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A pesquisa universitária na América Latina e a vinculação

universidade-empresa

Renato DagninoHernán Thomas

(Orgs.)

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Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Luiza de Souza LajúsVice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski

Vice-Reitor de Administração: Sady Mazzioni

Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Ricardo Rezer

Conselho Editorial: Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente),

César da Silva Camargo, Érico Gonçalves de Assis, Maria Assunta Busato, Maria Luiza de Souza Lajús, Murilo Cesar Costelli, Ricardo Rezer,

Tania Mara Zancanaro Pieczkowski

Coordenadora: Maria Assunta Busato

Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178Biblioteca Central da Unochapecó

© 2011 Argos Editora da UnochapecóEste livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autoriza-ção escrita do Editor.

378.0072 A pesquisa universitária na América Latina e a vinculação P474p universidade-empresa / Renato Dagnino, Hernán Thomas (Orgs.); – Chapecó, SC : Argos, 2011. 311 p. (Grandes Temas ; 11) ISBN: 978-85-7897-023-9 1. Universidades - Pesquisa. 2. Universidades – América Latina. I. Dagnino, Renato. II. Thomas, Hernán. III. Título. IV. Série. CDD 378.0072

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Sumário

Apresentação

A universidade e o sistema de pesquisa e desenvolvimento na América Latina

Renato Dagnino

Racionalidades da interação universidade-empresa na América Latina (1955-1995)

Renato Dagnino, Erasmo Gomes, Hernán Thomas e Amilcar Davyt

Sete equívocos sobre a orientação da pesquisa universitáriaRenato Dagnino e Amilcar Davyt

A relação universidade-indústria-governo em países periféricos: o caso da Universidade Estadual de Campinas

Renato Dagnino e Léa Velho

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Os caminhos da Política Científica e Tecnológica latino-americana e a comunidade de pesquisa:

ética corporativa ou ética social?Renato Dagnino e Hernán Thomas

O processo decisório na universidade pública brasileira: uma visão de Análise de PolíticaRenato Dagnino e Erasmo Gomes

A relação universidade-empresa no Brasil e o argumento da Hélice Tripla

Renato Dagnino

Para concluir: a universidade e o desenvolvimento da América Latina

Renato Dagnino

Sobre os autores

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Apresentação

Esta coletânea trata de um tema que tem dado lugar a uma extensa produção acadêmica, tanto na esfera latino-americana quanto na internacional. A forma como essa produção é aqui in-terpretada a torna um tema recorrente nos estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) latino-americanos desde o seu sur-gimento, na década de 1960. De fato, quase consensualmente, per-cebe-se que a escassa dedicação da empresa privada local a ativi-dades de pesquisa e desenvolvimento poderia ser contrabalançada pela utilização do potencial existente na universidade para gerar o conhecimento tecnológico, que, utilizado pelas empresas estatais ou através do seu repasse àquelas, alavancaria o progresso eco-nômico da região. Com razão, portanto, a análise da vinculação universidade-empresa e a formulação de propostas normativas visando ao seu aprofundamento passou a ser um tema aborda-do por quase todos os que se dedicaram aos estudos em CTS. O professor Herrera, assim como outros pesquisadores e professores de sua geração, também tratou deste tema em muitos de seus es-critos. Herrera o abordou de forma tão apropriada e original que

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seus estudos se tornaram uma referência obrigatória para pesqui-sadores de dentro e fora da América Latina.

O artigo que abre esta coletânea – A universidade e o sis-tema de pesquisa e desenvolvimento na América Latina – con-tém muitas das ideias do professor Herrera. Ele foi produzido por Renato Dagnino a partir da transcrição, em espanhol, de duas das muitas palestras que ele proferiu no início da década de 1990 em vários países latino-americanos. No procedimento de edição, houve a preocupação de manter as ideias originais de Herrera. Não obstante, como o texto não foi publicado anteriormente por ele, decidiu-se que se caracterizaria como de autoria de Renato Dagnino.

Este trabalho não se limita à abordagem do tema objeto desta coletânea, uma vez que dedica boa parte de sua extensão a conformar o marco de referência sobre as relações entre o planeja-mento global e a estratégia de pesquisa e desenvolvimento (P&D), a partir do qual Herrera analisava o papel da universidade. Sua natureza o torna especialmente interessante, pois, ao mesmo tem-po que sintetiza muitas das ideias apresentadas nos trabalhos se-minais do autor – como a que entende o baixo nível de integração dos sistemas de P&D latino-americanos como um resultado da escassa demanda por conhecimento exercida pelo estilo de desen-volvimento econômico e social –, contém a visão prospectiva que ele explorou em seus últimos trabalhos.

Esta obra é interessante também porque permite um contras-te entre ideias que se propõem em alguns dos trabalhos agrupados nesta coletânea. Exemplos disso são os conceitos de “sinal de rele-vância”, “teia de relações”, “campos de relevância”. Eles podem ser

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entendidos como uma tentativa de melhor explicar a ideia acima referida, de que o baixo nível de integração dos sistemas de P&D latino-americanos é um resultado da escassa demanda por conhe-cimento exercida pelo estilo de desenvolvimento econômico e so-cial da região. Mas, esses trabalhos, apesar de se autoperceberem como uma tentativa de continuação da obra de Herrera, terminam por se posicionar criticamente a uma parte dela. Exemplo disso é o questionamento que se faz à afirmação que aparece neste trabalho de que a estratégia de P&D a ser adotada nos países da América Latina deveria contemplar uma “entrada” na cadeia de pesquisa básica – pesquisa aplicada –, desenvolvimento tecnológico nas su-as primeiras etapas, e não nas últimas como se fez no passado, para evitar que se viesse a utilizar tecnologias inadequadas às nos-sas condições socioeconômicas e possibilidades. Essa afirmação é divergente em relação àquela que entende que a geração de uma dinâmica de exploração da fronteira do conhecimento científico e tecnológico alternativa à dos países centrais e suas empresas mul-tinacionais é uma condição para que os países da América Latina possam se preparar para fazer frente às demandas que o processo de democratização econômica irá colocar.

Essa contradição e a existência de outras nos trabalhos desta coletânea, que seguramente não passarão despercebidas aos leito-res que conhecem o campo dos Estudos Sociais de Ciência e Tec-nologia (ESCT), não devem obscurecer a grande zona de concor-dância que existe entre eles e as ideias da extensa obra de Herrera. Na verdade, estes trabalhos se situam muito mais próximos a ela do que às visões e às propostas que na atualidade dão a tônica à agenda dos fazedores de política e constituem um insumo-chave

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para a elaboração de estratégias de inovação produtiva e reestru-turação institucional das universidades, não só nos países de capi-talismo avançado mas também naqueles que visualizam o desen-volvimento de capacidades científico-tecnológicas como uma via para superar sua condição de subdesenvolvidos.

Nesta coletânea, apresenta-se uma análise crítica das posi-ções teóricas sustentadas por essas visões, da normativa derivada destes modelos e de sua aplicação ao contexto regional. Conside-rando que as ideias sustentadas por esses modelos têm se estendi-do até penetrar no sentido comum dos fazedores de política locais, estas críticas adquirem um caráter contra-hegemônico, pois pro-põem não apenas uma perspectiva alternativa, mas um questiona-mento dos conceitos básicos sustentados por esses modelos.

Ao mesmo tempo que se questiona a viabilidade da aplica-ção local da normativa derivada dessa aplicação, ponderam-se os efeitos negativos dela. E, adicionalmente, apresentam-se alternati-vas que, perseguindo os mesmos objetivos – consolidar a intera-ção entre unidades de pesquisa e de desenvolvimento e unidades produtivas, e gerar respostas competitivas por parte destas –, pro-põem a necessidade de colocar o desafio de satisfazer as neces-sidades sociais da população no centro da estratégia de ciência, tecnologia e inovação regional.

Assim, os artigos que integram esta coletânea analisam as políticas governamentais, as estratégias de reorganização das uni-versidades e instituições de pesquisa e as políticas de formação de recursos humanos, tanto na visão de conjunto, à escala regional, quanto na de alguns casos pontuais, revisando as ideias que lhes dão sentido, e os contrassensos dessas ideias.

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O segundo artigo – Racionalidades da interação universida-de-empresa na América Latina (1955-1995) – constitui uma ten-tativa de analisar o processo de evolução das concepções de vin-culação universidade-empresa desde meados da década de 1950 até a atualidade. Em termos estilizados, propõe-se um esquema analítico de duas fases, de aproximadamente vinte anos cada uma: a primeira, desde meados da década de 1950 até fins da de 1970; a segunda, desde o início da década de 1980 até a atualidade.

A partir de meados da década de 1950, a universidade públi-ca latino-americana desenvolveu atividades de vinculacionismo: geração de laços com a produção sob a responsabilidade das uni-dades de pesquisa e transferência. O vinculacionismo garantiria, assim, que os resultados da pesquisa científica e tecnológica che-gassem aos potenciais usuários. Diferentemente das experiências dos países desenvolvidos, onde a dinâmica produtiva distribuiu as responsabilidades, o vinculacionismo é um elemento constitu-tivo da Política de Ciência e Tecnologia (C&T) latino-americana que concentrou a responsabilidade pela interação nas unidades de pesquisa. O vinculacionismo é, nesse sentido, um fenômeno regional, que reflete a dinâmica institucional, os mecanismos, as características idiossincráticas e as limitações estruturais locais. Parece possível afirmar que, como objetivo da Política de C&T, a proposta vinculacionista se constituiu – com exceção de algumas contadas experiências bem-sucedidas – em um fracasso.

Depois do intervalo entre os anos de 1975 e 1985, aparece na América Latina uma nova onda generalizada de tentativas vin-culacionistas que respondem aos avanços da teoria da inovação. Surgem, assim, iniciativas de incubadoras de empresas, parques e

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polos tecnológicos, escritórios institucionais de patentes etc. O co-nhecimento é explicitamente concebido como mercadoria. A fim de diferenciá-lo do movimento anterior, denomina-se neovincu-lacionismo a esse novo elemento de Política de C&T. O neovincula-cionismo reflete um particular fenômeno de transdução de fatos estilizados e teorizações realizadas sobre experiências de vincu-lação universidade-empresa em países desenvolvidos. É resultado de uma leitura local, desses fatos estilizados e de suas derivações normativas. Ainda que ele se proponha como uma superação das limitações do vinculacionismo da década de 1970, o neovincula-cionismo, em vez de promover um modelo interativo de inovação, tende a reiterar na prática as condições ofertistas do modelo linear de inovação.

Ao considerar-se a viabilidade da nova normativa neovincu-lacionista, assinala-se a necessidade de ter em conta que a relação “universidade-setor produtivo” é só um recorte conceitual de uma realidade complexa, útil em termos analíticos, sob a condição de que não se esqueça que não é ‘o’ processo real. Mesmo os enfoques neovinculacionistas mais pragmáticos tentam reificar os termos analíticos, resultando, nesse sentido, em propostas tão voluntaris-tas como aquelas dos idealistas porta-vozes do Pensamento Lati-no-Americano em Ciência, Tecnologia & Sociedade (PLACTS), na década de 1960.

O terceiro artigo – Sete equívocos sobre a orientação da pes-quisa universitária – aborda a contradição entre qualidade e re-levância de uma perspectiva alternativa à usual, à medida que a considera como sendo meramente aparente. Na sua primeira par-te, assinala-se a necessidade de uma “terceira posição” entre duas

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posturas extremas sobre o tema: uma que adotaria só o critério de qualidade para a orientação da pesquisa universitária e outra baseada somente em um critério de relevância social. A segunda parte apresenta uma crítica à postura extrema que adota só o crité-rio de qualidade ou de excelência acadêmica; na realidade, a mais comum entre nossa comunidade universitária. Nela, explora-se o que os autores consideram os principais equívocos dessa postu-ra. Para isso, revisitam-se alguns dos velhos debates a respeito da orientação da pesquisa nas universidades latino-americanas, ini-ciados na década de 1960, e chega-se às suas atuais manifestações.

O quarto artigo – A relação universidade-indústria-governo em países periféricos: o caso da Universidade Estadual de Campi-nas – se desenvolve ao longo de três direções de análise. A primeira é a conformada pelos conteúdos apresentados em outros artigos desta coletânea que visam renovar o marco de referência para a análise da política pública relacionada ao Complexo Público do Ensino Superior e da Pesquisa latino-americano. A segunda é a sin-tetizada pela expressão “Segunda Revolução Acadêmica”, cunhada em países avançados e com amplo curso no ambiente latino-ame-ricano e que sugere a existência de um processo virtuoso de apro-fundamento da relação da universidade com a empresa privada em função de tendências à globalização, à busca da competitividade, à modificação do papel do Estado etc. A terceira é a iniciada há mais tempo pela equipe do Departamento de Política Científica e Tec-nológica do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que, tendo por base as outras duas direções de análise, busca refletir sobre a experiência – de forma original – da Unicamp.

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Talvez o aspecto mais relevante do artigo seja mostrar como as mudanças em curso na economia brasileira, em particular a pri-vatização das empresas estatais situadas em setores de alta inten-sidade tecnológica e o abandono de um estilo de condução da po-lítica industrial que buscava certo grau de autonomia tecnológica, alteram consideravelmente o caráter da sua relação com o entorno econômico. De uma situação em que a universidade, assumindo uma postura pró-ativa e antecipadora, era capaz de atender a de-manda das empresas estatais por conhecimentos e recursos huma-nos em áreas relativamente sofisticadas e de alto impacto para o desenvolvimento do País, passa-se a uma outra em que, em função das mudanças apontadas, ocorre uma modificação do conteúdo dos projetos de pesquisa realizados na universidade, num sentido distinto, inclusive, do apontado pela sua missão institucional.

O quinto artigo – Os caminhos da Política Científica e Tec-nológica latino-americana e a comunidade de pesquisa: ética cor-porativa ou ética social? – propõe uma revisão do papel da comu-nidade de pesquisa enquanto ator político relevante no processo de tomada de decisão da Política de C&T latino-americana. Trata-se de uma crítica interna que busca contribuir para o debate acerca dos posicionamentos éticos possíveis da comunidade de pesquisa defrontada aos dois cenários extremos (desenvolvidos no artigo anterior), configurados através de fatos e lógicas estilizados. Me-diante um procedimento de contraste entre os aspectos políticos, econômicos e sociais correspondentes aos dois cenários, definem-se as condutas e as racionalidades mais coerentes com cada um.

Duas démarches analíticas são usadas para fundamentar uma argumentação cuja natureza, como não poderia deixar de

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ser, é, em última instância, normativa. A primeira se refere a uma estilização da Política de C&T dos países avançados orientada a precisar o papel desempenhado pela comunidade de pesquisa no processo de definição de prioridades e critérios de avaliação. Essa démarche tem como resultado a proposição de conceitos e rela-ções sistêmicas para uma abordagem alternativa à análise e à ela-boração da Política de C&T.

A segunda démarche é uma estilização do comportamento da comunidade de pesquisa local coerente com cada um dos cená-rios polarizados: o tendencial, derivado das políticas neoliberais adotadas na região; e o alternativo, de democratização política e econômica. Ao identificar duas racionalidades e éticas implícitas no acionar da comunidade de pesquisa, que apostam (desejam ou, simplesmente, sancionam) na materialização de cada um deles, es-sa démarche busca explicar o caráter que deveriam assumir o pro-cesso decisório da Política de C&T e a pesquisa latino-americana.

A atual situação da comunidade de pesquisa não parece dei-xar espaço para as atitudes tradicionais de natureza laissez faire. O ambiente adverso em que a comunidade de pesquisa se encontra tende a se tornar hostil. O Modelo Institucional Ofertista Linear é cada vez mais disfuncional e as micro-otimizações que a comu-nidade propõe não parecem capazes de superar suas limitações. A acumulação de capacidade científica e tecnológica necessária para a materialização do cenário de democratização depende da adoção, pela comunidade de pesquisa, de uma racionalidade com ele correspondente. Busca-se, com essa afirmação, contribuir para o debate acerca do duplo papel da comunidade de pesquisa – de formuladora da Política da C&T e de executora da pesquisa – para o desenvolvimento futuro da América Latina.

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A adoção de um ou outro cenário como imagem desejada de futuro poderia desencadear um processo que, dada a amplitude dos efeitos organizacionais/sistêmicos que geraria, poderia ser ir-reversível. No plano científico-tecnológico, mudariam os critérios para a alocação de recursos, temas de pesquisa, parcerias de coo-peração, resultados e aplicações possíveis. No plano sociotécnico, tenderiam a gerar-se relações usuário-produtor, comportamentos e graus de coesão interna dos sistemas nacionais de inovação, rit-mos da dinâmica inovativa, trajetórias tecnológicas etc., também distintas. No plano institucional, os cenários levariam estratégias consideravelmente distintas de vinculação, modos de cooperação entre atores, formas de fomento, mecanismos de tomada de deci-sões e de avaliação.

O sexto artigo – O processo decisório na universidade pú-blica brasileira: uma visão de Análise de Política – mantém o fo-co do anterior sobre a comunidade científica. Buscando comple-mentar as contribuições que empregam abordagens derivadas das disciplinas de Sociologia e Administração, este trabalho discute o processo de tomada de decisão relativo às atividades de pesquisa, sua implementação e a avaliação de seus resultados utilizando a abordagem da Análise de Política.

A Análise de Política ainda é pouco empregada em nosso ambiente acadêmico, por isso o trabalho inicia com uma apresen-tação de alguns conteúdos genéricos que conformam essa aborda-gem. São apresentados, então, os modelos utilizados para o estudo dos três momentos da elaboração de políticas públicas – formu-lação, implementação e avaliação – e das organizações envolvidas com eles.

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Em seguida à aplicação da abordagem de Análise de Política ao processo decisório do Complexo Público do Ensino Superior e da Pesquisa, e tendo como referência conteúdos da Teoria das Or-ganizações desenvolvidos por autores nacionais e estrangeiros, o trabalho particulariza e enriquece o instrumental de análise para o caso desse complexo. Finalmente, tendo como foco a universidade de pesquisa brasileira, mas apresentando considerações extensivas para o conjunto das instituições e dos atores pertencentes ao com-plexo, explica-se porque a comunidade de pesquisa presente nele desempenha um papel francamente dominante.

Argumentando que a melhoria da Política de C&T deman-da, antes mesmo de mudanças no seu modelo normativo-institu-cional, um melhor entendimento de seu processo de elaboração, o trabalho oferece um modelo descritivo-explicativo desse proces-so. Ao fazê-lo, espera contribuir para que, mediante ações norma-tivas eficazes sobre suas variáveis críticas, seja possível a melhoria do processo.

O sétimo artigo desta coletânea – A relação universidade--empresa no Brasil e o argumento da Hélice Tripla – pode ser en-tendido como uma síntese de muitos dos conteúdos aqui apre-sentados. Ele aborda a relação universidade-empresa tendo como guia a crítica ao argumento da Hélice Tripla (argumento HT), bastante conhecido dos pesquisadores que atualmente se dedicam aos ESCT. Para tanto, propõe seu entendimento como uma com-binação de duas correntes de pensamento elaboradas nos países avançados – a da Segunda Revolução Acadêmica e a que ressalta a importância das relações com o entorno para a competitividade das empresas – e de uma proposição de Política de C&T – os Polos e Parques Tecnológicos – a ele associadas.

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Analisando a evolução das interpretações sobre a relação universidade-empresa na América Latina – os marcos de referên-cia utilizados, as posturas analíticas ou disciplinares, sua influên-cia junto à comunidade de pesquisa e na elaboração de Política de C&T –, mostra-se como o argumento HT contribuiu para que a interpretação que, até o final da década de 1980, era dominante viesse perdendo influência. Por oferecer um padrão para a análise crítica das mudanças nos modelos explicativo e normativo-insti-tucional da Política de C&T em países avançados e periféricos, a crítica ao argumento HT que o trabalho oferece pode informar novas interpretações, mais aderentes ao cenário de democratiza-ção ora em construção no País.

O artigo que fecha esta coletânea – Para concluir: a universi-dade e o desenvolvimento da América Latina – teve como origem uma conversa com os professores e alunos da Faculdade de Filoso-fia e Letras da Universidade de Buenos Aires. Em função disso, ele possui duas características que o diferenciam dos outros apresen-tados nesta coletânea. A primeira é o seu tom coloquial e direto. A segunda é a radicalidade e politização com que aborda o papel que a universidade (e a comunidade de pesquisa) vem desempe-nhando e que poderia desempenhar para o desenvolvimento dos países da América Latina. O artigo inicia esboçando o diagnóstico que tanto a direita quanto a esquerda latino-americana possuem acerca da disfuncionalidade da universidade em relação a seus projetos políticos e, aduzindo a ela, se manifesta no que respeita a ambas as classes – dos proprietários e dos vendedores de sua força de trabalho – que formam a sociedade.

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Apostando no segmento de esquerda da comunidade de pesquisa que é capaz de perceber que o padrão de ciência que emulamos não é neutro, mas que ele serve às grandes potências e que está cada vez mais enviesado e monopolizado pelas grandes empresas dos países ricos e pelas classes dominantes, o trabalho defende a necessidade de sua urgente diferenciação e expansão. Para que isso ocorra, é necessário politizar a vida universitária, levando a discussão sobre que pesquisa faremos, que alunos que-remos formar, qual é o papel da universidade, entre outras, para a agenda dos órgãos de direção da universidade. À medida que essa politização ganhar corpo, será possível explorar a fronteira do co-nhecimento de um modo funcional e adaptado a um projeto que dê aos excluídos os direitos de cidadania.

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A pesquisa universitária na América Latinae a vinculação universidade-empresa

Renato DagninoHernán Thomas

Grandes Temas

Maria Assunta Busato

Alexsandro Stumpf

Neli Ferrari

Alexandra Fatima Lopes de Souza

Neli FerrariLuana Paula BiazusJulha Suzana Dresch

Alexsandro Stumpf

Alexsandro StumpfCaroline KirschnerSara Raquel Heffel

Araceli Pimentel Godinho

Carlos Pace DoriAraceli Pimentel GodinhoCristiane Santana dos SantosLúcia Lovato Leiria

16 X 23 cm

Minion Pro entre 10 e 14 pontos

Capa: Supremo 250 g/m2

Miolo: Pólen Soft 80 g/m2

311

800

março de 2011

Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)

Argos Editora da UnochapecóAv. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141

Telefone: (49) 3321 8218 – e-mail: [email protected] – Site: www.unochapeco.edu.br/argos

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Sobre os Autores

Amilcar Davyt é doutor em Política Científica e Tecnológica, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professor adjunto da Unidade de Ciência e Desenvolvimento da Facultad de Ciencias da Universidad de la República, no Uruguai. É autor de artigos e capítulos de livros em diversos aspectos do campo Ciência, Tecnologia e Socie-dade (CTS): Política Científica e Tecnológica em países periféricos, instituições de fomento de pesquisa, cooperação internacional, indi-cadores de Ciência e Tecnologia, História da ciência latino-americana e de suas instituições e políticas universitárias. É consultor e/ou parti-cipante em projetos de pesquisa para diversos organismos internacio-nais. Tem ministrado diversos cursos de gradução e de pós-gradução no campo CTS. Foi, de 2005 a 2008, diretor de Inovação, Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (DICyT) do Ministerio de Edu-cación y Cultura (MEC) do Uruguai e, de 2007-2008, presidente do Conselho da Agencia Nacional de Investigación e Innovación (ANII).

Erasmo Gomes é doutor em Política Científica e Tecnológica, pe-la Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Possui gradua-ção em Engenharia Industrial Mecânica, pela Escola de Engenharia Industrial de São José dos Campos (1988), e mestrado em Política Científica e Tecnológica, pela Unicamp (1995). Atualmente, é coor-denador da Rede Nacional de Política Industrial (Renapi), da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, e pesquisador do Grupo

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de Análise de Políticas de Inovação (GAPI) da Unicamp. Tem expe-riência na área de Administração, com ênfase em Política e Plane-jamento Governamentais, atuando principalmente nos seguintes te-mas: relação universidade-empresa, política industrial e de inovação.

Hernán Thomas é doutor em Política Científica e Tecnológica, pe-la Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na Argentina, é pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) e pesquisador e docente do Instituto de Estudios sobre la Ciencia y la Tecnología (IEC) da Universidad Nacional de Quilmes. Além disso, é coordenador do Grupo de Estudos da Tec-nologia e Inovação do mesmo instituto. Tem experiência sobre os seguintes temas: análise da Política de C&T, Sociologia da Tecno-logia e Economia da Inovação. Entre suas publicações, destacam-se dois livros: Surdesarrollo: producción de tecnología en países subde-sarrollados (coorganizado com Renato Dagnino) e Insumos para una planificación estratégica de políticas públicas de ciencia, tecnología, in-novación y educación superior (em coautoria com Carlos Gianella).

Léa Velho é professora titular em Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia junto ao Departamento de Política Científica e Tecno-lógica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Possui doutorado em Política Científica e Tecnológica, pelo Science Policy Research Unit (SPRU), University of Sussex, no Reino Unido (1985). Realizou pós-doutorado no Department of Rural Sociology da Ohio University, nos Estados Unidos. Foi pesquisadora sênior e diretora de pós-gaduação no Institute for New Technologies da United Nations University, em Maastricht, Holanda, de 2001 a 2005. Foi professora visitante no Departament of Social Studies of Science da Cornell Uni-

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versity, nos Estados Unidos; na Science Studies Unit da University of Edinburgh, no Reino Unido; e no Department of Sociology da In-diana University, em Bloomington, Estados Unidos. É membro do comitê editorial de periódicos nacionais (História, Ciências, Saúde – Manguinhos) e internacionais (Science and Public Policy; Science, Technology and Society). Tem larga experiência em pesquisa e em consultoria na área de Política Científica e Tecnológica, atuando principalmente nos seguintes temas: dinâmica da produção e uso do conhecimento, cooperação internacional em ciência e tecnolo-gia (C&T), avaliação de políticas e atividades de C&T, formação de recursos humanos para pesquisa, indicadores de C&T.

Renato Dagnino é professor titular no Departamento de Políti-ca Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Graduou-se em Engenharia em Porto Alegre e estudou Economia no Chile e no Brasil; neste, fez mestrado e doutorado. Sua livre docência na Unicamp e seu pós-doutorado na University of Sussex foram na área de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia. É coordenador do Programa de Gestão Estratégica Pública da Uni-camp e do Grupo de Análise de Políticas de Inovação (GAPI). Tem experiência sobre os seguintes temas: análise da política relativa ao complexo público da pesquisa e da educação superior, gestão estra-tégica da inovação, adequação sociotécnica, construção de um estilo de Política de C&T aderente ao cenário de democratização latino--americano e ao estudo do debate sobre o determinismo tecnológico e a neutralidade da ciência. Entre as ferramentas e metodologias que mais utiliza, estão análise de sistemas, análise estrutural, construção de modelos, análise política, construção de cenários, prospectiva e planejamento estratégico.

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Este livro está à venda:

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