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A ESCRITA EPISTOLAR E AUTOBIOGRFICA NA OBRA
DESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRIPTO: CARTAS DA GUERRA,
DE ANTNIO LOBO ANTUNES
Erivelto da Silva Reis
Faculdade de Letras / UFRJ
2013
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A ESCRITA EPISTOLAR E AUTOBIOGRFICA NA OBRA
DESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRIPTO: CARTAS DA
GUERRA, DE ANTNIO LOBO ANTUNES
por
Erivelto da Silva Reis
Rio de Janeiro
Setembro de 2013
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Letras Vernculas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos
requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em
Letras Vernculas (Literaturas Portuguesa e Africanas).
Linha de pesquisa: Estudos de narrativa portuguesa:
relaes entre Memria, Histria e Literatura.
Orientadora: Prof. Dr. ngela Beatriz de Carvalho Faria
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REIS, Erivelto da Silva.
A escrita epistolar e autobiogrfica na obra Deste viver aqui neste
papel descripto: cartas da guerra, de Antnio Lobo Antunes Rio de
Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2013.
xii. 134f. 30 cm.
Orientadora: Prof. Dr. ngela Beatriz de Carvalho Faria
Dissertao (mestrado) UFRJ / Faculdade de Letras,
Programa de Ps-Graduao em Letras Vernculas (Literaturas
Portuguesa e Africanas), 2013. Bibliografia: fls. 118-124.
Anexos: fls.126-134
I.
1. Crtica Literria. 2. Prosa Portuguesa Contempornea. 3. Antnio
Lobo Antunes. 4. Escrita epistolar. 5. Autobiografia.
FARIA, ngela Beatriz de Carvalho
II. UFRJ, Faculdade de Letras, Programa de Ps-Graduao em Letras
Vernculas, rea de Literatura Portuguesa.
III. Ttulo.
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FOLHA DE APROVAO
REIS. Erivelto da Silva. A ESCRITA EPISTOLAR E AUTOBIOGRFICA NA OBRA
DESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRIPTO: CARTAS DA GUERRA, de Antnio
Lobo Antunes. Dissertao de Mestrado em Literatura Portuguesa Contempornea
Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013. 134 p.
Examinada por:
Presidente, Prof. Doutora ngela Beatriz de Carvalho Faria UFRJ
Prof. Doutora Gumercinda Nascimento Gonda UFRJ
Prof. Doutora Lcia Maria Moutinho Ribeiro UNI-RIO
Prof. Doutora Luci Ruas Pereira UFRJ (Suplente)
Prof. Doutora Maria Cristina Batalha UERJ (Suplente)
Resultado: _______________
Data: ___/9/2013,
Rio de Janeiro
Setembro de 2013
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AGRADECIMENTOS
A Deus, sobre todas as coisas.
minha esposa Gloria Regina e aos nossos filhos Allynie, Erick e Ian.
Ao meu pai Jos de Arimata, minha me Maria Aparecida e aos meus irmos
Erivaldo, Erialdo e Elton e a todos os meus familiares, sem exceo.
s Faculdades Integradas Campo-grandenses, a gratido pela formao recebida e por
me permitir fazer parte da famlia FEUC.
Prof. Dr. ngela Beatriz de Carvalho Faria, minha orientadora, grande exemplo de
profissionalismo e sabedoria, to importante em minha formao acadmica e na realizao
desta dissertao.
Aos professores Cinda Gonda, Teresa Salgado, Carmen Tind, Jorge da Silveira,
Luci Ruas, Teresa Cerdeira e Srgio Gesteira, capazes e delicados nos gestos.
A todos os meus colegas professores das Faculdades Integradas Campo-grandenses.
Aos meus alunos. Sementes, razes, folhas e frutos do ofcio de educar.
Aos meus amigos e colegas de jornada em todas as etapas de minha formao docente.
Aos amigos mais prximos e aos mais distantes, tambm.
Aos professores, coordenadores, funcionrios e aos meus colegas do Curso de Ps-
graduao em Letras Vernculas da UFRJ pela alegria da convivncia.
professora Mirian da Silva Pires e ao inesquecvel amigo poeta Primitivo Paes, in
memoriam.
editora Maria da Piedade Madeira Martins Ferreira e s carssimas Maria Jos e
Joana Lobo Antunes, filhas de Lobo Antunes, por, gentilmente, autorizarem a incluso das
fotos da obra Cartas da Guerra, no corpo desta dissertao.
A todas as pessoas ligadas direta ou indiretamente Educao neste pas.
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Dedico esta dissertao, com todo amor do mundo, a duas pessoas
sem as quais eu no conseguiria chegar at aqui: minha esposa
Gloria Regina, que sempre me incentivou a prosseguir com carinho e
respeito e ao inesquecvel e saudoso poeta Primitivo Paes, um pai que
a poesia me deu e que me legou um exemplo de amor Arte e
Literatura.
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As Cartas
Primitivo Paes
Quero ver a nossa gente
Fazer a nao crescer.
Os lavradores plantando
Para a famlia colher.
Ter casa para morar,
Escola para aprender;
Para, quando for adulto,
No ser humilhado assim:
Cabisbaixo, timorato,
Vai casa do vizinho.
Tremendo, olhando pro cho,
Chega falando baixinho,
Corao acelerado
Vai logo dizendo assim,
Com uma carta na mo:
"Leia essa carta pra mim!"
Chegou carta dos parentes,
No sabemos o que fazer;
Nem meu pai, nem minha me,
Nem eu... no sabemos ler.
Desculpe tomar seu tempo,
Vir pedir pra voc ler.
As coisas vo melhorar,
Eu ainda quero ver:
Um dia vou pra escola,
Eu vou aprender a ler,
A somar, diminuir,
Dividir, multiplicar...
Para quando for pra usina,
Cortar cana pra moer,
Saber quanto vou ganhar
E o tanto que vou perder!
Mas quando as cartas chegarem
Eu mesmo saberei ler.
Segredos de meus parentes
Vizinho nenhum vai saber!
Da ningum me segura, Brasil,
Estou com voc!
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A minha histria e o meu amor Literatura comeou assim...
Atravs das cartas.
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[...] H muito tempo, sim, que no te escrevo.
Ficaram velhas todas as notcias.
Eu mesmo envelheci: [...].
Carlos Drummond de Andrade
[...] O objetivo mais ampla e intensamente cobiado a
escavao de trincheiras profundas, possivelmente
intransponveis, entre o dentro e o fora de uma
localidade territorial ou categrica. Fora: tempestades,
furaces, ventos congelantes, emboscadas na estrada e
perigos por toda parte. Dentro: aconchego, cordialidade,
[...] vamos construir, cercar e fortificar um espao
indubitavelmente nosso e de mais ningum, um espao em
cujo interior possamos nos sentir como se fssemos os
nicos e incontestveis mestres.
Zygmunt Bauman
Uma coisa engraada que tenho reparado em mim que
praticamente deixei de conversar, e, para alm das
perguntas inevitveis [...] no digo nada a ningum, e ando
forrado de silncio por dentro. Esse processo de
silenciao progressiva, que comeou j antes de sair
da est quase a atingir o zero absoluto. Qualquer dia no
preciso de voz para nada... E, no entanto, cada vez me
sinto menos indiferente em relao a tudo, e vou vivendo
com raiva e desespero esta pobre vida de exilado [...]
Antnio Lobo Antunes
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RESUMO
REIS. Erivelto da Silva. A ESCRITA EPISTOLAR E AUTOBIOGRFICA NA OBRA
DESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRIPTO: CARTAS DA GUERRA, de Antnio
Lobo Antunes. Dissertao de Mestrado em Literatura Portuguesa Contempornea
Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013. 134 p.
A presente dissertao de mestrado um estudo acerca das caractersticas epistolares e
autobiogrficas presentes na obra Deste viver aqui neste papel descripto: cartas da guerra
(2005), de autoria de Antnio Lobo Antunes, organizada pelas filhas do autor, Maria Jos e
Joana Lobo Antunes, aps a morte de sua me. Pretende-se, estabelecer, nesta dissertao, um
protocolo de leitura e anlise de algumas cartas, a partir das reflexes crticas presentes nas
obras O pacto autobiogrfico: de Rousseau Internet (2008), de Philippe Lejeune, Devires
autobiogrficos: a atualidade da escrita de si (2009), de Elizabeth Muylaert Duque-Estrada e
Os romances de Antnio Lobo Antunes: anlise, interpretao, resumos e guies de leitura
(2002) de Maria Alzira Seixo, em que h um captulo sobre autobiografia na obra
antuniana. Busca-se, inclusive, demonstrar como a experincia real do exlio e o horror da
guerra encontram ecos na obra antuniana, e apontar as relaes entre histria, memria e
fico, priviligiando-se a postura do autor das cartas.
PALAVRAS-CHAVE: Antnio Lobo Antunes Deste viver aqui neste papel descripto:
cartas da guerra escrita epistolar e autobiogrfica Fico portuguesa contempornea.
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ABSTRACT
REIS. Erivelto da Silva. A ESCRITA EPISTOLAR E AUTOBIOGRFICA NA OBRA
DESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRIPTO: CARTAS DA GUERRA, de Antnio
Lobo Antunes. Dissertao de Mestrado em Literatura Portuguesa Contempornea
Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013. 134 p.
This dissertation is a study of the characteristics present in the epistolary and autobiographical
work Deste viver aqui neste papel descripto: cartas da guerra (2005), authoring Antnio
Lobo Antunes, organized by the author's daughters, Maria Jose and Joanna Lobo Antunes,
after the death of his mother. Intends to establish, in this dissertation, a protocol for reading
and anal