.2 Técnicas radiográficas
Os raios X são um método auxiliar para a identificação e muitas vezes definitivo
para obter a prova que faz chegar a um resultado definitivo (16). Consistem
essencialmente na comparação entre radiografias ante e post-mortem. Sanders et al
(17), conseguiram identificar um sujeito utilizando um único osso (clavícula), que
ficou depois do acidente em causa.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
18
3.1.3 Reconhecimento visual
O reconhecimento visual é um método que deve ser sempre considerado com
muitas reservas pois, frequentemente, tem conduzido a erros (11,12), quer a sua
aplicação tenha sido feita para identificar pessoas vivas, geralmente criminosos, quer
para identificar pessoas mortas. Além de factores emocionais que podem, em certas
condições, ser determinantes para uma identificação falsa, também esta pode estar
relacionada, em alguns casos, com intuitos fraudulentos. O reconhecimento visual é
insuficiente para que se possa estabelecer uma identificação positiva. Os seus
resultados devem ser sempre comprovados por métodos científicos e através de
averiguações realizadas pelas autoridades policiais.
O reconhecimento visual deve ser considerado circunstancial e só ganha valor quando
confirmado por outros métodos.
3.1.4 Reconhecimento por objectos pessoais
Os objectos de uso pessoal encontrados no cadáver ou na sua proximidade
podem constituir um indicador importante da identidade do morto. Objectos de uso
pessoal como por exemplo vestuário, relógios, jóias e calçado, são, entre outros, os
objectos mais frequentemente encontrados.
Enquadramento Teórico
19
A valorização destes objectos deve ser feita com cuidado, porque estes podem não
constituir características pessoais, no verdadeiro sentido do termo, podendo mesmo
não ser propriedade do cadáver, ou então terem, inclusivamente, sido colocados
próximo deste para induzir a uma identificação falsa. O seu interesse torna-se ainda
mais limitado quando se considera que podem ser facilmente destruídos pelo fogo e
pela água. Deve proceder-se à descrição pormenorizada dos objectos, tendo em
atenção a cor, o desenho e as dimensões No caso do vestuário, deve-se registar o tipo
de tecido e o seu estado de uso, nunca esquecendo de verificar se tem etiquetas ou
qualquer marca de tinturaria. Todos os objectos encontrados junto do cadáver devem
ser fotografados (14). Deve ficar correctamente assinalada a distância e a sua posição,
relativamente ao cadáver, recomendando-se a realização de um desenho ou esquema.
No que respeita ao calçado é muito importante que fique registado o tamanho, o
modelo, a cor, o material em que foi confeccionado, as características do tacão e da
sola e, ainda, o seu estado de uso. Quanto aos relógios, caso sejam encontrados,
deverá registar-se a marca, o modelo, o material em que é constituído e eventuais
inscrições. As jóias também podem conter importantes elementos para a identificação
(inscrições, nomes, datas de acontecimentos, indicação do grupo sanguíneo, entre
outros) (4). Incluem-se neste caso, por exemplo, as alianças de casamento. As
características do vestuário e de certos objectos encontrados no cadáver ou na sua
proximidade podem facilitar muito a identificação ou, pelo menos, constituir um
indicador importante da profissão, classe social, hábitos e, inclusivamente, do país de
origem da vítima.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
20
3.1.5 Métodos osteoantropométricos
O exame osteoantropométrico permite constatar o desenvolvimento geral do
indivíduo a idade e o sexo do indivíduo, a sua constituição, a relação entre estatura e
peso, o estado de nutrição e a apreciação de patologias que possam condicionar
alterações do desenvolvimento (síndromes congénitos, doenças endócrinas, entre
outras). Podem também ajudar a determinar a causa da morte (18).
3.1.6 Reconstrução facial
A reconstrução facial não é considerada uma prova conclusiva, por si só, mas
indiciária. Permite obter um retrato a partir de fragmentos ósseos, que pode ser
posteriormente difundido por álbuns de desaparecidos e pelos meios de comunicação
social. O resultado desta difusão pode ser o aparecimento de mais pistas, que por sua
vez podem levar à identificação.
3.1.7 Análise documental
Passaportes, bilhetes de identidade, fotografias, cartões de visita, endereços e
registos de números telefónicos, entre outros, são analisados de forma a poder
Enquadramento Teórico
21
estabelecer-se uma relação com o cadáver.
3.1.8 Análise do ADN
A prova genética é considerada por muitos, a mãe de todas as técnicas de
identificação, mas só deveria ser realizada quando já se esgotaram todos os outros
recursos de identificação sem sucesso, ou como meio de comprovar os resultados
obtidos, quando existem dúvidas (19). Os seus custos são elevados, e os resultados
que dela advêm são demorados. Importante também é referir que existe uma cadeia de
custódia na recolha de amostras, que se falhar pode resultar na contaminação da
amostra, e consequentemente resulta na falibilidade da técnica.
3.1.9 Dactiloscopia
A identificação pelas impressões digitais constitui o método de identificação
mais conhecido e também aquele que tem sido mais utilizado. Sublinhe-se, desde já,
que o método apresenta importantes limitações. A integridade das polpas digitais
constitui, com efeito, a primeira condição para a sua utilização. Em casos de incêndio
ou de naufrágio as polpas digitais podem apresentar-se consideravelmente alteradas, o
que pode tornar impossível a identificação dactiloscópica.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
22
Importa referir que, em caso de incêndio, as polpas dos dedos ficam em geral mais
protegidas que as outras partes do corpo porque a mão ao fechar-se comprime-as
fortemente contra a região palmar.
Todavia, Reys (13) refere um conjunto de circunstâncias em que a obtenção das
impressões digitais a partir do cadáver é muito difícil, designadamente nos casos de:
- dificuldade em abrir os dedos devido ao rigor mortisII;
- sujidades, tais como sangue, óleo, etc. nas polpas dos dedos;
- exsicação post-mortem das polpas digitais;
- desidratação após submersão em água por bastante tempo.
- destruição por fenómenos de putrefacção, carbonização ou outros processos.
3.2 Técnicas dentárias de identificação
A cavidade bucal é considerada a caixa negra do corpo humano (6). Na maioria
dos casos, em que os corpos se encontram decompostos, esqueletizados,
fragmentados, queimados ou mutilados por qualquer outra razão, é comum a dentição
estar intacta e fornecer informações preciosas para o processo de identificação. Isto é
particularmente verdadeiro no caso de vítimas de incêndios e desastres em massa (4).
IIPor rigors mortis deve entender-se um estado de rigidez cadavérica, constante mas, algumas vezes, pouco acentuado e fugaz, podendo o momento da sua aparição ser influenciado pela idade, causa da morte, temperatura ambiente, desenvolvimento muscular e outros factores.
Enquadramento Teórico
23
Mesmo quando nada se tem, mesmo quando a vítima nunca realizou tratamentos (14)
dentários, mesmo quando nem sequer consultou um médico dentista, as informações
que se podem obter do exame dentário aos restos encontrados, podem contribuir com
dados úteis para a investigação policial. Além de permitir identificar ossos e dentes da
espécie humana, o mesmo estudo pode fornecer informações sobre a vítima que
possibilitem a individualização, por exemplo, quando há casos de desaparecimento
referenciados. Nestes casos os dentes podem oferecer elementos sobre o cadáver,
como por exemplo: espécie, grupo étnico, sexo, idade, altura, elementos congénitos,
estigmas resultantes da profissão e hábitos pessoais, estigmas patológicos,
traumatismos dentários, tratamentos médico-dentários, entre outros.
3.2.1 Espécie
É obvio que ninguém questionará o diagnóstico da espécie à qual pertencem
certas peças dentárias, quando as mesmas se encontram fixadas nos respectivos
alvéolos. Basta analisar superficialmente o crânio ou a mandíbula, para detectar se é
ou não humano. De facto, o diagnóstico da espécie só constitui um problema quando
apenas temos uma ou mais peças dentárias isoladas. O que interessa, nesses casos é
saber se esses dentes pertencem ou não à espécie humana. Caso não sejam humanos,
em regra, desaparece o interesse forense, a menos que existam razões supervenientes.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
24
A característica morfológica fundamental, única dos dentes humanos e que os torna
diferentes de quaisquer outras espécies animais, é que nos dentes humanos a coroa e a
raiz encontram-se num mesmo plano, apresentando-se como segmentos de hastes
rectas. Contrariamente, nos animais as raízes descrevem, habitualmente, curvas,
exibindo uma grande angulação. Apenas os macacos antropóides mostram uma certa
semelhança com a raça humana, particularmente nos incisivos e caninos. Nestes
casos, que são bastante raros, torna-se necessário um exame mais minucioso e, por
vezes, será mesmo necessário recorrer à Zoologia (anatomia comparada). Tratando-se
de fragmentos de peças dentárias, o exame microscópico também se pode realizar.
3.2.2 Grupo étnico
Do ponto de vista dentário e crânio-facial existem algumas características mais
frequentes em determinada raça (20). Segundo alguns autores (21), a característica
dentária mais útil na determinação da raça são os incisivos em forma de pá,
encontrados em quase todos os Asiáticos Mongolóides, e em menos de 10% dos
Caucasianos e Negróides. Entre os Negróides existem frequências altas de primeiros
molares inferiores bicúspides e segundos molares inferiores tricúspides (16). O
tamanho e forma dos dentes, incluindo os incisivos em forma de pá, o Tubérculo de
Enquadramento Teórico
25
Carabelli, e a forma da polpa dentária, têm sido apontados como as características
dentárias determinantes da raça (23).
3.2.3 Sexo
A determinação do sexo, num cadáver não identificado, constitui uma das
primeiras e mais importantes fases para o estabelecimento da identificação do
indivíduo. A determinação do sexo é fundamental para efeito de identificação. De
salientar, desde já, que o desenvolvimento do esqueleto e o desenvolvimento dentário
variam segundo o sexo, sendo mais precoces no sexo feminino. É do conhecimento
geral que o desenvolvimento do esqueleto, nas raparigas, precede em cerca de um ano
o desenvolvimento dentário, enquanto que a diferença nos rapazes em relação aos
dentes é apenas de um a quatro meses. Quando a idade óssea e a idade dentária são
semelhantes, o indivíduo é provavelmente do sexo masculino mas se a idade óssea for
maior que a idade dentária, então o indivíduo é provavelmente do sexo feminino.
Estas conclusões resultam de um estudo comparativo e dos resultados obtidos por
Schours e col (24), sobre a idade dentária, e por Greulich e col (25)sobre a idade
óssea. Conhecido o sexo, a determinação da idade fica obviamente facilitada.
Relativamente à morfologia dos dentes, verifica-se que os incisivos superiores
são as peças dentárias que exibem maior dimorfismo sexual e, por consequência, os
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
26
dentes que podem oferecer mais dados relacionados com o sexo de um crânio ou de
uma vítima. Sabe-se que os incisivos centrais superiores são mais volumosos nos
indivíduos de sexo masculino, do que nos de sexo feminino. Todavia, as diferenças
são milimétricas.
Outra diferenciação morfológica refere-se à relação entre o diâmetro mesio-distal do
incisivo central com o do incisivo lateral, no maxilar superior. Este diâmetro é menor
na mulher do que no homem, e na mulher os dentes têm uma regularidade maior do
que no homem, isto é, são mais semelhantes entre si.
Oliveira (26), estudando apenas mandíbulas e relacionando-as com a estimativa
do sexo, desenvolveu metodologias específicas a padrões nacionais, onde as
características consideradas foram: a altura do ramo mandibular e a distância entre os
dois pontos médios do ângulo goníaco mandibular. Os valores foram posteriormente
analisados estatisticamente, usando duas metodologias, a regressão logística e a
análise discriminante, que demonstraram boa margem de sucesso, respectivamente de
77,7% e 78,33%, apresentando ainda através da regressão logística, um score de
probabilidade de pertinência ao sexo feminino.
No final o autor desenvolveu um programa informático para utilização de padrões
métricos, de indivíduos brasileiros adultos, independentemente do grupo racial a que
pertençam.
Enquadramento Teórico
27
3.2.4 Idade
As técnicas dentárias também podem auxiliar na estimativa da idade, quer em
crianças, adolescentes ou em adultos (27,28,29).
A erupção dentária começa por volta dos 6 aos 9 meses, com os dentes temporários, e
pode prolongar-se até aos 30 anos, com a erupção do terceiro molar definitivo, que até
pode mesmo nunca chegar a erupcionar (30). Durante o período de desenvolvimento
do ser humano, os dentes vão erupcionando, com uma cronologia bastante precisa,
dentro da variabilidade que pode existir dependendo da dieta, factores metabólicos,
sexo, entre outros (Erro! Indicador não definido.). Numa dentição madura, a idade
pode ser calculada com base na espessura do cemento, o tamanho da cavidade pulpar,
o grau de abrasão dentária e o estado dos tecidos vizinhos.
O desaparecimento dos dentes, tem como consequência o início do processo de
reabsorção dos alvéolos o que, obviamente, produz modificações significativas nos
maxilares. Nomeadamente, na mandíbula o foramen mentoniano que se encontra
equidistante dos bordos superior e inferior da mandíbula, em consequência deste
processo de reabsorção vai, gradualmente, aproximando-se do bordo superior. Da
mesma maneira, o ângulo formado pela linha que acompanha o bordo posterior do
ramo ascendente da mandíbula e a linha que acompanha o bordo inferior do ramo
horizontal mandibular, aumenta paulatinamente a partir da idade adulta (31).
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
28
Figura 1. Variações do ângulo mandibular em função da idade. Da esquerda para direita: no recém-nascido, no adulto e no idoso. Modificado de Angle (31)
Tabela 1. Determinação da idade pelo ângulo mandibular. Modificado de Lewis (31)
Mínimo Máximo Médio Idade (anos)
110 º 135 º 130 º 5 a 10
110 º 130 º 125 º 11 a 15
110 º 125 º 120 º 16 a 20
110 º 120 º 115 º 21 a 25
105 º 120 º 110 º 26 a 35
105 º 120 º 110º 36 a 45
Enquadramento Teórico
29
Figura 2. Determinação da idade pelo desgaste da coroa. Indivíduos com mais de 30 anos de idade, modificado de Ponsold (Erro! Indicador não definido.)
Gustafson (14) estabeleceu critérios múltiplos, que levam em consideração não
só o fenómeno do desgaste a que os dentes estão sujeitos, como também as
modificações estruturais e dos tecidos circunvizinhos. O mesmo autor fixou seis
processos evolutivos, que devem ser considerados simultaneamente ou em conjunto.
Cada um dos seis estágios propostos por Gustafson (14), em função da sua
intensidade, é representado com um algarismo, de 0 a 3, com o prefixo A, S, P ou C,
consoante se observa abrasão, dentina secundária, paradontose, ou cemento de
aposição, respectivamente. O somatório dos pontos de cada dente, acaba por produzir
um valor numérico.
Mann (32), produziu uma metodologia para estimativa da idade biológica
humana, através do estudo do intervalo de obliteração das suturas palatinas de trinta e
seis peças ósseas conhecendo-se a idade, sexo e raça das mesmas. Este estudo atesta, o
potencial que tem o exame das obliterações da suturas palatinas, para se estimar a
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
30
idade biológica dos indivíduos, contudo, os autores reconhecem a necessidade de
novas pesquisas, utilizando-se amostras mais representativas.
Figura 3. Esquema de 4 dos 6 estágios evolutivos do desgaste dentário. Modificado do esquema proposto por Gustafson (14) A-abrasão, S-dentina secundária, P-paradontose, C-cemento de aposição.
Enquadramento Teórico
31
Tabela 2. Representação dos estágios evolutivos do desgaste dentário (cont.) Modificado do esquema de Gustafson (14)
AO Ausência de desgaste.
AI Desgaste leve atingindo o esmalte.
A2 Desgaste que atinge a dentina.
A3 Desgaste que atinge a polpa.
PO Ausência de paradontose.
PI Início de paradontose.
P2 A paradontose atinge mais de 1/3 da raiz.
P3 Atinge mais de 2/3 da raiz.
SO Ausência de dentina secundária.
SI Início de formação da dentina secundária.
S2 A dentina secundária preenche metade da cavidade pulpar.
S3 A dentina secundária preenche quase completamente a cavidade pulpar.
CO Apenas cemento normal.
C 1 Depósito de cemento maior que o normal.
C2 Grande camada de cemento.
C3 Abundante camada de cemento.
RO Inexistência de reabsorção.
R 1 Pequena reabsorção em manchas isoladas.
R2 Grau mais adiantado de reabsorção.
R3 Grande área de reabsorção de dentina e de cemento.
TO Ausência de transparência.
T 1 Transparência visível.
T2 Transparência atinge 1/3 da raiz.
T3 Transparência atinge 2/3 da raiz.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
32
3.2.5 Altura
Existe um método de determinação matemática que permite o cálculo da altura
do indivíduo a partir das dimensões dos dentes. A fundamentação deste método reside
no facto de que existe proporcionalidade entre os diâmetros dos dentes e a altura do
indivíduo. Este procedimento foi criado e aperfeiçoado por Carrea (33). Mede-se o
arco de circunferência em milímetros, constituído pelo somatório, no arco inferior,
dos diâmetros meso-distais do incisivo central, do incisivo lateral e do canino inferior
A corda deste arco, geometricamente falando, é medida traçando a linha recta entre os
pontos inicial e final - (bordo mesial do incisivo central até ao bordo distal do canino
ipsilateral) - do arco. Carrea atribuiu a esta medida o nome de raio-corda inferior. A
altura humana deve encontrar-se entre estas duas medidas, que hão-de ser
consideradas proporcionais, uma máxima, à medida do arco, e outra mínima,
proporcional à medida do raio-corda inferior. As fórmulas para fazer a estimativa da
altura em milímetros, são as seguintes:
1. Altura máxima (em mm) = (Arco x 6 x 10 x 3,1416) / 2
2. Altura mínima (em mm) = (raio-corda x 6 x 3,1416) / 2
Enquadramento Teórico
33
Figura 4. Esquema que exemplifica o cálculo da altura a partir dos dentes Modificado de Carrea (33)
A altura masculina estará mais próxima da altura máxima calculada, enquanto a altura
feminina será mais próxima da altura mínima calculada. Este procedimento possibilita
o cálculo da altura, nos casos de fragmentação ou esquartejamento, acidental ou
criminal, dos cadáveres ou naqueles casos em que o médico dentista forense dispõe de
restos humanos cujas peças dentárias foram preservadas. Cada indivíduo possui
particularidades na sua dentição, em quantidade e qualidade tais, que por si só
permitem estabelecer a sua identidade correctamente. Entretanto, quando não se pode
avaliar a dentição completa, mas apenas algumas peças dentárias, devido a extracções,
fracturas, perdas post-mortem, entre outras, e por vezes apenas contando com um
único dente, é evidente que a situação se tornará mais complexa. Mesmo assim, e nos
casos em que se dispõe de um número exíguo de dentes, pode-se contar com alguma
peculiaridade singular e importante que, caso seja encontrada, pode ser por si só o
elemento essencial no diagnóstico. Exemplo do anteriormente referido, surge nas
incrustações de ouro e/ou pedras preciosas nas faces vestibulares dos incisivos
centrais superiores, com o consequente desgaste do esmalte e substituição por coroas
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
34
de ouro, nomeadamente, como expressão social e sinal exterior de riqueza, como é
habitual em alguns países ou culturas. Como acontece com os pontos característicos
nas impressões digitais, também nas comparações entre os dentes é necessário um
número suficiente de coincidências para poder fazer-se um diagnóstico identificativo
com exactidão. Pelo contrário, a ocorrência de um ou mais pontos discordantes,
realmente incompatíveis entre si, podem permitir a exclusão durante o procedimento
de identificação por confrontação. Todavia, é necessário enfatizar que os pontos que
não sejam incompatíveis, não permitirão afirmações de certeza. Como exemplo,
podemos citar a ausência de dentes, extraídos em data posterior à do registo na ficha
dentária de que dispomos para comparação. O que pode acontecer é que nestes casos
são tratamentos realizados por outros profissionais que nos são desconhecidos,
retirando possíveis pontos característicos ou de coincidência, mas que não invalidam a
identificação, quando esta é possível pelos dentes que subsistem. Já quando na ficha
dentária de uma pessoa desaparecida, por exemplo, consta a informação exacta de que
determinada peça dentária foi extraída resultará mais fácil a comparação. Assim, se ao
realizar o exame da dentição do crânio que se pretende identificar, verificamos que
está presente essa mesma peça dentária, poderemos afirmar, com certeza, que as duas
dentições não pertencem à mesma pessoa. A incongruência entre trabalhos realizados
ou extracções efectuadas, com o achado dessas peças intactas e presentes na dentição
a ser comparada, exclui a identificação ou torna a identificação negativa. Os pontos
característicos que podem ser utilizados para individualizar as pessoas não se
restringem, como poderia parecer, a extracções ou restaurações. Contrariamente, os
estudos das dentições para fins de identificação são muito mais abrangentes, incluindo
o estudo dos elementos congénitos, estigmas resultantes da profissão e hábitos
Enquadramento Teórico
35
pessoais, estigmas patológicos, traumatismos dentários, tratamentos médico-dentários,
entre outros, como veremos de seguida.
3.2.6 Elementos congénitos
As peças dentárias são estruturas cuja génese, como o da maioria das outras do
organismo, é condicionada geneticamente. No entanto, a expressividade de certas
características genéticas pode ser variável. Existem algumas anomalias dentárias que
se transmitem de forma hereditária, isto é, geneticamente. Neste grupo encontram-se a
hipoplasia dentária, a inclusão de peças dentárias, a morfologia cónica dos incisivos
laterais superiores, entre outras. Todavia, além destas anomalias geneticamente
condicionadas, os dentes podem apresentar particularidades anatómicas, que auxiliam
muito no processo de identificação. As alterações do desenvolvimento da região oral
estão distribuídas por três grandes grupos (34):
a) Alterações que afectam os dentes
b) Alterações que estão limitadas aos tecidos moles
c) Alterações que afectam o osso
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
36
Dentes
• Alterações das dimensões: microdontia ou macrodontia;
• Alterações do número: anodontia total e parcial, dentes
supranumerários
• Alterações da erupção: erupção prematura, erupção retardada, dentes
impactados ou sequestro de erupção;
• Alterações na forma: dilaceração, taurodontismo, dente invaginado,
cúspides supranumerárias, dente evaginado, cúspide em garra, raízes
supranumerárias, geminação, fusão, concrescência, hipercimentose e
projecção cervical de esmalte;
• Alterações na estrutura do esmalte: alterações adquiridas (hipoplasia
focal de esmalte, hipoplasia generalizada de esmalte) e alterações
hereditárias (amelogénese imperfeita);
• Alterações na estrutura da dentina: alterações hereditárias da dentina
(dentinogénese imperfeita e displasia dentinária);
• Odontodisplasia regional.
Tecidos Moles: Fossetas labiais congénitas, lábio duplo, freio espessado,
anquiloglossia, macroglossia, grânulos de Fordyce, leucoedema, nevus branco
esponjoso, tiróide lingual, amígdala oral e papila retrocanina.
Osso: hipertrofia hemifacial, atrofia hemifacial, lábio leporino, fenda palatina,
deficiência medular osteoporótica, displasia cleidocraniana, depressão lingual da
glândula salivar mandibular.
Enquadramento Teórico
37
Da mesma maneira, os arcos dentários, podem ter variações de forma tais como:
• normal: em forma de arco de elipse,
• trapezoidal: mais frequente nos negróides,
• triangular: mais frequente nos caucasianos,
• redonda: em "arco de ferradura", mais frequente nos mongolóides, e
• assimétrica.
Rugosidades palatinas
As irregularidades da superfície do palato são também características que podem
auxiliar no processo de identificação. A mucosa oral, para facilitar as suas próprias
funções, apresenta-se essencialmente lisa. Há, contudo, algumas excepções, como a
superfície dorsal da língua e a mucosa do terço anterior do palato que se apresenta
como um verdadeiro sistema de pregas ou de rugosidades que estão fortemente
aderidas ao plano ósseo subjacente. A sistematização do estudo das referidas pregas,
com a finalidade de se constituírem em elementos capazes de contribuir para o
processo de identificação, é chamado de palatoscopia. Este procedimento de
identificação pode ser usado tanto no cadáver recente como no indivíduo vivo. Os
relevos que o palato apresenta, formam um conjunto de cristas lineares, as
rugosidades palatinas, dispostas de forma semelhante às nervuras de uma folha
vegetal. Estes relevos ou cristas aparecem no 3º mês do período embrionário,
permanecendo invariáveis durante a toda a vida do indivíduo e, inclusive, persistindo
vários dias após a morte. Este conjunto de cristas, na espécie humana é assimétrico, o
que o diferencia das outras espécies de mamíferos, em que é simétrico. Em todos os
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
38
casos, há sempre um sulco central estreito, no sentido antero-posterior, acompanhado
de cada lado por uma crista suave: é a rafe mediana ou rafe palatina. Seguidamente,
observam-se uma série de cristas transversais, que se iniciam na rafe palatina, mais ou
menos perpendiculares ou oblíquas em relação a esta, que se direccionam
lateralmente, tornando-se menos pronunciadas ou desaparecendo à medida que a
concavidade da abóbada palatina alcança a região alveolar ipsilateral (35,36).
Carrea (37) na sua sistematização das rugosidades palatinas considerou quatro
categorias diferentes:
• Tipo I - com rugas direccionadas para mesial (dos lados para o centro) e
discretamente de trás para frente (convergindo na rafe palatina);
• Tipo II - com rugas direccionadas perpendicularmente à linha mediana;
• Tipo III - com rugas direccionadas para mesial (dos lados para o centro) e
discretamente da frente para trás (convergindo na rafe palatina);
• Tipo IV - com rugas direccionadas em sentidos variados.
Figura 5 As quatro disposições fundamentais das rugosidades palatinas. Modificado de Carrea
Enquadramento Teórico
39
Briñon (37), foi um pouco mais além na sistematização das rugosidades, dividindo-as,
à semelhança do que se faz com as impressões digitais, em rugosidades fundamentais
e características.
As cristas palatinas apresentam características que as tornam óptimos elementos na
identificação:
1. Unicidade: apenas um único indivíduo pode tê-los.
2. Imutabilidade: não mudam nunca de forma, nem mesmo após a morte.
3. Individualidade: são absolutamente diferentes de uma pessoa para
outra.
4. Classificação: possibilidade de classificá-los para facilitar a sua
localização racional em arquivos.
5. Praticabilidade: utilização facilitada pelo baixo custo, facilidade de
recolha etc.
A colheita das amostras tanto pode ser feita através de moldagem, com alginato ou
com silicone, ou por fotografia do palato com o auxílio de um espelho. Os resultados
obtidos constituem os palatogramas. De modo a possibilitar uma comparação entre o
material de arquivo e o material do identificando, basta que se proceda ao confronto
das fotografias do material problema com os palatogramas conservados,
sistematicamente, nos arquivos de identificação. Uma prova da viabilidade deste
procedimento de identificação é que muitos países já exigem a identificação da
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
40
rugoscopia palatina dos pilotos de empresas de aviação, como forma de facilitar a sua
identificação em casos de acidentes aéreos (37).
3.2.7 Estigmas resultante de profissões e hábitos pessoais
Um dos elementos mais valiosos na identificação individual dum esqueleto é a
existência de um estigma profissional ou marca nos dentes (22). Certas profissões
podem produzir marcas permanentes nos dentes por razões meramente mecânicas, que
introduzem desgastes e perdas mínimas de esmalte em face dos traumatismos
reiterados.
a) Acção mecânica
Assim, por exemplo, entre os sapateiros, onde é habitual que estes operários segurem
tachas ou pregos entre os dentes, encontram-se, frequentemente, reentrâncias no bordo
incisal dos incisivos centrais (falsos dentes de Hutchinson). Entre os colchoeiros,
estofadores, alfaiates e costureiras também se observam irregularidades ou pequenas
fissuras no bordo incisal dos incisivos centrais, resultante do hábito de puxar o fio e,
Enquadramento Teórico
41
quando na medida, cortá-lo com o auxílio dos dentes ao invés de usar tesoura. As
pessoas que têm o hábito de fumar cachimbo acabam por provocar um desgaste e até
deslocamento das peças dentárias em que costumam apoiar a boquilha. Os dentes dos
fumadores, regra geral, apresentam uma coloração escura, devido ao alcatrão e outros
pigmentos que fazem parte do fumo (Erro! Indicador não definido.). Os músicos
que usam instrumentos com palheta (saxofones, clarinete, oboé e outros), devido aos
traumatismos repetidos com a boquilha, podem apresentar perdas de substância no
esmalte dos incisivos superiores centrais. Algo semelhante pode observar-se com os
sopradores de vidro, onde o traumatismo se dá com a boquilha da cana ou vara, sobre
os incisivos, tanto superiores como inferiores (39,Erro! Indicador não definido.).
b) Acção química
Os vapores corrosivos provocam destruição dos tecidos dentários, de forma
progressiva, provocando o amolecimento e perda dos dentes, bem como um maior
índice de cáries nas coroas clínicas. A acção química não produz perdas ou
traumatismos do esmalte, como o fazem os factores mecânicos, antes provocam
colorações características do esmalte e da dentina pelo produto químico com o qual o
operário tem um contacto duradouro (37):
• manchas acinzentadas no colo dos incisivos e dos caninos, provocadas pelo
chumbo;
• coloração cinzenta global, provocada pelo mercúrio;
• manchas esverdeadas com rebordo azul, provocadas pelo cobre;
• manchas acastanhadas no bordo livre dos incisivos, provocadas pelo ferro;
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
42
• manchas amarelas, provocadas pelo cádmio, etc.
3.2.8 Estigmas patológicos
Determinadas profissões provocam estigmas de natureza patológica, como por
exemplo, as cáries dos pasteleiros e pessoas que trabalham nas fábricas de doces, de
forma circular, de cor amarela, e localizadas, exclusivamente, na região do colo das
peças dentárias. Algumas culturas primitivas praticam mutilações ornamentais dos
dentes que podem servir para identificar os indivíduos como pertencendo a
determinado grupo étnico. Este é um costume enraizado nas comunidades aborígenes
australianas e polinésias, observando-se também entre habitantes da Malásia e da
África, quando realizam um afilamento em cunha das coroas. Outros fazem a
incrustação de metais ou pedras preciosas, como sinal exterior de riqueza Este
costume está bastante difundido entre as comunidades rurais brasileiras, das Regiões
Norte e Nordeste (Erro! Indicador não definido.).
3.2.9 Traumatismos dentários
Todas as vezes que a dentição sofre traumatismos, por exemplo, em acidentes
ou em agressões, podem encontrar-se fracturas das peças dentárias, o seu
deslocamento e/ou avulsão.
Enquadramento Teórico
43
A análise das superfícies de fractura possibilitam a avaliação da antiguidade das
lesões, tendo em conta a tendência espontânea dos bordos ficarem arredondados pelo
desgaste do dia-a-dia.
3.2.10 As patologias fetais e da infância
Qualquer alteração sistémica ou doença grave que se instale no embrião a partir
da 6ª semana de desenvolvimento, ou até na infância, como doenças infecciosas ou
parasitárias (rubéola, sífilis, tuberculose, entre outras), ou doenças metabólicas
(porfiria), podem provocar modificações no desenvolvimento do gérmen dentário,
atingindo tanto a dentina como o esmalte. Em regra consistem em erosões ou linhas
horizontais, que às vezes formam verdadeiros degraus. A forma como se distribuem
estas erosões ou estes depósitos traduzem épocas em que houve um surto ou
agravamento da patologia crónica de base. Isto tanto pode observar-se nos dentes
decíduos como nos definitivos. A utilização de certos produtos medicamentosos, pela
mãe, durante a gravidez, faz com que os dentes sejam atingidos durante o seu
processo de desenvolvimento, ficando marcas cromáticas identificáveis da iatrogenia,
como acontece, por exemplo, com o uso das tetraciclinas para debelar quadros
infecciosos.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
44
3.2.11 Os tratamentos médico-dentários
A cárie dentária é a patologia mais frequente nas peças dentárias em qualquer
idade. Mesmo não tratadas e, principalmente, quando tratadas, as cáries serão marcos
identificadores muito importantes, desde que as peças dentárias não sejam extraídas.
O tratamento das cáries, mediante restauração (amálgama, resinas, metais) surge, por
sua vez, como um ponto característico para a identificação do indivíduo. Algo análogo
se observa com a aplicação de procedimentos terapêuticos como, por exemplo, o
tratamento endodôntico. Os trabalhos de prótese, tais como coroas, pontes fixas e
removíveis, implantes, podem ser decisivos na identificação. Considerando que todas
as variáveis apontadas podem acontecer em qualquer uma das 32 peças dentárias
definitivas, isto abre um enorme leque de possibilidades cruzadas ou de combinações
que dão uma base de credibilidade enorme ao permitir a identificação, através de
técnicas dentárias. Para que fosse realmente possível utilizar as características
individualizadoras da dentição na identificação de pessoas, seria necessário contar
com arquivos que permitissem, à semelhança do que acontece com as impressões
digitais, realizar a comparação que leva à identificação individual. No presente
momento, não existe um arquivo dentário, que registe as características dentárias de
uma população, como se tem conseguido, ao longo do tempo, com a dactiloscopia. É
por isso que quando surge a necessidade de realizar um processo comparativo,
recorre-se aos arquivos dos médicos dentistas na sua clínica. Todavia, há casos
especiais, em determinadas profissões, em que esses registos realmente existem, como
Enquadramento Teórico
45
acontece com os pilotos, civis e militares, como medida preventiva, devido a estarem
sujeitos a um maior risco.
4 DADOS DENTÁRIOS ESTABELECIDOS ANTE-MORTEM
Os dados estabelecidos ante-mortem são muito importantes na identificação
comparativa porque permitem frequentemente uma identificação positiva do cadáver.
Os dados ante-mortem podem ser de natureza diversa e possuírem diferentes graus de
precisão. De acordo com Gustafson (14) consideramos como mais importantes os
seguintes:
4.1 Fichas dentárias
Steagall e Silva (38), fizeram uma pesquisa sobre a importância da dentisteria e
dos seus materiais no processo de identificação humana. Ressaltaram o valor elevado
que têm as fichas clínicas quando contêm anotações detalhadas de cada procedimento
realizado, inclusive de todos os materiais utilizados. Os autores verificaram as
alterações sofridas por diferentes materiais (amálgama, resina acrílica, resina
composta, cimento policarboxilato e cimento de silicato) submetidos a diferentes
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
46
temperaturas (200ºC, 400ºC e 600ºC) por um período de dez minutos de cada vez,
simulando as temperaturas ocorridas nos incêndios nos edifícios Joelma e Andraus
em São Paulo, fornecem-nos informações imprescindíveis, no que respeita às
alterações sofridas (textura, contracção, cor e permanência ou não na cavidade) por
estes materiais dentários, nos processos de identificação post-mortem de pessoas
carbonizadas.
Apesar da importância médico-legal das fichas dentárias ter sido enfatizada por
diversos autores, a verdade é que geralmente essas fichas dentárias se encontram
muito incompletas. Apenas os dados gerais relativos aos trabalhos executados são
registados e muitas vezes sem o rigor que seria necessário.
Têm sido descritas na literatura as condições a que deve obedecer o
preenchimento de uma ficha dentária para que a mesma possa vir a ser útil do ponto
de vista médico-legal, principalmente em casos de identificação de cadáveres. Os
modelos de ficha dentária propostos por Johanson, citado por Gustafson (14), indicam
que ela deveria conter os seguintes elementos:
• Identidade do doente (nome, idade e sexo);
• Número de restaurações e sua extensão, localização e natureza;
• Número e identificação dos dentes extraídos;
• Número e situação dos dentes intactos;
• Número e localização dos dentes inclusos;
• Estados das gengivas;
• Radiografias bite-wing;
• Depósitos observados sobre os dentes e suas características.
Adão Pereira (40), por achar estes dados insuficientes propôs ainda os seguintes
Enquadramento Teórico
47
elementos:
• Profissão;
• Estado Civil;
• Naturalidade;
• Residência actual.
Todos os dados obtidos através do exame exobucal e endobucal, pela inspecção
simples e inspecção com sonda e espelho, devendo ficar registados na ficha clínica. O
registo dos dados dentários fica altamente facilitado quando se utiliza um diagrama.
Existem vários tipos de diagrama, de carácter anatómico ou de carácter esquemático,
que variam conforme os autores. Adão Pereira (40) considera que os diagramas
geométricos, formados por quadrados que representam de maneira esquemática e
aproximada a forma dos dentes, são os que proporcionam uma maior facilidade de
registo. Habitualmente, em relação com os objectivos clínicos, os profissionais de
Saúde Oral não registam nas fichas os pormenores menos significativos que, quando
avaliados numa perspectiva médico-legal, podem ser relevantes, sendo de salientar
que tais pormenores não são considerados tão importantes por outros autores. Um
deles é Strom (41), que defende que o médico dentista se deve preocupar mais em
descrever pormenorizadamente todos os tratamentos por si efectuados, não sendo
necessária uma descrição exaustiva de toda a boca na primeira visita do paciente.
Durante o preenchimento da ficha dentária deve ser usada a nomenclatura apropriada,
usando termos gerais para a descrição dos dentes e suas superfícies, para as cavidades
e restaurações.
Em relação à numeração dentária, a Federação Dentária Internacional propõe o
sistema dos dois dígitos, para ser usado internacionalmente, pela sua facilidade quer
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
48
na compreensão e ensino, quer na comunicação da pronúncia, ou transmissão e
impressão (este sistema é explicado com mais detalhe na página 51).
O registo das restaurações é também muito importante no preenchimento da
ficha dentária. Brown (42), no entanto, comenta as dificuldades na identificação dos
casos em que as restaurações verificadas no cadáver não coincidem com aquelas que
se encontram descritas na ficha dentária preenchida ante-mortem. Além das
circunstâncias desfavoráveis que podem ocorrer, como a alteração ou destruição
completa das restaurações, desintegração total dos tecidos dentários em condições
extremas de ambiente, ou a impossibilidade de recuperação de todos os dentes e suas
respectivas restaurações, também o preenchimento incorrecto das fichas dentárias
pode contribuir para o fracasso total da tentativa de identificação através de meios
dentários. Merecendo análise pormenorizada o trabalho de Guimarães (43), que
estabeleceu orientação para o cumprimento do preceito ético relativo ao correcto
preenchimento da ficha dentária, traçando inicialmente um panorama do uso desta
ficha em vários países. Recomendam, inclusive, que se faça não só o preenchimento
da mesma, mas sim, o preenchimento de todo um prontuário médico-dentário do
paciente, que contenha além da sua identificação, a sua história clínica, exame clínico
(com preenchimento de odontograma), plano de tratamento, tratamento realizado e
exames complementares.
Enquadramento Teórico
49
4.2 Fotografias dentárias
As fotografias dentárias, quer dos dentes anteriores quer dos dentes posteriores,
são como é óbvio, muito importantes para a identificação. Podem ser decisivas para a
eliminação ou atribuição de determinada identidade a uma vítima.
4.3 Radiografias crânio faciais e dentárias
Historicamente, a aplicação das radiografias crânio faciais em Ciências Forenses
foi introduzida em 1896, apenas um ano após a descoberta do rx por Roentgen, para
demonstrar a presença de balas de chumbo na cabeça de uma vítima (44). Gustafson
(14) estudou as características radiológicas dos seios frontais para efeitos de
identificação, considerando relevantes: o septo nasal e seus desvios, o bordo superior
dos freios, a presença de obstruções parciais, as extensões etmoidais e supra-
orbitárias, a altura a partir do pavimento, a largura total e a posição da linha sinusal
média.
Relativamente às radiografia dentárias, existem vantagens na utilização das
radiografias intraorais comuns (radiografias periapicais e interproximais), nas
radiografias panorâmicas (ortopantomografias), e nas radiografias cefalométricas
(teleradiografias).
As radiografias periapicais podem fornecer informações importantes, devido à
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
50
grande quantidade de dados registados na película. Exemplos são as características
anatómicas como o tamanho e forma das coroas e raízes, anatomia pulpar,
características que aparecem pelas transformações causadas pelas cáries e pelas
restaurações realizadas. O tratamento dentário resulta em características únicas e
individuais que são geralmente bem visíveis neste tipo de radiografias.
O aparecimento da ortopantomografia veio contribuir em muito para o processo
de identificação através de técnicas dentárias. Este tipo de radiografia é hoje obtido
regularmente nos consultórios dentários, sendo um óptimo exame ante-mortem de
comparação.
Sassouni (45) defendeu também a utilização da teleradiografia, admitindo que
eram oito as medidas com interesse na identificação médico-legal: a largura dos seios,
a altura da face, a largura bigoníaca, a altura do crânio (mastóide-ápex), a altura
incisiva, a largura bizigomática e a largura máxima do crânio.
Andersen e Wenzel (46), analisaram numa simulação ante e post-mortem, a
capacidade de identificação individual, através da análise do registo radiográfico
dentário, utilizando radiografias dentárias interproximais. Baseia o processo de
identificação num sistema de níveis (1=eliminado, 2=possível, 3=provável e 4=certo),
onde três observadores analisam cada caso e classificam as radiografias em cada nível,
considerando-se duas a doze características individuais. Os autores defendem a
validade desta técnica para a identificação individual humana, desde que aplicada
dentro de critérios restritos.
Embora estes estudos sejam de grande interesse, a importância das radiografias
dentárias para efeitos de identificação revela-se mais importante nos casos em que há
dentes, e especialmente quando existem restaurações, sendo especialmente relevantes
Enquadramento Teórico
51
naqueles casos em que a ficha dentária se encontra incompleta ou mal preenchida.
Mas é de ressalvar que o aparecimento das radiografais digitais veio trazer um
refinamento ao seu uso para identificação, oferecendo maior acuidade mesmo em
indivíduos desdentados (47).
4.4 Marcação de próteses removíveis
As próteses dentárias, principalmente aquelas que se encontram marcadas pode
revelar-se de grande interesse na identificação médico-legal. Quando o cadáver a ser
identificado é desdentado total ou perdeu grande número de dentes, a identificação por
métodos dentários pode ser muito difícil. Nestes casos são as próteses removíveis o
meio mais importante, e por vezes único para levar à identificação.
5 A PERÍCIA EM MEDICINA DENTÁRIA FORENSE
Para obter a identificação de um indivíduo através da Medicina Dentária Forense,
não restam dúvidas que o mais importante é poder fazer um estudo minucioso da
dentadura em causa, de modo a poder captar o maior número de informações que
permitam a sua caracterização.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
52
Tratando-se de uma ossada, é muito mais simples, porque podem estudar-se ambas as
arcadas, superior e inferior, separadamente. Já quando se trata de um cadáver fresco,
completo ou de uma cabeça decepada, situação frequente quando o homicida pretende
que não se identifique o cadáver, poderá ser necessária a remoção do arco maxilar e
do arco mandibular, para facilitar o manuseio, a obtenção de toda a informação
dentária e, inclusivamente, permitir a realização de radiografias.
Este processo, de forma sistemática, pode ser efectuado pela técnica de Luntz
(48):
• duas incisões bilaterais, nas bochechas, formando um ângulo de abertura
posterior, a partir da comissura labial de cada lado;
• a incisão superior prolonga-se até ao arco zigomático;
• a incisão inferior, prolonga-se até ao ângulo mandibular ou gónium;
• retirar as partes moles da mandíbula (inserções dos músculos da mastigação);
• desarticular a articulação temporo-mandibular;
• realizar uma incisão, em ferradura, acompanhando, internamente, o rebordo
inferior da mandíbula;
• aprofundar esta incisão de modo a alcançar o pavimento da boca, seccionando
todas as inserções musculares, até isolar completamente a mandíbula;
• o arco maxilar ou superior é isolado através de um corte horizontal, feito com
auxílio de serra e cinzel;
• o corte inicia-se na espinha nasal anterior prolongando-se até atingir as
lâminas verticais dos ossos palatinos e as apófises pterigoideas do esfenóide.
Enquadramento Teórico
53
Para obter os arcos ósseos limpos e ainda segundo Luntz (48):
• ferver os arcos retirados em água, contendo detergente e, podendo colocar-se
alguns cristais de soda cáustica,
• realizar, então, a limpeza manual, com rugina e pinça, dos restos de partes
moles,
• proceder, por fim, ao branqueamento dos ossos com água oxigenada (30
volumes), onde podem ser deixados durante 24 horas,
• secar as peças.
Com os ossos assim preparados, realiza-se com facilidade, o estudo minucioso de
ambas as arcadas e de cada uma das peças dentárias, de modo a obter todas as
informações de interesse médico-legal, para que possam ser transferidas para a
respectiva ficha dentária. Completado este estudo das peças isoladas, voltam a
articular-se os arcos com o auxílio de massa plástica, e faz-se uma ortopantomografia,
que complementará as primeiras, e que vai mostrar um grande número de pontos de
grande valor na identificação, sendo certo que a documentação radiográfica
possibilitará uma ampla comparação com qualquer outra ortopantomografia, ou
radiografias perapicais feitas ante-mortem. No caso específico dos cadáveres
carbonizados, tanto os dentes sãos como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos
restauradores, resistem bastante à acção do calor. Dos materiais restauradores, a
amálgama é o mais frágil ao calor. Já as porcelanas, as resinas, os cimentos e o ouro,
são resistentes ao calor. As resinas, cuja cor se assemelha à dos dentes, podem ser
facilmente reconhecidas com o auxílio da luz ultravioleta, com a qual apresentam
fluorescência entre branco-azulada e branco-esverdeada.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
54
5.1 Ficha dentária para a identificação forense
A ficha dentária que se utiliza para a identificação forense é algo diferente da
que se utiliza na clínica. Com efeito, a ficha de identificação deve conter um número
maior de informações que facilitem a identificação de uma vítima. Existe uma ampla
variedade de modelos, sendo difícil poder indicar qual é o melhor. O que se podem
indicar são as características que uma ficha deve preencher para ser funcional: tem
que ser fácil de usar e deve ter espaços suficientes para recolher todos os dados
identificadores, como:
• falta de peças dentárias,
• alterações, congénitas ou adquiridas, das peças dentárias remanescentes,
• restaurações dentárias,
• próteses, fixas e removíveis,
• radiografias obtidas, etc.
Uma boa ficha dentária, para fins de identificação forense tem que ter, pelo menos, os
seguintes tópicos:
• sistemas de numeração das peças dentárias,
Enquadramento Teórico
55
• diagrama para o registo das particularidades morfológicas das coroas de cada
dente, e
• um local para registar, se necessário, características de especial interesse
como, por exemplo, radiografias, próteses, endodontias, restaurações, etc.
5.1.1 Sistemas de numeração das peças dentárias
Existem numerosos sistemas de numeração. Todavia, o mais aceite e utilizado é
o da Federação Dental Internacional (FDI), conhecido como "sistema de dois
algarismos", no qual se representam os dentes por um par de números, o primeiro dos
quais, indica a qual das hemiarcadas pertence a peça dentária e o segundo indica qual
é o dente. Na dentição definitiva o primeiro dígito vai do 1 à 4, representando os
quadrantes no sentido dos ponteiros do relógio. O segundo dígito, de 1 a 8, representa
a peça correspondente, desde o incisivo central até ao terceiro molar. Na dentição
temporária, os quadrantes representam-se com os números de 5 a 8, e as peças
dentárias, de 1 a 5.
5.1.2 Diagramas
Existem diversos modelos de diagramas onde se podem registar as diferentes
particularidades presentes nos dentes. Porém, podemos reduzir essa variedade a dois
tipos fundamentais: o sistema linear e o sistema em forma de arco. Em ambos os casos
representam-se, de forma esquemática, as faces oclusais dos diferentes dentes e é
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
56
nelas que se registam, nos respectivos lugares, os tratamentos dentários, restaurações,
coroas, etc.
Figura 6 Representação modificada do diagrama utilizado pela Interpol
O diagrama utilizado pela Interpol (49), é de uso fácil e bastante prático para realizar
as comparações de achados que possam levar à identificação de uma pessoa. Como se
vê na figura anterior, é formado por desenhos bem simplificados e numerados, que se
agrupam em quatro quadrantes superpostos.
5.1.3 Secção para características especiais
Por último, reserva-se na ficha uma parte que permite anotar, para cada caso,
achados dentários de interesse especial para a identificação, e onde se anotam os
exames complementares efectuados: radiografias apicais, ortopantomografias, ante e
post-mortem, e/ou outras informações que se tenham recolhido. Com estas indicações,
pode-se elaborar uma ficha dentária que permita ao perito recolher adequadamente, no
caso concreto, os dados passíveis de serem utilizados no processo de identificação
odontológica.
Enquadramento Teórico
57
5.1.4 Formulário de achados dentários
Um bom exemplo de ficha dentária é o formulário de achados dentários, que
consta do prontuário para identificação de vítimas em uso pela Interpol (50) e que é de
utilização simples, anotando todas as observações, seguindo instruções precisas,
quanto à marcação. As peças dentárias perdidas in vivo, marcam-se com um X grande
ao passo que os perdidos depois da morte, marcam-se com um círculo. Quanto às
restaurações, usa-se a cor preta, para marcar amálgamas, a cor vermelha, para indicar
trabalhos feitos em ouro, e a cor verde, para os materiais polimerizados. As cáries
marcam-se com x pequeno, desenhado sobre a face atingida pelo processo.
5.2 A prova pericial em Medicina Dentária Forense.
Antes de qualquer decisão judicial é necessário analisar todos os meios de
prova que se anexaram ao processo, já que todas as decisões judiciais têm que estar
fundamentadas com provas. A palavra perito, vem do latim peritus, que significa
sábio, experiente, hábil, ou que pratica uma ciência ou arte. Perito forense é aquele
que possuindo conhecimentos teóricos ou práticos informa o juiz, sob juramento,
sobre pontos litigiosos que se relacionam com a sua especialidade.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
58
O médico dentista perito não é apenas uma testemunha, pois esta limita-se a
descrever um acto sucedido na sua presença, não lhe sendo permitida qualquer
interpretação a esse respeito. Pelo contrário, ao perito é lhe permitido fazer juízos
sobre eles, quando visam aspectos relativos à sua área profissional. Ao médico
dentista perito pode ser solicitado que informe e que dê o seu parecer sobre os mais
diversos problemas de ordem judicial. Estes problemas podem dividir-se em dois
grupos: a) identificação de pessoas e b) reconstrução dos factos.
Qualquer médico dentista pode ser chamado a depor como perito, tanto na fase
de instrução primária, como na fase final. O médico dentista deverá responder às
perguntas formuladas pelas partes e pelo juiz, em relação ao relatório pericial
realizado. Por esta razão deve ter efectuado um relatório pericial baseado na perícia
odontológica, seguindo um protocolo pré-estabelecido.
Relatórios periciais:
O esquema que consideramos dever ser seguido em todos os relatórios
periciais é o seguinte:
1. Identificação do perito, em que além do seu nome e apelidos, deve constar o
seu título, assim como os seus conhecimentos específicos, que tenham relação
com o problema que se está a tentar resolver.
2. Ordem de petição do relatório, informando qual a autoridade que o ordenou,
quais os seus objectivos, os elementos que se facilitaram para a realização da
prova e as limitações encontradas.
Enquadramento Teórico
59
3. As diversas operações realizadas, quer sejam em pessoas vivas, cadáveres, ou
restos destes.
4. Factos obtidos. Indicam-se todos os elementos relevantes, e a sua descrição
detalhada. É importante complementar com dados fotográficos, esquemas,
sistemas gráficos, etc.
5. Considerações dentárias forenses. Aqui faz-se referência ao significado dos
elementos recolhidos e, em particular, às questões que se pretendem resolver.
6. Conclusões. Estas devem ser expressas da forma mais nítida possível, e de
maneira a que dêem resposta a todas e a cada uma das questões levantadas.
Em cada conclusão deve-se referir que se trata de uma verdade comprovada,
sem nenhuma dúvida. No caso de ser uma conclusão que apesar de ainda não
ter sido rigorosamente provada, tem a convicção moral do próprio perito, ou se
por outro lado se tratam de conclusões meramente indiciárias.
Os relatórios periciais estão sujeitos à livre interpretação pelo juiz. As crítica
fundamentais das provas periciais e dos relatórios, têm como base o facto de se terem
realizado estudos incompletos, terem-se estabelecido deduções infundadas, feito
interpretações erróneas, não ter estabelecido a valorização adequada das conclusões,
ou não ter recolhido adequadamente os dados dos pacientes, ou dos elementos sobe os
quais se efectua a prova pericial. A existência de discrepância pericial, ou seja quando
se chegam a conclusões diferentes, e às vezes opostas, trabalhando os mesmos
elementos e em condições idênticas, geralmente tem origem na falta de experiência
dos peritos ou na falta de rigor nas fases de observação, análise e interpretação dos
dados.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
60
6 RELATO DE CASOS - REVISÃO DE LITERATURA
Sendo a identificação humana um dos principais objectivos do estudo e pesquisa
da Medicina Dentária Forense, e também sendo objecto deste trabalho demonstrar a
contribuição desta ciência na identificação post-mortem, procuramos a seguir, ilustrar
a sua utilização, através de alguns relatos científicos publicados .
Petersen (51) em 1975, reportou-se ao incêndio do hotel Hafnia, ocorrido em
Copenhaga, em 1973, onde houve trinta e cinco vítimas mortais. Colaboraram com a
equipa de identificação oito médicos dentistas, que realizaram em todas as vítimas
exames visuais, fotográficos, de raios X, preenchimento do odontograma post-
mortem, finalizando os seus trabalhos com uma comparação e avaliação das
informações ante-mortem com os dados preliminares obtidos. Os resultados desta
cooperação com a equipa dentária forense, foram a identificação de 74% das vítimas
(26 casos). O ocorrido também serviu para uma reflexão dos trabalhos e sugestão para
que no futuro, em casos similares, o número mínimo de médicos dentistas fosse de
dois para cada trinta vítimas.
Sognnaes (52) em 1975, esclareceu a identidade de Martin Bormann, chanceler
do Terceiro Reich alemão durante a II Guerra Mundial, sobre o qual pairavam muitas
controvérsias a respeito do seu paradeiro, que incluíam desde o seu suicídio, até ter
sido visto após a II Guerra na Escandinávia, na Alemanha, na Itália e em alguns países
Sul Americanos. Através dos registos do Dr. Hugo Blaschke, dentista de muitos Nazis
VIP foi possível em 1972 realizar a comparação objectiva de dezasseis características
dentárias ante e post-mortem, de um esqueleto supostamente do desaparecido. Os
estudos dentários forenses puderam estabelecer a identidade individual absoluta de
Martin Bormann.
Enquadramento Teórico
61
Endris (53) em 1985 descreveu o caso de repercussão internacional, do carrasco
nazi Josef Mengele, onde houve a contribuição da Medicina Dentária Forense através
de exames das características dentárias e dos ossos maxilares, anteriores à sua morte,
retiradas de fichas de um exame físico realizado quando Mengele ainda estava no
campo de concentração de Auschwitz. Os elementos constantes nessas fichas, quando
comparados aos dados encontrados, no esqueleto suspeito, apresentaram marcas
evidentes de positividade da identificação, com uma alta probabilidade.
Jacob & Shalla (54) em 1987, descreveram como foi realizada a identificação
post-mortem em vinte e oito indivíduos desdentados totais, onde os mesmos foram
identificados por dois processos distintos e simultâneos. No primeiro processo eram
analisadas as rugosidades palatinas bem como todas os detalhes das demais estruturas
anatómicas circundantes, obtendo-se 100% de eficácia na identificação. Já o segundo
procedimento avaliou somente as rugosidades palatinas, obtendo um índice de sucesso
de 69%, demonstrando que em casos de identificação de pessoas desdentadas totais, a
anatomia maxilar deve ser considerada na sua totalidade, e as técnicas dentárias não
devem ser excluídas logo à partida.
Rothwell et al. (55) em 1989, deixam claro que a Medicina Dentária Forense
possui um papel preponderante na identificação de restos cadavéricos, para
certificação da identidade de pessoas falecidas, e sendo particularmente útil nas
investigações de homicídios. Descrevem o caso de uma série de assassinatos ocorridos
a partir de 1982, e até àquele momento não solucionados, onde o serial killer,
conhecido como o Assassino de Green River, fez quarenta vítimas, todas do sexo
feminino. As vítimas foram encontradas em vários estágios de decomposição ou já em
estado de esqueletização, sendo trinta e seis delas identificadas principalmente pelas
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
62
evidências dentárias. Entretanto, destacam as dificuldades em se conseguirem os
registos dentários ante-mortem dos desaparecidos.
Os autores concluem que a Medicina Dentária Forense pode contribuir para o
progresso dos processos de identificação, desde que haja uma formação contínua dos
médicos dentistas especialistas na área forense.
Solheim et al. (56) em 1992, reportaram um dos maiores acidentes navais da
história, do Scandinavian Star, ocorrido em 1990, que fez 158 vítimas. A
identificação das mesmas contou com um grupo de especialistas, subdivididos em
quatro subgrupos, cada um contendo dois médicos dentistas. Todos os exames e
autópsias foram realizados no Instituto de Medicina Forense da Universidade de Oslo,
sendo concluídos em dezassete dias, com a identificação positiva de todas as vítimas.
Os exames dentários foram responsáveis pela identificação de 107 casos (68%).
Kullman e Cipi (57) em 1992, descreveram um caso de identificação através dos
dentes, que contou com a cooperação internacional entre Albânia e Suécia para
resolução do caso. É destacada a importância do trabalho em equipa, inclusive de
países e profissionais distintos (forças policiais, médicos legistas e médicos dentistas
forenses), para que se possa chegar a um resultado positivo.
Kessler e Pemble (58) em 1993, descreveram a actuação da Medicina Dentária
Forense na identificação das vítimas americanas na Operação Tempestade no Deserto.
Dos 251 exames de identificação por métodos dentários realizados, 244 possibilitaram
a individualização e identidade positiva das pessoas. Tais exames foram facilitados
pela existência de um arquivo com radiografias panorâmicas da maioria das pessoas
envolvidas na "Operação". Os casos não identificados foram justamente os que não
apresentavam registos dentários prévios.
Enquadramento Teórico
63
Brkic, Strinovic, Kubat e Petrovecki (59) em 2000, descreveram o trabalho de
identificação realizado em 1714 cadáveres exumados na Croácia, provenientes de
valas comuns. Os cadáveres foram encontrados com a ajuda de testemunhas que
sobreviveram. Dos 1714 cadáveres exumados conseguiu-se a identificação imediata
de 714 cadáveres. Dos restantes 1000 conseguiram-se identificar 824 cadáveres.
Destes, 25% foram identificados apenas recorrendo às técnicas dentárias, 64% foram
identificados recorrendo-se a técnicas dentárias, ADN, características pessoais e
parâmetros antropológicos. Apenas 11% dos casos foram identificados sem que para
isso se utilizassem os métodos dentários.
Kieser, Laing e Herbison (60) em 2006 analisaram a qualidade dos dados ante e
post-mortem que deram entrada no sistema de dados em Puket, Tailândia, resultantes
do tsunami de 2004. Foi seguido o protocolo da Interpol para registo dos dados
dentários. Os autores referem que a identificação pelos métodos dentários foi relevada
para segundo plano por muitos autores, não reconhecendo estes que os métodos de
identificação dentários são rápidos, fiáveis e relativamente baratos. Recentemente tem
vindo a ser dada maior relevância a estes métodos, principalmente depois de se terem
começado a usar métodos informáticos sofisticados, que permitem com rapidez
comparar as radiografias ante e post-mortem. Estes autores sublinham que apesar
destas novas técnicas, não há nada que substitua o trabalho de médicos dentistas
experientes na comparação e introdução dos dados no computador. Neste estudo
20,5% dos casos estudados tinha diferenças nos dados post-mortem escritos à mão e
aqueles introduzidos posteriormente no formulário rosa da Interpol, e 14,1% das
radiografias post-mortem tinham fraca qualidade. Concluem também que os dados
dentários ante-mortem devem ser colhidos por um médico dentista forense no país de
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
64
origem e que cada país deve reconhecer a Medicina Dentária Forense como uma área
de extrema importância, cabendo às instituições médico-legais e faculdades
providenciarem os cursos de actualização que permitam uma prática nesta área com
alto nível de eficiência e investigação. Ao ser dada a importância devida à Medicina
Dentária Forense, contribui-se para que os dentistas na sua prática diária recolham os
dados dentários com maior eficiência. Neste estudo verificou-se que os dados ante-
mortem para comparação apresentavam falhas como radiografias de qualidade
inaceitável (53,8%) e preenchimento de fichas dentárias de qualidade também
inaceitável (31,1%). Finalmente também referem a importância que cada governo tem,
em dar o suporte financeiro para o estabelecimento de uma agência central de
investigação com procedimentos compatíveis internacionalmente.
Objectivos
65
III. OBJECTIVOS
As técnicas dentárias são, como foi exposto no capítulo anterior, sobejamente
utilizadas e reconhecidas na identificação post-mortem em muitos países, daí que se
coloca o problema de saber se a perícia odontológica está também a ser utilizada em
Portugal, e mais concretamente no Norte do País, no caso de cadáveres não
identificados. Colocando a hipótese da resposta a esta pergunta ser negativa, é nosso
objectivo também determinar se existe ou não a necessidade da sua implementação
nos serviços médico-legais. Para iniciar a nossa investigação, vamos tentar, em
primeiro lugar, determinar quais as principais técnicas utilizadas pelos peritos
médico-legais do Norte de Portugal na identificação de cadáveres. De igual modo,
pretende-se avaliar o resultado das técnicas de identificação utilizadas
correlacionando-as com o estado de conservação do cadáver. É nosso objectivo
também saber se as técnicas que estão a ser utilizadas actualmente estão a ser
eficazes, se estão a combinar eficiência, com rapidez e economia. São estas questões
que nos fazem avançar e tentar chegar mais longe ao ponto de tentar determinar se
existe distinção entre exame da cavidade oral e perícia odontológica, conforme se
trata de uma autópsia de rotina ou de um processo de identificação.
A avaliação da actual contribuição da perícia odontológica na identificação de
cadáveres na Delegação do Porto do INML e nos Gabinetes Médico-legais por ela
subordinados, pode ser o primeiro passo para uma reflexão do papel da Medicina
Dentária Forense em Portugal e da necessidade ou não da revisão do protocolo
seguido na identificação post-mortem, e da sua implementação como rotina nos casos
de cadáveres não identificados.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
66
IV. MATERIAL E MÉTODOS
1 PARTICIPANTES
Para alcançar os objectivos propostos incluíram-se inicialmente neste estudo todos os
peritos médicos-legais da região Norte de Portugal.
A região Norte de Portugal é composta pela Delegação do Porto e por oito gabinetes
por ela subordinados – Sta. Maria da Feira, Braga, Viana do Castelo, Guimarães,
Penafiel, Vila Real, Bragança (inclui extensão de Mirandela) e Chaves.
Foi pedida em Julho de 2005 uma listagem dos peritos médico-legais da Delegação e
dos oito Gabinetes, para sua identificação, sendo incluídos os peritos do quadro da
função pública e os peritos avençados. O número total de peritos incluídos
inicialmente era 74. Fez-se uma triagem posterior, de forma a não contabilizar mais
do que uma vez os peritos que acumulam funções em mais do que um gabinete. Os
peritos que não trabalham na área da tanatologia foram excluídos, por ser esta a área
que faz a identificação de cadáveres.
O número total final de peritos a incluir no estudo foi de 45.
Os dados colhidos foram utilizados unicamente no âmbito deste estudo, assegurando-
se a confidencialidade de todos os dados colhidos, ficando todos aqueles que os
manusearem com o dever de não fazer uso dos mesmos para outros fins.
Material e Métodos
67
2 METODOLOGIA
2.1 Questionário
Para a realização do presente trabalho, utilizou-se um questionário como instrumento
de recolha de dados (Anexo 2). Após revisão bibliográfica sobre o assunto, e consulta
com alguns peritos da Delegação do Porto do INML foi elaborado o questionário,
propositadamente para o efeito deste estudo, com 18 questões, onde se pede ao perito
que escolha uma opção entre um nº limitado de alíneas. Foi entregue um questionário
piloto à Directora da Delegação do Porto do INML, para ser revisto e ser assegurada
a sua relevância na área médico-legal, a sua clareza e a compreensão das perguntas
aplicadas.
Foi feito um contacto inicial em Setembro de 2005 para os Gabinetes Médico-Legais
envolvidos, para explicar a natureza e os objectivos do estudo, antes de ser enviado o
questionário aos peritos. Foi esclarecido neste momento de interlocução, que o uso
dos resultados do questionário se destinavam apenas para fins de pesquisa e que seria
garantida a preservação da imagem e identificação dos peritos, visto não ser
necessária nenhuma identificação pessoal como : nome, filiação, idade, entre outros, e
sobre o direito do perito em participar ou não deste estudo, sem que qualquer prejuízo
ou dano derivassem desta decisão.
2.2 Aplicação do questionário
Os questionários foram distribuídos pessoalmente aos Coordenadores dos Gabinetes e
Directora da Delegação do Porto do INML em Setembro de 2005 para posterior
distribuição aos peritos dos respectivos serviços de tanatologia. Cada questionário foi
acompanhado de uma carta introdutória (Anexo 1) com explicação dos objectivos do
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
68
questionário e do estudo. Foi pedido aos peritos dos Gabinetes que enviassem os
questionários preenchidos pelo correio interno do INML, para facilitar o retorno, e
não haver lugar a despesas adicionais. Aguardaram-se dois meses e foi feito um novo
contacto telefónico para os Directores dos Gabinetes, de maneira a que os
questionários ainda sem resposta fossem entregues o mais rapidamente possível.
Relativamente ao questionário, este foi elaborado baseado em cinco momentos: na
primeira fase do questionário fazem-se perguntas de carácter geral do trabalho do
perito, de modo a traçar o seu perfil profissional. Na segunda fase averiguam-se quais
as técnicas de identificação mais frequentemente utilizadas, e o grau de satisfação por
parte dos peritos com o uso dessas técnicas. Na terceira fase do questionário aborda-
se a perícia odontológica em particular. Na quarta fase determina-se como é feita a
perícia odontológica, e na última fase determina-se a importância da perícia
odontológica.
Fase I : variáveis classificatórias, perfil geral da amostra
Constituída pela questão nº1 que identifica o local de trabalho do perito, pela questão
nº 2 que quantifica o nº de anos que o perito trabalha na área médico-legal e pela
questão nº 3 que estabelece o nº médio de autópsias que o perito realiza por ano.
Fase II : questões que abordam as técnicas de identificação utilizadas
Nesta fase confrontámos o perito com diversas técnicas de identificação, para saber
quais são as mais utilizadas, e o motivo da sua utilização. Não distinguimos técnicas
de identificação de técnicas de reconhecimento, nas alternativas de resposta, tendo
sido todas apresentadas em conjunto, como técnicas de identificação, para não
confundir o perito na altura de responder.
Material e Métodos
69
Este grupo é constituído pelas seguintes questões: questão nº 4 na qual se pretende
saber qual a estimativa do nº de cadáveres não identificados que o perito se depara,
por ano; questão nº 5 em que se procura saber qual o nº aproximado desses cadáveres
que termina com identificação positiva; questão nº 6 em que se pede ao perito para
assinalar de entre 11 opções, quais as duas técnicas que mais utiliza no processo de
identificação, estando a pergunta subdividida em 3 alíneas: alínea a) referindo-se ao
cadáver recente (a morte ocorreu num intervalo inferior ou igual a 72 horas), alínea b)
cadáver putrefacto (a morte ocorreu num intervalo superior a 72 horas) e alínea c)
questionando acerca do cadáver esqueletizado. Na questão nº 7 quantifica-se a
existência ou não de dificuldades que atrasam ou impossibilitam a identificação e na
pergunta seguinte, pergunta nº 8 avalia-se qual a maior dificuldade deparada (apenas
no caso da resposta á pergunta 7 ter sido positiva).
Fase III : questões que averiguam a realização de um exame da cavidade oral e
de perícia odontológica
Este grupo é formado pelas seguintes questões: na pergunta 9 averigua-se se o exame
da cavidade oral é uma prática de rotina em todos os cadáveres sujeitos a autópsia;
caso a resposta seja afirmativa pede-se ao perito para continuar para as perguntas 10 e
11; caso seja negativa pede-se para avançar paras as perguntas 12 e 13. Na questão nº
10 determina-se como é feito o exame da cavidade oral, e na questão nº 11 determina-
se se o exame é feito da mesma maneira ou não, no caso de cadáveres não
identificados. Os peritos que responderam ás questões 10 e 11 passam á pergunta 14.
Aos peritos que responderam negativamente à pergunta 9, é-lhes pedido para
avançarem para a pergunta 12, onde se lhes pergunta se no caso específico dos
cadáveres não identificados a situação se alterava, ou se pelo contrário a situação se
mantinha igual, e não era feito um exame da cavidade oral ou uma perícia
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
70
odontológica. Na pergunta 13 avalia-se o tipo de exame da cavidade oral que os
peritos realizam no caso de ele ser feito nos cadáveres não identificados.
Fase IV: A perícia odontológica em particular
Passa-se agora à pergunta 14, onde já respondem todos os peritos novamente, onde
se tenta saber, por quem é feita a perícia odontológica, quando esta é solicitada. Na
pergunta nº 15 perguntamos se a perícia odontológica é requisitada em todos os casos
de cadáveres não identificados, se apenas naqueles casos que acompanham já dados
dentários ante-mortem, sugerindo uma relação com o cadáver, se é efectuada quando
no cadáver aparecem marcas de mordida, ou noutra situação.
Na pergunta nº 16 determina-se a razão pela qual ela não é solicitada.
Grupo V : questões que determinam a importância da perícia odontológica
Nas últimas duas perguntas, quantifica-se em primeiro lugar (pergunta 17) o peso que
a perícia odontológica poderia ter tido nos casos em que a identificação não foi
conseguida, dando-se três alternativas de resposta: a) a perícia odontológica poderia
ter alterado o resultado, b) a perícia odontológica não poderia ter alterado o resultado
e c) irrelevante. Na última pergunta do questionário, questão nº 18, quantifica-se a
importância da perícia odontológica passar a ser um procedimento de rotina no caso
de cadáveres não identificados, sendo dadas três alternativas: a) é importante, b) não é
importante, c) irrelevante.
3 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Na análise descritiva dos dados apresentam-se quadros com contagens e
percentagens. A informação recolhida a partir dos questionários foi compilada no
Material e Métodos
71
programa Excel - versão 2003, e posteriormente armazenada numa base de dados no
programa SPSS (Statistical Package for Social Science) versão 12.0 for Windows.
Posteriormente foi feita a análise pelos métodos estatísticos descritivos usuais. Foram
construídas tabelas de contingência para cada resposta individualmente e calculadas
as respectivas percentagens.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
72
V. RESULTADOS
Procede-se de seguida à apresentação dos dados obtidos através da utilização dos
instrumentos de recolha de dados referidos no capítulo anterior.
1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS AMOSTRAIS
Dos 45 questionários enviados aos Gabinetes Médico Legais do Norte de Portugal e
Delegação do Porto do INML, obteve-se o retorno de 21 questionários (47%),
chegando o último em Abril de 2006. Os questionários respondidos foram
provenientes da Delegação do Porto do INML e dos Gabinetes de Braga, Chaves,
Guimarães, Penafiel, Sta. Maria da Feira e Viana do Castelo. Não se obteve qualquer
resposta dos Gabinetes de Vila Real e Bragança.
1.1 Variáveis Classificatórias, Perfil Geral da Amostra
A maior percentagem de questionários devolvidos corresponde à Delegação do Porto
do INML, e ao Gabinete de Chaves, ambos com 100% de questionários devolvidos,
seguindo-se o Gabinete de Guimarães, com 80% dos peritos a retornarem os
questionários, Viana do Castelo com 67%, Penafiel com 43%, Braga com 40% e Sta.
Maria da Feira com 27%.
A proporção de peritos que trabalham na área da Tanatologia em cada
Gabinete/Delegação e o número de questionários respondidos está representada na
tabela seguinte:
Resultados
73
Tabela 3. Gabinete/Delegação onde o perito trabalha
peritos (n) Frequência (n) Percentagem
Porto 6 6 28,6
Chaves 1 1 4,8
Braga 5 2 9,5
Penafiel 7 3 14,3
Guimarães 5 4 19,0
Sta. Maria da Feira 11 3 14,3
Viana do Castelo 3 2 9,5
Vila Real 3 0 0,0
Bragança 4 0 0,0
Total 45 21 100,0
Dos vinte e um questionários devolvidos, sete dizem respeito a peritos com menos de
cinco anos na área da Medicina Legal (33,3%), cinco referem-se a médicos que
trabalham na área médico-legal entre cinco a dez anos (23,8%). Dos peritos que
trabalham nesta área entre onze e vinte anos, obteve-se cinco respostas (23,8%) e
aqueles que exercem a sua actividade médico-legal há mais de vinte anos
correspondem quatro respostas (19,0%) (Tabela 4.).
A partir do questionário verificou-se que 52,4 % (n=11) dos inquiridos fazia menos
de cinquenta autópsias por ano, 19,0% (n=4) realizava mais de duzentas autópsias por
ano, e os restantes faziam entre cinquenta e uma e duzentas necrópsias no mesmo
período de tempo (Tabela 5.).
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
74
Tabela 4. Quantidade de anos que o perito trabalha na área médico-legal
Frequência (n) Percentagem (%)
menos de 5 anos 7 33,3
de 5 a 10 anos 5 23,8
de 11 a 20 anos 5 23,8
mais de 20 anos 4 19,0
Total 21 100,0
Tabela 5. Nº autópsias / ano
Frequência (n) Percentagem (%)
0 a 50 11 52,4
51 a 100 2 9,5
101 a 150 2 9,5
151 a 200 2 9,5
mais de 200 4 19,0
Total 21 100,0
1.2 Questões que abordam as Técnicas de Identificação Utilizadas
Uma das perguntas que interessava bastante para a finalidade do trabalho era a
estimativa do número de cadáveres não identificados que o perito se depara por ano.
Os resultados obtidos estão representados na Tabela 6. :
Resultados
75
Tabela 6. Não identificados / ano
De seguida, perguntou-se aos peritos quantos cadáveres acabavam com identificação
positiva. Das respostas obtidas, 66,7% (n=14), afirmaram que este número estava
abaixo de dez, e 14,3% (n=3) assinalaram que identificaram entre trinta a quarenta
cadáveres por ano. Os demais grupos tiveram todos o mesmo índice de respostas, ou
seja, 4,8% (n=1) , conforme se observa na Tabela 7.
Tabela 7. Casos que terminam identificação positiva
Frequência (n) Percentagem (%)
0 a 10 14 66,7
11 a 20 1 4,8
21 a 30 1 4,8
31 a 40 3 14,3
mais de 40 1 4,8
NR 1 4,8
Total 21 100,0
Frequência (n) Percentagem (%)
0 a 10 16 76,2
11 a 20 1 4,8
21 a 30 0 0,0
31 a 40 1 4,8
mais de 40 2 9,5
NR 1 4,8
Total 21 100,0
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
76
Seguindo em frente no preenchimento do questionário, o perito foi questionado sobre
as técnicas de identificação mais utilizadas, não se fazendo distinção entre técnicas de
identificação propriamente ditas e técnicas de reconhecimento, para não confundir os
peritos, pedindo-se para escolher as duas técnicas mais usadas, seja no cadáver
recente, seja no cadáver putrefacto, e também no cadáver esqueletizado. Os
resultados estão demonstrados na Tabela 8..
Tabela 8. Técnicas de identificação utilizadas
Cadáver recente Cadáver putrefacto Cadáver esqueletizado
(n) (%) (n) (%) (n) (%)
comparações morfológicas
5 11,9 0 0,0 4 9,5
técnicas dentárias
0 0,0 7 16,7 12 28,6
técnicas radiográficas
0 0,0 0 0,0 1 2,4
reconhecimento visual
17 40,5 3 7,1 1 2,4
reconhecimento por objectos
pessoais
4 9,5 14 33,3 7 16,7
métodos osteoantropomé
tricos
0 0,0 1 2,4 2 4,8
reconstrução facial
0 0,0 0 0,0 0 0,0
análise documental
4 9,5 3 7,1 1 2,4
análise do ADN 3 7,1 11 26,2 12 28,6
dactiloscopia 9 21,5 1 2,4 0 0,0
outra 0 0,0 0 0,0 0 0,0
NR 0 0,0 2 4,8 2 4,8
Total 42 (21x2) 100,0 42 (21x2) 100,0 42 (21x2) 100,0
Resultados
77
A pergunta seguinte, questionava se o perito se deparava com dificuldades técnicas
que atrasavam ou impossibilitavam a identificação. Neste sentido, 81% (n=17) dos
peritos responderam afirmativamente e 19% (n=4), responderam negativamente
(Tabela 9.). Aos peritos que responderam afirmativamente, foi-lhes perguntado qual a
maior dificuldade com que se deparavam (Tabela 10. ).
Tabela 9. Dificuldades técnicas
Frequência (n)
Percentagem (%)
Sim 17 81,0
Não 4 19,0
Total 21 100,0
Tabela 10. Tipo de dificuldades técnicas
Tipo de dificuldade técnica Frequência (n)
Percentagem (%)
Fraca precisão dos resultados 5 29,4
Demora na entrega dos resultados 2 11,8
Custos elevados 3 17,6
Não há dados ante-mortem para
comparação 7 41,2
Outra 0 0,0
Total 17 100,0
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
78
1.3 Questões que averiguam a realização de um exame da cavidade oral e de
perícia odontológica
O presente trabalho questionou, na pergunta número 9, se o exame da cavidade oral
era ou não uma prática de rotina em todos os cadáveres sujeitos a autópsia. Nas
respostas obtidas, verificou-se que 66,7% (n=14) da amostra afirmaram fazer o
referido exame como prática de rotina, e os restantes 33,3% (n=7), responderam não
o fazer (Figura 7).
Aos participantes que responderam afirmativamente à pergunta número 9, foi-lhes
pedido que continuassem para a pergunta 10 e 11 (Tabelas 11 e 12 respectivamente),
e aos que responderam negativamente que passassem às perguntas 11 e 12 (Tabela
13). Na pergunta 10 tentava-se saber que tipo de exame da cavidade oral era
realizado. Dos peritos que responderam a esta pergunta, 14,3% (n=2) disseram que o
exame da cavidade oral se limitava à contagem dos dentes presentes e ausentes, sendo
que 50% (n=7) afirmaram que além desta contagem, se verificava também o uso ou
não de prótese removível. Os restantes 35,7% (n=5), disseram que era preenchido um
odontograma completo em cada exame da cavidade oral (Tabela 11. ).
Na pergunta seguinte questionou-se os peritos se no caso específico dos cadáveres
não identificados, o exame da cavidade oral era feito da mesma maneira, ou se pelo
contrário, o protocolo é diferente. Dos participantes que responderam a esta questão,
85,7% (n=12) afirmaram que o exame da cavidade oral é feito da mesma maneira,
isto é, o exame da cavidade oral é feito da mesma maneira quer seja cadáver
identificado ou não identificado, e apenas 14,3% (n=2) disseram que faziam da
mesma maneira da indicada anteriormente, mas que solicitavam posteriormente uma
perícia odontológica a um Médico Dentista (Tabela 12).
Resultados
79
Figura 7. Resultados das questões 9, 10, 11,12.
Tabela 11. Tipo de exame da cavidade oral realizado como rotina
Frequência (n)
Percentagem (%)
Percentagem no total da
amostra (%)
Contagem dos dentes presentes / ausentes 2 14,3 9,5
Contagem dos dentes presentes / ausentes, presença ou não de prótese removível 7 50,0 33,4
Preenchimento do odontograma completo 5 35,7 23,8
Outro 0 0,0 0,0
Total 14 100,0 66,7
Exame da cavidade
oral é uma prática de rotina
Sim (66,7%)
Não (33,3%)
Tipo de exame que realiza como rotina
Tabela 11.
Tipo de exame que realiza nos cadáveres
não identificados Tabela 12
No caso de cadáveres
não identificados
Realiza exame da cavidade oral
(71,4%) Tabela 13
Pede uma perícia odontológica
(0,0%)
Não realiza exame da cavidade oral, nem pede
perícia odontológica (28,6%)
Outra situação (0,0%)
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
80
Tabela 12. Exame da cavidade oral em cadáveres não identificados
Frequência (n)
Percentagem(%)
O exame da cavidade oral é feito da mesma maneira 12 85,7
O exame da cavidade oral é feito da mesma maneira sendo posteriormente ainda solicitada uma perícia odontológica a um
médico dentista 2 14,3
Outra 0 0,0
Total 14 100,0
Aos peritos que responderam que o exame da cavidade oral não era uma prática de
rotina, perguntou-se na questão 12, se no caso específico dos cadáveres não
identificados se passava a fazer este tipo de exame, sendo que 71,4% (n=5) dos
inquiridos respondeu que neste caso fazia um exame da cavidade oral e 28,57% (n=2)
disse que tudo se mantinha igual, isto é, não se fazia exame da cavidade oral nem se
pedia uma perícia odontológica. Dos peritos que afirmaram que no caso dos
cadáveres não identificados passavam a realizar um exame da cavidade oral, 28,6%
(n=2) responderam que esse exame consistia na contagem dos dentes presentes e
ausentes, e 71,4% (n=5) afirmou que nestes casos era pedida uma perícia
odontológica a um médico dentista (Tabela 13. ).
Tabela 13. Exame da cavidade oral efectuado aos cadáveres não identificados
Tipo de exame Frequência (n)
Percentagem (%)
Percentagem no total da
amostra (%)
Contagem dos dentes presentes / ausentes 2 28,6 9,5
Contagem dos dentes presentes / ausentes, e a presença ou não de prótese removível 5 71,4 23,8
Preenchimento do odontograma completo 0 0,0 0,0
Outro 0 0,0 0,0
Total 7 100,0 33,3
Resultados
81
1.4 Perícia Odontológica em particular
Passa-se agora para a fase do questionário onde se obtém dados sobre a perícia
odontológica propriamente dita.
O presente trabalho verifica na pergunta 14 (Tabela 14), nos casos em que é solicitada
uma perícia odontológica, de que maneira esta é feita. Sendo que 4,8% (n=1) da
amostra respondeu que solicitava a presença de um médico dentista durante a
autópsia para fazer a perícia; outro grupo, 23,8% (n=5) afirmou que reencaminhava a
perícia para ser realizada por um médico dentista noutro local; e 52,4% (n=11)
respondeu, que a situação era outra (Tabela 15). Houve ainda 19,0% (n=4) dos peritos
que não responderam a esta questão.
Tabela 14. Perícia odontológica
Frequência (n) Percentagem (%)
solicita-se presença do dentista para realizar a perícia 1 4,8
reencaminha-se a perícia para outro local 5 23,8
Outra( Tabela 15.) 11 52,4
NR 4 19,0
Total 21 100,0
Tabela 15.
Tipo de resposta Frequência (n)
Percentagem (%)
Não se requisitam perícias odontológicas 10 90,9
Sem experiência que permita responder 1 9,1
Total 11 100,0
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
82
Na questão número 15, quantifica-se se a perícia odontológica é solicitada em todos
os casos de cadáveres não identificados (9,5% / n=2); ou apenas quando
acompanham o cadáver os dados dentários ante-mortem que sugerem a identificação
do cadáver (14,3% / n=3); ou só quando existem marcas de mordida (0,0%); ou,
ainda, outra situação não especificada (61,9% / n=15 ) – Tabela 16..
Tabela 16. Quando é requisitada a perícia odontológica
Frequência (n) Percentagem (%)
Em todos os casos de cadáveres não identificados 2 9,5
Quando acompanham o cadáver dados dentários ante-mortem 3 14,3
Outra (Tabela 17. 13 61,9
NR 3 14,3
Total 21 100,0
Tabela 17.
Tipo de resposta Frequência (n)
Percentagem (%)
Não se requisitam perícias odontológicas 12 92,3
Sem experiência que permita responder 1 7,7
Total 13 100,0
Resultados
83
Na questão número 16, que versa sobre as situações em que não é requisitada a
perícia odontológica, pergunta-se as razões pelas quais ela não é solicitada: se não se
faz porque existem outras técnicas, que são usadas primeiro e que geralmente levam á
identificação (23,8%); não se faz porque não existe um médico dentista a trabalhar
na/com a(o) Delegação/ Gabinete (61,9%); não se faz porque não existe um local
para reencaminhar a perícia (14,3%); ou alguma outra situação (0,0%). Os resultados
obtidos estão apresentados na Tabela 18. .
Tabela 18. Quando não é requisitada a perícia odontológica
Frequência (n) Percentagem (%)
não se faz porque existem outras técnicas 5 23,8
não se faz porque não há dentista 13 61,9
não se faz porque não existe local para reencaminhar a perícia 3 14,3
Outra 0 0,0
Total 21 100,0
1.5 Questões que determinam a Importância da Perícia Odontológica
A partir da questão 17, perguntou-se se a perícia odontológica poderia ter alterado o
resultado nos casos que acabaram sem identificação e que não foi efectuada a perícia
odontológica. Nesta pergunta, 95,2% dos participantes responderam que sim, a
perícia odontológica poderia ter alterado o resultado. Comparativamente, os restantes
4,8% das respostas, consideram irrelevante para o caso a realização ou não de perícia
odontológica (Tabela 19.).
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
84
Tabela 19. Perícia odontológica poderia ter alterado o resultado
Frequência (n) Percentagem (%)
Sim 20 95,2
Não 0 0,0
Irrelevante 1 4,8
Total 21 100,0
Na questão número 18, pergunta-se aos participantes do estudo se acham importante
o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento de rotina no caso de
cadáveres não identificados. Nesta pergunta, 100% da amostra respondeu
afirmativamente, isto é, consideraram importante que a perícia odontológica seja um
procedimento de rotina na identificação post-mortem (Tabela 20.).
Tabela 20. Importância de estabelecer perícia odontológica como rotina
Frequência (n) Percentagem (%)
Sim 21 100,0
Não 0 0,0
Irrelevante 0 0,0
Total 21 100,0
Discussão
85
VI. DISCUSSÃO
Neste estudo, avaliou-se o perfil do uso da perícia odontológica para identificação em
tanatologia, na Delegação do Porto do INML e respectivos Gabinetes subordinados,
por meio de um questionário. A importância e função da Medicina Dentária Forense
estão bem documentadas (61,62,63,64,65) e as técnicas dentárias já constituem
prática pericial de rotina em muitos países, conforme revisão de literatura já
apresentada no Enquadramento Teórico. Frente ao exposto, verificou-se a
necessidade de um trabalho para se verificar ou discutir a importância e contribuição
da Medicina Dentária Forense na identificação post-mortem e o perfil da sua prática
no Norte de Portugal.
Em relação ao questionário, especificamente quanto à aderência e colaboração dos
entrevistados na pesquisa, o índice de respostas obtidas 47% (n=21) foi proporcional
às encontradas por outros autores, como Tamoto (67) que obtiveram 35% de
respostas. Tal valor explica-se devido ao facto do questionário ser entregue
pessoalmente a cada coordenador de Gabinete e para a maior parte dos peritos,
inclusive com um reforço e colaboração de peritos da Delegação do Porto do INML,
para que preenchessem a pesquisa. Mesmo com este esforço, não foi possível que se
obtivessem ainda mais respostas, facto que leva a pensar, e está de acordo com o
resultado de outros pesquisadores, que o índice de respostas obtidas por questionários
enviados unicamente pelo correio é muito mais baixo. Em virtude da impossibilidade
de reproduzir a entrega pessoal e recolha dos questionários em todo o território
nacional, decidiu-se restringir o estudo somente à região norte de Portugal, ainda que
de uma amostra mais reduzida, porém com maiores possibilidades de controlo e
recolha de informações.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
86
Dentro deste contexto, após a análise dos dados obtidos neste estudo, verificou-se que
o índice de aderência ao questionário foi maior no grupo com menos anos de
profissão, menos de 5 anos (33,3%), e menor no grupo com mais anos de profissão
(19%). Contudo os grupos entre 5 e 10 anos e 10 a 20 anos tiveram o mesmo índice
de respostas.
Embora no questionário se tenha verificado que 52,4% (n=11) dos inquiridos
fazia menos de cinquenta autópsias por ano, e apenas 19% (n=4) realizava mais de
duzentas autópsias, do total das respostas obtidas, em relação ao número de cadáveres
não identificados que o perito se depara por ano, 76,2% (n=16) afirmaram que o
número de casos estava abaixo de 10, e 9,5% (n=2) responderam que se deparam com
mais de 40 cadáveres não identificados por ano. Estas respostas podem levar a pensar
que o aparecimento de cadáveres não identificados, não está restrito aos grupos ou
locais que fazem um grande número de autópsias ou que disponham de um grande
número de anos de experiência na profissão. Mas que, de outro modo, está sujeito a
aparecer em qualquer sítio onde haja lugar a realização das autópsias.
Esta interpretação não está longe do facto de que, conforme apresentam os
dados oficiais da Delegação do Porto do INML nos Relatórios de Actividades dos
anos 2004 e 2005, estes demonstram a existência de muitos casos de cadáveres não
identificados com distribuição tanto na Sede da Delegação, como nos Gabinetes
Médico Legais.
Discussão
87
Tabela 21 - Movimento de Tanatologia Forense Delegação (2004/ 2005)III
Ano Cadáveres admitidos Perícias
Identificados Não identificados Total de autópsias Exames de Antropologia Forense
2004 917 77 904 1
2005 843 126 880 1
Tabela 22 - Movimento de Tanatologia dos GML (2004/2005) III
Ano Cadáveres admitidos Perícias
Identificados Não identificados Total de autópsias Exames de Antropologia forense
2004 1571 10 1386 0
2005 1434 5 1308 3
GML Cadáveres admitidos Perícias
2004 Identificados Não identificados Total de autópsias
Exames de Antropologia Forense
Braga 341 3 343 0
Bragança (inclui extensão de Mirandela)
70 0 70 0
Chaves 33 2 34 1
Guimarães 282 0 228 0
Penafiel 236 1 237 0
Sta. Maria da Feira 331 3 195 0
Viana do Castelo 147 1 148 0
Vila Real 131 0 131 0
III Relatório de actividades 2004 e 2005. Instituto Nacional de Medicina Legal. Delegação do Porto
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
88
GML Cadáveres admitidos Perícias
2005 Identificados Não identificados Total de autópsias Exames de
Antropologia forense
Braga 340 2 341 0
Bragança (inclui extensão de Mirandela) 98 1 99 0
Chaves 53 0 52 0
Guimarães 215 0 215 0
Penafiel 221 2 221 2
Sta. Maria da Feira 247 0 120 1
Viana do Castelo 141 0 141 0
Vila Real 119 0 119 0
Sendo já conhecida e confirmada a existência de casos de cadáveres não
identificados, importa ainda mais conhecer a estimativa de casos que termina com
identificação positiva e, se possível, a demonstração da técnica utilizada. Mesmo
porque, não deixa de ser um dos objectivos deste trabalho a verificação da existência
e uso da perícia odontológica nos processos de identificação. Das respostas obtidas,
66,7% (n=14) afirmaram que este número estava abaixo de 10; e 14,3% (n=3)
assinalaram que identificaram entre 31 a 40 cadáveres por ano. Os demais grupos (11
a 20, 21 a 30, ou mais de 40 cadáveres, e respostas em branco), obtiveram o mesmo
índice de respostas, ou seja, 4,8% (n=1). Assim, embora as respostas tenham indicado
a frequência da existência de cadáveres não identificados, as respostas também
demonstram uma frequência semelhante de casos que acabaram com identificação
positiva. Não sendo, possível, entretanto, com base no tipo de estudo realizado,
estabelecer alguma correlação entre o número exacto de casos não identificados e o
número exacto de casos finais com identificação positiva. Mesmo porque, o
Discussão
89
questionário abordou a questão na forma de estimativa de casos, facto que leva em
conta a percepção individual dos peritos e as limitações de memória de cada um. Da
mesma forma, a partir dos dados oficiais dos relatórios de actividades da Delegação
do Porto do INML de 2004 e 2005, onde se observa um número significativo de
casos de cadáveres não identificados, também não é possível conhecer-se o número
exacto ou aproximado dos casos que resultaram com identificação positiva no final.
De tal forma, este resultado conforta a informação do questionário e pode motivar à
realização de um estudo retrospectivo com base na consulta processual de cada caso,
ou ainda mais, num protocolo prospectivo em cada situação de não identificados que
venha aparecer.
Contudo, tentou-se verificar no questionário, as técnicas de identificação mais
utilizadas, pedindo-se para escolher as duas técnicas mais usadas, seja no cadáver
recente, seja no cadáver putrefacto, ou no cadáver esqueletizado. Conforme os
resultados demonstrados, os peritos responderam que no cadáver recente a técnica de
identificação mais utilizada era o reconhecimento visual (40,5%), seguida da
dactiloscopia (21,5%). No cadáver putrefacto, foi considerado a técnica mais
frequente o reconhecimento por objectos pessoais (33,3%), seguida pela análise do
ADN (26,2%), estando as técnicas dentárias na terceira posição de frequência
(16,7%). Por último, no cadáver esqueletizado, as técnicas dentárias foram
assinaladas, igualmente, com o mesmo índice de utilização que a análise do ADN
(28,6%), cabendo salientar que, mesmo em menor índice, o reconhecimento por
objectos pessoais também foi relativamente frequente (16,7%).
À primeira vista, a partir destes resultados, pode-se observar que as técnicas
dentárias estiveram presentes nas respostas dos grupos de cadáveres esqueletizados e
putrefactos, sendo neste último, ainda pouco frequentes (terceira opção). Assim,
comparativamente aos outros métodos utilizados, as técnicas dentárias são muito
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
90
menos frequentes como método de identificação, inclusive tendo sido considerado
nulo o seu uso no grupo de cadáveres recentes.
Apesar das respostas anteriores não permitirem inferir se a técnica indicada
resultava ou não efectivamente numa identificação final positiva, no interesse de
aprofundar as escolhas assinaladas, foi questionado ao perito se ele se deparava com
dificuldades técnicas que atrasavam ou impossibilitavam a identificação. Neste
sentido, 81% dos peritos responderam afirmativamente, sendo que a maior
dificuldade com que se deparavam era o facto de não haver dados ante-mortem para
comparação (41,2%), além de assinalarem a fraca precisão dos resultados (29,4%).
A resposta acima assume-se de grande interesse e importância quando vem de
encontro com a resposta anterior, pois permite uma reflexão ou possível explicação
acerca das opções de técnicas de identificação assinaladas. Ou seja, analisando a
tabela de técnicas de identificação mais utilizadas, verifica-se que os métodos de
escolha são o reconhecimento visual, o reconhecimento por objectos pessoais, a
análise documental, e a análise de ADN, relegando para um segundo plano as
técnicas de dactiloscopia, técnicas dentárias. Porém, quando se compara este
resultado com a informação de dificuldades técnicas, confronta-se que os métodos
mais utilizados são, à excepção da análise do ADN, exactamente aqueles que não
necessitam de dados ante-mortem para comparação, mas que, pelo facto de terem sido
mais frequentemente utilizados conferem uma fraca precisão dos resultados, até
porque não utilizam uma técnica de comparação propriamente dita, mas,
conceptualmente, usam meios de reconhecimento. Neste sentido, a interpretação
simultânea destes dados talvez possa permitir algumas inferências cruzadas, e talvez
esteja de acordo com o motivo do pouco uso de algumas técnicas de identificação
propriamente ditas (dactiloscopia, técnicas dentárias), isto é, pelo facto de ter sido
referido não haver dados ante-mortem para comparação, exactamente por isso, estas
Discussão
91
técnicas não puderam ou não foram escolhidas para serem utilizadas. O que parece
estar mais ou menos evidente é que, na maioria dos casos, os meios de escolha para
identificação não são os meios científicos, mas os meios de reconhecimento. Assim,
mais uma vez, verifica-se a necessidade de um estudo documental de cada processo, a
fim de se obter a certeza real em cada caso. Esta situação assinala-se como
motivadora para estudos futuros.
Em relação à ausência de dados ante-mortem para comparação, apontada por
41,2% da amostra como a principal dificuldade técnica no processo de identificação,
deve-se assinalar que esta não é limitada ou exclusiva às técnicas dentárias, mas
também para os demais métodos indicados, tais como a dactiloscopia, análise do
ADN, e outros. Pois o termo de comparação é um requisito essencial para o
estabelecimento do processo científico da identificação. Isto é, da mesma forma que
para se efectuar a identificação absoluta por técnicas dentárias é preciso que se
disponha de dados ante-mortem para comparação, assim também, no caso da
dactiloscopia, do ADN e das outras técnicas forenses, é igualmente preciso. Já, pelo
contrário, nos processos de reconhecimento visual, ou por objectos pessoais, o
elemento de comparação não é estritamente técnico, mas depende da subjectividade
de quem reclama o cadáver e procede ao reconhecimento.
Face a esta exposição, e considerando que a falta de dados ante-mortem é o
maior factor técnico limitador da identificação, seria interessante investigar, por
exemplo, por que razões é que no cadáver recente o reconhecimento visual é eleito
como método de escolha (40,5%), seguida pela dactiloscopia (21,5%) e comparações
morfológicas (11,9%) e, por último, os objectos pessoais e análise documental
(9,5%). Pelos resultados acima, observa-se que a maior parte dos métodos utilizados
não necessita de dados ante-mortem, ressalvando a dactiloscopia, embora esta, em
contrapartida, disponha dos registos das impressões digitais nos arquivos dos serviços
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
92
de identificação. Assim, não é possível esclarecer se a dificuldade técnica apontada,
refere-se ao processo de identificação propriamente dito, a que a pergunta se refere,
ou representa indicadores que influenciaram na escolha do método. Raciocínio
semelhante mantém-se, ao analisar na mesma tabela, o caso dos cadáveres putrefactos
e esqueletizados. Nos putrefactos, a técnica mais escolhida foi o reconhecimento por
objectos pessoais (33,3%), seguida pela análise do ADN (26,2%) e técnicas dentárias
(16,7%). Contudo, também nestas técnicas mais utilizadas, o que é mais esperado é
que a falta de dados ante-mortem apenas poderia ter limitado em maior grau a
execução das técnicas dentárias e análise de ADN. Assim, os processos de
identificação foram realizados quase que na independência da existência dos dados
ante-mortem. Entretanto, em relação aos cadáveres esqueletizados, observa-se que os
métodos mais frequentes foram igualmente, o uso do das técnicas dentárias e a
análise de ADN (28,6%), seguidos pelo reconhecimento por objectos pessoais
(16,7%). Ora, tanto a análise de ADN, como as técnicas dentárias, exigem, à partida,
dados ante-mortem para a existência de termo de comparação. Assim, mais uma vez,
fica a dúvida: se não existiam dados ante-mortem, então, como é que a identificação
foi realizada? Isto é, tendo sido estes métodos escolhidos, qual o índice de
efectividade do resultado final? Baseado nestas dúvidas e nas aparentes divergências
entre os métodos utilizadas conforme as condições de preservação do cadáver,
percebe-se, mais uma vez, a necessidade de um estudo futuro, com base no
acompanhamento real de cada caso, isto é, através da revisão retrospectiva e
prospectiva de cada processo de identificação.
Além disso, outra variável que deve ser aprofundada é a questão da falta de
dados ante-mortem assinalada. Ou seja, assim como as informações que acompanham
o cadáver costumam ser precárias ou insuficientes, também é comum que as
informações que sejam úteis para a identificação do cadáver sejam insuficientes. Por
Discussão
93
isso, é necessário que seja instituído como que um processo de identificação anexo ou
incluído na perícia tanatológica, mas o principal é que seja de uma forma padronizada
e pormenorizada, no sentido de se buscarem todos os elementos para construir o
processo de identificação individual. Por exemplo, pode-se imaginar que o resultado
final seja diferente quando cada caso seja analisado com este objectivo, como se fosse
uma perícia de identificação, pois o perito encarregado desta responsabilidade acaba
por reunir muito mais elementos, ou pelo menos precisa de os procurar, investigar, e
não apenas, limitar-se ou contentar-se com os dados que são encaminhados
juntamente com o cadáver. Neste sentido, não se sabe se a falta de dados ante-mortem
se dá porque estes dados não existem ou porque não foram determinados, ou
procurados.
De maneira a que os peritos se sintam mais motivados para o uso de técnicas de
identificação, em que os dados ante-mortem podem ser indispensáveis, têm que ser
também levados a cabo programas de educação e motivação de todos os profissionais
de saúde de maneira a que se possam recolher rapidamente todos os elementos
dentários das supostas vítimas. Na Austrália existe uma Unidade Nacional de Pessoas
desaparecidas (NMPU), que foi formada para tentar ultrapassar problemas de falta de
uniformidade naquele país onde o nº médio de pessoas desaparecidas é de 30 000 por
ano. A NMPU mantém um registo nacional de dados (não dentários), de maneira a
ajudar aqueles que reportam pessoas desaparecidas há mais de 60 dias (68), e há
agora uma proposta para incluir os registos dentários das pessoas desaparecidas nesta
base de dados. Já em 1977 se reconheciam os benefícios de programas informáticos
incorporados com ficheiros dentários utilizados para a investigação de pessoas
desaparecidas e não identificadas (69). A partir desta altura foram feitos sistemas de
dados dentários em vários estados dos USA, para colaborar nas investigações de
pessoas desaparecidas (70). Na Austrália a Medicina Dentária Forense já foi utilizada
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
94
em numerosos casos onde a identidade não era sabida ou era incerta (71). Estes
incluem casos onde os restos estavam esqueletizados (72), carbonizados (73), ou
parcialmente queimados (74). Tendo em vista o melhoramento da Medicina Dentária
Forense em Portugal, e podendo concluir do nosso trabalho que as técnicas dentárias
não são utilizadas também devido ao facto de não existirem dados ante-mortem
disponíveis na altura do processo de investigação da identidade, propomos a
realização de um sistema informático de dados dentários ante-mortem de todas as
pessoas que se encontrem desaparecidas há mais de 60 dias. Para que hajam
resultados positivos num processo de investigação utilizando um sistema de dados
dentários é necessário coordená-lo em duas fases: a aquisição dos dados dentários
daquelas pessoas que são dadas como desaparecidas, e a recolha de todos os dados
dentários daquelas pessoas que estão sem identificação, ou cuja identificação é
incerta. Desde que a pessoa desaparecida tenha nalguma fase da sua vida recorrido a
um dentista, poder-se-á então recolher, interpretar e transcrever para uma base de
dados, de maneira a que possa ser acedida por todas as forças policiais ou outras,
envolvidas no processo de investigação. Para evitar que seja introduzida informação
incorrecta, a tarefa de recolher a informação, interpretar e transcrevê-la para a base de
dados (quer seja de pessoas vivas ou mortas, ante ou post-mortem), deve ser da
exclusiva responsabilidade de um médico dentista forense. Apesar de nalguns países
como a Austrália (75), ter sido sugerido que este sistema nacional de dados dentários
fosse acoplado ao já existente de ADN, impressões digitais, isto rapidamente levantou
os problemas morais, éticos e legais de se associarem as pessoas desaparecidas a
actividades criminais, o que levou a reconsiderar esta possibilidade. Uma base de
dados de informação dentária poderia ser gerida e harmonizada entre o sistema
policial e o INML. Uma ligação entre estas duas entidades, no que à base de dados se
refere, garante uma sinergia entre os aspectos legais e médicos na investigação de
Discussão
95
pessoas desaparecidas. Nos USA onde já existe uma base de dados dentários para as
pessoas desaparecidas, conseguiu-se abreviar em 2-3 dias o prazo entre a descoberta
da pessoa desaparecida e a sua entrega á família (76).
Ainda em relação ao questionário efectuado para o nosso estudo, e tendo em conta
que as técnicas dentárias foram assinaladas como uma das opções para a identificação
de cadáveres, nomeadamente os esqueletizados (28,6%) e putrefactos (16,7%),
importa avaliar pormenores do método utilizado, até mesmo para tentar verificar se
existe algum factor que venha a ser apontado como dificuldade técnica ou algo que
tenha influenciado na escolha de uma técnica em particular ou a exclusão desta em
benefício de outra.
Em virtude deste trabalho estar mais orientado para o estudo da perícia
odontológica, e para não tornar o questionário muito extenso, limitou-se o
aprofundamento da pesquisa à observação desta técnica em particular, até porque, faz
parte dos objectivos iniciais a verificação e a caracterização desta. Assim sendo,
primeiro, foi questionado se o exame da cavidade oral era ou não uma prática de
rotina em todos os cadáveres sujeitos a autópsia. Das respostas obtidas, 66,7% da
amostra afirmaram positivamente, e os restantes 33,3%, responderam negativamente.
Diante deste resultado, a primeira dúvida que surge é a de correlacionar esse valor
com o uso do exame oral como técnica dentária de identificação, pois interessa
reflectir acerca de uma aparente contradição entre os dois valores. Isto é, se o exame
da cavidade oral foi assinalado como uma prática frequente (66,7%) , então por que
motivo é que as técnicas dentárias são pouco utilizadas? Ou ainda, do ponto de vista
prático, existe diferença entre a realização do exame da cavidade oral e as técnicas
dentárias para identificação?
Em busca de respostas para estas dúvidas e para tentar esclarecer as aparentes
contradições prossegue-se na interpretação dos resultados. Em síntese, este exame
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
96
consiste na verificação e contagem dos dentes presentes/ausentes tanto nos casos de
prática de rotina, como nos casos de somente ser efectuado aos cadáveres não
identificados. Além disso, apesar de ser considerado parte integrante da autópsia, o
exame da cavidade oral, não foi realizado em todos os casos, sendo decisão somente
no caso de cadáveres não identificados. Ora, ao mesmo tempo que o grupo que realiza
este exame como rotina nas autópsias, este exame não vai muito além da contagem
dos dentes presentes/ausentes; este grupo também não altera o procedimento no caso
de cadáveres não identificados. Isto é, os resultados denotam que o exame da
cavidade oral, tal como é realizado, é usado como prática habitual nas autópsias e
também, do mesmo modo, nos casos de cadáveres não identificados. Embora se deva
destacar que cinco peritos referiram realizar o preenchimento do odontograma
completo como prática de rotina.
Esta redução de procedimentos, poderia ter levado a uma incompleta percepção
dos conceitos, no sentido de que, ao se questionar quanto às técnicas dentárias de
identificação, estas podem ter sido tomadas por sinónimos ou equivalentes aos
exames da cavidade oral. Talvez esta seja uma das explicações entre as aparentes
contradições acima destacadas, mas que, pelo contrário, também se coaduna com a
impressão que os entrevistados assinalaram em relação ao uso das técnicas dentárias
na identificação, nomeadamente quanto ao seu uso de pouca frequência e com
dificuldades técnicas presentes. Ou seja, se a técnica dentária de identificação,
consiste simplificadamente num exame da cavidade oral para verificação/contagem
dos dentes, então, realmente fica claro que esta técnica não apresenta elevados índices
de escolha ou até mesmo de sucesso no que concerne à identificação de cadáveres. E
ainda mais, da forma como é feita, era de se esperar que apresentasse um elenco de
limitações do ponto de vista técnico. Portanto, a correlação dos resultados ilustra o
facto das técnicas dentárias denominadas ou exames da cavidade oral, não expressam
Discussão
97
o mesmo conceito e conteúdo de uma perícia odontológica como técnica auxiliar nos
processos de identificação. Ainda porque, segundo as respostas, somente duas
respostas referiram o encaminhamento ou solicitação de um médico dentista para a
mesma, sendo que os exames da cavidade oral, regra geral, são realizados pelo
próprio perito ou pelo técnico auxiliar de autópsia. Neste sentido, chama à atenção as
respostas que traduziam o preenchimento do odontograma completo como prática de
rotina, mas que, pelo contrário, nem sequer referem este preenchimento como sendo
efectuado nos cadáveres não identificados, embora nestes casos, ainda mais
importante pudesse ser considerado.
O exame da cavidade oral durante a autópsia é um procedimento obrigatório,
que deve ser levado a cabo pelo médico legista que faz autópsia. O exame deve ser
cuidadoso, devendo ser anotadas todos os elementos dentários básicos: peças
dentárias presentes, peças dentárias ausentes, uso de prótese removível ou fixa com
indicação do tipo de prótese usada: removível acrílica total ou parcial, esquelética
total ou parcial, fixa metálica, metalo-cerâmica, cerâmica, unitária ou com vários
elementos, restaurações com indicação do nº do dente e tipo de restauração
(amálgama, resina, provisória). No caso de cadáveres não identificados este exame
deve ser feito a nosso ver, exclusivamente por um médico dentista, isto é, deve ser
feita uma perícia odontológica. Nestes casos deve ser preenchido um odontograma
completo e devem ser tiradas radiografias (se possível uma ortopantomografia) para
uma possível comparação com os dados ante-mortem que possam vir a aparecer. Uma
restauração em resina que mimetiza o dente pode não ser diagnosticada até pelo
dentista mais experiente, daí que R. Bux (77) aconselhe o uso por parte do dentista de
uma fonte de luz muito boa bem como luzes com lupas ou outros instrumentos de
aumento. Deve-se usar o ácido fosfórico e a luz ultravioleta para facilitar a
identificação visual das restaurações em resina Este autor aconselha ainda a remoção
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
98
dos maxilares especialmente nos casos de acidentes abertos ou de crianças com
ausência ou nº reduzido de restaurações e onde se pretendam utilizar as técnicas
dentárias para identificação. O autor defende que a remoção dos maxilares deve ser
feita através da dissecção do pescoço, não afectando assim a cara, evitando o
desfiguramento..
Quanto à pergunta específica sobre a solicitação da perícia odontológica
(pergunta 14) e de que maneira é feita, embora constem duas respostas que afirmam
esta prática, ao ser questionado directamente sobre o ponto, somente se obteve uma
resposta positiva. Ainda houve um grupo de cinco respostas que afirmou
reencaminhar a perícia para ser realizada por um médico dentista noutro local.
Entretanto, por se tratar de perícia em cadáveres putrefactos e esqueletizados,
particularmente devido às limitações e impossibilidades de remoção e transporte para
fora da unidade de autópsia, e nem sequer foi apontada esta dificuldade técnica, não
foi possível esclarecer o grau de fidelidade das respostas ou avaliar se este envio para
perícia odontológica noutro local não foi confundido com as perícias de clínica
médico-legal, onde existe a rotina de se enviar pessoas (vivas), para realização de
perícia odontológica para avaliação de danos.
Mesmo assim, insistindo na questão da requisição da perícia odontológica,
obteve-se duas respostas (9,5%) que indicaram que esta é solicitada em todos os
casos de cadáveres não identificados. Sendo que três (14,3%) responderam que
apenas a solicitam quando acompanham o cadáver os dados dentários ante-mortem
que sugerem a identificação do mesmo.
Quando se pergunta qual é o motivo por que não é requisitada a perícia
odontológica, mais de dois terços das respostas responde que não se faz porque não
existe um médico dentista ou não existe um local para reencaminhar a perícia; sendo
que o restante respondeu que existem outras técnicas, que são usadas primeiro e que
Discussão
99
geralmente levam à identificação. Além da evidente demonstração de que a perícia
odontológica não é realizada, em 5 respostas (23,8%) esta foi preterida em função da
existência de outras técnicas que são usadas primeiro e que geralmente levam à
identificação. Contudo, deve-se salientar que estas “outras técnicas” referidas,
conforme discutido anteriormente na análise das técnicas de identificação utilizadas
são, na maior parte das vezes, meios de reconhecimento. Isto é, tendo sido
demonstrado que a forma principal de identificação dos cadáveres é feita por meio de
reconhecimento visual (40,5%) no cadáver recente, ou por objectos pessoais (33,3%)
no cadáver putrefacto, então, ao confrontarmos esta informação com resultado da
Tabela 16, que talvez sejam estas as “outras técnicas que são usadas primeiro e que
geralmente levam à identificação”. Isto é, de forma lacónica, poder-se-ia dizer que
além da impossibilidade da realização da perícia odontológica, em alguns casos esta
não foi considerada de interesse para o caso, tendo sido feito a opção de utilizar os
meios de reconhecimento para a identificação do cadáver. O aspecto interessante
desta resposta é que, mais uma vez, vem de encontro com o padrão de respostas do
questionário e dos resultados no sentido da apreciação global da perícia odontológica
frente ao processo de identificação de cadáveres. Ou seja, o conjunto das respostas
pode permitir uma reflexão a respeito da cultura geral e do grau de consideração e
valorização da perícia odontológica nas situações de cadáveres não identificados. Isto
porque, em primeiro lugar, a perícia odontológica parece ter o seu lugar minimizado
ou substituído pelo exame da cavidade oral que deveria ser de rotina. A seguir,
porque este exame, alem de ser extremamente simples – reduzido à verificação e
contagem dos dentes ausentes/presentes, não é realizado por um médico dentista, e
muitas vezes, nem pelo perito médico, mas sim pelo técnico de autópsia. E, também,
porque a este é dado preferência a meios de reconhecimento de eficácia duvidosa,
porquanto com grau de individualização passível de falhas (5).
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
100
Frente a esta reflexão percebe-se que, para evitar o lugar-comum de apontar as
deficiências estruturais que não prevêem a perícia odontológica e que, por isso
mesmo, esta não é usada; antes disso, será necessário um trabalho de educação
pericial e de consciencialização dos peritos para criar a cultura da Medicina Dentária
Forense. Ou seja, após uma transformação dos hábitos e da prática dos peritos para a
realização de um exame da cavidade oral mais minucioso, ou de modificações no
sentido da percepção da importância da perícia odontológica, estarão assim, criadas
as condições para o início do surgimento da perícia odontológica. Até porque, à
medida que os peritos ficarem atentos aos pormenores de uma nova área do
conhecimento, vão sentindo naturalmente necessidade de aprofundamento deste
conhecimento e de auxílio técnico de um profissional devidamente capacitado para a
matéria, o médico dentista perito. Além disso, é natural que possa existir um certo
desinteresse do exame pericial para o segmento oral, porque a maior parte dos peritos
reúne somente conhecimentos básicos na área, não sendo possível de alcançar o
mesmo domínio de um profissional especificamente treinado em Medicina Dentária
Forense.
Neste sentido, e de encontro com este raciocínio, verifica-se que há interesse no
aprofundamento da matéria, pois quase a totalidade das respostas das duas últimas
perguntas consideraram que a perícia odontológica poderia ter alterado o resultado
(95,2%)e, também, acham importante o estabelecimento da perícia odontológica
como procedimento de rotina no caso de cadáveres não identificados (100%).
Importa referir que a formação não se deve restringir aos médicos legistas para
que estes se familiarizem com as técnicas dentárias, e lhes saibam dar o respectivo
valor nos processos de identificação, mas também aos médicos dentistas generalistas,
para que na sua prática diária recolham os dados dos seus pacientes da forma o mais
correcta e abrangente possível, de forma estarem reunidas todas as condições para
Discussão
101
serem utilizados como dados ante-mortem, se necessário. Griffiths et al. (78) em
1988, reportaram a formação realizada anualmente, no estado de New South Wales,
Austrália, com médicos dentistas tanto do sector público como do sector privado,
para familiarizá-los com as técnicas de identificação dentárias. Fazendo com que
numa eventualidade, as vítimas de um desastre em massa ou mesmo de casos
isolados, sejam mais facilmente identificados. O curso não tem a pretensão de
uniformizar o preenchimento dos documentos profissionais relativos aos paciente,
mas sim o de preservar as características peculiares de cada profissional no
preenchimento dos seus registos dentários. Esta formação visa também ajudá-los,
através da simulação de um desastre em massa, a trabalharem em equipa,
especialmente na autópsia dentária e na comparação antes da morte dos registos
clínicos relativos aos seus pacientes.
Além de carecer de trabalhar em equipe com os outros profissionais das
Ciências Forenses, também necessita de trabalhar em equipa com outros médicos
dentistas forenses, Galvão (79), Griffiths et al. (78) e Kullman & Cipi (57)
Actualmente o aporte de informações sobre qualquer assunto é tanto, que por mais
privilegiado intelectualmente que seja um indivíduo, tem dificuldades de ficar a par
de todos os conhecimentos.
A importância das técnicas dentárias, é evidente tanto nos procedimentos
iniciais de identificação geral, estimativa do sexo (81), estimativa da idade (18),
determinação do grupo étnico (21), como nos procedimentos que levam até à
irrefutável possibilidade de identificação individual, que seria numa analogia clínica o
encerramento do diagnóstico, a pormenorização, ou seja o estabelecimento da
unicidade. Neste assunto, em particular, não nos faltam exemplos, desde casos de
repercussão internacional (83), casos de grandes catástrofes, como incêndio em
edifícios (84), acidentes navais (85), guerras (86), e acidentes aéreos (87).
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
102
Interessante também é notarmos que os estudos não se restringem apenas a análise
dentária, havendo exemplos de pesquisas sobre a identificação post-mortem em
indivíduos desdentados (88), que constataram ser de importância fundamental para
identificação, a análise de todas as estruturas anatómicas.
Existem pesquisas sobre os mais diversos assuntos, de forma a melhorar a actuação
do médico dentista na hora de realizar a perícia odontológica. São exemplos o estudo
de Bernstein (89) sobre a melhor forma de se obterem fotografias para os processos
de identificação através de técnicas dentárias. O autor referiu-se ao valor da utilização
das fotografias para o rigor da documentação dentária post-mortem, justificada pelo
facto das evidências dos dentes, apesar de resistentes, serem compostos de materiais
orgânicos, e como todo material orgânico, perecíveis. O autor faz uma exposição
sobre o equipamento fotográfico necessário, para que os resultados obtidos tenham
efectividade na identificação dentária, dando exemplos explicativos de técnicas para
se fotografarem os corpos no local do acidente/crime, arcadas dentárias, esqueletos, a
face humana, dentes anteriores e radiografias anteriores à morte. Existem também
investigações sobre as alterações sofridas pelos materiais dentários submetidos ao
calor excessivo (90). Sistemas computadorizados de identificação (47). Potsch et al.
(92) referem a área de pesquisa que se vislumbra, da genética relacionada com os
processos de identificação dentária post-mortem.
Com esta demonstração de vigor intelectual e de permanente produção
científica, a Medicina Dentária Forense, através dos seus próprios méritos, segue o
seu caminho para ocupar um lugar de destaque junto das demais áreas das Ciências
Forenses.
Posto isto, fica patente que em muitos processos de identificação humana post-
mortem somente o médico dentista forense será capaz, através dos seus
conhecimentos específicos, colaborar adequadamente com a justiça. Só este motivo já
Discussão
103
justifica a necessidade de pelo menos um profissional especializado em Medicina
Dentária Forense integrado em cada equipa de identificação médico-legal.
Os factores principais para se obter uma identificação positiva através de
técnicas dentárias são a recolha de dados ante-mortem, a exactidão da informação
recolhida, a alteração de dados após o último registo clínico, e a deterioração post-
mortem (93,94). Bell GL (95) defende que as comparações dentárias são uma forma
de identificação rápida e conclusiva, sendo mais definitivas do que as identificações
baseadas em objectos pessoais e mais fáceis do ponto de vista administrativo e legal.
Defende também que são menos intrusivas e menos dispendiosas do que as que
envolvem análise de ADN.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
104
Conclusões
105
VII. CONCLUSÕES
Pelo exposto neste trabalho é lícito concluir que a colaboração da Medicina
Dentária Forense nos processos de identificação humana post-mortem, é de valor
irrefutável. O campo de actuação do médico dentista nos processos de identificação
humana post-mortem, não se restringe ao exame dos vestígios dentários, estendendo-
se a várias áreas do saber, como exemplo: Antropologia, Genética, Bioquímica,
Balística, Tanatologia, Radiologia, Informática, entre outras. As Delegações e os
Gabinetes Médico-Legais não devem prescindir, na sua equipa de identificação, dos
conhecimentos específicos do médico dentista, assim como o médico dentista
também não deve abdicar da actuação integrado numa equipe de identificação, que
inclua: médico-legista, médico-anatomopatologista, psicólogo, antropólogo,
farmacêutico-bioquímico, entre outros, pois o fim maior de todas as Ciências
Forenses é o esclarecimento técnico e preciso à justiça.
Em Portugal, ao contrário do resto do Mundo, os médicos dentistas ainda não
fazem parte das equipas forenses. Quando entra no serviço um cadáver não
identificado, devem ser usadas técnicas com comprovada eficácia científica, como
são as técnicas dentárias, e não deve ser dada uma identificação positiva baseada em
factos empíricos que podem levar propositadamente a uma identificação errónea. São
exemplos identificações baseadas em peças de vestuário, reconhecidas por familiares
ou conhecidos da suposta vítima, que podem ser um factor muito importante para
conduzir a investigação numa determinada direcção, mas que por si só não podem ser
suficientes para considerar a identificação como conseguida. As técnicas dentárias
são economicamente mais vantajosas que outras, como por exemplo a análise de
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
106
ADN, bem como mais rápidas, podendo contribuir para uma identificação mais célere
e menos dispendiosa.
1 SÚMULA DOS RESULTADOS OBTIDOS
É porém agora tempo de retornar às questões que nortearam esta investigação, e
fazer a seguinte súmula dos resultados obtidos:
• Dos 45 questionários enviados aos Gabinetes Médico Legais do Norte de
Portugal e Delegação do Porto do INML, obteve-se o retorno de 21
questionários (47%) Das respostas obtidas, 76,2% afirmaram que o número de
cadáveres não identificados por ano estava abaixo de 10, e 9,5% responderam
que se deparam com mais de 40 cadáveres não identificados por ano.
• Quanto à estimativa de casos que termina com identificação positiva, 14
(66,7%) responderam que este número estava abaixo de 10; outros 3 (14,3%)
assinalaram que identificaram entre 30 a 40 cadáveres por ano; e nos demais
grupos (10 a 20, 20 a 30, ou mais de 40 cadáveres, e respostas em branco),
apenas se obteve uma resposta (4,8%).
• Em relação às técnicas de identificação mais utilizadas: no cadáver recente, o
método frequente foi o reconhecimento visual (40,5%), seguido pela
dactiloscopia (21,5%); e comparações morfológicas (11,9%); e, por último,
com o mesmo índice, o reconhecimento por objectos pessoais e a análise
documental (9,5%); no cadáver putrefacto, foi mais utilizado o
reconhecimento por objectos pessoais (33,3%), seguido pela análise de ADN
(26,2%), depois pelas técnicas dentárias (16,7%); e com o mesmo índice, o
Conclusões
107
reconhecimento visual e a análise documental (7,1%); no cadáver
esqueletizado, as técnicas dentárias e a análise do ADN tiveram a mesma taxa
de utilização (28,6%); seguidas pelo reconhecimento por objectos pessoais
(16,7%) e comparações morfológicas (9,5%).
• Ou seja, as técnicas dentárias somente foram utilizadas como método de
identificação nos cadáveres esqueletizados (28,6%) e nos putrefactos (16,7%),
não tendo sido usada em nenhum caso (0%) nos cadáveres recentes.
• Sobre a existência de dificuldades técnicas que atrasavam ou impossibilitavam
a identificação, 81% dos peritos responderam afirmativamente, sendo que a
maior dificuldade com que se deparavam foi o facto de não haver dados ante-
mortem para comparação (41,2%), além de assinalarem a fraca precisão dos
resultados (29,4%) e os custos elevados (17,6%).
• Na pergunta se o exame da cavidade oral era ou não uma prática de rotina em
todos os cadáveres sujeitos a autópsia, 66,7% da amostra afirmou
positivamente, e os restantes 33,3%, respondeu negativamente.
• Quanto à requisição da perícia odontológica em cadáveres não identificados, a
informação mais evidente é de que na maior parte dos casos esta não é
solicitada e que apenas é considerada quando acompanham o cadáver os
dados dentários ante-mortem que sugerem a identificação do mesmo.
• Quando se pergunta qual é o motivo por que não é requisitada a perícia
odontológica, mais de dois terços das respostas (76,2%) indicaram que não se
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
108
faz porque não existe um médico dentista ou não existe um local para
reencaminhar a perícia; sendo que os restantes responderam que existem
outras técnicas, que são usadas primeiro e que geralmente levam à
identificação (23,8%).
• De uma maneira geral, a perícia odontológica parece ter o seu lugar
minimizado ou substituído pelo exame da cavidade oral. Além disso, o exame
da cavidade oral realizado é extremamente simples, podendo ser considerado
precário para ser utilizado em processos de identificação.
• Apesar disso, com base nas respostas de que a perícia odontológica poderia ter
alterado o resultado (95,2%), e também, na resposta de que acham importante
o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento de rotina em
cadáveres não identificados (100%), verifica-se que há interesse no
aprofundamento da matéria, ou pelo menos consideram-na importante.
2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Os resultados do estudo estão condicionados pela amostra que, por ser uma
amostra de conveniência, não permite resultados generalizáveis. Para além disso a
amostra sofre de várias limitações, das quais a mais importante é, em princípio, o
reduzido número de peritos.
Conclusões
109
3 LINHAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO
• Necessidade de realização de um estudo retrospectivo com base na consulta e
pesquisa aprofundada de cada caso, ou ainda mais, num protocolo prospectivo
para construção e seguimento de um processo de identificação em cada
situação de não identificados que venha aparecer.
• Necessidade de desenvolvimento de acções de formação dirigidas aos peritos,
no âmbito da aplicação da perícia odontológica na identificação de cadáveres
e de práticas para uma melhor execução do exame da cavidade oral.
• Necessidade de desenvolvimento de acções de formação dirigidas aos
médicos dentistas, no sentido de demonstrar a importância forense de uma
ficha clínica bem preenchida, e as consequências que podem advir do não
preenchimento da mesma.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
110
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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
116
ANEXOS
1 CARTA INTRODUTÓRIA
Exmo (a) Senhor (a) Doutor (a):
Solicito a Vossa colaboração na realização de um estudo sobre a “Contribuição da
Perícia Odontológica na Identificação de Cadáveres”, no âmbito do Mestrado em
Ciências Forenses da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, realizado na
Delegação do Porto do INML.
A identificação humana post-mortem é uma das grandes áreas de estudo e pesquisa da
Medicina Dentária Forense. Devido a este facto, os Médicos Dentistas já são
membros naturalmente integrados nas equipas forenses em muitos países, situação
que ainda não se verifica no nosso país.
A avaliação da actual contribuição da perícia odontológica na identificação de
cadáveres na Delegação do Porto do INML e nos Gabinetes Médico Legais do Norte
de Portugal, pode ser o primeiro passo para uma reflexão do papel da Medicina
Dentária Forense em Portugal e da necessidade ou não, da sua implementação como
rotina nos casos de cadáveres não identificados quando chegam aos serviços médico-
legais.
Para o sucesso deste trabalho necessitamos da Vossa preciosa ajuda e experiência.
Pedimos pois gentilmente, que preencham o questionário que se anexa. O
questionário preenchido será analisado estatisticamente e, esperamos, que se traduza
na obtenção de conclusões que poderão vir a ter aplicação prática nos serviços de
Anexos
117
Tanatologia dos Gabinetes e Delegações Médico-Legais. Os resultados do trabalho
serão colocados à Vossa disposição após publicação.
Ao responderem ao questionário estarão a contribuir para a concretização desta tese
de mestrado e também a facultar dados importantes para o futuro da Medicina
Dentária Forense em Portugal. O tempo estimado para responder ás questões é de
aproximadamente 10 minutos.
Por último, agradecia que respondessem ao questionário sem o discutirem
previamente com os colegas.
Agradecendo desde já toda a colaboração,
Subscrevo-me,
Atenciosamente,
Susana Carmo Silva
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
118
2 QUESTIONÁRIO
1. Em que Delegação/ Gabinete trabalha?
2. Há quantos anos trabalha na área da Medicina Legal?
a) Menos de 5 anos
b) De 5 a 10 anos
c) De 11 a 20 anos
d) Mais de 20 anos
3. Quantas autópsias realiza em média por ano?
a) 0 a 50
b) 51 a 100
c) 101 a 150
d) 151 a 200
e) mais de 200
4. A estimativa do número de cadáveres não identificados que se depara por
ano é aproximadamente de:
a) 0 a 10
b) 11 a 20
c) 21 a 30
d) 31 a 40
e) Mais de 40
Anexos
119
5. A estimativa do número de cadáveres que terminam com identificação
positiva é aproximadamente de:
a) 0 a 10
b) 11 a 20
c) 20 a 30
d) 30 a 40
e) Mais de 40
6. Assinale as duas técnicas que mais utiliza na identificação:
a) Cadáver recente (a morte ocorreu num intervalo inferior ou igual a 72 horas):
• comparações morfológicas
• técnicas dentárias
• técnicas radiográficas
• reconhecimento visual
• reconhecimento por objectos pessoais
• métodos osteoantropométricos
• reconstrução facial
• análise documental
• análise de ADN
• dactiloscopia
• outra
b) Cadáver putrefacto (a morte ocorreu num intervalo superior a 72 horas):
• comparações morfológicas,
• técnicas dentárias
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
120
• técnicas radiográficas
• reconhecimento visual
• reconhecimento por objectos pessoais
• métodos osteoantropométricos
• reconstrução facial
• análise documental
• análise do ADN
• dactiloscopia
• outra
c) Cadáver esqueletizado:
• comparações morfológicas
• técnicas dentárias
• técnicas radiográficas
• reconhecimento visual
• reconhecimento por objectos pessoais
• métodos osteoantropométricos
• reconstrução facial
• análise documental
• análise do ADN
• dactiloscopia
• outra
7. Utilizando as técnicas atrás assinaladas, depara-se com dificuldades
técnicas que atrasam ou impossibilitam a identificação?
Anexos
121
a) Sim
b) Não
Se respondeu sim continue para a pergunta seguinte, se respondeu não passe à
pergunta 9.
8. Assinale a maior dificuldade com que normalmente se depara:
a) Fraca precisão dos resultados;
b) Demora na entrega dos resultados;
c) Custos elevados;
d) Não há dados ante-mortem para comparação;
e) Outra.
9. O exame da cavidade oral é uma prática de rotina em todos os cadáveres
sujeitos a autópsia?
a) Sim
b) Não
Se respondeu sim passe à pergunta seguinte. Se respondeu não passe à pergunta
12.
10. Este exame da cavidade oral consiste:
a) Contagem dos dentes presentes / ausentes;
b) Contagem dos dentes presentes / ausentes, e a presença ou não de prótese
removível;
c) Preenchimento do odontograma completo;
d) Outro.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
122
11. No caso específico de cadáveres não identificados:
a) O exame da cavidade oral é feito da forma indicada anteriormente;
b) O exame da cavidade oral é feito da forma indicada anteriormente e sendo
posteriormente solicitada uma perícia odontológica a uma médico dentista;
c) Outra.
Passe à pergunta 14, por favor.
12. No caso específico de cadáveres não identificados:
a) É feito um exame da cavidade oral;
b) É pedida uma perícia odontológica a um médico dentista;
c) Não é feito nem o exame da cavidade oral nem é pedida uma perícia
odontológica ao médico dentista;
d) Outra.
13. Este exame da cavidade oral consiste:
a) Contagem dos dentes presentes / ausentes;
b) Contagem dos dentes presentes / ausentes, e a presença ou não de prótese
removível;
c) Preenchimento do odontograma completo;
d) Outro.
14. Nos casos de ser requisitada a perícia odontológica:
Anexos
123
a) Solicita-se a presença de um médico dentista durante a autópsia para
realizar a perícia;
b) Reencaminha-se a perícia odontológica para ser realizada por um médico
dentista noutro local;
c) Outra.
Qual?__________________________________________________
15. Quando é requisitada a perícia odontológica:
a) Em todos os casos de cadáveres não identificados;
b) Quando acompanham o cadáver dados dentários ante-mortem que
sugerem a identificação do cadáver;
c) Só quando existem marcas de mordida;
d) Outra.
Qual?__________________________________________________
16. Quando não é requisitada a perícia odontológica:
a) Não se faz porque existem outras técnicas, que são usadas primeiro e que
geralmente levam à identificação;
b) Não se faz porque não existe um médico dentista a trabalhar na/com a(o)
Delegação/Gabinete;
c) Não se faz porque não existe um local para reencaminhar a perícia;
d) Outra.
Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres
124
17. Em sua opinião, e nos casos que acabam sem identificação sem ser feita
uma perícia odontológica, esta poderia ter alterado o resultado?
a) Sim
b) Não
c) Irrelevante
18. Em sua opinião acha importante estabelecer a perícia odontológica como
um procedimento de rotina no caso de cadáveres não identificados?
a) Sim
b) Não
c) Irrelevante
Muito obrigado pela sua colaboração.
Anexos
125