Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
A FORMAÇÃO DAS REGIÕES METROPOLITANAS E AS DEFORMAÇÕES DO PROCESSO URBANO: O CONTEXTO NORDESTINO
Alexsandro Ferreira Cardoso da Silva1
Angela Lúcia de Araújo Ferreira2
INTRODUÇÃO
Em um cenário de desconstrução do local em face das pressões do global, cada vez
mais se torna necessário investigar a cidade e sua definitiva influência nos problemas e
soluções sociais brasileiros. É por esse e outros motivos que cada vez mais estudos3 se
debruçam sobre a metrópole e suas novas configurações, na busca por estabelecer um
papel novo no contexto das flexibilidades administrativas. Por outro lado, na época do
Planejamento pós 1964, a Política Urbana era gerenciada por um centralismo estabelecido
na União, como ator principal, determinando por meio de imensos recursos financeiros as
áreas de centralidade econômica reforçando o sentido periférico de determinadas. É nesse
contexto que surgiram as primeiras Regiões Metropolitanas no Brasil -RMs.
Nos anos de 1980, a crise brasileira virá acompanhada de um sopro de esperança
quanto aos rumos políticos, principalmente pós a Constituição de 1988, fundamentada não
mais em um centralismo de Estado, mas sim na repartição de direitos e deveres entre as
esferas estaduais e municipais. Por um período de adaptação, anos de 1990, o debate
sobre as RMs tiveram uma certa “involução” sombreadas pelo recente “localismo” fiscal e
administrativo das principais cidades brasileiras.
Entretanto, um cenário novo descortinou-se nos anos de 1990, onde o “localismo”
cada vez mais representava uma carga de novas atribuições aos municípios
economicamente mais desenvolvidos, principalmente pressionados pelos municípios
vizinhos. O debate metropolitano, então, tornou-se fundamental. Das tradicionais 09 RMs da
década de 1970, o Brasil apresenta hoje 26 RMs, 37 Aglomerações urbanas não-
metropolitanas e 60 cidades com mais de 100 mil habitantes (DAVIDOVICH, 2004, p.202).
As estruturas urbanas metropolitanas, porém, estão longe de apresentarem um
mesmo desenvolvimento tanto econômico quanto social. O ritmo de urbanização, as forças
políticas, as funções econômicas, o processo histórico de ocupação, enfim, especificidades
1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DARQ) [email protected] 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DARQ) [email protected] 3 Cf. Ribeiro (2004).
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de toda ordem influenciaram para se ter no Brasil uma rede metropolitana diferenciada e
hierarquizada. Diana Motta (2004), em recente estudo, demarca essa Rede em três tipos de
estrutura metropolitana: Centro-Sul, Norte e Nordeste.
Centro-Sul apresenta uma Rede complexa e diversificada com sub-centralidades
bem definidas, funções econômicas descentralizadas e capacidade de influência Nacional e,
de certo modo, global (São Paulo e Rio de Janeiro). No Norte, pelo contrário, a rede urbana
é mais rarefeita, com concentrações em Manaus e Belém, com economia industrial ainda
pouco consolidada e vastos problemas sociais. O Nordeste desde os anos de 1970 já
apresentava três cidades na Rede Metropolitana (Recife, Salvador e Fortaleza) que
exerciam forte influência regional. Nos últimos anos, mais três RMs passaram a compor a
Rede, apresentando nitidamente diferenciações.
É nesse sentido que o presente ensaio busca abordar o tema metropolitano, no
contexto atual, observando de maneira geral a Região Nordeste e, como estudo de caso, a
recente Região Metropolitana de Natal (RMN) no estado do Rio Grande do Rio Grande do
Norte. Intenta-se questionar tanto sobre o papel das RMs nordestinas já consolidadas
(Fortaleza, Recife e Salvador) não por simples comparação econômica atual mas,
fundamentalmente, pela observação do processo históricos de ocupação metropolitana via
estruturação econômica. É sabido que essas três RMs exerceram, e exercem, forte
influência regional, sobretudo sobre as outras capitais nordestinas. Entretanto, novas
funções econômicas, dinamizadas pós período de localismo e neoliberalismo econômico,
forçaram os outros municípios a ampliar também sua influência metropolitana local,
construindo novas RMs.
Por outro lado, a formação de novas RMs no Nordeste (Natal, Grande São Luiz e
Maceió) não está apenas relacionada ao aspecto econômico mas também político-
administrativo.4 Nesse contexto metropolitano nordestino, pretende-se apontar as
deformações do processo de configuração urbana na Região Metropolitana de Natal
buscando refletir sobre as especificidades que incidem nestas novas RMs. Longe de serem
grandes centros industriais, estas novas RMs do Nordeste apresentam graves dificuldades
de articulação do município sede com as áreas periféricas. Novas forças econômicas, como
o turismo, são tomadas pelos atores políticos como premissas básicas para o “progresso”
sem, contudo, serem observados o real papel metropolitano: seriam as novas RMs atores
integrados, ou apenas uma demarcação político-administrativa? Quais os impactos
decorrentes das novas “forças econômicas” e quais impactos no plano intra-metropolitano?
Em que sentido as mais recentes RMs do Nordeste se diferenciam das RM já consolidadas?
4 A Constituição de 1988 repassou para os estados a “tarefa” de institucionalizar novas RMs.
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Mais especificamente, questiona-se qual o papel de Natal na estruturação sócio-
econômica de sua RMN? De que forma a relação centro-periferia ocorre na RMN? Quais as
possíveis novas centralidades, decorrentes do desenvolvimento urbano em áreas de
interesse turístico, e sua relação com a sede metropolitana?
Esses questionamentos justificam-se claramente por dois vieses básicos: a
necessidade de refletir o tema metropolitano no contexto nordestino, sabidamente uma
Região com graves problemas sociais, e a necessidade de apontar alguns caminhos à
prática de gestão metropolitana, tema ainda (pelo menos no contexto da RMN) pouco
explorado pelos entes públicos. De fato, um dos desafios que se impõe fortemente na
contemporaneidade é: como estabelecer uma gestão compartilhada (e cooperada) de modo
a dirimir conflitos? Acredita-se que refletir sobre a RMN e suas relações econômicas e
sociais pode contribuir para o debate mais amplo no plano nacional e regional.
Como hipótese básica de pesquisa, a RMN está inserida no recente processo de
metropolização que ocorre no Nordeste. Suas especificidades conferem ao município sede
(Natal) um ponto de centralidade econômica, estando em desarmonia com os outros
municípios integrantes. Entretanto, na periferia dessa centralidade surgem indícios de
formação de novos espaços habitacionais (em área litorânea), descolados no núcleo central,
onde outros processos de produção sócio-espacial indicam o estabelecimento de sub-
centros menores. Dessa forma, as especificidades do modelo metropolitano da RMN
destoam da conhecida referência de crescimento centro-periferia, estabelecendo não uma
área de clara conurbação mas sim, um “transbordamento”5 e fragmentação do espaço
metropolitano, onde problemas de ordem sócio-espacial são freqüentes.
Para tanto, este ensaio foi dividido em três partes. Na primeira parte, discute-se, a
partir de bibliografia recente, a formação das RMs no Brasil no seu contexto de
planejamento. Na segunda parte, observa-se as especificades econômicas e sociais do
Nordeste, sendo seguida da terceira e quarta parte em que se analisa a RMN e seus dados
sócio-econômicos.
Importante também ressaltar que estas idéias aqui esboçadas fazem parte de um
contexto acadêmico maior. Desde o início de 2004, um grupo multidisciplinar de
pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte integram a Rede do
“Observatório das Metrópoles”, projeto financiado junto ao MCT/CNPq – PRONEX- e que
conta com a participação de mais 11 metrópoles brasileiras. Esta rede vem discutindo o
papel das RMs dentro do seu contexto sócio-espacial a partir de uma mesma metodologia.
5 Ribeiro (1997, p.311-313) aponta o fenômeno de transbordamento como sendo um fenômeno ligado com a expansão dos limites e fronteiras da cidade, motivadas pela expansão do capital imobiliário, através de inovações de mercado. Pode estar relacionado tanto com um bairro específico, zona ou o área do município. Neste último decorre a expansão da sede da RM para os municípios vizinhos.
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Embora longe de apresentar uma definição completa de todo o processo, este trabalho pode
dar elementos para essa reflexão.
I.REGIÕES METROPOLITANAS NO BRASIL
No espaço aberto ao Planejamento a partir de meados da década de 1960, as
cidades revigoraram sua importância como locus essencial do chamado “progresso
brasileiro”. Entre os diversos temas e linhas de ações defendidas pelo Planejamento
centralizado na esfera Federal, estava o papel político, econômico e social dos grandes
centros urbanos brasileiros, então “inchados” por um violento processo migratório campo-
cidade. Roberto Loeb, em início dos anos de 1970, já apontava que:
[...] a tendência à formação de extensas áreas urbanizadas, através
de crescimento dos núcleos isolados que passaram a formar uma só
área edificada, levaram ao aparecimento das regiões metropolitanas,
colocando à nossa frente mais uma série de problemas de
interrelacionamento, polarização, distribuição de serviços e
administração, entre outros (LOEB, 1975, p.142)
Até o advento do Plano Nacional de Habitação e do SERFAU, em 1964, o governo
brasileiro ainda não havia gerado um modelo de integração nacional, via a consolidação de
uma rede urbana articulada por um planejamento unificado. A criação do SFH, de atuação
nacional, é um exemplo de sistema voltado para estabelecer em diferentes cidades, formas
concretas de expansão urbana unificadas por um modelo e definido centralmente (LOEB,
1975, p.153). Em outros estudos, pode-se ver que no governo Castelo Branco, prevêem-se
uma hierarquização dividida em 3 esferas: “Pólos de desenvolvimento de interesse nacional”
(grandes metrópoles), “Pólos de desenvolvimento micro-regional”( de 100 a 500 mil
habitantes, algo em torno de 70 cidades) e “Pólos de Equilibrio” (cidades de interesse
prioritário, em cada estado).
A partir de então estava consolidada uma política de intervenções urbanas,
voltadas para um modelo de hierarquização que tinha no investimento nos grandes centros
seu foco principal (LOEB, 1975, p.154).
Em 1973, a Lei Complementar 014 oficialmente cria as primeiras nove Regiões
Metropolitanas (RMs)6 com fins de possibilitar um maior comando das esferas de poder
mais importantes da Federação, além de permitir políticas setoriais específicas para estes
centros. Definiu-se, assim, “serviços comuns” aos municípios como esgoto, transporte,
6 Foram elas: São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. Em 1974 o Rio de Janeiro tornar-se-ia também uma RM.
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água, uso do solo, etc. buscando estabelecer uma gestão integrada (AZEVEDO; MARES
GUIA, 2004, p.99).
Após a redemocratização brasileira em 1988, os municípios passaram a apresentar
um ganho de status relativo a uma certa autonomia administrativa e fiscal, ampliando sua
importância entre os três níveis federativos. Além disso, seriam os estados, e não o governo
federal, responsáveis pela criação e gestão das RMs (SOUZA, 2004, p.66). Entretanto, esse
processo não ficou livre de problemas relacionados com a fraca estrutura municipal e
estadual para fazer frente aos novos desafios metropolitanos:
Os constituintes federais de 1988 e os estaduais de 1989 optaram
por manter o estatuto das RMs como instâncias administrativas
constrangidas por um modelo federativo, no qual os municípios
ampliaram seu grau de autonomia política e tributária. Incentivados
pelas demandas por formatos mais democráticos e descentralizados
de gestão pública, os constituintes silenciaram sobre as questões
relativas à gestão dos espaços metropolitanos (SOUZA, 2004, p.71)
Uma clara referência a falta de estrutura de gestão desses municípios, nos é
comentada por Azevedo e Mares Guia (2004, p.102), quando os autores comentam que
após a Constituinte de 1988, apenas quatro estados estabeleceram regras claras para
definição de suas RM: “ Entre as variáveis explicitadas, são recorrentes o tamanho da
população, a intensidade de fluxos migratórios, o grau de conurbação, a potencialidade das
atividades econômicas e fatores de polarização”.
Embora na década de 1990 novas RMs tenham sido criadas, ampliando a Rede
Metropolitana, problemas de ordem da gestão permanecem, sem contudo um
enfrentamento decisivo por parte dos entes políticos. Partindo dessa premissa Azevedo e
Mares Guia (2004, p.102) comentam que,
Simultaneamente, os governos estaduais e os municípios
metropolitanos, embora reconheçam formalmente a importância da
questão institucional metropolitana, tendem a ver essa questão como
um “jogo de soma zero”, em que a maior governança metropolitana
implicaria redução de poder para o estado e/ou municípios.
(AZEVEDO e MARES GUIA 2004, p.102)
A perspectiva de “redução do poder” afastou do debate político-eleitoral o tema
metropolitano que é, por outro lado, instigado pelos incentivos federais e pelos problemas
reais que tais RMs apresentam no seu cotidiano. Um dos principais problemas
metropolitanos são os fenômenos sócios-espaciais decorrentes de um processo desigual de
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urbanização (crescimento populacional intenso e baixa absorção do mercado de trabalho),
não apenas na sede metropolitana (em queda) mas principalmente nos municípios vizinhos.
O IBGE (2000) registra que 51% da população brasileira reside em municípios com mais de
100 mil habitantes, concentrados em apenas 4,1% do total de municípios. No período de
1991-2000, a taxa de crescimento populacional foi de 1,63%, embora a taxa de urbanização,
indicada pelo IBGE, tenha sido de 2,45%, demonstrando que a população brasileira cresce
nas cidades médias e grandes.
Motta aponta que em termos de hierarquia (2004, p.129) “a nova configuração da
rede urbana do país compreende 111 centros urbanos, comandados por 13 metrópoles.
Esses centros reúnem 440 municípios e concentram mais da metade da população
brasileira [...]”. Nesse sentido, em todas as regiões geográficas do país, persiste o modelo
polarizador entre centro-periferia, definindo não apenas uma hierarquia de tamanho
populacional mas, sobretudo, acirrando as desigualdades sócio-espaciais.
Esse aumento da população em cidades médias, pressionadas por processos de
conurbação e transbordamento urbano, fez surgir não mais uma periferia urbana mas uma
periferia metropolitana: a capital como centralidade (embora repleta de problemas sociais) e
os municípios integrantes com índices menores de desenvolvimento. Se nas RMs mais
antigas este fenômeno, na última década, foi amenizado pelas chamadas “deseconomias de
aglomeração” dos grandes centros, nas RMs mais recentes, sobretudo nordestinas, é
pujante.
O Nordeste apresenta crescimento de pequenos núcleos rurais, forte
migração campo-cidade, elevada primazia e uma tipologia pouco
estruturada. Tal situação é característica importante dessa estrutura
urbana, que apresenta os indicadores sociais de renda, alfabetização
e acesso aos serviços urbanos mais críticos de toda a rede urbana
nacional (MOTTA, 2004, p.113).
Embora o IPEA (2002,p.102) reconheça significativo aumento populacional em
determinados centros nordestinos e uma certa diferenciação, ressalta a fragilidade na rede
urbana da Região, assim como desequilíbrios na produção e distribuição de bens e serviços.
As chamadas novas territorialidades são formadas no Nordeste
especialmente por localidades que despontam pela grande
potencialidade de crescimento de atividades voltadas para o turismo
cultural, lazer e ecoturismo, com a ampliação da rede hoteleira e do
sistema viário. [...] para tanto, políticas governamentais vêm sendo
formuladas e/ou implementadas [...] sobretudo , da ampliação da
rede hoteleira e do sistema viário (IPEA, 2002, p.103).
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Entretanto, essas novas territorialidades teimam em manter um mesmo padrão de
distribuição territorial: litorânea, próximas a capital do estado, conforme processo anterior de
ocupação do espaço. Esse fato, pode ser melhor visualizado quando ainda se observa a
grande influência de Recife sobre estados como Paraíba, Rio Grande do Norte e centros
metropolitanos como Natal e Maceió.
Com a tendência da conformação de novas territorialidades [...]
assim como em razão da ausência de uma política urbana que
compense os desequilibrios observados na rede urbana e na
sociedade nordestinas, é evidente que ocorrerá um reforço no
cinturão litorâneo de cidades (IPEA, 2002,p.108)
É justamente neste “velho-novo” espaço territorial das recentes metrópoles
nordestinas (Natal e Maceió, principalmente), que processos econômicos de grande
impacto, como o turismo, irão apontar para dois caminhos básicos: o reforço da idéia de
centralidade dos núcleos principais e a criação de sub-centros em zona litorânea, voltada
não para atividades diversificadas mas sim para implantação de espaços turísticos. Sub-
centralidade essa que embora ativa em termos de população, mercado imobiliário, sistemas
de comunicação, etc., não farão frente ao papel do núcleo metropolitano como sendo este
preponderante na produção e distribuição de bens duráveis.
Para uma devida compreensão do papel estruturados do centro metropolitano sobre
a economia regional, faz-se necessário estabelecer uma relação entre o processo de
urbanização e o dinamismo econômico gestado no Nordeste nos últimos 25 anos.
II. ECONOMIA E URBANIZAÇÃO DO NORDESTE: breves comentários
A construção social do Nordeste brasileiro, neste último século, apresentou
características singulares e inerentes ao processo de modernização do Brasil como um
todo. Largamente estudada como rico depositário de um sedimento cultural, artístico e
ambiental, a região Nordeste figura, por outro lado, como uma das regiões com maior
concentração de pobreza e exclusão social do Brasil.
O processo de modernização, citado anteriormente, definiu-se como “excludente” ao
privilegiar determinadas zonas ou regiões do país e manter fora dos “circuitos superiores”,
largos espaços sociais no Norte e Nordeste. Com 28% da população brasileira e 33% do
total de municípios, o Nordeste apresenta hoje 72% do total dos municípios com maior
índice de exclusão social do país (POCHMAN, 2003, p.36). Este fato é revelador do alcance
limitado e concentrado, das políticas econômicas setoriais que incidiram sobre a região no
período de 1950-1980: industrialização induzida, por subvenção pública, em determinados
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núcleos urbanos no Nordeste. Nesse sentido, as Regiões Metropolitanas caracterizaram-se
como “ilhas de progresso” econômico em um “mar de pobreza”.
O processo de urbanização dos últimos 30 anos pode ser visto pela variação da taxa
de urbanização. Em 1970 o Nordeste era 41,81% urbano (TASCHNER;BÓGUS, 1986,
p.125) apresentando hoje uma taxa média de 69% (IBGE,2000) colocando a ordem dos
problemas regionais e estaduais no âmbito municipal7. Entre 1990 e 2000, a taxa média de
crescimento populacional do Nordeste foi de 7%. Grande parte desse crescimento ocorreu
concentrado nas RMs.
As primeiras RMs do Nordeste (Recife, Fortaleza e Salvador) estabeleceram-se
como pólos centralizadores das atividades industriais desenvolvidas na Região e,
consequentemente, detentoras de um volume considerável da população e da renda
regional.
A formação e consolidação das RMs no Nordeste, seguiu um modelo francamente
indicado pelas políticas públicas industriais voltadas para a concentração de parques e/ou
atividades geradoras de mão de obra. As três primeiras RMs (Ceará, Salvador e Fortaleza)
foram contempladas com 47,7% de todos os projetos elaborados pela SUDENE até o ano
de 1975 (SOUZA, 1981, p.70).
Na Tabela 01 vê-se que os estados nordestinos mais importantes economicamente
até então (PE e BA) alocaram investimentos significativos em suas capitais, mas também
nas cidades vizinhas a estas que vieram a compor suas RMs. Os outros estados
apresentam um quadro nítido de polarização entre o centro urbano principal (capital do
estado) e o interior (com exceção do RN).
TABELA 01-LOCALIZAÇÃO DE PROJETOS APROVADOS PELA SUDENE
(ATÉ 1975) NO NORDESTE (GRANDES EMPRESAS).
Estado Projetos localizados apenas na Capital (%)
Projetos localizados em cidades vizinhas a capital
(%)
Projetos localizados em cidades do interior (%)
MA
50
-
50
PI 60,67 - 33,33
CE 77,41 2,32 23,27
RN 55 18,33 26,67
PB 58,82 5,89 35,29
7 Variação de 65% no Nordeste, enquanto que a variação para o Brasil como um todo, nesse período (1970-2000), foi de 47,27%.
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PE 39,44 30,56 30
AL 100 - -
SE 69,57 - 30,43
BA 48,14 19,26 32,60
FONTE: SUDENE, 1976, apud SOUZA (1980, p.126)
NOTA: reelaborado pelos autores.
Tal fato é explicador de movimentos migratórios intra-municipais nesses estados a
partir de meados da década de 1970: crescimento populacional das capitais, futuras sedes
das RMs. Taschner e Bógus, nesse sentido, comentam que
Nos últimos anos [de 1970 e início de 1980], ao lado do crescente
fenômeno da urbanização, vem se acentuando o número de pessoas
que buscam as Regiões Metropolitanas como área de destino. Na
década 70-80 o crescimento metropolitano apresentou uma taxa de
3,78% ao ano, suplantando o incremento nacional de 2,48% anuais
(TASCHNER;BÓGUS, 1986, p.100)
Outro fator importante na configuração de uma rede urbana polarizada no nordeste é
a distribuição da renda: no somatório dos rendimentos das regiões brasileiras, em 1980, o
Nordeste respondia por apenas 14% contra 60% no sudeste, 16,4% no Sul e 3,3% no Norte.
Os estados nordestinos que mais concentravam volume de renda em seus territórios eram
justamente Ceará (14,4%), Pernambuco (19%) e Bahia (31,7%) que juntos somavam 65%
do total do rendimento mensal (IBGE, 1980 apud RIO GRANDE DO NORTE, 1987, p.46).
TABELA 02 – PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS NO PIB DA REGIÃO
NORDESTE (%)
Estado 1970 1980 1990 2000
MA
5,99
6,64
9,02
6,54
PI 2,97 3,43 4,23 3,54
CE 11,72 13,04 14,43 13,71
RN 4,40 5,39 5,85 6,25
PB 6,22 5,51 6,34 6,53
PE 25,43 20,45 18,44 20,16
AL 5,43 5,33 5,40 4,81
SE 4,12 4,14 3,60 5,21
BA 33,81 36,07 33,50 33,25
TOTAL 100 100 100 100
FONTE: IPEA (20002, p.82); IBGE (apud EXAME,2004, p.270-286)
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NOTA: reelaborado pelos autores.
A concentração de renda em alguns estados nordestinos está intimamente ligada
com a produção econômica e a inserção de cada Federação em uma divisão regional e
nacional do trabalho. Na Tabela 02, vê-se a variação do Produto Interno Bruto de cada
estado do nordeste nos últimos 30 anos, onde novamente CE, BA e PE lideram a economia
regional: juntos, somam, em média, 68% de toda produção nordestina desde 1970 (embora
com tendência de queda). Ao todo, a região Nordeste responde hoje por 13,14% do PIB
nacional onde as regiões Sul e Sudeste juntas perfazem 75% do total (EXAME, 2004).
Como exemplo histórico do processo de concentração de riqueza e desigualdades
intra-regional e inter-estadual, temos que os maiores Valores de Transformação Industrial-
VTI, em 1980, estavam concentrados pesadamente nas três Regiões Metropolitanas dos
estados do CE, BA e PE (só Salvador detinha 85% do VTI da Bahia nesse período). Nessas
Regiões Metropolitanas também estavam localizadas a maior parte do pessoal ocupado no
setor industrial dos respectivos estados (CAMARANO, 1986, p.25).
Entretanto, esse processo de construção industrial nas metrópoles nordestinas é
recente, remontando aos investimentos efetuados a partir das décadas de 1960 e 1970,
fruto da atuação direta do Estado em vários setores chaves: indústria de transformação,
construção civil e petroquímica. Um amplo processo de divisão do trabalho regional, acabou
por consolidar “ilhas de progresso” rodeadas por um oceano de desigualdades intra-
regionais; ilhas estas localizadas enfaticamente na zona litorânea e nas capitais nordestinas.
Essa hiper-polarização (litoral rico- sertão pobre) não foi abalada nas décadas de 1970 e
1980, o que acabou por acarretar fortes deseconomias de aglomeração nos anos de 1990
nas principais capitais do Nordeste: crescimento urbano sem controle público, falta de
infraestrutura urbana, menor qualidade de vida, entre outros.
As regiões metropolitanas surgidas recentemente no Nordeste (Grande São Luiz,
Natal e Maceió) trazem no seu contexto de formação, uma série de problemas de economia
urbana e de qualidade de vida que afetam diretamente as populações locais quanto ao
desempenho e produtividade de suas atividades econômicas. Na década de 1990, os efeitos
da inserção precária dos centros nordestinos na economia nacional, tornaram-se
eminentemente efeitos urbanos, com o agravante da inexistência de um setor industrial que
absorvesse mão de obra pouco qualificada.
Entretanto, percebe-se uma nova problemática: a recente dinâmica econômica,
baseada na reestruturação produtiva e terceirização de atividades, levaram a um sobre-
aumento do setor de serviços, passando a imperar um modelo baseado na baixa
qualificação profissional, desemprego, informalidade e cenários altamente competitivos. As
cidades passaram a responder a estes novos desafios, através da construção de um novo
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planejamento, baseado nas estratégicas tipicamente econômicas, voltadas para a
revalorização das potencialidades como, por exemplo, uma série de Planejamentos
Estratégicos elaborados para RMs (VAINER, 2000).
No Nordeste, o Turismo definiu-se como o ponto principal na política de atração de
novas divisas, convergindo para o fortalecimento do setor de serviços como área dinâmica
da economia regional. O setor de serviços, como um todo, apresentou em 1996, 63,9% do
produto regional (IPEA, 2002, p.89).
III. A REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL (RMN) E SUA INSERÇÃO ECONÔMICA
Em 1997 a Lei Estadual Complementar n.152 foi promulgada pela Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Norte, instituindo a Região Metropolitana de Natal composta
por 06 municípios: Natal (como município sede), Parnamirim, São Gonçalo do Amarante,
Ceará-Mirim, Macaíba e Extremoz. Em 2002 a Lei Complementar n.221, desta vez
sancionada pelo governador, amplia para 08 o número de municípios integrantes com a
inserção de Nísia Floresta e São José do Mipibú (Figura 01). A RMN ocupa apenas 4,7% do
território estadual mas concentra 39,5% da população total do Rio Grande do Norte, sendo
que Natal responde por 25,70% da população estadual (IBGE, 2000).
TABELA 03 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NOS MUNICÍPIOS INTEGRANTES
DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL
MUNICÍPIO 1991 1996 2000 CEARÁ-MIRIM 52.157 57.983 62.424
EXTREMOZ 14.941 17.814 19.572 MACAÍBA 43.450 46.655 54.883
NATAL 606.887 656.037 712.317 NÍSIA FLORESTA 13.934 15.817 19.040
PARNAMIRIM 63.312 86.177 124.690 SÃO GONÇALO DO
AMARANTE 45.461 56.825 69.435
SÃO JOSÉ DE MIPIBU 28.151 31.917 34.912 TOTAL 868.293 969.225 1.097.273
FONTE: CENSO IBGE,1991 e 2000, Contagem populacional 1996 apud PREFEITURA DO
NATAL (2004, p.18).
NOTA: reelaborado pelos autores
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FIGURA 01 – Rio Grande do Norte com indicação das cidades de Mossoró, Caicó e os
municípios que compõem a Região Metropolitana de Natal
Fonte: base cartográfica ESTATCART (IBGE, 2002)
Nota: reelaborado pelos autores
TABELA 04 – POPULAÇÃO E DOMICÍLIOS NA RMN
MUNICÍPIO ÁREA (km²) DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES
POPULAÇÃO RESIDENTE
DENSIDADE DEMOGRÁFICA
(HAB/km²) CEARÁ-MIRIM 726,3 13.339 62.424 85,95
EXTREMOZ 134,7 4.577 19.572 145,3
MACAÍBA 489,8 13.106 54.883 112,05
NATAL 169,1 177.783 712.317 4.212,40
NÍSIA FLORESTA 312,2 4.359 19.040 60,98
PARNAMIRIM 126,1 31.790 124.690 988,82
SÃO GONÇALO DO AMARANTE
260,5 16.588 69.435 266,55
SÃO JOSÉ DE MIPIBU
293,1 8.085 34.912 119,11
TOTAL DA RMN 2.511,80 269.627 1.097.273 436,84
FONTE: PREFEITURA DO NATAL (2004, p.18).
A Região Metropolitana de Natal (RMN) cresceu, entre 1991 a 2000, 2,63% a.a.
Natal, sua sede, cresceu com uma taxa menor, de 1,80% a.a. Entretanto, quando os
municípios integrantes são analisados percebe-se um aumento populacional superior a
média da RMN como um todo: Parnamirim (7,90%), Ceará-Mirim (2,00%a.a), São Gonçalo
do Amarante (4,90%a.a), Nísia Floresta (3,60%a.a), Extremoz (3,10%a.a), Macaíba
(2,70%a.a) e São José de Mipibu (2,40%a.a).
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As maiores taxas de crescimento populacional e de urbanização (fora da sede
municipal) estão nos municípios diretamente ligados a Natal e são, grosso modo,
decorrentes da própria expressão do crescimento urbano da capital. Como pode ser visto na
Tabela 05, Natal é o único município da RMN que não apresenta mais áreas rurais sendo,
desde 1980, considerada 100% urbana pelo IBGE. Logo após está Parnamirim, segundo
município em número de habitantes com 87% de sua população vivendo nas áreas urbanas.
É importante também notar que apenas 02 municípios (São Gonçalo do Amarante e São
José do Mipibú) apresentam população rural maior que população urbana. A média da
população vivendo em áreas urbanizadas na RMN, em 2000, é de 85,28% contra 14,72%
em áreas rurais, praticamente inalterada se comparada a 1991, ressaltando um ligeiro
aumento nas áreas rurais (em 1991 eram 85,89% urbana e 14,11% rural)8.
Verifica-se na Tabela 04, a alta densidade populacional em Natal, em relação aos
municípios vizinhos, não se deve apenas pelo fato de Natal ser o menor município em Km²,
mas basicamente pelo processo de estruturação urbana ocorridos nos últimos 50 anos e,
mais enfaticamente, nos últimos 25 anos em Natal. Este dado é revelador de uma
complexidade, traduzida também em desigualdade de acessos a investimentos e políticas
sociais pouco compartilhadas com outros membros da área metropolitana
A centralidade de Natal como núcleo econômico e populacional do Rio Grande do
Norte como um todo, só é esmaecida pela importância dos municípios de Mossoró (zona
norte do estado) e Caicó (região do Seridó); por outro lado, estes “sub-centros” estaduais
apresentam, respectivamente 7,68% e 2,05% da população do estado. Outra característica
dessa disposição das cidades mais importantes é a constituição e estruturação urbana tanto
de Mossoró como Caicó: estes historicamente ligaram-se mais a pólos regionais como
Fortaleza (Mossoró) e Recife (Caicó) do que com Natal, diretamente.
TABELA 05 – POPULAÇÃO URBANA E RURAL NA RMN
MUNICÍPIO POPULAÇÃO URBANA (%) POPULAÇÃO RURAL (%)
CEARÁ-MIRIM 49,40 50,60 EXTREMOZ 68,56 31,44 MACAÍBA 65,67 34,33
NATAL 100,00 - NÍSIA FLORESTA 45,37 54,63
PARNAMIRIM 87,53 12,47 SÃO GONÇALO DO
AMARANTE 14,11 85,89
8 Notar que a urbanização média, em 2000, da Região Metropolitana de Natal é inferior a média das Regiões Metropolitanas de Recife (96,91%), Salvador (98%) e Fortaleza (96,53%), regiões há muito consolidadas (IBGE, 2000).
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SÃO JOSÉ DE MIPIBU 44,69 55,31
TOTAL DA RMN 85,28 14,72
FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL (2004, p.18)
Em relação ao desenvolvimento econômico da RMN, em um primeiro momento ele
está circunscrito à Natal; tal isolamento da capital, no litoral leste do estado, permitiu um
crescimento urbano decorrente de seu papel enquanto sede do poder político e também
enquanto possuidor de um porto, historicamente vinculado com os fluxos de importação e
exportação dos produtos do interior do estado. A presença da burocracia pública,
aumentada após a Segunda Guerra Mundial, com seus diversos setores municipais,
estaduais e federais permitiu a capital manter uma renda média superior aos outros
municípios do RN (CLEMENTINO,1995, p.183-223).
A partir dos anos de 1970 com a inserção de Natal na política industrial da
SUDENE e a construção de aproximadamente 50 mil unidades habitacionais, através do
BNH (no período de 1975-1986) provocou a atração, em áreas contíguas à Natal, de um
contingente populacional (variação de quase 170%) não apenas para os bairros de Natal,
mas também para municípios vizinhos. Nesse sentido, o atual processo de urbanização da
RMN é decorrente não apenas de uma expansão interna do núcleo, mas também do
crescimento (em menor grau) de alguns municípios vizinhos.
Nesse sentido, é importante observar a caracterização dos setores produtivos da
RMN. Como pode ser visto na Tabela 06, as atividades empresariais instaladas hoje na
RMN são basicamente comerciais e de serviços, perfazendo juntas em média 87,93% do
total das atividades. Outro fator relevante na análise econômica da RMN é a pouca
importância do setor agropecuário, com média de 0,04% de participação.
TABELA 06 – ATIVIDADE EMPRESARIAIS NA RMN – 2003 (em %)
MUNICÍPIO INDÚSTRIA COMÉRCIO SERVIÇO AGROPECUÁRIA ESTRUTURA (1)
CEARÁ-MIRIM 5,00 40,96 44,49 - 9,55
EXTREMOZ 2,64 35,34 44,23 0,96 16,83
MACAÍBA 9,37 44,92 37,92 0,11 7,67
NATAL 5,63 43,01 46,11 - 5,25
NÍSIA FLORESTA 1,05 40,00 44,21 0,53 14,21
PARNAMIRIM 8,61 44,64 40,28 0,22 6,25
SÃO GONÇALO DO AMARANTE
7,61 48,10 33,71 0,08 10,50
SÃO JOSÉ DE MIPIBU
- - - - -
MÉDIA RMN 6,01 43,24 44,68 0,04 6,02
FONTE: SEBRAE, 2003, apud PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2004, p.
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NOTA: reelaborado pelos autores
(1). Estrutura aqui colocado, conforme a fonte pesquisada, como bancos estatais, clínicas e
órgãos públicos, sistema educacional público, etc.
Embora se perceba uma certa distribuição das atividades por município, quando
analisadas as quantidades de atividades e os pesos de cada setor nesses municípios,
observa-se uma grande concentração de todos os setores (com exceção da agropecuária)
no município de Natal: 72,82% das indústrias, 77,31% dos comércios, 80,20% dos serviços
e 67,73% da estrutura estão no município sede da RMN (Tabela 07). O segundo município
em importância é Parnamirim, mas apresentando um desempenho bem inferior; os outros
municípios pouco ameaçam Natal como ponto preferencial de localização das atividades.
Uma análise mais de perto do setor de serviços (atividade mais dinâmica hoje na
RMN) revela a preponderância das atividades de bares, restaurantes e lanchonetes,
estruturalmente dependentes do fluxo de pessoas e, nesse momento de turistas. O total
destas atividades no setor de serviços é em média de 44% sendo que Nísia Floresta
representa 66% e Extremoz 53%, municípios dependentes das atividades turísticas, estão
bem acima disso.
TABELA 07 – PESO DAS ATIVIDADE EMPRESARIAIS NA RMN – 2003
(em %)
MUNICÍPIO INDÚSTRIA COMÉRCIO SERVIÇO ESTRUTURA
CEARÁ-MIRIM 3,04 3,46 3,63 5,78
EXTREMOZ 0,62 1,15 1,39 3,93
MACAÍBA 4,67 3,11 2,54 3,82
NATAL 72,82 77,31 80,20 67,73
NÍSIA FLORESTA 0,11 0,59 0,64 1,52
PARNAMIRIM 13,11 9,44 8,25 9,48
SÃO GONÇALO DO AMARANTE
5,63 4,94 3,35 7,74
SÃO JOSÉ DE MIPIBU
- - - -
TOTAL NA RMN 100 100 100 100
FONTE: SEBRAE, 2003, apud PREFEITURA DO NATAL (2004)
NOTA: reelaborado pelos autores
Nesse sentido, é importante observar o impacto dos empreendimentos turísticos na
RMN, na possível redefinição dessa rede metropolitana e nas especificidades inerentes à
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atividade. O objetivo principal é perceber o impacto dessas atividades não apenas em Natal
mas também nos outros municípios.
IV. O TURISMO NA RMN
Em 1975, o estado do Rio Grande do Norte inicia um processo de integração das
área litorâneas do RN com as políticas nacionais de incentivo ao turismo. O II Plano
Nacional de Desenvolvimento destinava, então, vultuosos recursos para “implantação de
projetos turísticos na orla marítima” principalmente (ou quase totalmente) voltados para a
capital do estado (SOUZA, DIARIO DE NATAL, 1999, p.313). O principal projeto elaborado
foi a construção da Via Costeira, área adjacente ao Parque das Dunas, flanqueado à direita
pelo oceano Atlântico, e destinado a abrigar vários empreendimentos hoteleiros de grande
porte.
Lopes Junior (2000,p.390) ao analisar o impacto de tal projeto em Natal, ressalta a
característica de elitização do espaço, envolvendo os bairros da cidade, principalmente da
Região Administrativa Sul de Natal: “ a idéia inicial, como apontou um ex-secretário estadual
de planejamento [...] era a implantação de uma ‘copacabana’ local, com construções
destinadas a moradores com alto poder aquisitivo”. Os terrenos adjacentes tiveram uma
rápida ascensão de preço, assim como a valorização das praias no sentido sul do município.
Tanto a implantação do Parque das Dunas e Via Costeira (1980), quanto as políticas
do PRODETUR/RN - Programa de Desenvolvimento do Turismo no Rio Grande do Norte9 -
para o estado (1995-1998), significaram um impacto não apenas para o município, mas
sobretudo para a faixa litorânea, até então pouco habitada e longe de qualquer contato com
dinâmicas imobiliárias e econômicas. Dos recursos destinados a dinamizar o setor de
turismo no estado, pelo PRODETUR, 77,8% foram alocados na reforma do Aeroporto e na
melhoria da ligação viária dos municípios costeiros; da soma total dos recursos, Natal
obteve 23,10% contra 7,23% de Nísia Floresta, 5% de Parnamirim, 3% Ceará Mirim e 1,60%
em Extremoz (FONSECA, 2004, p.122).
Primeiramente foram realizados investimentos em infra-estrutura no sentido de
aproximar Natal ( ponto de concentração dos Hotéis, Aeroporto, lojas, etc.) aos municípios
vizinhos, principalmente do litoral sul. Fonseca (2004, p.153) aponta ainda para o aumento
da população nas áreas praieiras da RMN que receberam recursos ou foram alvos do
PRODETUR/RN (1996-2000): o município de Nísia Floresta com aumento de 102,18% nas
praias de Pirangi e Búzios; o município de Parnamirim teve aumento de 56,18% e 37,57%
nas praias de Pium e Pirangi do Norte; o município de Extremoz apresentou crescimento de
74,63% nas praias de Pitangui, Barra do Rio e Graçandu; o município de Ceará Mirim
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apresentou crescimento de 49,02% em Jacumã (FONSECA, 2004, p.153). Números bem
acima dos que foram vistos na Tabela 03, contento o município como um todo.
Tal crescimento populacional, foi superior, para o período analisado, ao do
crescimento da sede municipal, o que denota um crescimento periférico de distritos e áreas
afetadas sobremaneira pela especulação imobiliária, loteamentos, dinâmica urbana e
econômica. Isto é: o padrão “clássico” de crescimento centro-periferia não ocorre nestes
municípios afetados pelos investimentos em desequilíbrio com a dinâmica urbana de cada
núcleo municipal.
Em matéria publicada em revista local, lê-se algo sobre a “integração da Região
Metropolitana com a globalização”:
As construtoras também estão fechando negócios pedidos sob
encomenda por grupos internacionais. São empreendimentos que
nem chegam a ser lançados em Natal ou em qualquer estado
brasileiro, mas já são vendidos na planta em outros países
(EMPRESAS & EMPRESÁRIOS, 2004, p.20)
Os municípios da RMN não parecem estar estruturalmente ligados a estes processos
alavancados pelo turismo. Percebe-se claramente uma setorização dessas atividades na
orla marítima, com formação de guetos (condomínios fechados) ou pousadas de luxo,
voltadas para um público de movimento pendular (os chamados veraneios) onde o número
de domicílios desocupados é elevado: segundo Fonseca (2004,p156) estes tiveram
aumento de 284% na praia de Pium e 71,16% em Cotovelo, ambas em Parnamirim.
Dada a magnitude e importância desse segmento na urbanização
turística, os agentes imobiliários têm grande responsabilidade na
degradação dos recursos naturais turísticos, devido as
irregularidades apresentadas em grande parte das construções, que
não atendem às determinações das leis vigentes (FONSECA, 2004,
p.158).
Como ponto negativo desse processo, ocorre a concentração do emprego apenas na
sede da RMN, ficando o restante dos municípios sem alternativas de aproveitar o lado
positivo dos investimentos. Se observada a distribuição dos empregos gerados pelas
atividades turísticas na RMN, ver-se-á uma concentração em Natal (80%), seguido de
Parnamirm (7%), Extremoz (3%), Nísia Floresta (3%) e Ceará-Mirim (1%).
9 Os primeiros municípios contemplados foram Natal, Parnamirim, Extremoz, Nísia Floresta e Tibau do Sul, sendo este último o único fora da RMN (FONSECA, 2004, p.116)
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Uma das conseqüências dessa concentração do emprego e da renda em alguns
pontos da RMN, principalmente em Natal, revela-se na análise de alguns indicadores sociais
diretamente relacionados com a qualidade de vida da população. Na Tabela 08 pode-se
perceber o baixo rendimento médio da RMN, alternando em torno de 3,13 S.M. Caso
retiremos Natal desta média, este número terá uma ligeira modificação decrescente para
2,70 SM.
Nota-se ainda que os municípios de Natal e Parnamirim concentram não apenas a
maior parte da população da RMN, mas também a maior parte da renda familiar. Ressalta-
se ainda que Parnamirim e Natal apresentam seus limites municipais plenamente
conurbados, formando um continum urbano.
Nesse sentido, a centralização de emprego e renda na RMN causa baixa qualidade
de vida nos municípios vizinhos, embora estes apresentem alguns pontos de
desenvolvimento, relacionados a atividade turística. Entretanto, tais pontos (ou sub-
centralidades) não conseguem modificar um quadro de pobreza metropolitana e dos
municípios de maneira isolada.
TABELA 08 – PESSOAS RESPONSÁVEIS POR DOMICÍLIOS POR VALOR DE
RENDIMENTO (continua)
MUNICÍPIOS PESSOAS COM RENDIMENTO RESPONSÁVEIS POR DOMICÍLIOSPARTICULARES PERMANENTES
VALOR DO RENDIMENTO
NOMINAL MÉDIO MENSAL (SM)
VALOR DO RENDIMENTO
NOMINAL MEDIANO
MENSAL (SM) CEARÁ-MIRIM 10.703 2,21 1
EXTREMOZ 4.152 2,75 1,32 MACAÍBA 10.982 2,09 1,01
NATAL 162.558 6,09 2,52 NÍSIA
FLORESTA 4.007 2,45 1,06
FONTE: IBGE apud PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL (2004, p.37)
TABELA 08 – PESSOAS RESPONSÁVEIS POR DOMICÍLIOS POR VALOR DE
RENDIMENTO (conclui)
PARNAMIRIM 29.146 4,92 2,52 SÃO GONÇALO DO AMARANTE
14.332 2,28 1,32
SÃO JOSÉ DE MIPIBU
6.656 2,22 1
TOTAL DA RMN 242.536 3,13 1,47 FONTE: IBGE apud PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL (2004, p.37)
TABELA 09 - MORADORES DE DOMICÍLIOS POR CLASSE DE RENDIMENTO
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NA RMN (%)
CLASSE DE RENDIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL (%) MUNICÍPIOS 0-1 sm 1 A 3 sm 3 A 5 sm 5 A 10 sm 10 A 20 sm MAIS DE 20
sm S/ RENDA
CEARÁ-MIRIM 42 26 5 4 1 0,5 21,1 EXTREMOZ 39 32 10 7 3 0,6 9,5 MACAÍBA 41 30 6 4 1 0,3 17,1
NATAL 20 32 12 13 8 5,3 9,1 NÍSIA FLORESTA 45 32 8 5 2 0,9 7,8
PARNAMIRIM 21 32 12 15 8 2,2 8,8 SÃO GONÇALO DO
AMARANTE 33 37 9 5 1 0,3 14,7
SÃO JOSÉ DE MIPIBU
40 29 6 5 1 0,4 18,4
TOTAL DA RMN 25 32 11 11 7 3,8 10,8 FONTE: IBGE apud PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL (2004, p. )
TABELA 10- DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES DA RMN COM
ABASTECIMETO DE ÁGUA, COLETA DE LIXO E BANHEIRO (%)
MUNICÍPIOS Com Banheiro
Sem banheiro
Lixo Coletado
Lixo não coletado
Água por rede geral
Poço ou nascente
Outros
CEARÁ-MIRIM 90,42 9,58 56.62 43,38 81,00 13,00 7,00 EXTREMOZ 89,91 10,09 33,12 66,88 77,00 17,00 6,00 MACAÍBA 92,59 7,41 60,54 39,46 78,00 12,00 11,00
NATAL 98,88 1,12 97,61 2,39 97,00 1,00 1,00 NÍSIA FLORESTA 93,55 6,45 58,5 41,5 67,00 25,00 8,00
PARNAMIRIM 98,24 1,76 90,52 9,48 96,00 3,00 1,00 SÃO GONÇALO DO AMARANTE
94,86 5,14 71,44 28,56 83,00 10,00 6,00
SÃO JOSÉ DE MIPIBU
91,55 8,45 60,49 39,51 77,00 15,00 8,00
TOTAL 97,37 2,63 88,5 11,5 93,00 4,00 3,00 FONTE: IBGE apud PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL (2004, p. )
Outro dado importante pode ser visualizado na Tabela 10; analisando a situação dos
domicílios servidos com água encanada, coleta de lixo e com presença de banheiro,
percebe-se que quase 10% dos domicílios de alguns municípios (Ceará Mirim, Extremoz,
São José do Mipibú) não possuem banheiro ou sanitário; 11,5% dos domicílios da RMN não
possuem coleta de lixo domiciliar (sendo que em alguns municípios esse número é de 43%)
e que 7% dos municípios da RMN não possuem abastecimento de água por rede geral (25%
dos domicílios de Nísia Floresta não são abastecidos por rede geral). Tais números
reverberam no Índice de Desenvolvimento Humando Municipal: Natal e Parnamirim detêm
os melhores IDH-M do estado. O terceiro município da RMN a fazer parte deste ranking é
Extremoz em 17º lugar (NOVO ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL – PNUD/IPEA
– 2000).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Após esse breve ensaio, descortinam-se mais perguntas do que respostas
definitivas. Entretanto, o debate sobre a Região Metropolitana no Brasil, embora já tenham
30 anos de sua instituição, está cada vez mais presente (e necessário). Ao se observar o
papel das primeiras RMs nordestinas e as mais recentes, são visíveis os desequilíbrios e
diferenciações relacionados com a hierarquia da Rede Metropolitana que acabam por
reforçar as desigualdades sócio-espaciais da própria rede urbana do nordeste. Mas o que,
realmente, parece ter mudado nesta relação? Em primeiro lugar o papel tradicional agro-
exportador das cidades litorâneas, ou melhor, o papel de ponto de saída da produção
estadual pelo litoral, não parece ter deixado de existir, pelo contrário, sendo patente nos
anos anteriores e, como previsão, para os próximos anos investimentos pesados em infra-
estrutura de portos e aeroportos no Nordeste. Por outro lado, e isso sim parece configurar
novas territorialidades, ocorre a emergência de núcleos isolados de crescimento
populacional, com incremento de setores de serviços e atividades imobiliárias voltadas,
basicamente, para o turismo como espaço econômico.
Ressalte-se que tais núcleos isolados não requerem para si (e isto ficou claro com a
observação da RMN) um papel de centralidade econômica primordial, nem o controle
político. Tais áreas da RM estão conectadas com o espaço global, via justamente os novos
portos e aeroportos estrategicamente preparados para receber esse novo sopro de
esperança. Por outro lado, o questionamento permanece: o turismo seria uma nova força
econômica, de tal modo modificador do espaço metropolitano ou apenas um epifenômeno
decorrente de um processo anterior de desequilíbrio econômico? Em tempo: como visto
acima, as políticas públicas de incentivo industrial no Nordeste foram direcionadas para as
RMs já consolidadas, reforçando um cenário de desequilíbrio secular.
Quando na década de 1990 o tema metropolitano voltou ao cenário de discussões
acadêmicas, em primeiro, e políticas, em segundo, parece ter sido mais uma pressão
natural das especificidades de cada município sede (conurbação ou transbordamento) do
que uma necessidade administrativa concreta. E mais: seria pertinente inquirir se nestas
novas RMs ocorre a existência de um desses três níveis metropolitanos: (a) processo de
metropolização que gerou, a posteriori, a demarcação política da RM, (b) demarcação
política da RM, sem o acompanhamento do processo espacial e (c) existência de uma
gestão metropolitana, decorrente tanto da demarcação política quanto das necessidades
espaciais10.
10 Nesse sentido, Rosa Moura e Olga Firokowski (2001, p.108): “No cerne da problemática da definição das Regiões Metropolitanas brasileiras [...] está a compreensão do sentido que se dá ao fenômeno metropolitano e à metropolização, entendida como processo e não como forma que se pré-defina por legislação”.
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No caso da RMN, fica patente a alternativa (b) onde um peso excessivo de Natal
transborda seus problemas decorrentes do processo de urbanização e adensamento para
os municípios vizinhos . A falta de áreas agrárias e até mesmo a falta de terrenos para
construção, é um aspecto que expande a mancha urbana para espaços quase desabitados.
Praias, comunidades de pescadores, áreas de lagoas, passam a serem vendidas como
periferia turística da cidade; vendidas e consumidas até na esfera global. O peso da
centralidade de Natal, entretanto, não impede que tais núcleos isolados apresentem um
certo grau de autonomia, principalmente depois de pesados investimentos públicos em
redes de comunicação viária e aeroportuária.
Que temos, então: um centro cercado pelo desenho polinuclear tradicional –
como a leitura feita por Roberto Lobato Corrêa (1989) sobre as teorias de Christaller – ou
sub-centros funcionais, que embora estejam territorialmente próximas e politicamente
interligadas ao centro, lhe são de certo modo independentes? Ou esta suposta
independência seria mero transbordamento de atividades saturadas neste centro, sem a
necessidade de continuidade espacial?
Uma dialética é necessária e, também, importante para perceber que cada
questionamento traz em si mais desafios de interpretação do que necessariamente
respostas. Uma dessas interpretações possíveis é perceber até que ponto tais novas
territorialidades podem ser inscritas em um quadro teórico e histórico da conhecida teoria do
desenvolvimento, aqui utilizada para pensarmos o fenômeno metropolitano: seriam tais
territorialidades uma fase histórica de um processo maior, anterior, que de certa maneira
também afetou as RMs tradicionais como Salvador, Recife e Fortaleza? Estaríamos nós, do
recente litoral nordestino, inscritos em uma temporalidade que nos permite planejar o futuro
como forma de alcançar objetivos concretos de desenvolvimento? Ou os paradigmas da
pós-modernidade (fluxos, incertezas) estariam sendo o motor dessas transformações?
Uma rápida hipótese é possível. As especificidades e desequilíbrios apontados no
início deste ensaio apresentam-se ao mesmo tempo unidas a um processo de construção
histórica do Brasil e do Nordeste (portanto interdependente do contexto geral do
desenvolvimento brasileiro) e fragmentadas por novas dinâmicas econômicas e sociais
desta última década. A pobreza nordestina, a pobreza das capitais menos metropolizadas, é
um fenômeno estrutural da dependência econômica fundamentada na relação de
desarmonia entre a Rede Urbana brasileira, muito anterior ao próprio processo das RMs.
E a gestão metropolitana, ficaria à mercê desse processo? Pelo contrário. Os
cenários estabelecidos permitem mais do que nunca estabelecer uma agenda comum
metropolitana, fundamentada não apenas em uma divisão política, realizada pela esfera
estadual, mas principalmente em cooperação entre os integrantes de cada RM no sentido
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de aproveitar e otimizar esses novos fluxos econômicos, além de encontrar soluções
comuns para problemas cotidianos como água, esgoto, lixo, transportes, entre outros. Isto é,
embora o tema metropolitano tenha 30 anos, seus desafios ainda precisam ser enfrentados
por uma repartição não apenas de problemas, mas fundamentalmente de
responsabilidades. A agenda está em aberto.
REFERÊNCIAS
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