Transcript
Page 1: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

MESTRADO EM ENSINO DE HISTÓRIA

NO 3.º CICLO DO ENSINO BÁSICO E ENSINO SECUNDÁRIO

“A música “ouve-nos”, não somos nós que ouvimos a música.” Os Sons da História: um estudo de caso. Helena Bibiana Ribeiro de Sousa Costa

M 2019

Page 2: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música
Page 3: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

Helena Bibiana Ribeiro de Sousa Costa

“A música “ouve-nos”, não somos nós que ouvimos a música.”

Os Sons da História: um caso de estudo.

Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Ensino de História no 3.º ciclo do Ensino

Básico e Ensino Secundário, orientada pela Professora Doutora Cláudia Pinto Ribeiro

Orientador de Estágio, Professora Mestre Maria Albertina Nunes Viana

Supervisor de Estágio, Professora Doutora Cláudia Pinto Ribeiro

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

setembro de 2019

Page 4: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música
Page 5: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

“A música “ouve-nos”, não somos nós que ouvimos a

música.”

Os Sons da História: um caso de estudo.

Helena Bibiana Ribeiro de Sousa Costa

Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Ensino de História no 3.º ciclo do Ensino

Básico e Ensino Secundário, orientada pela Professora Doutora Cláudia Pinto Ribeiro

Orientador de Estágio, Professora Mestre Maria Albertina Nunes Viana

Supervisor de Estágio, Professora Doutora Cláudia Pinto Ribeiro

Membros do Júri

Professor Doutor Luís Miguel Duarte

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Professora Doutora Raquel Pereira Henriques

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

Professora Doutora Cláudia Pinto Ribeiro

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Classificação obtida: 17 valores

Page 6: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música
Page 7: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música
Page 8: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

«(…) a cultura não é um luxo de privilegiados, mas uma

necessidade fundamental de todos os homens e de todas

as comunidades. A cultura não existe para enfeitar a vida,

mas sim para a transformar – para que o homem possa

construir e construir-se em consciência, em verdade e

liberdade e em justiça.»

Sophia de Mello Breyner Andresen

Assembleia Constituinte, 2 de setembro de 1975.

Page 9: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música
Page 10: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

10

Sumário

Declaração de honra ....................................................................................................... 12

Agradecimentos .............................................................................................................. 13

Resumo ........................................................................................................................... 15

Abstract ........................................................................................................................... 16

Résumé ........................................................................................................................... 17

Introdução ....................................................................................................................... 18

Justificação do tema .................................................................................................... 21

Objetivos e metodologia ............................................................................................. 23

Capítulo 1 – A partitura .................................................................................................. 25

1.1. E porquê a música? .............................................................................................. 34

1.1.1. A música e o desenvolvimento cognitivo ..................................................... 42

1.1.2. A música e o desenvolvimento psicomotor .................................................. 47

1.1.3. A música e o desenvolvimento socio afetivo ................................................ 51

1.1.4. A música e a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner .......... 55

1.2. A importância das atividades extra-aulas para alunos e professores ................... 57

1.3. Os “Sons da História” e o Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória 66

Capítulo 2 – A execução ................................................................................................. 68

Clave de Sol. A Escola ............................................................................................... 68

Dó. Em que contexto surge a atividade “Os Sons da História”? ................................ 70

O que é o dia GFA? ................................................................................................. 73

Ré. Quem são os cantores? ......................................................................................... 74

Mi. Avanços e recuos .................................................................................................. 74

Fá. Os ensaios ............................................................................................................. 76

O primeiro ensaio .................................................................................................... 76

O segundo ensaio .................................................................................................... 82

Sol. It’s show time: o dia GFA 2018 .......................................................................... 84

Lá. Receção aos professores no contexto do projeto ERASMUS+ ............................ 85

Page 11: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

11

Si. Oops… I did it again! O dia GFA 2019 ................................................................ 88

Ensaios e alterações ................................................................................................. 88

O subir da cortina .................................................................................................... 89

Dó. The last time… ..................................................................................................... 90

Capítulo 3 – A receção ................................................................................................... 93

Inquérito aos alunos participantes ............................................................................... 94

Inquérito aos Encarregados de Educação ................................................................. 108

Capítulo 4 – A crítica ................................................................................................... 113

Referências bibliográficas ............................................................................................ 126

Anexos .......................................................................................................................... 136

Page 12: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

12

Declaração de honra

Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente noutro

curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros autores

(afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, e

encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo

com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e

autoplágio constitui um ilícito académico.

Paredes, 1 de setembro de 2019

Helena Bibiana Ribeiro de Sousa Costa

Page 13: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

13

Agradecimentos

Ao longo da nossa existência temos sempre pessoas que nos ajudaram, quer por nos

darem amor, quer por nos chamarem à atenção quando mais precisamos. Todo o processo

de mudança, aprendizagem e crescimento que levou à elaboração deste relatório de

estágio foi dos momentos mais atribulados que vivi até ao momento.

Apesar de todas as ajudas que fui recebendo, a mais especial foi sem dúvida a da

família e, particularmente, da minha mãe e é a ela que dirijo a minha primeira palavra de

agradecimento. Obrigada por me teres posto no Mundo, por me educares para ser a pessoa

que sou e por sempre teres estado presente em todos os momentos da minha vida.

Obrigada por me teres incentivado a estudar e a perseguir os meus sonhos. Sabes o quanto

foi difícil para mim e para nós ter chegado aonde estou hoje. Igualmente importante és tu

Telmo. O teu ruído ensurdecedor durante a noite certamente ajudou-me a perder

momentaneamente o juízo, mas és o melhor irmão que poderia desejar.

Professora Cláudia Pinto Ribeiro, obrigada por ter sido a minha voz da razão

quando precisei. Por me ter ajudado a levar este relatório a bom porto e por todos os

momentos em que ouviu os meus desabafos. Posso não ter acertado em algumas coisas

até hoje, mas certamente acertei quando escolhi a melhor orientadora. Não sei se teria

conseguido sem a sua ajuda.

À Professora Maria Albertina Viana, por se ter disponibilizado para me receber

quando já tinha dois estagiários e por sempre ter incentivado a nossa criatividade. Ter

uma professora orientadora assim empenhada, interessada e criativa depois de tanto anos

de carreira é realmente um estímulo para começar a minha vida como professora. Espero

vir a ser pelo menos metade daquilo que a professora me ensinou.

Não poderia também esquecer todas as pessoas que foram importantes para mim.

Ao meu companheiro de todos os momentos. Soubeste sempre como me apoiar e me

ajudar a enfrentar as dificuldades que foram surgindo e, principalmente, pelas muitas

horas que passaste a olhar para mim, em silêncio, enquanto escrevia este relatório.

Aos novos e velhos amigos. E principalmente a vocês, Helena Gomes e Duarte

Page 14: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

14

Babo, por serem os melhores amigos que eu alguma vez poderia ter. Por terem

ultrapassado todos os momentos comigo, por todas as vezes que me esqueci de vos

responder, mas, principalmente, pelas ausências que não tiveram impacto na nossa

amizade e pela ajuda que me deram neste relatório. Aos novos amigos: André Alves e

colegas de trabalho que animaram os meus dias de trabalho e me ajudaram a não

“desafinar” enquanto escrevia este relatório. À Emma, pela ajuda relativamente ao

francês. E Vanessa Antunes: longe, mas nunca separadas.

E porque fomos mais do que colegas de núcleo de estágio, fomos também amigos…

a vocês Duarte Duarte e Marco Costa. Obrigada por me terem acolhido no vosso núcleo.

Nunca deixaremos de ser “a dama e os vagabundos”. Tenho a certeza de que serão

excelentes profissionais em tudo o que fizerem da vida. Joana Sequeira, obrigada pelas

opiniões que partilhamos ao longo deste ano e pelas ideias que me foste dando.

Aos professores de História, Prof.ª Dulcineia, Prof.ª Sílvia e Prof. António Luís,

que tive no meu percurso enquanto aluna. Foi o vosso amor pela profissão e coração

sempre preocupado com todos nós (ainda que muitas vezes vos considerássemos

aborrecidos) que me levou para este curso e para este momento da minha vida.

A todos que me desconhecem, mas que eu ouvi incessantemente e cujas músicas

me levantaram a moral quando tudo parecia perdido.

E porque os últimos também são os primeiros. A todos os que fazem parte da Escola

Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, desde o Sr. Diretor Álvaro Almeida dos

Santos até aos restantes funcionários, por nos terem ajudado em todos os momentos e

nunca nos terem “cortado as asas”. Um obrigado especial à Professora Júlia Rocha, por

me ter deixado acompanhar todos os passos da atividade “Sons da História”; e à D.ª

Leónia por toda a ajuda e paciência que teve connosco.

E a gratidão mais especial: a todos os alunos. Acreditem que aprendi mais com vocês

do que vocês comigo. São crianças e mini adultos muito especiais e que jamais

esquecerei. Enquanto alunos, vemos que professores existem muitos e poucos são os que

nos marcaram verdadeiramente, mas acredito que nenhum professor esquece os seus

primeiros alunos. Foram um desafio muito importante para mim e toda esta experiência

e estas páginas que se seguem não existiriam sem vocês.

Page 15: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

15

Resumo

A música está presente em todos os momentos da nossa vida… no carro quando

vamos para casa ou para o trabalho, no ginásio quando nos esforçamos para alcançar o

nosso corpo de sonho, nos momentos de estudo, nos anúncios publicitários, até mesmo

no elevador quando depois de um dia de trabalho regressámos a casa. Mas, e se a música

também estivesse presente na Escola?

No ano letivo 2017/2018, durante o estágio profissionalizante na Escola Secundária

Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, inserido na unidade curricular de Iniciação à Prática

Profissional do Mestrado em Ensino de História no 3.º ciclo do Ensino Básico e Ensino

Secundário, tomei contacto com a música como até então não tinha tomado. Este relatório

não se trata de uma interpretação A Capella. Neste concerto o “cantor” foi acompanhado

de várias dificuldades, de mudanças e de conquistas, e terminou recebendo uma ovação

de pé por parte das aprendizagens.

Ao longo deste trabalho focámo-nos em relatar a experiência que tivemos no

estágio através da atividade “Sons da História”, realizada no contexto da celebração do

dia Geração Ferreira Alves (GFA). Esta atividade, comum à disciplina de História e ao

grupo de Artes Performativas, pretendia levar o público numa viagem pela História

através das músicas que marcaram as diferentes épocas e acontecimentos. Através dos

estudos efetuados sobre a música e os seus benefícios para o desenvolvimento holístico

das crianças e jovens, da Teoria das Inteligências Múltiplas do psicólogo Howard Gardner

e do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória procurámos justificar quais as

vantagens que este género de atividades trazem aos alunos e de que forma se enquadram

no sistema educativo.

Palavras-chave: música, atividades extra-aulas, viajar através da música, aprendizagem

pela música.

Page 16: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

16

Abstract

Music is present in every moment of our lives... on our daily commute to work or

school, at the gym while we work towards our dream body, while we study, in

advertisements, even on the elevator that we take home after a day of work. But... what

if music was also a presence at school?

During the school year of 2017/2018 and my professional internship at Dr.

Joaquim Gomes Ferreira Alves High School, part of my course unit of Initiation of

Professional Practice in a master’s degree on Teaching History in primary and secondary

education, I got in touch with music in a way I never had before. This report is not an "a

cappella" interpretation. In this concert, the "singer" was accompanied by many

difficulties, changes and conquests, and ended it with a standing ovation from all they

learned.

Throughout this thesis we focused on reporting all experiences lived during the

internship, through the activity "Sounds of History", performed in celebration of a day

dedicated to Ferreira Alves Generation. This activity, shared by both the History

Curriculum and the Performative Arts group, intended to take the audience on a journey

through history, using music that was representative of different eras and events. Through

the study of music and their benefits on the holistic development of children and

teenagers, aided by the Multiple Intelligences Theory of psychologist Howard Gardner

and The Student Profile After Leaving Obligatory Schooling, we seeked to justify the

clear advantages of this type of activities for students and how they can fit in the

educational system.

Keywords: music; extra-curricular activities; traveling through music; learning through

music

Page 17: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

17

Résumé

La musique est présente dans chaque moment de notre vie ; dans la voiture lorsque

nous nous rendons à la maison ou au travail, à la salle de sport lorsque nous nous efforçons

à avoir le corps de nos rêves, dans les moments d’études, dans les annonces publicitaires

et même dans l’ascenseur. Et si la musique était également présente à l’école ?

Lors de mon stage professionnel à l'École Secondaire Dr. Joaquim Gomes Ferreira

Alves durant l’année scolaire 2017/2018, j’ai été intégrée au sein de l’unité curriculaire

de l’Initiation à la Pratique de Master en Enseignement d’Histoire du troisième cycle

d’Enseignement Basique et Enseignement Secondaire. J’ai alors pris contact avec la

musique comme jamais auparavant. Ce rapport ne s’agit pas d’une interprétation A

Capella. Lors de ce concert, le “chanteur” a rencontré plusieurs difficultés, des

changements et des succès et a terminé en recevant une ovation de la part des apprentis.

Tout au long de ce devoir, nous nous sommes concentrés sur le fait de relater

l’expérience acquis durant le stage à travers l’activité “Sons de l’Histoire”, réalisé dans

le contexte de la célébration du jour Génération Ferreira Alves (GFA). Cette activité,

commune à la discipline d’Histoire et au groupe d’Arts Performants, prétendait emmener

le public dans un voyage dans l’Histoire à travers les musiques qui ont marquées les

différentes époques et évènements.

A travers les études effectuées sur la musique et ses bénéfices pour le

développement holistique des enfants et des jeunes, de la Théorie des Intelligences

Multiples du psychologue Howard Gardner et du Profil de l'Étudiant à la sortie de le

Scolarité Obligatoire, nous cherchons à justifier quels sont les avantages que ce type

d’activités apportent aux élèves et de quelle forme elles s’implantent dans le système

éducatif.

Mot-clés : musique, activités extra-scolaires, voyager à travers la musique, apprentissage

pour la musique.

Page 18: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

18

Introdução

Para Sócrates, “a música deve culminar no amor ao belo”1.

Para Platão, “a música é uma lei moral. Ela dá alma ao universo, asas à mente, voo

à imaginação e vida a tudo!”2.

Para Aristóteles, “a música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta

a alma e a eleva acima da sua condição”3.

Para Jean Jacques Rousseau, a “Música é a Arte e Ciência de combinar os Sons de

forma agradável ao ouvido”4.

Para Victor Hugo, “a música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não

pode permanecer em silêncio”5.

Já Albert Einstein, dizia que “se não fosse um físico, provavelmente seria um

músico. Muitas vezes penso na música, eu vivo os meus sonhos na música, eu vejo a

minha vida em termos de música”6.

Para Paul McCartney, “[…] a música pode curar. As pessoas encontram paz na

música. Todas as vezes que eu me sinto triste, coloco um disco de Elvis e sinto-me

melhor”7. O mesmo pensamento é partilhado pelo Sir Elton John, seu conterrâneo, para

quem “a música tem poder de cura. Ela tem a capacidade de puxar as pessoas para fora

de si por algumas horas”8.

Para Stevie Wonder, “a música é um mundo em si mesmo, é uma linguagem que

todos nós entendemos”9.

Para mim, a música é a forma de Arte que está presente em todos os dias da nossa

vida. Faz-nos pensar, sentir, agir, influencia-nos, mas nunca nos deixa indiferentes.

1 Platão. A República. P. 141. 2 Disponível em: https://pt.lifeder.com/frases-de-platao/, acedido a 10/06/2019. 3 Disponível em: www.citador.pt/frases/a-musica-e-celeste-de-natureza-divina-e-de-tal-b-aristoteles-2054,

acedido a 10/06/2019. 4 Pinto, J. C. (2017). Conversas sobre História da Música. Lisboa: Edições Colibri, p. 21. 5 Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NDY3NTUz/, acedido a 10/06/2019. 6 Disponível em: https://pt.lifeder.com/frases-sobre-musica/, acedido a 10/06/2019. 7 Disponível em: https://quemdisse.com.br/frase/eu-acredito-que-a-musica-pode-curar-as-pessoas-

encontram-paz-na-musica-toda-vez-que-eu-me/57207/, acedido a 10/06/2019. 8 Disponível em: https://www.emfabricadesons.com.br/#, acedido a 10/06/2019. 9 Disponível em: https://pt.lifeder.com/frases-sobre-musica/, acedido a 10/06/2019.

Page 19: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

19

Podemos dizer que gostamos ou não de determinada música. Podemos dizer que não a

conhecemos, mas, depois de a ouvirmos não conseguimos dizer que não temos opinião

formada. A Música é igualmente importante para todos nós, independentemente do nosso

género, aspeto físico, orientação sexual, nível socioeconómico, habilitações académicas,

etc. E, se refletirmos sobre isso, a Música “conhece” os nossos estados de espírito como

mais ninguém.

É precisamente por todas estas características que a música foi frequentemente

utilizada ao longo da História, não sendo exclusiva dos seres humanos. Aliás, no ponto

de vista de Patricia Gray e dos seus colegas, nós somos uma espécie de “latercomers”

para o cenário musical quando comparados com, por exemplo, as baleias (Gray et al., cit.

por Leutwyler, s.d., para. 12). O instrumento musical mais antigo encontrado até este

momento, uma flauta feita de ossos, tem entre 30.000 e 40.000 anos e foi encontrado em

Hohle Fels, uma gruta no sul da Alemanha (Koelsch, 2011, p. 1). Os seres humanos são

os únicos capazes de tocar instrumentos musicais, sendo que, no início do seu processo

evolutivo, a música e a reunião de vários indivíduos para fazer música pode ter sido um

fator chave para o desenvolvimento da linguagem e de funções sociais como a cooperação

(Koelsch, 2011, p. 1).

«A música, junto à linguagem, é um dos traços exclusivos dos seres humanos. Apesar

da existência do canto dos pássaros e alguns tipos de comunicação entre primatas e

baleias, por exemplo, nenhuma outra espécie possui esses dois domínios organizados

de maneira como são nos seres humanos.» (Mithen, 2006, cit. por Rocha & Boggio,

2013, p. 132)

O papel da música e a sua importância no desenvolvimento assim como a

linguagem é, ainda, uma perspetiva que gera debates no meio académico, existindo

investigadores que divergem relativamente ao momento em que se desenvolve uma

verdadeira cultura musical. No ponto de vista de John Blacking, primeiro investigador a

afirmar que as crianças possuem cultura musical na década de 1970, fazer música é “an

inherited biological predisposition which is unique to the human species” (Blacking,

1973, p. 7 cit. por Campbell, 2010, p. 4).

Em alguns momentos podemos ser levados a pensar que a música transmite aos

outros a verdade dos povos que a compuseram devido à linguagem utilizada para

Page 20: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

20

expressar os verdadeiros sentimentos e circunstâncias, porém, como nos chama à atenção

Theodor W. Adorno10 (1971),

«Dato che la musica non è manifestazione di verità, ma è realmente ideologia, e dunque

nella veste in cui viene percipa dale popolazioni occulta a queste la realtà sociale, si

pone di necessità la questione relativa al suo rapporto com le classi social.» (p. 67)

A ideologia de que nos fala Theodor W. Adorno esteve presente na atividade “Os

Sons da História”. Esta permite-nos observar, de forma crítica, o modo como a música

foi utilizada para estimular comportamentos, mas também, como forma de terapia para

os seres humanos, dependendo do ambiente em que se inserem, do seu estado de espírito,

do seu gosto pessoal e dos seus conhecimentos sobre música (Stefani, 1987, p. 10). O

sentido de união e de preparação dos indivíduos para algo, através da música, é facilmente

observável na Capoeira, na Calinda, no Tahtib, entre outras formas de artes marciais.

É também possível distorcer a mensagem transmitida pela música, conforme

demonstram os comportamentos adotados por Charles Manson que, apaixonado pela

banda inglesa The Beatles, criou a sua própria teoria da conspiração defendendo que

estaria iminente uma guerra racial, de onde os negros sairiam vencedores. Para formular

as suas teorias, Manson baseou-se no que acreditavam serem mensagens subliminares,

dirigidas a si, nas músicas “Revolution” e “Helter Skelter”. Constata-se que a música “is

a social phenomenon. As much as we want to, we cannot let music just be music”

(Söderman, Burnard, & Hofvander-Trulsson, 2016, p. 5).

Relativamente ao papel da música enquanto recurso nas aulas de História, são já

vários os trabalhos que apontam para os seus benefícios (Ferreira, 2010; Valverde, 2014;

Carvalho, 2015), pois esta atrai os alunos e motiva-os para o estudo da disciplina, aliando

um gosto que todos têm, com o carácter lúdico e simultaneamente erudito, a que

dificilmente teriam acesso se não fosse em contexto de sala de aula. A música é de tal

forma versátil que podemos utilizar canções que estão presentes no quotidiano dos alunos

10 Theodor Ludwig Wiesengrynd-Adorno nasceu a 11 de setembro de 1903 e morreu a 6 de agosto de 1969.

Foi um filósofo, sociólogo, musicólogo, compositor alemão e membro fundador da Escola de Frankfurt. O

seu relacionamento com a música deve-se ao seu contexto familiar, a sua mãe foi uma cantora lírica

profissional, aprendeu piano com a sua tia Agathe, assim como estudou composição com Alban Berg e

Bernhard Sekles, compositor austríaco. Atualmente é reconhecido como o pai da sociologia da música.

Disponível em: https://www.ebiografia.com/theodor_adorno/, acedido a 01/09/2019.

Page 21: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

21

para explicar os assuntos do passado, como é o caso de “Bella Ciao”. Esta canção teve

origem nos campos italianos, foi adaptada para canção de resistência durante o governo

de Mussolini e posteriormente reinterpretada por artistas de todo o Mundo ao longo dos

anos. Recentemente entrou no dia-a-dia dos nossos alunos através da série da Netflix “La

Casa de Papel”11.

No entanto, ouvir música em contexto de sala de aula não se resume à simples

audição para lazer. Conforme Swanwick salienta «a definição de ‘ouvir música’ vai para

além da audição realizada nas aulas, a par de actividades de interpretação, composição e

desenvolvimento de competências» (Swanwick, 1979 cit. por Palheiros & Hargreaves,

2002, p. 48).

Devido à sua versatilidade, devemos educar os nossos alunos para apreciar ou, pelo

menos, conhecer e tolerar os diversos tipos de música que existem, adotando um papel

crítico perante os mesmos, mas não os podemos forçar a amar a música (Gordon, 2000,

p. 51). Podemos alcançar ainda melhores resultados se não apostarmos na utilização da

música exclusivamente enquanto recurso nas aulas de História. Se educarmos os alunos

de História e, ao mesmo tempo, os seus colegas que não frequentam a disciplina e os seus

Encarregados de Educação, estaremos a combater o preconceito de que a História é só

decorar o texto dos manuais e a contribuir para a compreensão do Mundo.

Podemos afirmar que a Música move o Mundo e moveu também o presente

relatório.

Justificação do tema

Este trabalho teve origem na unidade curricular de Introdução à Prática

Profissional, lecionada no segundo ano do Mestrado de Ensino da História no 3.º ciclo do

Ensino Básico e Ensino Secundário, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

11 «Oito habilidosos ladrões se trancam na Casa da Moeda de Espanha com o ambicioso plano de realizar

o maior roubo da história e levar com eles mais de 2 bilhões de euros. Para isso, a gangue precisa lidar com

dezenas de pessoas que manteve como refém, além dos agentes da força de elite da polícia, que farão de

tudo para que a investida dos criminosos fracasse.» Disponível em: www.adorocinema.com/series/serie-

21504/, consultado a 15/05/2019.

Page 22: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

22

Em setembro de 2017, iniciei o meu percurso como estagiária na Escola Secundária Dr.

Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares, e foi lá que comecei a tratar a Música por

tu. Ao longo do meu percurso académico não tive formação musical (à exceção da

disciplina de Educação Musical que frequentei no 5.º e no 6.º ano), apenas aprecio esta

forma de Arte da mesma maneira que a maioria dos indivíduos a aprecia: de forma

subjetiva. Todavia, seria precisamente o meu percurso académico a levar-me para esta

escola extraordinariamente dinâmica e onde aprendi a amar a música de mais modos do

que aqueles que conhecia.

O tema deste relatório não foi algo pensado com anos de antecedência. Surgiu numa

conversa informal com os colegas, a professora cooperante Albertina Viana e a professora

supervisora Cláudia Pinto Ribeiro, durante a qual se abordaram as atividades que o grupo

de História iria promover durante o ano letivo. Ao escutarmos sobre esta proposta ficamos

automaticamente curiosos, questionando-nos sobre a importância destas atividades extra-

aulas para os alunos e em que medida teriam impacto nos seus conhecimentos específicos

para a disciplina de História.

Ao contrário do que inicialmente estava previsto, este projeto prolongou-se por dois

anos letivos: o de 2017/18 e de 2018/19. Todos os anos, a Escola Secundária Dr. Joaquim

Gomes Ferreira Alves celebra o dia do patrono com atividades promovidas pelos diversos

grupos disciplinares e pelos Clubes da escola para mostrar, aos colegas e aos alunos de

escolas convidadas, as atividades desenvolvidas pelos alunos.

Nos anos anteriores, o grupo de História propôs aos alunos que elaborassem alguns

trabalhos, sobre um tema à sua escolha, que depois seriam selecionados para formar uma

exposição. Por sua vez, o Clube de Artes Performativas também desenvolvia as suas

atividades, separado de qualquer disciplina. No ano letivo de 2017/18, numa conjugação

de fatores, tomou-se a decisão de realizar um espetáculo musical que levaria os alunos

numa viagem pelo tempo através da música e da dança, unindo assim, pela primeira vez,

os alunos de História com os alunos do Clube de Artes Performativas.

A música, nas palavras de Isaura Carvalho (2015), é “parte integrante da sociedade

e da cultura nos diferentes momentos históricos e acreditamos que a música espelha a

conjuntura histórica, económica e social em que surgiu” (p. 13-14). Partilhamos deste

Page 23: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

23

pensamento e consideramos que esta é uma iniciativa diferente e muito apelativa para os

alunos. Assim sendo, decidimos que todo o processo relacionado com a preparação e

realização da mesma seria o assunto sobre o qual nos iríamos debruçar no relatório de

estágio.

Como este tema surgiu de uma oportunidade do momento, não possuíamos um

plano rígido a seguir. Assistimos então à preparação do espetáculo, sendo que todas as

decisões foram todas pelas professoras Albertina Viana e Júlia Rocha, coordenadoras da

atividade, e de acordo com as condicionantes que existiam, procurando sempre conciliar

a opinião dos restantes professores do grupo de História. A minha participação neste

projeto resume-se ao papel de espectadora e de ajudante na mesa de som, auxiliando assim

a professora Júlia Rocha.

Objetivos e metodologia

Neste trabalho seguimos uma metodologia descritiva, ou seja, procedemos ao

acompanhamento, através de observação sistemática, de todo o planeamento e execução

da atividade “Sons da História”. Por esta razão, neste relatório não podemos oferecer uma

“partitura” já concluída ao leitor para que possa “tocar” por si mesmo um projeto

semelhante, porém, fornecemos todos os pontos fortes e menos fortes que observámos

durante o projeto.

Todos os contextos são diferentes. Apesar de começarmos a acompanhar um

projeto que não sabíamos onde nos iria levar nem se viria a dar “frutos”, definimos como

objetivos: demonstrar a importância destas atividades para os alunos e conhecer o impacto

destas atividades nos Encarregados de Educação.

Para atingirmos os objetivos supramencionados, acompanhámos todas as reuniões

que se iam realizando para elaborar este espetáculo e os ensaios. E para compreendermos

o impacto desta atividade nos alunos e nos Encarregados de Educação, decidimos aplicar

um questionário a todos os participantes e elementos do público no último espetáculo.

Por uma questão de organização, optámos por dividir o presente relatório em quatro

capítulos. No primeiro capítulo “A partitura”, o leitor poderá encontrar o enquadramento

Page 24: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

24

teórico, onde procuramos explicar o porquê de destacarmos a Música, assim como a

importância das atividades extra-aulas para os alunos e para os professores. No mesmo

capítulo, abordamos ainda a teoria das Inteligências Múltiplas do psicólogo Howard

Gardner e de que forma se relaciona este tipo de atividades com o documento do Perfil

do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória. No segundo capítulo “A execução”, o

leitor pode inteirar-se de todos os passos deste projeto: contexto escolar, como surgiu a

ideia, quem são os cantores, como decorreram os ensaios e os espetáculos. E porque para

Bell (2004), “a etapa, dedicada à concepção do inquérito só chegará depois de se ter

realizado todo o trabalho preliminar” (p. 117), no terceiro capítulo, “A receção”, damos

a conhecer a opinião dos alunos e dos Encarregados de Educação sobre este género de

atividades. Por último, no quarto capítulo, “A crítica”, iremos apresentar as nossas

conclusões sobre esta experiência e sobre este relatório.

Ao longo deste trabalho, o leitor também pode constatar que a cada título foi

atribuída uma cor diferente, num total de sete tons que correspondem às cores do arco-

íris. Nós tomamos esta decisão porque acreditámos que a música é como o arco-íris,

ninguém sabe onde se encontra o fim, assim como o podemos interpretar de diversas

maneiras dependendo daquilo em que acreditámos. À semelhança do que ocorre com as

cores, a música também pode simbolizar o amor, o espírito revolucionário e a coragem

(tal como o vermelho); a comunicação e estimular a criatividade (como a cor laranja); a

felicidade (como a cor amarela); a esperança e a paz (tal como a cor verde); apelar à calma

e à harmonia (como a cor azul); a sinceridade e a individualidade (como o índigo); ou a

magia, introspeção e espiritualidade (como o violeta).

Que comece o espetáculo…

Page 25: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

25

Capítulo 1 – A partitura

«The benefits of introducing the arts and cultural practices into learning environments

showcase a balanced intellectual, emotional and psychological development of

individuals and societies. Such education not only strengthens cognitive development

and the acquisition of life skills – innovative and creative thinking, critical reflection,

communicational and inter-personal skills, etc. – but also enhances social adaptability

and cultural awareness for individuals, enabling them to build personal and collective

identities as well as tolerance and acceptance, appreciation of others. »

Discurso de abertura de Irina Bokova na International Arts Education Week,

em 2012.12

Para a UNESCO, os benefícios que decorrem das aprendizagens sobre Arte

permitem que os indivíduos (e consequentemente as sociedades) se desenvolvam de

forma equilibrada de um ponto de vista intelectual, emocional e psicológico. Neste

sentido, a educação através da Arte deve ser incentivada e valorizada.

De acordo com Alberto B. Sousa (2003a), a educação através da arte pode ser

definida como uma forma de «educação do sensível, tendo em vista a estimulação e

enriquecimento do racional, numa interação benéfica entre o pensar, o sentir e o agir,

dirigindo-se com especial interesse para os problemas que afectam a criança e o

adolescente» (pp. 81-82) e «vai mais longe do que a simples administração de

conhecimentos, visando entre outros objectivos, o aperfeiçoamento da percepção e da

actividade simbólica, ou seja, a aquisição e desenvolvimento dos instrumentos básicos do

pensamento: sentimentos, imagens, palavras, ideias» (p. 83). Esta definição é

complementada pelos princípios defendidos por Lima e Mello (2013), para quem educar

12 Irina Bokova, diretora geral, no seu discurso inaugural, por ocasião da International Arts Education Week.

Disponível em: http://www.unesco.org/new/en/culture/themes/creativity/arts-education, acedido a

30/07/2019.

Irina Bokova nasceu a 12 de julho de 1952, na Bulgária. Foi a primeira mulher e a primeira pessoa da

Europa Oriental a ser eleita para o cargo de diretora-geral da UNESCO a 15 de novembro de 2019. Venceu

novamente as eleições em 2013 e desempenhou este cargo até 10 de novembro de 2017, data em que foi

sucedida por Audrey Azoulay (ex-Ministra da Cultura em França). Durante o seu mandato, Irina Bokova

focou-se em promover causas sociais (como uma educação de qualidade para todos, a igualdade de género,

o diálogo intercultural, liberdade de expressão e segurança dos jornalistas) e ambientais. Disponível em:

https://en.unesco.org/internet-and-radicalization-youth-preventing-acting-and-living-together/irina-

bokova, acedido a 01/09/2019.

Page 26: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

26

através da Arte

«além de criar um desenvolvimento artístico e a percepção estética, acaba ordenando,

no seu próprio modo, o sentido da experiência humana, porque auxilia desenvolver a

sensibilidade, imaginação e percepção, de forma que o individuo perceba a sua forma

artística junto a outras pessoas de diferentes culturas [para além de que favorece que o

indivíduo aprenda a] relacionar-se criadoramente com demais disciplinas do currículo,

em sua vida escolar.» (p. 98)

Porém, enfrentamos uma adversidade: nem sempre o acesso a este direito é

facilitado. Para tal, apontam-se várias razões que se estendem desde a iliteracia para a

Arte, os baixos rendimentos e os elevados custos no acesso aos espaços culturais,

frequentemente distribuídos de forma desequilibrada pelos países.

Decorria o ano de 2015 quando, em Itália, Matteo Renzi prometeu a atribuição de

500 euros aos jovens, no momento em que completam 18 anos, para gastar em iniciativas

culturais.13 Esta medida surgiu no seguimento do anúncio de um maior investimento na

defesa, face ao receio de atentados terroristas como o que ocorreu meses antes em França.

Apesar de ter demorado nove meses a ser implementada, a promessa foi cumprida. O

exemplo italiano foi, depois, seguido em França pelo governo de Emmanuel Macron,

numa iniciativa designada por “Passe Cultural”. Esta medida consistiu na oferta de 500

euros através de uma app, aos jovens que completam 18 anos, para que possam aceder a

atividades culturais perto da sua localização e que, à primeira vista, não selecionariam.14

Em terras lusas, uma ideia semelhante foi uma das contempladas no Orçamento

Participativo de 2017. À iniciativa “Educar Para a Cultura” foi atribuído um orçamento

de 200 mil euros e um período de concretização do projeto de 18 meses. Este projeto

distingue-se dos demais porque o valor do cheque-cultura não chega a ser definido e não

é conhecido o seu impacto na população. Ainda que frustradas, estas iniciativas políticas

demonstram que existe sensibilidade para a necessidade de educar os jovens para a

Cultura.

Um dos melhores exemplos relativamente à valorização da Cultura e do

património imaterial vem do outro lado do Atlântico: Brasil. As suas primeiras

13 Disponível em: https://abc.es/cultura/adci-italia-regalara-500-euros-jovenes-18-anos-para-gastar-

cultura-201608231845_noticia.html, acedido a 03/08/2019. 14 Disponível em: https://theguardian/com/world/2018/aug/18/french-teenagers-swipe-up-for-arts-

electronic-culture-pass-emmanuel-macron, acedido a 03/08/2019.

Page 27: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

27

instituições ligadas à promoção da Cultura datam de 1975 com a criação da Fundação

Nacional de Artes que, no início da sua atividade, se dedicou à música, artes plásticas e

artes visuais. Recentemente assistiu-se, também, à criação do Plano Nacional de Cultura

pela Lei n.º 12.343, de 2 de dezembro de 2010. Com este Plano, a Cultura foi convertida

numa prioridade nacional, quer pelos benefícios económicos que traz ao País, quer pela

união que concede à população. Entre outros aspetos, esta lei prevê que se estabeleçam

«programas específicos para setores culturais, principalmente para artes visuais, música,

artes cénicas, literatura, audiovisual, patrimônio, museus e diversidade cultural (…)»15.

A música é de especial importância para os nossos “amigos” brasileiros, que

reconhecem que a sua música popular «é um dos patrimônios da cultura brasileira mais

valorizados no País e no mundo. O Brasil tem uma música diversificada em dezenas de

gêneros e públicos e que se relaciona de maneiras distintas com os diversos segmentos da

população»16. De entre as várias medidas apontadas no Plano Nacional de Cultura, no que

concerne à Música destacamos o fomento da «instalação e a ampliação de acervos

públicos de música e fonotecas nas escolas (…)»17 e o fomento da «execução pública e

ao vivo de música popular, erudita e de concerto»18.

Combater a desigualdade geográfica e socioeconómica no acesso à Cultura é

também uma prioridade do Ministério da Cultura brasileiro. Criado pela lei n.º

12.761/2012 e regulamentado em 2013, o Vale-Cultura é uma iniciativa do governo

brasileiro que consiste na conceção, por parte de algumas empresas parceiras, de um vale

aos trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos. Este vale tem um valor mensal

de 50 reais e permite: «comprar livros, DVD’s, CD’s, obras de arte visuais, instrumentos

musicais, entre outros produtos culturais», «pagar mensalidades de cursos de arte e

cultura», «assinar serviços culturais pela internet» e «comprar ingressos para cinemas,

15 Decreto Lei nº 12.343 de 2 de Dezembro. de 2010, capítulo I, ponto 1.5.4. Disponível em:

planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12343.htm, acedido a 15/05/2019. 16 Diretrizes do Plano Nacional de Cultura. (2008). 2.ª, p. 36. Disponível em: http://pnc.cultura.gov.br/wp-

content/uploads/sites/16/2018/05/Plano-Nacional-de-Cultura-Diretrizes.pdf, acedido a 15/05/2019. 17 Diretrizes do Plano Nacional de Cultura. (2008). 2.ª ed, p. 63, ponto 1.12. Disponível em:

http://pnc.cultura.gov.br/wp-content/uploads/sites/16/2018/05/Plano-Nacional-de-Cultura-Diretrizes.pdf,

acedido a 15/05/2019. 18 Diretrizes do Plano Nacional de Cultura. (2008). 2.ª ed, p. 83, ponto 2.15. Disponível em:

http://pnc.cultura.gov.br/wp-content/uploads/sites/16/2018/05/Plano-Nacional-de-Cultura-Diretrizes.pdf,

acedido a 15/05/2019.

Page 28: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

28

museus, apresentações musicais, de teatro, de dança, circenses, entre outros».19 Apesar

da iniciativa política, o valor deste vale não é financiado diretamente pelo governo, mas

sim pelas empresas que, em troca de benefícios fiscais, podem contribuir para a

valorização cultural das suas equipas.

Neste momento, a política cultural brasileira enfrenta um momento de incerteza,

dado que se assistiu à união dos ministérios da Cultura, do Esporte e do Desenvolvimento

Social em um só: o Ministério da Cidadania.

Rumando a este lado do Atlântico, no caso português, a Constituição prevê que

«todos têm direito à educação e à cultura»20 e que o Estado deve promover o acesso de

todos os cidadãos à mesma (art. 78.º). Comparativamente com o Brasil, em Portugal,

ainda não se encontram reunidas todas as iniciativas com o objetivo de promover o

património musical. No ano de 2011 realizaram-se os primeiros esforços com a fundação

de um espólio audiovisual designado “A Música Portuguesa a gostar dela própria”, com

o objetivo de “criar uma consciencialização para o conhecimento e importância de um

património vivo e muitas vezes esquecido de tradição oral, cantigas, romances, contos,

práticas sacro-profanas, músicas, danças e também gastronomia”21.

Todavia, por parte da iniciativa política, só agora, em Portugal, se começam a dar

os primeiros passos para a criação de um Plano Nacional das Artes, que fará par com os

já existentes Plano Nacional de Leitura e Plano Nacional do Cinema.

No discurso de Graça Fonseca, ministra da Cultura. no debate do orçamento de

Estado de 2019, destaca-se que

«integrar e articular Cultura, Inovação e Educação é fundamental, não apenas (…) para

construir uma sociedade mais coesa, mas também para dar resposta às práticas culturais

modernas, aos desafios futuros da formação e da capacitação das novas gerações, no

apoio e promoção dos agentes culturais, na interligação das nossas comunidades e das

suas gentes, na defesa do nosso património e na sua sustentabilidade.». 22

19 Metas do Plano Nacional de Cultura. (2013). 3.ª ed. Disponível em:

issuu.com/planonacionaldecultura/docs/as_metas_do_plano_nacional_de_cultu. 20 Constituição da República Portuguesa. Capítulo III, artigo 73º, ponto 1, s/p. Disponível em:

parlamento.pt/Legislacao/Documents/constpt2005.pdf. 21 Disponível em: http://amusicaportuguesaagostardelapropria.org/sobre-nos/, acedido a 18/08/2019. 22 Disponível em: https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=ff2873fa-606f-4b39-

88b6-2f53d32ebd93, acedido a 10/05/2019.

Page 29: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

29

Uma ideia antiga é então abordada. O Plano Nacional das Artes, elaborado pelos

ministérios da Cultura e da Educação, tem por objetivo «garantir um acesso continuado

dos nossos alunos (nas nossas escolas) a experiências estéticas e artísticas, contribuindo

para que desenvolvam competências e qualificações criativas, tão necessárias numa

sociedade que se quer mais justa e inclusiva»23 e destaca

«a importância de uma aprendizagem inclusiva, onde a arte é um fator de estímulo, de

integração e de afirmação de uma política educativa mais próxima da criação artística,

do perfil do aluno e das oportunidades que o ambiente escolar, a cultura e as famílias

podem aproveitar.»24

A 21 de fevereiro de 2019, foi definido, pela Resolução de Conselho de Ministros

n.º 42/2019, que o Plano Nacional das Artes irá vigorar por uma década, entre 2019 e

2029.

É indiscutível que a educação através da arte e a educação para a cultura são

indispensáveis para formar cidadãos conscientes, porém, neste relatório de estágio apenas

nos debruçamos sobre a música.

«A música não substitui o restante da educação, ela tem como função atingir o ser

humano em sua totalidade. A educação tem como meta desenvolver em cada indivíduo

toda a perfeição de que é capaz. Porém, sem a utilização da música não é possível atingir

a esta meta, pois nenhuma outra atividade consegue levar o indivíduo a agir. A música

atinge a motricidade, a sensorialidade por meio do ritmo e do som, e por meio da

melodia, atinge a afetividade.» (Ongaro, Silva & Ricci, 2005, p. 4)

Tal como Ongaro, Silva e Ricci, acreditamos que a música não substitui o restante

da educação, assim como é indispensável para que o ser humano se desenvolva de forma

plena. Todavia, não podemos dissociar a música do contexto em que a mesma foi

produzida, por se tratar de uma forma de arte que tem influência no físico e psicológico

daquele que a interpreta, mas também daquele que a produziu. Neste sentido somos

levados extrapolar o sentido estético e a entrar no campo da etnomusicologia.

A etnomusicologia trata-se de um campo de estudo que nasceu em final do século

XIX na Alemanha e nos Estados Unidos da América, mas ganharia destaque já nas

23 Disponível em: https://portugal.gov.pt/pt/gc21/comunicacao/noticia?i=orcamento-para-a-cultura-cresce-

13-em-2019, acedido a 02/06/2019. 24 Discurso da Ministra da Cultura do debate da proposta de Orçamento do Estado para 2019. (2018).

Disponível em: https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=ff2873fa-606f-4b39-

88b6-2f53d32ebd93, acedido a 02/06/2019.

Page 30: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

30

décadas de 1940 e 1950 com a entrada de novos académicos. A definição exata sobre o

que era o objeto de estudo da etnomusicologia deu azo a debates académicos devido à

divergência de opiniões entre as escolas alemãs (que não consideravam prioritário o

estudo da estrutura da música) e as escolas americanas (que consideravam essencial a

análise técnica da música e do som). Independentemente do país de origem, os

investigadores focavam-se no estudo, mais ou menos científico, da música e comparavam

os dados entre civilizações ocidentais e os demais povos, primitivos ou não, conforme

demonstram as investigações realizadas por um dos pioneiros neste campo, o

etnomusicólogo austríaco Erich M. von Hornbostel.

Decorria o ano de 1957, quando Mantle Hood se distancia desta dicotomia entre

Nós (membros de uma civilização ocidental) e os Outros e afirma que

«[ethno]musicology is a field of knowledge, having as its object the investigation of the

art of music as a physical, psychological, aesthetic, and cultural phenomenon. The

[ethno]musicologist is a research scholar, and he aims primarily at knowledge about

music.» (Hood, 1957, cit. por Merriam, 1964, p. 6)

Atentando nas palavras de Hood, constatámos que o mesmo defende que a música

se trata de uma forma de arte que vai além da componente estética e cultural, chegando a

uma componente passível de verificar no físico e no psicológico daqueles que a escutam.

Posteriormente, Allan Merriam, na sua obra The Anthropology of Music (1964), completa

esta definição de etnomusicologia através da incorporação dos objetos de estudo das

escolas alemãs e das escolas norte-americanas.

«ethnomusicology is made up both the musicological and the ethnological, and that

music sound is the result of human behavioral processes that are shaped by the values,

attitudes, and beliefs of the people who comprise a particular culture. Music sound

cannot be produced except by people for other people (…). » (Merriam, 1964, p. 6)

Conforme demonstra o título que escolhemos para este relatório «a música “ouve-

nos, não somos nós que ouvimos a música.» (p. 51), Edwin E. Gordon (2000) partilha o

ponto de vista de Hood e de Merriam, afirmando, não só que a música nos ouve, mas

também que ao atribuirmos um significado à música nos deixamos levar numa viagem ao

nosso interior. Pessoalmente considerámos que as definições e objetos de estudo

apontados por Hood e por Merriam se relacionam com a atividade dos “Sons da História”

e com este relatório. Tal como estes investigadores, defendemos que a música mais do

Page 31: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

31

que uma simples forma de arte e, por essa razão, procurámos conhecer quais os seus

efeitos no desenvolvimento de crianças e jovens, assim como de que forma os seus

benefícios podem ser aplicados e potencializados em meio escolar.

No que concerne à investigação musical e à etnomusicologia, em Portugal, até às

décadas de 80 e 90 do século XX não se verificava a existência de uma tendência de

investigação nesses campos. Os primeiros passos seriam dados na cidade do Porto, pela

mão da Escola Superior de Educação do Porto, em 1990 com a celebração do I Encontro

Nacional de Educação Musical (Palheiros, 1999).

Posteriormente, em 1995, o Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudo em

Música e Dança (também conhecido pela sigla INET-md) cria o centro de investigação

Etnomusicologia e Estudos em Música Popular. Ao longo dos anos foram sendo criados

outros centros de investigação, sendo que o mais recente foi fundado em 2017 e tem como

foco a acústica musical e o estudo dos sons. O INET-md encontra-se sediado na

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e desempenha

um papel particularmente dinâmico relativamente ao incentivo à investigação científica,

à promoção e valorização do património musical e ao estabelecimento de parcerias entre

as instituições nacionais e internacionais com os grupos, comunidades e artistas locais.

Em 1998, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto foi criado o

CIPEM (Centro de Investigação em Psicologia da Música e Educação Musical), com o

intuito de promover a investigação científica nos campos da psicologia da música, da

educação musical e do papel da música na sociedade. Em 2013, o CIPEM foi integrado

no INET-md, constituindo um dos seus polos juntamente com o Departamento de

Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro e da Faculdade de Motricidade Humana

da Universidade de Lisboa.

No meio académico, a música e o seu papel também têm sido alvo da atenção a

outros relatórios de estágio em vários pontos do país, dos quais salientamos os exemplos

Page 32: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

32

de Carla Ferreira25, Eufrásia Magalhães26, Raquel Valverde27 e Isaura Carvalho28 no que

concerne à interligação entre a música e a disciplina de História, mas também os exemplos

de P. Silva29, no que diz respeito à relação entre a música e a aprendizagem, e de Branca

Oliveira30, que se foca no facto de a música se encontrar quase circunscrita às atividades

de enriquecimento curricular.

A música faz parte da História desde as primeiras civilizações, sendo que o

instrumento mais antigo: a voz, pode ser trabalhado para imitar desde os sons da Natureza,

até aos próprios instrumentos musicais. Segundo apontam Chiarelli e Barreto (2005), as

primeiras músicas destinavam-se a acontecimentos como o nascimento, o casamento, a

morte e para aumentar a fertilidade, ou seja, momentos rituais, atingindo uma “aura”

quase religiosa. A música foi também utilizada como “medicamento” em várias

sociedades. Para os egípcios, a música era considerada “physic of the soul” (Merriam,

1964, p. 111), para os hebreus era considerada como a cura para doenças físicas e

psicológicas, para Pitágoras era considerada como a solução mais eficaz para as doenças

do foro psicológico. Nas palavras de Allan Merriam (1964), “music very often

accompanies healing rituals in nonliterate societies is well established, but the exact

nature of the influence of music, either as verbalized by members of the culture at hand

or as observed by the investigator” (p. 111).

Júlia Hummes (2004, pp. 18-19), apoiando-se em Allan Merriam, aponta que

existem dez funções para a música na sociedade, a saber:

1) função de expressão emocional (libertação dos sentimentos, que podem

25 Ferreira, C. A. S. (2013). Venham mais cinco músicas para o ensino da História e da Geografia.

(Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto). 26 Magalhães, E. J. C. (2014). Do solfejo à partitura: a música como fonte no ensino de História e

Geografia. (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto). 27, A. R. Q. (2014). A música como recurso promotor de aprendizagens em História e Geografia.

(Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto). 28 Carvalho, I. M. V. (2015). A música no ensino da história. (Dissertação de Mestrado, Faculdade de

Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa). 29 Silva, P. C. V. (2012). A música como veículo promotor do ensino e aprendizagens. (Dissertação de

Mestrado, Universidade dos Açores, Açores). 30 Oliveira, B. S. V. (2010). Música: um bem universal circunscrito às actividades de enriquecimento

curricular. (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade

do Porto, Porto).

Page 33: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

33

ser ou não verbalizados);

2) função do prazer estético (para apreciação estética do criador e do

espectador);

3) função de divertimento, entretenimento (presente em todas as culturas, a

música serve para entreter quer seja apenas por tocarmos ou cantarmos,

mas também por a combinarmos com outras formas de entretenimento);

4) função de comunicação (comunicação de algo sem saber a quem, como ou

o que comunica);

5) função de representação simbólica (comum a todas as sociedades, a

música representa coisas, ideias e comportamentos, através dos seus

componentes próprios, letra ou emoções que incita);

6) função de reação física (pode incitar comportamentos e provocar uma

reação biológica);

7) função de impor conformidade às normas sociais (músicas de controlo da

sociedade que demonstram que comportamentos são desejáveis ou

indesejáveis nos indivíduos, por exemplo, as músicas de protesto, que

denunciam situações);

8) função de validação das instituições sociais e dos rituais religiosos

(utilizadas em situações sociais e religiosas, canções de folclore relatam

mitos e lendas enquanto simultaneamente transmitem valores);

9) função de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura (numa

junção de todas as funções mencionadas anteriormente, a música contribui

para a manutenção e transmissão da cultura de um determinado povo

através da educação dos seus elementos e controlo dos indivíduos com

comportamentos desviantes);

10) função para a integração da sociedade (complementa a função da

continuidade e estabilidade da cultura ao integrar os membros de uma

determinada sociedade e ao dar-lhes um sentido de união/propósito

comum).

As primeiras reflexões teóricas que encontramos sobre música são de filósofos

Page 34: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

34

gregos como Aristóteles, Euclides, Nicómano e Aristoxeno, e é também dos gregos que

herdamos a palavra música, esta deriva de musiké, que se refere ao antigo canto em verso

(Schwanitz, 2004, p. 321). Mas a música é também musiké techné, a arte das Musas.

Conforme afirma Schwanitz (2004, p. 321), no princípio, a música não era encarada como

uma forma de arte por si só, estando sempre acompanhada por outra, como demonstram

seis das nove Musas: Clio (História), Calíope (poesia épica e eloquência), Terpsícore

(dança), Erato (poesia lírica), Melpômene (tragédia) e Tália (comédia).

Poderíamos aqui descrever toda a evolução da música desde a sua origem até à

atualidade, porém, esse não é o objetivo deste trabalho e outros mais capacitados já o

fizeram31. Tampouco é nossa intenção explicar todos os conceitos existentes para a

música, pois, conforme afirma Dietrich Schwanitz (2004), «falar de música é um pouco

como explicar uma anedota: já se compreendeu intuitivamente o que laboriosamente se

tenta traduzir em conceitos. A música, afinal, é a linguagem para além da linguagem» (p.

319). No nosso ponto de vista, a música tem dois valores: vale por si mesma e vale por

aquilo que retiramos dela. Isto significa que a música tem uma componente objetiva (que

são os elementos musicais, a estrutura da peça musical, o seu ritmo, melodia e harmonia)

e uma componente subjetiva (que é a nossa interpretação da música, de acordo com a

nossa “bagagem” que é a experiência de vida, estado emocional, conhecimentos e

(pre)conceitos sobre o mundo, a sociedade em que nos inserimos e de que forma estamos

integrados na mesma) e estas duas componentes são indissociáveis e completam-se dado

que, antes de mais, a música é uma forma de arte e um produto das diferentes sociedades

(Hummes, 2004).

1.1. E porquê a música?

«Vivemos imersos num oceano de sons. Vivemos imersos em sons. E em música. Por

31 Sobre a História da Música vejam-se, por exemplo, as obras: Griffiths, P. (2007). História Concisa da

Música Ocidental. (M. Carvalho, Trad.). Portugal, Lisboa: Bizâncio. Grout, D. J., Palisca, C. V. (2007).

História da Música Ocidental. Portugal, Lisboa: Gradiva. Candé, R. (2003-2004). História Universal da

Música. (Fonseca, M. D., Siza, T. Trad.). (Vols. 1-2). Portugal, Porto: Afrontamento. Montanari, V. (1988).

História da música: da Idade da Pedra à Idade do Rock. Brasil, São Paulo: Ática. Abbiati, F. (1964).

História da Música. Portugal, Lisboa: Arcádia.

Page 35: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

35

todos os lados, a toda a hora. Respiramos música sem sequer nos darmos conta.

Às vezes, porém, a música pode transformar-se em ruído indesejável, tempestade,

agressão. Uma questão de volume também.» (Stefani, 1987, p. 7)

Nós vivemos, de facto, “imersos num oceano de sons” e, por vezes,

desvalorizamos esses mesmos sons por se transformarem em ruído. Nem todos

consideramos a música assim importante, tal como Steven Pinker (1997) afirma

«Compared with language, vision, social reasoning, and physical know-how, music

could vanish from our species and the rest of our lifestyle would be virtually unchanged.

Music appears to be a pure pleasure technology, a cocktail of recreational drugs that we

ingest through the ear to stimulate a mass of pleasure circuits at once. » (p. 528)

Porém, preferimos os “ouvidos” de Sócrates e Platão, que acreditavam que a

música era um dos aspetos fulcrais da vida do ser humano e da sociedade e, por isso

mesmo, porque não poderia ser fulcral para nós hoje?

Ao nomearmos este tópico de “E porquê a Música?”, pretendíamos explorar o

valor que esta forma de arte tem, não só para nós, mas também para os investigadores das

mais variadas áreas.

A música está cada vez mais presente no quotidiano das populações e a

experiência de ouvir música tem sofrido alterações com os avanços tecnológicos,

tornando-se cada vez mais individualizada (Palheiros & Hargreaves, 2002, p. 47). Tal

como todas as outras formas de arte, a música é apreciada, também, de forma subjetiva,

e a verdade é que todos nós gostamos de música. Jeandot (1978) afirma que «na verdade,

antes mesmo de nascer, ainda no útero materno, a criança já toma contacto com um dos

elementos fundamentais da música – o ritmo, através da pulsação do coração de sua mãe»

(p. 18). Por sua vez, Davidson (1999) afirma que a voz da mãe, os sons produzidos pelo

seu corpo (como o batimento cardíaco) e os ruídos do meio ambiente são atenuados pelo

líquido amniótico. O bebé ouvirá parcialmente aquilo que o rodeia através das vibrações

do líquido amniótico. Muito antes de Jeandot ou de Davidson, uma mãe valorizava que o

seu bebé em desenvolvimento escutasse música todos os dias. Tratava-se de

«Jeanne d’Albret, mãe do rei Henrique IV de França, convencida de que em vida

intrauterina o feto já ouve música, fazia com que todas as manhãs durante a gravidez

fosse tocada exclusivamente para si e o seu bebé “música doce”. Acreditava ela que

assim moldaria o temperamento da criança.» (Davidson, 1999, p. 79)

Page 36: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

36

Se foi a música, que escutou no ventre de sua mãe, ou não a influenciar o

temperamento de Henrique IV de França nunca saberemos mas a realidade é que ele ficou

conhecido na História como le bon roi Henri. Ainda assim, a exposição dos bebés a

música durante a gravidez tem sido alvo de diversos estudos e verifica-se que, após o

nascimento, quando escutam a mesma melodia, os seus batimentos cardíacos e

movimentos corporais alteram-se, demonstrando que a identificam (Garcia & Santos,

2012, s/p).

Desde os primeiros tempos de vida até aos dez anos, independentemente da

cultura em que se insere, o cérebro da criança demonstra uma grande capacidade para

aprender, de uma forma superior a qualquer outra fase da vida (Flohr, Miller & Deebus,

2000 cit. por Ilari, 2005, para. 1). Neste sentido de aprendizagem através do confronto

com o meio, Beatriz Ilari (2005), apoiando-se nos seus próprios estudos e de outros

investigadores como Trainor, Trehub e Schellenberg, Gregory, Huron e Trevarthen,

destaca o facto de nos primeiros anos de vida, as crianças aperfeiçoarem o seu gosto

musical através da imitação e impregnação, ou seja, através daquilo que a sua cultura lhes

transmite, sendo utilizada a música para comunicar, entreter e transmitir normas culturais

e étnicas. No seu trabalho The Psychology of Music (2002), Robert Gjerdingen destaca o

papel de dois investigadores da psicologia da música no período que se seguiu à Segunda

Guerra Mundial: Leonard Meyer e Robert Francès. Estes dois investigadores apontam

aspetos que considerámos relevantes para a questão da cultura musical das crianças.

Robert Francès distingue os efeitos da aculturação e da educação, afirmando que

«we must distinguish between the effects of acculturation – unreflective, unvoluntary,

and resulting from almost passeve familiarity with works – and the effects of education,

where perceptual development is supported by the acquisition of concepts and symbols

that provide for the definition of forms, their elements and articulations.» (Francès, 1958

cit. por Gjerdingen, 2002, p. 974)

enquanto que Leonard Meyer compreende a perceção musical como uma junção da

perspetiva absolutista (focada nos elementos musicais, vistos como o único elemento para

explicar o significado da música) e da perspetiva referencialista (cujo objeto de estudo

são os elementos externos à música como os estados emocionais provocados pela música)

(Regueiro, 2000, s.p.), isto é, a música vale pelas seus elementos musicais mas também

Page 37: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

37

se encontra dependente das respostas sensitivas de ouvintes experientes (Gjerdingen,

2002, p. 973).

No nosso ponto de vista, as duas visões supramencionadas são válidas e, até

mesmo, complementares. Enquanto crianças encontrámo-nos dependentes daquilo que

nos mostram e com que convivemos, aprendemos o que é bom/belo e mau/feio a partir

da visão que os outros tem do mundo e deixámo-nos guiar; porém, a partir de certa idade

começamos a questionar o que nos rodeia e a fazer as nossas próprias escolhas, isso é

educação, o momento em que experimentámos e passámos a desempenhar um papel ativo

na construção do nosso próprio conhecimento. No entanto, Leonard Meyer também

apresenta um argumento que considerámos importante: a perceção que temos de música

encontra-se dependente das nossas respostas sensitivas (da nossa interpretação) e quanto

mais experientes formos e mais conhecermos, melhor a iremos interpretar. Enquanto

crianças, encontrámo-nos ainda na clave da partitura da vida e a melodia só poderá ser

escrita pelas experiências que temos e pelas situações que vivenciamos. Tal como declara

Blacking, “a música é um facto social. A arte não existe em produtos, mas sim em

processos através dos quais as pessoas dão sentido a certas variedades de actividades e

experiência” (Blacking, 1981 cit. por Carvalho, 1991, p. 38), ou seja, o produto da arte

(na qual se podem incluir as canções) acaba por não existir por si mesmo, nascendo para

o estatuto de “obra de arte” no momento em que o seu valor é reconhecido, pelo que o

seu contexto não pode ser excluído (Hargreaves, 1986, p. 180).

A questão que se coloca é que as crianças de tenra idade não compreendem a sua

experiência musical, pois a musicalidade faz parte do seu quotidiano. Para Patricia

Campbell (2010)

«In the nooks and crannies of home, school, and neighborhood, and even within the

times and places reserved for musical study, there is a steady current of children’s own

music-in-the-making that underlies the various activities in which they engage.

Sometimes they are unaware of this musicking, as it flows almost in a stream-of-

consciousness way from their voices and bodies. Yet it is also made by children with

the full intent of preserving a song, rhythm, or game buoyed by music. This music may

even be their concentrated effort to make up music that expresses their thoughts in

musical ways. » (p. 17)

A música faz parte das crianças, está “on their minds and in their bodies”

(Campbell, 2010, p. 216). As crianças interagem com a música que as rodeia, como se

Page 38: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

38

esta “acontecesse” na sua vida, manifestando o seu agrado ou desagrado espontaneamente

(Campbell, 2010, p. 4-5). Esta é possivelmente a razão pela qual, nos primeiros anos de

vida, as músicas típicas de outras culturas não nos soam “estranhas”, enquanto em idade

adulta ficamos com a sensação de que não são “normais”, da mesma forma que as nossas

músicas nos soam. Hargreaves considera que os gostos musicais por diferentes estilos se

desenvolvem com a idade, salientando que «a ‘abertura de ouvido’, ou seja, a tolerância

relativamente a uma série de estilos diferentes, aumenta na infância, diminui no início da

adolescência, volta a aumentar na adolescência tardia, e diminui mais uma vez na idade

adulta» (Palheiros & Hargreaves, 2002, p. 49). Esta afirmação vai de encontro ao

defendido por Campbell, para as crianças todas as músicas são bem-vindas e ainda se

encontram em “fase de testes” do seu gosto musical, uma vez que ainda não foram

formatadas para determinada cultura. No entanto, no início da adolescência, os jovens

fecham-se em torno de um grupo ou de um estilo musical e a música passa a desempenhar

um papel quase fundamental nas suas vidas sociais pois permite-lhes identificar e

afirmarem-se no seu grupo de pares, recorrendo frequentemente à cópia dos

comportamentos dos amigos e dos “ídolos” que possuem.

A música é um elo de união para os elementos do grupo de pares e de distinção

dos demais como se de um rótulo de identidade se tratasse (Zillmann & Gan, 1997 cit.

por Hargreaves, 1999). A música é também um fator de distinção entre os “jovens” e os

“não-jovens” por formar parte de uma forma de linguagem universal através de códigos:

as músicas em voga servem de modelo para os jovens, distinguindo-os das outras

gerações (Quirós & Julián, 2001, p. 11). Afinal, não foi o sucesso de Elvis Presley um

insulto para a geração dos seus pais devido aos seus famosos movimentos pélvicos? Até

mesmo na nossa experiência pessoal, encontrámos situações em que brincamos com os

gostos musicais dos nossos pais, mas, posteriormente, já no fim da adolescência passámos

a compartilhá-los.

A música, para os jovens, tem ainda uma outra finalidade: a comunicação. De

acordo com Frith, a juventude utiliza a música para «dar forma y voz a emociones que de

otra manera no podrían ser expresadas sin dificultad o incoherencia» (Frith, 1998 cit. Por

Quirós & Julián, 2001, p. 13). Os adolescentes são, entre outras coisas, conhecidos por se

Page 39: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

39

fazerem acompanhar sempre dos seus phones e por escutarem música, se puderem, desde

que se levantam até ao momento em que se deitam. Todos nós, independentemente da

idade, temos em comum o facto de conseguimos associar uma determinada música a um

determinado acontecimento especial das nossas vidas, dado que a música é importante

para a construção das memórias autobiográficas (Jäncke, 2008, p. 21.1). Relativamente a

esta questão, Cuddy e Duffin (2005) apontam que a música pode ser utilizada como forma

de indução da recuperação de memórias em pacientes com demência, que já valorizavam

a música antes de serem afetados pela doença (Cuddy & Duffin, 2005, cit. por Vilar,

2018, p. 51).

Quando utilizada nas escolas, a música é um «instrumento para tornar a escola um

lugar mais alegre e recetivo» (Chiarelli & Barreto, 2005, para. 2). Mais do que entreter, a

música pode ser utilizada para dar a conhecer à criança e aos jovens as suas outras

funções, como a meditação, o trabalho, o culto, a solidariedade e a exaltação (Hummes,

2004, p. 21). Nas salas de aulas a música constitui um recurso que «não só atrai a criança

como a motiva, tornando-a mais atenta ao que o professor pretende» (Silva, 2012, p. 36).

Neste sentido, Del Ben & Hentschke (2002) apontam, através do seu estudo com três

professoras, que a música contribuí para a formação geral do aluno favorecendo a

transmissão de aspetos culturais, o desenvolvimento das capacidades de comunicação

não-verbal (dos sentimentos, emoções, personalidade), assim como da motricidade e do

raciocínio.

«A música pode contribuir para a formação global do aluno, desenvolvendo a

capacidade de se expressar através de uma linguagem não-verbal e os sentimentos e

emoções, a sensibilidade, o intelecto, o corpo e a personalidade [...] a música se presta

para favorecer uma série de áreas da criança. Essas áreas incluem a “sensibilidade”, a

“motricidade”, o “raciocínio”, além da “transmissão e do resgate de uma série de

elementos da cultura”. […] a importância da música nos currículos escolares se deve ao

fato de que, através de seu conteúdo verbal, “a música pode interagir com aquilo que

você precisa ouvir ou que você quer ouvir”. […] a música pode ampliar os conteúdos

curriculares, além de ser “uma forma de resgatar valores culturais, artísticos e de

proporcionar o contato com o aluno com esse tipo de linguagem, que é uma linguagem

não-verbal.”. Flora refere-se à “habilidade de se expressar através de uma linguagem

não-verbal” de uma maneira geral, mas especifica que, no caso da música, essa

expressão ocorre “através do som, do ritmo”. Entretanto, para a professora, o aspecto

mais relevante da educação musical escolar é a possibilidade de a música “interagir, de

se relacionar com as outras áreas do conhecimento”, “auxiliando muito a formação e o

desenvolvimento do aluno”.» (p. 52-53)

Page 40: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

40

Dada a disponibilidade da música podemos até ser levados a pensar, num primeiro

momento, que a música se trata de um recurso divertido e fácil de utilizar. Esta visão

simplista é contraposta pelas palavras de Patricia Wolfe (2004) que afirma que

«a música é uma actividade neuronal altamente complexa. As ondas sonoras entram nos

ouvidos e são convertidas em impulsos nervosos pelo órgão de Corti na cóclea. A partir

desse local, os impulsos são transmitidos a regiões especializadas no lobo temporal

esquerdo e no lobo temporal direito, para processamento.» (p. 152).

Independentemente do seu género ou ritmo, a música depende do corpo humano

para ser interpretada e sentida, e, como nos aponta Leonard Meyer (1961) a música tem

efeitos fisiológicos como «a marked effect on pulse, respiration and external blood

pressure… [it] delays the onset of muscular fatigue… [and] has a marked effect upon the

phychogalvanic reflex» (p. 11).

A música permite construir conhecimento, um processo que recebeu a designação

de musicalização. Segundo Bréscia (2003), a musicalização tem por objetivos o

«despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da

sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação,

memória, concentração, atenção, auto-disciplina, do respeito ao próximo, da

socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal

e de movimentação.» (Bréscia, 2003 cit. por Chiarelli & Barreto, 2005, para. 18)

Para Penna, citado por Couto e Santos (2009) a musicalização é a primeira fase

da educação musical. Esta corresponde ao período em que o educador procura

desenvolver no aluno (independentemente da idade do mesmo) os instrumentos de

perceção básicos para este consiga compreender o material sonoro, enquanto linguagem

artística e enquanto forma de comunicação. De seguida, formam-se os conceitos

fundamentais da linguagem musical e o aluno é capaz de a eles recorrer e identificar. Para

que tal aconteça, Couto e Santos indicam que se devem utilizar «atividades que

promovam a formação de imagens auditivas e de representações simbólicas; e atividades

de expressão para que os conceitos aprendidos sejam aplicados» (Couto & Santos, 2009,

p. 113). No entanto, Maura Penna salienta que a musicalização é apenas uma parte da

educação musical, pelo que esta última corresponde a um processo muito mais abrangente

que «pode atingir fases que ultrapassam a musicalização, podendo, por exemplo, abordar

a notação musical enquanto representação simbólica convencionada (Penna, 1991, p. 36).

Page 41: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

41

Já a musicalização trabalharia nos níveis da concreticidade sonora» (Penna 1991, cit. por

Couto & Santos, 2009, p. 114). Por sua vez, o objetivo da educação musical é

sistematizado por Swanwick quando afirma que «em educação musical a principal meta

é, certamente, trazer a conversação musical do fundo da nossa consciência para o primeiro

plano» (Swanwick, 2003 cit. por Couto & Santos, 2009, p. 114).

A música é também uma forma de inclusão. Esta pode ser utilizada para incluir

crianças e jovens com problemas de desenvolvimento ou incapacidade física em turmas

“normais”, onde tem a potencialidade de mostrar a todos os alunos que a diversidade é

um recurso e a cooperação é forma de agir. Neste sentido, o LINK project promove o

diálogo entre professores e terapeutas com o objetivo de treinar os professores para a

educação social e emocional através das artes, como a música e a dança.

«The assumption underlying DMT and MT is that movement and music are primary

languages shared by all human beings. They represent the common denominator of

expressive, emotional, cognitive and communicative abilities of individuals and

cultures. DMT and MT employ a therapeutic use of body language and music

respectively, in order to built a therapeutic relationship that addresses dissonance,

physical and mental blocks and stress.» (Zanchi et al., 2017, p. 37)

Projetos como este demonstram-nos a importância de incluir a música no dia-a-

dia da comunidade escolar, uma vez que apela à linguagem verbal e à linguagem das

emoções. Zanchi et al. (2017) destacam que o facto de a música e o movimento poderem

ser utilizados como forma de «open direct access to emotional and relational level of

experience, sometimes also to archaic memories and lived experience» (p. 40), de

desenvolver a expressividade, comunicação e criatividade dos alunos, mas também como

forma de incentivar a interação entre o grupo.

Em suma, podemos afirmar que educar através da música é uma experiência

estética, mas também pode contribuir para o desenvolvimento social, afetivo, cognitivo

(Jäncke, 2008; Wolfe, 2004), linguístico e psicomotor das crianças e jovens, favorecendo

o espírito crítico, competências que se vão refletir não só nas aulas de História, mas

também em outras disciplinas (Chiarelli & Barreto, 2005; Hummes, 2004).

Page 42: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

42

1.1.1. A música e o desenvolvimento cognitivo

Muszkat (2012) afirma que o hemisfério direito do cérebro é responsável pela

«discriminação da direção das alturas (contorno melódico), do conteúdo emocional da

música e dos timbres (nas áreas temporais e frontais)» (Muszkat, 2012, p. 67), enquanto

o hemisfério esquerdo é responsável por processar «o ritmo e duração e a métrica, a

discriminação da tonalidade» (Muszkat, 2012, p. 67). O hemisfério esquerdo é também

responsável pelo processamento da linguagem e, consequentemente, pela sintaxe musical

(Santos & Parra, 2015, para. 4; Muszkat, 2012, p. 67). Conforme afirma Mauro Muszkat

(2012), «a música não é apenas processada no cérebro, mas afeta o seu funcionamento»

(p. 68). Campbell, apoia-se no facto de o corpo caloso do cérebro dos músicos estar mais

desenvolvido do que nas restantes pessoas para afirmar que a música atua como uma

“ponte” entre os hemisférios esquerdo e direito, levando-os a trabalhar de forma conjunta

e a reagir mais rapidamente a um acontecimento, e, consequentemente, estimular a

aprendizagem (devido ao aumento do número de ligações neuronais) e a criatividade

(Campbell, 1997 cit. por Magraner & Valero, 2018, p. 96).

Afirmar que a música ou o treino musical efetivamente potenciam o

desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças e jovens é tentador, e

frequentemente se fazem afirmações dessa natureza, como, por exemplo, no artigo “Quer

potenciar o desenvolvimento cerebral do seu filho? Dê-lhe música”, publicado pelo DN

Life a 1 de março de 201932. No entanto, assumir a música como um recurso que potencia

a 100% este desenvolvimento é arriscado, dado que ainda não existem estudos suficientes

para o afirmar com clareza e devemos evitar o que ficou conhecido por “efeito Mozart”.

Em 1993, Rauscher, Shaw e Ky desenvolveram um estudo em que aplicaram o

teste de Stanford-Binet a jovens pouco tempo depois de estes escutarem a sonata K 448

de Wolfgang A. Mozart durante 10 minutos e constataram que estes obtinham resultados

superiores aos alunos que tinham estado em silêncio antes de responderem ao mesmo

teste de QI (Sousa, 2013, p. 21). Os resultados desta experiência foram divulgados

32 Disponível em: https://life.dn.pt/quer-potenciar-o-desenvolvimento-cerebral-do-seu-filho-de-lhe-

musica/, acedido a 10/07/2019.

Page 43: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

43

prematuramente nos media norte-americanos, levando grande parte da população a

assumir que escutar estas composições aumentava a inteligência. Esta pesquisa foi

desenvolvida com um pequeno grupo de indivíduos, não se podendo generalizar as

conclusões e os efeitos registados nas habilidades cognitivas tinham uma duração

temporária e não permanente.33 No entanto, Ana Sousa (2013) afirma que

«estes resultados foram muito contestados (110) e uma meta-análise recente concluiu

que há um efeito Mozart significativo mas pequeno e não substancialmente diferente de

outros tipos de música (111). Qualquer estímulo agradável como a música, por conduzir

a um estado afectivo geral positivo e ao aumento do arousal e atenção pode levar à

melhoria da performance em tarefas cognitivas (84, 103, 105, 112).» (p. 21).

Ainda assim, os investigadores apontam que a música auxilia no desenvolvimento

cognitivo e linguístico dado que quanto maior for a riqueza de estímulos a que a criança

e o jovem são expostos, maior será o seu desenvolvimento intelectual, devido ao

desenvolvimento dos sentidos. Um outro argumento é-nos apresentado por Mauro

Muszkat (2012), que defende que

«a educação musical favorece a ativação dos chamados neurônios em espelho,

localizados em áreas frontais e parietais do cérebro, e essenciais para a chamada

cognição social humana, um conjunto de processos cognitivos e emocionais

responsáveis pelas funções de empatia, ressonância afetiva e compreensão de

ambiguidades na linguagem verbal e não verbal.» (p. 69)

No que concerne à utilização da música para o desenvolvimento cognitivo,

Ferreira (2013) afirma que

«a exposição à música e sobretudo ao intenso treino musical, podem alterar e modificar

a eficácia neuronal, (como efeito direto da repetição intensa e deliberada, presente por

exemplo na aprendizagem de um instrumento musical), o que eventualmente poderá

também favorecer o desempenho em outros domínios» (p. 50).

A utilização da música para a integração das diversas áreas curriculares é uma

preocupação e uma possibilidade levantadas por diversos autores, entre eles Costa (2010),

Correia (2010), Hummes (2004) e Wolfe (2004).

Patricia Wolfe (2004) defende que a música pode ser incorporada nas aulas de

33 Disponível em: publico.pt/2005/05/06/jornal/morreu-o-fisico-que-criou-o-efeito-mozart-19298, acedido

a 10/07/2019. Disponível em: uwosh.edu/psychology/faculty-and-staff/frances-rauscher-

ph.d/Rauscher_ShawKy_1993.pdf/view, acedido a 10/07/2019.

Page 44: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

44

matemática, para ensinar frações através do estudo dos «valores de todo, metade e um

quarto das notas» (p. 157); de história, através, por exemplo, da compreensão dos efeitos

«que as canções patrióticas têm nas emoções e nas acções das pessoas» (p. 157); de

cinema e teatro, onde «os alunos podem experimentar e documentar como os diferentes

tipos de música afectam o humor quando assistem a um filme de terror» (p. 157); ou ainda

na disciplina de ciências naturais, onde a utilização de canções populares como a “The

People Are Scratchin” permitem o estudo da cadeia alimentar. De todas as possibilidades

levantadas, aquela que poderá chamar mais à atenção é a ligação entre a música e a

matemática, uma vez que esta disciplina é, não desvalorizando a sua importância, a

“rainha” das preocupações do poder político e das escolas em geral, quer pela sua

valorização no plano internacional, quer pelas dificuldades que os alunos apresentam. A

relação entre a música e a matemática é de tal forma profunda que Thelonious Monk,

génio do piano na música jazz e compositor norte-americano, afirmou que «todos os

músicos são inconscientemente matemáticos»34.

A música e a matemática

Relativamente à relação entre a música e a matemática, Howard Gardner (2002)

afirma que «ao longo dos séculos tentativas de associar música com matemática parecem

um esforço conjunto para ressaltar a racionalidade (quando não, negar os poderes

emocionais da música» (p. 83), no entanto, no seu ponto de vista a música possui

elementos matemáticos. Cutietta, através da revisão da literatura sobre o tema, afirma que

não existem estudos que apontem a existência de uma relação causa-efeito entre os dois

domínios, isto é, não existem estudos de apontem a aprendizagem da música como fator

de melhoria das capacidades à matemática. Porém, defende que os alunos de música são

alunos mais aplicados do que os restantes e, por isso, obtêm melhores classificações a

matemática, mas, também, às demais disciplinas (Cutietta, 1996 citado por Ilari, 2005,

para. 8). Um ponto de vista semelhante é-nos apresentado por Black que, suportando-se

na teoria de Gardner, afirma que a inteligência musical influencia mais do que as restantes

34 Disponível em: https://pt.lifeder.com/frases-sobre-musica/, acedido a 05/07/2019.

Page 45: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

45

inteligências no desenvolvimento emocional, espiritual e cultural, assim como defende

que a música ajuda a estruturar a forma de pensar, ajudando os indivíduos na

aprendizagem da matemática, linguagem e habilidades especiais (Black, 1997, p. 20-22

citado por Magraner & Valero, 2018, p. 96).

A música e a linguagem

No que concerne à relação entre a música e a leitura, os estudos apontam que os

alunos musicalizados apresentam um desempenho superior na leitura, articulação da fala

e na perceção dos sons em comparação com alunos não-musicalizados. Cutietta afirma

que a habilidade dos alunos musicalização para a prosódia35 deve-se à interpretação das

emoções, presente no discurso e na música (Cutietta, 1996 citado por Ilari, 2005, para. 8).

Ainda sobre o desenvolvimento da linguagem verbal, Sluming e os seus colegas

constataram que os músicos têm mais matéria cinzenta no córtex frontal do que as pessoas

que não são músicas (Jäncke, 2008, p. 21.1). No entanto, Rocha e Boggio (2013)

salientam que a música e a linguagem são “processadas de maneira independente no

cérebro” (p. 135), ficando a música entregue predominantemente ao hemisfério direito e

a linguagem ao hemisfério esquerdo, como se pode verificar em doentes com amusia36

ou com afasia37.

O incremento ao nível da matéria cinzenta, conforme foi constatado por Sluming,

é extremamente importante para os processos mentais relacionados com a memória, mas

também, nas palavras de Lutz Jäncke (2008), «one might thus conclude that a king of

positive transfer between musical performance and verbal memory functions takes place;

in other words, that the process of learning music improves the learning of verbal tasks»

(p. 21.1).

Por sua vez, Wolfe (2004) salienta que «a rima e o ritmo constituem estratégias

importantes para armazenar informação, a qual de outro modo seria de difícil retenção.

35 A prosódia é a área da linguística que se dedica ao estudo da entoação, ritmo, (etc.) das palavras. 36 Os pacientes que sofrem com amusia possuem dificuldades no reconhecimento da música mas mantêm

a capacidade de falar, sendo o oposto da afasia. (Rocha & Boggio, 2013, p. 135). 37 Os doentes com afasia revelam problemas a nível da fala mas mantêm a capacidade de cantar e de

reconhecer músicas. (Rocha & Boggio, 2013, p. 135)

Page 46: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

46

(…)» (p. 157). A memorização é claramente mais fácil quando recorremos às designadas

piggysongs, de tal maneira que quase todos os jovens, independentemente da idade, se

recordarão de aprender o abecedário em inglês através de uma canção. De acordo com

Sacks, «os padrões mnemônicos (de auxílio à memória) contidos nas rimas, métricas e

canto, são os recursos mais poderosos para a capacidade de retenção e memorização da

mente e estão presentes em todas as culturas» (Sacks, 2007 cit. por Cuervo, 2011, p. 3).

Todavia, Su e Wang afirmam que não conhece o motivo pelo qual a música auxilia o

processo de memorização de textos, colocando a hipótese de tal se dever à partilha de

conteúdo semântico entre a música e a linguagem e, consequentemente, à partilha de áreas

neuronais para compreensão dos sinais (Su & Wang, 2010, cit. por Rocha & Boggio,

2013, p. 137). Uma outra hipótese é-nos apresentada por Schulking, que defende que o

prazer que as pessoas obtêm com a música as leva a praticar mais um texto que é

acompanhado com música do que um texto simples (Schulking, 2009 cit. por Rocha &

Boggio, 2013, p. 137).

A música é um recurso apetecível e claramente vantajoso em ambientes

culturalmente diversificados. Ela não existe por si só, faz sim parte de um fenómeno

cultural e social que permite aos seus indivíduos expressarem-se e comunicarem

(Oliveira, 2010, p. 17). Por isso mesmo, em ambientes culturalmente diversificados, a

música pode estimular a compreensão e cooperação com o Outro. Pode ainda ser utilizada

nas aulas de línguas estrangeiras por levar, simultaneamente, os alunos a praticar a

pronúncia de um novo idioma, adquirir vocabulário e a aprender a cultura do país em

questão38. Este poderoso recurso proporciona também às crianças e jovens a possibilidade

de ampliar o seu vocabulário através da procura e da compreensão do significado de novas

palavras presentes nas letras das canções, quer na sua língua materna, quer em línguas

estrangeiras (Oliveira, 2010, p. 16).

38 Sobre esta questão vejam-se, por exemplo, os seguintes relatórios de estágio: Andrade, S. A. A. (2011).

A importância das canções na aprendizagem de uma língua estrangeira: desenvolvimento da compreensão

auditiva. (Relatório de estágio, Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Bastos, J. C. L. (2016). A

música como recurso didático em aulas de português e latim. (Relatório de estágio, Faculdade de Letras da

Universidade do Porto). Xavier, M. P. M. M. S. L. (2010). O uso das canções para fins didáticos. (Relatório

de estágio, Faculdade de Letras da Universidade do Porto).

Page 47: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

47

1.1.2. A música e o desenvolvimento psicomotor

Ongaro, Silva e Ricci (2005) defendem que

«a música afeta de duas maneiras distintas o corpo do indivíduo: diretamente, com o

efeito do som sobre as células e os órgãos, e indiretamente, agindo sobre as emoções,

que influenciam numerosos processos corporais provocando a ocorrência de tensões e

relaxações em várias partes do corpo. Para GAINZA (1988), a música é um elemento

de fundamental importância, pois movimenta, mobiliza e por isso contribui para a

transformação e o desenvolvimento.» (p. 4)

É no efeito da música, de forma indireta, sobre o corpo humano que iremos centrar

a nossa atenção neste ponto. De acordo com os estudos efetuados em laboratório por

Diserens, a música apresenta reações físicas como:

«1. Music tends to reduce or delay fatigue and consequently increases muscular

endurance.

2. Music has no definite effect on precision or accuracy of movement, if the rhythm is

no adapted to the rhythm of the work.

3. Music speeds up such voluntary activities as typewriting and handwriting. It also

accelerates respiration (…).» (Diserens, cit. por Merriam, 1964, p. 113)

Os estudos promovidos por Diserens tinham por objetivo principal compreender

de que forma a música pode influenciar o ambiente de trabalho, porém, as suas conclusões

são também importantes para nós, dado que demonstram que a música ajuda a reduzir a

fadiga, algo que os alunos também sentem depois de várias horas a “trabalhar” no seu

futuro. Ao acelerar atividades como a da escrita à mão, a música pode ser utilizada, por

exemplo, como recurso durante aulas particularmente expositivas, mas também durante

a realização de fichas de avaliação formativa, uma vez que é considerável o número de

alunos que afirma que não tem tempo para concluir as mesmas dado que escreve

lentamente. Neste mesmo campo, Henry Clay Smith observou os comportamentos dos

trabalhadores de uma fábrica de uma cidade oriental nos Estados Unidos, para

compreender de que forma a música influenciava as suas atitudes, produção e os acidentes

de trabalho. Como conclusão, Smith afirma que “music during working hours will

generally improve production where repetitive work is common [e] it will not only

increase production but also will provide widespread employee satisfaction” (Smith cit.

por Merriam, 1964, p. 112).

Page 48: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

48

Muratli defende que o desenvolvimento motor ocorre ao mesmo tempo que o

desenvolvimento mental e emocional. No entanto, em contexto escolar, o

desenvolvimento motor diferencia-se dos demais, uma vez que skills como a coordenação

são adquiridas através de um processo de aprendizagem (Muratli cit. por Aldemir,

Ramazanoğlu, Çamligüney, & Kaya, 2011, p. 979). Estas aprendizagens são

frequentemente feitas em contexto escolar nas aulas de educação física.

Para José E. Betancourt e Marta Hernandez (2012, p. 1), a música e a educação

física são duas disciplinas com um grande impacto no desenvolvimento das crianças:

ambas apelam ao desenvolvimento motor, visual e cognitivo. Nas aulas de Educação

Física pretende-se que, através da prática das diferentes modalidades desportivas, os

alunos desenvolvam a coordenação, a agilidade, a velocidade, o tempo de reação e a

concentração. Capacidades semelhantes são apontadas aos músicos, de acordo com

Eugenia Costa-Giomi (2005), «musicians outperform nonmusicians in certain perception

tasks that require an accurate and immediate motor response to visual stimulus. These

results have been taken as evidence that music training increases the speed and accuracy

of the visual-motor association» (p. 262).

Cada vez são mais as crianças e jovens que apresentam dificuldades ao nível do

desenvolvimento motor e da coordenação, uma consequência natural da diminuição das

brincadeiras de infância em detrimento dos jogos de telemóvel, horas em frente à

televisão. Utilizar a música nas atividades extra-aula, ou mesmo em contexto de aula,

implica que os alunos se movam, nem que seja só o pé ao ritmo da música. Neste sentido,

Anjos e Ferraro (2018) defendem que a dança, e consequentemente a música, deve ser

inserida nas escolas apesar da falta de estudos que suportem, de um ponto de vista

científico, os benefícios que se foram descobrindo ao longo das diversas experiências

práticas. Para estes autores, a dança é

«um instrumento de ganho no desenvolvimento motor, pois, diferentemente das outras

áreas e técnicas, a dança prioriza a experimentação, promovendo a criatividade, trabalha

com as emoções, interage com as outras pessoas, com a música e com o seu próprio

corpo, propiciando o autoconhecimento e ultrapassando seus limites» (Anjos & Ferraro,

2018, p. 338)

A música e, consequentemente a dança, permitem desenvolver a coordenação

Page 49: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

49

motora das crianças e jovens, dado que nas atividades musicais, os indivíduos aprendem

e praticam a forma como devem controlar os músculos e movimentar-se.

Quando falamos de dança, a primeira ideia que nos surge no pensamento são os

espetáculos de ballet ou semelhantes. Porém, neste contexto de educação, referimo-nos a

dança educativa e não a dança-espetáculo. A dança educativa tem por objetivo

«possibilitar que a criança satisfaça as suas necessidades de ludismo, de expressão e de

criação, para que a sua personalidade se possa desenvolver de modo equilibrado» (Sousa,

2003b, p. 115), enquanto a dança-espetáculo tem por objetivo a realização de um

espetáculo de dança, dependendo do treino exaustivo para os movimentos estejam

perfeitamente coordenados e não considerando o desenvolvimento da criança. Para

Alberto B. Sousa a dança trata-se de uma manifestação de movimento natural e

espontânea do ser humano, sem qualquer utilidade imediata para além do prazer. Nas suas

palavras, a «dança será, por isso, todos os movimentos, mais ou menos estéticos, com

maior ou menor aparato, com ou sem música, em que a finalidade reside no prazer da sua

execução e nas suas características expressivas e criativas» (Sousa, 2003b, p. 113),

enquanto se diferencia «dos movimentos funcionais (comer, beber, andar) e dos

exercícios (repetição do mesmo movimento) por ser espontânea, livre e expressiva» (p.

113). O mesmo autor distingue ainda que a dança educativa pode «incluir em

simultaneidade a expressão dramática (dança-drama), a expressão musical (dançando e

tocando), a expressão verbal (dançando e cantando) e a expressão plástica (dança com

fitas ou com luzes, por exemplo, traçando formas no ar)» (p. 114), concluindo que «a

dança educativa poderá considerar-se como a mais global das formas de educação pela

arte» (p. 114).

Aldemir et al. (2011) afirmam que a dança

«unites the body and spirit (Ho, 2005), bringing about permanent changes in

psychological development of the child (Droege, 2008). It is the poetic expression of

physical movement with the help of musical rhythm. Dance is a perfect way of

developing aesthetic taste and the feeling of beauty thanks to the rhythm of its figures

(Schmit et al., 2005). » (p. 980)

Aldemir e os seus colaboradores são o exemplo de um projeto desenvolvido com

114 pré-adolescentes turcos, dos 5.º aos 7.º anos de escolaridade, com o objetivo de

Page 50: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

50

demonstrar o impacto da música no desenvolvimento motor dos mesmos. Durante 20

semanas, o grupo teve duas vezes por semana 45 minutos de aulas de educação física,

teatro e dança. No final do projeto, os resultados foram apresentados num espetáculo,

durante as cerimónias de final de ano letivo, para professores, estudantes e pais. Aldemir

et al. (2011, p. 982) destacam que este género de cerimónias ajudam os alunos a melhorar

a sua autoestima e respeito próprios.

A dança pode ter ou não música. Para Lígia Chiarelli e Sidirley Barreto (2005), o

ritmo

«(…) tem um papel fundamental na formação e equilíbrio do sistema nervoso, pois toda

a expressão musical activa age sobre a mente, auxiliando a descarga emocional,

aumentando a reacção motora e aliviando tensões. Qualquer movimento adaptado a um

ritmo é resultado de um conjunto complexo de actividades coordenadas. Por isso,

actividades como cantar atribuindo gestos à letra, dançar ou utilizar batimentos

corporais são experiências importantes para as crianças, pois permitem que se

desenvolva o raciocínio rítmico e a coordenação motora, factores importantes também

para o processo de aquisição da leitura e da escrita.» (para. 21)

Cantar, tal como foi proposto na atividade “Sons da História”, apresenta também

as suas vantagens. Segundo Lima e Mello (2013, p. 99), cantar ajuda a lidar contra a

agressividade, para além de ser um exercício de respiração, relaxamento e descontração,

com benefícios estudados, por exemplo, em contexto hospitalar. Cantar pode também

ajudar a deixar as crianças e adolescentes mais confortáveis. Conforme destaca Wuytack

«nem todas as crianças gostam de se exprimir vocalmente e nem todas são capazes, mas

todas gostam de cantar.» (Wuytack, 1970 cit. por Sousa, 2003c, p. 109). Alberto B. Sousa

(2003c) completa o pensamento de Wuytack afirmando que «o canto nasce da palavra,

compondo-se de palavras. Quando esta expressão não é suficiente, procura palavras mais

complexas. Quando nem mesmo estas são suficientes, exprime-se com exclamações e

suspiros. Tudo formas musicais que expressam emoções e sentimentos» (p. 109).

Para Graham Welch (2012), cantar é uma atividade que se aplica a todas as idades,

e apresenta benefícios:

• a nível respiratório – mesmo quando estamos sentados, cantar trabalha os

músculos do tronco e ajuda a manter as vias respiratórias abertas, dificultando

a proliferação de bactérias e combatendo os sistemas de doenças respiratórias

como constipações ou gripes;

Page 51: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

51

• a nível da função cardíaca – cantar melhora a eficiência do sistema

cardiovascular e aumenta a oxigenação do sangue, tornando o indivíduo mais

alerta para o que o rodeia, reduzindo o stress e melhorando a saúde em geral;

• a nível do desenvolvimento do controlo do sistema vocal – o treino obtido

através do canto ajuda a compreender a fisiologia do sistema vocal, a sua

potencialidade e a sua coordenação, o que é particularmente importante para

crianças e jovens que ainda estão a desenvolver a sua identidade e a conhecer

o seu corpo;

• a nível do funcionamento neurológico – uma vez que para cantar é necessário

mobilizar diferentes áreas do cérebro: as partes relacionadas com a música

(tom, ritmo e timbre), com a linguagem, com o comportamento motor fino,

com as imagens visuais e com a emoção.

Welch (2012), apoiando-se em novas pesquisas, distingue a prática do canto

quando estamos sozinhos e quando estamos em grupo, afirmando que «singing with

someone else is not the same as singing alone or with na instrument because it envolves

neurological areas related to human social interaction and coordination» (p. 2).

1.1.3. A música e o desenvolvimento socio afetivo

A relação entre a música e a emoção foi alvo de especial atenção por parte de

vários estudiosos, inclusive de René Descartes, renomado filósofo que antes de se dedicar

ao «amor pela sabedoria», foi apaixonado pela música. Relativamente a esta questão,

Aires Pereira destaca a importância do Compendium Musicae de Descartes, datada de

1618, para a criação da Teoria dos Afetos. Esta teoria determina que se podem exprimir

as emoções pela música, através da utilização de intervalos melódicos específicos que se

associavam a determinada emoção (Rocha & Boggio, 2013, p. 136), conforme demonstra

a primeira frase do compêndio, «finis, vt delectet, variosque in nobis moveat affectus…»

(«o fim da música consiste no deleite e em mover em nós variados afectos» (Descartes,

1618, cit. por Pereira, 1996, p. 99)). Este princípio inspirou os compositores e marcou a

Page 52: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

52

produção musical entre os séculos XVII e XVIII, sendo que ainda hoje perdura a visão

sobre a relação entre a música e a emoção.

Weld, citado por Leonard Meyer (1961), afirma que «The emotional experiences

which our observers reported are to be characterized rather as moods than as emotions in

the ordinary sense of the term…» (Weld cit. por Meyer, 1961, p. 7). É, então, necessário

fazer a distinção entre emoção e estado de espírito. De acordo com Weld, o estado de

espírito é relativamente permanente e estável, enquanto a emoção é temporária e

facilmente é substituída por outra emoção (Weld cit. por Meyer, 1961, p. 7). Ekman

(1999) defende que as emoções têm causas específicas enquanto o humor/estado de

espírito não, pelo que o estado de espírito pode ser alterado caso se controlem as emoções

a ele associadas através de estratégias como ouvir música (Ekman, 1999 citado por

Beedie, Terry & Lane, 2005, p. 848). Beedie et al. (2005) defendem que

«moods are general, background feeling states, with no specific cause or direction.

Emotions have a specific cause and are directed at a specific object. For example, you

might experience an emotion because of someone. When you are not with the mor

thinking about them the emotion goes, but might return when you see them/ think about

them again» (p. 863)

As emoções e os estados de espírito também podem ser diferenciados pelo controlo

que os indivíduos têm sobre os mesmos. A emoção os indivíduos não conseguem

controlar, enquanto o humor/estado de espírito pode ser alterado (Beedie et al., 2005, p.

865).

«emotion bias action and moods bias cognition (Davidson, 1994) or that mood signals

the state of the self whereas emotion signals the state of the world (Frijda, 1994;

Mandler, 1984; Morris, 1992 […]). […] It may in fact be argued that emotion and mood,

like all psychological processes, share the same ultimate function, that is, to help the

organism adapt and survive in an ever-changing environment.» (Beedie et al., 2005, p.

870).

As emoções têm também, por consequência, uma reação física. Esta reação foi o

alvo dos estudos de Carol L. Krumhansl, professora de Psicologia na Universidade de

Cornell, que demonstraram que a música tem um impacto direto nas emoções: músicas

com um ritmo mais rápido estão associadas à felicidade dos ouvintes, enquanto músicas

com um ritmo mais lento estão associadas a sentimentos de tristeza (Leutwyler, s.d., para.

10). Ainda quando nos limitamos a escutar, de forma passiva, a música, é responsável por

Page 53: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

53

provocar vários efeitos no corpo humano. Um deles é o aumento do fluxo sanguíneo em

áreas do cérebro que são associadas com a origem e o controlo das emoções (Jäncke,

2008, p. 21.4). Patricia Wolfe afirma que o impacto da música no estado emocional dos

seres humanos está bem suportado do ponto de vista científico através de estudos como

o de Robert Zatorre et al. Este neurocientista da Universidade de McGill demonstrou,

através da realização de tomografias por emissão de positrões39, que as partes do cérebro

relacionadas com o processamento de emoções ficam iluminadas quando um indivíduo

ouve música (Blood, Zatorre, Bermudez & Evans, 1999 citado por Wolfe, 2004, p. 154).

Para Wolfe (2004), a razão para a música estimular a emoção deve-se à libertação de

substâncias como a adrenalina, endorfina e hidrocortisona, que também são responsáveis

pela resposta de sobrevivência “lutar ou fugir” (p. 154).

A música e a sua relação com a emoção são inegáveis mas esta apenas tem o

significado que lhe é atribuído pelo indivíduo que a escuta e pelos sentimentos que neste

são «gerados pela consciência de si, do mundo e de si no mundo» (Carvalho, 2015, p.

13). Neste ponto revelam-se duas correntes: por um lado, investigadores como Peretz e

Zatorre defendem que «a emoção evocada por música seja o resultado de julgamentos

estéticos e envolva, portanto, somente regiões corticais do cérebro, sendo resultado de

análises estruturais da música» (Peretz & Zatorre, 2004, cit. por Rocha & Boggio, 2013,

p. 136); enquanto que, por outro lado, investigadores como Koelsch afirmam que a

música é «capaz de evocar emoções simples, do dia-a-dia, tais como alegria, tristeza,

medo e raiva, sendo independente de análises formais [o que é possível de verificar em

estudos que demonstram] que a música recrutaria estruturas do sistema límbico e

paralímbico e não apenas áreas corticais do cérebro» (Koelsch, 2010, cit. por Rocha &

Boggio, 2013, p. 136).

Para os investigadores que defendem a transmissão dos sentimentos, tal é possível,

entre outras coisas, através da voz que, nas palavras de Alberto B. Sousa (2003c), «é

39 «A Tomografia por Emissão de Positrões (PET) é uma técnica de imagem médica recente que utiliza

moléculas que incluem um componente radioactivo (radionuclídeo). Quando administradas no corpo

humano, estas moléculas permitem detectar e localizar reacções bioquímicas associadas a determinadas

doenças, sobretudo nas áreas da Oncologia, Cardiologia e Neurologia.». Disponível em:

https://www.saudecuf.pt/unidades/descobertas/areas-clinicas/exames/medicina-nuclear/pet, acedido a

19/02/2019.

Page 54: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

54

reveladora de todos os estados emotivos (paixões, medos, iras, etc.) e sentimentais

(afectos, fobias, ódios, etc.), incluindo todos os meandros do inconsciente e todas as

facetas da personalidade» (p. 153), sendo que a voz, tal como as impressões digitais e a

personalidade, é única. Para este autor, mais do que emitir sons importa a forma como os

emitimos, com que entoação, ênfase e sentido para nos expressarmos da melhor maneira.

Uma das vantagens da música, de acordo com Mello, é o incremento da autoestima

dos estudantes, uma vez que é uma atividade que «alimenta a criação» (Mello, 2011, p.

5, citado por Lima & Mello, 2013, p. 103). Para além da autoestima, a música ajuda as

crianças e jovens a desenvolver a sua própria identidade e a autorrealizar-se, uma vez que

permite aos indivíduos conhecerem as suas potencialidades e limitações enquanto,

simultaneamente, aprendem a aceitar-se (Chiarelli & Barreto, 2005). É indissociável a

ideia de música e emoção (Berchmans, 2006, p. 20 cit. por Ferreira, 2013, p. 31), e nas

palavras de Tia DeNora (2003),

«Of all the arts, music is most typically associated with emotional experience. Claims

within both the scholarly community and in everyday life on behalf of music’s capacity

to express and induce emotion in its listeners themselves testify to the idea of music as

an emotional medium» (p. 83).

DeNora afirma, ainda, que a música nos oferece uma experiência, que quando

comparada com o teatro, por exemplo, é única. Tal unicidade deve-se ao facto de a música

poder ser uma forma de comunicação não-verbal, quando não possui uma letra para ser

cantada (DeNora, 2003, p. 83). Músicas como a 1812, de Tchaikovsky, são igualmente

capazes de nos transmitir uma mensagem e de nos fazerem sentir apesar de não ser dita

uma única palavra.

Em suma, «cantando, a gente brinca, brincando eles aprendem» (Lima, 2011, p. 3

cit. por Lima & Mello, 2013, p. 104), pelo que acreditamos que todas as atividades que

potenciem a aprendizagem dos nossos alunos deveriam ser valorizadas, inclusive aquelas

que, à primeira vista, possuem um carácter lúdico, como é o caso da música. As atividades

com música, e mesmo com a dança, são também atividades que podem representar uma

oportunidade de futuro profissional para os jovens, ainda que isso não esteja definido

como objetivo, conforme destacam Betancourt e Hernandez (2012, p. 1).

Page 55: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

55

1.1.4. A música e a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner

Medir a inteligência de um indivíduo e catalogá-la sempre foi uma questão

intrigante e desafiadora para a comunidade científica e, ainda hoje, nos preocupamos com

essa questão…

Na transição do século XIX para o século XX, Alfred Binet e Théodore Simon,

servindo-se do seu trabalho de campo nos liceus franceses, começaram a prever o sucesso

académico dos alunos. Para conhecer o nível de inteligência das crianças, estes

investigadores aplicavam um teste com 30 questões, ordenadas por grau crescente de

dificuldade. O resultado obtido no teste permitia saber a idade mental do sujeito, que

comparada com a idade cronológica, resultava no famoso QI. As ideias de Binet e Simon

encontraram um fiel seguidor em Lewis M. Terman, psicólogo e professor na

Universidade de Stanford, que, aperfeiçoando a ideia inicial, viria a criar o teste Stanford-

Binet Intelligence Scale (Koelsch, 2011, pp. 6-7). Este teste baseava-se no desempenho

das crianças e jovens no campo da lógica e da linguística, as suas áreas mais valorizadas

nas escolas da época e atualmente. No entanto, o próprio Binet, alertou para o facto de

um simples teste não poder delimitar o desempenho de uma criança e medir um fator tão

complexo quanto a inteligência (Gama, 1994, p. 13).

A medição da inteligência dos indivíduos encontrava-se reduzida à realização de

exames padrão e era já contestada por psicometristas como L. L. Thurstone (Gardner,

Kornhaber & Wake, 1998, p. 215). Em 1985, o psicólogo Howard Gardner e a sua equipa

rompem com o paradigma, apresentando a Teoria das Inteligências Múltiplas. Para si, a

inteligência é definida como

«um termo para organizar e descrever capacidades humanas, e não é uma referência a

um produto que existe dentro da cabeça. Uma inteligência não é uma ‘coisa’, e sim…

um potencial, a presença do qual permite a um indivíduo ter acesso a formas de

pensamento apropriadas a tipos específicos de conteúdo.» (Gardner et al., 1998, p. 217)

Na Teoria das Inteligências Múltiplas, Howard Gardner sugere que o ser humano

possui sete tipos de inteligências ou potencialidades: lógico-matemática, linguística,

musical, corporal-cinestésica, espacial, interpessoal e intrapessoal (Almeida et al., 2009).

Em aberto está ainda a possibilidade de serem descobertas e acrescentadas outras formas

Page 56: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

56

de inteligência. Todas estes talentos estão presentes no ser humano, no entanto, por

motivos genéticos e ambientais, todos somos diferentes.

Particularmente no caso da inteligência musical, Gardner salienta que este é o

talento que se manifesta mais cedo na vida de um indivíduo, o que se pode dever ao

talento natural; ao facto de a criança se encontrar inserida num ambiente familiar que

valoriza a música ou ao facto de trabalhar exaustivamente esse talento (Gardner, 2002,

pp. 78-79). A inteligência musical consiste na capacidade que os indivíduos têm de «criar,

comunicar e compreender significados compostos por sons» (Gardner et al., 1998, p.

217). Estas potencialidades, apesar de serem independentes umas das outras, atuam de

forma coordenada, como comprovam os testes feitos com indivíduos que possuem

patologias psicológicas. No entanto, tendo por base os estudos realizados com prodígios

e com savants, a inteligência musical revela-se independente das restantes formas de

inteligência, dado que «ela pode manifestar-se num alto nível em uma pessoa cujas outras

capacidades são médias ou mesmo deficientes» (Gardner et al., 1998, p. 218).

Atualmente, o ensino tradicional encontra-se focado em duas inteligências: a

linguística e a lógico-matemática, fazendo com que alguns alunos com outro tipo de

inteligência se sintam como um pássaro sem asas quando são confrontados com uma

situação em que não demonstram maiores habilidades. A inteligência musical pode então

ser utilizada como forma de motivação e integração com as restantes formas de

inteligência (Miranda, 2009, p. 119). No mesmo trabalho, Leandro Miranda (2009)

adianta que,

«Dificilmente alguém que esteve intimamente associado à música pode abster-se de

mencionar suas implicações emocionais: os efeitos que ela exerce sobre os indivíduos.

Assim, além de uma simples atividade musical, podemos utilizar as canções para

estimular nos alunos suas inteligências inter e intrapessoais. Um ambiente musical

propicia isso, aumentando o contato e a interação em sala de aula» (p. 119)

Page 57: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

57

A Teoria das Inteligências Múltiplas é

particularmente interessante quando aplicada

em contexto de avaliação. Se todos os alunos

possuem potencialidades que divergem entre

si, não é então justo que todos sejam avaliados

da mesma forma, conforme demonstra o

cartoon à direita.

Mas de que forma se relacionam a

Teoria das Inteligências Múltiplas, a música e

a atividade “Os Sons da História”?

Num primeiro plano, todos nós nos

expressamos musicalmente através da voz e recebemos as mensagens dos outros através

da audição. Neste sentido, constatamos que a voz e a oralidade possuem um papel

fundamental na linguagem e, diretamente, na inteligência linguística e musical. Por sua

vez, a música é parte integrante da nossa sociedade e deve, por isso, ser incluída no

currículo escolar para preparar a criança para o seu futuro, ou seja, para facilitar a sua

integração e inclusão na sociedade em que se insere. A música potencia a integração dado

que através dela podemos abordar diferentes formas de inteligência e desenvolver

estratégias comuns a todos os alunos enquanto grupo e simultaneamente adaptadas às

necessidades de cada um. Conjuntamente, esta atividade mobiliza as chamadas

inteligências pessoais, pois os alunos são colocados perante uma atividade diferente que

os faz sair da sua área de segurança e exporem-se aos outros devido ao canto, mas também

são levados a questionarem-se e a conhecerem-se a si próprios e aos outros através das

experiências e acontecimentos abordados nas letras das músicas que interpretam.

1.2. A importância das atividades extra-aulas para alunos e professores

Anteriormente debruçamo-nos sobre o que tem sido escrito sobre os benefícios

associados à música e ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e socio afetivo das

crianças e jovens. Porém, também podem ser apontados benefícios à prática da música

Disponível em:

https://www.teachersthinkingtogether.com/blog.

Acedido a 17/08/2019.

Page 58: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

58

em grupo, conforme destaca Ana Paula Gamba, «fazer música, principalmente em grupo,

no colectivo, traz a noção da importância da ordem e da disciplina, da organização, do

respeito ao outro e a si mesmo» (Gamba, 2004 cit. por Oliveira, 2010, p. 4). A música

pode e deve ser utilizada pelas escolas como uma forma de dar oportunidades diferentes

aos estudantes. Frequentemente essas oportunidades surgem na forma de atividades extra-

aulas e apresentam benefícios quer para os alunos, quer para os professores.

Para Boaventura de Sousa Santos (2007), a escola deve ser vista como “um lugar

de aprendizagem construída e não como um espaço onde o professor transmite saberes”

(p. 79), para além de «ser um local onde é possível utilizar os meios necessários para

edificar o conhecimento, desenvolver atitudes e valores e adquirir competências» (p. 79).

Esta linha de pensamento já era defendida por Platão, na sua obra “A República”, quando

afirmava que

«O ensino deve ser ministrado sob uma forma isenta de constrangimento… Porque o

homem livre não deve aprender como escravo; com efeito, quando os exercícios são

praticados à força, o corpo não se encontra pior por isso, mas as lições que se fazem

entrar à força na alma não ficam aí. Não uses de violência na educação das crianças,

mas procede de modo que se instruam brincando; poderás assim discernir melhor as

tendências de cada uma» (Platão cit. por Sousa, 2003a, p. 18)

A educação das crianças através do brincar é um princípio que também é

defendido por Lima e Mello (2013). Porém, as brincadeiras propriamente ditas apenas

são frequentes durante a frequência do pré-escolar e do ensino primário, depois disso, os

alunos veem-se limitados aos 10 ou 15 minutos de intervalo que têm depois de cada aula,

tempo esse que tem de ser repartido com outras necessidades básicas como comer ou ir à

casa de banho. As brincadeiras e a aprendizagem não terminam quando a infância chega

ao fim. Os adolescentes também brincam, embora de maneira diferente do que as

crianças, e ensiná-los através de jogos pode ser uma estratégia para que se mantenham

concentrados e interessados no que o professor lhes tenta transmitir e para que tirem daí

as suas próprias conclusões e conhecimento. Particularmente no ensino secundário, as

brincadeiras dos jovens quase que se resumem aos curtos intervalos com os colegas e às

atividades de complemento curricular. Estas atividades com um cariz complementar e

lúdico, de acordo com Schiller, são uma boa forma metodológica para a educação estética

dos indivíduos (Schiller, 1789-93 cit. por Sousa, 2003a, p. 22), contribuindo para a sua

Page 59: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

59

formação e preparando a criança e os jovens para ocuparem o seu lugar na sociedade

(Read, 1942 cit. por Sousa, 2003a, p. 25). Para Márcia Moura, Marta Martins e Daniela

Coimbra (2014), as atividades de complemento curricular permitem aos estudantes

«vivenciar experiências diferentes das atividades curriculares, num ambiente lúdico e

motivante, onde se estabelecem fortes ligações interpessoais que conduzem ao

desenvolvimento de competências cujas consequências serão «forçosamente positivas

nos planos da identidade e desenvolvimento pessoal, vocacional e social».» (pp. 70-71).

Relativamente à influência das atividades extracurriculares no desenvolvimento

dos estudantes, Márcia Moura, Marta Martins e Daniela Coimbra (2014) afirmam que

«as investigações analisadas são consistentes com a visão de que a participação nestas

atividades aumenta globalmente as experiências educacionais dos/as estudantes,

providenciando oportunidades de trabalho cooperativo e informal em grupos dentro do

espaço escolar, promovendo benefícios sociais e de relação interpessoal de longo prazo.

Funcionam como uma oportunidade para os/as estudantes estabelecerem amizades,

identificarem-se com um grupo social de uma forma mais madura e independente do

que é possível nas aulas.» (pp. 71-72)

Os benefícios mencionados anteriormente podem ser observados quando

verificamos que os nossos alunos se mostram mais disponíveis em sala de aula,

mobilizam conhecimentos e experiências que adquiriram nas atividades que frequentaram

e apresentam uma postura mais aberta e confiante. Estas atividades e os seus benefícios

devem ser colocados ao alcance de todos os alunos e, por isso, ao pensarmos a Escola,

enquanto instituição, não podemos fazer diferenciações de acordo com o contexto em que

a mesma se insere. O currículo e as estratégias adotadas têm a obrigação de se enquadrar

independentemente do perfil dos alunos, promovendo um desenvolvimento holístico dos

mesmos. Particularmente nos casos de escolas que se inserem em meios desfavorecidos,

as mesmas devem potenciar aos alunos todas as experiências artísticas possíveis, numa

tentativa de suprir as lacunas da sua educação (Magraner & Valero, 2018, pp. 99-100).

Esta linha de pensamento já era seguida por Marsh e Kleitman que, em 2002, nos seus

estudos chegaram à conclusão de que as atividades promovidas pela escola apresentavam

mais benefícios para os estudantes do que as atividades que os jovens frequentavam em

espaços exteriores à escola. Esta relação deve-se à identificação dos estudantes com a

escola que frequentam, mas também ao compromisso que a escola assume com a

formação holística dos seus alunos (Marsh & Kleitman, 2002 cit. por Moura et al., 2014,

Page 60: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

60

p. 72). Estes benefícios far-se-iam sentir principalmente em contextos socioeconómicos

desfavorecidos, dado que os alunos não dispõem das mesmas oportunidades para

frequentar atividades fora do espaço escolar.

Uma teoria que consideramos que enquadra a oferta de oportunidades e a

necessidade de os estudantes aprenderem a compreender e a relacionarem-se com o

mundo que os rodeia é o Conectivismo de George Siemens. Zanchi et al., relativamente

ao LINK Project40, apontam que podem ser encontrados alguns pontos comuns entre os

benefícios atribuídos ao projeto e a teoria do Conectivismo no que concerne aos campos

físico, espiritual, cognitivo e emocional do conhecimento.

«Since knowledge originates from a network of prejudices, opinions, self-corrections

and preconceptions, this American sociologist thinks that the three main theories

informing the creation of learning environments, Behaviourism, Cognitivism and

Constructivism, arose when learning had not yet to come to face with technology and

with various forms of uneasiness that «people» can present in our classes (Siemens,

2006). During the last twenty years, technology has reorganized our way of living,

communicating, interacting, facing off in the social environments and also learning,

favoring sometimes new forms of illiteracy» (Zanchi et al, 2017, p. 45)

Consideramos que é o momento oportuno para, ao invés de formarmos cidadãos

analfabetos funcionais que apenas foram educados para cumprir as metas estabelecidas,

formar futuros cidadãos-eleitores que possam ser uma voz ativa das sociedades em que

se inserem, conforme aponta a teoria de George Siemens. A tecnologia já domina o nosso

quotidiano e os métodos de ensino têm de se adaptar à realidade. Já todos, ou praticamente

todos, os professores passaram pela experiência de ter algum dos seus alunos distraído

com o telemóvel ou a ouvir música de forma mais ou menos discreta durante as suas

aulas. A tecnologia, a música e todas as outras dimensões fazem parte da realidade dos

nossos alunos; todavia, para que estes possam compreender e mudar o Mundo em que se

inserem precisam de ter contacto com todas as dimensões do conhecimento, para que não

se produzam novas formas de iliteracia.

40 Um projeto levado a cabo em Itália que pretende promover o diálogo entre professores e terapeutas para

chamar à atenção dos professores para a educação social e emocional através das Artes. Este projeto foi

implementado por dois terapeutas de música e um terapeuta de movimentos de dança. Foi uma iniciativa

que teve a duração de dois anos, ao longo dos quais se realizaram várias reuniões para promover reflexões

e atividades musicais para que os treze professores envolvidos no projeto pudessem aprender através da sua

própria experiência e das reflexões que faziam acompanhados pelos terapeutas.

Page 61: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

61

Ao introduzirmos a música nas escolas não pretendemos formar músicos.

Pretendemos dar aos alunos um recurso que nem sempre é valorizado e que tem todas as

potencialidades para os educar em múltiplos sentidos. De acordo com Vânia Freitas e

Graciane Petersen (2015),

«através do canto, da leitura, pode-se levar os alunos a perceberem a intenção dos

compositores ao escreverem, e assim, levar o mesmo a interpretar o que realmente está

escrito nas canções, e nas suas “entre linhas”. Para que o mesmo, possa perceber, que

muitas vezes, cantarola uma canção, sem nem mesmo pensar ou refletir sobre o que está

cantarolando. O aluno poderia assim, interpretar o que estaria ouvindo, estabelecendo

critérios e sabendo selecionar as músicas que estaria ouvindo também fora do ambiente

escolar.» (pp. 43-44)

Esta é uma forma de trabalho que potencia a formação do aluno num sentido

holístico e que visa a criação de cidadãos conscientes, capazes de refletir e interpretar o

mundo que os rodeia. Pinsky & Pinsky (2004) afirmam que os professores de História

têm um papel preponderante no que concerne a esta questão.

A História é mais do que apenas datas, nomes e acontecimentos e, portanto, os

professores desta disciplina devem educar os seus alunos para a interpretação e

compreensão das diversas situações (Seffner, 2001, p. 19). Para Pinsky «é necessário,

portanto, que o ensino de História seja revalorizado e que os professores dessa disciplina

se conscientizem de sua responsabilidade social perante os alunos, preocupando-se em

ajudá-los a compreender e – esperamos – a melhorar o mundo em que vivem» (Pinsky &

Pinsky, 2004, p. 22). Para estes autores,

«o professor perde a sua dignidade ao apresentar-se como uma espécie de cabo eleitoral

privilegiado. Privilegiado, sim, pois se aproveita da ascendência que tem sobre a turma

de alunos e, em vez de lhes dar instrumentos para decidir sozinhos, os pressiona para

que aceitem sua verdade, constrangendo, por outro lado, aqueles que, por uma razão ou

outra, não se curvam aos seus argumentos.» (Pinsky & Pinsky, 2004, pp. 27-28)

Ao professor cabe o papel de inspirar e educar para a liberdade os seus alunos,

que, antes de mais, são «um ser social, alguém que vive numa determinada época, num

determinado país ou região, oriundo de uma determinada classe social, contemporâneo

de determinados acontecimentos» (Pinsky & Pinsky, 2004, p. 28). Esta visão é partilhada

com alguns professores e educadores que fomos “conhecendo” ao longo das nossas

leituras. De todos os projetos, desenvolvidos em vários países que procuram relacionar a

Page 62: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

62

música e o contexto escolar, quatro revelaram-se especialmente atraentes, por

trabalharem com crianças e adolescentes de diversas idades, mas também, por se

inserirem em contextos socialmente desfavorecidos.

No centro educativo de El Castell (CEIP), em Albalat dels Sorells, Espanha, foi

desenvolvido um projeto de Aprendizagem Serviço, que se serve da música para educar

as crianças. Aqui foi formado um coro, apenas com alunos voluntários, que em 2016

contava com 65 elementos: 40 meninas e 25 meninos, alunos entre os 3.º e os 6.º anos do

1.º ciclo. Este projeto tem o apoio de três professores de educação primária (uma mulher

e dois homens) com mais de dez anos de experiência no ensino. Pilar Eulalia e Diana

Suelves (2016), descrevem que

«A través del Coro trabajamos la competencia de matemáticas, ya que la música son

matemáticas, la conciencia de expresión cultural, son las que más se trabaja, la

comunicación lingüística, a parte de un lenguaje musical, oral y escrito, la comunicación

gestual, aprender a aprender, la autonomía, la competencia cívica y social […]» (p. 42)

Este pensamento e os aspetos abordados pelo coro vão ao encontro daquilo que

pensamos ser particularmente útil quando recorremos à música, que é o facto de, através

de uma só atividade à primeira vista lúdica, pudermos trabalhar uma panóplia de

competências como a matemática, motricidade, linguagem, comunicação de sentimentos,

autoestima, autonomia, responsabilidade, entre outras coisas.

Um outro projeto que chamou a nossa atenção localiza-se em Belo Horizonte, no

Brasil. Em 1993, na Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor foi desenvolvida uma

atividade que consistiu na preparação de um coro pedagógico e do ensino de música a

alunos, entre os 7 e os 14 anos, que estavam em regime de internato neste espaço. O Coro

pedagógico reunia-se duas vezes por semana durante cerca de uma hora, acompanhado

por um maestro (inicialmente Andersen Viana, que idealizou o Coro, e depois Cláudio

Simões), responsável pela regência do projeto, e de Alicia Monteiro, responsável pelo

acompanhamento musical. Estas crianças e jovens eram marcados pelo abandono

familiar, violência e carência, pelo que num primeiro momento adotaram uma postura

desafiadora para com os professores sendo, por isso, necessário que fossem educados não

só nos aspetos formais das disciplinas, mas também para a vivência em sociedade. No

momento em que cumpria um ano e meio de existência, este projeto foi interrompido por

Page 63: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

63

falta de financiamento do Governo, mas não sem antes mostrar os seus frutos: as crianças

frequentavam assiduamente esta atividade, apesar da presença não ser obrigatória, e a

desconfiança e rebeldia inicial foram substituídas pela amizade e colaboração (Loureiro,

2001, pp. 15-16).

Este caso marcou-nos por demonstrar a utilização da música e de uma atividade

extra-aula como fatores motivacionais para alunos com carências familiares e sociais,

conseguindo dar-lhes uma educação que vai para além do conhecimento científico.

Consideramos que este exemplo vai ao encontro das palavras de Boaventura de Sousa

Santos, apresentadas anteriormente, quando aponta que a escola deve ser um local de

aprendizagem construída (Santos, 2007, p. 79).

Através das redes sociais, tomamos conhecimento de mais projetos que envolvem

a música e a comunidade escolar. O projeto itinerante “Musicalizando Brasil”41 pretende

levar a música às escolas brasileiras, fornecendo uma atividade que “vai além do currículo

do âmbito da escola”, passando a incluir a música, a dança, o teatro e a prática de um

instrumento musical no dia a dia das crianças e jovens. Para levarem instrumentos

musicais e as suas atividades às crianças e jovens brasileiros dependem das doações de

pessoas singulares e de empresas. Este projeto aposta no desenvolvimento da autoestima

dos jovens, desenvolver os seus dons, combater o insucesso e a indisciplina, tidos como

comportamentos normais na atualidade e perpetuados por várias músicas ouvidas

diariamente pelos jovens. O objetivo principal passa por tornar os alunos mais

concentrados, disciplinados, motivados e responsáveis dentro e fora da sala de aula.

Já em Portugal, o projeto “Música para Todos” foi notícia42 em fevereiro de 2019

devido à doação de instrumentos de orquestra a 22 alunos da Escola Básica do Cerco.

Este projeto teve início em 2010 pela mão do município do Porto e da Fundação Porto

Social, em colaboração com o Curso de Música Silva Monteiro e com os agrupamentos

de escola do Cerco do Porto e do Viso. A “Música para Todos” tem por objetivo promover

41 Disponível em: http://musicalizandobrasil.com.br, , acedido a 14/07/2019. Disponível em:

https://projetomusicalizando.blogspot.com/, acedido a 14/07/2019. 42 Disponível em: http://www.porto.pt/noticias/projeto-musica-para-todos-confirma-empenhamento-no-

processo-educativo, https://www.rtp.pt/noticias/cultura/vinte-e-dois-alunos-da-escola-do-cerco-recebem-

instrumentos-de-orquestra_v1127785, acedido a 14/07/2019. Disponível em:

https://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/interior/alunos-da-escola-basica-do-cerco-recebem-

instrumentos-musicais-10544241.html, acedido a 14/07/2019.

Page 64: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

64

o ensino da música, em regime articulado, em escolas consideradas Território Educativo

de Intervenção Prioritária (TEIP) de forma a combater o insucesso e o abandono escolar.

A atribuição dos instrumentos, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira,

«salientou a importância da música no "desenvolvimento de muitas competências", em

particular o raciocínio matemático e o trabalho de equipa, mas também no aumento da

sensibilidade e da autoestima, características que, de tão humanas, "a inteligência

artificial não vai conseguir substituir".»43. Este projeto levou à criação da Orquestra

Juvenil da Bonjóia, composta por cerca de 100 elementos, entre os 7 e os 16 anos,

oriundos de contextos diversificados (E.B.2,3 do Viso, E.B.2, 3 do Cerco, E.B.2,3 Clara

de Resende, E.B.2,3 Fontes Pereira de Melo, Colégio do Rosário, Escola Francesa e

Colégio Alemão).44 Este projeto vai além daquilo que pudemos fazer pois os alunos

aprendem efetivamente a tocar um instrumento musical, mas captou, sem dúvida, a nossa

atenção.

Já quando nos encontrávamos a finalizar este relatório, tomamos conhecimento de

um projeto que, infelizmente, já chegou ao seu fim mas que captou a nossa atenção. No

seu artigo «Aprendíamos de forma diferente. Em vez de estarmos a ouvir, fazíamos».

Aprendizagem através das artes na escola básica: um estudo de caso, Joana Louça expõe

a sua experiência enquanto espectadora no projeto “O Corpo na Escola”, no período entre

2011 e 2014.

“O Corpo na Escola” consistiu em um projeto educativo que tinha por objetivo

educar crianças provenientes de um meio socioeconómico desfavorecido (Mouraria)

através de jogos e diversas técnicas relacionadas com a produção artística, desde a dança,

à música, pintura, escultura ou fotografia. Estas sessões eram promovidas em horário

curricular e eram organizadas, em colaboração, pelos alunos, professores e artistas, que

procuravam conjugar o conteúdo lecionado nas diferentes disciplinas e dar resposta às

dificuldades sentidas pelos alunos.

Relativamente aos resultados, Joana Louça aponta que estes se fizeram sentir em

43 Disponível em: https://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/interior/alunos-da-escola-basica-do-cerco-

recebem-instrumentos-musicais-10544241.html, acedido a 14/07/2019. 44 Disponível em: http://www.cmsilvamonteiro.com/index.php/orquestra-juvenil-da-bonjoia, acedido a

14/07/2019.

Page 65: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

65

dois campos: a confiança das crianças e o seu gosto pela aprendizagem aumentaram

devido à rede de afeto e apoio por parte de todos os intervenientes no projeto; mas também

ao nível pedagógico, em que os resultados

«mostraram que as crianças aprenderam conteúdos curriculares, pedagógicos, artísticos

e sociais através do projeto. Os sentimentos positivos que as crianças associaram às

sessões ajudaram-nas a lembrar-se daquilo que tinham aprendido, melhoraram a sua

memória episódica (Lengel & Kuczala, 2010) e levantamos a possibilidade de terem

estabelecido a criação de «marcadores somáticos» (Damásio, 2011) positivos.» (Louça,

2017, p. 119).

No entanto, o projeto chegou ao fim por uma conjugação de fatores: «as duas

professoras envolvidas foram colocadas noutra escola, os artistas emigraram, a associação

artística sofreu cortes orçamentais que puseram em causa a continuação do seu

funcionamento, (…) a escola fechou e as crianças passaram a estudar numa escola muito

maior» (Louça, 2017, p. 119). “O Corpo na Escola” é um projeto com que nos

identificámos e lamentámos que tenha tido um fim tão repentino pois conjuga os vários

benefícios da educação pela arte.

Frequentemente as atividades extra-aulas são utilizadas pelos Encarregados de

Educação como forma de controlar o tempo livre dos educandos ou como forma de

melhorar o seu rendimento escolar. Contudo, as atividades extra-aulas devem ser

escolhidas pelos próprios alunos e, frequentemente, revelam-se importantes para o

desenvolvimento dos mesmos, pois permitem a consolidação de conhecimentos

adquiridos em contexto de sala de aula e o desenvolvimento de competências que não são

diretamente trabalhadas nas aulas. Estas atividades permitem ainda o desenvolvimento da

socialização, do conceito de grupo e a libertação do stress e frustrações normais nestas

faixas etárias. Particularmente no caso das atividades relacionadas com música, Chiarelli

e Barreto (2005) destacam que são atividades que vão para além do prazer relacionado

com a música, proporcionando às crianças «a oportunidade de as fazer pensar, criar, agir

e viver em sociedade» (Chiarelli & Barreto, 2005 cit. por Oliveira, 2010, p. 9).

As atividades extra-aulas são também importantes para os professores pois

permitem o convívio, a criação de laços de amizade e de confiança com os alunos, assim

como o conhecimento das capacidades das crianças e jovens num contexto que não é de

avaliação e em que se encontram mais relaxados. Pode parecer excessivo que professores

Page 66: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

66

e alunos desenvolvam laços de amizade; porém, os estudantes chegam a passar mais

tempo, diariamente, nas escolas e com os professores do que em casa com os pais. Por

isto mesmo, é essencial que existam relações de amizade para que os alunos se sintam à

vontade para expor as suas dúvidas na sala de aula sem se sentirem vulneráveis. É também

necessário que tal cumplicidade exista para que, em casos de emergência, os alunos

possam contar com um adulto responsável (para além dos pais ou dos Encarregados de

Educação) e com capacidade para intervir em situações que estejam a ser prejudiciais para

si, como por exemplo casos de bullying ou de violência no namoro, tão comuns nos dias

de hoje.

1.3. Os “Sons da História” e o Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade

Obrigatória

Em 1986, foi aprovada a Lei de Bases do Sistema Educativo (lei n.º 46/86, de 14

de outubro) para ditar as principais linhas orientadoras para a política educativa em

Portugal e que sucessivamente tem sido modificada para ir acomodando as novas

necessidades educativas, como em 2009, com a lei 85/2009, de 27 de agosto, que

aumentou a escolaridade obrigatória para 12 anos. Atualmente, o documento de

referência para a organização do sistema educativo é o Perfil dos Alunos à Saída da

Escolaridade Obrigatória, homologado pelo Despacho n.º 6478/2017, 26 de julho. Este

documento tem por objetivo contribuir para a organização e gestão do currículo através

da apresentação de estratégias, metodologias e procedimentos a adotar pelos professores

e estabelecimentos de ensino.

O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória é um documento de cariz

humanista, que visa promover uma educação inclusiva, transversal e com igualdade de

oportunidades, que possa ser aplicada em todos os contextos e em todos os percursos

escolares, de forma a formar cidadãos competentes, tolerantes para com o Outro e capazes

de responder aos desafios e às imprevisibilidades do mundo atual.

A atividade de complemento curricular que aqui descrevemos e a utilização da

Page 67: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

67

música enquanto recurso promotor da aprendizagem vão ao encontro dos princípios

defendidos pelo Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Os “Sons da

História” nasceram como uma atividade relacionada com a disciplina de História, mas

que poderia ser aplicada de modo transversal. Nesta atividade poderiam ser incluídas as

disciplinas de Português e de Línguas Estrangeiras, dado que os alunos vão interpretar

canções e, da análise da letras das mesmas, podem desenvolver exercícios de linguística

ou, no caso das línguas estrangeiras, adquirir novas expressões idiomáticas e praticar a

pronunciação; Educação Física, utilizando as músicas da atividade para desenvolver

coreografias; Geografia, a aplicar nos casos que concernem mais diretamente à

atualidade, mas também, por exemplo, no caso de músicas relacionadas com migrações;

Psicologia ou Sociologia, disciplinas onde se poderia abordar, em contexto de sala de

aula, o papel que a música tem no indivíduo e na sociedade. Por incorporar diversas áreas

curriculares, neste projeto trabalham-se, simultaneamente e de forma complementar,

várias áreas de competência como a linguagem, pensamento crítico e criativo,

relacionamento interpessoal, desenvolvimento pessoal e autonomia, sensibilidade estética

e artística, consciência e domínio do corpo.

Page 68: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

68

Capítulo 2 – A execução

Banda sonora recomendada:

I ain't worried doing me tonight

A little sweat ain't never hurt nobody

Don't just stand there on the wall

Everybody just move your body

Beyoncé, Let’s Move Your Body (2011)

Clave de Sol. A Escola

A Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves insere-se numa área

suburbana, dotada de boas infraestruturas, e serve as freguesias de Valadares (onde se

localiza), Vilar do Paraíso, Gulpilhares, Arcozelo, Mafamude, Santa Marinha, Vilar do

Andorinho e da Madalena. Por servir uma área geográfica tão vasta, a comunidade

discente reflete esta mesma realidade: os que provêm do litoral caracterizam-se por um

nível sociocultural e económico superior, enquanto os que provêm do interior,

caracterizam-se pelos baixos níveis de escolaridade e vulnerabilidade. É uma escola que

inclui, na sua oferta formativa, o 3.º ciclo do ensino básico; os cursos científico-

humanísticos de ciências e tecnologias, ciências socioeconómicas, línguas e

humanidades, e artes visuais; e os cursos profissionais, ao nível do ensino secundário, de

Análise de Laboratório, de Turismo e de Multimédia. Comum a todas as áreas,

independentemente do nível de estudos que frequentam, é a disciplina de Educação para

a Cidadania.

Esta é uma escola que dispõe de boas condições para os professores e alunos, tendo

sido intervencionada pela Parque Escolar entre 2008 e 2011. Conta com um quadro de

professores estável, sendo que a maioria pertence ao quadro de escola e uma minoria é

contratada. É também caracterizada pelo seu grande dinamismo, sendo uma escola com

contrato de autonomia. Atualmente, participa nos seguintes projetos: Erasmus +, Every

Day is Earth Day, eTwinning, eSafety – “o invisível não desaparece”, Go Clil (enquanto

Page 69: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

69

escola coordenadora e formadora de professores, sendo ainda de destacar que é a única

escola do Concelho que participa neste projeto) e Presse – Educação Sexual. De todos os

projetos consideramos importante destacar o Content and Language Integrated Learning

(conhecido pela sigla CLIL), dado que cerca de metade dos alunos que participa na

atividade “Os Sons da História” também faz parte do projeto CLIL ou fez parte de uma

turma CLIL num ano letivo anterior. Este projeto consiste numa nova abordagem em que

os alunos aprendem os diferentes conteúdos disciplinares em língua estrangeira, que no

caso da Escola Dr. Joaquim Ferreira Alves é a língua inglesa.45 Esta abordagem já foi

tema de diversos estudos46, que destacam a forma como os alunos podem adquirir e

consolidar os seus conhecimentos linguísticos, desenvolver a sua consciência

multicultural, ser motivados para o estudo das diversas disciplinas e, em último instante,

ser preparados para a sua futura integração num mercado de trabalho cada vez mais

competitivo e internacional.

O Projeto Educativo caracteriza a escola como seguidora de «uma filosofia de base

humanista, que inscreve a ação educativa como eixo transversal, com enfoque na

construção do conhecimento e no desenvolvimento identitário, numa perspetiva

colaborativa entre todos os agentes educativos, entendendo a escola como uma

comunidade reflexiva» (p. 1). Este documento define como um dos objetivos a «formação

de um cidadão de sucesso, capaz de integrar conhecimento, resolver problemas, dominar

diferentes linguagens científicas e técnicas, cuidar do seu bem-estar, ser cooperante e

autónomo, com sensibilidade estética e artística» (p. 5), objetivo alcançável através do

desenvolvimento de competências como o pensamento crítico, pensamento criativo,

relacionamento interpessoal, sensibilidade estética e artística, consciência e domínio do

corpo. Como metodologia, a Escola compromete-se a desenvolver atividades de

aprendizagem com base «em metodologias variadas, desafiadoras e diferenciadoras,

respeitando os diversos estilos de aprendizagem dos alunos» (p. 6). Por sua vez, aos

docentes é dada a responsabilidade de dinamizar «projetos/criação de atividades

45 Disponível em: http://www.centro-edu-integral.pt/projetos.44/clil.86.html, acedido a 08/01/2019. 46 Veja-se, por exemplo, a tese de doutoramento de Maria Ellison. Ellison, M. (2014). CLIL as a catalyst

for developing reflective practice in foreign language teacher education. (Tese de doutoramento, Faculdade

de Letras da Universidade do Porto).

Page 70: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

70

promotores do combate à discriminação, ao preconceito e à violência de qualquer

espécie» (p. 12). No que concerne à operacionalização destas orientações, o Plano Anual

de Atividades de História prevê a realização de diversas atividades ao longo do ano letivo,

sendo de destacar, no ano letivo de 2017-18, o dia GFA com “Os Sons da História” –

Músicas que marcaram a História; e, no ano letivo de 2018-19, a apresentação de um

excerto dos “Sons da História” aos professores do projeto ERASMUS+ presentes na

escola (outubro de 2018), a entrega de prémio aos vencedores das Olimpíadas da História

do ano letivo passado acompanhada de uma apresentação dos “Sons da História” aos

Encarregados de Educação (2.º período) e o dia GFA com a repetição da atividade “Os

sons da História” (março de 2019).

Sendo uma escola que procura formar os seus alunos seguindo uma perspetiva de

construção holística do conhecimento e onde a sensibilidade estética e artística é

valorizada, faz todo o sentido que um projeto como este tenha nascido aqui.

Dó. Em que contexto surge a atividade “Os Sons da História”?

Nos últimos anos letivos, o grupo disciplinar de História promoveu a realização de

pequenos trabalhos de investigação junto de todos os alunos, do 7.º aos 12.º anos, que

posteriormente seriam avaliados, selecionados e colocados numa pequena exposição

durante o dia GFA. No entanto, tal atividade desenvolvida anualmente, apresentava

alguns problemas: os professores começaram a constatar que os temas escolhidos pelos

alunos eram sempre os mesmos, desde as pirâmides do Antigo Egito aos monumentos

gregos e romanos, passando ainda pela história contemporânea com o atentado às torres

gémeas. Alterou-se a atividade de História, que passava a ser subordinada a um tema, por

exemplo, como no primeiro ano, “As Guerras que marcaram a História”. Ainda assim, a

falta de originalidade dos trabalhos apresentados continuava a ser um problema.

Acresciam ainda outras dificuldades:

• o facto de os trabalhos serem avaliados e selecionados levava a que uns fossem

expostos e outros não, o que era injusto para os alunos que tentavam participar,

Page 71: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

71

mas não tinham bons resultados, sendo ainda os professores de História

pressionados pelos restantes professores da escola para aceitar todos os trabalhos

submetidos, ainda que a exposição perdesse qualidade;

• de um ponto de vista de avaliação dos alunos, todos pretendiam ter a mesma

classificação, independentemente de os seus trabalhos terem sido expostos ou não,

o que se tornava injusto para os alunos com melhores trabalhos ou que

efetivamente participaram na atividade como voluntários;

• a existência de uma discrepância na participação dos alunos, sendo que alguns se

limitavam a entregar um trabalho que, por vezes nem sequer era feito por si,

enquanto outros se voluntariavam para acompanhar a exposição durante todo o

dia (e consequentemente se viam impedidos de assistir às outras atividades

promovidas na escola);

• a necessidade de montar e desmontar a exposição ocupava muito tempo aos

professores alocados à atividade;

• depois de desmontada a exposição, poucos eram os alunos que iam buscar os seus

trabalhos, gerando problemas de armazenamento dos mesmos.

Acreditando que o dia GFA depende de mostrar o que de melhor se faz na escola e

de dar aos alunos a oportunidade de aprenderem algo diferente, a professora Albertina

Viana teve a ideia de criar um espetáculo musical, pois assim daria aos alunos a hipótese

de participar ao invés de elaborar só um trabalho, como que “despejando” todas as

informações sobre um assunto numa folha de papel em branco.

De entre os recursos utilizados na sala de aula, os professores de História da Escola

Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves colocam frequentemente músicas para que

os alunos fiquem a conhecê-las, mas também aos contextos em que foram criadas, pois

consideram que a música é inseparável do contexto em que foi produzida e da mensagem

que nos transmite. É unânime a experiência dos professores da escola que, quando durante

as suas aulas, colocam uma música os alunos começavam a cantar. Simultaneamente, já

era comum que na escola fossem criados pequenos espetáculos, com música e

representação, para evocar algum acontecimento histórico. Por exemplo, no ano letivo de

2017/2018, foi recordada a tomada do Palácio de Inverno durante a Revolução Russa.

Page 72: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

72

Foi então que as professoras Albertina Viana e Júlia Rocha tiveram a ideia de criar algo

diferente: um espetáculo que pudesse efetivamente representar a História, mostrasse o

que de melhor se faz na escola e onde os alunos pudessem participar, aprender algo de

novo e consolidar os conhecimentos que adquiriam nas aulas. Juntas, a professora

Albertina e a professora Júlia levaram a ideia ao grupo disciplinar e obtiveram a

concordância dos restantes elementos. Nascem, assim, os “Sons da História”, uma viagem

através da História pelas canções mais emblemáticas que marcaram e motivaram

gerações. O plano era que cada música deveria resumir e personificar uma “era”, dando

aos espectadores a sensação de a estarem a conhecer e a viver naquele preciso momento.

Como afirmámos anteriormente, esta ideia foi algo que nos agradou muito pois

partilhamos a mesma opinião das professoras Albertina Viana e Júlia Rocha, que uma

atividade deste género deve ser útil aos alunos e não apenas um momento onde “despeja”

pseudoconhecimento e depois se vai embora. Começamos a acompanhar as reuniões de

preparação do espetáculo.

No Plano Anual de Atividades de História, a atividade “Os Sons da História” define

como objetivos:

• Incentivar o estudo da História como processo essencial ao conhecimento da

evolução humana;

• Reconhecer a Música como expressão cultural, política e social ao longo da

História (com principal destaque na Época Contemporânea);

• Fomentar o convívio com alunos de todas as áreas;

• Fomentar o convívio com alunos de outras escolas.

Estes objetivos, e particularmente o primeiro, relembram-nos as palavras de Pinsky

& Pinsky (2004), quando afirmam que «quanto mais o aluno sentir a História como algo

próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa,

distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer» (p.

28).

Page 73: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

73

O que é o dia GFA?

O Dia Geração Ferreira Alves (GFA) é o dia em que a escola se dá a conhecer e

põe em contacto com a família e a comunidade em que se insere, celebrando a vida do

patrono, Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves.

Joaquim Gomes Ferreira Alves nasceu a 9 de abril de 1883, na cidade do Porto. O

seu contexto familiar (provinha de uma família burguesa, dona do Banco Luiz Ferreira

Alves & C.ª) potenciou as suas capacidades individuais.

Ingressou na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, no curso de Medicina, que

concluiu em 1911, depois de defender a tese A Heliotherapia no tratamento da

tuberculose cirúrgica. Iniciou-se como médico na Foz do Douro e, em 1916, começou a

apoiar a Colónia Sanatorial Marítima, onde comprovou as ideias tinha formulado na sua

tese. Quer pelos seus interesses científicos, quer pelos seus interesses familiares (pois

tinha um filho que padecia de escrofulotuberculose) viajou com o arquiteto Francisco de

Oliveira Ferreira até à Suíça para visitar as clínicas do Dr. Rollier, com o objetivo de

adaptar o projeto ao caso português. Pela ação destes dois homens, nasceu o Sanatório

Marítimo do Norte, numa zona quase desabitada entre a praia de Valadares e o pinhal de

Francelos. Este hospital estava equipado com os melhores equipamentos da época, uma

enfermaria e uma escola primária, que seria frequentada pelas crianças internadas e pelas

crianças que habitavam nas redondezas das instalações.

O Sanatório Marítimo do Norte sempre foi um local em que existiam diversas

atividades para o desenvolvimento intelectual das crianças e jovens que aí se

encontravam, entre elas: o jornal “O Girassol”, editado entre 1924 e 1928, e espetáculos

infantis com o apoio da Rádio Clube Infantil.

A 10 de novembro de 1944, de forma trágica, num acidente na passagem de nível

de Francelos, morreu o Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, juntamente com Pedro

Vitorino, seu amigo e colaborador.

Para além da Escola ter o nome do seu patrono, a sua influência estava também

presente no anterior símbolo da mesma: um girassol.

Page 74: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

74

Ré. Quem são os cantores?

Quando apresentamos aos alunos esta atividade, a maioria mostrou-se disponível

para participar e a adesão foi de tal maneira expressiva que as professoras coordenadoras

se viram a braços com vários problemas: como iriam fazer a distribuição das músicas e

como iriam ensaiar tantos alunos. Feitas algumas alterações, que abordaremos de seguida,

no primeiro momento, contámos com 68 alunos, distribuídos pelos 8.º, 9.º, 10.º e 11.º

anos. Os alunos do 7.º e do 12.º anos não participam neste projeto por diferentes motivos:

no caso do 7.º ano, os alunos não mostraram interesse na atividade, e, no caso do 12.º ano,

esta ausência deve-se a uma opção tomada pelos respetivos professores, que não falaram

sobre a atividade nas turmas onde lecionavam devido à pressão dos exames e à realização

do dia GFA no mês de março, época em que se costumam realizar os testes.

Ao longo de dois anos em que se realizou, a atividade sofreu algumas alterações,

quer no seu repertório, quer no número de alunos interessados em participar na atividade.

Ao todo, o espetáculo subiu ao palco em quatro ocasiões, como iremos observar nas

páginas que se seguem.

Mi. Avanços e recuos

No início deste projeto, procurou-se conciliar a opinião de todos os docentes do

grupo de História e elaborar um espetáculo interessante e educativo para todos os

membros do público, desde os alunos das diversas áreas, professores e demais membros

da comunidade escolar.

O espetáculo idealizado contaria com momentos de dança e de canto. Do repertório

faziam parte vinte e uma músicas, sendo que os alunos iriam cantar excertos de algumas

e, noutras, interpretariam a canção completa. Conforme afirmámos anteriormente, o

objetivo da atividade era levar os espectadores e, consequentemente, os alunos do coro

numa viagem pela História através da música, porém, seria impossível fazer um

espetáculo com horas de duração. Posto isto, era necessário escolher um momento para o

Page 75: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

75

coro começar.

No plano inicial, os três primeiros momentos do espetáculo seriam protagonizados

pelo Clube de Artes Performativas. Estes seriam responsáveis por interpretar danças do

Antigo Egipto, Idade Média e do período do Absolutismo. Por sua vez, o coro seria

responsável por interpretar as seguintes músicas:

1. Hino da Independência do Brasil;

2. Coro dos Escravos Hebreus (da ópera Nabucco) de Giuseppe Verdi;

3. Ça Ira! Ça Ira!;

4. A Marselhesa;

5. Hino da Internacional (interpretado em língua portuguesa);

6. Hymno da Carta (hino de Portugal de 1834 até 1910);

7. A Portuguesa;

8. It’s a Long Way to Tipperary;

9. Il Duce;

10. Vorwärtz! Vorwärtz!;

11. Hino da Mocidade Portuguesa;

12. Le Chant des Partisans;

13. Bella Ciao;

14. Ay Carmela!;

15. San Francisco (be sure to wear flowers in your hair) de Scott McKenzie;

16. The Times They Are a Changin’ de Bob Dylan;

17. Menina dos Olhos Tristes;

18. E Depois do Adeus (ao contrário do que ocorre com outras músicas deste

repertório, a música E Depois do Adeus seria interpretada na totalidade, tendo por

isso uma importância destacada pela sua duração de cerca de três minutos);

19. Grândola, Vila Morena (à semelhança da música anterior, também esta seria

interpretada na totalidade, estando por isso destacada por lhe serem dedicados

cerca de três minutos);

20. Wind of Change da banda alemã Scorpions;

21. Heal the World de Michael Jackson (por ser a canção final e pela qual se dirige

Page 76: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

76

um apelo ao público, esta música de Michael Jackson seria interpretada na

totalidade, tendo, por isso, uma duração de cerca de cinco minutos).

O projeto inicial era idílico: tinha uma duração de quase duas horas e todos os

pontos de vista estavam incluídos, porém, tal espetáculo era impossível de realizar.

Perante esta realidade, os professores decidiram cortar partes de algumas das músicas e

suprimir outras, pelo que o espetáculo final teria cerca de 40 minutos de duração.

Nos dias que antecederam o primeiro ensaio, foi forçoso que a atividade de História

e do Clube de Artes Performativas reduzisse a sua duração com a justificação de os alunos

visitantes não terem tempo para visitar todas as atividades disponíveis. Feitos novos

cortes, foi apresentada uma contraposta à Direção informando-a de que o espetáculo teria

meia hora de duração. Inicialmente a Direção não colocou entraves à sugestão

apresentada; porém, pouco depois viria a recusá-la, impondo um limite máximo de 20

minutos, onde já deveriam estar incluídos todos os momentos de dança, canto e a narração

do apresentador.

Para levar a cabo a realização do espetáculo original, o grupo de professores decidiu

realizar um outro evento, no final do ano letivo, em que as condicionantes de tempo não

teriam efeito e onde seria concretizado o plano original. Neste espetáculo final estariam

presentes os Encarregados de Educação, demais familiares e amigos dos alunos.

Fá. Os ensaios

O primeiro ensaio

Banda sonora recomendada:

Like a virgin, hey

Touched for the very first time

Like a virgin

Madonna, Like a virgin (1984)

Conciliar os horários e interesses de tantos participantes não poderia ter sido mais

difícil. Definiu-se, então, que o grupo se deveria encontrar para três ensaios, a realizar à

quarta-feira da parte da tarde, em dois horários diferentes: às 14:15 e às 17:00. O motivo

Page 77: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

77

pelo qual se definiram dois horários foi pela impossibilidade de duas turmas de 9.º ano

estarem presentes às 14:15 porque tinham aula de apoio à disciplina de Português.

O primeiro ensaio decorreu no dia 21 de fevereiro de 2018. Este ensaio ficou

marcado pela conversa franca que existiu entre os professores responsáveis e uma das

turmas do 9.º ano. Este foi um momento necessário para saber se os alunos pretendiam

ou não continuar no projeto, dado que os mesmos fizeram saber que na semana do dia

GFA teriam quatro testes de avaliação e não poderiam estar presentes no ensaio geral (a

realizar na terça-feira à tarde que antecedia o grande dia).

Neste ensaio já se refletiram as modificações ao projeto original. O espetáculo

contava agora com vinte pontos, entre canto e dança.

Em primeiro lugar, o espectador seria levado para o Antigo Egipto com uma dança

dedicada à deusa Ísis; seguir-se-ia a Idade Média, com uma dança; e depois chegava ao

Absolutismo com uma dança ao som da música de Lully, criada para o expoente máximo

da época: Luís XIV, o Rei-Sol. O coro começaria a sua participação na história de França,

mais precisamente nos momentos que antecedem a Revolução Francesa.

Do repertório fazem agora parte as seguintes músicas:

1. Ça Ira! Ça Ira! – ouvida pela primeira vez em maio de 1790 como uma crítica ao

comportamento da Nobreza, a música Ça Ira! Ça Ira! é da autoria de Ladré, um

antigo soldado francês que ganhava a vida como cantor de rua. À medida que os

acontecimentos se iam desenrolando e a revolução mudava de rumo, esta canção

foi sendo adaptada à nova realidade.47

2. A Marselhesa – a pedido do barão Philippe-Frédéric de Dietrich, maire de

Estrasburgo, o Canto de Guerra para o Exército do Reno foi escrito em 1792 por

Claude Joseph Rouget de Lisle, um soldado e músico francês. Esta música tornou-

se o símbolo de resistência e incentivo aos soldados quando a Áustria se preparava

para a invadir a França, ameaçando as conquistas da Revolução e forçando a

restauração da Monarquia. Durante os tempos incertos da Revolução fez um

47 Disponível em: histoiredumonde.net/Ah-ca-ira.html, acedido a 10/02/2019. Silverman, J. (1993). Songs

that made History Around the World. Pacific: Melbay Publications, pp. 18-21. Disponível em:

https://books.google.pt/books?id=G7m_91aU1TYC&pg=PA43&dq=bella+ciao&hl=pt-

PT&sa=X&ved=0ahUKEwjH2-

G9sbrkAhUpBGMBHUWQC9sQ6AEIRDAD#v=onepage&q=bella%20ciao&f=false

Page 78: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

78

grande sucesso entre as unidades do exército provenientes de Marselha e, por isso,

ficou conhecida como A Marselhesa.48

3. Hino da Internacional – com letra de Eugène Pottier (datada de 1871) e com

música de Pierre De Geyter (do ano de 1888), este hino foi tocado e cantado no

congresso do Partido Operário Francês e, devido à presença de representantes de

outros países, é levado pela Europa fora, sendo traduzido para vários idiomas.

L’Internationale ficou particularmente conhecida entre 1917 e 1941 quando foi

oficializada como hino da União Soviética. Atualmente, é o símbolo de

comunistas, sociais democratas e anarquistas.49

4. A Portuguesa – o atual hino de Portugal evoca o passado glorioso da Nação e foi

inspirado na canção patriótica homónima com letra de Henrique Lopes de

Mendonça e música de Alfredo Keil. Esta marcha patriótica foi composta na noite

de 12 de janeiro de 1890, quando Alfredo Keil soube da resposta ao Ultimato

Britânico, tendo depois pedido a Lopes de Mendonça para escrever a letra. Desde

então, foi tocada em vários eventos públicos, tendo ultrapassado o contexto inicial

de contestação à humilhação sofrida e passado a incorporar também a contestação

à Coroa, por parte da população descontente. Conta-nos Rui Vieira Nery que até

o rei D. Carlos I e o Infante D. Afonso foram obrigados a escutar esta música, em

pé e de cabeça descoberta, quando se encontravam numa tourada em Sintra. O

momento mais icónico é, porém, quando os insurgentes republicanos se dirigem

à Câmara Municipal do Porto para proclamar a República, a 31 de janeiro de 1891,

entoando “contra os bretões marchar, marchar”. A partir de então seria proibida,

só sendo recuperada em 1910 com a implantação da República, que a adota como

hino nacional (Nery, 2015, pp. 102-103).

5. It’s a Long Way to Tipperary – escrita por Jack Judge e Harry Williams em 1912,

durante uma noite e devido a uma aposta. Esta música tornou-se um sucesso entre

os soldados britânicos que, animados, caminhavam para a frente de batalha em

48 Montgolfier, C. (2018). La surprenante histoire de La Marseillaise. Disponível em: lefigaro.fr/langue-

francaise/actu-des-mots/2018/07/14/37002-20180714ARTFIG00013-la-surprenante-histoire-de-la-

marseillaise.php, acedido a 10/02/2019. 49 Disponível em: britannica.com/topic/LInternationaile, acedido a 10/02/2019.

Page 79: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

79

1914.50

A entrada nos anos 20 do século XX seria feita pelo Clube de Artes Performativas

com o Charleston, e depois o coro retomaria com:

6. Il Duce – poema escrito por Carlo Zangarini e com música de Giuseppe

Pettinato.51

7. Vorwärts! Vorwärts! – dada a conhecer em 1933, com letra de Baldur von

Schirach e com música de Hans-Otto Borgmann, esta música foi o principal hino

de marcha da Juventude Hitleriana.52

8. Hino da Mocidade Portuguesa – escrito por Mário Beirão, este hino foi

apresentado em 1937 na Revista da Mocidade Portuguesa (Nunes, 1995).

9. Ay Carmela! (também conhecida por El Ejército del Ebro) – esta música foi

primeiro utilizada para incentivar as tropas espanholas contra o exército invasor

de Napoleão e, posteriormente, foi recuperada durante a Guerra Civil espanhola

para levantar a moral dos combatentes republicanos que lutavam aos apoiantes

fascistas de Franco.53

10. Le chant des Partisans – este hino da resistência francesa à ocupação nazi foi

composto em dois momentos: em 1941, em russo, por Anna Marly, inspirada

numa música da Guerra Civil russa; e em 1943, quando Joseph Kessel e Maurice

Druon, tio e sobrinho (que deixaram a França e se mudaram para Inglaterra para

se juntarem às Forças Francesas Livres), traduzem a letra para francês. Esta

canção foi interpretada pela primeira vez por Anna Marly, na rádio britânica BBC,

a 17 de maio de 1943, e adotada pelos Marquis, grupos da resistência francesa.54

50 Disponível em: bbc.com/news7uk-england-25238656, acedido a 10/02/2019. 51 Disponível em: imparareconlastoria.blogspot.com/p/il-fascismo-e-le-sue-canzoni-una.html, acedido a

01/09/2019. 52 Peterson, P. S. (2014). Folk Songs, Youth, and Propaganda: Music of the Third Reich. Disponível em:

core.ac.uk/download/pdf/62427129.pdf, acedido a 01/09/2019. 53 La Guerra Civil Española. Canciones republicanas. Disponível em:

http://centros1.pntic.mec.es/ies.maria.moliner3/guerra/c_rep.htm. 54 Le Chant des Partisans. Disponível em: https://www.franceinter.fr/emissions/la-marche-de-l-

histoire/la-marche-de-l-histoire-30-octobre-2017. Silverman, J. (1993). Songs that made History Around

the World. Pacific: Melbay Publications, pp. 24-25. Disponível em:

https://books.google.pt/books?id=G7m_91aU1TYC&pg=PA43&dq=bella+ciao&hl=pt-

PT&sa=X&ved=0ahUKEwjH2-

G9sbrkAhUpBGMBHUWQC9sQ6AEIRDAD#v=onepage&q=bella%20ciao&f=false

Page 80: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

80

11. Bella Ciao – a origem desta música é discutível, no entanto são vários os

historiadores que defendem que nasceu, provavelmente, no final do século XIX

como canto de trabalho das trabalhadoras das plantações de arroz da planície de

Padana, vindas de Emilia Romagna e do Veneto. O certo é que a melodia foi

adaptada, por um autor desconhecido, e utilizada pela resistência italiana contra o

Fascismo na Segunda Guerra Mundial, sendo, ainda hoje, um símbolo da luta pela

liberdade e contra o fascismo.55

12. Menina dos Olhos Tristes – em 1961, inicia-se a Guerra Colonial na África

portuguesa. Milhares são os soldados portugueses enviados para combater nas

colónias e milhares jamais regressariam a casa. Falar abertamente sobre este

conflito era algo praticamente impossível devido à ação da censura, mas a

existência de músicas como Menina dos Olhos Tristes representa o desalento que

se vivia em território nacional e personifica um sentimento visto como

exclusivamente português: a Saudade.56

13. E Depois do Adeus – ao contrário do que se previa na ideia inicial, esta música

veria a sua “importância” diminuída depois de se ter tomado a decisão de

interpretar apenas um excerto por questões de gestão de tempo. Para os

Portugueses, a música E Depois do Adeus está carregada de simbolismo político,

pois dado que foi escolhida para primeira senha da Revolução dos Cravos. Para

os militares, esta era uma música em voga na época (pela voz de Paulo de

Carvalho representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção) e, por isso,

poderia passar facilmente despercebida aos olhos dos censores (Raposo, 2007).

14. Grândola, Vila Morena – repleta de crítica política, Grândola Vila Morena,

cantada por Zeca Afonso, passa na Rádio Renascença às 00:28 do dia 25 de abril

e assegura o início da Revolução dos Cravos, levando os militares de todo o País

a sair às ruas. Esta senha, de acordo com José Jorge Letria, foi escolhida no dia

55 Silverman, J. (1993). Songs that made History Around the World. Pacific: Melbay Publications, pp. 42-

43. Disponível em:

https://books.google.pt/books?id=G7m_91aU1TYC&pg=PA43&dq=bella+ciao&hl=pt-

PT&sa=X&ved=0ahUKEwjH2-

G9sbrkAhUpBGMBHUWQC9sQ6AEIRDAD#v=onepage&q=bella%20ciao&f=false. 56 “Canções da Guerra”. “Menina dos olhos tristes”. Disponível em:

https://www.rtp.pt/play/p1954/e206399/cancoes-de-guerra, acedido a 01/09/2019.

Page 81: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

81

29 de março de 1974 aquando de um espetáculo no Coliseu dos Recreios devido

ao I Encontro da Canção Portuguesa. Reunidas pela primeira vez as principais

vozes da contestação ao regime, este espetáculo foi alvo de especial atenção por

parte da censura e da PIDE, que censurou total ou parcialmente a letras de muitas

das canções que seriam entoadas. Quando Zeca Afonso sobe ao palco, a união e

descontentamento generalizados foram demonstrados. O público levanta-se e

canta com ele a canção Grândola, Vila Morena “ombro a ombro” (Raposo, 2007,

p. 130; Côrte-Real, 1996, p. 156). À semelhança da música anterior, também

estava inicialmente previsto que seria interpretada na íntegra; porém, por uma

questão de gestão de tempo seria interpretado apenas um excerto.

15. Wind of Change – lançada em 1991 pela banda alemã Scorpions, esta música foi

inspirada pelos “ventos de mudança” que sopravam na Europa depois da queda

do muro de Berlim em 1989, fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

em 1991 e, consequentemente, do final do clima de Guerra Fria que o Mundo

vivia desde 1945.57

16. Heal the World – da autoria de Michael Jackson, esta música, lançada a 23 de

novembro de 1992, expõe problemas que ainda hoje são atuais.58 Todos

deveremos lutar contra os desafios que o Mundo enfrenta sob pena de amanhã não

termos lugar onde viver.

Ao longo de todo o tempo em que decorreram os ensaios, os alunos mostraram-se

entusiasmados, mas também envergonhados por estarem a cantar, pelo que quiseram ficar

sentados nos lugares da audiência e não de pé no palco.

Revelaram também algumas dificuldades ao cantar em francês e em alemão,

57 Bienstock, R. (2015). Scorpions ‘Wind of Change’: The Oral History of 1990’s Epic Power Ballad.

Disponível em: https://www.rollingstone.com/music/music-news/scorpions-wind-of-change-the-oral-

history-of-1990s-epic-power-ballad-63069/. 58 Allard, F., & Lecocq, R. (s.d.). Michael Jackson: All the songs. The Story Behind Every Track. Disponível

em:

https://books.google.pt/books?id=4qJfDwAAQBAJ&pg=PT576&lpg=PT576&dq=heal+the+world+mich

ael+jackson+co+producer&source=bl&ots=4VmU5HMedj&sig=ACfU3U3BP-

2BgLN03j3joMDb7SoDxAP1hA&hl=pt-

PT&sa=X&ved=2ahUKEwi0ubjat7rkAhVGDWMBHWtEAUk4ChDoATAGegQICRAB#v=onepage&q

&f=false.

Page 82: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

82

idiomas que não dominam; e um especial entusiasmo quando cantavam A Portuguesa,

momento em que alguns se levantaram e colocaram a mão no peito, e as músicas Wind of

Change e Heal the World, que fazem parte do repertório pessoal da maioria. Foi,

precisamente, este comportamento dos alunos que levantou algumas questões aos

professores. Deveriam os alunos fazer gestos, com uma intenção política, quando

interpretavam algumas das canções, como é o caso do Hino da Juventude Hitleriana ou

do hino A Portuguesa? Poderiam movimentar-se como que dançando na música Heal the

World? Depois de refletir sobre o assunto em grupo, os professores decidiram que o coro

deveria permanecer sempre com uma expressão serena, sem gestos políticos e sem se

movimentar, com o objetivo de ter um aspeto mais coeso e sem ferir suscetibilidades.

No que concerne ao dress code, definiu-se que, no dia do evento, os alunos dever-

se-iam apresentar de calças de ganga e camisola preta ou, no caso das meninas, de vestido

ou saia pretos, se assim o pretendessem. Com a criação de um código de vestuário

pretendia-se que o coro se apresentasse uniforme. Optou-se pela cor preta invés das

camisolas da escola, que os alunos têm à sua disposição e utilizam nas aulas de Educação

Física, pois estas são verdes e seria demasiado forte de um ponto de vista visual. O

elemento que identificaria a Escola seria a capa de cor verde, onde os alunos do coro

teriam as letras das músicas e que poderiam utilizar caso necessitassem.

O segundo ensaio

Banda sonora recomendada:

E saio agora!

E vou correndo!

E vou-me embora!

E vou correndo!

Já não demora!

Xutos & Pontapés, Para ti Maria! (1988)

O segundo ensaio decorreu no dia 28 de fevereiro e registaram-se algumas

alterações. Estas devem-se principalmente ao número de elementos que compõem o coro

com a entrada de alguns alunos que, inicialmente não estavam interessados em participar,

mas que, depois de ouvirem os colegas falar sobre os ensaios, quiseram juntar-se ao

Page 83: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

83

grupo.

Outra alteração deve-se a uma das músicas que compõe o repertório do espetáculo.

Desde o início que os professores coordenadores tiveram dificuldade em chegar a acordo

sobre a inclusão do Hino da Juventude Hitleriana, pois estariam presentes no público

professores e alunos de outras escolas, e poderiam não compreender a inclusão deste hino

no espetáculo, interpretando-o como uma ovação ao regime de Hitler. Acrescendo a este

motivo, de acordo com o Código Penal Português, é considerado crime

«1 – Quem:

a) Fundar ou constituir organização ou desenvolver atividades de propaganda

organizada que incitem à discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoa ou grupo

de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, religião, sexo,

orientação sexual ou identidade de género, ou que a encorajem; ou

b) Participar na organização ou nas actividades referidas na alínea anterior ou lhes

prestar assistência, incluindo o seu financiamento; é punido com pena de prisão de um

a oito anos.

2 - Quem, publicamente, por qualquer meio destinado à divulgação, nomeadamente

através da apologia, negação ou banalização grosseira de crimes de genocídio, guerra

ou contra a paz e a humanidade.» (Código Penal Português, artigo 240.º Discriminação

e incitamento ao ódio e à violência. Disponível em: www.codigopenal.pt)

Apesar de não se fazer apologia ao nazismo, fascismo italiano ou Estado Novo, o

receio de serem mal interpretados juntamente com a dificuldade dos alunos para cantar

em língua alemã, levou a que fosse tomada a decisão de omitir o hino de marcha da

juventude hitleriana do espetáculo “Sons da História”. Convém, ainda, salientar, que

todos os professores responsáveis pelo projeto afirmaram que, em contexto de sala de

aula, quando abordam os aspetos ligados ao regime nazi, utilizam o Vorwärtz! Vorwärtz!

como recurso áudio.

O ambiente foi pautado pelo entusiasmo dos alunos, algumas vezes exacerbado, o

que dificultou o trabalho, pois conversavam com os colegas todos e estavam distraídos,

não aproveitando o tempo para realmente ensaiar. Neste dia o foco foi o combate das

falhas que os alunos tinham quando cantavam em francês.

À saída do ensaio, os sentimentos todos os elementos do grupo oscilavam entre o

entusiasmo de fazer algo diferente e o receio de não estarem preparados.

Page 84: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

84

Sol. It’s show time: o dia GFA 2018

A 7 de março de 2018 a atividade “Sons da História” sobe ao palco pela primeira

vez. Apesar de mantermos a inspiração original, o espetáculo inclui agora quatro

momentos de dança e dezasseis canções, que se mantêm desde o segundo ensaio.

A primeira sessão realizou-se à 10:15 e teve 30 minutos de duração. Na assistência

encontravam-se professores e alunos da escola Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves. A

reação do público à primeira sessão foi muito positiva, com o coro e o Clube de Artes

Performativas a serem aplaudidos sempre que terminavam cada ponto do repertório, o

que motivou os alunos para o espetáculo que se seguiria. De um ponto de vista técnico, a

atuação dos alunos esteve ao mesmo nível dos ensaios, estando alguns distraídos com os

colegas no início e, possivelmente devido ao nervosismo inicial, com algumas

dificuldades em interpretar músicas como a Ça Ira!. Um dos comentários do público

escutados na gravação desta sessão merece um especial destaque. Depois de apresentadas

as músicas Le Chant des Partisans e Bella Ciao, uma aluna não identificada afirma “Bella

Ciao? Essa é a música da Casa de Papel”. Comentários como este são a base da nossa

opinião de que é necessário educar as crianças e jovens para o que os rodeia. Tal como

afirmamos na introdução deste relatório, a série “La Casa de Papel”, exibida pela Netflix,

foi um sucesso no verão de 2018, sendo a música Bella Ciao uma das que compõe a sua

banda sonora.

A segunda sessão começou às 12:15 e, à semelhança da anterior, teve na audiência

os professores e demais alunos da escola. O estado de espírito dos participantes na

atividade era muito positivo depois da receção que tiveram às 10:15, tendo dado o seu

melhor para a repetição do espetáculo. Estes efeitos fizeram-se sentir, principalmente nas

músicas em língua francesa, que foram interpretadas com mais sentimento e corretamente

do ponto de vista linguístico. Por sua vez, a crítica ao espetáculo foi muito positiva com

os professores e colegas a congratularem os elementos do coro e do Clube de Artes

Performativas.

A terceira sessão realizou-se já depois de almoço, pelas 15 horas. Na audiência

encontravam-se professores e alunos de escolas próximas, que não iremos nomear por

Page 85: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

85

uma questão de privacidade. Ao contrário do que ocorreu com as duas primeiras sessões,

registaram-se agora algumas alterações na composição do coro, que contou com menos

cinco alunos, chamados a participar noutras atividades que estavam a decorrer. Apesar de

ter sido uma sessão com um auditório mais ruidoso do que as antecessoras, a receção do

público ao espetáculo foi positiva e os alunos foram aplaudidos.

No intervalo entre a terceira e a última sessões do espetáculo imperava a boa

disposição e diversão no auditório da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira

Alves, com alguns dos alunos do coro e do Clube de Artes Performativas a preferirem

ficar neste espaço, na companhia dos professores. Divertidos, os alunos aproveitaram a

oportunidade para descontrair e ocupar o sistema de som, colocando músicas do seu

agrado, desde música popular portuguesa até às músicas mais em voga para fazer a festa.

A quarta e última sessão teve início às 16 horas e deixou um gosto amargo na boca

dos alunos que tanto se esforçaram para apresentar os “Sons da História”. Motivados

pelas críticas que foram recebendo ao longo do dia, os alunos subiram ao palco pela

última vez perante uma plateia composta por professores e alunos das escolas A e B. O

início do espetáculo decorreu de forma tranquila e ao nível dos espetáculos anteriores,

apesar do cansaço que os alunos começavam a demonstrar. Porém, a meio do mesmo,

assistiu-se à saída, ruidosa, de cerca de 20 alunos, acompanhados dos seus professores, o

que desmotivou o coro e revoltou os professores coordenadores da atividade devido à

falta de respeito demonstrada. De forma profissional, os alunos levaram o espetáculo até

ao fim, sendo posteriormente aplaudidos pelos elementos do público que restavam.

Terminado o dia, os alunos despediram-se, esquecendo as críticas positivas que

obtiveram e destacando o triste episódio que ocorreu na última sessão. No rescaldo, os

alunos participantes salientaram que se divertiram e que apreciaram a experiência que

tiveram. Experiência que ainda seria para repetir em pelo menos mais um espetáculo…

Lá. Receção aos professores no contexto do projeto ERASMUS+

No ano letivo 2018/19, o espetáculo “Sons da História” voltou a subir ao palco para

receber, na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, os professores

Page 86: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

86

participantes no projeto ERASMUS+ provenientes da Grécia, Roménia e Itália. Esta

atividade decorreu no dia 24 de outubro de 2018, pelas 16 horas, depois de uma

conferência. No Plano Anual de Atividades de História, afirma-se que os objetivos deste

evento são:

• Divulgar as atividades da Escola;

• Entender a importância do conhecimento histórico para o entendimento da

Europa de hoje;

• Comunicar em língua estrangeira.

Depois da experiência do ano letivo anteriores, as professoras coordenadoras

decidiram efetuar algumas alterações, tendo em conta os aspetos a melhorar que tinham

detetado anteriormente.

Em primeiro lugar, o repertório dos “Sons da História” foi reduzido para dez

momentos, onde estão incluídas duas danças e treze canções. No que concerne às canções,

a principal modificação é a inclusão do hino de marcha da Juventude Hitleriana, que

motivou acesas trocas de opiniões durante todo o planeamento da atividade e que acabou

por ser excluída do repertório nas vésperas do espetáculo subir ao palco pela primeira

vez. Esta alteração deve-se ao facto de os professores coordenadores da atividade

considerarem que os membros do público tinham outra visão da História e seriam capazes

de compreender o motivo que levava os alunos a retratar um período tão tabu.

Relativamente aos alunos participantes verifica-se uma redução de 68 alunos para

53 devido ao abandono da atividade por parte dos alunos de 9.º ano que, entretanto,

transitaram para o 10.º ano e ingressaram em várias áreas. Por esta razão, os professores

coordenadores consideraram que não seria possível conciliar os seus horários com os

novos ensaios e optaram por não os abordar com a proposta de voltarem a tomar parte da

atividade. Como não era a primeira vez que se realizava esta atividade, ficou marcado

apenas um ensaio geral para o dia 17 de outubro de 2018.

Os “Sons da História” focam-se agora no período pós-Primeira Guerra Mundial.

Do espetáculo fazem parte os seguintes momentos:

• Charleston (protagonizado pelo Clube de Artes Performativas);

• Il Duce;

Page 87: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

87

• Vorwärtz! Vorwärtz!;

• Hino da Mocidade Portuguesa;

• Ay Carmela;

• Le chant des partisans;

• Bella ciao;

• Jailhouse rock de Elvis Presley (protagonizado pelo Clube de Artes

Performativas);

• San Francisco (be sure to wear flowers in your hair) de Scott McKenzie;

• Menina dos olhos tristes;

• E depois do Adeus;

• Grândola Vila Morena;

• Russians de String (interpretada pelo coro e acompanhada de dança,

protagonizada por duas meninas membros do Clube de Artes Performativas);

• Wind of change (tal como a música anterior, é interpretada pelo coro e

acompanhada por dança);

• Heal the World (nesta última canção, o público é convidado a juntar-se ao

coro, a cantar, e as restantes estrofes são interpretadas a solo por duas alunas).

No dia 24 de outubro, à hora marcada, os “Sons da História” iniciam-se perante um

auditório bem composto por professores estrangeiros, professores da escola e dos

elementos da Direção da Escola Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves. O espetáculo

decorreu sem percalços, sendo que os alunos participantes estiveram à altura do desafio

que lhes foi colocado, particularmente animados por verem a canção Vorwärtz! Vorwärtz!

a ser incluída, e deixaram os elementos do público impressionados com o seu empenho.

Depois deste espetáculo uma aluna, que criticou as mudanças que foram feitas

como a decisão de acompanhar mais músicas com danças protagonizadas pelo Clube de

Artes Performativas, decidiu abandonar a atividade e já não participou no dia GFA em

março de 2019 nem na apresentação aos Encarregados de Educação.

Page 88: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

88

Si. Oops… I did it again! O dia GFA 2019

A 20 de fevereiro de 2019, o espetáculo “Sons da História” sobe pela penúltima

vez ao palco, mas, para lá chegar, foram feitas mais algumas alterações…

Ensaios e alterações

Uma vez que neste ano letivo, já se tinha realizado um espetáculo dos “Sons da

História” no ano letivo 2018/2019, e a maioria dos alunos participantes já não era

estreante nesta atividade, os professores coordenadores decidiram-se pela realização de

apenas um ensaio geral no dia 19 de fevereiro, véspera do dia GFA, pelas 15 horas. Neste

dia estiveram presentes 52 alunos preparados para iniciar o trabalho que os esperava.

Apesar da raiz do repertório ser a mesma do espetáculo apresentado em outubro de

2018 foram feitas algumas alterações. No dia GFA de 2019, serão levadas a palco as

seguintes músicas:

1. Hino da Internacional;

2. A Portuguesa (interpretada, pela primeira vez na atividade, na totalidade);

3. It’s a long way to Tipperary;

4. Charleston (contrastando com os espetáculos anteriores, iniciados com

momentos de destaque para o Clube de Artes Performativas através da dança,

neste ano letivo, apenas sobem ao palco pela primeira vez no quarto momento

do evento, para representar os “loucos anos 20”);

5. Ay Carmela;

6. Le chant des partisans;

7. Bella ciao;

8. Jailhouse rock (protagonizado pelo Clube de Artes Performativas);

9. San Francisco (be sure to wear flowers in your hair);

10. Menina dos Olhos Tristes;

11. E depois do Adeus;

Page 89: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

89

12. Grândola Vila Morena;

13. Russians;

14. Wind of Change;

15. Heal the World.

A principal diferença entre este espetáculo e os anteriores, no que concerne à

composição do repertório, deve-se com a total ausência das canções que representavam a

Juventude Fascista, Juventude Hitleriana e Mocidade Portuguesa. A inclusão ou exclusão

destas músicas sempre deu azo a debates e divergência de opiniões entre os vários

professores do grupo de História da escola, conforme já abordamos em páginas anteriores

deste relatório. Durante a reunião de preparação da atividade para o ano 2019 surgiu

novamente a questão da marcha da Juventude Hitleriana e, depois de refletirem sobre o

assunto, as coordenadoras da atividade optaram por retirar, não só, a música em questão,

mas também, as da Juventude Fascista e da Mocidade Portuguesa. Esta decisão deve-se

ao facto de pretenderem que os espectadores não tenham uma sensação de omissão,

exclusiva, de menções ao regime nazi como se de uma “limpeza” da História se tratasse.

O subir da cortina

Os “Sons da História” subiram ao palco pelas 14:30 e pelas 16 horas, perante os

alunos de escolas próximas. O espetáculo contou com 52 alunos, o mesmo número que já

tinha estado presente no ensaio. Neste dia GFA não foi possível realizar o espetáculo nos

mesmos moldes do ano letivo anterior devido à ocupação do auditório principal com outra

atividade durante a parte da manhã, pelo que foi tomada a decisão de desenvolver a

atividade apenas durante a tarde.

Apesar de os alunos se encontrarem entusiasmados, notava-se algum desalento em

relação às alterações que o projeto sofreu…

Em primeiro lugar, os alunos ressentiram-se por não ter sido possível promover a

atividade durante a manhã, pelo que os seus colegas não puderam assistir ao espetáculo e

apoiá-los. Isto deveu-se ao facto de o auditório estar ocupado com uma apresentação das

Universidades para os alunos finalistas e não ser possível realizar o espetáculo “Sons da

Page 90: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

90

História” em mais nenhuma sala devido à falta dos equipamentos de som e de condições

para a plateia.

Em segundo lugar, na opinião dos alunos, deveriam ter sido incluídas as três

músicas referentes ao Fascismo, Nazismo e Estado Novo, por fazerem parte da História

e serem, por isso, inegáveis. Apesar de estes regimes terem imposto um clima de violência

e repressão nos respetivos países onde vigoraram, para os alunos de História, esta é uma

realidade que faz parte do Passado e que, por isso, constitui um elemento de estudo e de

aprendizagem para o Futuro. Para além destes fatores, a verdade é que os alunos gostavam

particularmente das melodias destas músicas e passaram muitas horas a ensaiá-las, pelo

que sentiram que o seu esforço foi desvalorizado.

Por último, alguns dos alunos também se ressentiram devido ao protagonismo dado

a alguns colegas, que passaram a ser responsáveis por momentos a solo em algumas das

músicas, como é o caso de It’s a long way to Tipperary e, no final do espetáculo, Heal

the World. Esta seleção não se deveu a nenhum processo em específico e alguns

elementos sentiram-se prejudicados, uma vez que não lhes foi apresentada nenhuma

justificação para que, neste momento, se optasse por partes a solo.

Este ambiente refletiu-se na prestação dos alunos, que se apresentaram mais

apáticos, não tendo alcançado a mesma prestação que nos espetáculos anteriores. Por sua

vez, o Clube de Artes Performativas contou com mais elementos em palco e mais

momentos em que puderam mostrar o seu talento; porém, também não se destacaram

como tinham feito em momentos anteriores, mostrando-se, até mesmo, descoordenados.

Em suma, o espetáculo manteve a sua qualidade, embora num nível inferior, assim como

começou a sobressair o desinteresse dos alunos face à atividade. Por outro lado, a reação

do público manteve-se extremamente positiva e demonstraram apreciar sinceramente os

“Sons da História”.

Dó. The last time…

Desde o primeiro momento que a ideia deste projeto era elaborar um espetáculo que

pudesse ser apresentado a todos os elementos da comunidade escolar: alunos, professores

Page 91: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

91

e auxiliares de ação educativa. Pretendíamos, também, apresentá-lo aos Encarregados de

Educação, familiares e amigos dos alunos que participavam, pelo que, pelas

condicionantes exploradas anteriormente, sentimos que falhámos o nosso objetivo no ano

letivo passado.

Quando se começou a preparar o espetáculo para o dia GFA do ano letivo 2018/19,

pensou-se em ir ao encontro da ideia original, ou seja, realizar um espetáculo ao fim da

tarde (por volta das 18h30) em que pudessem estar presentes os Encarregados de

Educação e, simultaneamente, entregar os prémios aos alunos que tinham vencido, nas

diversas categorias, as Olimpíadas da História, realizadas no ano letivo anterior.

Esta atividade estava inicialmente prevista, no Plano Anual de Atividades, para o

mês de dezembro; porém, devido a conflitos de agenda, só se viria a realizar em fevereiro.

Ainda no Plano Anual de Atividades, tinham-lhe sido atribuídos os seguintes objetivos:

• Incentivar o estudo da História como processo essencial ao conhecimento da

evolução humana;

• Fomentar o convívio;

• Desenvolver a partilha de conhecimentos e o espírito de equipa.

Num primeiro momento, planeou-se realizar a cerimónia de entrega de prémios e o

espetáculo a 20 de fevereiro, ou seja, no dia GFA, mas por uma questão de logística

(ocupação do auditório principal da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves

com uma reunião), a atividade foi adiada para o dia seguinte, 21 de fevereiro.

A 21 de fevereiro de 2019, o espetáculo “Sons da História” sobe, pela última vez,

ao palco, às 18h30, contando com 52 alunos e perante uma assistência mais reduzida do

que esperávamos inicialmente.

Apesar de se manterem as alterações feitas para a apresentação no dia GFA, os

alunos do coro encontravam-se extraordinariamente entusiasmados por poderem mostrar

à sua família, os frutos do seu trabalho. Também nas coordenadoras da atividade se via

um gosto especial por terem desenvolvido este evento e terem tido a oportunidade de a

mostrarem aos Encarregados de Educação, sendo que meses depois, ainda falam deste

evento com um certo brilho nos olhos. Arriscaríamos a afirmar que este foi o melhor

espetáculo de todos, os alunos já se mostram completamente afinados e à vontade com as

Page 92: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

92

músicas, provavelmente também motivados pela audiência especial que tinham.

Page 93: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

93

Capítulo 3 – A receção

Banda sonora recomendada:

Curtains finally closin'

That was quite a show

Very entertaining

But it's over now

Go on and take a bow

Rihanna, Take a Bow (2008)

Um espetáculo como este implica a participação de uma elevada quantidade de

pessoas e, por isso, considerámos necessário auscultar a opinião de todos eles sobre o

impacto que esta atividade teve.

Os inquéritos realizados tinham como alvo os alunos que participaram no coro e os

Encarregados de Educação que se deslocaram à escola para assistir ao espetáculo “Os

Sons da História”. No total, foram elaborados dois inquéritos diferentes pois eram

destinados a públicos distintos e, por isso, possuíamos diferentes objetivos para cada um.

Os questionários foram realizados em papel, por ser a forma mais simples de

garantir todas as respostas num curto espaço de tempo. No entanto, apresentar os

inquéritos desta forma possui também uma desvantagem: é impossível “obrigar” os

inquiridos a responder a todas as questões.

Relativamente ao design, foi escolhido de forma a ser simples para não constituir

um fator de distração para os inquiridos. Estes inquéritos foram entregues no dia 20 de

fevereiro de 2019, aquando do último espetáculo dos “Sons da História”. O motivo pelo

qual decidimos avaliar o evento apenas nesta data prende-se com um dos objetivos iniciais

deste estudo: o de compreender de que forma este género de atividades influencia,

também, os Encarregados de Educação.

Nos dois inquéritos procurou-se colocar as questões de forma clara, sintética e com

uma linguagem acessível; todavia, para detetar possíveis dificuldades de compreensão

por parte dos inquiridos, optámos por fazer um pré-teste com um grupo de cinco pessoas,

Page 94: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

94

externas à escola. Neste pré-teste não foram detetadas falhas.

Em comum, os inquéritos tinham o texto inicial onde se explicitava que tinham sido

elaborados no âmbito da unidade curricular de Introdução à Prática Profissional do

Mestrado de Ensino de História no 3.º ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário, mais

especificamente como componente de avaliação do presente relatório de estágio. A todos

os inquiridos era ainda garantido o seu anonimato e que não existiam respostas certas ou

erradas, apenas buscávamos a opinião pessoal de cada um sobre o evento. Também as

primeiras duas questões são comuns aos dois inquéritos: trata-se do sexo e da idade dos

inquiridos. Para Bell, a idade é uma questão sensível no que concerne a inquéritos (Bell,

2004, p. 125), porém, consideramos que seria importante conhecermos essa variável para

constatarmos se existiriam diferenças significativas no posicionamento dos alunos e dos

Encarregados de Educação em relação a este género de atividades, dependendo das várias

faixas etárias.

Obtidas as respostas aos inquéritos, procedemos à análise das mesmas através do

software de análise estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).

Inquérito aos alunos participantes

Objetivos do inquérito

O primeiro passo foi definir claramente os objetivos que tínhamos para o inquérito

a colocar aos alunos que participaram na atividade. Estes são:

1. Averiguar por que motivo os alunos se inscreveram neste projeto;

2. Perceber se consideram se este tipo de atividades aumenta os seus

conhecimentos sobre História;

3. Compreender se, através deste género de atividades, conseguem relacionar

mais facilmente os conceitos aprendidos nas aulas sobre o Passado com os

acontecimentos do Presente;

4. Entender se, com esta atividade, viram aumentar o seu interesse na

disciplina de História;

Page 95: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

95

5. Verificar se a atividade “Sons da História” foi ao encontro das suas

expectativas;

6. Averiguar se voltariam a participar numa atividade destas e porquê.

Composição do inquérito

O inquérito elaborado é composto por nove questões: quatro de resposta aberta e

cinco de resposta fechada. As três primeiras questões, não numeradas, correspondem à

caracterização do indivíduo (sexo, idade e ano que frequenta). Relativamente ao género

são fornecidas duas alternativas de resposta: “feminino” ou “masculino”. Porém,

relativamente à idade e ao ano que o aluno frequenta, a resposta é aberta.

A primeira pergunta “Por que motivo te inscreveste na atividade “Sons da

História?” vai ao encontro do primeiro objetivo que tínhamos definido. Esta é de resposta

aberta, dando espaço aos alunos para exprimirem os seus motivos.

A segunda questão “Consideras que esta atividade te ajudou a…” encontra-se

dividida em dois tópicos e é de resposta fechada, sendo as alternativas de resposta “sim”

ou “não”. O ponto 2.1. “a aumentar os teus conhecimentos sobre História?” corresponde

ao segundo objetivo que estabelecemos. Por sua vez, o ponto 2.2. “relacionar mais

facilmente os acontecimentos do passado com o que acontece no presente” corresponde

ao objetivo “Compreender se, através deste género de atividades, conseguem relacionar

mais facilmente os conceitos aprendidos nas aulas sobre o Passado com os

acontecimentos do Presente”.

A terceira questão “A participação neste género de atividades aumenta o teu

interesse pela disciplina de História?” corresponde ao quarto objetivo “Entender se, com

esta atividade, viram aumentar o seu interesse na disciplina de História”. Esta foi uma

questão de resposta fechada, sendo as alternativas “sim” ou “não”.

À semelhança da questão anterior, as alternativas de resposta à quarta pergunta “A

atividade “Sons da História” foi ao encontro das tuas expectativas?” foram “sim” ou

“não”. Esta questão corresponde ao objetivo “Verificar se a atividade “Sons da História”

foi ao encontro das suas expectativas”.

Page 96: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

96

E a última e quinta questão “Voltarias a participar nesta atividade? Justifica a tua

resposta.” corresponde ao sexto objetivo. Nesta questão optámos por uma resposta aberta,

pois pretendíamos auscultar a verdadeira opinião dos alunos sobre a atividade e sobre os

motivos que os levariam a participar na mesma.

Análise dos resultados

No total, obtivemos 51 respostas ao questionário, sendo que um aluno entregou o

seu questionário por preencher e, por isso, não foi possível contabilizar a sua participação

no projeto e a sua opinião sobre o mesmo (52 respostas, uma nula). No momento em que

recebemos os questionários e, para manter o anonimato dos alunos participantes,

atribuímos ao inquérito um código composto por um número aleatório entre 1 e 52 (o

total de inquéritos que dispúnhamos).

A partir deste momento, referimo-nos a cada questionário como unidade de

contexto (UC) e pelo seu código de identificação.

No que concerne à caracterização dos indivíduos que participaram neste projeto,

verificamos que 18 elementos são do sexo masculino (35,3%) e 33 elementos são do sexo

feminino (64,7%) (Anexo 8). Os alunos têm, em média, 16 anos, sendo que o mais novo

tem 12 anos e o mais velho 19 anos (Anexo 9). A maioria do grupo frequenta, este ano

letivo, o 11.º ano de escolaridade, seguindo-se os alunos que frequentam o 12.º ano

(Anexo 10). Estes resultados não foram surpreendentes para nós dado que fomos

verificando que a maioria dos alunos envolvidos nos “Sons da História” pertencia às

turmas onde lecionam as professoras Albertina Viana e Júlia Rocha, coordenadoras do

projeto. Também não foi surpreendente o facto de os 8.º e o 10.º anos não estarem

representados neste projeto devido ao facto de os professores responsáveis pela disciplina

de História não lhes terem comunicado a realização da atividade.

Relativamente à questão “É a primeira vez que participas nesta atividade?”,

verifica-se uma distribuição equilibrada das respostas entre as variáveis “sim” (28 alunos)

e “não” (23 alunos), apesar de ser a primeira vez para a maioria dos alunos do coro (Anexo

11). Esta maioria pode estar relacionada com o facto de os alunos que participaram o ano

Page 97: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

97

passado, como foi o caso dos alunos do 9.º ano, não estarem a participar neste ano letivo

2018/2019 por terem optado pelo curso Científico-humanístico de Ciências e

Tecnologias, mas também pelo facto de terem optado por não repetir a atividade.

De forma a conseguirmos compreender as motivações que levaram os alunos a

inscrever-se na atividade “Os Sons da História”, colocámos uma questão de resposta

aberta no inquérito, conforme mencionámos anteriormente. Por esse motivo seguimos o

proposto por L. Bardin (1977, cit. por Esteves, 2006, pp. 111-115) para casos de

investigação educacional em que é necessário proceder à análise de dados para os quais

não foram estabelecidas categorias previamente (procedimentos abertos). A partir da

leitura das respostas dos alunos, críamos as seguintes categorias:

A. Interesse pelo reforço da nota;

É a categoria onde foram incluídas as referências a valorização da nota final à disciplina

de História.

B. Interesse pela disciplina;

É a categoria onde se encontram as referências ao gosto pela disciplina de História ou

pela professora que a leciona.

C. Interesse pelo conteúdo da atividade;

Categoria onde foram incluídas todas as referências ao gosto pela música e por cantar.

D. Interesse pela atividade;

É a categoria onde foram englobadas as referências feitas pelos alunos ao facto de

considerarem que é uma atividade interessante, criativa ou divertida.

E. Interesse em socializar;

É a categoria onde foram compreendidas as referências ao espírito de equipa e convívio

com os colegas de outros anos.

F. Interesse devido ao feedback do ano anterior;

Categoria onde foram abarcadas as referências à atividade do ano letivo 2017/2018 e ao

papel que a mesma desempenhou para motivar os alunos a participar no ano letivo

seguinte.

G. Interesse por participar em atividades extra-aulas.

É a categoria onde se encontram as referências ao gosto dos alunos por estarem

envolvidos nas diferentes atividades extra-aulas que se realizam na Escola.

Page 98: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

98

Com o objetivo facilitar a compreensão do leitor definimos também indicadores

para cada categoria, que foram retirados das unidades de registo59, explicando assim o

que cada categoria engloba a partir das palavras dos alunos. A atribuição das unidades de

registo a cada categoria deveu-se à análise do significado das mesmas,

independentemente das palavras utilizadas, o que Vala define como unidades de registo

semânticas ou temáticas (Vala, 1989 cit. por Esteves, 2006, p. 114).

Nos casos em que os alunos mencionavam mais do que uma motivação ou interesse

na atividade, optámos por englobar essas respostas nas duas categorias, conforme é

possível observar no quadro seguinte.

Categorias Indicadores Unidades de registo UC

Interesse pelo

reforço da nota

Valorização da nota em

um valor

- Porque contava para a nota. A2

- Inscrevi-me devido à valorização na nota no

fim do período (…). A3

- Porque aumentava a nota em 1 valor. A4

- Porque valorizava a nota de História. A5

- Porque valorizava a nota (…). A6

- Ajuda a subir a nota. A14

- Ajuda a subir a nota. A15

- (…) e isto é benéfico para a nota (…). A49

- Para subir um pouco mais a nota (…) A50

- Para ter uma melhor nota de História. A51

Interesse pela

disciplina

Interesse pela disciplina

de História

- Porque (…) eu gosto de história! A1

- Pelo meu gosto pela história (…). A13

- Porque tenho uma grande admiração por

História. A20

- Para me envolver um pouco mais na

disciplina e para uma aprendizagem

alternativa cativante.

A22

- (…) pelo interesse na disciplina de História. A23

- Tinha curiosidade de experimentar uma

atividade de História. A37

- Pelo interesse na disciplina. A40

59 «Por unidade de registo entende-se o elemento de significação a codificar, a classificar, ou seja, a

atribuir a cada categoria. A unidade de registo pode ter características muito diversas.» (Esteves, 2006, p.

114)

Page 99: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

99

- Porque é uma das matérias que mais me

chamam à atenção (matéria favorita). A44

- Como apreciador desta disciplina, decidi

participar nesta atividade, não só para festejar

a História, mas também a Humanidade que a

escreve.

A45

- Pelo interesse pela disciplina (…) A46

- Pois gosto muito de História (…) A47

Gosto pela professora de

História

- (…) para apoiar a professora na realização

do espetáculo. A46

Interesse pelo

conteúdo da

atividade

Gosto por cantar

(música)

- Porque gosto (…) de cantar. A38

- Eu inscrevi-me no GFA de história, pois eu

gosto de cantar e acho que era uma maneira de

aprender música da História que marcaram os

séculos.

A39

- Pois gosto (…) de música. A47

- Sempre me interessei por música e pela

História, a mistura destas minhas duas paixões

encantou-me, fazendo com que eu me sentisse

desejosa de participar.

A48

- A professora de História convidou-nos para

participar e como eu gosto de música e isto é

benéfico para a nota, aceitei o desafio.

A49

Interesse pela

atividade

Considera um projeto

interessante

- Porque é uma atividade interessante e

dinâmica (…). A1

- Inscrevi-me (…) por causa da ideia

interessante. A3

- Achei a atividade interessante. A7

- Achei interessante a ideia de juntar os sons

mais marcantes da História. A8

- É uma atividade que nos ajuda a ver a

História de uma outra forma. A11

- Porque achei interessante e decidi pôr em

prática os meus conhecimentos. A12

- Pelo meu (…) interesse na atividade. A13

- Porque achei o projeto interessante. A21

- Interesse na atividade. A24

- É uma atividade muito interessante. A26

- Achei interessante a atividade. A31

- Achei esta atividade bastante educativa e

interessante. A28

- (…) pareceu-me uma atividade interessante. A32

- (…) achei que era interessante e divertido e

no final de tudo até gostei bastante. A50

Considera um projeto

desafiante - Achei que era um bom desafio. A9

Page 100: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

100

Considera um projeto

curioso

- Porque estava com curiosidade de participar

na atividade que a professora (…) falou. A10

- Eu inscrevi-me pois tinha curiosidade em

conhecer certos “sons”. A29

- Porque tinha curiosidade em participar. A36

- Porque achava uma atividade diferente,

queria ter uma experiência nova, nunca tinha

participado no GFA.

A42

Considera um projeto

criativo

- Achei uma atividade criativa e interessante. A30

- Acho que é uma ideia criativa e despertou-

me interesse. A25

Considera um projeto

divertido

- Achei divertido e produtivo. A17

- Achei uma atividade diferente e divertida,

por isso quis participar. A43

Interesse em

socializar

Vontade de conhecer

pessoas

- Porque (…) foi uma forma de interagir e

conhecer pessoas. A6

- Penso que é uma forma de os alunos se

unirem e colaborarem para um mesmo

objetivo.

A33

Interesse

devido ao

feedback do

ano anterior

Vontade de repetir a

participação

- Pelo que me contaram do ano passado (…). A32

- Devido ao que me disseram sobre o ano

passado. A34

- No GFA do ano passado participei, e gostei

imenso e por essa razão decidi participar

novamente.

A35

- Participei no ano passado e quis repetir a

experiência. A41

Interesse por

participar em

atividades

extra-aulas

Vontade de participar em

atividades extra-aulas

- Participar no GFA. A16

- Para participar de atividades extra (…). A23

- Gosto deste tipo de atividades. A27

- Porque gosto muito de participar em

atividades extra-curriculares (…). A38

Quadro 1 – Distribuição dos alunos de acordo com as motivações apresentadas.

No total dos 51 questionários válidos, obtivemos 60 unidades de registo relativas

às motivações para participar na atividade “Sons da História”. Cabe-nos agora

contabilizar qual das categorias foi mencionada com mais frequência.

Ordem Categorias Unidades de registo

N.º %

1.º Interesse pela atividade 23 38,2

2.º Interesse pela disciplina 12 20,0

Page 101: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

101

3.º Interesse pelo reforço da nota 10 16,7

4.º Interesse pelo conteúdo da atividade 5 8,3

5.º Interesse devido ao feedback do ano anterior 4 6,7

6.º Interesse por participar em atividades extra-aulas 4 6,7

7.º Interesse em socializar 2 3,3

Total 60 100,0

Quadro 2 – Ordenação das motivações apresentadas pelos alunos.

A principal motivação a ser apresentada pelos alunos deve-se ao seu interesse pela

atividade, com um total de 23 alunos a apresentarem motivações relacionadas com este

campo. De acordo com as subcategorias apurámos que 14 indivíduos consideram que a

atividade é interessante; quatro afirmam que foi um projeto curioso e isso motivou-os

para participar; dois declaram que esta atividade os deixou curiosos e por isso

participaram, assim como outros dois alunos destacam o facto de considerarem que é uma

atividade divertida e, por último, um dos inquiridos afirma que esta atividade foi como

um desafio e isso motivou-o a participar.

Em segundo lugar encontram-se as referências ao interesse pela disciplina, com 11

alunos que valorizam a disciplina de História e, por essa razão, participam nas atividades

relacionadas com a mesma e um aluno que participam nesta atividade por motivações

relacionadas com a professora da disciplina.

A fechar o pódio das motivações encontram-se as referências ao reforço da nota da

disciplina de História, com 10 alunos a mencionarem esta situação. De todos os momentos

em que estivemos presentes, não assistimos a nenhum(a) professor(a) a afirmar que os

alunos que participassem iriam ver a sua nota aumentada em um valor, como um dos

alunos menciona, apesar de terem afirmado que a participação seria valorizada por revelar

interesse na disciplina de História e nas atividades promovidas pela disciplina.

Em último lugar no ranking das motivações apresentadas pelos alunos surge

“interesse em socializar”. Particularmente o caso do aluno que aponta como motivação o

convívio entre os alunos levanta-nos algumas questões como: a autoestima, o domínio do

corpo e o contacto com o Outro. Estes são pontos que pretendemos trabalhar nesta

atividade e, no momento, em que um aluno apresenta esta motivação como razão para

Page 102: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

102

participar nos “Sons da História” leva-nos a questionar se estes aspetos não estarão a ser

desvalorizados em contexto escolar e se não deveriam ser trabalhados de forma mais

regular.

Relativamente ao primeiro tópico da segunda questão (“Consideras que esta

atividade te ajudou a aumentar os teus conhecimentos sobre História?”) verificamos que

86,3% dos alunos consideraram que “sim” e 13,7% consideraram que “não” (Anexo 12).

Enquanto 66% dos alunos responderam afirmativamente ao segundo tópico (“Consideras

que esta atividade te ajudou a relacionar mais facilmente os acontecimentos do passado,

que aprendes nas aulas, com que acontece no presente?”), 34% responderam que “não” e

1 aluno não deu qualquer resposta (Anexo 13). Ao analisarmos as respostas a estas duas

questões juntamente com as motivações apresentadas, consideramos que o facto de os

alunos terem aderido a esta atividade por considerarem que seria “interessante” e de

“complemento curricular” e que falhámos num dos objetivos a que nos propúnhamos que

era “complementar os conhecimentos dos alunos” sobre História.

Por sua vez, 46 alunos (90,2%) defendem que a participação neste género de

atividades aumenta o seu interesse pela disciplina de História, enquanto 9,8% (cinco

indivíduos) afirmam que não (Anexo 14). Estes cinco casos intrigaram-nos, pelo que, para

compreender melhor a sua resposta negativa, fomos analisar os motivos que apresentaram

para participar na atividade. Três dos indivíduos apresentaram como motivação o facto

de considerarem que a atividade era “divertida” (um aluno) ou “interessante” (dois

alunos), o que nos leva a considerar que poderiam já ser alunos que gostam da disciplina

pelo que a participação nos “Sons da História” poderá não ter impacto no seu gosto. Outro

dos alunos que apresenta esta resposta negativa afirmou anteriormente que tinha

participado na atividade “porque contava para nota” pelo que, possivelmente, não terá

interesse na disciplina de História. Em último lugar, o outro aluno optou por não

responder à questão «Por que motivo te inscreveste nos “Sons da História”?», pelo que

não temos informações que possam justificar esta postura.

Relativamente à questão “A atividade “Sons da História” foi ao encontro das tuas

expectativas?”, 47 alunos (92,2%) afirmam que sim e quatro alunos afirmam que não

(7,8%) (Anexo 15).

Page 103: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

103

As respostas a esta questão e à anterior foram as que mais nos surpreenderam e nos

fizeram refletir sobre uma falha no inquérito que elaborámos, dado que não temos forma

de conhecer os motivos que levaram os alunos a responder que não aumenta o seu

interesse na disciplina e que a atividade não foi ao encontro das suas expectativas. Apenas

um dos alunos nos dá um vislumbre sobre o porquê de a atividade não ter ido ao encontro

das suas expectativas pois acrescentou, ao lado da sua escolha, as palavras “injusto e

errado”. Se, por um lado, não queríamos ter elaborado um questionário demasiado

extenso, por outro lado, gostaríamos de ter uma visão mais aprofundada sobre as respostas

que os alunos nos dão. As justificações que podemos encontrar para estas respostas

negativas não passam de suposições. Factos como os alunos não terem sido envolvidos

na escolha do repertório, ou da atividade ter sofrido muitas alterações entre os diferentes

espetáculos, ou ainda de, inicialmente, se ter levado a ideia de que seria apenas um coro

a cantar e, no final, se terem assistido a solos musicais de alunos que foram especialmente

escolhidos pelos professores, podem ter sido fatores que levaram o espetáculo a afastar-

se das expectativas dos alunos.

Na questão “Voltarias a participar nesta atividade? Justifica a tua resposta.”

verificamos que 92,2% dos alunos (47 indivíduos) repetiriam a experiência, enquanto

uma aluna (2%) afirma que não voltaria a participar porque “a atividade consiste sempre

no mesmo”, uma aluna (2%) afirma que “talvez, mas sou tímida” e dois alunos não

respondem a esta pergunta (3,9%) (Anexo 16).

Para analisar as motivações que são apresentadas pelos alunos para repetirem a sua

participação na atividade seguimos o mesmo esquema que já tínhamos utilizado para a

questão “Por que motivo te inscreveste nos “Sons da História”?”. Depois de uma primeira

leitura, constatámos que cinco alunos mencionaram que voltariam a participar mas não

apresentam justificações para essa posição, pelo que foram abrangidos no número

supramencionado (47 indivíduos afirmam que voltariam a participar) mas não poderiam

ser incluídos na análise que se segue. Para as restantes justificações criámos as seguintes

categorias:

A. Valorização na nota;

Categoria onde foram englobadas as justificações relacionadas com a avaliação da

disciplina e a utilização da participação como fator a valorizar.

Page 104: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

104

B. Foi uma experiência benéfica;

Categoria em que se inseriram as justificações que relacionam esta atividade com o seu

cariz inovador e cativante para os alunos.

C. Valorização da componente científica;

Categoria onde foram inseridas todas as justificações que se relacionam com a

possibilidade de aumentar os conhecimentos/cultura geral através da participação nesta

atividade.

D. Valorização do convívio;

Categoria onde se encontram todas as justificações que destacam o espírito de equipa e o

convívio entre os alunos.

Categoria Indicadores Unidades de registo UC

Valorização

na nota

Participação enquanto

componente de

avaliação

- Sim porque preciso da valorização (…) A3

- Sim, pois assim a professora volta a subir a

minha nota. A51

Foi uma

experiência

benéfica

Atividade interessante

- (…) porque é uma atividade que capta o meu

interesse. A3

- Sim. Porque foi interessante. A5

- Sim, foi um projeto interessante. A6

- Sim, pois é uma atividade dinamizadora e

interessante. A11

- Sim, pois é uma atividade bastante

interessante. A12

- Sim, atividades como essa são interessantes

(…) A23

- Sim. Gostei bastante da atividade e foi muito

cativante. Espero voltar lá para o ano. A32

- Sim porque gostei da experiência, e das

músicas que cantamos. A36

- Sim, achei a atividade interessante (…) A43

- Sim, porque esta atividade é interessante (…) A49

Atividade

enriquecedora

- Sim, porque é uma atividade enriquecedora. A9

- Sim porque achei a atividade enriquecedora. A20

- Sim, gostei bastante e foi uma experiência

única. A21

- Sim pois foi uma ótima experiência. A24

Atividade divertida

- Sim, pois foi super divertido. A17

- (…) foi bastante divertido. A10

- Sim, porque foi uma atividade muito divertida

acima de tudo. A29

- Sim porque achei que foi uma atividade

divertida. A30

- Sim, porque (…) foi divertido. A34

- Sim, porque foi muito divertido. A31

- Sim, pois esta atividade é divertida e gostaria

de participar novamente. A35

Page 105: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

105

- Sim, foi uma experiência muito divertida. A38

- Sim, achei a atividade (…) divertida e

interativa. A43

- Sim, não deixa de me chamar à atenção por ser

divertido e fascinante. A44

- Sem dúvida, é uma forma divertida e didática

de conhecer a disciplina. A45

- Sim, pois foi divertido. A47

Atividade diferente/

única

- Sim, pois foi uma experiência bastante

interessante e única. A28

- Sim, gostei bastante e foi uma experiência

única. A21

- Sim, é uma atividade diferente. A33

- Sim, é uma atividade diferente, que dá para

aprendermos mais sobre a disciplina e nos

distrairmos da escola.

A39

- Sim, pois é uma atividade diferente e

engraçada, gostei da experiência. A41

- Sim é uma atividade que gostaria de repetir

uma vez que é uma atividade fora do comum. A46

Valorização

da

componente

científica

Aumenta o meu

conhecimento

- Sim, aumentaria o meu conhecimento (…) A4

- Sim. Ajudou-me a complementar a minha

cultura geral. A15

- Sim, atividades como essa (…) ajudam a

desenvolver conhecimentos. A23

- Sim, porque penso que esta atividade

aumentou os conhecimentos (…). A34

- Sim, porque acho que de certa maneira nos

ajuda a consolidar conhecimentos de história e

transmiti-los a outros.

A40

Liga-me à disciplina

- Sim tal como a minha professora diz, há que

ser aluno de história e não só da disciplina, é o

que esta atividade concretiza.

A22

- Sim porque ajuda-nos a estar mais ligados a

esta disciplina. A26

- Sim porque história é a minha disciplina

favorita e só me trouxe vantagens. A41

Valorização

do convívio

Promoção do espírito

de equipa

- (…) aumentaria (…) a interação com os outros

alunos do ano de Humanidades. A4

- Sim, porque se tornou um grupo unido (…). A10

- Sim, o ambiente é muito bom e a interação

com os outros alunos é saudável. A27

- Sim, porque foi muito divertido cantar com os

meus colegas. A37

Quadro 3 – Distribuição dos alunos de acordo com as justificações dadas para repetirem a experiência.

Dos 42 inquéritos com respostas válidas para esta questão obtivemos 47 unidades

de registo. Procedemos então a contabilização das unidades de registo associadas a cada

categoria para compreender qual era o fator que mais leva os alunos a querer repetir a

experiência.

Page 106: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

106

Ordem Categorias Unidades de registo

N.º %

1.º Foi uma experiência benéfica 33 70,2

2.º Valorização da componente científica 8 17,0

3.º Valorização do convívio 4 8,5

4.º Valorização da nota 2 4,3

Total 47 100,0

Quadro 4 – Ordenação dos motivos apontados pelos alunos para repetirem a presença na atividade.

Quanto à justificação mais frequente verificamos se relaciona com o facto de ter

sido uma experiência benéfica para os alunos (33 referências). Compreendidas nesta

categoria encontram-se quatro indicadores/subcategorias que lideram no que concerne ao

ranking da valorização por parte dos alunos, a saber: 12 alunos consideram que foi uma

atividade divertida e 10 dos inquiridos afirmam que foi uma atividade interessante.

A segunda justificação mais frequente relaciona-se com a valorização da

componente científica da atividade, sendo que cinco alunos consideram que os “Sons da

História” ajudaram a consolidar ou a aumentar os seus conhecimentos sobre História e

três indivíduos afirmam que esta experiência os ajudou a sentirem-se mais “ligados” à

disciplina.

Contrariamente ao que se verificou na análise das respostas à questão «Por que

motivo te inscreveste nos “Sons da História”?», neste ponto apenas dois alunos

mencionam que voltariam a participar neste evento devido à valorização que isso lhes

poderá trazer na disciplina de História. Estes dados revelam que, de certa forma, os alunos

que, num primeiro momento, se inscreveram só por causa dos benefícios que isso lhes

poderia trazer acabaram por se deixar conquistar pela energia do grupo e pela música.

Apesar de quatro alunos mencionarem que participariam novamente porque

gostaram do convívio com os colegas, levando a que esta justificação fosse a terceira mais

mencionada, duas das suas respostas revelaram também um problema. Dois alunos

relatam uma situação que já nos tínhamos vindo a aperceber ao longo da atividade e que

Page 107: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

107

põe em causa os benefícios que esta pode trazer para os alunos, dado que mina a sua

vontade de participar na mesma e o espírito de equipa. O aluno A (que anteriormente

tinha afirmado que a atividade não foi ao encontro das suas expectativas por ser “injusto

e errado”) relata que “participaria outra vez sim, porém não considero que seja justo a

hierarquia presente nesta atividade, devido a uma das coordenadoras do projeto. Acho o

projeto muito interessante, e que motiva os alunos quanto à disciplina de história, mas o

trabalho é para todos os alunos que queiram participar, e não para nos destacarmos. O

projeto é para nos unirmos perante a história, não para podermos nos mostrar e dizer que

somos melhores”, enquanto o aluno B afirma que “sim [voltaria a participar], porque esta

atividade é interessante, porém acho que uma das coordenadoras do projeto não devia

criar uma hierarquia de forma a que alguém se destaque do seu interesse uma vez que é

da sua família”. Quando se começou a planear esta atividade, pensou-se em atribuir uma

música a cada turma e assim todos teriam o mesmo destaque; porém, por uma questão de

organização do tempo e das entradas/saídas dos alunos no palco, esta opção não se

mostrou viável. Nasce daí a necessidade de criar um coro, com todos os alunos

interessados, e com alguns momentos a serem protagonizados pelo Clube de Artes

Performativas, responsáveis pelas danças incluídas no alinhamento. Todavia, com o

evoluir da atividade, é tomada a decisão de definir momentos a solo (quer de dança, quer

de canto) que seriam atribuídos a elementos sem que fossem selecionados através de um

casting ou por opção do grupo. Esta atitude gerou desconforto nos outros alunos, outrora

completamente empenhados no sucesso da atividade, e que optam por abandoná-la (como

aconteceu com um aluno) ou por permanecer e revelar a sua opinião quando confrontados

com um inquérito anónimo. A posição adotada por estes alunos e as palavras que

escreveram levaram-nos a uma profunda reflexão. Compreendemos a sua desilusão e o

seu ponto de vista, porém, apenas participamos nesta atividade enquanto espectadores.

Talvez, por isso mesmo, os alunos tenham encontrado a coragem para expor a sua opinião.

Depois de analisarmos, individualmente, as respostas, podemos traçar o panorama

da opinião sobre o espetáculo “Sons da História”. Em geral, os alunos foram atraídos para

este projeto por o considerarem diferente e divertido e, depois de participarem,

consideraram que os ajudou a complementar os conhecimentos que adquiriram em sala

Page 108: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

108

de aula e que aumentou o seu interesse pela disciplina de História.

Apesar dos percalços e alterações que foram sendo feitas ao longo destes dois anos,

o projeto foi ao encontro da generalidade das expectativas dos alunos que, na esmagadora

maioria, voltariam a participar. Este é um resultado positivo que nos motiva a voltar a

aplicar o projeto, nos mesmos moldes, mas com um repertório diferente para inovar.

Inquérito aos Encarregados de Educação

Objetivos do inquérito

Por último, definimos como objetivos do inquérito colocado aos Encarregados de

Educação:

1. Entender como se caracterizam os Encarregados de Educação presentes

(sexo, idade e nível de escolaridade)

2. Compreender se consideram importante que o seu educando participe

neste género de atividades extra-aulas;

3. Averiguar se consideram que eles próprios saíram enriquecidos do

espetáculo “Sons da História”;

4. Entender se consideram que deveriam existir mais eventos deste género,

por exemplo, em que fossem abordadas outras épocas da História.

Composição do inquérito

Este inquérito é composto por seis questões: duas de resposta fechada e quatro de

resposta aberta.

À semelhança do outro inquérito, as três primeiras questões dizem respeito à

caracterização dos Encarregados de Educação presentes, ou seja, sexo, idade e nível de

escolaridade.

Todas as questões são importantes, porém, as que apresentam maior relevância são

a primeira (“Para si é importante que o seu educando participe em eventos como este?

Page 109: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

109

Justifique a sua resposta.”) e a segunda (“Considera que saiu enriquecido depois de

assistir a este espetáculo? Porquê?”) e, por isso, são questões de resposta aberta, pois

pretendíamos “ouvir” tudo o que os Encarregados de Educação tinham a dizer sobre este

género de atividades. Estas duas questões correspondem ao segundo e terceiro objetivos.

A terceira e última questão (“Considera que deveriam existir mais espetáculos deste

género?”) corresponde ao quarto objetivo e, por ser uma pergunta de resposta mais

objetiva, optamos pelas alternativas “sim” e “não”.

Análise dos resultados

Como o número de Encarregados de Educação que assistiram ao último espetáculo

foi reduzido, apenas contamos com 14 respostas ao questionário. Apesar do número

reduzido, dada a uniformidade das respostas apresentadas consideramos que estes

resultados constituem uma amostra demonstrativa daquilo que será o pensamento da

generalidade dos Encarregados de Educação, tal como iremos analisar de seguida.

No que diz respeito à caracterização dos Encarregados de Educação, contatamos

que 10 elementos são do sexo feminino (71,4%) e quatro são do sexo masculino (28,6%)

(Anexo 17). Apresentam uma média de 48 anos, sendo que o indivíduo mais novo tem 39

anos e o mais velho tem 61 anos (Anexo 18). Relativamente ao nível de escolaridade,

50% dos Encarregados de Educação concluíram o 12.º ano, seguindo-se os que

concluíram o 9.º ano (21,4% - três elementos) (Anexo 19). Consideramos também

importante destacar que três Encarregados de Educação possuem estudos superiores (um

indivíduo concluiu um Mestrado e dois indivíduos concluíram o Doutoramento) e que um

dos indivíduos possui o 6.º ano de escolaridade.

Anteriormente, afirmámos que apesar da amostra ser reduzida, as suas respostas

foram unânimes, como podemos confirmar com a primeira questão (“Para si é importante

que o seu educando participe em eventos como este? Justifique a sua resposta”) em que

100% dos inquiridos a afirma que sim (Anexo 20).

Para compreender melhor as diferentes respostas que nos foram dadas, optamos por

organizar as mesmas seguindo o mesmo método que já havíamos adotado para as questões

Page 110: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

110

de resposta aberta presentes no inquérito entregue aos alunos participantes. Neste caso

optámos por um percurso de análise temática ou semântica, ou seja, dependendo da ideia

que era transmitida pelo inquirido, a sua justificação era inserida numa das seguintes

categorias:

A. Enriquece o conhecimento;

Categoria onde se encontram as justificações relacionadas com o aumento do

conhecimento/ cultura geral.

B. Motiva para o estudo da disciplina;

Categoria em que foram inseridas as justificações que apontam a atividade “Sons da

História” como um fator de motivação para o estudo da disciplina de História.

C. É uma atividade diferente;

Categoria em que foram englobadas as justificações relacionadas com o cariz da atividade

e que se diferencia das demais.

D. Facilita o convívio.

Categoria em que foram incluídas as justificações relacionadas com o espírito de equipa

e com o convívio entre os alunos dos diversos anos de escolaridade.

Das 14 respostas fornecidas (Anexo 21), aferimos que metade dos Encarregados de

Educação (sete indivíduos) considera importante que o seu educando participe em

atividades como os “Sons da História” porque as veem como uma oportunidade para os

jovens enriquecerem o seu conhecimento. Somando a primeira (sete indivíduos) e a

segunda (três indivíduos) categorias mais mencionadas, podemos aferir que dez

Encarregados de Educação interpretam as atividades extra-aulas como se fossem uma

continuação do estudo formal que se realiza nas diversas disciplinas e não como uma

atividade verdadeiramente de complemento curricular, uma vez que consideram estas

atividades importantes por motivos relacionados com a aquisição de novos

conhecimentos e com a motivação para o estudo da disciplina de História. Por outro lado,

encontram-se quatro Encarregados de Educação: dois indivíduos que valorizam a

participação dos seus educandos neste género de atividades por considerarem que é uma

experiência diferente, que lhes poderá ser útil no futuro, e os outros dois Encarregados de

Educação que consideram que esta é uma experiência essencialmente lúdica e que deve

envolver toda a comunidade escolar num ambiente de convívio.

Page 111: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

111

No que concerne à segunda pergunta constatámos que não foi possível contabilizar

as respostas fornecidas por cinco Encarregados de Educação dado que estes não

compreenderam a questão que lhes foi colocada. Após a análise inicial das respostas

verificamos que estes cinco elementos (35,7%) afirmaram que “sim”, saíram enriquecidos

do espetáculo “Sons da História”, mas justificaram este enriquecimento salientando os

benefícios que a atividade teve para os seus educandos e não as consequências que teve

para eles próprios.

Tendo em consideração as respostas válidas para a segunda questão verificamos

que 88,9% (oito indivíduos) consideram que saiu enriquecido e que uma pessoa (12,5%)

considera que não (Anexo 22). Devemos, ainda, salientar que três elementos não

apresentam motivos que sustentem a sua posição: dois indivíduos que afirmam ter saído

enriquecidos do espetáculo e um indivíduo afirma que não. Os motivos apresentados

pelos seis Encarregados de Educação que consideram que saíram enriquecidos depois de

assistir ao espetáculo relacionam-se com duas grandes dimensões: o conhecimento e a

função humanística do evento (Anexo 23). Enquanto quatro Encarregados de Educação

destacam o papel do conhecimento, a saber: dois indivíduos sentiram-se enriquecidos por

recordarem conhecimentos que já tinham adquirido, e outros dois indivíduos

consideraram que adquiriram novos conhecimentos sobre História no espetáculo “Sons

da História”, sendo que um deles destaca ainda o facto de se ter divertido; os dois últimos

indivíduos salientam que saíram enriquecidos do espetáculo pois, na sua opinião, o facto

de assistirem a um espetáculo promovido pelos filhos e a ligação da família é importante,

chegando um deles a afirmar que “dar valor ao que os nossos filhos e a escola fazem é

importantíssimo”.

Também na última questão, as respostas dos Encarregados de Educação foram

unânimes ao afirmarem que consideram que deveriam existir mais espetáculos deste

género (Anexo 24). Esta era uma posição que já esperávamos, depois de termos procedido

à análise da primeira questão e constatado que todos os Encarregados de Educação

consideravam importante a participação dos educandos neste género de atividades devido

ao seu carácter simultaneamente educativo e lúdico.

Em suma, e apesar de considerarmos que estes números são muito reduzidos e

Page 112: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

112

representam menos de metade dos Encarregados de Educação dos alunos que

participaram no projeto, consideramos que alcançámos os objetivos que tínhamos

definido quando estabelecemos que pretendíamos levar este espetáculo à restante

comunidade escolar e, principalmente, às famílias dos alunos, dado que os seus

Encarregados de Educação se sentem enriquecidos. Os Encarregados de Educação são

apologistas de que estas atividades são benéficas para os alunos, pois complementam a

sua formação e, simultaneamente, proporcionam momentos de convívio e descontração,

também eles muito necessários para o desenvolvimento social dos jovens. É, por estes

motivos, e provavelmente também por outros motivos que ficaram por explorar, que todos

os Encarregados de Educação consideram que deveriam ser promovidas mais atividades

do género dos “Sons da História”.

Page 113: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

113

Capítulo 4 – A crítica

Banda sonora recomendada:

I've paid my dues

Time after time

I've done my sentence

But committed no crime

And bad mistakes

I've made a few

I've had my share of sand kicked in my face

But I've come through

Queen, We are the Champions (1977)

Conforme fomos demonstrando ao longo deste relatório, este é um projeto que nos

é querido, mas em que apenas estivemos presentes enquanto espectadores. Podemos

apenas descrever aquilo que fomos sentindo e assistindo ao longo de dois anos.

Em primeiro lugar, cabe-nos debater o nome dado ao espetáculo. “Sons da História”

remete-nos imediatamente para tudo o que são sons, músicas, canções e hinos ao longo

de toda a História até aos dias de hoje.

Imperava então que compreendêssemos o significado de cada uma destas palavras:

som, música, canção e hino. O ponto de partida para qualquer dúvida de semântica é

sempre a consulta de um dicionário.

Música, deriva da palavra grega mousiké e diz respeito a algo que é relativo às

Musas (Miranda, 2009, p. 113) e correspondia a mais do que apenas à dimensão sonora,

sendo que se tratava de «um conceito amplo e complexo que englobava também a dança,

a poesia, a filosofia e a metafísica» (Granja, 2014, p. 25), ou seja, a mousiké integrava as

artes que tinham como ponto comum o ritmo. Este nome feminino é definido como “1.

arte de combinar harmoniosamente vários sons, frequentemente de acordo com regras

definidas”, mas também como “2. qualquer composição musical; 3. concerto vocal ou

Page 114: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

114

instrumental; 4. conjunto de músicos; 5. filarmónica, orquestra; 6. conjunto de sons

agradáveis, harmonia; 7. cadência, ritmo”60.

Por sua vez, Canção deriva do latim cantione, e tem como primeiro significado

“MÚSICA composição musical com letra destinada a ser cantada”61. Esta palavra pode

ainda ser associada com a palavra Cântico, que também deriva do latim canticu (canto) e

significa “canto consagrado à divindade; hino; poema; ode; canção”62.

O significado de canção remete-nos para a palavra hino. Segundo o dicionário da

Porto Editora, a palavra Hino deriva do grego Hýmnos (canto laudatório) pelo latim

Hymnu, e significa “1. composição musical com letra apropriada para celebrar alguém ou

alguma coisa; 2. canto religioso; 3. canto em louvor de um herói, de um monarca ou da

Pátria; 4. canção; canto; 5. figurado louvor, elogio, panegírico” 63.

Já a palavra Som deriva do latim sonu e significa “1. FÍSICA sensação auditiva

produzida por vibrações mecânicas de frequência compreendida entre determinados

valores (20 e 20 000 vibrações por segundo, em média); 2. fenómeno vibratório que

produz essa sensação; 3. GRAMÁTICA emissão de voz; 4. figurado modo, maneira”64.

Constatamos que, o que inicialmente nos pareciam sinónimos, são

consideravelmente diferentes. Som é a “unidade básica” da música, não é mais do que

uma sensação auditiva que deriva das vibrações que o ouvido capta. Enquanto a Música

é uma forma de Arte, em que são combinados os diferentes sons, não sendo obrigatório

que possua letra para ser cantada. O mesmo não acontece quando se trata de uma canção

ou de um hino, que obrigatoriamente possuem letra, dos seus significados diferentes: uma

canção possui uma letra só para ser cantada e a letra de um hino deve celebrar alguém ou

alguma coisa. Esta é também uma diferença que deveria ter sido explicada aos alunos

60 Música. Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível em:

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/música, acedido a 08/07/2019. 61 Canção. Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível em:

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/canção, acedido a 08/07/2019. 62 Cântico. Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível em:

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/cântico, acedido a 08/07/2019. 63 Hino in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível em:

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/hino, acedido a 08/07/2019. 64 Som. Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível em:

https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/som, acedido a 08/07/2019.

Page 115: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

115

pois, para eles, uma música é apenas uma música cantada, porém, a diferença, de postura

e sentimento, perante um hino ou uma canção da Britney Spears é completamente

diferente.

Se tivermos estas diferenças de significado em mente quando analisamos o

repertório idealizado, desde o nascimento até ao momento em que o espetáculo sobe ao

palco, constatamos que apenas foram incluídas músicas cantadas e não sons.

O som do mar e o cantar dos pássaros, quando enquadrados nos séculos XV e XVI,

podem representar os sons que os marinheiros ouviam em alto mar no período das

Descobertas. O som do motor de um carro, quando enquadrado no século XIX, pode

simbolizar o som do motor dos primeiros carros. O som das armas, o grito dos homens,

os aviões e o silêncio podem representar a Guerra. E experiências como estas são tão

enriquecedoras quanto o escutar uma canção.

Por estes motivos, a designação dada ao espetáculo “Sons da História” encontra-se,

de certa forma, pouco feliz, pois o mesmo não inclui sons. Porém, compreendemos este

título se tivermos em consideração o facto de ser mais atraente para os espectadores do

que “Músicas da História”.

Em segundo lugar, pretendemos debruçar-nos sobre as mudanças que foram sendo

efetuadas no repertório musical do espetáculo.

Sendo a intenção elaborar um espetáculo que leve os alunos a percorrer a História,

então, o repertório apresentado em outubro de 2018 e em fevereiro de 2019 encontra-se

incompleto, pois apenas inclui o século XX. Tendo-se iniciado apenas com o Charleston,

o espetáculo colocou de parte os quatro anos de duração da Primeira Guerra Mundial, um

acontecimento que mudou a História da Europa e do Mundo, que teria consequências nas

décadas que se seguiram com a ascensão dos regimes totalitários de extrema-direita e com

a eclosão de uma segunda Guerra Mundial entre 1939 e 1945.

Não consideramos obrigatório que todas as músicas sejam da época que estão a

relatar, podendo apenas evocar tais eventos, desde que fossem apresentadas por ordem

cronológica de acontecimentos, pois como afirma Dietrich Schwanitz (2004) “a grande

narrativa da nossa História é o esqueleto em que inserimos todos os outros

Page 116: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

116

acontecimentos: o nosso saber cultural encontra-se ordenado por critérios históricos, e

não sistemáticos. E esta esquematização da História opera através da cronologia.” (p. 31).

De acordo com esta sugestão, a Primeira Guerra Mundial pode então ser representada

pela música It’s a long way to Tipperary, tal como ocorreu no dia GFA no ano de 2018,

mas também, por exemplo, pela música All Together Now da banda inglesa The Farm.

Esta música foi lançada em 1990 e é inspirada na trégua de Natal durante a Primeira

Guerra Mundial. Ela evoca todo o sofrimento e lágrimas que existiram na Terra de

Ninguém e nas Trincheiras, os mortos e o sofrimento do que continuam a viver depois de

um acontecimento catastrófico.

Ainda sobre o repertório, consideramos que alguns acontecimentos se encontram

demasiado representados, sendo-lhes dedicada mais do que uma música. Este é o caso

dos regimes de extrema-direita, representados pelos hinos da Juventude Fascista, da

Juventude Hitleriana e da Mocidade Portuguesa. Consideramos que seria razoável dedicar

a este tópico apenas um hino, por exemplo, o Il Duce (hino da Juventude Fascista) por

representar o primeiro com este tipo de ideologia a chegar efetivamente ao poder.

Todavia, sentimos necessidade de expressar a nossa opinião quanto à polémica que

se instalou no segundo ensaio perante a decisão de retirar, do repertório, o hino da

Juventude Hitleriana. Do nosso ponto de vista, a História não se representa em apenas

duas cores: preto e branco, mas sim numa infinita combinação de cinzentos, e, portanto,

não podemos “limpar” da História todos os “passados dolorosos”, como as ditaduras, a

escravatura ou os genocídios. E, por isso, fazemos nossas as palavras de Schwanitz (2004)

quando afirma que

«(…) na Alemanha, o problema consiste no grande trauma histórico que é o período da

ditadura nazi: esta época assemelha-se a uma estrela implodida que se transformou em

buraco negro e engole toda a luz com a sua escuridão. É como se já não existisse outra

coisa. Toda a História gravita em torno desta temática. No entanto, semelhante atitude

faz esquecer que ainda existe uma outra História: a História da Europa, com base em

cujas tradições a civilização foi salva e a tirania acabou vencida.» (p. 30)

Também o Estado Novo está retratado em mais do que um momento do espetáculo:

no hino da sua Mocidade, pela música Menina dos Olhos Tristes (que evoca o período da

Page 117: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

117

Guerra do Ultramar) e pelas músicas E Depois do Adeus e Grândola, Vila Morena (senhas

da Revolução dos Cravos, selecionadas de forma a transmitir à população a natureza

democrática do movimento) (Raposo, 2007, p. 130). Compreendemos a importância de

todas estas canções e a sua simbologia, mas estes são minutos preciosos e que poderiam

ser utilizados para representar outros acontecimentos igualmente importantes. Ainda

assim, encontra-se ausente um motivo de orgulho para a Nação e de importância histórica

para Portugal: o Fado, que foi considerado Património Cultural e Imaterial da

Humanidade, em 2011, pela UNESCO. O Fado e o estado de espírito da população

portuguesa que viveu sob a Ditadura poderia ser representado pela música Trova do Vento

que Passa, que ficou na memória de gerações de portugueses pela revolta nas palavras

“Mesmo na noite mais triste/ Em tempo de servidão/ Há sempre alguém que resiste/ Há

sempre alguém que diz não”. Esta canção teve origem no poema de Manuel Alegre e foi

interpretada, originalmente, por Adriano Correia de Oliveira, com música de António

Portugal, e reinterpretada por Amália Rodrigues em 1970. Da mesma forma que esta

música personifica o silêncio forçado das populações por parte da repressão do Estado

Novo, também a Balada de Outono, gravada em 1960 por José Afonso; a Pátria (1967)

ou As Balas (1975, já posterior à Revolução dos Cravos), interpretadas por Adriano

Correia de Oliveira, poderiam ser utilizadas.

Apesar de estarem incluídas músicas como Le Chant des Partisans e Bella Ciao, é

possível constatar que, geralmente, a visão apresentada aos alunos é de que a História,

em que o bem está contra o mal, e em que as pessoas subjugadas são incentivadas a lutar

contra os seus opressores.65 Consideramos, então, que era necessário incluir músicas que

dessem aos alunos o “outro lado” da História. Por exemplo, deveria ter sido incluída uma

música angolana ou moçambicana sobre a Luta da Libertação para fazer oposição à

música Menina dos Olhos Tristes (que também poderia ser substituída pela música

65 Também esta manipulação dos factos, da História e da opinião pública é alvo de uma reflexão na Música.

No tema The Unknown Soldier, editado em 1968 pelos The Doors, Jim Morrison reage à Guerra do

Vietname e à manipulação da opinião pública através dos Media norte-americanos. Apesar de não

considerarmos ser necessário incluir no espetáculo todos os acontecimentos que marcaram a História, dado

que tal seria utópico e levaria à criação de um espetáculo “infinito”, acreditamos que esta música seria útil

em contexto de sala de aula, ou num primeiro ensaio deste projeto, para levar os alunos a refletir sobre a

atividade em que estão a participar e sobre o Mundo que os rodeia.

Page 118: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

118

“Angola é nossa”). Como sugestão, relativamente às canções que defendem o ponto de

vista angolano, apresentamos as músicas de David Zé (autor da música Quem matou

Amílcar Cabral), Urbano de Castro (autor da música Angola Liberté) e de Artur Nunes,

três cantores angolanos que ficaram imortalizados através das suas canções a favor da

independência de Angola. Todo esse ativismo político marcou, principalmente, David Zé

(defensor da política do MPLA), que terminou assassinado em 1977. Ou também a canção

Sou barco de Luís Cília, que em 1964 edita Portugal – Angola: Chants de Lutte, tornando-

se o primeiro cantor, português, a denunciar abertamente a guerra colonial.66

Simultaneamente, encontram-se ausentes músicas de outras partes do Mundo, algo

relativamente fácil de incluir devido ao impacto global de acontecimentos como a

Segunda Guerra Mundial.

Encontram-se também ausentes outros acontecimentos sonantes do século XX,

como o movimento dos direitos civis dos negros, o movimento feminista ou o movimento

pelos direitos da comunidade LGBT. Estas são décadas particularmente ricas de um ponto

de vista musical.

Para Martin Luther King, “a Música é a alma do movimento”, pelo que se torna

essencial que todos tenhamos um sonho… O movimento dos direitos civis dos negros foi

um dos períodos mais importantes do século XX e, decorridas cinco décadas, ainda não

se pode dizer que tudo foi conquistado. Estes períodos conturbados de perseguição,

injustiça e incerteza poderia estar representado pelas músicas Strange Fruit de Billie

Holiday (1939), We Shall Overcome (originalmente uma canção gospel, tornar-se-ia o

hino não oficial do movimento negro pela voz de Guy Carawan em 1959) e Say It Loud

– I’m Black and I’m Proud (interpretada por James Brown em 1968).

É precisamente este movimento e a importância de Martin Luther King que nos leva

a fazer outra sugestão. Consideramos que seria interessante e acrescentaria informações

importantes ao espetáculo se, para além das músicas e danças, fossem incluídas pequenas

66 Luís Cília, tal como outros jovens portugueses, para evitar participar na Guerra sairá de Portugal, a salto

(na companhia de um amigo, apesar de ter passaporte válido), em direção, inicialmente, à Suécia, passando

por Paris, onde acabou por se estabelecer. Posteriormente, Luís Cília foi o autor do hino do Partido

Comunista Português (“Avante, camarada, avante) e do hino da CGTP – Intersindical (“O Guerrilheiro”)

(Côrte-Real, 1996, p. 152).

Page 119: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

119

dramatizações. Este poderia ser o caso do movimento pelos direitos civis dos negros, cuja

melhor representação é o discurso de Martin Luther King, I have a Dream.

A inclusão de pequenas dramatizações ao longo do espetáculo permite-nos

enriquecê-lo e torná-lo mais inclusivo, pois conforme abordamos anteriormente, nem

todos os alunos possuem as mesmas aptidões, segundo a teoria das inteligências múltiplas

de Gardner.

A dramatização possibilita-nos ainda incluir outros aspetos que seriam mais difíceis

de abordar na totalidade somente através da música. Anteriormente, apontámos a

ausência de outras realidades como, por exemplo, o facto de não ter sido incluído nenhum

acontecimento asiático. Se fosse incluída uma dramatização, esta poderia ser o momento

em que o imperador Hirohito se dirige ao Japão após a aceitação dos termos da Convenção

de Potsdam. Este foi um momento especialmente marcante para a história de um país

destruído por duas bombas nucleares. Pela primeira vez, um Imperador dirigia-se ao país,

pela sua própria voz, e assumindo a preocupação para com o sofrimento dos seus “leais

súbditos” e apelando à união de todos os japoneses para ultrapassar um momento tão

negativo.

Se nos basearmos no programa de História para o 3.º ciclo do Ensino Básico, e mais

particularmente nos conteúdos lecionados durante o 7.º ano, verificamos que a Pré-

História e a evolução do Homem são também abordadas em contexto de sala de aula. De

entre os vestígios do Homo Sapiens que encontramos, podemos verificar que existem

instrumentos musicais e, apesar de ser impossível interpretarmos as suas músicas, não

podemos omitir todo este passado em um espetáculo que tem por objetivo levar o público

numa viagem pela História. Por este motivo, consideramos que seria essencial incluí-los

no nosso espetáculo, e sugerimos que poderiam ser levados ao público através de uma

dramatização em que o Homem aparece a lascar pedra ou a tentar fazer uma fogueira.

Regressando aos aspetos musicais, verificamos que o movimento pelos direitos

civis dos negros e pelo empoderamento da mulher têm em comum a música Respect do

cantor de blues Otis Redding (1965) e imortalizada no cover de Aretha Franklin (1967),

que estrategicamente alterou a letra da música de um homem que pede respeito à sua

Page 120: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

120

mulher por trazer para casa o dinheiro, para uma mulher que pede respeito ao seu marido.

Simultaneamente negra e mulher, Aretha Franklin acompanhou desde muito jovem

Martin Luther King e acabaria por se tornar a voz de ambos os movimentos. A mesma

mensagem de empoderamento das mulheres e igualdade é também trazida ao público nas

músicas Do Right Woman, Do Right Man de Aretha Franklin (1967), Just a Girl dos No

Doubt (1995), Man! I Feel Like a Woman de Shania Twain (1997), Can’t Hold Us Down

de Christina Aguilera (2002), Run the World (Girls) de Beyoncé (2011) ou Ain’t Your

Mama de Jennifer Lopez (2016).

O movimento pelos direitos da comunidade LGBT é amplamente difundido pelas

músicas que são automaticamente reconhecidas por todos como símbolos da comunidade:

I Will Survive, interpretada por Gloria Gaynor, em 1978, Y.M.C.A e Macho Man, lançadas

também em 1978 pelos Village People ou It’s Raining Men das The Weather Girls (1982).

Encontra-se também ausente o quarteto mais conhecido da História musical

recente: os Beatles. A sua música All You Need Is Love poderia facilmente substituir a

música San Francisco (be sure to wear flowers in your hair) pois foi escrita em 1967 com

o objetivo de transmitir uma mensagem de amor que todos os povos do Mundo

compreendessem, embora vivessem um período de Guerra (a Guerra do Vietname,

decorrida entre 1955 e 1975) e instabilidade (devido ao clima de Guerra Fria entre os

Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Apesar de, num ponto de vista pessoal, ser particularmente fã do trabalho de

Michael Jackson, considero que a última música poderia ser substituída pela Imagine de

John Lennon e Yoko Ono, pois representa uma mensagem que cada vez é mais atual: a

Humanidade tem de esquecer a raça, a religião e a política e unir-se por um Mundo

melhor.

As sugestões que aqui apresentamos não se tratam, pois, de músicas que

considerámos obrigatórias incluir em um único repertório, uma vez que tal teria uma

duração quase sobre-humana. Estas são, sim, sugestões de diversas opções que poderiam

ser tidas em conta para a elaboração de outros espetáculos desta natureza.

O último aspeto que consideramos pertinente abordar é a composição do coro e a

Page 121: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

121

sua postura.

Apesar de os alunos mobilizados para participar neste projeto se terem

voluntariado, tal não foi uma decisão completamente voluntária da sua parte, dado que a

sua participação na atividade seria vista, pelo(a) professor(a), como tendo sido motivada

pelo seu interesse na disciplina de História. Por parte da Escola Secundária Dr. Joaquim

Gomes Ferreira Alves, a participação nas atividades do dia GFA não constitui uma

componente de avaliação das diversas disciplinas, pelo que não tem uma percentagem

atribuída.

Conforme mencionamos anteriormente, esta atividade foi promovida

exclusivamente pelos professores do grupo disciplinar de História e pelo Clube de Artes

Performativas pelo que, apesar de ser uma atividade com um cariz transversal, a mesma

não foi encarada dessa forma devido à não participação de professores de outras

disciplinas, uma vez que se encontravam a desenvolver as suas próprias atividades.

Lamentamos, portanto, não ter tido oportunidade de ter visto esta atividade a ser aplicada

no seu máximo esplendor, em que as diversas áreas curriculares se uniriam em torno da

música.

No que concerne à postura do coro durante o espetáculo consideramos que este

deveria transmitir esse mesmo simbolismo através de gestos, para que o seu público

compreendesse mais rapidamente, através da imagem, a mensagem que lhe está a ser

transmitida, dado que a música por si só é uma multiplicidade de linguagens e

significados, e que todas as músicas que compõem o repertório estão carregadas de

simbolismo.

O ser humano está preparado para associar sentimentos à música através das

sensações que ela lhe transmite. Não precisamos de compreender a linguagem, somente

as expressões faciais das outras pessoas e os sons que nos rodeiam. É precisamente isso

que nos aponta Stephen Davies (2003, p. 143) quando afirma que frequentemente

associamos o aspeto do outro, por exemplo, quando descrevemos uma pessoa como tendo

uma aparência triste, apesar de não sabermos se efetivamente essa pessoa se sente triste.

O mesmo ocorre com a música. Ao ouvirmos determinada música não estamos a ouvir as

Page 122: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

122

emoções expressas na mesma, mas sim a ouvir as características das emoções expressas

em sons. A música não tem a capacidade de sentir, mas tem a capacidade de nos fazer

sentir através dela (Davies, 2003, pp. 135-139). Pois bem, se não compreendemos o

idioma falado, podemos ainda compreender a mensagem emocional que nos está a ser

transmitida através das expressões faciais, tom de voz ou maneira de falar do nosso

interlocutor (Meyer, 1961, pp. 20-21). Para termos uma experiência mais completa, e

colmatarmos eventuais erros de tradução da linguagem verbal, é, portanto, necessário que

esses estejam em palco aquando do espetáculo.

A barreira linguística foi uma das maiores dificuldades que os alunos do coro

enfrentaram e, enquanto espectadora, senti essa mesma dificuldade, pois interpretavam

músicas como Ça Ira! Ça Ira! sem qualquer tipo de emoção dado que não compreendiam

o que estavam a cantar. Para combater esta complicação, as letras das músicas e o seu

contexto deveriam ter sido fornecidos aos alunos, algo que efetivamente veio a acontecer

no final do primeiro ensaio. Porém, para o vulgar espectador isto representa uma falha

ainda mais grave, pois só recebe uma pequena contextualização durante o espetáculo.

Este lapso que poderia ser colmatado se, para além da explicação fossem adotados, pelo

coro, alguns gestos simbólicos (apesar dos problemas legais que tal atitude pode

acarretar), como por exemplo, a saudação nazi durante a interpretação do hino da

Juventude Hitleriana.

Apesar de tudo o que apontamos anteriormente, esta é, sem dúvida, uma experiência

a repetir, não só porque acreditamos nas potencialidades da música como também

fazemos nossas as palavras de José Martínez (s.d.) quando afirma que

«por desgracia vivimos en una sociedad en la que la actividad auditiva se ha ido

perdiendo gradualmente, primero por el dominio absoluto de la imagen sobre las otras

formas de comunicación y en segundo lugar, porque estamos inmersos en lo que, desde

hace algún tiempo, se ha denominado “contaminación sonora”.» (para. 8)

A verdade é que temos evoluído de um sistema escolar que se centrava na figura do

professor enquanto mestre que tudo sabia e que educava os seus alunos através da palavra,

da memorização, para uma primazia da imagem. Há relativamente uma década, os alunos

entusiasmavam-se quando viam a televisão na sala de aula ou quando era projetada uma

Page 123: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

123

apresentação em PowerPoint; porém, atualmente, esta “surpresa” não é uma realidade.

Somos, constantemente, “bombardeados” com imagens em contexto escolar: elas

decoram as páginas dos manuais, ilustram os cartazes que estão em exibição nos

corredores, e estão nos telemóveis, disponíveis à distância de um clique. Outra verdade é

que vivemos rodeados de música, ou pelo menos de ruído, mas, frequentemente, não

temos os conhecimentos que nos permitem valorizar a música da maneira como esta

deveria ser valorizada e interpretada.

Consideramos que as potencialidades deste tipo de atividades superam as

limitações, podendo fornecer aos alunos uma outra visão da História que não é trabalhada

em contexto de sala de aula. Porém, não sendo objetiva, pode também toldar a visão que

os alunos possuem, indo ao encontro do que é atualmente um dos problemas que

enfrentamos nos programas de História.

Ao longo deste trabalho, observámos que a música é frequentemente aplicada como

um recurso, como se fosse um meio para atingir um fim e não um fim em si mesma.

Todavia, a Música é algo a valorizar por todos nós. Conforme aponta Beatriz Ilari (2005)

“a música carrega traços de história, cultura, e identidade social que são transmitidos

através da educação musical” (para. 18). Atividades como esta, simultaneamente lúdicas

e educativas, podem ajudar os alunos a compreender o Outro, a identificar-se com o

Passado e, simultaneamente, deixam os alunos com uma “sensação de realização pessoal,

de bem estar e de prazer” (Ilari, 2005, s/p).

Esta atividade foi uma excelente forma de aprendizagem, quer para os alunos, quer

para mim, que também sou aluna no que concerne ao aprender a ser professora e

considero que o serei para sempre.

Ao longo destes dois anos, assisti a conquistas e derrotas por parte das professoras

coordenadoras do projeto, que nem sempre conseguiram levar as suas ideias avante, mas

também refleti sobre esta realidade, ganhando ideias que poderei aplicar quando tiver

oportunidade. Esta é uma atividade com potencialidades ilimitadas! Pode ser aplicada

dentro e fora da sala de aula, com um repertório específico para um determinado tema ou

dando total liberdade aos alunos para que, selecionando eles mesmos uma época e um

Page 124: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

124

tema, se construa um novo espetáculo, possivelmente até com algumas músicas

compostas pelos próprios alunos, se existirem recursos para tal.

Banda sonora recomendada:

Me-e-e, ooh-ooh-ooh-ooh

I'm the only one of me

Baby, that's the fun of me

Eeh-eeh-eeh, ooh-ooh-ooh-ooh

You're the only one of you

Baby, that's the fun of you

And I promise that nobody's gonna love you like me-e-e

Taylor Swift feat. Brendon Urie, ME! (2019)

Finda esta grande experiência de aprendizagem cabe-nos refletir sobre a mesma, e

tal como afirmamos nas primeiras páginas deste relatório, o tema “Sons da História” não

foi algo pensado com antecedência e, por isso, este projeto apresenta limitações e

potencialidades que são consequência disso mesmo.

Neste relatório optámos por seguir uma metodologia descritiva, que incluía a

descrição, comparação, análise e interpretação dos vários momentos da atividade “Sons

da História” a que assistimos. Este tratou-se então de estudo realizado durante o ano de

estágio mas que também acompanhamos no ano que se seguiu, ou seja, durante toda a

duração do projeto. Ao longo do relatório foi constante a nossa preocupação em avaliar a

atividade de forma qualitativa mas também quantitativa, pelo que decidimos realizar

inquéritos para avaliar de que forma os alunos saíram beneficiados pela atividade

Já reconhecemos aquilo que consideramos ser uma das limitações deste relatório: a

falta de uma avaliação prévia dos conhecimentos que os alunos tinham sobre os

acontecimentos abordados na atividade e a realização de um pequeno exercício de

avaliação depois da atividade para verificar se, de facto, aumentaram os seus

conhecimentos de História. A partir da observação do comportamento dos alunos durante

Page 125: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

125

a atividade e também daquilo que fomos ouvindo, assim como das respostas positivas que

foram dadas no inquérito, podemos afirmar que “Os Sons da História” ajudaram os alunos

a adquirir mais conhecimento; porém, devido à falta de uma avaliação formal prévia e

posterior, não o podemos afirmar com total segurança e apresentar resultados concretos

sobre essa convicção. Por isto mesmo, só constatámos a existência desta falha quando

começamos a escrever o presente relatório e já não foi possível corrigi-la.

Consideramos que outra limitação está presente nos inquéritos que entregamos aos

alunos. Em primeiro lugar, pelo facto de não termos realizado mais inquéritos ao longo

do tempo de duração da atividade e termos perdido a oportunidade de conhecer as

mudanças de opinião que existiram, assim como as motivações que levaram alunos a

abandonar o projeto. E em segundo lugar por termos optado por entregar em papel, o que

levou a que dois alunos optassem por não responder a algumas questões.

Outra das limitações que reconhecemos prende-se com a natureza de qualquer

trabalho académico e a impossibilidade de realizar um levantamento de todos as

investigações que foram realizadas sobre o tema anteriormente, levando a que optássemos

por fazer uma seleção de obras que consideramos mais pertinentes para o tema a tratar.

Durante a nossa pesquisa bibliográfica fomos confrontados com artigos e obras que

suscitaram interesse, mas que não foi possível consultar por não se encontrem disponível

em repositório aberto ou por apenas termos tomado conhecimento das mesmas de forma

indireta.

Apesar das suas limitações, acreditámos que este trabalho também apresenta

potencialidades, sendo a principal o seu carácter inovador, pelo que pode ser utilizado

como ponto de partida para a realização de novas atividades deste género ou até mesmo

para estudos que permitam conhecer de forma sistemática quais os benefícios que se

podem obter através de projetos como este.

Page 126: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

126

Referências bibliográficas

Fontes institucionais

Despacho n.º 6478/2017 de 26 de julho. Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade

Obrigatória. Diário da República, 2.ª série – N.º 143. Ministério da Educação. Lisboa.

Decreto-lei n.º 46/86 de 14 de outubro. Lei de Bases do Sistema Educativo. Diário

da República n.º 237/1086, Série I de 1986-10-14. Assembleia da República. Lisboa.

Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves. (2017). Projeto Educativo

2017/2021. Disponível em:

https://drive.google.com/file/d/1_lq_WNlaCJSEVGwbVgZeqB-

vX0axx5lh/view?usp=sharing.

Referências bibliográficas

Adorno, T. W. (1971). Introduzione alla Sociologia della Musica. Turim: Giulio

Einaudi editore.

Aldemir, G. Y., Ramazanoğlu, N., Çamligüney, A. F., & Kaya, F. (2011). The

effects of dance education on motor performance of children. Educational Research and

Reviews. 6 (19), 979-982. Disponível em:

https://researchgate.net/publication/288792385_The_effects_of_dance_education_on_m

otor_performance_of_children

Almeida, L. S. (2002). As aptidões na definição e avaliação da inteligência: o

conceito da análise fatorial. Paidéia. 12 (23), 5-17. Disponível em.

http://www.scielo.br/pdf/paideia/v12n23/02.pdf.

Almeida, L. S., Ferrando, M., Ferreira, A. I., Prieto, M. D., Fernández, M. C., &

Page 127: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

127

Sainz, M. (2009). Inteligências múltiplas de Gardner: é possível pensar a inteligência sem

um factor g?. Psychologica. 50, 41-55. Disponível em: https://digitalis-

dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/5424/6/7%20-%20Inteligencias%20multiplas%20de%20Ga

rdner-%20E%20possivel%20pensar%20a%20inteligencia%20sem%20um%20factor%2

0g.pdf?ln=pt-pt.

Anjos, I. V. C., & Ferraro, A. A. (2018). A influência da dança educativa no

desenvolvimento motor das crianças. Revista Paulista de Pediatria. 36 (3), 337-344.

Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpp/v36n3/0103-0582-rpp-2018-36-3-

00004.pdf

Beedie, C. J., Terry, P. C., & Lane, A. M. (2005). Distinctions between emotion

and mood. Cognition and Emotion. 19 (6), 847-878. Disponível em:

https://pdfs.semanticscholar.org/5547/45c7792d5d34dc86a7556a3de61fe338091d.pdf.

Bell, J. (2004). Como realizar um projecto de investigação. Lisboa: Gradiva.

Betancourt, J. E., & Hernandez, M. (2012). The Effect of Physical and Music

Education in the Development of Motor Skills in Children between Six and Eight Year-

Olds in an Inclusive Environment. NALS Journal. 4 (1), 1-13. Disponível em:

https://digitalcommons.ric.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://www.google.com/&

httpsredir=1&article=1023&context=nals

Campbell, P. S. (2010). Songs in Their Heads: Music and Its Meaning in Children’s

Lives. 2.ª Ed. Oxford: Oxford University Press.

Carvalho, I. M. V. (2015). A música no ensino da história. (Dissertação de

Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa,

Lisboa). Acedido em:

https://run.unl.pt/bitstream/10362/17273/1/M%c3%basica_ensino_hist%c3%b3ria_Isau

raCarvalho.pdf.

Carvalho, M. V. (1991). Sociologia da Música – elementos para uma retrospectiva

e para uma definição das suas tarefas actuais. Revista Portuguesa de Musicologia. 1, 37-

44. Disponível em: www.rpm-ns.pt/index.php/rpm/article/view/50/59.

Page 128: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

128

Chiarelli, L., & Barreto, S. (2005). A Música como meio de desenvolver a

inteligência e a integração do ser. Recrearte. 3. Disponível em:

iacat.com/revista/recrearte/recrearte03/musicoterapia.htm

Correia, M. A. (2010). A função didático-pedagógica da linguagem musical: uma

possibilidade na educação. Educar em Revista. 36, 127-145. Disponível em:

https://www.redalyc.org/pdf/1550/155015820010.pdf.

Côrte-Real, M. S. J. (1996). Sons de Abril: estilos musicais e movimentos de

intervenção político-cultural na Revolução de 1974. Revista Portuguesa de Musicologia.

6, 141-171. Disponível em: www.rpm-ns.pt/index.php/rpm/article/view/92/96.

Costa, F. J. M. (2010). Da Capo al Coda, manualística de Educação Musical em

Portugal (1967-2004): configurações, organização. (Tese de Doutoramento, Faculdade

de Letras da Universidade do Porto, Porto). Acedido em https://repositorio-

aberto.up.pt/handle/10216/51228.

Costa-Giomi, E. (2006). Does Music Instruction Improve Fine Motor Abilities?.

Annals of the New York Academy of Sciences. 1060 (1): 262-264. Disponível em:

https://researchgate.net/publication/7181557_Does_Music_Improve_Fine_Motor_Abilit

ies

Couto, A. C. N., & Santos, I. R. S. (2009). Por que vamos ensinar música na escola?

Reflexões sobre conceitos, funções e valores da educação musical escolar. Opus. 15 (1),

110-125. Disponível em:

https://anppom.com.br/revista/index.php/opus/article/view/265/245.

Cuervo, L. (2011). Articulações entre Música, Educação e Neurociências: Ideias

para o Ensino Superior. In 7 SIMCAM – Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Brasília:

UNB, 2011. Disponível em: www.ufrgs.br/musicalidade/midiateca/musica-e-

neurociencias/articulacoes-entre-musica-educacao-e-neurociencias-ideias-para-o-

ensino-superior/view

Davidson, J. (1999). O corpo na interpretação musical. Revista Música, Psicologia

e Educação. 1, 79-89. Disponível em: https://cipem.files.wordpress.com/2007/03/artigo-

Page 129: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

129

07.pdf.

Davies, S. (2003). Themes in the Philosophy of Music. Nova Iorque: Oxford

University Press.

Del Ben, L., & Hentschke, L. (2002). Educação musical escolar: uma investigação

a partir das concepções e ações de três professoras de música. Revista da ABEM. 7, 49-

57. Disponível em:

https://abemeducacaomusical.com.br/revista_abem/ed7/revista7_artigo5.pdf.

DeNora, T. (2003). After Adorno. Rethinking Music Sociology. Cambridge:

Cambridge University Press.

Eulalia, P. S. S., & Suelves, D. M. (2016). Música y educación en valores;

aprendizaje servicio en la escuela primaria. Quaderns Digitals, 83, 34-43. Disponível em:

http://www.quadernsdigitals.net/datos_web/hemeroteca/r_1/nr_854/a_11445/11445.pdf.

Ferreira, C. A. S. (2013). Venham mais cinco músicas para o ensino da História e

da Geografia. (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto,

Porto).

Freitas, V. M. O., & Petersen, G. T. (2015). Música e o ensino de História.

Di@logus, 4 (4), 32-50. Disponível em:

http://revistaeletronica.unicruz.edu.br/index.php/Dialogus/article/view/3959/628.

Gama, M. C. S. S. (1994). A Teoria das Inteligências Múltiplas ou a descoberta das

diferenças. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. 1 (02), 13-19.

Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

40361994000100003&lng=pt&nrm=iso.

Garcia, V. P., & Santos, R. (2012). A importância da utilização da música na

educação infantil. EFDeportes.com Revista Digital. 169. Disponível em:

https://www.efdeportes.com/efd169/a-musica-na-educacao-infantil.htm.

Gardner, H. (2002). Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas.

Porto Alegre: ARTMED Editora S.A.

Gardner, H., Kornhaber, M. L., & Wake, W. K. (1998). Inteligência: múltiplas

Page 130: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

130

perspectivas. Porto Alegre: ARTMED Editora S.A.

Gjerdingen, R. (2002). The psychology of music. In The Cambridge History of

Western Music Theory. Ed. Thomas Christensen. Pp. 956-981. Cambridge: Cambridge

University Press. Disponível em:

http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/summary?doi=10.1.1.330.5456.

Gordon, E. E. (2000). Teoria de Aprendizagem Musical: competências, conteúdos

e padrões. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Granja, C. E. S. C. (2014). Musicalizando a escola: música, conhecimento e

educação. São Paulo: Escrituras Editora. Disponível em:

https://books.google.pt/books?id=qkftAgAAQBAJ&dq=Musicalizando+a+Escola:+m%

C3%BAsica,+conhecimento+e+educa%C3%A7%C3%A3o&hl=pt-

PT&sa=X&ved=0ahUKEwis3ZGB1bDkAhUiAWMBHV1_BLAQ6AEIKTAA.

Hargreaves, D. J. (1986). The Developmental Psychology of Music. Cambridge:

Cambridge University Press. Disponível em: https://books.google.pt/books?hl=pt-

PT&lr=&id=6DkbMxQk_xkC&oi=fnd&pg=PR9&dq=music%3B+history%3B+psycho

logy&ots=JUkrGQ0Wob&sig=3TKZ9Rso9TQuhocaiyPreisapYE&redir_esc=y#v=onep

age&q=music%3B%20history%3B%20psychology&f=false.

Hargreaves, D. J. (1999). Desenvolvimento musical e educação no mundo social.

Revista Música, Psicologia e Educação. 1, 5-13. Disponível em:

https://cipem.wordpress.com/revista/revista-1999-nº-1/.

Hummes, J. M. (2004). Porque é importante para o ensino da música?

Considerações sobre as funções da música na sociedade e na escola. Revista da ABEM.

11, 17-25. Disponível em:

http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/index.php/revistaabem/a

rticle/view/343.

Ilari, B. (2005). A música e o desenvolvimento da mente no início da vida:

investigação, fatos e mitos. Revista eletrônica de musicologia. IX. Disponível em:

www.rem.ufpr.br/_REM/REMv9-1/ilari.pdf

Page 131: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

131

Jäncke, L. (2008). Music, memory and emotion. Journal of Biology. 7, 21.1-21.5.

Disponível em: https://jbiol.biomedcentral.com/track/pdf/10.1186/jbiol82.

Jeandot, N. (1978). Explorando o universo da música. São Paulo: Scipione.

Koelsch, S. (2011). Toward a neural basis of music perception – a review and

updated model. Frontiers in Psychology. 2 (110), p. 1-20. Disponível em:

https://www.researchgate.net/publication/51451927_Toward_a_Neural_Basis_of_Musi

c_Perception_-_A_Review_and_Updated_Model.

Leutwyler, K. (s.d.). Exploring the Musical Brain. Disponível em:

http://cogweb.ucla.edu/ep/Music_Leutwyler_01.html.

Lima, C. S., & Mello, L. M. (2013). A importância da música no processo de

aprendizagem. Ciência Atual. 1 (1), 97-109. Disponível em:

http://inseer.ibict.br/cafsj/index.php/cafsj/article/download/12/pdf.

Louça, J. (2017). «Aprendíamos de forma diferente. Em vez de estarmos a ouvir,

fazíamos». Aprendizagem através das artes na escola básica: um estudo de caso.

Educação, Sociedade & Culturas. 50, 117-134. Disponível em:

https://www.fpce.up.pt/ciie/sites/default/files/ESC50_Joana.pdf.

Loureiro, A. M. A. (2001). O Ensino da Música na escola fundamental: um estudo

exploratório (Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

Minas Gerais). Disponível em:

http://server05.pucminas.br/teses/Educacao_LoureiroAM_1.pdf.

Magraner, J. S. B., & Valero, G. B. (2018). La Educación musical como

potenciadora de la creatividad. Quaderns Digitals. 87, 92-112. Disponível em:

www.quadernsdigitals.net/index.php?accionMenu=hemeroteca.VisualizaArticuloIU.vis

ualiza&articulo_id=11495

Martínez, J. C. P. (s.d.). La audición musical: su didáctica. Desarrollo de la

comprensión auditiva en primaria. Objetivos, contenidos y actividades. Programación de

audiciones para el alumnado de primaria. Quaderns Digitals, 47. Disponível em:

www.quadernsdigitals.net/datos/hemeroteca/r_47/nr_503/a_6899/6899.html

Page 132: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

132

Merriam, A. (1964). The Anthropology of Music. Illinois: Northwestern University

Press. Disponível online em:

https://books.google.pt/books?id=4bUAFf8CWosC&pg=PP15&hl=pt-

PT&source=gbs_selected_pages&cad=2#v=onepage&q&f=false

Meyer, L. B. (1961). Emotion and meaning in music. Chicago: University of

Chicago Press.

Miranda, L. R. M. (2009). Música, Canção e o Ensino de Língua Espanhola. In

Conte, D., Volmer, L., & Grégis, R. A. (Orgs.). Espaços de Encontro: literatura, cinema,

linguagem, ensino. (pp. 111-128). Novo Hamburgo: Editora Feevale.

Moura, M., Martins, M., & Coimbra, D. (2014). Contributo das atividades de

complemento curricular (clube de música) no desempenho académico de estudantes do

ensino básico. Educação, Sociedade & Culturas, 41, 69-89. Disponível em:

https://www.fpce.up.pt/ciie/sites/default/files/ESC41_M_Moura_M_Martins_D_Coimb

ra.pdf.

Music and the Holocaust. (s.d.). Disponível em: holocaustmusic.ort.org/resistance-

and-exile/french-resistance/le-chant-des-partisans

Muszkat, M. (2012). Música, neurociência e desenvolvimento humano. Disponível

em: amusicanaescola.com.br/pdf/Mauro_Muszkat.pdf

Nery, R. V. (2015). Os Sons da República. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da

Moeda.

Nunes, J. P. A. (1995). As organizações de juventude do Estado Novo (1934-1949).

Revista de História das Ideias. 17, 167-227.

Oliveira, B. S. V. (2010). Música: um bem universal circunscrito às atividades de

enriquecimento curricular (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Psicologia e Ciências

da Educação da Universidade do Porto, Porto). Acedido em: https://repositorio-

aberto.up.pt/bitstream/10216/55037/2/29546.pdf.

Ongaro, C. F., Silva, C. S., & Ricci, S. M. (2005). A importância da música na

aprendizagem. Disponível online em: https://www.passeidireto.com/arquivo/4256632/a-

Page 133: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

133

importancia-da-musica-na-aprendizagem

Palheiros, G. B. (1999). Investigação em educação musical: perspectivas para o

seu desenvolvimento em Portugal. Disponível online em:

https://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/3117/1/ART_GracaPalheiros_1999.pdf

Palheiros, G. B., & Hargreaves, D. J. (2002). Ouvir música em casa e na escola:

influência do contexto educativo em crianças e adolescentes. Música, Psicologia e

Educação. 4, 47-66. Disponível em: https://cipem.files.wordpress.com/2007/01/04-2002-

6-ouvir-mc3basica-em-casa-e-na-escola-influc3aancia-do-contexto-educativo-

em.crianc3a7as-e-adolescentes.pdf

Pereira, A. (1996). Teoria musical e estética no Compendium Musicae de

Descartes. Revista Portuguesa de Musicologia. 6, 99-107. Disponível em: www.rpm-

ns.pt/index.php/rpm/article/view/89/93.

Pinker, S. (1997). How the mind works. Nova Iorque: Penguin Books. Disponível

online em:

http://hampshirehigh.com/exchange2012/docs/Steven%20Pinker%20-%20How%20The

%20Mind-Works.pdf.

Pinsky, J., & Pinsky, C. B. (2004). Por uma história prazerosa e consequente. In

História na sala de aula. Conceitos, práticas e propostas. 2.ª ed. (Karnal, P. Org.). Brasil,

São Paulo: Editora Contexto, pp. 17-36.Disponível em: https://vdocuments.mx/por-uma-

historia-prazerosa-e-consequente.html.

Quirós, I. M., & Julián, E. R. S. (2001). La identidad juvenil desde las afinidades

musicales. Madrid: Instituto de la Juventud.

Raposo, E. M. (2007). Canto de Intervenção. 1960-1976. Lisboa: Público,

Comunicação Social, SA.

Regueiro, P. D. (2000). El significado de la música y el contexto social en educación

musical. Kikiriki. Cooperación educativa. 57, 47-42. Disponível em:

http://www.quadernsdigitals.net/datos/hemeroteca/r_7/nr_108/a_1312/1312.htm.

Rocha, V. C., & Boggio, P. S. (2013). A música por uma óptica neurocientífica.

Page 134: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

134

Per musi. 27, 132-140. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pm/n27/n27a12.pdf.

Santos, B. S. (2007). La Universidad en el siglo XXI. Para una reforma

democrática y emancipadora de la Universidad. Bolívia: Plural Editores. Disponível em:

http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/universidad_siglo_xxi-.pdf.

Santos, L. S., & Parra, C. R. (2015). Música e neurociências – inter-relação entre

música, emoção, cognição e aprendizagem. Disponível em:

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?musica-e-neurociencias-inter-relacao-

entre-musica-emocao-cognicao-e-aprendizagem&codigo=A0853&area=d2

Schwanitz, D. (2004). Cultura. Tudo o que é preciso saber. Lisboa: Publicações

Dom Quixote.

Seffner, F. (2001). Aprendizagens significativas em História: critérios de

construção para atividades em sala de aula. Revista História Unicruz, 2, 35-46.

Disponível em:

https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/179300/001069219.pdf?sequence=1.

Silva, P. C. V. (2012). A música como veículo promotor do ensino e aprendizagens.

(Dissertação de Mestrado, Universidade dos Açores, Açores). Acedido em:

https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/1520/1/DissertMestradoPaulaCristinaViveir

osSilva2012.pdf.

Söderman, J., Burnard, P., & Hofvander-Trulsson, Y. (2016). Contextualising

Bourdieu in the Field of Music and Music Education. In Pamela Burnard, Ylva

Hofvander-Trulsson & Johan Söderman (ed.). Bourdieu and the Sociology of Music

Education. (pp. 1-11). Nova Iorque: Routledge.

Sousa, A. B. (2003a). Educação pela arte e artes na educação. Bases

Psicopedagógicas. Vol. 1. Lisboa: Instituto Piaget.

Sousa, A. B. (2003b). Educação pela arte e artes na educação. Drama e dança.

Vol. 2. Lisboa: Instituto Piaget.

Sousa, A. B. (2003c). Educação pela arte e artes na educação. Música e Artes

Plásticas. Vol. 3. Lisboa: Instituto Piaget.

Page 135: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

135

Sousa, A. S. S. C. P. (2013). Música e Saúde: uma Arte ao serviço da Ciência

Médica. (Dissertação de Mestrado, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar)

Stefani, G. (1987). Compreender a Música. Lisboa: Editorial Presença.

Valverde, A. R. Q. (2014). A música como recurso promotor de aprendizagens em

História e Geografia. (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do

Porto, Porto).

Vilar, D. P. (2018). Design para a Demência – Música como meio de estimulação

de memórias autobiográficas. (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Belas Artes da

Universidade do Porto, Porto). Disponível em: https://repositorio-

aberto.up.pt/bitstream/10216/117821/2/304186.pdf.

Welch, G. (2012). The Benefits of Singing for Children. Disponível em

https://www.researchgate.net/profile/Graham_Welch/publication/273428150_The_Bene

fits_of_Singing_for_Children/links/550061710cf2d61f820d6e83/The-Benefits-of-

Singing-for-Children.pdf

Wolfe, P. (2004). Compreender o funcionamento do cérebro e a sua importância

no processo de aprendizagem. Porto: Porto Editora.

Zanchi, B., Bacarella, E., Bonfiglioli, L., Addessi, A. R., Colace, E., & Quadrelli,

F. (2017). Inclusive practice in italian schools. Body and music listening and sharing

without words. Educação, Sociedade & Culturas, 50, 33-52. Disponível em:

https://www.fpce.up.pt/ciie/sites/default/files/ESC50_Barbara_etal.pdf.

Page 136: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

136

Anexos

Índice dos anexos

Anexo 1 – Repertório do primeiro ensaio ............................................................................. 138

Anexo 2 – Repertório do segundo ensaio e do dia GFA 2018 .............................................. 145

Anexo 3 – Guião da narradora (dia GFA 2018) .................................................................... 150

Anexo 4 – Repertório do espetáculo de outubro de 2018 ..................................................... 152

Anexo 5 – Guião da narradora (outubro de 2018) ................................................................ 158

Anexo 6 – Repertório do espetáculo do dia GFA 2019 ........................................................ 161

Anexo 7 – Guião da narradora (dia GFA 2019) .................................................................... 167

Anexo 8 – Distribuição dos alunos de acordo com o género ................................................ 169

Anexo 9 – Distribuição dos alunos de acordo com a idade .................................................. 170

Anexo 10 – Distribuição dos alunos de acordo com o ano de escolaridade ......................... 171

Anexo 11 – Análise das respostas dos alunos à questão «É a primeira vez que participas nesta

atividade?» ............................................................................................................................ 172

Anexo 12 – Análise das respostas dos alunos à questão «Consideras que esta atividade te ajudou

a aumentar os teus conhecimentos sobre História?» ............................................................. 173

Anexo 13 – Análise das respostas dos alunos à questão «Consideras que esta atividade te ajudou

a relacionar mais facilmente os acontecimentos do passado, que aprendes nas aulas, com o que

acontece no presente?» .......................................................................................................... 174

Anexo 14 – Análise das respostas dos alunos à questão «A participação neste género de

atividades aumenta o teu interesse pela disciplina de História?» .......................................... 175

Anexo 15 – Análise das respostas dos alunos à questão «A atividade “Sons da História” foi ao

encontro das tuas expectativas?» ........................................................................................... 176

Anexo 16 – Análise das respostas dos alunos à questão «Voltarias a participar nesta atividade?

Justifica a tua resposta» ......................................................................................................... 177

Page 137: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

137

Anexo 17 – Distribuição dos Encarregados de Educação de acordo com o género ............. 178

Anexo 18 – Distribuição dos Encarregados de Educação de acordo com a idade ................ 179

Anexo 19 – Distribuição dos Encarregados de Educação de acordo com o nível de escolaridade

............................................................................................................................................... 180

Anexo 20 – Análise das respostas dos Encarregados de Educação à questão «Para si é

importante que o seu educando participe em eventos como este? Justifique a sua resposta»181

Anexo 21 – Distribuição das respostas dos Encarregados de Educação de acordo com a

justificação apresentada na questão «Para si é importante que o seu educando participe em

eventos como este? Justifique a sua resposta». ..................................................................... 182

Anexo 22 – Análise das respostas dos Encarregados de Educação à questão «Considera que

saiu enriquecido depois de assistir a este espetáculo? Porquê?» ........................................... 184

Anexo 23 – Distribuição das respostas dos Encarregados de Educação de acordo com os

motivos apontados na questão «Considera que saiu enriquecido depois de assistir a este

espetáculo? Porquê?» ............................................................................................................ 185

Anexo 24 – Distribuição das respostas dos Encarregados de Educação à questão «Considera

que deveriam existir mais espetáculos deste género?» ......................................................... 186

Page 138: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

138

Anexo 1 – Repertório do primeiro ensaio

1. Egito (dança)

2. Idade Média (dança)

3. Idade Moderna (Luís XIV) –

(dança)

4. Ça Ira! Ça Ira!

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates à la lanterne

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates on les pendra

V'la trois cents ans qu'ils nous promettent

Qu'on va nous accorder du pain,

V'la trois cents ans qu'ils donnent des fêtes.

Et qu'ils entretiennent des catins

V'la trois cents ans qu'on nous écrase

Assez de mensonges et de phrases,

On ne veut plus mourir de faim.

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates à la lanterne

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates on les pendra

5. A Marselhesa

Allons enfants de la Patrie

Le jour de gloire est arrivé!

Contre nous de la tyrannie

L'étendard sanglant est levé

L'étendard sanglant est levé

Entendez-vous dans les campagnes

Mugir ces féroces soldats?

Ils viennent jusque dans vos bras

Égorger vos fils, vos compagnes!

Aux armes, citoyens

Formez vos bataillons

Marchons, marchons!

Qu'un sang impur

Abreuve nos sillons!

6. Hino da Internacional

De pé, ó vítimas da fome!

De pé, famélicos da terra!

Da ideia a chama já consome

A crosta bruta que a soterra.

Cortai o mal bem pelo fundo!

De pé, de pé, não mais senhores!

Se nada somos neste mundo,

Sejamos tudo, oh produtores!

Bem unidos façamos,

Nesta luta final,

Uma terra sem amos

A Internacional

Bem unidos façamos,

Nesta luta final,

Uma terra sem amos

A Internacional.

Page 139: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

139

7. A Portuguesa

Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal,

Levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal!

Entre as brumas da memória,

Ó Pátria sente-se a voz

Dos teus egrégios avós,

Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar,

Contra os canhões marchar, marchar!

8. It’s a long way to Tipperary

Up to mighty London came an Irishman one

day,

As the streets are paved with gold, sure

everyone was gay

Singing songs of Piccadilly, Strand and

Leicester Square

Till Paddy got excited, then he shouted to

them there:

It’s a long way to Tipperary

It’s a long way to go

It’s a long way to Tipperary

To the sweetest girl I know!

Oh good-bye to Piccadilly!

Farewell, Leicester Square!

It’s a long, long way to Tipperary,

But my heart lies there!

9. Anos 20 – Charleston (dança)

10. Il Duce

Duce. Duce

Nome Benedetto

Che di gioia accendi

Il nostro petto

Ti saluta la giovenezza,

Che al tuo cuore più vicino sta.

Alla fiamma del tuo santo ardore

Si prepara qui d’Italia il fiore:

La palestra di sua grandeza

Nel tuo nome qui

La stirpe aurà!

Il Duce

Guerra non temiam!

Scudo il nostro cuore

A noi! A noi!

Sempre a te sarà

A noi! A noi!

Il Duce

Il Duce

Roma ancora il mondo guiderà!

11. Vorwärtz! Vorwärtz!

(conforme os alunos devem

ler)

Forvertz! Forvertz!

Chmetérren di elen fantaren

Forvertz! Forvertz!

Iugen kent kaina gefarren

Doitcheland du virrst loichtend cheten

Môgen vir aurr untrreg

Page 140: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

140

Forvertz! Forvertz!

Chmetérren di elen fanfaren

Forvertz! Forvertz!

Iugen kent kaina gefarren

Ist das zil aurr norr zô ôrr

Iugen tzvingt és dorr

Unzerra fána flaterrte uns vorran

In die tzunkunft zien vir mán fuir mán

Vir marrchierren fuir Hitler

Durr narrte unt durr

Mit derr fáne derr iungen

Fuirr frraiant unt brrôte

Unzerra fána flaterrte uns vorran

Unzerra fáne ist di noia zait

Unte fáne fuirr uns in di evichkait

Iá di fáne ist mérr als dérr tôt

12. Hino da mocidade portuguesa

Lá vamos cantando e rindo

Levados, levados sim

Pela voz do som tremendo

Das tubas clamor sem fim

Lá vamos que o sonho é lindo

Torres e torres, erguendo

Clarões, clareiras abrindo

Alva de luz imortal

Que roxas névoas despedaçam

Doiram os céus de Portugal

Querer, querer e lá vamos

Tronco em flor estende

Os ramos à mocidade que passa.

13. Ay Carmela

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba la

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Contraataques muy rabiosos,

Rumba la rumba la rumba la

Contraataques muy rabiosos

Rumba la rumba la rumba la

Deberemos resistir,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Deberemos resistir

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

14. Le chant des partisans

Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur

nos plaines ?

Ami, entends-tu les cris sourds du pays

qu’on enchaîne ?

Ohé partisans, ouvriers et paysans, c’est

Page 141: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

141

l’alarme !

Ce soir l’ennemi connaîtra le prix du sang et

des larmes.

Montez de la mine, descendez des collines,

camarades,

Sortez de la paille les fusils, la mitraille, les

grenades

Ohé les tueurs, à la balle et au couteau tuez

vite !

Ohé saboteur, attention à ton fardeau,

dynamite…

15. Bella ciao

Una mattina mi son’svegliato

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

Una mattina mi son’svegliato

E ho trovato l’invasor

O partigiano portami via

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

O partigiano portami via

Ché mi sento di morir

E se io muoio da partigiano

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

E se io muoio da partigiano

Tu mi devi seppellir

16. Menina dos olhos tristes

Menina dos olhos tristes

O que tanto a faz chorar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo

Olhe o cachimbo a apagar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados

Porque a fatiga o tear

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo

Uma carta o fez chorar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

A lua que é viajante

É que nos pode informar

O soldadinho já volta

Está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho

Do outro lado do mar

Desta vez o soldadinho

Nunca mais se faz ao mar

17. E depois do Adeus

Quis saber quem sou

O que faço aqui

Quem me abandonou

De quem me esqueci

Perguntei por mim

Quis saber de nós

Page 142: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

142

Mas o mar

Não me traz

Tua voz

Em silêncio, amor

Em tristeza enfim

Eu te sinto, em flor

Eu te sofro, em mim

Eu te lembro, assim

Partir é morrer

Como amar

É ganhar

E perder

Tu vieste em flor

Eu te desfolhei

Tu te deste em amor

Eu nada te dei

Em teu corpo, amor

Eu adormeci

Morri nele

E ao morrer

Renasci

18. Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo

Em cada rosto igualdade

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada rosto igualdade

O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira

Grândola, a tua vontade

Grândola, a tua vontade

Jurei ter por companheira

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

19. Wind of change (com dança)

I follow the Moskva

Down to Gorky Park

Listening to the wind of change

An August summer night

Soldiers passing by

Listening to the wind of change

The world is closing in

Did you ever think

That we could be so close, like brothers

I can feel it everywhere

Page 143: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

143

Blowing with the wind of change

Take me to the magic of the moment

On a glory night

Where the children of tomorrow dream away

(dream away)

In the wind of change

20. Heal the world (final)

There’s a place in your heart

And I know that it is love

And this place could be much

Brighter than tomorrow

And if you really try

You’ll find there’s no need to cry

In the place you’ll feel

There’s no hurt or sorrow

There are ways to get there

If you care enough for the living

Make a little space

Make a better place

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make it a better place

For you and for me

If you want to know why

There’s love that cannot lie

Love is strong

It only cares of joyful giving

If we try we shall see

In this bliss we cannot feel

Fear of dread

We stop existing and start living

The it feels that always

Love’s enough for us growing

Make a better place

Make a better world

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

We could fly so high

Let our spirits never die

In my heart I feel you are all my brothers

Create a world with no fear

Together we cry happy tears

See the nations turn their swords into

plowshares

We could really get there

If you cared enough for the living

Make a little space

To make a better place

Page 144: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

144

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

You and for me

Page 145: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

145

Anexo 2 – Repertório do segundo ensaio e do dia GFA 2018

1. Egito (dança)

2. Idade Média (dança)

3. Idade Moderna (Luís XIV) –

(dança)

4. Ça Ira! Ça Ira!

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates à la lanterne

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates on les pendra

V'la trois cents ans qu'ils nous promettent

Qu'on va nous accorder du pain,

V'la trois cents ans qu'ils donnent des fêtes.

Et qu'ils entretiennent des catins

V'la trois cents ans qu'on nous écrase

Assez de mensonges et de phrases,

On ne veut plus mourir de faim.

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates à la lanterne

Ah, ça ira, ça ira, ça ira

Les aristocrates on les pendra

5. A Marselhesa

Allons enfants de la Patrie

Le jour de gloire est arrivé!

Contre nous de la tyrannie

L'étendard sanglant est levé

L'étendard sanglant est levé

Entendez-vous dans les campagnes

Mugir ces féroces soldats?

Ils viennent jusque dans vos bras

Égorger vos fils, vos compagnes!

Aux armes, citoyens

Formez vos bataillons

Marchons, marchons!

Qu'un sang impur

Abreuve nos sillons!

6. Hino da Internacional

De pé, ó vítimas da fome!

De pé, famélicos da terra!

Da ideia a chama já consome

A crosta bruta que a soterra.

Cortai o mal bem pelo fundo!

De pé, de pé, não mais senhores!

Se nada somos neste mundo,

Sejamos tudo, oh produtores!

Bem unidos façamos,

Nesta luta final,

Uma terra sem amos

A Internacional

Bem unidos façamos,

Nesta luta final,

Uma terra sem amos

A Internacional.

Page 146: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

146

7. A Portuguesa

Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal,

Levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal!

Entre as brumas da memória,

Ó Pátria sente-se a voz

Dos teus egrégios avós,

Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar,

Contra os canhões marchar, marchar!

8. It’s a long way to Tipperary

Up to mighty London came an Irishman one

day,

As the streets are paved with gold, sure

everyone was gay

Singing songs of Piccadilly, Strand and

Leicester Square

Till Paddy got excited, then he shouted to

them there:

It’s a long way to Tipperary

It’s a long way to go

It’s a long way to Tipperary

To the sweetest girl I know!

Oh good-bye to Piccadilly!

Farewell, Leicester Square!

It’s a long, long way to Tipperary,

But my heart lies there!

9. Anos 20 – Charleston (dança)

10. Il Duce

Duce. Duce

Nome Benedetto

Che di gioia accendi

Il nostro petto

Ti saluta la giovenezza,

Che al tuo cuore più vicino sta.

Alla fiamma del tuo santo ardore

Si prepara qui d’Italia il fiore:

La palestra di sua grandeza

Nel tuo nome qui

La stirpe aurà!

Il Duce

Guerra non temiam!

Scudo il nostro cuore

A noi! A noi!

Sempre a te sarà

A noi! A noi!

Il Duce

Il Duce

Roma ancora il mondo guiderà!

11. Hino da mocidade portuguesa

Lá vamos cantando e rindo

Levados, levados sim

Pela voz do som tremendo

Das tubas clamor sem fim

Lá vamos que o sonho é lindo

Torres e torres, erguendo

Clarões, clareiras abrindo

Alva de luz imortal

Que roxas névoas despedaçam

Page 147: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

147

Doiram os céus de Portugal

Querer, querer e lá vamos

Tronco em flor estende

Os ramos à mocidade que passa.

12. Ay Carmela

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba la

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Contraataques muy rabiosos,

Rumba la rumba la rumba la

Contraataques muy rabiosos

Rumba la rumba la rumba la

Deberemos resistir,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Deberemos resistir

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

13. Le chant des partisans

Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur

nos plaines ?

Ami, entends-tu les cris sourds du pays

qu’on enchaîne ?

Ohé partisans, ouvriers et paysans, c’est

l’alarme !

Ce soir l’ennemi connaîtra le prix du sang et

des larmes.

Montez de la mine, descendez des collines,

camarades,

Sortez de la paille les fusils, la mitraille, les

grenades

Ohé les tueurs, à la balle et au couteau tuez

vite !

Ohé saboteur, attention à ton fardeau,

dynamite…

14. Bella ciao

Una mattina mi son’svegliato

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

Una mattina mi son’svegliato

E ho trovato l’invasor

O partigiano portami via

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

O partigiano portami via

Ché mi sento di morir

E se io muoio da partigiano

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

E se io muoio da partigiano

Tu mi devi seppellir

15. Menina dos olhos tristes

Menina dos olhos tristes

Page 148: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

148

O que tanto a faz chorar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo

Olhe o cachimbo a apagar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

16. E depois do Adeus

Quis saber quem sou

O que faço aqui

Quem me abandonou

De quem me esqueci

Em silêncio, amor

Em tristeza enfim

Eu te sinto, em flor

Eu te sofro, em mim

Eu te lembro, assim

Partir é morrer

Como amar

É ganhar

E perder

17. Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

18. Wind of change (com dança)

I follow the Moskva

Down to Gorky Park

Listening to the wind of change

An August summer night

Soldiers passing by

Listening to the wind of change

The world is closing in

Did you ever think

That we could be so close, like brothers

I can feel it everywhere

Blowing with the wind of change

Take me to the magic of the moment

On a glory night

Where the children of tomorrow dream away

(dream away)

In the wind of change

19. Heal the world (final)

There’s a place in your heart

And I know that it is love

And this place could be much

Brighter than tomorrow

There are ways to get there

If you care enough for the living

Make a little space

Make a better place

Page 149: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

149

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make it a better place

For you and for me

If you want to know why

There’s love that cannot lie

Love is strong

It only cares of joyful giving

If we try we shall see

In this bliss we cannot feel

Fear of dread

We stop existing and start living

The it feels that always

Love’s enough for us growing

Make a better place

Make a better world

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

You and for me

Page 150: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

150

Anexo 3 – Guião da narradora (dia GFA 2018)

História e Clube de Artes Performativas

“OS SONS DA HISTÓRIA”

Bom dia / Boa tarde a todos os alunos e professores presentes neste auditório.

Hoje vão assistir a uma apresentação das músicas que marcaram a História da humanidade

do século XX, desde os loucos anos 20 até à atualidade.

Esta apresentação constituída por canto e dança, conta a colaboração de alunos de 8º ao

12º ano de História e dos alunos do Clube de Artes Performativas da escola.

Sem mais delongas, vamos assistir aos “Sons da História”.

1- Começamos com o Antigo Egipto, simbolizado pela dança da deusa Ísis.

2- De seguida, a Idade Média é outra época a assinalar com a sua música típica.

3- E chegaremos à Idade Moderna, à época do Absolutismo, tão bem representada

pela música de Lully criada para a figura do rei-sol, Luís XIV.

4- Chegamos a 1789, a França inicia a sua revolução liberal. Na sua sequência, as

mulheres de Paris tomam o palácio de Versalhes e obrigam os reis a sair do

Palácio. E as tropas vindas de Marselha cantam a sua canção revolucionária – “A

Marselhesa”.

5- Em meados do século XIX, Karl Marx e Frederich Engels defendem princípios

como a luta de classes e a ditadura do proletariado. É nesta altura que surge a 1.ª

Internacional com a célebre máxima “Operários de todo o mundo uni-vos”.

6- A 5 de outubro de 1910, implanta-se em Portugal a República. É adotado um

poema feito contra o ultimato, em 1890, que vai dar corpo à “Portuguesa” tornado

hino em 1910.

7- De 1914 a 1918, a Europa e o mundo são aterrorizados pela Grande Guerra. Foi a

guerra mais mortífera até àquela data, a que o mundo nunca tinha assistido.

8- É preciso esquecer as mortes trazidas pela guerra. É tempo de mudança, de estilo

inovadores e de músicas e danças alegres. São os loucos anos 20.

Page 151: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

151

9- Chegamos à década de 30, e o mundo tremeu com a grave crise de 1929. É nesta

década que as ditaduras de modelo fascista se impõem: o fascismo de Benito

Mussolini, o nazismo de Hitler e o Estado Novo de Salazar. Os ideais nacionalistas

são visíveis através dos hinos das respetivas juventudes.

10- Entre 1936 e 1939, dá-se a Guerra Civil de Espanha entre os nacionalistas de

Francisco Franco e os republicanos. Estes criam canções revolucionárias que

levantem a moral dos combatentes. É o caso de “Ay Carmela”.

11- De 1939 a 1945, o mundo assiste à pior guerra de todas, a segunda guerra mundial.

Na França e na Itália surgem os movimentos de resistência que tentam anular o

domínio nazi e fascista: “Le chant des partisans” e “Bella Ciao”.

12- Em 1961, os portugueses enfrentam uma guerra nas colónias que se vai arrastar

até 1974. Muitos foram os jovens enviados para esta guerra e milhares não

voltaram.

13- Em 1974, o movimento dos capitães prepara um golpe de estado que pôs fim ao

Estado Novo. São escolhidas duas senhas para o início da revolução de abril: “E

depois do Adeus” e “Grândola, Vila Morena”.

14- Entre os anos 50 e 80, vive-se no mundo uma tensão entre duas ideologias. O

mundo está dividido entre capitalistas e comunistas. De um lado lideram os

americanos e do outro, os russos. O mundo pode terminar a qualquer momento.

Mas em 1989, o muro de Berlim, símbolo desta guerra-fria cai. Surgem ventos de

mudança, surgem sons de esperança.

15- Hoje, os problemas são outros. Hoje é preciso que todos se unam para ajudar a

resolver problemas como o terrorismo, a subnutrição, os problemas ambientais,

os refugiados e tantos outros problemas transnacionais.

Juntemo-nos todos nestas batalhas para que as possamos vencer.

Page 152: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

152

Anexo 4 – Repertório do espetáculo de outubro de 2018

1. Anos 20 – Charleston (dança)

2. Il Duce

Duce. Duce

Nome Benedetto

Che di gioia accendi

Il nostro petto

Ti saluta la giovenezza,

Che al tuo cuore più vicino sta.

Alla fiamma del tuo santo ardore

Si prepara qui d’Italia il fiore:

La palestra di sua grandeza

Nel tuo nome qui

La stirpe aurà!

Il Duce

Guerra non temiam!

Scudo il nostro cuore

A noi! A noi!

Sempre a te sarà

A noi! A noi!

Il Duce

Il Duce

Roma ancora il mondo guiderà!

3. Vorwärtz! Vorwärtz!

(conforme os alunos devem

ler)

Forvertz! Forvertz!

Chmetérren di elen fantaren

Forvertz! Forvertz!

Iugen kent kaina gefarren

Doitcheland du virrst loichtend cheten

Môgen vir aurr untrreg

Forvertz! Forvertz!

Chmetérren di elen fanfaren

Forvertz! Forvertz!

Iugen kent kaina gefarren

Ist das zil aurr norr zô ôrr

Iugen tzvingt és dorr

Unzerra fána flaterrte uns vorran

In die tzunkunft zien vir mán fuir mán

Vir marrchierren fuir Hitler

Durr narrte unt durr

Mit derr fáne derr iungen

Fuirr frraiant unt brrôte

Unzerra fána flaterrte uns vorran

Unzerra fáne ist di noia zait

Unte fáne fuirr uns in di evichkait

Iá di fáne ist mérr als dérr tôt

4. Hino da mocidade portuguesa

Lá vamos cantando e rindo

Levados, levados sim

Pela voz do som tremendo

Das tubas clamor sem fim

Lá vamos que o sonho é lindo

Torres e torres, erguendo

Page 153: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

153

Clarões, clareiras abrindo

Alva de luz imortal

Que roxas névoas despedaçam

Doiram os céus de Portugal

Querer, querer e lá vamos

Tronco em flor estende

Os ramos à mocidade que passa.

5. Ay Carmela

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba la

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Contraataques muy rabiosos,

Rumba la rumba la rumba la

Contraataques muy rabiosos

Rumba la rumba la rumba la

Deberemos resistir,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Deberemos resistir

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

6. Le chant des partisans

Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur

nos plaines ?

Ami, entends-tu les cris sourds du pays

qu’on enchaîne ?

Ohé partisans, ouvriers et paysans, c’est

l’alarme !

Ce soir l’ennemi connaîtra le prix du sang et

des larmes.

Montez de la mine, descendez des collines,

camarades,

Sortez de la paille les fusils, la mitraille, les

grenades

Ohé les tueurs, à la balle et au couteau tuez

vite !

Ohé saboteur, attention à ton fardeau,

dynamite…

7. Bella ciao

Una mattina mi son’svegliato

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

Una mattina mi son’svegliato

E ho trovato l’invasor

O partigiano portami via

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

O partigiano portami via

Ché mi sento di morir

E se io muoio da partigiano

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

E se io muoio da partigiano

Tu mi devi seppellir

Page 154: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

154

8. Jailhouse rock (dança)

9. San Francisco

If you’re going to San Francisco

Be sure to wear some flowers in your hair

If you’re going to San Francisco

You’re gonna meet some gentle people there

For those who come to San Francisco

Summertime will be a love-in there

In the streets of San Francisco

Gentle people with flowers in their hair

All across the nation

Such a strange vibration

People in motion

There’s a whole generation

With a new explanation

People in motion

People in motion

10. Menina dos olhos tristes

Menina dos olhos tristes

O que tanto a faz chorar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo

Olhe o cachimbo a apagar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados

Porque a fatiga o tear

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo

Uma carta o fez chorar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

A lua que é viajante

É que nos pode informar

O soldadinho já volta

Está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho

Do outro lado do mar

Desta vez o soldadinho

Nunca mais se faz ao mar

11. E depois do Adeus

Quis saber quem sou

O que faço aqui

Quem me abandonou

De quem me esqueci

Perguntei por mim

Quis saber de nós

Mas o mar

Não me traz

Tua voz

Em silêncio, amor

Em tristeza enfim

Eu te sinto, em flor

Eu te sofro, em mim

Page 155: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

155

Eu te lembro, assim

Partir é morrer

Como amar

É ganhar

E perder

Tu vieste em flor

Eu te desfolhei

Tu te deste em amor

Eu nada te dei

Em teu corpo, amor

Eu adormeci

Morri nele

E ao morrer

Renasci

12. Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo

Em cada rosto igualdade

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada rosto igualdade

O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira

Grândola, a tua vontade

Grândola, a tua vontade

Jurei ter por companheira

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

13. Russians (com dança)

In Europe and America there’s a growing

feeling of hysteria

Conditioned to respond to all the threats

In the rhetorical speeches of the Soviets

Mister Krushchev said, “We will bury you”

I don’t subscribe to this point of view

It’d be such an ignorant thing to do

If the Russians love their children too

How can I save my little boy from

Oppenheimer’s deadly toy?

There is no monopoly on common sense

On either side of the political fence

We share the same biology, regardless of

ideology

Believe me when I say to you,

I hope the Russians love their children too

14. Wind of change (com dança)

I follow the Moskva

Page 156: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

156

Down to Gorky Park

Listening to the wind of change

An August summer night

Soldiers passing by

Listening to the wind of change

The world is closing in

Did you ever think

That we could be so close, like brothers

I can feel it everywhere

Blowing with the wind of change

Take me to the magic of the moment

On a glory night

Where the children of tomorrow dream away

(dream away)

In the wind of change

15. Heal the world (final)

There’s a place in your heart

And I know that it is love

And this place could be much

Brighter than tomorrow

And if you really try

You’ll find there’s no need to cry

In the place you’ll feel

There’s no hurt or sorrow

There are ways to get there

If you care enough for the living

Make a little space

Make a better place

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make it a better place

For you and for me

If you want to know why

There’s love that cannot lie

Love is strong

It only cares of joyful giving

If we try we shall see

In this bliss we cannot feel

Fear of dread

We stop existing and start living

The it feels that always

Love’s enough for us growing

Make a better place

Make a better world

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

We could fly so high

Let our spirits never die

In my heart I feel you are all my brothers

Page 157: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

157

Create a world with no fear

Together we cry happy tears

See the nations turn their swords into

plowshares

We could really get there

If you cared enough for the living

Make a little space

To make a better place

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

You and for me

Page 158: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

158

Anexo 5 – Guião da narradora (outubro de 2018)

The Sounds of History

Good afternoon, everybody and a special and warming welcome for the teachers from

Greece, Romania and Italy who are among us today. Our performance will be especially

for you….

This performance is within the scope of the History classes’ activities that have engaged

dozens of students in March, this year, during the annual festivity that celebrates the

Patron day, our school’s day. Today you are going to attend part of this presentation,

which we have called Sounds of History.

History, essential for us to understand the world today, may also be learnt with the songs

which have made the difference by becoming symbols through the mastership of their

creators. They were, and actually are, symbols of History itself as they have motivated

either the rise of dictatorships or its confrontation, have pinpointed turning points either

with nationalist words or with words of union and solidarity. Music has always agitated

consciences particularly in the Contemporary Era.

This is a journey into the songs which have highlighted the 20th century history, especially

after the First World War, whose centenary will soon be evoked throughout Europe. We

have chosen the times after the war, from the roaring twenties till our days, in order to

celebrate freedom, even when we are singing the songs of those who dared to silence it.

Once History can’t erase the past, it’s by acknowledging the mistakes that we can avoid

the newly sprouting “isms” set to threaten our lives today.

This demonstration of singing and dancing has the collaboration of a group of 9th and 12th

graders from the History classes and of a group of students from the Clube de Artes

Performativas (Club of Performing Arts).

Without further do… Let’s watch “Sounds of History”.

1. From 1914 to 1918, Europe and the World were aghast at the tragedy brought

about by the Great War which became the deadliest war ever. Entire generations

disappeared swollen by the mud of the trenches.

One has to forget death and one must live, instead! It’s the time of change, of new

styles, happy songs and joyful dances. It’s the roaring twenties!

2. Some years later, the World quavered again with the Stock market Crash of 29.

Besides, the decade of the thirties also saw the rise of the dictatorships in Italy,

the Fascism with Benito Mussolini; in Germany, the Nazism with Hitler; in

Portugal, Estado Novo (New State) with Salazar. The Nationalist ideals were well

Page 159: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

159

visible in their youth organizations’ anthems: respectively, “Il Duce”; Vorwärtz!

Vorwärtz!” and “Hino da Mocidade Portuguesa” (Portuguese Youth hymn)

3. Between 1936 and 1939, the Civil War in Spain broke out between the

Nationalists from Francisco Franco and the Republicans of the Popular Front.

Music turned into a weapon of resistance against Franco’s fascism. The

revolutionary songs were meant to raise the fighters’ moral. This is the case of

“Ay Carmela!” (it was sung in the 19th century against Napoleon troops and it

was recovered by the fighters of the Popular Front).

4. From 1939 to 1945, the World was overcome by the Second World War. Less

than 20 years after the Great War, the horror fell again over Europe and the world.

Like in any other besieged nation, France and Italy resisted with “Le Chant des

Partisans” ( French resistance hymn, composed in 1943) and “Bella Ciao”( with

its origins in an Italian popular song from the 19th century and later adapted as an

Italian resistance song against fascism)

5. We have arrived at the Fifties. The youth was changing and new rhythms and

more dynamic and active sounds could be heard as the era of the Rock n’ roll was

on the go. The new swings endeavoured to put away the latest memories of the

conflict that had struck the world.

6. In the decade of the sixties, the contestation against the war of Vietnam brought

about a new movement. These were the years of “Peace and Love” symbolized

in the song of 1967 “San Francisco” by Scott McKenzie, known as a

generational anthem.

7. In 1961, the Portuguese had to endure the colonial war which would drag on till

1974. Many youngsters were forced into this war and many would never return.

One of the forbidden songs at the time tells the story of a soldier who will never

come back from the war and it was sung by Adriano Correia de Oliveira:

“Menina dos olhos tristes” …

8. In April, 1974, the Armed Forces Movement prepared the military coup that put

an end to the New State and forty years of dictatorship. There were two secret

signals of the military coup: first the airing (at 10:55 pm) of the song "E Depois

do Adeus" by Paulo de Carvalho (Portugal's entry on the 6th April 1974

Eurovision Song Contest) through the Emissores Associados de Lisboa, which

alerted the rebel captains and soldiers to begin the coup. The second signal came

Page 160: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

160

on 25th April 1974 at 12:20 am, with Rádio Renascença broadcasting

"Grândola, Vila Morena", a song by Zeca Afonso, an influential folk and

political musician-singer banned from Portuguese radio at the time. The

Revolution was in the streets and Portugal had conquered freedom!

9. Between the fifties and the eighties, the world got divided between two

ideologies: on one side, the American, on the other, the Russians. The Cold War

seemed to have brought the world into a new abyss. In 1985, Sting sang

“Russians”. However, in 1989, the Berlin Wall, a symbol of the cold war, fell

and brought new winds of change. With them, sounds of hope came along, which

were celebrated by the Scorpions two years later with “Wind of Change”

10. Today, we are facing new problems and difficult challenges. We have to get

united to solve the wounds of the world: the local wars, the hunger, the

environmental problems, the refugees. Aware of the dangers against peace, the

rightful democracy and the Human Rights, we should rise and sing out loud,

having faith that if we all truly believe, we can Heal the World and Make it a

Better Place…

Page 161: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

161

Anexo 6 – Repertório do espetáculo do dia GFA 2019

1. Hino da Internacional

De pé, ó vítimas da fome!

De pé, famélicos da terra!

Da ideia a chama já consome

A crosta bruta que a soterra.

Cortai o mal bem pelo fundo!

De pé, de pé, não mais senhores!

Se nada somos neste mundo,

Sejamos tudo, oh produtores!

Bem unidos façamos,

Nesta luta final,

Uma terra sem amos

A Internacional

Bem unidos façamos,

Nesta luta final,

Uma terra sem amos

A Internacional.

2. A Portuguesa

Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal,

Levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal!

Entre as brumas da memória,

Ó Pátria sente-se a voz

Dos teus egrégios avós,

Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar,

Contra os canhões marchar, marchar!

Desfralda a invicta Bandeira,

À luz viva do teu céu!

Brade a Europa à terra inteira:

Portugal não pereceu.

Beija o solo teu jucundo

O Oceano, a rugir d’amor,

E teu braço vencedor

Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar,

Contra os canhões marchar, marchar!

Saudai o Sol que desponta

Sobre um ridente porvir

Seja o eco de uma afronta

O sinal do ressurgir.

Raios dessa aurora forte

São como beijos de mãe

Que nos guardam, nos sustêm,

Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!

Page 162: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

162

Sobre a terra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar,

Contra os canhões marchar, marchar!

3. It’s a long way to Tipperary

Up to mighty London came an Irishman one

day,

As the streets are paved with gold, sure

everyone was gay

Singing songs of Piccadilly, Strand and

Leicester Square

Till Paddy got excited, then he shouted to

them there:

It’s a long way to Tipperary

It’s a long way to go

It’s a long way to Tipperary

To the sweetest girl I know!

Oh good-bye to Piccadilly!

Farewell, Leicester Square!

It’s a long, long way to Tipperary,

But my heart lies there!

4. Anos 20 – Charleston (dança)

5. Ay Carmela

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba la

El Ejército del Ebro,

Rumba la rumba la rumba

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Una noche el río pasó,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Pero nada pueden bombas,

Rumba la rumba la rumba la

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Donde sobra corazón,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Contraataques muy rabiosos,

Rumba la rumba la rumba la

Contraataques muy rabiosos

Rumba la rumba la rumba la

Deberemos resistir,

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

Deberemos resistir

¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!

6. Le chant des partisans

Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur

nos plaines ?

Ami, entends-tu les cris sourds du pays

qu’on enchaîne ?

Ohé partisans, ouvriers et paysans, c’est

l’alarme !

Ce soir l’ennemi connaîtra le prix du sang et

des larmes.

Montez de la mine, descendez des collines,

camarades,

Sortez de la paille les fusils, la mitraille, les

grenades

Ohé les tueurs, à la balle et au couteau tuez

vite !

Ohé saboteur, attention à ton fardeau,

dynamite…

Page 163: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

163

7. Bella ciao

Una mattina mi son’svegliato

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

Una mattina mi son’svegliato

E ho trovato l’invasor

O partigiano portami via

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

O partigiano portami via

Ché mi sento di morir

E se io muoio da partigiano

O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao

E se io muoio da partigiano

Tu mi devi seppellir

8. Jailhouse rock (dança)

9. San Francisco

If you’re going to San Francisco

Be sure to wear some flowers in your hair

If you’re going to San Francisco

You’re gonna meet some gentle people there

For those who come to San Francisco

Summertime will be a love-in there

In the streets of San Francisco

Gentle people with flowers in their hair

All across the nation

Such a strange vibration

People in motion

There’s a whole generation

With a new explanation

People in motion

People in motion

10. Menina dos olhos tristes

Menina dos olhos tristes

O que tanto a faz chorar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo

Olhe o cachimbo a apagar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados

Porque a fatiga o tear

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo

Uma carta o fez chorar

O soldadinho não volta

Do outro lado do mar

A lua que é viajante

É que nos pode informar

O soldadinho já volta

Está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho

Do outro lado do mar

Desta vez o soldadinho

Nunca mais se faz ao mar

Page 164: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

164

11. E depois do Adeus

Quis saber quem sou

O que faço aqui

Quem me abandonou

De quem me esqueci

Perguntei por mim

Quis saber de nós

Mas o mar

Não me traz

Tua voz

Em silêncio, amor

Em tristeza enfim

Eu te sinto, em flor

Eu te sofro, em mim

Eu te lembro, assim

Partir é morrer

Como amar

É ganhar

E perder

Tu vieste em flor

Eu te desfolhei

Tu te deste em amor

Eu nada te dei

Em teu corpo, amor

Eu adormeci

Morri nele

E ao morrer

Renasci

12. Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo

Em cada rosto igualdade

Grândola, vila morena

Terra da fraternidade

Terra da fraternidade

Grândola, vila morena

Em cada rosto igualdade

O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira

Grândola, a tua vontade

Grândola, a tua vontade

Jurei ter por companheira

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

13. Russians (com dança)

In Europe and America there’s a growing

feeling of hysteria

Conditioned to respond to all the threats

In the rhetorical speeches of the Soviets

Page 165: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

165

Mister Krushchev said, “We will bury you”

I don’t subscribe to this point of view

It’d be such an ignorant thing to do

If the Russians love their children too

How can I save my little boy from

Oppenheimer’s deadly toy?

There is no monopoly on common sense

On either side of the political fence

We share the same biology, regardless of

ideology

Believe me when I say to you,

I hope the Russians love their children too

14. Wind of change (com dança)

I follow the Moskva

Down to Gorky Park

Listening to the wind of change

An August summer night

Soldiers passing by

Listening to the wind of change

The world is closing in

Did you ever think

That we could be so close, like brothers

I can feel it everywhere

Blowing with the wind of change

Take me to the magic of the moment

On a glory night

Where the children of tomorrow dream away

(dream away)

In the wind of change

15. Heal the world (final)

There’s a place in your heart

And I know that it is love

And this place could be much

Brighter than tomorrow

And if you really try

You’ll find there’s no need to cry

In the place you’ll feel

There’s no hurt or sorrow

There are ways to get there

If you care enough for the living

Make a little space

Make a better place

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make it a better place

For you and for me

If you want to know why

There’s love that cannot lie

Love is strong

It only cares of joyful giving

If we try we shall see

In this bliss we cannot feel

Fear of dread

We stop existing and start living

The it feels that always

Page 166: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

166

Love’s enough for us growing

Make a better place

Make a better world

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

We could fly so high

Let our spirits never die

In my heart I feel you are all my brothers

Create a world with no fear

Together we cry happy tears

See the nations turn their swords into

plowshares

We could really get there

If you cared enough for the living

Make a little space

To make a better place

Heal the world

Make it a better place

For you and for me

And the entire human race

There are people dying

If you care enough for the living

Make a better place for you and for me

You and for me

Page 167: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

167

Anexo 7 – Guião da narradora (dia GFA 2019)

História e Clube de Artes Performativas

“OS SONS DA HISTÓRIA”

Bom dia / Boa tarde a todos os alunos e professores presentes neste auditório.

Hoje vão assistir a uma apresentação das músicas que marcaram a História da humanidade

do século XX, desde os loucos anos 20 até à atualidade.

Esta apresentação constituída por canto e dança, conta a colaboração de alunos de 8º ao

12º ano de História e dos alunos do Clube de Artes Performativas da escola.

Sem mais delongas, vamos assistir aos “Sons da História”.

1- Em meados do século XIX, Karl Marx e Frederich Engels defendem princípios

como a luta de classes e a ditadura do proletariado. É nesta altura que surge a 1.ª

Internacional com a célebre máxima “Operários de todo o mundo uni-vos”.

2- A 5 de outubro de 1910, implanta-se em Portugal a República. É adotado um

poema feito contra o ultimato, em 1890, que vai dar corpo à “Portuguesa” tornado

hino em 1910.

3- De 1914 a 1918, a Europa e o mundo são aterrorizados pela Grande Guerra. Foi a

guerra mais mortífera até àquela data, a que o mundo nunca tinha assistido.

4- É preciso esquecer as mortes trazidas pela guerra. É tempo de mudança, de estilo

inovadores e de músicas e danças alegres. São os loucos anos 20.

5- Entre 1936 e 1939, dá-se a Guerra Civil de Espanha entre os nacionalistas de

Francisco Franco e os republicanos. Estes criam canções revolucionárias que

levantem a moral dos combatentes. É o caso de “Ay Carmela”.

6- De 1939 a 1945, o mundo assiste à pior guerra de todas, a segunda guerra mundial.

Na França e na Itália surgem os movimentos de resistência que tentam anular o

domínio nazi e fascista: “Le chant des partisans” e “Bella Ciao”.

7- Chegamos aos anos 50. A juventude está em mudança, ouvem-se novos ritmos,

sons mais dinâmicos e ativos. Chegou a época do rock and roll. Os novos ritmos

tentam afastar as memórias ainda recentes do conflito que atingiu todo o mundo...

Page 168: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

168

8- Na década de 60, a contestação à guerra do Vietname inicia um novo

movimento: são os tempos do “Peace and Love”, tão bem simbolizados na

música de 1967 “San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair) de Scott

McKenzie.

9- Em 1961, os portugueses enfrentam a Guerra Colonial que se vai arrastar até

1974. Muitos foram os jovens enviados para esta guerra e milhares não voltaram.

Uma das canções proibidas nesse tempo, fala do soldado que não mais vai

regressar: Adriano Correia de Oliveira canta “Menina dos olhos tristes”...

10- Em abril de 1974, o Movimento dos Capitães prepara o golpe de estado que pôs

fim ao Estado Novo, a quarenta anos de ditadura. São escolhidas duas senhas para

o início do levantamento militar. Na rádio, cerca das onze horas da noite, ouve-se

“E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho (canção portuguesa na Eurovisão

desse ano). Alguns minutos depois da meia noite, era o sinal para confirmar o

início da revolução: uma canção proibida, ecoa por todo o país - “Grândola, Vila

Morena”, de José Afonso. A Revolução estava na rua. E Portugal conquistava a

liberdade!

11- Entre os anos 50 e 80, vive-se no mundo uma tensão entre duas ideologias. O

mundo esta dividido: é a Guerra Fria. De um lado os americanos, do outro, os

russos. E o mundo parece, mais uma vez, estar perto do abismo. Em 1985, Sting

canta “Russians”. Mas em 1989, o muro de Berlim, símbolo desta guerra-fria cai.

Surgem ventos de mudança, surgem sons de esperança: dois anos depois,

recordando a data, os Scorpions cantam “Wind of Change”.

12- Hoje, os problemas são outros. Hoje é preciso que todos se unam para ajudar a

resolver problemas como o terrorismo, a subnutrição, os problemas ambientais,

os refugiados e tantos outros problemas transnacionais.

Juntemo-nos todos nestas batalhas para que as possamos vencer.

Page 169: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

169

Anexo 8 – Distribuição dos alunos de acordo com o género

18

33

Sexo masculino

Sexo Feminino

Page 170: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

170

Anexo 9 – Distribuição dos alunos de acordo com a idade

N Válido 51

Omisso 0

Média 16,49

Mediana 17,00

Desvio padrão 1,271

Amplitude 7

Mínimo 12

Máximo 19

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido 12 1 2,0 2,0

13 1 2,0 2,0

14 2 3,9 3,9

15 2 3,9 3,9

16 16 31,4 31,4

17 21 41,2 41,2

18 7 13,7 13,7

19 1 2,0 2,0

Total 51 100,0 100,0

Page 171: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

171

Anexo 10 – Distribuição dos alunos de acordo com o ano de escolaridade

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido 7.º ano 2 3,9 3,9

9.º ano 3 5,9 5,9

11.º ano 28 54,9 54,9

12.º ano 18 35,8 35,8

Total 51 100,0 100,0

2

0

3

0

28

18

0

5

10

15

20

25

30

7.º ano 8.º ano 9.º ano 10.º ano 11.º ano 12.º ano

Número de alunos por ano de escolaridade

Page 172: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

172

Anexo 11 – Análise das respostas dos alunos à questão «É a primeira vez que

participas nesta atividade?»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 28 54,9 54,9

Não 23 45,1 45,1

Total 51 100,0 100,0

28

23Sim

Não

Page 173: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

173

Anexo 12 – Análise das respostas dos alunos à questão «Consideras que esta

atividade te ajudou a aumentar os teus conhecimentos sobre História?»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 44 86,3 86,3

Não 7 13,7 13,7

Total 51 100,0 100,0

44

7

Sim

Não

Page 174: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

174

Anexo 13 – Análise das respostas dos alunos à questão «Consideras que esta

atividade te ajudou a relacionar mais facilmente os acontecimentos do

passado, que aprendes nas aulas, com o que acontece no presente?»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 33 64,7 66,0

Não 17 33,3 34,0

Total 50 98,0 100,0

Valores

omissos 1 2,0

Total 51 100,0

33

17

1

Sim

Não

Não responde

Page 175: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

175

Anexo 14 – Análise das respostas dos alunos à questão «A participação neste

género de atividades aumenta o teu interesse pela disciplina de

História?»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 46 90,2 90,2

Não 5 9,8 9,8

Total 51 100,0 100,0

46

5

Sim

Não

Page 176: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

176

Anexo 15 – Análise das respostas dos alunos à questão «A atividade “Sons da

História” foi ao encontro das tuas expectativas?»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 47 92,2 92,2

Não 4 7,8 7,8

Total 51 100,0 100,0

47

4

Sim

Não

Page 177: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

177

Anexo 16 – Análise das respostas dos alunos à questão «Voltarias a participar

nesta atividade? Justifica a tua resposta»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 47 92,2 95,6

Não 1 2,0 2,0

Talvez 1 2,0 2,0

Total 49 96,1 100,0

Valores

omissos 2 3,9

Total 51 100,0

47

1 1

Sim Não Talvez

Page 178: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

178

Anexo 17 – Distribuição dos Encarregados de Educação de acordo com o

género

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sexo feminino 10 71,4 71,4

Sexo masculino 4 28,6 28,6

Total 14 100,0 100,0

4

10

Sexo masculino

Sexo Feminino

Page 179: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

179

Anexo 18 – Distribuição dos Encarregados de Educação de acordo com a

idade

N Válido 14

Omisso 0

Média 48,29

Mediana 47,50

Desvio padrão 6,450

Amplitude 22

Mínimo 39

Máximo 61

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido 39 1 7,1 7,1

40 1 7,1 7,1

43 2 14,3 14,3

46 1 7,1 7,1

47 2 14,3 14,3

48 3 21,4 21,4

54 2 14,3 14,3

58 1 7,1 7,1

61 1 7,1 7,1

Total 51 100,0 100,0

Page 180: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

180

Anexo 19 – Distribuição dos Encarregados de Educação de acordo com o nível

de escolaridade

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido 6.º ano 1 7,1 7,1

9.º ano 3 21,4 21,4

12.º ano 7 50,0 50,0

Mestrado 1 7,1 7,1

Doutoramento 2 14,3 14,3

Total 14 100,0 100,0

1

3

7

1

2

6.º ano

9.º ano

12.º ano

Mestrado

Doutoramento

Page 181: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

181

Anexo 20 – Análise das respostas dos Encarregados de Educação à questão

«Para si é importante que o seu educando participe em eventos como

este? Justifique a sua resposta»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 14 100,0 100,0

Não 0 0 0

Total 14 100,0 100,0

14

0

Sim

Não

Page 182: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

182

Anexo 21 – Distribuição das respostas dos Encarregados de Educação de

acordo com a justificação apresentada na questão «Para si é importante

que o seu educando participe em eventos como este? Justifique a sua

resposta».

Unidade de registo UC Categoria N.º %

- Sim. Porque enriquece o conhecimento,

permitindo a troca de experiências,

fortalecendo a aprendizagem.

B1

Considero que é uma

atividade que enriquece

o conhecimento.

7 50,0

- Sim, fica com mais conhecimentos. B2

- Sim, sai enriquecida por aprender mais. B4

- Sim, pois é uma forma de aprofundar os seus

conhecimentos e também ganham experiência

a expressá-los e transmiti-los aos outros.

B6

- Sim é importante. Socializar é preciso e além

disso, aprendem, divertem-se e conhecem

“Histórias e sons” novos.

B7

- Sim, pelo contacto com diversos temas de

História de forma lúdica. B9

- Sim claro que é sempre uma mais valia. B12

- Sim, porque significa que se interessa e

empenha-se pela disciplina. B3

Considero que é uma

atividade que motiva

para o estudo da

disciplina.

3 21,4

- Sim. Porque penso ser uma maneira de

vivenciar a História e despertar para a

motivação e interesse pela disciplina.

B8

- Sim, pois dinamiza a sua aprendizagem e

motiva mais o aluno. B10

- Acho que sim, para que as adolescentes

tenham mais opções de escolha das escolas, a

nível profissional.

B5

Considero que é uma

atividade diferente. 2 14,3

- Sim. Contribuem para uma atividade

extracurricular e diferente. B11

- Sim. Pelo convívio. B13

Considero que é uma

atividade que facilita o

convívio

2 14,3

Page 183: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

183

- Sim. Toda a comunidade escolar devia

participar. B14

Total 14 100,0

Page 184: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

184

Anexo 22 – Análise das respostas dos Encarregados de Educação à questão

«Considera que saiu enriquecido depois de assistir a este espetáculo?

Porquê?»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 7 50,0 87,5

Não 1 7,1 12,5

Total 8 57,1 100,0

Não se Aplica 6 42,9

Total 14 100,0

7

1

Sim

Não

Page 185: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

185

Anexo 23 – Distribuição das respostas dos Encarregados de Educação de

acordo com os motivos apontados na questão «Considera que saiu

enriquecido depois de assistir a este espetáculo? Porquê?»

Categoria Freq. %

Válido Unidade de registo UC

- Sim porque conhecia

algumas das canções e é

importante recordar datas e

momentos históricos

importantes.

- Sim, gostei de recordar o

que também eu já tinha

aprendido.

B9

B12

Recordação 2 33,3

- Sim porque é sempre bom os

nossos filhos participarem e

vê-los a participar.

- Sim. Dar valor ao que os

nossos filhos e a escola fazem

é importantíssimo.

B3

B4

Valorização

da família 2 33,3

- Sim. Foi divertido e deu

para aprender alguma história.

- Sim porque havia algumas

músicas que eu não conhecia

e não as relacionava com os

acontecimentos.

B11

B8

Aprendizagem 2 33,3

Total 6 100,0

Respostas cuja

justificação não se

aplicava à questão

(valores omissos)

Sim, porque o trabalho de equipa é sempre enriquecedor

Porque conhecem matérias que não fazem parte do programa escolar.

Sim saiu foi uma excelente forma de aprendizagem sobre História e

interação com os colegas.

Sim porque existem várias maneiras de gostarem mais de História a nível

mundial.

Sim, porque tinha a família, que é muito importante para ele a dar força,

incentivo e viu o quanto ficamos orgulhosos. E eles precisam de incentivo e

que sintam que nem sempre estão errados.

Page 186: “A música “ouve nos”, não somos nós que ouvimos a música

186

Anexo 24 – Distribuição das respostas dos Encarregados de Educação à

questão «Considera que deveriam existir mais espetáculos deste

género?»

Frequência Percentagem Percentagem válida

Válido Sim 14 100,0 100,0

Não 0 0 0

Total 14 100,0 100,0

14

0

Sim Não


Recommended