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A Ópera no Século XXI

Ópera transmitida ao vivo, via internet

A Ópera

O teatro, como a própria palavra nos diz, é a ação de uma história levada ao palco por um ator, ou um grupo teatral e até mesmo musical.

Há várias formas de se encenar uma história. No teatro de prosa, os atores desempenham seus papéis falando, no balé os bailarinos dançam e na ópera os cantores cantam.

A ópera é um tipo de representação teatral em que

a ação dramática ou cômica se desenvolve através da música vocal e instrumental. Seus artistas são cantores líricos que, além de cantar, desenvolvem uma ação teatral.

Essa combinação entre a música e o teatro faz da ópera uma forma complexa de encenação que ao longo dos anos, sem pedir licença a ninguém, foi se apoderando alegremente dos componentes

Especial Concerto - a Ópera no Século XXI

Cena da ópera O Barbeiro de Sevilha - Foto: Adriano Escanhuela

títulos como Favola Pastorale, Intermedio e Commedia Madrigalesca, daí vamos ao período do Barroco, com as composições italianas de Dafne de Jacopo Peri e posteriormente Claúdio Monteverdi que entre suas dezenas de composições também compôs um Orfeo.

de outras artes, como a pintura, a poesia, o balé e a dramaturgia. Por isso, a ópera é considerada a mais completa de todas as artes.

A ópera nasceu em Florença, Itália, a cidade das artes como é chamada, por volta de 1597, quando a Itália ainda não existia de forma unificada. Seus pequenos estados eram ocupados pelo reinado espanhol.

Naquela época, um dos poucos estados a conservar sua independência, era a Toscana, graças à habilidade política e econômica dos Medici, poderosa família de banqueiros

A primeira ópera a ser considerada foi justamente composta em Florença, capital atual da Toscana Italiana e foi composta em 1597 por Jacopo Peri, e chamava-se Dafne. Daí em diante a produção de ópera não parou mais e, começou a invadir o resto da Europa.

Para melhor entendermos as composições de ópera, vamos citá-las por períodos:

Período Renascentista é a pré-história da ópera com

Antonio CArlos Gomes foi um importAnte

Compositor brAsileiro. Compôs 8 óperAs, duAs CAntAdAs

em portuGuês e o restAnte em itAliAno.

Passamos em seguida pelo Barroco Pleno, a partir de 1637, tendo na Itália os principais compositores como Francesco Cavalli, Alessandro Scarlatti e Domenico Scarlatti. Na França se destacam Jean Baptiste Lully e Marc-Antonie Charpentier. No Barroco Tardio, primeira metade do século XVIII, tivemos os italianos Antonio Vivaldi e Giovanni Bononcini, os alemães Georg Friedrich Haendel e

formadas por grandes compositores modernos que estão se firmando como continuadores dessa longa tradição que é a ópera.

Deste século podemos citar dois grandes exemplos, o americano John Corigliano com sua ópera O Fantasma de Versalhes cantado em inglês e o brasileiro Ronaldo Miranda que com um libreto em português criou duas das maiores óperas brasileiras dos últimos anos, são elas A Tempestade e Olga.

Por que montar um Clássico?

Em conversa com o Maestro Emiliano Patarra, discutimos sobre as particularidades da ópera. As tantas formas de se apreciar, interpretar e aprender com determinado espetáculo. O maestro ressalva ainda da complexidade e do quão especial é produzir um clássico.

O hábito de ouvir repetidamente uma peça específica, composta em outra

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Johann Adolf Hasse e na França, Jean-Philippe Rameau.

No Classicismo podemos citar Gluck, Haydn, Mozart, Cimarosa e Paisiello, passando já a Fase do Pré-Romantismo com Spontini, Cherubini e Rossini já em pleno romanticismo com Bellini, Paccini, Mercadante, Donizetti, Berlioz, Glinka e outros.

Os mais importantes compositores desta época foram Giuseppe Verdi e Richard Wagner, seguidos pelos russos como Tchaikovski e Mussorgsky.

Podemos finalizar os períodos com o Verismo criado por Puccini, Leocanvallo, Cilea e Giordano, até chegarmos ao Modernismo com Alban Berg e Luciano Berio.

A história da ópera é infinita, porém, podemos citar alguns títulos que arrebatam platéias do mundo todo e essa lista seria composta por La Traviata, La Bohème, Carmen, O Barbeiro de Sevilha, Tosca, A Dama de Espadas, Romeu e Julieta entre outras tantas composições do final do século XIX, XX e do atual século XXI com composições

época e em condições muito diferentes das que existem hoje, é uma das mais interessantes e transformadoras inovações que a passagem entre os séculos XIX e XX trouxe para o mundo da música de concerto. Não deixa de ser surpreendente que tantas das obras primas que nos acostumamos a amar e que fazem parte do percurso de nossas vidas tenham sido criadas sem a pretensão de entrarem para a história, de serem eternas...

O repertório da música dita erudita não é, entretanto, uniforme. Certas obras são interpretadas com maior frequência, certos compositores são mais conhecidos. Distorções e injustiças históricas à parte, o que faz de uma obra de arte específica um “clássico”? o que faz com que ela cative e entusiasme as mais distintas platéias ao longo do tempo? São coisas que nos vêm à mente ao montarmos um espetáculo como este “Barbeiro de Sevilha”.

Trata-se da mais conhecida ópera cômica de todos os

tempos, escrita há mais de 150 anos, mas é possível sentir no contato com a partitura, na reação dos instrumentistas e cantores e, esperamos, na reação do público, o quanto esta música está viva. Existe um vigor e um frescor na elaboração musical em si mesma: no encadeamento de cada ritmo, na beleza das melodias, na exploração habilidosa de todas as possibilidades vocais de cada intérprete.

Rossini utiliza, em sua obra,

Cena da ópera O Barbeiro de Sevilha - Foto: Adriano Escanhuela

estruturas absolutamente simples tanto do ponto de vista da harmonia quanto da forma musical, obtendo delas resultados fascinantes – algo bastante provocador para uma época como a nossa, em que a vida artística e musical é povoada frequentemente por criações vazias escondidas por trás de uma camada de suposta complexidade.

Se por um lado não há, em sua criação, nenhum receio quanto à utilização de fórmulas já existentes, existe nesta ópera uma fantástica adequação de cada uma delas às necessidades da trama. Criado por Cesare Sternini a partir da obra de Beaumarchais, o enredo ironiza de forma ao mesmo tempo precisa e doce a maneira como cada um de nós costuma ser conduzido por suas necessidades mais imediatas: a nobreza decadente que procura dinheiro, o conde que não hesita em pagar para conquistar sua amada e assim por diante... As personagens desta história são tão transparentes quanto

a estrutura da composição musical e, justamente por isso, apaixonantes.

Pairando acima de tudo isso, um controle absoluto do tempo, seja nas pequenas células tocadas por cada instrumento, seja na duração de cada cena. O Barbeiro é absolutamente contagiante! Isso é que faz dele um clássico, e isso é o que nos motivou ao montar este espetáculo. Esperamos contagiar você...

O Barbeiro de Sevilha

Entrevistamos o diretor de cena Willian Pereira, sobre a sua experiência com o clássico “O Barbeiro de Sevilha”, que teve sua primeira estréia no ano de 1816 no Teatro Argentino, em Roma; e que segue um gênero diferente da maior parte das outras peças, trata-se de uma ópera cômica.

Concerto: Sabemos que você é um diretor com experiências em óperas de gêneros atinados, como foi produzir algo diferente do esperado, do conhecido?

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Willian: Eu sempre tive uma certa má-vontade com as óperas que não fossem sérias, trágicas, dramáticas. Até dirigir a primeira delas, As Bodas de Fígaro de Mozart em 2001. Ali, a genialidade de Mozart, associada à enorme teatralidade de Da Ponte criaram uma obra encantadora, contagiante e uma das mais queridas do repertório lírico, tanto para cantores como para o grande público, e foi uma das produções que mais me desafiaram, me divertiram durante sua preparação. Além disso, aguçaram a minha opção estética pela atualização dos libretos, por transformar verdades históricas em

metáforas contemporâneas, em renegar o ranço “oitocentista” que a mesmice cênica impingiu a essas obras, enfim, perder o pudor em usar e abusar de efeitos cômicos, em uma obra feita para... divertir.

C: Com essa vivência, foi possível mudar algo na sua visão sobre óperas cômicas ou sobre sua própria personalidade?

W: O que me distanciava desse tipo de repertório era a errônea convicção de que só as obras profundas, sérias, transcendentes e doloridas eram dignas de respeito, de reverência. Ainda não havia descoberto o prazer do riso, da brincadeira, da paródia, do escracho, da “bufonaria”. Eu imaginava que não coubesse isso na ópera, “uma coisa tão séria”. Ou que esse tipo de humor fosse uma coisa “menor”. Ficou claro: Eu era o mau-humorado e com uma visão limitada da abrangência e das possibilidades do humor na cena lírica.

C: Quais foram os desafios enfrentados frente a um clássico

eu sempre tive umA CertA má-vontAde Com As óperAs que não fossem sériAs, tráGiCAs, drAmátiCAs. Até diriGir A primeirA delAs, As bodAs de fíGAro de mozArt em 2001.

cômico?W: O que pude experimentar

depois, foram as dificuldades inerentes a esse tipo de espetáculo. Tudo na comédia exige maior precisão, os tempos, o ritmo, as composições físicas. Meio segundo de atraso em um gesto, em uma marcação, em uma intenção, pode anular o efeito cômico e destruir toda uma cena. Lembro-me dos tempos da universidade, quando nas aulas de comédia sempre era citado a frase de Adolfo Celi: “ Comédia é alto, forte e brilhante”. Aqui na ópera, temos a vantagem que esse alto, forte e brilhante, já nos foi presenteado por Rossini em sua deliciosa música. A tarefa agora é associar a música ao gesto, o gesto à música, na criação do jogo cênico entre os intérpretes, que deve se manter mesmo nos momentos mais desafiadores e desenfreados impostos ao canto e a música em O Barbeiro de Sevilha .

C: Quais foram suas inspirações para a produção desta ópera e como foram aplicadas?

W: A primeira referência que tive ao começar pensar no espetáculo foram os filmes de Almodóvar, da mesma forma que fiz o Gianni Schicchi todo inspirado em Fellini. Almodóvar tem o colorido, o tipo de humor, os tipos humanos, a “espanholada” da Sevilha que imaginei, tudo é pertinente, mas depois fui percebendo, analisando a “têmpera” das personagens, que nesse universo mais farsesco que cômico, beirando a caricatura, a referência inicial teria que ser mesmo da velha e clássica Comédia dell’arte e seus tipos característicos. A alma de Fígaro, Bartolo, Basílio, Rosina são as almas de Arlechinos, Dottores, Pantalones, Briguelas e Colombinas. Teria que transpor esses tipos característicos, a essência deles para personagens contemporâneos como é o nosso Barbeiro. E como na comédia dell’arte, o procedimento principal seria permitir o improviso, a liberdade, o jogo aos cantores. E assim foi feito! E assim construímos o espetáculo,

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com esse espírito lúdico, que se inicia já na abertura com um coro de operários que preparam o palco para a ação que está por vir,pelos qüiproquós, encontros e desencontros, sátira social, comédia de costumes herdados da peça de Beaumarchais que inspirou o libreto.

C: E como foram os ensaios e o período de preparação?

W: Tive o privilégio de ter um elenco que fez aflorar a cada cena o melhor de seu talento histriônico. Sua disposição, o despudor, a agilidade corporal, além do já comprovado talento musical, emolduram de forma

ímpar esta versão do BARBEIRO. Nossos ensaios foram repletos de humor, cortesia, cumplicidade e rigor. E se o espetáculo é o resultado de uma série de ensaios, tenho certeza que o público se divertirá tanto quanto nós.

C: Deixo um espaço aqui para suas considerações finais, sobre esta distinta experiência com o Barbeiro de Sevilha.

W: Não poderia deixar de citar duas parcerias que muito me orgulham e torço para que sejam duradouras: com a Cia. Ópera São Paulo e o produtor Paulo Abrão Esper, (um grande

Cena da ópera O Barbeiro de Sevilha - Foto: Adriano Escanhuela

realizador nesses tempos de aridez lírica) e com o maestro Emiliano Patarra, prova maior que música e cena podem sempre convergir para o mesmo alvo, as mesmas intenções. Outro motivo que muito me orgulha, é estar participando da temporada lírica do Theatro São Pedro, um espaço muito querido, a “Ópera de Câmara de São Paulo”, e faço votos que receba a devida atenção dos órgãos governamentais responsáveis por sua manutenção e continuidade de sua programação direcionada a espetáculos líricos. Em 2008 fui convidado por Vicente Amato para dirigir esse espetáculo, e na época, com pesar, tive que recusar o convite em razão de outros compromissos assumidos. Com o seu falecimento a ópera foi adiada. Meses atrás fui honrado pela produção com o convite para dirigir essa montagem/homenagem, e nada mais oportuno e sinal do meu afeto, que dedicar a ele esse trabalho.

Mocernidade Pró-Ópera

Mais uma vez a tecnologia nos dá prova que ela é incansável, desta vez a maior rede de comunicação dos tempos, a internet, trará a América Latina a 1° transmissão ao vivo de uma Òpera que será transmitida dia 01 de dezembro a parti das 20hs pelo portal do teatro São Pedro em São Paulo.

Em parceria com a Associação Paulista dos Amigos da arte ( APAA) que encenará a Òpera O Barbeiro de Sevilha de Gioachino Rossini, com a temporada de Òpera 2009.

Serão cinco apresentações no total, que contam com um elenco de solistas brasileiros, sendo Rodrigo Esteves como Fígaro, Luciana Bueno como Rosina, Flávio Leite como Conde de Almaviva e ainda Saulo Javan (Don Bártolo), Eduardo Janho-Abumrad(Don Basílio), Priscila Zamlutti (Berta), Ricardo Bruns (Fiorello) e Marcos Kaczan (Oficial).

As récitas serão nos dias 25, 27 de novembro e dias 1° e 03

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de dezembro às 20:30hs e no dia 29 de novembro às 17 hs.

Com direção e encenação ciência de William Pereira a Orquestra Jovem Municipal de Guarulhos e o Coral Vozes de São Paulo, serão regidos pelo maestro Emiliano Patarra, que estiveram juntos na encenação de Gianni Schicchi na temporada de 2009 no mesmo Teatro São Pedro, que fez enorme sucesso.

Com direção Artística de Paulo Abrão Esper da Cia da Òpera de São Paulo , a ópera esta de volta ao teatro depois de sua última apresentação em 2005.

Tributo a La Berganza

O Teatro São Pedro localizado na Barra funda em São Paulo apresentará o encerramento do Projeto Grandes Vozes de 2009, realizado pela Cia de Òpera de São Paulo e pela associação Paulista da Arte (APAA) apoiado pela Sociedade Cultura Artística que trará aos palcos a grande cantora mezzo-soprano a espenhola Tereza Berganza, que está no

Brasil para receber uma saudosa homenagem do recital Tributo a La Berganza que acontece dia 30 de novembro, segunda feira ás 21h.

Teresa Berganza nasceu em Madri e é considerada uma das maiores cantoras de todos os tempos. Ficou internacionalmente conhecida pelas interpretações dos personagens Cherubino, Dorabella, Cenerentola e Carmen. Iniciou sua carreira em 1957 no Festival de Aix na Provença.

Se apresentou nos mais importantes teatros do mundo como: Ópera de Paris, Scalla de Milão, Covent Garden, Metropolitan, Teatro Colón em Buenos Aires, Ópera de Roma, Viena, Hamburgo, Estocolmo, Chicago, Dallas, San Francisco. Foi regida pelos grandes maestros como:

Giulini, Rescigno, Von Karajan, Solti, Mehta, Claudio Abbado, Barenboim e Muti, Adler

Em sua estadia no Brasil Teresa Berganza ministrará master-classes e os alunos Mere Oliveira, Keila de Moraes, Miguel Geraldi,

David Marcondes, Angélica Feital, Guilherme Rosa, Tati Helene e Randal Oliveira que cantarão no recital. Os pianistas serão Maria Rasetti e Vitor Philomeno.

Há 4 anos o Projeto Grandes Vozes trouxe ao Brasil nomes como Fiorenza Cossotto, Mara Zampieri, Maria Pia Piscitelli e Bruna Baglioni (Itália), Mariola Cantarero e Jaime Aragall (Espanha), Elena Obraztsova e Yevgeny Nesterenko (Rússia), Luís Gaeta (Argentina), Niza

de Castro Tank (Brasil) e Rita Contino (Uruguai).

Anualmente o Projeto Grandes Vozes 2009 traz os mais importantes cantores líricos internacionais, o primeiro da série foi em maio com a grande mezzo-soprano italiana Bruna Baglioni.

O tributo a LA Berganza será um espetáculo gratuito e acontecerá no Teatro São Pedro.

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divA dA óperA será

homenAGeAdA em são pAulo,

no diA 30 de novembro.

mezzo-soprAno espAnholA, teresA

berGAnzA dArá AulAs mAGnAs de CAnto

Aos venCedores do ConCurso brAsileiro de

CAnto mAriA CAllAs.

Foto DivulgaçãoFoto Divulgação


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