A S A N T A B Í B L I A O P E N T A T E U C O
OS CINCO PRIMEIROS LIVROS DA BÍBLIA (O TESTAMENTO DA ETERNA ALIANÇA)
José Haical Haddad
CAPÍTULO III
LIVRO DE LEVÍTICO
OS RITUAIS E SEUS INTEGRANTES
LEVÍTICO - Recebeu esse nome por causa da Tribo de Levi ,
que é a principal protagonis ta do Sacerdócio inst i tuído em dois ramos.
Primeiro o da Família ou como usado na terminologia bíbl ica o da Ca-
sa de Aarão a quem fora outo rgado o Sacerdócio Pleno; e , segundo, o
das demais Famíl ias ou das Casas dos outros Fi lhos de Levi conheci-
dos por Levi tas , que receberam a responsabi l idade pelas funções d e
Sacerdócio Auxi l iar . Nesse l ivro descrevem-se os principais sacri f í -
cios , as fes tas com seus r i tuais , e as funções sacerdotais bem del ine a-
das , e as regras morais de puri f icação e de sant i f icação. Por causa des-
sa vinculação da Tr ibo de Levi com o Exercício do Sacerdócio , os r i -
tuais dos Sacri f ícios e as várias normas rel igiosas descri tas nesse “ro-
lo” (v . § 2.1, Êxodo) , o l ivro , que dele originou, recebeu o nome der i -
vado de Levi - Leví t ico.
Caminhavam os Israel i tas para a Terra Prometida que receberiam
de Iahweh para nela se es tabelecer em defini t ivamente. Em vir tude do
princípio reinante de que cada povo t inha um Deus a quem servia e
obedecia , no terr i tório que receberiam somente Iahweh ser ia invocado
em vir tude de ser o único proprietár io de toda a área . Daí a necessida-
de de leis at inentes ao exercício do cul to exclusivo a Iahweh com a
erradicação de todo e qualquer vest ígio de outro deus, e da regulame n-
tação do exercício do cul to ao soberano abso luto . A isso se deu aqui o
nome de Missão de Israel :
“ O m e u a n j o i r á a d i a n t e d e t i e t e l e v a r á a o s . . . [ s e g u e m o s n o m e s d o s p o v o s 1
q u e a h a b i t a v a m ] . . . e e u o s e x t e r m i n a r , n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s
p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s eu s c o s t u m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s
a s s u a s c o l u n a s . S e r v i r e i s a Ia h w e h v o s s o D e u s , e e l e a b e n ç o a r á t e u p ã o e t u a
á g u a , e a f a s t a r á d o t e u m e i o a s e n f e r m i d a d e s . ( . . . ) N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s
n e m c o m s e u s d e u s e s . . . f a r i a m - t e p e c a r c o n t r a m i m : S e r v i r i a s a o s s e u s d e u -s e s , e i s s o s e r i a u m a a r m a d i l h a p a r a t i ” ( E x 2 3 , 2 3 - 3 3 ) .
Mais especif icadamente desenvolver -se-á o teor do Livro de Le-
ví t ico em torno do cul to exclusivo a Iahweh, afastada assim a idolatr i -
a . Essa Missão de Is rael várias vezes rat i f icada (cf r . Ex 34,13 ; Lv
18,3.24-30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31) é o fundamento para a r e-
gulamentação a ser exposta :
2
“ . . . n ã o a d o r a r á s o s s eu s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u -
m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o lu n a s . S e r v i r e i s a I a h w e h
v o s s o D e u s . . . ” ( Lv 2 3 , 2 4 ) .
3.1. - O SACERDÓCIO
Antes do exame mais detalhado dos Sacri f ícios é bom que se
complete o já apresentado a respei to do Sacerdócio , sem o qual os r i -
tuais não se real izam. Desde a "eleição" dos primogêni tos , "consagr a-
dos a Iahweh", após a l ibertação do Egi to (Ex 13,1 -2) , o Sacerdócio
passa a ser uma inst i tuição defini t iva que vai ser rat i f icada com a
construção do Santu ário:
" D e p o i s m a n d a q u e , d o m e i o d o s i s r a e l i t a s , s e a p r o x i m e m a t i o t e u i r m ã o A a r ã o e s e u s f i l h o s N a d a b , A b i ú , E l e a z a r e I t a m a r , p a r a q u e m e s i r v a m c o m o s a c e r d o -
t e s . M a n d a r á s f a z e r v e s t e s l i t ú r g i c a s p a r a t e u i r m ã o A a r ã o ( . . . ) , p a r a c o n s a g r á -
l o c o m o s a c e r d o t e a m e u s e r v i ç o . E s t a s s ã o a s v e s t e s q u e d e v e r ã o f a z e r : u m p e i -t o r a l , u m e f o d , u m m a n t o , u m a t ú n i c a b o r d a d a , u m a m i t r a e u m c i n t o . A s s i m f a -
r ã o v e s t e s l i t ú r g i c a s p a r a t e u i r m ã o A a r ã o e s e u s f i l h o s p a r a q u e s e j a m m e u s
s a c e r d o t e s . U t i l i z a r ã o o u r o , p ú r p u r a v i o l á c e a , v e r m e l h a e c a r m e s i m e l i n h o f i n o ( . . . ) r e v e s t i r á s t e u i r m ã o A a r ã o e s e u s f i l h o s e o s u n g i r á s , i n v e s t i n d o - o s e c o n -
s a g r a n d o - o s p a r a q u e m e s i r v a m c o m o s a c e r d o t e s . F a z e - l h e s c a l ç õ e s d e l i n h o
p a r a c o b r i r e m a n u d e z , d a c i n t u r a a t é a s c o x a s . A a r ã o e s e u s f i l h o s o s u s a r ã o q u a n d o e n t r a r e m n a t e n d a d e r e u n i ã o o u q u a n d o s e a p r o x i m a r e m d o a l t a r p a r a
s e r v i r n o s a n t u á r i o , a f i m d e n ã o i n c o r r e r e m e m f a l t a e n ã o m o r r e r e m . E s t a é
u m a l e i p e r p é t u a p a r a A a r ã o e s e u s d e s c e n d e n t e s " ( E x 2 8 , 1 - 4 3 ) .
A invest idura obedeceria a r i tual próprio (Ex 29), durante o
qual , além da Unção de Aarão e seus f i lhos, seriam executados vários
r i tos de “purif icação” para a indispensável Sant i f icação geral e deles ,
oferecendo-se no curso do cerimonial , os seguintes t ipos de Sacri f í -
cios:
Sacrif ício pelo Pecado (Ex 29,10 -14);
Holocausto (Ex 29,15 -18); e ,
Sacrif ício Pacíf ico (Ex 29,19 -26) .
Quando da edif icação do Santuário (Ex 35 -40) o Sacerdócio de-
veria ser t ambém es truturado em seq uência e na mesma cerimônia:
" P e g a r á s o ó l e o d e u n ç ã o u n g i r á s a m o r a d a e t u d o o q u e n e l a e s t i v e r ; c o n s a -g r a n d o - a a s s i m c o m t o d o s o s p e r t e n c e s e l a s e r á s a n t a . U n g i r á s o a l t a r d o s h o l o -
c a u s t o s e t o d o s o s u t e n s í l i o s , c o n s a g r a n d o a s s i m p a r a q u e s e j a s a n t í s s i m o . U n -
g i r á s a b a c i a c o m a b a s e , p a r a c o n s a g r á - l a . M a n d a r á s A a r ã o e s e u s f i l h o s a p r o -x i m a r - s e d a e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o e o s l a v a r á s c o m á g u a . D e p o i s r e v e s t i -
r á s A a r ã o c o m a s v e s t e s l i t ú r g i c a s , e o u n g i r á s c o n s a g r a n d o - o p a r a q u e m e s i r v a
c o m o s a c e r d o t e . F a r á s o s f i l h o s a p r o x i m a r - s e e , d e p o i s d e r e v e s t i - l o s c o m a s t ú n i c a s , o s u n g i r á s c o m o u n g i s t e o p a i , p a r a q u e m e s i r v a m c o m o s a c e r d o t e s .
E s t a u n ç ã o l h e s h á d e c o n f e r i r o s a c e r d ó c i o p e r p é t u o p o r t o d a s a s g e r a ç õ e s .
M o i s é s e x e c u t o u t u d o e x a t a m e n t e c o m o Ia h w e h l h e h a v i a o r d en a d o " ( E x 4 0 , 9 -1 6 ) .
O que se observa é Moisés , recebida a invest idura diretamente
de Iahweh, oferecendo os sacri f ícios e c ometendo os atos l i túrgicos
pert inentes à ordenação sacerdotal de Aarão e seus f i lhos:
" D i a n t e d a e n t r a d a d a t e n d a d a r e u n i ã o , d a t e n d a d e r e u n i ã o , c o l o c o u o a l t a r d o s
h o l o c a u s t o s , e o f e r e c e u o h o l o c a u s t o e a o b l a ç ã o , a s s i m c o m o Ia h w e h t i n h a
3
m a n d a d o a M o i s é s . In s t a l o u a b a c i a e n t r e a t e n d a d e r e u n i ã o e o a l t a r , e p ô s a á g u a p a r a a s a b l u ç õ e s , o n d e M o i s é s , A a r ã o e o s f i l h o s l a v a v a m a s m ã o s e o s
p é s . La v a v a m - s e t o d a v e z q u e e n t r a v a m n a t e n d a d e r e u n i ã o e s e a p r o x i m a v a m
d o a l t a r , a s s i m c o m o Ia h w e h h a v i a m a n d a d o a M o i s é s . L e v a n t o u o á t r i o e m t o r -n o d a m o r a d a e d o a l t a r , e p e n d u r o u a c o r t i n a n a e n t r a d a d o á t r i o . A s s i m M o i s é s
d e u p o r c o n c l u í d a a o b r a " ( E x 4 0 , 2 9 - 3 3 ) .
Somente após a apresentação s is temát ica dos Sacri f ícios é que se
dará a Invest idura Oficial de Aarão e seus f i lhos no Sacerdócio, pra t i -
cando-se todas as operações já del ineadas para a "consagração ou sa n-
t i f icação" ex igida (Ex 29):
" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : “ T o m a c o n t i g o A a r ã o e s e u s f i l h o s , a s v e s t e s , o ó l e o d a u n ç ã o , o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , o s d o i s c a r n e i r o s e o
c e s t o d e p ã e s s e m f e r m e n t o , e r e ú n e t o d a a c o m u n i d a d e à e n t r a d a d a t e n d a d e
r e u n i ã o ” . M o i s é s f e z c o m o I a h w e h l h e t i n h a m a n d a d o e a c o m u n i d a d e s e r e u n i u à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . M o i s é s d i s s e à c o m u n i d a d e : “ É i s t o q u e Ia h w e h
m a n d o u f a z e r ” . D e p o i s m a n d o u q u e s e a p r o x i m a s s e m A a r ã o e s e u s f i l h o s , e o s
l a v o u c o m á g u a . V e s t i u A a r ã o ( . . . ) . D e p o i s M o i s é s p e g o u o ó l e o d a u n ç ã o , u n g i u
o t a b e r n á c u l o e t u d o o q u e n e l e h a v i a , p a r a c o n s a g r á - l o . A s p e r g i u s e t e v e z e s o
a l t a r , e u n g i u - o c o m t o d o s o s u t e n s í l i o s , b e m c o m o a b a c i a c o m o s u p o r t e , c o n -
s a g r a n d o - o s . D e r r a m o u ó l e o d e u n ç ã o s o b r e a c a b e ç a d e A a r ã o , e u n g i u p a r a c o n s a g r á - l o . D e p o i s m a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , v e s t i u - l h e s a s
t ú n i c a s , c i n g i u - l h e s o c i n t o e l h e s p ô s o s t u r b a n t e s , c o m o Ia h w e h h a v i a m a n d a -
d o a M o i s é s . M a n d o u t r a z e r o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o . A a r ã o e s e u s f i l h o s i m p u s e r a m a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d e s t e b e z e r r o . D e p o i s d e i m o l á -
l o , M o i s é s p e g o u s a n g u e e u n t o u c o m o d e d o a s p o n t a s e m v o l t a d o a l t a r , p u r i -
f i c a n d o - o . D e r r a m o u o s a n g u e a o p é d o a l t a r , e o c o n s a g r o u , f a z e n d o s o b r e e l e a e x p i a ç ã o . M o i s é s p e g o u t o d a a g o r d u r a q u e e n v o l v e a s v í s c e r a s , a c a m a d a g o r -
d u r o s a d o f í g a d o e o s d o i s r i n s , c o m a r e s p e c t i v a g o r d u r a , e q u e i m o u t u d o n o
a l t a r . O b e z e r r o , c o m p e l e , c a r n e e e x c r e m e n t o s , e l e q u e i m o u - o f o r a d o a c a m -p a m e n t o , c o m o Ia h w e h l h e t i n h a m a n d a d o . M a n d o u t r a z e r o c a r n e i r o d o h o l o -
c a u s t o , p a r a q u e A a r ã o e o s f i l h o s i m p u s e s s e m - l h e a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a .
M o i s é s o i m o l o u e d e r r a m o u o s a n g u e e m v o l t a d o a l t a r . D e p o i s d e e s q u a r t e j a r o c a r n e i r o , M o i s é s q u e i m o u a c a b e ç a e o s p e d a ç o s c o m a g o r d u r a . E l e l a v o u c o m
á g u a a s v í s c e r a s e a s p a t a s , e a s s i m q u e i m o u o c a r n e i r o i n t e i r o n o a l t a r . E r a u m
h o l o c a u s t o d e s u a v e o d o r , u m s a c r i f í c i o f e i t o p e l o f o g o a Ia h w e h , c o m o Ia h w e h t i n h a m a n d a d o a M o i s é s . M a n d o u t r a z e r o s e g u n d o c a r n e i r o , o c a r n e i r o d a c o n -
s a g r a ç ã o e A a r ã o e s e u s f i l h o s i m p u s e r a m a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d o a n i m a l .
D e p o i s d e i m o l á - l o , M o i s é s p e g o u o s a n g u e e u n t o u o l o b o d a o r e l h a d i r e i t a d e A a r ã o , o p o l e g a r d a m ã o d i r e i t a e o p o l e g a r d o p é d i r e i t o . M a n d o u a p r o x i m a -
r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , e u n t o u - l h e s c o m s a n g u e o l o b o d a o r e l h a d i r e i t a , o
p o l e g a r d a m ã o d i r e i t a e o p o l e g a r d o p é d i r e i t o , e d e p o i s d e r r a m o u o s a n g u e e m t o r n o d o a l t a r . P e g o u a g o r d u r a , a c a u d a , t o d a a g o r d u r a q u e c o b r e a s v í s c e r a s ,
a c a m a d a g o r d u r o s a d o f í g a d o , o s d o i s r i n s c o m a g o r d u r a e a p e r n a d i r e i t a . D o
c e s t o d o s á z i m o s , p o s t o d i a n t e d e Ia h w e h , t o m o u u m p ã o s e m f e r m e n t o , u m a t o r t a s e m f e r m e n t o a m a s s a d a c o m a z e i t e e u m b o l i n h o , e c o l o c o u s o b r e a s p a r t e s
g o r d u r o s a s e s o b r e a p e r n a d i r e i t a . E n t r e g o u t u d o i s s o n a s m ã o s d e A a r ã o e d e
s e u s f i l h o s , p a r a q u e a p r e s e n t a s s e m c o m u m g e s t o d e o f e r t a a Ia h w e h . D e p o i s , t o m o u t u d o d a s m ã o s d e l e s e q u e i m o u n o a l t a r , e m c i m a d o h o l o c a u s t o . E r a o
s a c r i f í c i o c o n s e c r a t ó r i o d e s u a v e o d o r , u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o a Ia h w e h . D e -p o i s M o i s é s p e g o u o p e i t o d o c a r n e i r o e o a p r e s e n t o u c o m u m g e s t o d e o f e r e n d a
a Ia h w e h . E s t a f o i a p o r ç ã o d o c a r n e i r o d a c o n s a g r a ç ã o , p e r t e n c e n t e a M o i s é s ,
c o m o Ia h w e h l h e t i n h a m a n d a d o . M o i s é s t o m o u u m p o u c o d o ó l e o d e u n ç ã o e d o s a n g u e q u e e s t a v a s o b r e o a l t a r , a s p e r g i u A a r ã o e s u a s v e s t e s , b e m c o m o o s f i -
l h o s d e A a r ã o e s u a s v e s t e s . A s s i m c o n s a g r o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e a s r e s p e c t i -
v a s v e s t e s . M o i s é s d i s s e p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s : “ C o z i n h a i a c a r n e à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . A l i m e s m o a c o m e r e i s c o m o p ã o q u e e s t á n a c e s t a d a s o -
f e r t a s d a c o n s a g r a ç ã o , c o n f o r m e e u m a n d e i , d i z e n d o : A a r ã o e s e u s f i l h o s h ã o d e
c o m ê - l a . O q u e r e s t a r d a c a r n e e d o p ã o d e v e r á q u e i m á - l o " ( L v 8 , 1 - 3 2 ) .
Para a Invest idura foi seguido o r i tual já es tabeleci do e próprio
(Ex 29), durante o qual , além da Unção de Aarão e seus f i lhos , vários
r i tos de puri f icação foram executados para a indispensável Sant i f ic a-
ção geral e deles , e ofereceram-se, durante o cerimonial , os t ipos de
Sacri f ícios já del ineados. Limitar -se-á por enquanto apenas à orden a-
ção sacerdotal , necessária por causa dos r i tuais dos vários Sacri f ícios
narrados no início, antes dessa i nvest idura. Isso se deu s implesmente
4
porque o Sacerdote oficiante de toda a cerimônia foi Moisés , o Sace r-
dote da Aliança que a completa com o Preparo e a Oferta das Primícias
Sacerdotais . Só então Moisés outorga as funções a Aarão e seus f i lhos
(Ex 8,33-9,24).
“ D u r a n t e s e t e d i a s n ã o s a i r e i s d a e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , a t é s e c o m p l e t a -r e m o s d i a s d a v o s s a c o n s a g r a ç ã o , p o i s e l a d u r a r á s e t e d i a s . O q u e s e f e z n o d i a
h o j e , I a h w e h o r d e n o u q u e s e f i z e s s e p a r a e x p i a r p o r v ó s . F i c a r e i s d u r a n t e s e t e
d i a s , d i a e n o i t e , à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , e o b s e r v a r e i s o q u e Ia h w e h m a n d o u , p a r a n ã o m o r r e r d e s , p o i s e s t a é a o r d e m q u e r e c e b i . A a r ã o e s e u s f i l h o s
f i z e r a m t u d o o q u e Ia h w e h l h e s m a n d o u p o r m e i o d e M o i s é s " ( Lv 8 , 3 3 - 3 6 ) .
Toda a cerimônia se completará com as Primícias dos Novos S a-
cerdotes:
" N o o i t a v o d i a M o i s é s c h a m o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e o s a n c i ã o s d e I s r a e l , e d i s s e p a r a A a r ã o : „ E s c o l h e u m b ez e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o p e l o p e c a d o , e u m
c a r n e i r o p a r a o h o l o c a u s t o , a m b o s s e m d e f e i t o , e a p r e s e n t a - o s a Ia h w e h . F a l a r á s
a o s i s r a e l i t a s , d i z e n d o : T o m a i u m b o d e p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , u m b e z e r r o e u m c o r d e i r o , a m b o s d e u m a n o e s e m d e f e i t o , p a r a o h o l o c a u s t o , u m t o u r o e
u m c a r n e i r o p a r a o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , a f i m d e s a c r i f i c á - l o s p e r a n t e Ia h w e h , e
u m a o b l a ç ã o a m a s s a d a c o m a z e i t e , p o r q u e h o j e Ia h w e h v o s a p a r e c e r á ‟ . T r o u x e -r a m d i a n t e d a t e n d a d e r e u n i ã o o q u e M o i s é s t i n h a m a n d a d o . A c o m u n i d a d e t o d a
s e a p r o x i m o u e s e p ô s d e p é d i a n t e d e Ia h w e h . M o i s é s d i s s e : „ É i s t o q u e Ia h w e h
m a n d o u q u e f i z é s s e i s p a r a q u e v o s a p a r e ç a a g l ó r i a d e I a h w e h ‟ . M o i s é s d i s s e p a r a A a r ã o : „ A p r o x i m a - t e d o a l t a r . O f e r e c e o t e u s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o e o h o -
l o c a u s t o , e f a z e a e x p i a ç ã o p o r t i e p e l o p o v o . A p r e s e n t a t a m b é m a o f e r t a d o
p o v o , e f a z e p o r e l e s a e x p i a ç ã o , c o n f o r m e Ia h w e h m a n d o u ( . . . ) L e v a n t a n d o a s m ã o s p a r a o p o v o A a r ã o o s a b e n ç o o u . T e n d o o f e r e c i d o o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , o
h o l o c a u s t o e o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , d e s c e u , e M o i s é s e A a r ã o e n t r a r a m n a t e n d a
d e r e u n i ã o . A o s a i r , a b e n ç o a r a m o p o v o . E n t ã o a g l ó r i a d e Ia h w e h a p a r e c e u a t o d o o p o v o , e u m f o g o e n v i a d o p o r Ia h w e h c o n s u m i u n o a l t a r o h o l o c a u s t o e a s
g o r d u r a s . V e n d o , o p o v o i n t e i r o p r o r r o m p e u e m g r i t o s d e a l e g r i a , e p r o s t r a r a m -
s e t o d o s c o m o r o s t o p o r t e r r a ‟ " ( Lv 9 , 1 - 2 4 ) .
Pode-se, at revidamente , dizer que aqui deve ser o lugar cer to em
que se deu o fenômeno da tomada de posse com a habi tual teofania f i -
nal :
" E n t ã o a n u v e m e n v o l v e u a t e n d a d e r e u n i ã o , e a g l ó r i a d e Ia h w e h t o m o u c o n t a
d a m o r a d a . M o i s é s n ã o p o d i a e n t r a r n a t e n d a d e r e u n i ã o , p o r q u e s o b r e e l a r e -
p o u s a v a a n u v e m , e a g l ó r i a d e Ia h w e h o c u p a v a a m o r a d a . E m t o d a s a s e t a p a s d a v i a g e m o s i s r a e l i t a s p u n h a m - s e e m m o v i m e n t o s e m p r e q u e a n u v e m s e e l e v a v a
d e c i m a d a m o r a d a ; n u n c a p a r t i a m a n t e s q u e a n u v e m s e l e v a n t a s s e . D e f a t o , a
n u v e m d e Ia h w e h f i c a v a d u r a n t e o d i a s o b r e a m o r a d a , e d u r a n t e a n o i t e h a v i a u m f o g o v i s í v e l a t o d o s o s i s r a e l i t a s , a o l o n g o d e t o d a s a s e t a p a s d a v i a g e m "
( E x 4 0 , 3 4 - 3 8 ) .
3.2. - O SACRIFÍCIO
Muitas rel igiões giram em torno do sacri f ício, cujo s ignif icado
atual cada vez mais se afasta do original . É que, cul turalmente, mudou
tanto de sent ido que ele não mais ref lete a mesma real idade. Por causa
disso, nem mesmo um dicionário atual regis t ra aqui lo que correspo n-
dia ao seu s ignif icado real , pr incipalmente entre os israel i tas . Pelo
menos bibl icamente sacri f ício tem um sent ido bem mais profundo . Há
o percept ível sent ido de “sacri+ficar” = “ficar -sagrado”. E não se l i -
mita à "renúncia" ou à "privação" dolo rosa para quem a faz .
Quando Jesus se referiu ao sacri f ício ou o insinuou, confundiu
os chefes rel igiosos e os de seu povo, por ocasião da “expulsão dos
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vendi lhões do Templo” (Jo 2,13 -22) e por ocasião do Anúncio da E u-
caris t ia ao d izer-se “comida” (Jo 6,50 -52).
No primeiro caso , Jesus não t inha nenhum direi to de fazer o que
fez , eis que, não pertencendo à Tribo de Levi ou à Casa de A arão não
se vinculava ao sacerdócio e ass im não lhe compet ia a adminis t ração
do Templo. Além de tudo isso , aquela área fora dest inada para o que lá
se prat icava, qual seja, a t roca de moeda est rangeira ou a venda de a-
nimais para as oferendas , a f im de que os judeus em peregrinação p u-
dessem cumprir os s eus votos e deveres rel igiosos. Em si , fora os abu-
sos, nada havia de errôneo no que lá se faz ia, e por causa de sua at i t u-
de dois fatos acontecem:
Quando do primeiro fato “os sacerdotes e escribas” perguntam a
Jesus “com que autoridade faz ia es tas co isas” (Mt 21,23) e “que s inais
lhes mostraria para assim agir” (Jo 2,18); e , quando do segundo, o E-
vangel is ta “recorda que os discípulos pensaram” que Ele agia ass im
porque “o zelo pela casa de seu Pai o dominara” recordando o Sl 69,10
(Jo 2,17) . A resposta de Jesus foi por demais desconcertante e mesmo
os seus discípulos só a compreenderam após a sua Ressurre ição. Des a-
f iara a “destruição do Templo e a sua reconstrução por Ele em três d i -
as”, “referindo -se ao seu próprio Corpo” (Jo 2,18 -22), com o que i r ia
se tornar o único sacri f ício. Por causa disso , tudo aqui lo era sem sen-
t ido e em consequência “fazendo da Casa do Pai uma casa de comé r-
cio” (Jo 2,16), pelo “cumprimento que Ele faz ia com seu corpo” , refa-
zendo totalmente o objet ivo a que o Sacri f ício se dest inava (Mt 5,17) e
a int imidade com o Pai , rompida pela Queda Or iginal (Lc 23,43) .
No segundo caso, recordando-se ainda a Mult ipl icação dos Pães
bem como o Anúncio da Eucaris t ia , tendo di to então que “meu corpo é
verdadei ramente comida” confundiu os judeus de tal forma que, após
dizerem “como pode este homem nos dar a sua carne para comer” (Jo
6,52), “o abandonam” na ocasião (Jo 6,66).
O sacri f ício tanto faz ia parte da compreensão cul tural israel i ta
que estava impregnado em seus hábi tos ou costumes até mesmo os e s-
pecif icamente não rel igiosos. Mesmo qua ndo part icipavam de uma r e-
feição comum ou t r ivial era - lhes necessário “derramar o sangue na te r-
ra” (Lv 17,13s; Dt 12,16. 23), a abster -se do “impuro” (Lv 11,1) e a
seguir determinadas normas de “purif icação” (Mc 7,4) , sem o que não
deveriam tomar al imento. Percebe-se que toda refeição t inha algo de
sagrado e a idéia de sacri f ício era - lhe vinculada pelo comer que nela
se prat ica.
As ideias de comer no tempo de Cris to já era milenar e unia-se
ao que a Bíbl ia relata ter s ido ele a causa da desgraça de Caim qu e
ma tou Abel porque “Deus agradou -se da oferenda dele (“ só em um sa-
cri f ício”) e não da sua” (Gn 4,3 -8) . Relata também que Noé o ofereceu
quando do término do Dilúvio (Gn 8,20) e a part i r de Abrão desde a
Promessa regis t ra o seu uso como forma de expressão da adesão à fé
em Iahweh (Gn 12,7 e 12,8) . Pross egue com a Aliança então contraída
com Abraão e com os demais Patr iarcas Isaac e Jacó (Gn 17,4 -14;
26,3-24; 28,13-15) que a rat i f icaram ofer ecendo-o (Gn 12,7.8; 26,25;
28,17-22). E, em vir tude dessa mesma Ali ança, o sacri f ício torna-se o
centro gravi tacional do cul to.
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De Jacó adveio o Povo Israel i ta formado pelas doze t r ibos or i -
undas de seus doze f i lhos. Moisés , descende nte de um deles por ser da
Tribo de Levi conf i rma e repete essa Aliança com todo o povo no
Monte Sinai , selando-a também com o sangue de um sacri f ício (Ex
24,1-8) . Tudo is to já foi examinado e es tudado repet indo-se para fac i-
l i tar a memorização e o prosseguimento da exposição.
O sacri f ício torna-se essencial ao cul to para s ignif icar , real izar e
atual izar a união de Iahweh - Deus com o Seu Povo pela Alia nça. Após
a Inst i tuição da Páscoa (Ex 12), inicialmente uma comemoração fam i-
l iar , inst i tui -se o sacerdócio , indispensável e até mesmo essencial para
a celebração dele (Hb 8,3) oficial izando -se os primogêni tos (Ex 13,1-
2) para o seu exerc ício . Depois , com a Inst i tuição do Sacerdócio, foi
nomeada a Casa de Aarão (Ex 28 -29), como Cris to fará quando da In s-
t i tuição da Eucaris t ia , na inauguração da Páscoa Cris tã, const i tuindo
os Apóstolos para que a cele brassem “em sua memória” (Lc 22,19 -20 /
1Cor 11,23-25).
O Sacerdócio const i tuído pel a Tribo de Levi (Nm 8,14 -19) com-
pleta a organização rel igiosa e de cúpula de Is rael , tornando-se o cen-
t ro de unidade de todo o Povo de Deus pela consagração, s ignif icação
e difusão da Sant idade de Iahweh entre as demais t r ibos, por meio d e-
les (Lv 21,8) medianeiros entre o Povo e Ia hweh.
Em outra ocasião Jesus se refere ao sacri f ício ao dizer que “é o
al tar que sant i f ica a oferenda” (Mt 23,19). É que, desde o S inai o al tar
era “ungido” tal como os “sacerdotes ” com o “Óleo da Unção” (Ex
30,25-30), especialmente preparado de acordo com normas do próprio
Iahweh para “sant i f icar tudo que o t ocasse”:
“ O f e r e c e r á s p e l o a l t a r u m s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o , q u a n d o f i z e r e s p o r e l e a e x p i -a ç ã o ( “ c o m s a n g u e ” ) , e o u n g i r á s p a r a c o n s a g r á - l o . ( . . . ) ; a s s i m o a l t a r s e r á s a n -
t í s s i m o e t u d o q u e o t o c a r s e r á s a n t i f i c a d o ” ( E x 2 9 , 3 6 - 3 7 ) .
Um novo elemento aparece aqui com o r i to do sacri f ício pelo
pecado, a expiação, que tem como integrante essencial o sangue que
expia (Lv 17,11) e sem o qual não há remissão (Hb 9,22). Ao que se
conclui que , pela unção sagrada sant i f ica -se o al tar e o sacerdote ,
completando-se a ef icácia do ato com o sangue do sacri f ício pelo p e-
cado (Lv 6,17-22 / Hb 9,22). A part i r des sa Aliança organizou-se um
ri tual sabendo-se que sem al tar , sacerdote, sangue e ví t ima (= hóst ia)
não há sacri f ício , nem se consegue a sant i f icação (Hb 9,19 -22). Jesus
resume tudo isso numa frase apenas. ("é o Altar que sant i f ica a Of e-
renda" – Mt 23,19).
Também, somente poderia part icipar do sacri f ício quem est ive s-
se em estado de “pureza legal (Lv 7,20 -21; 11,44-45) e de sant idade”.
Caso algo as comp rometesse, o israel i ta deveria puri f icar -se antes con-
forme os r i tuais legais (Lv 11,25.28.32.40). No caso da sant idade
comprometida havia os sacri f ícios para a remissão: o holocausto e o
sacri f ício de expiação ou de reparação , ou pelo pecado. Têm em co-
mum que o ofertante impunha as suas mãos na cabeça da v í t ima , prat i -
cando assim a subst i tuição dele pela oferta, que era sacri f icada em seu
lar . Essa subst i tuição foi inst i tuída pelo pr óprio Deus em Gn 22,13 ,
entregando um cordeiro para ser sacri f icado subst i tuindo Isaac. Para
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sat isfazê-la integralmente o ofertante imolava -a e a esquar tejava, e o
sacerdote após queimá-la completava o r i tual com o oferec imento do
sangue (Lv 1,4 -5) .
No holocausto a ví t ima (ou hóst ia) era toda queimada („ estava
toda contaminada pelo pecado do ofertante ‟ , não podendo servir de
al imento) , nenhuma de suas partes era " comida"; já , nos sacri f ícios
pelo pecado algumas partes eram comidas pelo sacerdote apenas (Lv
6,19-23) e outras queimadas, s ignif icando a “part icipação e sat isf a-
ção” do próprio Deus (Lv 7,1 -10 / Gn 15,17). Havia ainda o sacri f ício
de comunhão ou refeição sagrada no qual todos comem (Lv 3,1-7) , ca-
da qual a sua parte: o ofertante e seus famil iares ou amigos, o sacerd o-
te e o próprio Deus “aspirando a oferenda queimada em perfume de
suave odor a Iahweh” ( l i t . : ‘o bom cheiro que aplaca’ –Gn 8,21 / Lv
1,9; 3 ,5) :
I a h w e h f a l o u a M o i s é s e d i s s e : „ O r d e n a a o s f i l h o s d e I s “ r a e l o s e g u i n t e : T e r e i s c u i d a d o d e m e t r a z e r n o t e m p o d e t e r m i n a d o a m i n h a o f e r e n d a , o m e u m a n j a r , n a
f o r m a d e o f e r e n d a q u e i m a d a d e p e r f u m e a g r a d á v e l ” ( N m 2 8 , 1 - 2 ) .
É São Paulo quem melhor nos esclarece do fundamento teo lógico
de toda a inst i tu ição , ao dizer:
“ A q u e l e s q u e c o m e m a s v í t i m a s s a c r i f i c a d a s n ã o e s t ã o e m c o m u n h ã o c o m o a l -t a r ? ” ( 1 C o r 1 0 , 1 6 - 1 8 ) .
Deduz-se destas palavras que , pelo sacri f ício , se es tabelece a
comunhão entre o Ofertante, o Altar e Ia hweh, por meio do Sacerdote
e com a expiação do pecado pelo sangue. Assim, al tar , refere-se à ví -
t ima e sacerdote; sacerdote , a Deus e sangue que expia; sangue que
expia à ví t ima ou hóst ia de que se al imenta em co mum e em sant i f ica-
ção; e , sant i f icação, à comunhão de pessoas a part i r da comunhão com
o al tar formando-se uma “comunidade” de todos em “comunhão”com
“Iahweh Deus”.
Além da subst i tuição há outra conotação cul tural do sacri f ício
israel i ta que é necessário mencionar. É que não deixa de ser muito c u-
r iosa a dis t r ibu ição das partes da ví t ima do sacri f ício a serem “com i -
das” pelo Ofertante , pelo Sacerdote e por Iahweh, com a queima do
“Pão de Deus” (Lv 21,8; Nm 28,1) . Até mesmo as oferendas ou díz i -
mos estavam sujei tos a essa dis t r ibuição sacri f ical , sendo entregues
num ri tual em que uma parte apenas era “com ida” :
“ E m r e l a ç ã o a Ia h w e h , v o s s o D e u s . . . b u s c á - l o - e i s s o m e n t e n o l u g a r . . . e s c o l h i -d o . . . p a r a a í c o l o c a r o s e u n o m e e f a z ê - l o h a b i t a r . Le v a r e i s p a r a l á o s v o s s o s h o -
l o c a u s t o s e v o s s o s s a c r i f í c i o s , v o s s o s d í z i m o s e o s d o n s d e v o s s a s m ã o s , v o s s o s
s a c r i f í c i o s v o t i v o s e v o s s o s s a c r i f í c i o s e s p o n t â n e o s , o s p r i m o g ê n i t o s d e v o s s a s v a c a s e d a s v o s s a s o v e l h a s . E c o m e r e i s l á , d i a n t e d e I a h w e h , v o s s o D e u s , . . . v ó s
e v o s s a s f a m í l i a s . . . ( . . . ) . N ã o p o d e r á s c o m e r e m t u a s c i d a d e s o d í z i m o d o t eu
t r i g o , d o t e u v i n h o n o v o e d o t e u ó l e o , n e m o s p r i m o g ê n i t o s d a s t u a s v a c a s e o -v e l h a s , n e m a l g o d o s s a c r i f í c i o s v o t i v o s q u e h a j a s p r o m e t i d o , o u d o s s a c r i f í c i o s
e s p o n t â n e o s , o u a i n d a d o n s d a t u a m ã o . T u o s c o m e r á s d i a n t e d e Ia h w e h , t e u
D e u s , s o m e n t e n o l u g a r q u e Ia h w e h , t e u D e u s , h o u v e r e s c o l h i d o , t u , t e u f i l h o , t u a f i l h a . . . ” ( D t 1 2 , 4 - 1 8 ; l e i a - s e a i n d a D t 1 2 , 1 1 - 1 2 ; 1 4 , 2 2 - 2 6 ) .
Da ci tação acima vê-se que somente no lugar indicado por Deus
é que se podiam comer os sacri f ícios , i ncluído como um deles ou as
oferendas const i tuídas pelos primogêni tos do gado, ou pelas primícias
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das plantações, ou do vinho, ou do óleo, ou do pão, ou pelos dons etc.
É de se observar que as oferendas ou d íz imos não podiam ser “tota l -
mente comidos”, mas apenas “uma par te deles” , pois pertenciam, por
direi to , aos sacerdotes (Nm 18,9.20.23 -24). Fossem “todos comidos”
nada se lhes entregaria. Somente “uma parte” era objeto da “sant i f ic a-
ção sacri f ical” entregando -se o “todo” no Templo. Nessa perspect iva é
São Paulo quem esclarece ou tra concepção vigente fazendo com que se
entenda melhor o alcance do sacri f ício, is to é , a ex is tência da sol idar i -
edade da parte com o todo, isso é “à sant i f icação da parte correspo nde
à sant i f icação do todo” :
“ E s e a s p r i m í c i a s s ã o s a n t a s , a m a s s a t a m b é m o s e r á ; e s e a s r a í z e s s ã o s a n t a s ,
o s r a m o s t a m b é m o s e r ã o ” ( R m 1 1 , 1 6 ) .
Fundamentou-se naturalmente no que se prescreveu a respei to
das primícias da massa do primeiro pão a ser prep arado em Israel , qual
seja:
“ Q u a n d o t i v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a p a r a a q u a l e u v o s c o n d u z o , d e v e r e i s o f e r e c e r u m a o f e r e n d a a Ia h w e h , t ã o l o g o c o m a i s d o p ã o d e s s a t e r r a . C o m o p r i m í c i a s d a
v o s s a m a s s a s e p a r a r e i s u m p ã o ; f a r e i s e s t a s e p a r a ç ã o c o m o a q u e l a q u e s e f a z
c o m a e i r a . D a r e i s a Ia h w e h u m a o f e r e n d a d o m e l h o r d a s v o s s a s m a s s a s ” ( N m 1 5 , 1 8 - 2 1 ) . “ C a d a d i a d e s á b a d o s e r ã o c o l o c a d o s , p e r m a n e n t e m e n t e , d i a n t e d e I -
a h w e h . . . ; p e r t e n c e r ã o a A a r ã o e s e u s f i l h o s , q u e o s c o m e r ã o n o l u g a r s a n t o , p o i s
é c o i s a s a n t í s s i m a p a r a e l e , . . . ” ( L v 2 4 , 8 - 9 ) .
At inge-se assim ao âmago do que se poderia d enominar de Teo-
logia do Sacri f ício, qual seja, o fato de que a "sant i f icação de uma
parte corresponde à sant i f icação do todo" pelo que se entra em “com u-
nhão” com Iahweh:
" E l e s m e f a r ã o u m s a n t u á r i o , e e u h a b i t a r e i n o m e i o d e l e s " ( E x 2 5 , 8 )
3.3. - OS VÁRIOS TIPOS DE SACRIFÍCIOS
Pode-se pensar que não seja de muita ut i l idade um exame do c e-
r imonial dos sacri f ícios , tendo-se em vis ta que , atualmente não mais
se tem deles a mesma compreensão cul tural . Por causa disso mesmo os
cerimoniais l i túrgicos são muitas vezes incompreendidos , mal vis tos
ou menosprezados como mera e desnecessária pompa. Além disso , por
desconhecer a Teologia do Sacri f ício é que atualmente não se tem na
devida conta o valor da Cerimônia Eucarís t ica , em seus elementos
const i tut ivos, bem com o, não se entendem algumas partes da Missa.
Há até quem admita que elas venham contrariar os princípios da s i m-
pl icidade e pobreza evangél icas . Não é bem a ssim, principalmente por
que a Igreja foi na Teol ogia do Sacri f íc io encontrar fundamento para a
sua l i turgia, para vários concei tos de doutr ina e até mesmo de moral .
Não que a Igreja tenha copiado ou plagiado tais disposições assim
proposi tadamente , mas decorre do próprio fato de que o cr is t ianismo
foi sedimentado em cima do judaí smo. Tal como já se disse alhures
Jesus não fundou uma nova rel igião , mas deu pleni tude à Lei e aos
Profetas (Mt 5,17) , no que foi seguido pelos primeiros cr is tãos que
9
acomodaram à dout r ina cri s tã as suas t radições . Em vir tude disso, não
se pode deixar de abordar pelo menos resumid amente certos detalhes
sacri f iciais da l i turgia dos Israel i tas , seja pela sua importância na
cont inuidade desejada por Jesus Cris to, seja na perspect iva de "pleno
cumprimento" (Mt 5 ,17 -20) que Ele lhe impôs.
Os Sacri f ícios compõem-se de algumas partes l i t úrgicas comuns
como o Altar , o Ofertante, o Sacerdote , a Oferenda, a Imposição das
Mãos, a Expiação, Aspersão, Oferecimento do Sangue, de Farinha, a
Oblação e o Memorial s ignif icado na expressão ". . . de suave odor para
o Senhor" [Lv 1,9 / 5 ,11 -13; em hebraico = "o bom cheiro que aplaca "
(Gn 8,21)] . Apesar de sensíveis diferenças, todos estes elementos de s-
tacam-se faci lmente nos vários t ipos que ex is tem. Exatamente no ex a-
me dessas diferenças é que se compreendem, ta nto a f inal idade deles ,
como sua eficácia e uso, at ingindo-se assim em cheio a sua Teologia
ou os seus fundame ntos rel igiosos:
(1°) - Os Holocaustos : Esse é o r i tual mais perfei to , pleno e s o-
lene de cul to, pelo reconhecimento da soberania divina e pela home-
nagem ao Criador. É o Sacri f ício por exce lência de adoração, ação de
graças ou expiação de pecados, sempre usado, desde antes dos Patr ia r-
cas e por eles (Gn 4,3 -4; 8 ,20; 22,13; Ex 18,12; 24,50), s ignif icando
na queima total da ví t ima o nada da cr iatura e de seus bens , perante
Iahweh. É escolhido do gado maior da manada, - o bovino; ou do gado
menor do rebanho, - o ovino; ou, das aves , - as rolas ou os pombos. A
única diferença que ocorre é que o ofertante "imolará o animal „m e-
nor‟ junto ao f lanco norte do al tar" (Lv 1,11) e o „maior‟ à entrada da
Tenda da Reunião (Lv 1,3 -5) . Com a oferta de aves "o sacerdote leva-
rá a ví t ima ao al tar e , destroncando -lhe a cabeça a queimará sobre ele.
Depois de deixar escorrer o sangue sobre a parede do al tar t i rará o p a-
po e a plumagem e os lançará do lado les te do al tar , no lugar das cin-
zas . Em seguida , o sacerdote dividirá em duas metades uma asa de c a-
da lado, mas sem as separar , e a queimará sobre a lenha acesa no a l -
tar" (Lv 1,15-17).
A ví t ima da manada deve ser um macho sem defei to no qual o
ofertante impõe as mãos para a subst i tuição, es tabelecendo assim a
sol idariedade dela com ele. Então, apresenta -a na entrada da Tenda da
Reunião e imola-a "na presença de Iahweh", diante do Santuário, no
Átrio (Lv 1,5) , cujo sangue, "sede da vida" (Gn 9,4) , é derr amado pelo
sacerdote em torno do Altar . Então o Ofertante a esquartejará (Lv 1,6)
e os Sacerdotes disporão as várias partes no Altar onde tudo será t o-
talmente queimado no fogo aí ex is tente e que não se apaga (Lv 6,5 -6) ,
bem como, a gordura, as patas e vísceras d evidamente lavadas. É o
Sacri f ício por excelência junto aos Is rael i tas , tão importante que se
consideraria uma desgraça nacional a profanação ou ext inção do Hol o-
causto Quot idiano, prat icado a cada manhã e a cada tarde de todos os
dias , mantendo o fogo aceso "sem j amais se apagar" (Lv 6,6 / Dn 8,13;
11,31):
“ Ia h w e h f a l o u a M o i s é s : “ M a n d a d i z e r a A a r ã o e a s e u s f i l h o s : E s t a é a l e i d o
h o l o c a u s t o : o h o l o c a u s t o f i c a r á s o b r e a l a r e i r a d o a l t a r a n o i t e i n t e i r a , a t é a
m a n h ã s e g u i n t e , e o f o g o d o a l t a r s e r á m a n t i d o a c e s o " ( L v 6 , 1 - 3 / N m 2 8 , 3 - 8 ) .
10
Ident i f ica-se es te Sacri f ício, e , com menor ampli tude os demais ,
ao de Cris to de que é "f igura" (Hb 9,24; Rm 15,4; 1Co 10,6; Gl 4,24;
1Pe 3,21) de quem lhes vêm o valor e a ef icácia como adoração, exp i-
ação e ação de graças (Hb 9, 11-14). Cris to entregue para a Redenção
do Homem, Humanidade e Divindade, todo e intei ro subi ndo ao Altar
de Cruz e "derramando o Seu Sangue" . Deixa-se consumir complet a-
mente pela Caridade, melhor, p elo Amor de Deus, como Subst i tuição
Salutar do Homem em Expiação e em Ação de Graças . Sobe ao céu
Ressusci tado tal como o "perfume de agradável odor a Deus [ „ o bom
cheiro que aplaca’ ] " (Lv 1,9.13.17), e real iza , com pleni tude e perfe i -
ção, verdadeiro Holocausto de Si mesmo:
" C o m e f e i t o , s e g u n d o a L e i , q u a s e t o d a s a s c o i s a s d e v e m s e r p u r i f i c a d a s c o m s a n g u e e n ã o h á r e m i s s ã o s e m e f u s ã o d e s a n g u e . E r a n e c e s s á r i o , p o i s , q u e a s
' f i g u r a s ' d a s r e a l i d a d e s c e l e s t e s f o s s e m p u r i f i c a d a s . M a s a s p r ó p r i a s r e a l i d a -
d e s c e l e s t e s r e q u e r e m s a c r i f í c i o s m a i s e x c e l e n t e s d o q u e a q u e l e s . P o i s C r i s t o n ã o e n t r o u n u m s a n t u á r i o f e i t o p o r m ã o h u m a n a , f i g u r a d o v e r d a d e i r o , m a s n o
p r ó p r i o c é u , p a r a c o m p a r e c e r a g o r a n a p r e s e n ç a d e D e u s e m n o s s o f a v o r . E
n ã o e n t r o u p a r a s e o f e r e c e r m u i t a s v e z e s a s i m e s m o , c o m o o S u m o S a c e r d o t e q u e e n t r a v a t o d o s o s a n o s n o s a n t u á r i o , p a r a o f e r e c e r s a n g u e a l h e i o . D o c o n -
t r á r i o l h e s e r i a n e c e s s á r i o p a d e c e r m u i t a s v e z e s d e s d e o p r i n c í p i o d o m u n d o .
M a s s ó a p a r e c e u a g o r a , u m a v e z a p e n a s , n a p l e n i t u d e d o s s é c u l o s , p a r a d e s -t r u i r o p e c a d o p e l o s a c r i f í c i o d e s i m e s m o " ( H b 9 , 1 9 - 2 6 ) .
Ensina o atual Catecismo da Igreja Catól ica:
" É c o m b a s e n a h a r m o n i a d o s d o i s t e s t a m e n t o s ( v . " D e i V e r b u m " n ° s . 1 4 - 1 6 )
q u e s e a r t i c u l a a c a t e q u e s e p a s c a l d o S e n h o r ( c f . Lc 2 4 , 1 3 - 4 9 ) e , d e p o i s , a d o s A p ó s t o l o s e d o s P a d r e s d a I g r e j a . E s t a c a t e q u e s e d e s v e n d a o q u e e s t a v a o c u l t o
s o b a l e t r a d o A n t i g o T e s t a m e n t o : o m i s t é r i o d e C r i s t o . É c h a m a d a " t i p o l ó g i c a " ,
p o r q u e r e v e l a a n o v i d a d e d e C r i s t o a p a r t i r d a s " f i g u r a s " ( t i p o s ) q u e a a n u n c i a -v a m n o s f a t o s , p a l a v r a s e s í m b o l o s d a p r i m e i r a A l i a n ç a . A q u e l a s f i g u r a s s ã o
d e s v e n d a d a s p o r e s t a r e l e i t u r a n o E s p í r i t o d e v e r d a d e a p a r t i r d e C r i s t o ( v . 2 C o
3 , 1 4 - 1 6 ) . A s s i m , o d i l ú v i o e a a r c a d e N o é p r e f i g u r a v a m a s a l v a ç ã o p e l o B a t i s -m o ( c f . 1 P e 3 , 2 1 ) ; i g u a l m e n t e a n u v e m e a t r a v e s s i a d o M a r V e r m e l h o , e a á g u a
d o r o c h e d o e r a m f i g u r a d o s d o n s e s p i r i t u a i s d e C r i s t o ( c f . 1 C o 1 0 , 1 - 6 ) ; e o m a -
n á d o d e s e r t o p r e f i g u r a v a a E u c a r i s t i a , " v e r d a d e i r o P ã o d o C é u " ( J o 6 , 3 2 ) " ( n . ° 1 0 9 4 , d e s t a q u e s p r o p o s i t a i s ) .
(2°) - As Oblações : São os Sacri f ícios denominados de Incrue n-
tos em vir tude de não ocorrer o derramamento de sangue. São prat ic a-
dos com produtos do solo, cul t ivados e usados como al imento pelo
Homem tais como farinha de t r igo no estado natural (Lv 2,1 -3) ou em
forma de pão sem fermento, cozido no forno ou em ass adeira (Lv 2,4 -
7) a que o Sacerdote junta o azei te e o incenso oferecido a uma parte
queimada em "suave odor a Iahweh". O restante, pertencente aos S a-
cerdotes (Lv 2,2 -3) , deveria ser comido no Átrio da Tenda da Reunião,
o "lugar sagrado" (Lv 6,9) . Formam uma exceção, pois , o verdadeiro
Sacri f ício ex ige o derramamento do sangue "que expia" (Lv 17,11). Só
raramente são prat icadas isoladamente (Lv 5,11; 6 ,12 -16) então usadas
como al ternat iva para os pobres tendo o mesmo valor expiatório (Lv
5,11-13). Geralmente é um complemento obrigatório , tanto no Holo-
causto como nos Sacri f ícios Pacíf icos . Não se pode usar fermento,
nem mel , e ". . . porás sal . . . o Sal da Aliança de Iahweh, nas ofertas e
em todas as ofertas oferecerá sal" (Lv 2 ,13). É a es te sal que compara
Jesus seus Apóstolos pela consagração fei ta:
11
" V ó s s o i s o s a l d a t e r r a . M a s s e o s a l p e r d e r o s e u s a b o r , c o m o q u e s e h á d e s a l g a r ? J á n ã o s e r v i r á p a r a n a d a , a p e n a s p a r a s e r j o g a d o f o r a e p i s a d o p e l a s
p e s s o a s " ( M t 5 , 1 3 ) .
Não se podia usar o fermento e o mel , pois são faci lmente dege-
neráveis enquanto que o sal , além da qual idade de conservar os al i -
mentos , tem no Oriente Médio o condão de unir até mesmo inimigos.
Tanto é ass im que quando ingerido em comum, mesmo por acaso e por
dois inimigos, causa -lhes a "união do coração", de duração perene e
inviolável . É esse caráter que adquire ao se tornar presente no Sacri f í -
cio que envolve qualquer fato in erente à Aliança, daí a denominação
de Al iança de Sal :
" S a b e i s m u i t o b e m q u e Ia h w e h D e u s d e I s r a e l c o n c e d e u a D a v i o d i r e i t o d e r e i n a r s o b r e I s r a e l p a r a s e m p r e , a e l e e s e u s d e s c e n d e n t e s , p o r u m a a l i a n ç a
d e s a l " ( 2 C r o 1 3 , 4 - 5 ) .
Vem, em seguida , a Oblação das Primícias , oblação part icular
dos neo-Sacerdotes , que difere das oferendas públ icas das prim ícias
(Ex 13,2; 22,28-29):
" S e f i z e r e s a Ia h w e h u m a o b l a ç ã o d e p r i m í c i a s , d e v e r á s e r d e e s p i g a s t o s t a d a s a o f o g o e g r ã o s m o í d o s d o f r u t o f r e s c o . S o b r e e l a o f e r e c e r á s a z e i t e e p o r á s i n -
c e n s o . É u m a o b l a ç ã o . D e l a o s a c e r d o t e q u e i m a r á c o m o m e m o r i a l u m a p a r t e d o s
g r ã o s m o í d o s e d o a z e i t e , a l é m d e t o d o o i n c e n s o . É u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o a I a h w e h " ( Lv 2 , 1 4 - 1 6 ) .
Desde os primórdios do Cris t ianismo , a Tradição vê no Sacri f í -
cio da Missa o cumprimento da Profecia de Malaquias refer indo-se à
"oblação pura" e i ncruenta (v. tb . Catecismo da Igreja Catól ica n°s
1330, 1350 e 2643):
" S i m , d o l e v a n t a r a o p ô r - d o - s o l , m e u n o m e s e r á g r a n d e e n t r e a s n a ç õ e s e e m
t o d o l u g a r s e r á o f e r e c i d o a m e u n o m e u m s a c r i f í c i o d e i n c e n s o e u m a o b l a ç ã o p u r a . P o r q u e m e u n o m e é g r a n d e e n t r e a s n a ç õ e s ! – d i z o S e n h o r T o d o -
P o d e r o s o " ( M l 1 , 1 1 ) .
(3°) - Os Sacrif ícios Pacíf icos ou Salutares : São as denomina-
das Refeições Sagradas celebradas em agradecimento por algum f avor
recebido ou para consegui - lo , em que, determinadas partes da ví t ima
eram comidas no Santuário , pelo ofertante e s eus convidados. As par-
tes gordas eram queimadas e o sangue era derramado sobre o Altar e
ao seu redor e duas partes da ví t ima eram dest inadas aos Sacerdotes .
Dist inguem-se do Holocausto e ssencialmente nas partes dest inadas a
Iahweh que passam a se resumir apenas no sangue e na gordura da v í-
t ima. Essa pode ser macho ou fêmea, sendo que, o pei to e uma perna
vão para os Sacerdotes e o res tante é "banquete ado" pelo Ofertante e
seus famil iares ou com convid ados. Não há necessidade de detalha r
todas as espécies de les , pois muito se assemelham sem variação, e são
faci lmente percept íveis por uma s imples lei tura do tex to. É a es tes t i -
pos de Sacri f ícios que São Paulo refere -se ao compará -los com a Eu-
caris t ia (Veja acima o n° 2.8 do Capí t ulo II) :
" O l h a i o I s r a e l s e g u n d o a c a r n e . N ã o e n t r a m e m c o m u n h ã o c o m o a l t a r o s q u e
c o m e m d a s v í t i m a s s a c r i f i c a d a s ? " ( 1 C o r 1 0 , 1 8 ) .
12
Esse "banquete" do qual todos ( Iahweh-Deus, os Sacerdotes , o
Ofertante, seus fami l iares e convidados) part icipam é parte obrigatória
do r i tual e imprime aquela int imidade de vidas que é a principal cara c-
ter ís t ica do aconchego de uma refeição famil iar : aquela comunhão
plena que se manifesta na l iberdade de ampla e descontraída comun i-
cação mútua. Tudo indica que isso cul turalmente , es teja enraizado na
própria natureza humana, pois t rata -se de acontecimento comum a t o-
das as épocas e civi l izações. Basta mencionar a real ização costumeira
de banquetes por ocasiões de fatos ou comemorações especiais como o
noivado, o casamento, o bat izado, o anive rsário etc. . Também nos atos
públ icos : inaugurações, instalações, vis i tas de pessoas célebres , aco r-
dos internacionais etc. , essas cerimônias sempre se completam com
uma refeição fest iva. Nessas ocasiões , todos se confraternizam de
forma descontraída e se harmonizam. Jesus se despediu dos Seus Di s-
cípulos em uma "Refeição Sagrada", na Santa Ceia, onde inst i tuiu a
Eucaris t ia , conhecida como " comunhão", " . . . fonte e ápice da vida
cristã . . . " (Conc. Do Vat . II , "Lumen Gent ium", n .° 11):
" J e s u s f e z a m a n i f e s t a ç ã o s u p r e m a d a o b l a ç ã o l i v r e d e S i m e s m o n a r e f e i ç ã o q u e t o m o u c o m o s d o z e A p ó s t o l o s ( c f . M t 2 6 , 2 0 ) , n a " n o i t e e m q u e f o i e n t r e g u e "
( 1 C o 1 1 , 2 3 ) . N a v é s p e r a d a S u a P a i x ã o , q u a n d o a i n d a e r a l i v r e , J e s u s f e z d e s t a
Ú l t i m a C e i a c o m o s A p ó s t o l o s o m e m o r i a l d e s u a o b l a ç ã o v o l u n t á r i a a o P a i ( c f . 1 C o 5 , 7 ) p a r a a s a l v a ç ã o d o s h o m e n s : " I s t o é o m e u C o r p o , q u e v a i s e r e n t r e g u e
p o r v ó s " ( Lc 2 2 , 1 9 ) . " I s t o é ( . . . ) o M e u S a n g u e d a N o v a A l i a n ç a , q u e v a i s e r
d e r r a m a d o p o r u m a m u l t i d ã o , p a r a r e m i s s ã o d o s p e c a d o s " ( M t 2 6 , 2 8 ) " ( C a t e -c i s m o d a Ig r e j a C a t ó l i c a n . ° 6 1 0 , n e g r i t o s p r o p o s i t a i s ) .
(4°) - Os Sacrif ícios Pelo Pecado : São também conhecidos co-
mo Sacri f ícios Expiatórios ou De Expiação, eis que não exist ia uma
palavra específ ica para "pecado", tal como atualmente. O Israel i ta u-
sava "iniquidade", "impiedade", "fal ta", "mancha", "t ransgressão",
"revol ta", "injust iça", "dívida" etc. . Contra pondo-se à f igura do "jus-
to", o que “anda na presença de Deus ( „ faz o bem ‘ )” , o pecador de
então é "aquele que faz o mal na face de Deus", um "ímpio", "mau"
etc . . Também não se usava o termo "perdão" nas dimensões atuais da
"just i f icação bat ismal", refer indo-se a e le, mas esse termo "expiação”,
como uma purif icação "propiciatória" levando o H omem a se predispor
em condições de agradar a Deus que desagradou com al gum ato que
necessi ta "expiar", ex t inguir , puri f icando-se. Impondo as mãos sobre a
cabeça da ví t ima ident i f icava -se com ela , representando-o na subst i tu-
ição e sol idariedade estabelecida. Todo Sacri f ício Pelo Pecado ident i -
f ica-se ao Holocaus to e a ele se assemelha, dis t inguindo-se na varie-
dade casuís t ica em que se apresenta.
Após uma breve int rodução , em que se s i tuam os pecados por
inadvertência ou por er ro, fruto da f raqueza humana contra qualquer
dos Mandamentos (Lv 4,1 -12) , apresenta-se o Sacri f ício pelo Pecado
do Sumo Sacerdote (Lv 4,3 -12), de todo o Povo (Lv 4,13 -21), de um
Chefe (Lv 4,22-26) e de um simples Israel i ta (Lv 4,27 -35) , comple-
tando-se com a exceção do Sacri f ício especial para a Pobreza (Lv
5,7.11-13).
13
(4.1) - Sacrif ícios de Reparação ou Pelo Del i to, por um ato
involuntário ou por ignorância (Lv 5 ,1-10.14-26). É necessário es-
clarecer que dessa "classi f icação" dos pecados há que se dis t inguir
aqueles prat icados "com a mão levantada" (Nm 15,30 -31) para os
quais não há remissão, resul tando sem pre na el iminação do culp ado do
seio do Povo, numa espécie de "excomunhão". Essa divisão caracteriza
ainda a gravidade do pecado que tem maior efei to danoso , quando pra-
t icado por pessoa responsável pela integridade moral no meio social a
começar com "o que foi ungido" (Lv 4,3.16; 6 ,15; 7 ,35), e recebe a
denominação de Sumo Sacerdote. A mais impo rtante personal idade de
Is rael caso cometa fal ta no exercício de suas funções compromete , em
muito , a sant i f icação de toda a comunidade, ex igindo assim um Sacr i -
f ício especial : oferece então um novi lho sem defei to , impo ndo-lhe as
mãos e imolando-o em frente ao Santuário; em seguida, t omando do
sangue, vai à Tenda da Reunião onde molha nele o dedo e faz sete a s -
persões em frente do véu; "unge" com ele os chifres do Altar do In-
censo, derramando o resto ao pé do Altar dos Holocaustos; " t i rará de-
pois a gordura do bezerro sacri f icado pelo pecado, a gordura que c o-
bre as vísceras e toda a gordura aderente, os dois r ins com a gordura
que os cobre na região lombar, e a camada gor durosa do f ígado que
deverá separar com os r ins - exatamente como se faz com o touro de
um sacri f ício pacíf ico - e o sacerdote queimará tudo sobre o al tar dos
holocaustos . O couro do bezerro, toda a carne, além da cabeça, pernas ,
vísceras e excrementos, en fim, será levado o bezerro intei ro para fora
do acampamento a um lugar puro e o queimará sobre um fogo de l e-
nha. Será queimado no lugar onde se jogam as cinzas “ (Lv 4,8 -12), e
queimando-o, queima-se também a fal ta cometida.
Os demais seguem o mesmo esquem a, mudando-se o t ipo de v í-
t ima e alguns detalhes do r i tual , mas sempre é mant ido o caráter de
um verdadeiro Holocausto. Assim , a ninguém seria permit ido al ime n-
tar-se das ví t imas imoladas para não se beneficiar o pecador com a
ví t ima ocasionada pelo seu pecado. Por causa disso , queimando-se a
ví t ima fora do acampamento esse Sacri f ício pelo Pecado do Sumo S a-
cerdote é comparado com a Crucif ixão de Jesus que se renova na Mi s-
sa de maneira incruenta:
" O s c o r p o s d a q u e l e s a n i m a i s c u j o s a n g u e , p a r a a e x p i a ç ã o d o s p e c a d o s , é i n t r o -
d u z i d o n o s a n t u á r i o p e l o S u m o S a c e r d o t e , s ã o q u e i m a d o s f o r a d o a c a m p a m e n t o .
P e l o q u e t a m b é m J e s u s , a f i m d e s a n t i f i c a r o p o v o c o m s e u s a n g u e , p a d e c e u f o r a d a s p o r t a s . S a i a m o s , p o i s , p a r a i r t e r c o m e l e f o r a d o a c a m p a m e n t o c a r r e g a n d o
a s u a i g n o m í n i a , p o i s n ã o t e m o s a q u i c i d a d e p e r m a n en t e , a o c o n t r á r i o , b u s c a -
m o s a f u t u r a . P o r e l e o f e r e ç a m o s c o n t i n u a m e n t e a D e u s s a c r i f í c i o s d e l o u v o r , i s t o é , o f r u t o d o s l á b i o s q u e c e l e b r a m s e u n o m e . D a b e n e f i c ê n c i a e d a m ú t u a
a s s i s t ê n c i a n ã o v o s e s q u e ç a i s , p o i s D e u s s e c o m p r a z c o m e s t e s s a c r i f í c i o s " ( H b
1 3 , 1 0 - 1 6 ) .
Essa variedade de Sacri f ícios , conforme a gravidade das fal tas
cometidas , serve para se conhecer a ex is tência de uma graduação d e-
las , como ainda são dispostos atualmente em mortais e veniais :
" S e a l g u é m v i r o i r m ã o c o m e t e r u m p e c a d o q u e n ã o l e v a à m o r t e , o r e e a l c a n ç a -
r á a v i d a p a r a o s q u e n ã o p e c a m p a r a a m o r t e . H á u m p e c a d o p a r a a m o r t e , m a s
n ã o é p o r e s t e q u e d i g o q u e s e r o g u e . T o d a i n j u s t i ç a é p e c a d o , m a s h á p e c a d o q u e n ã o é p a r a a m o r t e " ( 1 J o 5 , 1 6 - 1 7 ) .
14
"Há um pecado para a morte. . . há pecado que não é para a mo r-
te" - eis a í , a graduação bem clara com o que mais uma vez se ident i -
f ica com a cont inuidade de algumas noções teológicas do judaísmo
(cfr . Catecismo da Igreja Catól ica n.°s . 1852 a 1861 e1 862 a 1864).
Quanto aos demais conteúdos dos sacri f ícios , bastam uma sim-
ples lei tura do contexto todo , para se d is t inguir as diferenças e seme-
lhanças, dispensando-se maiores comentários e mant idos os princípios
aqui exarados .
3.4. - DIREITOS, FUNÇÕES E DEVERES DOS SACERDOTES NO SACRIFICIO
Descreve-se, em seguida , a maneira do Sacerdote apresentar -se
no Santuário e como se manter na Sant idade necessária ao seu minis t é-
r io . Delas se deduz o que se denomina aqui de " direi tos e deveres dos
Sacerdotes" confor me os Sacr i f ícios a que se vinculam cer tas prát icas .
Por "direi tos" ver -se-á aquelas porções que lhes sejam dest inadas nos
Sacri f ícios e por "deveres" aqueles elementos const i tut ivos dos r i tuais
l i túrgicos a que se deveriam vincular , cumprindo -os rel igiosamente.
Apresentam-se, ass im, disposições relacionadas com os sacri f ícios já
descri tos , especif icando -se que parte da ví t ima seria “comida” pelo
sacerdote oficiante e sua famíl ia , pelo ofe rtante e seus famil iares e o
"Pão de Iahweh" (Lv 21,6.8):
(1°) - No Holocausto Cotidiano - Desde Abraão há curios idade
sobre o fato de Isaac, "enquanto caminhavam" (Gn 22,7a) e ao recl a-
mar a ausência da ví t ima mencionar a presença de um "fogo" (Gn
22,7c) já ci tado antes pelo narrador (Gn 22,6 - " . . . tomou na mão o
fogo e o cutelo. . . " ) . É clara a ex is tência e a ex igência de um fogo e s -
pecial , um fogo sagrado, que deveria ser mant ido aceso. Quando da
invest idura de Aarão e seus f i lhos para o exercício do Sacerdócio , o
Holocausto , então oferec ido, foi consumido por um fogo do céu:
" . . . e u m f o g o e n v i a d o p o r I a h w e h c o n s u m i u o h o l o c a u s t o e a s g o r d u r a s q u e e s -t a v a m s o b r e o a l t a r . V e n d o , o p o v o i n t e i r o p r o r r o m p e u e m g r i t o s d e a l e g r i a , e
p r o s t r a r a m - s e t o d o s c o m o r o s t o p o r t e r r a " ( L v 9 , 2 4 ) .
Este fato vai se repet i r outras vezes (J z 6,21; 1Cro 21,26; 2Mac
2,10) e também, quando da inauguração do Templo por Salomão o que
não deixa de ser um fato bem signif icat ivo pela freq uência com que
ocorre:
" Q u a n d o S a l o m ã o t e r m i n o u a o r a ç ã o , c a i u f o g o d o c é u e d e v o r o u o h o l o c a u s t o e
o s s a c r i f í c i o s ; e a g l ó r i a d o S e n h o r e n c h e u o t e m p l o . O s s a c e r d o t e s n ã o p u d e -
r a m e n t r a r n o t e m p l o d o S e n h o r , p o i s a g l ó r i a d o S e n h o r o e n c h i a . T o d o s o s f i -l h o s d e I s r a e l , q u a n d o v i r a m o f o g o d e s c e r e a g l ó r i a d o S e n h o r s o b r e o t e m p l o ,
s e a j o e l h a r a m , c o m o r o s t o e m t e r r a , s o b r e o p a v i m e n t o , a d o r a r a m e l o u v a r a m o
S e n h o r : „ S i m , e l e é b o m e e t e r n o é s e u a m o r ‟ . E S a l o m ã o c o m t o d o o p o v o o f e -r e c e u s a c r i f í c i o s d i a n t e d o S e n h o r . O r e i S a l o m ã o i m o l o u v i n t e e d o i s m i l b o i s e
c e n t o e v i n t e m i l o v e l h a s . A s s i m o r e i e t o d o o p o v o i n a u g u r a r a m o t e m p l o d e
D e u s " ( 2 C r o 7 , 1 - 4 ) .
15
A exis tência desse t ipo de fogo vem confirmada por um dos l i -
vros de Macabeus:
" E s t a m o s p a r a c e l e b r a r , n o d i a 2 5 d o m ê s d e C a s l e u , a p u r i f i c a ç ã o d o t e m p l o . P o r i s s o j u l g a m o s n e c e s s á r i o d a r - v o s e s t a i n f o r m a ç ã o , p a r a q u e t a m b é m v ó s a
c e l e b r e i s a m o d o d a f e s t a d a s T e n d a s , e e m m e m ó r i a d o f o g o q u e f o i r e e n -
c o n t r a d o q u a n d o N e e m i a s o f e r e c e u s a c r i f í c i o s , d e p o i s d e t e r r e c o n s t r u í d o o t e m p l o e o a l t a r . C o m e f e i t o , q u a n d o n o s s o s p a i s f o r a m l e v a d o s à P é r s i a , o s
p i e d o s o s s a c e r d o t e s d e e n t ã o t i r a r a m o f o g o d o a l t a r e o o c u l t a r a m s e c r e t a -
m e n t e n o f u n d o d e u m p o ç o d e á g u a s e c o , r e s g u a r d a n d o - o d e t a l m o d o q u e o l u g a r p e r m a n e c e u d e s c o n h e c i d o d e t o d o s . P a s s a d o s m u i t o s a n o s , q u a n d o a -
p r o u v e a D e u s , N e e m i a s , e n v i a d o p e l o r e i d a P é r s i a , d e t e r m i n o u q u e o s d e s -
c e n d e n t e s d o s s a c e r d o t e s q u e h a v i a m o c u l t a d o o f o g o , o f o s s e m p r o c u r a r . Q u a n d o e l e s n o s i n f o r m a r a m q u e n ã o t i n h a m e n c o n t r a d o o f o g o , m a s s i m u m
l í q u i d o e s p e s s o , o r d e n o u - lh e s q u e a p a n h a s s e m d a q u e l e l í q u i d o e o t r o u x e s -
s e m . E s t a n d o t u d o d i s p o s t o p a r a o s a c r i f í c i o , N e e m i a s o r d e n o u a o s s a c e r d o -t e s q u e a s p e r g i s s e m , c o m o l í q u i d o , a l e n h a e o q u e s e e n c o n t r a v a s o b r e e l a .
A o r d e m f o i e x e c u t a d a . Q u a n d o o s o l , a n t e s r e c o b e r t o p o r n u v e n s , r e c o m e ç o u
a b r i l h a r , a c e n d e u - s e g r a n d e f o g o , c a u s a n d o a d m i r a ç ã o e m t o d o s “ ( 2 M a c 1 , 1 8 - 2 2 ) .
Este fogo deve ser do t ipo mantido sempre aceso pelos Sacerd o-
tes , num Holocausto Cot idiano (Ex 29,38 -42; Nm 28,3-8) , i s to é, se-
gundo uma ant iga t r adição "o fogo vindo do céu" (Lv 9,24 / Ex 40,38)
que se deveria manter sempre ac eso:
" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s : “ M a n d a d i z e r a A a r ã o e a s e u s f i l h o s : E s t a é a l e i d o
h o l o c a u s t o : o h o l o c a u s t o f i c a r á s o b r e a l a r e i r a d o a l t a r a n o i t e i n t e i r a , a t é a m a n h ã s e g u i n t e , e o f o g o d o a l t a r s e r á m a n t i d o a c e s o . ( . . . ) O f o g o , p o r é m , q u e
a r d e s o b r e o a l t a r , j a m a i s s e d e v e e x t i n g u i r . T o d a s a s m a n h ã s o s a c e r d o t e o a -
l i m e n t a r á c o m l e n h a , p o r á s o b r e e l a o h o l o c a u s t o , e q u e i m a r á a g o r d u r a d o s s a -c r i f í c i o s p a c í f i c o s . O f o g o d e v e a r d e r c o n t i n u a m e n t e n o a l t a r s e m j a m a i s s e a -
p a g a r " ( Lv 6 , 1 - 6 ) .
Há tão grande respei to e veneração pela Sant idade do Santuário
que o Sacerdote responsável por esse fogo sagrado deveria t rocar a
roupa que usava para levar as cinzas para fora do acampamento, ev i-
tando assim a contaminação com o profano (Lv 6,4) . É que tanto o
sant i f icado como o impuro contaminavam as pessoas , e os objetos (Lv
6,11c.18-23; Ex 29,37; Lv 11,24 -28.31-40):
" O s a c e r d o t e , v e s t i n d o t ú n i c a e r o u p a d e b a i x o d e l i n h o , r e m o v e r á a s c i n z a s d e i x a d a s p e l o f o g o q u e c o n s u m i u o h o l o c a u s t o , e a s d e p o s i t a r á a o l a d o d o a l t a r .
D e p o i s d e d e s p i r e s s a s v e s t e s e v e s t i r o u t r a s , l e v a r á a s c i n z a s p a r a f o r a d o a -c a m p a m e n t o , a u m l u g a r n ã o c o n t a m i n a d o " ( L v 6 , 3 - 4 ) .
(2°) - Nas Oblações (Lv 2,1 -16 / 6 ,7-11):
" E s t a é a l e i d a o b l a ç ã o : O s f i l h o s d e A a r ã o d e v e m a p r e s e n t á - l a a o S e n h o r
d i a n t e d o a l t a r . O s a c e r d o t e p e g a r á u m p u n h a d o d e f l o r d e f a r i n h a d a o b l a ç ã o c o m a z e i t e , b e m c o m o t o d o o i n c e n s o p o s t o s o b r e a o f e r e n d a , e q u e i m a r á n o
a l t a r c o m o m e m o r i a l d e s u a v e o d o r a o S e n h o r . O r e s t a n t e d a o b l a ç ã o , A a r ã o
e s e u s f i l h o s o c o m e r ã o ; d e v e r á s e r c o m i d o s e m f e r m e n t o , e m l u g a r s a n t o , n o á t r i o d a t e n d a d e r e u n i ã o . N ã o s e r á a s s a d o c o m f e r m e n t o . É a p a r t e q u e l h e s
d e s t i n e i d o s s a c r i f í c i o s q u e m e s ã o o f e r e c i d o s p e l o f o g o . É c o i s a s a n t í s s i m a ,
d a m e s m a f o r m a c o m o o s a c r i f í c i o d e e x p i a ç ã o e o d e r e p a r a ç ã o . D e l a p o d e -r ã o c o m e r t o d o s o s f i l h o s d e A a r ã o d o s e x o m a s c u l i n o . É u m a l e i p e r p é t u a
p a r a v o s s o s d e s c e n d e n t e s , r e f e r e n t e a o s s a c r i f í c i o s p e l o f o g o a o S e n h o r : t u d o
q u e o s t o c a r f i c a s a g r a d o ” ( L v 6 , 7 - 1 1 ) .
Parte da Oblação const i tuída por "um punhado de f lor de far inha
com azei te , e todo o incenso posto sobre a oferenda" seria "queimada
no al tar como memorial de suave odor a Iahweh. O restante dela , Aa-
16
rão e seus f i lhos comeriam sem fermento" no Santuário e "no át r io da
Tenda de Reunião". Só Aarão e os seus f i lho s e descendentes mascul i -
nos, dela poderiam comer no Átrio em frente da Tenda da Reunião, no
lugar sagrado, por ser Sant íss ima , dela "comendo" também Iahweh, e
queimando-se uma parte "como memoria l de suave odor a Iahweh " (Lv
6,8) . Somente os homens comeria m dessas oblações pelo fa to das m u-
lheres da Casa de Aarão não terem sido "ungidas", e ass im , "não sant i -
f icadas para o múnus sacerdotal" não as poderiam tocar "por serem
oferendas sant íss imas" e as profanariam pelo contá gio.
Apresenta -se, a seguir , uma Oblação especial que os f i lhos de
Aarão deveriam oferecer no dia em que fo ssem "ungidos", "metade de
manhã e metade de tarde", inst i tuída de forma perpétua e sempre que
ocorresse a consagração para o exercíc io do Sacerdócio. O Sacerdote
que a oferece, di feren temente de outros , dela não se beneficiar ia c o-
mendo, pois pertence intei ramente a Iahweh:
" O S e n h o r f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : „ E s t a é a o f e r t a q u e A a r ã o e s e u s f i l h o s f a -
r ã o n o d i a e m q u e f o r e m u n g i d o s : q u a t r o l i t r o s e m e i o d e f l o r d e f a r i n h a , c o m o o b l a ç ã o p e r p é t u a , m e t a d e d e m a n h ã e m e t a d e d e t a r d e . S e r á p r e p a r a d a n a c h a p a
e a p r e s e n t á - l a - á s e m b e b i d a e m a z e i t e . T r i t u r a n d o - a em p e d a c i n h o s , o f e r e c ê - l a -
á s e m s u a v e o d o r a o S e n h o r . A m e s m a o b l a ç ã o f a r á o s a c e r d o t e q u e e n t r e o s f i -l h o s f o r u n g i d o e m s e u l u g a r . É u m a l e i p e r p é t u a : s e r á i n t e i r a m e n t e q u e i m a d a
e m h o n r a a o S e n h o r . T o d a o b l a ç ã o d e u m s a c e r d o t e s e r á t o t a l , e n ã o s e c o m e r á ‟ ”
( Lv 6 , 1 3 - 1 6 ) .
(3°) - Nos Sacrif ícios Expiatórios ou Pelo Pecado (Lv 6,17-23
/ Lv 4) - Esse r i tual destaca a Sant idade da ví t ima pelo lugar onde se
dá a imolação, por onde se deve comê -la, pelos efei tos de qualquer
contato com a ca rne ou com o sangue, pela parte reservada apenas aos
Sacerdotes , ou por não comer dela o Ofertante que pecou para não se
beneficiar de seu pecado e em peni tên cia. É imolada, após a imposição
das mãos pelo Sacerdote, em nome do Ofertante, no mesmo l ocal do
Holocausto e após a efusão do Sangue no Santuário, tornando -se assim
Sant íss ima pelo que qualquer contato com ela infunde Sant idade, por
isso somente o Sacerdote celebrante , e os colegas mascul inos que se
permit i r , podem dela comer. No caso do oferecido pelo pecado do S u-
mo Sacerdote ou da Comunidade ninguém dela comerá, devendo ser
totalmente queimada, pois , o sangue é derramado em l ugar santo (Lv
6,23):
" O S e n h o r f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : “ F a l a p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s : E s t a é a l e i
d o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o . N o l u g a r o n d e s e i m o l a o h o l o c a u s t o , t a m b é m s e r á i m o l a d a d i a n t e d o S e n h o r a v í t i m a p e l o p e c a d o . É c o i s a s a n t í s s i m a . O s a c e r d o t e
q u e o f e r e c e r a v í t i m a p e l o p e c a d o , d e l a p o d e r á c o m e r . D e v e s e r c o m i d a e m l u -
g a r s a n t o , n o á t r i o d a t e n d a d e r e u n i ã o . T u d o q u e t o c a r e s t a c a r n e , f i c a r á c o n -s a g r a d o . S e o s a n g u e r e s p i n g a r a l g u m a v e s t e , l a v a r á s a m a n c h a e m l u g a r s a n t o .
A v a s i l h a e m q u e f o r c o z i d a , s e r á q u e b r a d a , s e f o r d e b a r r o . S e f o r d e b r o n z e ,
s e r á e s f r e g a d a e l a v a d a e m á g u a . T o d o i n d i v í d u o d e s e x o m a s c u l i n o e n t r e o s s a -c e r d o t e s p o d e r á c o m e r d e s t a c a r n e . É c o i s a s a n t í s s i m a . M a s n ã o s e p o d e r á c o -
m e r n e n h u m a v í t i m a e x p i a t ó r i a d a q u a l s e l e v o u s a n g u e à t e n d a d e r e u n i ã o p a r a
f a z e r a e x p i a ç ã o n o s a n t u á r i o ; s e r á q u e i m a d a n o f o g o " ( Lv 6 , 1 7 - 2 3 ) .
(3º . 1) . - Nos Sacrif ícios Pelo Del i to ou de Reparação (Lv 7,1-
10) - Há aqui uma espécie de complemento del in eando-se outros r i tos
a serem também observados no caso de ofensas mais s imp les , os del i -
tos (Lv 5,14-26). A ví t ima será imolada no mesmo local do Holocau s-
17
to e segue o mesmo ri tual do Sacri f ício de Reparação, pode ndo assim
ter o seu dano aval iado, acrescido de um quinto e então pago ao S a-
cerdote que fará a expiação por ele (Lv 5,16 .23-26). A ví t ima, após a
efusão do sangue , torna-se "coisa sant í ss ima" entregue ao sacerdote
que fará a reparação pelo ofertante obedecendo às regras seguintes ,
dispensando-se comentários pela s implicidade do ato:
" S e r á o f e r e c i d a t o d a a g o r d u r a d a v í t i m a : a c a u d a , a g o r d u r a q u e e n v o l v e a s v í s c e r a s , o s d o i s r i n s c o m a g o r d u r a q u e o s c o b r e n a r e g i ã o l o m b a r , e a c a -
m a d a d e g o r d u r a d o f í g a d o q u e s e r á s e p a r a d a c o m o s r i n s . O s a c e r d o t e q u e i -
m a r á t u d o n o a l t a r , c o m o s a c r i f í c i o p e l o f o g o a o S e n h o r . T r a t a - s e d e u m s a -c r i f í c i o d e r e p a r a ç ã o . D e l e p o d e r á c o m e r , e m l u g a r s a n t o , t o d a p e s s o a d o s e -
x o m a s c u l i n o e n t r e o s s a c e r d o t e s . É c o i s a s a n t í s s i m a " ( L v 7 , 3 - 6 ) .
Tanto aqui , como no anterior , a ví t ima é do sacerdote que faz a
expiação, is so é, daquele que oferece a gordura queimando-a e derra-
ma o sangue:
" V a l e a m e s m a l e i t a n t o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , c o m o p a r a o s a c r i f í c i o d e r e p a r a ç ã o : A v í t i m a p e r t e n c e a o s a c e r d o t e q u e f a z a e x p i a ç ã o . A o s a c e r d o t e q u e
o f e r e c e o h o l o c a u s t o d e a l g u é m , p e r t e n c e a p e l e d a v í t i m a q u e o f e r e c e u . T o d a
o b l a ç ã o a s s a d a a o f o r n o o u p r e p a r a d a e m p a n e l a o u c h a p a , p e r t e n c e a o s a c e r d o -t e q u e o f e r e c e . T o d a o f e r e n d a a m a s s a d a c o m a z e i t e o u s e c a , s e r á p a r a t o d o s o s
d e s c e n d e n t e s d e A a r ã o , s e m d i s t i n ç ã o " ( L v 7 , 6 - 1 0 ) .
Destacam-se, nos vers ículos f inais , a propriedade do Sacerdote
que faz a expiação da pele dos animais e das Obl ações pecul iares a
esses t ipos de Sacri f ícios se assada ao forno ou na panela , porém se
amassada, com ou sem azei te , pertencerá então a todos os f i lhos de
Aarão, indis t intamente.
(4°) - Nos Sacrif ícios Pacíf icos , ou Salutares ou Refeições S a-
gradas (Lv 3,1 -17 / Lv 7,11-21) - Pela relação com a Mult ipl icação
dos Pães e com a Ceia Pascal , unidas por Cris to na Eucaris t ia , es te
r i tual é muito importante para os Cris tãos . Completando -se o que já
foi apresentado a respei to aparece um t ipo especial de Obl ação que se
incorpora à ví t ima (Lv 7,12 -14), bem como, regras at inentes ao co n-
sumo da carne (Lv 7,15 -21). Divide-se conforme a f inal idade prete n-
dida em Sacri f ícios de Ação de Graças ou de L ouvor ou de Reconhe-
cimento (Lv 7,12-15) e o Sacri f ício Votivo ou Espontâneo por qua l-
quer motivo (Lv 7,16 -17). Por primeiro vem o Sacri f ício de Ação de
Graças que, em grego , se diz Eucaris t ia:
" E s t a é a l e i d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o q u e s e o f e r e c e a o S e n h o r : S e f o r o f e r e c i d o
e m a ç ã o d e g r a ç a s , a l é m d a v í t i m a d e a ç ã o d e g r a ç a s , s e r ã o o f e r e c i d o s p ã e s á -
z i m o s a m a s s a d o s c o m a z e i t e , b o l o s á z i m o s u n t a d o s d e a z e i t e , e f l o r d e f a r i n h a
e m b e b i d a e m a z e i t e . A l é m d e s t e s , c o m o s a c r i f í c i o p a c í f i c o d e a ç ã o d e g r a ç a s ,
s e r á o f e r e c i d o p ã o f e r m e n t a d o " ( L v 7 , 1 1 - 1 3 ) .
Não pode haver out ro motivo para assim se denominar a Ceia
Eucarís t ica das Missas , vendo-se nela a Oblação de Cris to, atual izada
no Pão Ázimo da Hóst ia da Comunhão que é o Seu Corpo, tal como a
ela se refere o Catec ismo da Igreja Catól ica, no n° 610:
" J e s u s f e z a m a n i f e s t a ç ã o s u p r e m a d a O b l a ç ã o L i v r e d e S i m e s m o n a r e f e i ç ã o q u e t o m o u c o m o s d o z e A p ó s t o l o s ( c f . M t 2 6 , 2 0 ) , n a n o i t e e m q u e f o i e n t r e g u e
( 1 C o r 1 1 , 2 3 ) . N a v é s p e r a d a s u a P a i x ã o , q u a n d o a i n d a e r a l i v r e , J e s u s f e z d e s t a
18
ú l t i m a C e i a c o m o s A p ó s t o l o s o m e m o r i a l d a S u a O b l a ç ã o V o l u n t á r i a a o P a i ( c f . 1 C o r 5 , 7 ) p a r a a s a l v a ç ã o d o s h o m e n s : " I s t o é o m e u C o r p o , q u e v a i s e r e n t r e -
g u e p o r v ó s " ( Lc 2 2 , 1 9 ) . " I s t o é o m e u S a n g u e d e A l i a n ç a , q u e v a i s e r d e r r a m a -
d o p o r u m a m u l t i d ã o , p a r a a r e m i s s ã o d o s p e c a d o s " .
Prossegue o Catecismo n°s . 1328 a 1332 , referindo-se ao Sacra-
mento da Eucaris t ia:
“ 1 3 2 8 - I I . C o mo é c h a ma d o e s t e s a c r a me n t o ? A r i q u e z a i n e s g o t á v e l d e s t e s a -
c r a m e n t o e x p r i m e - s e n o s d i f e r e n t e s n o m e s q u e l h e s ã o d a d o s . C a d a u m d e s t e s
n o m e s e v o c a a l g u n s d o s s e u s a s p e c t o s . E l e é c h a m a d o : E u c a r i s t i a , p o r q u e é a ç ã o d e g r a ç a s a D e u s . A s p a l a v r a s " e u c h a r i s t e i n "
( Lc 2 2 , 1 9 ; 1 C o 1 1 , 2 4 ) e " e u l o g e i n " ( M t 2 6 , 2 6 ; M c 1 4 , 2 2 ) l e m b r a m a s b ê n ç ã o s
j u d a i c a s q u e p r o c l a m a m - s o b r e t u d o d u r a n t e a r e f e i ç ã o - a s O b r a s d e D e u s : a C r i a ç ã o , a R e d e n ç ã o e a S a n t i f i c a ç ã o .
1 3 2 9 - B a n q u e t e d o S e n h o r ( 1 C o 1 1 , 2 0 ) , p o r q u e s e t r a t a d a C e i a q u e o S e n h o r t o m o u c o m o s d i s c í p u l o s n a v é s p e r a d a s u a P a i x ã o e d a a n t e c i p a ç ã o d o b a n q u e t e
n u p c i a l d o C o r d e i r o ( A p 1 9 , 9 ) n a J e r u s a l é m C e l e s t e .
F r a ç ã o d o P ã o , p o r q u e e s t e r i t o , p r ó p r i o d a r e f e i ç ã o d o s j u d e u s , f o i u t i -
l i z a d o p o r J e s u s , q u a n d o a b e n ç o a v a e d i s t r i b u í a o p ã o c o m o c h e f e d e f a m í l i a
( M t 1 4 , 1 9 ; 1 5 , 3 6 ; M c 8 , 6 . 1 9 ) , s o b r e t u d o a q u a n d o d a ú l t i m a C e i a ( c f . M t 2 6 , 2 6 ;
1 C o 1 1 , 2 4 ) . É p o r e s s e g e s t o q u e o s d i s c í p u l o s O r e c o n h e c e r ã o d e p o i s d a R e s -s u r r e i ç ã o ( c f . Lc 2 4 , 1 3 - 3 5 ) e é c o m e s s a e x p r e s s ã o q u e o s p r i m e i r o s c r i s t ã o s
d e s i g n a r ã o a s s u a s A s s e m b l é i a s E u c a r í s t i c a s ( c f . A t 2 , 4 2 . 4 6 ; 2 0 , 7 . 1 1 ) . Q u e r e m ,
c o m i s s o , s i g n i f i c a r q u e t o d o s o s q u e c o m e m d o ú n i c o p ã o p a r t i d o , C r i s t o , e n -t r a m e m c o m u n h ã o c o m e l e e f o r m a m u m s ó c o r p o n E l e ( c f . 1 C o 1 0 , 1 6 - 1 7 ) .
A s s e mb l e i a E u c a r í s t i c a ( " s y n a x i s " ) , p o r q u e a E u c a r i s t i a é c e l e b r a d a e m
A s s e m b l é i a d e F i é i s , e x p r e s s ã o v i s í v e l d a Ig r e j a ( c f . 1 C o 1 1 , 1 7 - 3 4 ) . 1 3 3 0 - M e mo r i a l d a P a i x ã o e R e s s u r r e i ç ã o d o S e n h o r . S a n t o S a c r i f í c i o , p o r -
q u e a t u a l i z a o ú n i c o S a c r i f í c i o d e C r i s t o S a l v a d o r e i n c l u i a o f e r e n d a d a Ig r e j a ;
o u a i n d a S a n t o S a c r i f í c i o d a M i s s a , S a c r i f í c i o d e L o u v o r ( H b 1 3 , 1 5 ) [ c f . S l 1 1 6 , 1 3 . 1 7 ] , S a c r i f í c i o E s p i r i t u a l ( 1 P e 2 , 5 ) , S a c r i f í c i o P u r o e S a n t o ( c f . M l
1 , 1 1 ) , p o i s c o m p l e t a e u l t r a p a s s a t o d o s o s S a c r i f í c i o s d a A n t i g a A l i a n ç a .
S a n t a e D i v i n a L i t u r g i a , p o r q u e t o d a a L i t u r g i a d a I g r e j a e n c o n t r a o c e n t r o e a s u a e x p r e s s ã o m a i s d e n s a n a c e l e b r a ç ã o d e s t e S a c r a m e n t o ; n o m e s m o
s e n t i d o t a m b é m s e l h e c h a m a c e l e b r a ç ã o d o s S a n t o s M i s t é r i o s . F a l a - s e i g u a l -
m e n t e d o S a n t í s s i mo S a c r a me n t o , p o r q u e é o S a c r a me n t o d o s S a c r a me n t o s . E , c o m e s t e n o m e , s e d e s i g n a m a s E s p é c i e s E u c a r í s t i c a s g u a r d a d a s n o S a c r á r i o .
1 3 3 1 - C o mu n h ã o , p o i s é p o r e s t e S a c r a m e n t o q u e n o s u n i m o s a C r i s t o , o q u a l n o s t o r n a p a r t i c i p a n t e s d o S e u C o r p o e d o S e u S a n g u e , p a r a f o r m a r m o s u m s ó
C o r p o ( c f . 1 C o 1 0 , 1 6 - 1 7 ) ; d e s i g n a - s e a i n d a a s c o i s a s s a n t a s ( " t a h a g i a " ; " s a n c -
t a " ) ( C o n s t . A p p . 8 , 1 3 , 1 2 ; D i d a k é 9 , 5 ; 1 0 , 6 ) - é o s e n t i d o p r i m á r i o d a " C o m u -n h ã o d o s S a n t o s " d e q u e f a l a o S í m b o l o d o s A p ó s t o l o s - , p ã o d o s a n j o s , p ã o d o
c é u , r e mé d i o d a i mo r t a l i d a d e ( S a n t o In á c i o d e A n t i o q u i a , E f 2 0 , 2 ) , v i á t i c o . . .
1 3 3 2 - S a n t a M i s s a , p o r q u e a L i t u r g i a e m q u e s e r e a l i z a o M i s t é r i o d a S a l v a ç ã o
t e r m i n a p e l a d e s p e d i d a d o s f i é i s ( " m i s s i o " ) , p a r a q u e v ã o c u m p r i r a v o n t a d e d e
D e u s n a s u a v i d a q u o t i d i a n a " .
A Comunhão em figura , que se buscava vai se cumprir no Sacr i -
f ício Eucarís t ico , "a tual iza o único Sacr i f ício de Cris to Salvador e i n -
clui a oferenda da Igreja ". Não seria possível essa af i rmação do Cat e-
cismo se não t ivesse seu fundamento na Inst i tuição da Eucaris t ia por
Jesus. É preciso se lembrar de que se é necessário , atualmente, es tudar
a Lei dos Sacri f ícios , com os Apóstolos não acontecia o mesmo, pois
vinculados à mesma cul tura de seu tempo , conheciam sufic ientemente
a Teologia das Oferendas. Compreenderam desde então que na Festa
dos Pães Ázimos (Ex 13,3 -7) terminada a Ceia Pascal judaica (Lc
22,18), Jesus toma o Pão e se faz a Oblação Eucarís t ica (Lc 22,19):
" C h e g o u , p o i s , o d i a d a F e s t a d o s P ã e s Á z i m o s , e m q u e s e d e v i a m a t a r o C o r -
d e i r o P a s c a l . J e s u s e n v i o u P e d r o e J o ã o , d i z e n d o - l h e s : “ Id e p r e p a r a r - n o s a C e i a d a P á s c o a ” . . . ( . . . ) . . . A o c h e g a r a h o r a , J e s u s s e p ô s à m e s a c o m o s a p ó s t o l o s e
l h e s f a l o u : “ D e s e j e i a r d e n t e m e n t e c o m e r e s t a C e i a d a P á s c o a c o n v o s c o a n t e s d e
s o f r e r . P o i s e u v o s d i g o : N u n c a m a i s a c o m e r e i , a t é q u e e l a s e r e a l i z e n o r e i n o
19
d e D e u s ” . T o m a n d o u m c á l i c e , d e u g r a ç a s e d i s s e : “ T o m a i e s t e c á l i c e e d i s t r i b u í e n t r e v ó s . P o i s e u v o s d i g o : N ã o m a i s b e b e r e i d e s t e v i n h o a t é q u e c h e g u e o r e i -
n o d e D e u s ” . E t o m a n d o u m p ã o , d e u g r a ç a s , p a r t i u - o e d e u - l h e s d i z e n d o : “ I s t o
é o m e u c o r p o , q u e é d a d o p o r v ó s . F a z e i i s t o e m m e m ó r i a d e m i m ” . D o m e s m o m o d o , d e p o i s d e h a v e r c e a d o , t o m o u o c á l i c e , d i z e n d o : “ E s t e c á l i c e é a n o v a a -
l i a n ç a e m m e u s a n g u e , d e r r a m a d o p o r v ó s " ( Lc 2 2 , 7 - 8 . 1 4 - 2 0 ) .
Enquanto Cris to se faz o Único Sacerdote, o Único Ofertante, a
Única Vít ima e a Única Oblação de que todos part icipam, no Sacri f í -
cio Is rael i ta há uma dis t r ibuição da ví t ima imolada, destacando -se a-
qui a parte que pertencerá ao Sacerdote Celebrante , que é aquela des-
t inada a Iahweh:
" A l é m d e s t e s , c o m o s a c r i f í c i o p a c í f i c o d e a ç ã o d e g r a ç a s , s e r á o f e r e c i d o p ã o f e r m e n t a d o . U m a p a r t e d e c a d a u m a d e s t a s o f e r e n d a s s e r á o f e r e c i d a c o m o t r i b u -
t o a o S e n h o r , e p e r t e n c e r á a o s a c e r d o t e q u e d e r r a m o u o s a n g u e d a v í t i m a d o s a -
c r i f í c i o p a c í f i c o " ( Lv 7 , 1 3 - 1 4 ) .
Já a carne desse t ipo de Sacri f ício por ser mais santa que a dos
Pacíf icos dever -se-á cuidar para não se to rnar impura ou corrompida ,
motivo pelo qual se comerá toda no mesmo dia. Já a dos vot ivos ou
espontâneos poderá permanecer até o dia seguinte após cujos interv a-
los deverão ser tota lmente queimadas, sob pena de ineficácia da of e-
renda:
" A c a r n e d a v í t i m a d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o d e a ç ã o d e g r a ç a s s e r á c o m i d a n o p r ó -
p r i o d i a e m q u e f o r o f e r e c i d a ; d e l a n a d a s e d e v e r á d e i x a r p a r a o d i a s e g u i n t e .
S e a o f e r t a d o s a c r i f í c i o f o r e m c u m p r i m e n t o d e u m v o t o , o u f o r e s p o n t â n e a , s e -r á c o m i d a n o d i a e m q u e s e o f e r e c e r . O q u e s o b r a r p o d e r á s e r c o m i d o n o d i a s e -
g u i n t e . M a s o q u e s o b r a r d a c a r n e d o s a c r i f í c i o p a r a o t e r c e i r o d i a , d e v e r á s e r
q u e i m a d o . S e a l g u é m , a o t e r c e i r o d i a , c o m e r d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , o o f e r t a n t e n ã o s e r á a c e i t o , n e m l h e s e r á l e v a d o e m c o n t a o q u e o f e r e c e u . É c a r n e i n f e c t a e
a p e s s o a q u e d e l a c o m e r c a r r e g a r á o p e s o d a s u a c u l p a " ( Lv 7 , 1 5 - 1 8 ) .
O cuidado com a carne imolada como ví t ima exigia que se ev i-
tasse o menor contato com aqui lo que fosse consid erado impuro (Lv
11-15) sob pena de ser queimada, para não comp rometer a sua Sant i -
dade e, pelo mesmo motivo, os part icipantes "impuros" não pod eriam
dela comer:
" A c a r n e q u e t i v e r t o c a d o q u a l q u e r c o i s a i m p u r a n ã o s e d e v e r á c o m e r . S e r á c o n -s u m i d a p e l o f o g o . M a s d a o u t r a c a r n e p o d e r á c o m e r q u e m e s t i v e r p u r o . M a s
q u e m c o m e r c a r n e d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o o f e r e c i d o a o S e n h o r , a p e s a r d e e s t a r i m p u r o , s e r á e l i m i n a d o d o s e u p o v o . Q u e m t o c a r q u a l q u e r i m u n d í c i e d e h o m e m
o u a n i m a l , o u q u a lq u e r o u t r a i m u n d í c i e a b o m i n á v e l , e c o m e r c a r n e d o s a c r i f í c i o
p a c í f i c o p e r t e n c en t e a o S e n h o r , s e r á e l i m i n a d o d o s e u p o v o ” ( Lv 7 , 1 9 - 2 1 ) .
Por tudo isso vê-se o cuidado com o Sagrado e a Sant idade daí
emanadas, caráter especif icamente Israel i ta quanto aos Sacri f ícios .
Tudo aqui lo que a eles se referia pessoas, objetos e coisas , eram Sa n-
t i f icadas pela "unção" ou pelo contato com o que o fosse ungido, d e-
vendo assim permanecer. Esse zelo pelo sagrado faz da Aliança muito
mais do que um simples compromisso de boa conduta e comportame n-
to, mas leva a t raduzi - lo em gestos e ati tudes de reconhecimento int e-
r ior . Tornam-se cuidadosa e elaborada adoração à majest ade de Iah-
weh, o centro de tudo pois tudo gira em seu redor. Nos Sacri f ícios ,
manifesta-se um profundo respei to pelo que Lhe concernia ass im como
no modo de se al imentar , abstendo -se da gordura e do Sangue de ani-
20
mais , mesmo abat idos por acidente , sendo muito mais r igorosa a sa n-
ção em se t r atando de Sangue:
" O S e n h o r f a l o u a M o i s é s : “ F a l a a o s i s r a e l i t a s : N ã o c o m e r e i s g o r d u r a a l g u m a d e b o i , o v e l h a o u c a b r a . D a g o r d u r a d e u m a n i m a l m o r t o o u e s t r a ç a l h a d o , p o d e r e i s
s e r v i r - v o s p a r a q u a l q u e r u s o , m a s d e m a n e i r a a l g u m a a c o m e r e i s . P o i s t o d o a -
q u e l e q u e c o m e r g o r d u r a d e a n i m a l q u e s e o f e r e c e p e l o f o g o a o S e n h o r , s e r á e -l i m i n a d o d o p o v o . N ã o c o m e r e i s s a n g u e a l g u m , n e m d e a v e , n e m d e a n i m a l , e m
n e n h u m a d e v o s s a s m o r a d i a s . A q u e l e q u e c o m e r q u a l q u e r e s p é c i e d e s a n g u e , s e -
r á e x t i r p a d o d o p o v o ” ( L v 7 , 2 2 - 2 7 ) . / " . . . É u m a l i m e n t o o f e r e c i d o p e l o f o g o , d e s u a v e o d o r . T o d a a g o r d u r a p e r t e n c e a o S e n h o r . E s t a é u m a l e i p e r p é t u a , v á l i d a
p a r a v o s s o s d e s c e n d e n t e s , o n d e q u e r q u e h a b i t e i s : N ã o d e v e r e i s c o m e r n e n h u m a
g o r d u r a o u s a n g u e ” ( Lv 3 , 1 6 - 1 7 ) .
Coerentemente com toda a es t rutura básica do Santuário f inal i -
za-se o a regulamentação de todos os Sacri f ícios , separando-se as par-
tes dos sacerdotes das partes de Iahweh:
" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : „ F a l a a o s i s r a e l i t a s : A q u e l e q u e o f e r e c e r a I -
a h w e h u m s a c r i f í c i o p a c í f i c o , l e v a r á a Ia h w e h a o f e r t a t i r a d a d o s a c r i f í c i o p a c í -
f i c o . L e v a r á c o m a s p r ó p r i a s m ã o s o q u e s e o f e r e c e r p e l o f o g o a Ia h w e h : l e v a r á a g o r d u r a a l é m d o p e i t o a s e r a g i t a d o r i t u a l m e n t e d i a n t e a Ia h w e h . O s a c e r d o t e
q u e i m a r á a g o r d u r a n o a l t a r , e o p e i t o f i c a r á p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s . D a r e i s
t a m b é m a o s a c e r d o t e a c o x a d i r e i t a , c o m o t r i b u t o d e v o s s o s s a c r i f í c i o s p a c í f i -c o s . A q u e l e d e n t r e o s f i l h o s d e A a r ã o q u e o f e r e c e r o s a n g u e d o s a c r i f í c i o p a c í -
f i c o e a g o r d u r a , é q u e t e r á a c o x a d i r e i t a c o m o p a r t e . P o i s d o s s a c r i f í c i o s p a c í -
f i c o s d o s i s r a e l i t a s r e s e r v e i p a r a m i m o p e i t o a g i t a d o r i t u a l m e n t e e a c o x a d o t r i b u t o , e d e i - o s a A a r ã o e a s e u s f i l h o s , c o m o l e i p e r p é t u a a s e r o b s e r v a d a p e -
l o s i s r a e l i t a s . E s s a é a p a r t e d e A a r ã o e d e s e u s f i l h o s n o s s a c r i f í c i o s o f e r e c i -
d o s p e l o f o g o a o S e n h o r , d e s d e o d i a e m q u e f o r a m p r o m o v i d o s a e x e r c e r o s a -c r i f í c i o d i a n t e d o S e n h o r . F o i o q u e o S e n h o r l h e s m a n d o u d a r d a p a r t e d o s i s -
r a e l i t a s , d e s d e o d i a d a u n ç ã o , c o m o l e i p e r p é t u a p a r a t o d a s a s g e r a ç õ e s ‟ . E s t a é
a l e i p a r a o h o l o c a u s t o , a o b l a ç ã o , o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o , o s a c r i f í c i o d e r e -p a r a ç ã o , o s a c r i f í c i o d a c o n s a g r a ç ã o e o s a c r i f í c i o p a c í f i c o . F o i o q u e o S e n h o r
o r d e n o u a M o i s é s n o m o n t e S i n a i , n o d i a e m q u e m a n d o u o s i s r a e l i t a s o f e r e c e -
r e m o b l a ç õ e s a o S e n h o r n o d e s e r t o d o S i n a i " ( L v 7 , 2 8 - 3 8 ) .
"Pois dos sacri f ícios pacíf icos dos israe l i tas reservei para mim o
pei to agi tado r i tualmente e a coxa da el evação, e dei -os a Aarão e a
seus f i lhos, como lei perpétua a ser observada pelos israel i tas" (Lv
7,34): - Esse cerimonial será sempre observado entendendo -se, pela
agi tação fei ta da parte a dest inação dela a Iahweh pelo pr imeiro lance
do movimento e a entrega dela ao Sacerdote, passando pelas mãos do
ofertante, no seu retorno de Iahweh, e da mesma forma, o r i tual da e-
levação da coxa. Esse gesto é a entrega da ví t ima a Iahweh pelo pr i -
meiro movimento ou agi tação em sua d ireção e o recebimento dela p e-
lo Sacerdote ofician te, saindo das mãos do ofe rtante na sua vol ta. Na
Cerimônia Eucarís t ica , atualmente, é o mesmo gesto do Celebrante ao
dizer , empunhando o Cál ice com o Sangue e a Patena com o Pão, o
Corpo de Cris to, “Por Cris to, Com Cris to e Em Cris to” , entregando-os
a Deus que os retorna ao Sacerdote , para dis t r ibuí - los aos f iéis ofer -
tantes:
" D a r e i s t a m b é m a o s a c e r d o t e a c o x a d i r e i t a , c o m o t r i b u t o d e v o s s o s s a c r i f í -
c i o s p a c í f i c o s . A q u e l e d e n t r e o s f i l h o s d e A a r ã o q u e o f e r e c e r o s a n g u e d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o e a g o r d u r a , é q u e t e r á a c o x a d i r e i t a c o m o p a r t e . P o i s
d o s s a c r i f í c i o s p a c í f i c o s d o s i s r a e l i t a s r e s e r v e i p a r a m i m o p e i t o a g i t a d o r i -
t u a l m e n t e e a c o x a d o t r i b u t o , e d e i - o s a A a r ã o e a s e u s f i l h o s , c o m o l e i p e r -p é t u a a s e r o b s e r v a d a p e l o s i s r a e l i t a s . E s s a é a p a r t e d e A a r ã o e d e s e u s f i -
l h o s n o s s a c r i f í c i o s o f e r e c i d o s p e l o f o g o a o S e n h o r , d e s d e o d i a e m q u e f o -
r a m p r o m o v i d o s a e x e r c e r o s a c r i f í c i o d i a n t e d o S e n h o r . F o i o q u e o S e n h o r l h e s m a n d o u d a r d a p a r t e d o s i s r a e l i t a s , d e s d e o d i a d a u n ç ã o , c o m o l e i p e r -
21
p é t u a p a r a t o d a s a s g e r a ç õ e s ” . E s t a é a l e i p a r a o h o l o c a u s t o , a o b l a ç ã o , o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o , o s a c r i f í c i o d e r e p a r a ç ã o , o s a c r i f í c i o d a c o n s a g r a ç ã o
e o s a c r i f í c i o p a c í f i c o . F o i o q u e o S e n h o r o r d e n o u a M o i s é s n o m o n t e S i n a i ,
n o d i a e m q u e m a n d o u o s i s r a e l i t a s o f e r e c e r e m o b l a ç õ e s a o S e n h o r n o d e s e r -t o d o S i n a i " ( Lv 7 , 3 5 - 3 8 ) .
Desde o Sinai e em várias ocasiões , a Lei da Aliança quando d e-
terminava que "ninguém compareça à m inha presença de mãos vazias"
(Ex 23,15. . . ) , e com a dis t r ibuição aos Sacerdotes de partes da ví t ima
"como t r ibuto a Iahweh", já se anunciava o dever e a f inal idade das
"Oferendas".
3.5. - OS SACRIFÍCIOS E A INVESTIDURA SACERDOTAL
Regulamentados os vários t ipos de Sacri f ícios , principia -se a
const i tuição do elemento fundamental de sua ex is tê ncia e sem o qual
não há possibi l idade de sua concret ização: a invest idura de Aarão e
dos seus f i lhos para o exercício perene do Sacerdócio, tal como del i -
neado o desígnio que Iahweh mostrou a Moisés [cfr o n° 2.13, do C a-
pí tulo II, no que for ref erente a Ex. 28-29] :
" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : “ T o m a c o n t i g o A a r ã o e s e u s f i l h o s , a s v e s t e s ,
o ó l e o d a u n ç ã o , o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , o s d o i s c a r n e i r o s e o c e s t o d e p ã e s á z i m o s , e r e ú n e t o d a a c o m u n i d a d e à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i -
ã o ” . M o i s é s f e z c o m o Ia h w e h l h e t i n h a m a n d a d o e a c o m u n i d a d e s e r e u n i u à e n -
t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . M o i s é s d i s s e à c o m u n i d a d e : “ É i s t o q u e o S e n h o r m a n d o u f a z e r ” . D e p o i s m a n d o u q u e s e a p r o x i m a s s e m A a r ã o e s e u s f i l h o s , e o s
l a v o u c o m á g u a . V e s t i u A a r ã o c o m a t ú n i c a , c i n g i u - l h e o c i n t o , r e v e s t i u - o c o m
o m a n t o , c o l o c o u - l h e o v é u u m e r a l e o p r e n d e u , a t a n d o - o c o m o r e s p e c t i v o c i n -t o . P ô s - l h e o p e i t o r a l c o m o s u r i m e o s t u m i m . C o l o c o u - l h e n a c a b e ç a a m i t r a , e
n a p a r t e d i a n t e i r a a l â m i n a d e o u r o , o d i a d e m a s a g r a d o , c o n f o r m e Ia h w e h h a v i a
m a n d a d o a M o i s é s . D e p o i s M o i s é s p e g o u o ó l e o d a u n ç ã o , u n g i u o t a b e r n á c u l o e
t u d o o q u e n e l e h a v i a , p a r a c o n s a g r á - l o . A s p e r g i u s e t e v e z e s o a l t a r , e u n g i u - o
c o m t o d o s o s u t e n s í l i o s , b e m c o m o a b a c i a c o m o s u p o r t e , c o n s a g r a n d o - o s . D e r -
r a m o u ó l e o d e u n ç ã o s o b r e a c a b e ç a d e A a r ã o , e o u n g i u , p a r a o c o n s a g r a r . D e -p o i s m a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , v e s t i u - l h e s a s t ú n i c a s , c i n g i u -
l h e s o c i n t o e l h e s p ô s o s t u r b a n t e s , c o m o o S e n h o r h a v i a m a n d a d o a M o i s é s "
( Lv 8 , 1 - 1 3 ) .
"Moisés fez como Iahweh lhe t inha mandado e a comunidade se
reuniu à entrada da Tenda de Reunião. Moisés di sse à comunidade: 'É
isso que Iahweh mandou fazer '”: - coube a Moisés , em vir tude de sua
condição de "elei to" e “prof e ta”, conduzir e celebrar a consagração do
Sacerdócio Pleno. A invest idura de Aarão caracteriz a desde aqui a
função principal do Sumo S acerdote conhecido como "o Sacerdote da
Unção" por ser o que recebe o "óleo de unção sobre a cabeça". Some n-
te após a conclusão de todo o r i tual de Consagração do Santuário total
e de Aarão é que se dá a unção de seu s f i lhos, agora em conjunto com
Aarão e por aspersão (cfr . Ex 29,5 -8.21). Com isso , f ica clara a un i-
dade e indissolubi l idade colegial do Poder Sacerdotal fundamentado
em Aarão, o Sumo Sacerdote, o Chefe da Famíl ia Sacerd otal :
" D e r r a m o u ó l e o d e u n ç ã o s o b r e a c a b e ç a d e A a r ã o , e o u n g i u , p a r a o c o n s a g r a r .
D e p o i s m a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , v e s t i u - l h e s a s t ú n i c a s , c i n -g i u - l h e s o c i n t o e l h e s p ô s o s t u r b a n t e s , c o m o o S e n h o r h a v i a m a n d a d o a M o i s é s
( . . . ) M o i s é s t o m o u u m p o u c o d o ó l e o d e u n ç ã o e d o s a n g u e q u e e s t a v a s o b r e o
a l t a r , a s p e r g i u A a r ã o e s u a s v e s t e s , b e m c o m o o s f i l h o s d e A a r ã o e s u a s v e s t e s . A s s i m c o n s a g r o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e a s r e s p e c t i v a s v e s t e s " ( Lv 8 , 1 2 - 1 3 . 3 0 ) .
22
Jesus vai manter esse caráter de unidade e indissolubi l idade s a-
cerdotal no Colégio Apostól ico que insti tui r . Tal como aconteceu com
Aarão ungido primeiro e depois a Aarão junto com os seus f i lhos,
também a Pedro foi dado prime iramente o poder de l igar e desl igar
(Mt 16,19) e a seguir o mesmo poder foi dado a Pedro , junto com os
demais Apóstolos (Mt 18,18).
Como já se expôs, na Invest idura dos Sacerdotes foi seguido o
r i tual já es tabelecido e próprio (Ex 29) , durante o qual além da Unção
de Aarão e seus f i lhos vários r i tos de puri f icação foram executados
para a indispensável Sant i f icação geral e deles , oferecendo -se durante
o cerimonial os seguintes Sacri f ícios:
Sacrif ício pelo Pecado (Lv 8,14 -17 / Ex 29,10-14);
Holocausto (Lv 8,18 -21 / Ex 29,15-18); e ,
Sacrif ício Pacíf ico (Lv 8,22 -32 / Ex 29,19-26)" .
Resta a explanação mais ampla da ut i l ização desses t ipos de r i -
tuais nessa consagração sacerdotal de Aarão e seus f i lhos, dos Sacri f í -
cios oferecidos por Moisés o mediador da Aliança , a começar com o
Sacri f ício Pelo Pecado, o primeiro oferecido:
" M a n d o u t r a z e r o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o . A a r ã o e s e u s f i l h o s i m -
p u s e r a m - l h e a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a . D e p o i s d e i m o l á - l o , M o i s é s p e g o u s a n g u e e u n t o u c o m o d e d o o s c h i f r e s e m v o l t a d o a l t a r , p u r i f i c a n d o - o . D e r r a m o u o
s a n g u e a o p é d o a l t a r , e o c o n s a g r o u , f a z e n d o s o b r e e l e a e x p i a ç ã o . D e p o i s t o -
m o u t o d a a g o r d u r a q u e e n v o l v e a s v í s c e r a s , a c a m a d a g o r d u r o s a d o f í g a d o e o s d o i s r i n s c o m a s u a g o r d u r a , e q u e i m o u t u d o n o a l t a r . O b e z e r r o , s u a p e l e , c a r n e
e e x c r e m e n t o s , q u e i m o u - o s f o r a d o a c a m p a m e n t o , c o m o o S e n h o r l h e t i n h a m a n -
d a d o " ( L v 8 , 1 4 - 1 7 ) .
Como vis to no número anterior (n° 3.4 /3º) ess e r i tual tem por
f inal idade a Sant i f icação em geral tanto das pessoas como dos objetos ,
para uma perfei ta união com Deus. São puri f icados pelo Sangue da
Vít ima imolada por Moisés que u nge os chifres com o dedo embebido
e o derrama em redor do Altar , fazendo a devida expiação e puri f ic a-
ção, após a imposição das mãos por Aarão e seus f i lhos. Queimam -se
as gorduras no Altar e o bezerro, seu couro, a sua carne e os excre-
mentos fora do Santuário, nada ind o para o celebrante , para não se a-
provei tar de sua própria fal ta , por quem também é oferecido [ (cfr . Lv
6,17-23 / Lv 4, conforme di to alhures que "no caso do oferecido pelo
pecado do Sumo Sacerdote ou da Comunidade, ninguém dele comerá,
devendo ser totalme nte queimado, pois o sangue é derramado em lugar
santo (Lv 6,23)]". Ao que se vê este Sacri f ício dest ina -se à Sant i f ica-
ção do Santuário, de seus pertences e objetos , bem como do oficiante,
dos ofertantes que são consagrados e da v í t ima.
Vem em seguida o Holocausto:
" M a n d o u t r a z e r o c a r n e i r o d o h o l o c a u s t o , p a r a q u e A a r ã o e o s f i l h o s i m p u s e s -
s e m - l h e a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a . M o i s é s o i m o l o u , e d e r r a m o u o s a n g u e e m v o l -
t a d o a l t a r . D e p o i s d e e s q u a r t e j a r o c a r n e i r o , M o i s é s q u e i m o u a c a b e ç a e o s p e -d a ç o s c o m a g o r d u r a . M o i s é s l a v o u c o m á g u a a s v í s c e r a s e a s p a t a s , e a s s i m
q u e i m o u o c a r n e i r o i n t e i r o n o a l t a r . E r a u m h o l o c a u s t o d e s u a v e o d o r , u m s a c r i -
f í c i o f e i t o p e l o f o g o a o S e n h o r , c o m o Ia h w e h t i n h a m a n d a d o a M o i s é s " ( L v 8 , 1 8 - 2 1 ) .
23
Com esse Holocausto , a puri f icação at inge a pleni tude pela ex-
piação conseguida , f icando Aarão e seus f i lhos em condições de Sa n-
t idade para o exercício do Sacerdócio pela imposição das mãos sobre a
ví t ima que prat icaram (Lv 8,18) e da renúncia de s i em face da maje s-
tade e soberania de Iahweh, s ignif icadas no aniqui l amento da ví t ima,
oferecida em subst i tuição deles , totalmente destruída pelo fogo.
Terminada essa fase do r i tual passa Moisés à f inal , oferecendo o
Sacri f ício Pacíf ico , a Refeição Sagrada, uma vez que todos f icaram em
condições de Sant idade para se al imentar , entrando em comunhão com
Deus, e oferecendo o que se denominou "Carneiro da Consagr ação ou
da Invest idura":
" M a n d o u t r a z e r o s e g u n d o c a r n e i r o , o c a r n e i r o d a c o n s a g r a ç ã o , e A a r ã o e s e u s f i l h o s i m p u s e r a m a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d o a n i m a l . D e p o i s d e i m o l á - l o , M o i s é s
p e g o u o s a n g u e e u n t o u o l ó b u l o d a o r e l h a d i r e i t a d e A a r ã o , o p o l e g a r d a m ã o
d i r e i t a e o p o l e g a r d o p é d i r e i t o . M a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , e u n t o u - l h e s c o m s a n g u e o l ó b u l o d a o r e l h a d i r e i t a , o p o l e g a r d a m ã o d i r e i t a e o
p o l e g a r d o p é d i r e i t o , e d e p o i s d e r r a m o u o s a n g u e e m t o r n o d o a l t a r " ( L v 8 , 2 2 -
2 4 ) .
Esse Sacri f ício toma aqui uma conotação diferente pela sua e s-
pecíf ica f inal idade de se dest inar à cons agração sacerdotal pelo uso do
Sangue da Vít ima. Para isso, antes de derramá-lo no Altar , deveria
banhar por primeiro "o lóbulo direi to , o polegar da mão direi ta e o d e-
dão do pé direi to" de Aarão e depois de seus f i lhos , preparando-os pa-
ra o exercício do Sacerdócio. Tinha essa unção o mesmo sent ido pur i -
f icador dos chifres do Altar e somente depois de terminada é que era o
Sangue derramado.
As partes dest inadas aos Sacerdotes , nes se caso, sofrem modif i -
cação est rutural indo para Moisés , o celebrante, o pei to , fazendo o r i to
da agi tação perante Iahweh, a perna direi ta , a gordura e outras partes ,
e a oblação, passando tudo pelas "mãos de Aarão e seus f i lhos" para o
"gesto de oferta a Iahweh", se ndo então queimadas:
" P e g o u a g o r d u r a , a c a u d a , t o d a a g o r d u r a q u e c o b r e a s v í s c e r a s , a c a m a d a g o r -
d u r o s a d o f í g a d o , o s d o i s r i n s c o m a g o r d u r a , e a p e r n a d i r e i t a . D o c e s t o d o s á -
z i m o s , p o s t o d i a n t e d e Ia h w e h , t o m o u u m p ã o s e m f e r m e n t o , u m a t o r t a s e m f e r -m e n t o a m a s s a d a c o m a z e i t e e u m b o l i n h o , e c o l o c o u s o b r e a s p a r t e s g o r d u r o s a s
e s o b r e a p e r n a d i r e i t a . E n t r e g o u t u d o i s s o n a s m ã o s d e A a r ã o e d e s e u s f i l h o s , p a r a q u e a p r e s e n t a s s e m c o m u m g e s t o d e o f e r t a a Ia h w e h . D e p o i s , t o m o u t u d o
d a s m ã o s d e l e s e q u e i m o u n o a l t a r , e m c i m a d o h o l o c a u s t o . E r a o s a c r i f í c i o d e
c o n s a g r a ç ã o , u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o d e s u a v e o d o r a o S e n h o r . D e p o i s M o i s é s p e g o u o p e i t o d o c a r n e i r o e o a p r e s e n t o u c o m u m g e s t o d e o f e r e n d a a Ia h w e h .
E s t a f o i a p o r ç ã o d o c a r n e i r o d a c o n s a g r a ç ã o , p e r t e n c e n t e a M o i s é s , c o m o Ia h -
w e h l h e t i n h a m a n d a d o " ( Lv 8 , 2 5 - 2 9 ) .
Com a "unção sagrada" completa -se a consagração de Aarão e
seus f i lhos, e suas vestes , Sant i f icando -os para o Minis tér io do Sace r-
dócio:
" M o i s é s t o m o u u m p o u c o d o ó l e o d e u n ç ã o e d o s a n g u e q u e e s t a v a s o b r e o a l t a r ,
a s p e r g i u A a r ã o e s u a s v e s t e s , b e m c o m o o s f i l h o s d e A a r ã o e s u a s v e s t e s . A s s i m
c o n s a g r o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e a s r e s p e c t i v a s v e s t e s " ( L v 8 , 3 0 ) .
Sant i f icação que se consuma com a Refeição Sagrada, "e ntrando
então em comunhão com o Altar", c omo ensina São Paulo (1Co 10,18),
24
cujo cerimonial vai se repet i r durante "sete dias" tempo em que Aarão
e seus f i lhos permanecerão "à entrada da Tenda da Reunião" (Ex
29,35-37) no local onde deverá "cozinhar a carne" , com o que se man i-
festa o caráter rel igioso e não al imentar de t oda a consagração:
“ M o i s é s d i s s e p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s : “ C o z i n h a i a c a r n e à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . A l i m e s m o a c o m e r e i s c o m c o n f o r m e o p ã o q u e e s t á n a c e s t a d a s o f e r -
t a s d a c o n s a g r a ç ã o , e u m a n d e i , d i z e n d o : A a r ã o e s e u s f i l h o s h ã o d e c o m ê - l a . O
q u e r e s t a r d a c a r n e e d o p ã o d e v e r e i s q u e i m á - l o . D u r a n t e s e t e d i a s n ã o s a i r e i s d a e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , a t é s e c o m p l e t a r e m o s d i a s d a v o s s a c o n s a g r a -
ç ã o , p o i s e l a d u r a r á s e t e d i a s . O q u e s e f e z n o d i a h o j e o S e n h o r o r d e n o u q u e s e
f i z e s s e p a r a e x p i a r p o r v ó s . F i c a r e i s d u r a n t e s e t e d i a s , d i a e n o i t e , à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , e o b s e r v a r e i s o q u e Ia h w e h m a n d o u , p a r a n ã o m o r r e r d e s , p o i s
e s t a é a o r d e m q u e r e c e b i ” . A a r ã o e s e u s f i l h o s f i z e r a m t u d o o q u e Ia h w e h l h e s
m a n d o u p o r m e i o d e M o i s é s " ( Lv 8 , 3 0 - 3 6 ) .
3.5.1. - AS PRIMÍCIAS DOS SACERDOTES:
Terminada a consagração e decorridos os se te dias perante a
Tenda da Reunião, no oi tavo dia, são oferecidas as primícias da Inve s-
t idura Sagrada , no Primeiro Ofício Sagrado , dos Primeiros Sacerdotes ,
Aarão com a assis tência de seus f i lhos:
" N o o i t a v o d i a M o i s é s c h a m o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e o s A n c i ã o s d e I s r a e l , e d i s s e p a r a A a r ã o : „ E s c o l h e u m b ez e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o p e l o p e c a d o , e u m
c a r n e i r o p a r a o h o l o c a u s t o , a m b o s s e m d e f e i t o , e a p r e s e n t a - o s a Ia h w e h . F a l a r á s
a o s i s r a e l i t a s , d i z e n d o : T o m a i u m b o d e p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , u m b e z e r r o e u m c o r d e i r o , a m b o s d e u m a n o e s e m d e f e i t o , p a r a o h o l o c a u s t o , u m t o u r o e
u m c a r n e i r o p a r a o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , a f i m d e s a c r i f i c á - l o s p e r a n t e Ia h w e h , e
u m a o b l a ç ã o a m a s s a d a c o m a z e i t e , p o r q u e h o j e Ia h w e h v o s a p a r e c e r á ‟ ” ( Lv 9 , 1 -4 ) .
Em seguida " . . . Moisés chamou Aarão, seus f i lhos e os Anc iãos
de Israel . . ." , reaparecendo os Anciãos de Israel num r etorno ou numa
renovada atuação representat iva do povo , a f im de part iciparem da
"entrega" que Moisés faz ia de sua função sacerdotal . São destacados
como homens maduros que part icipam de uma espécie de Conselho D i-
retor , gozando de respei tosa autoridade moral , judiciária , de governo e
representat iva do povo já nos dias do Egi to e após a Al iança do Sinai
(Ex 3,16.18; 4 ,29; 12,21; 17,5 -7; 18,12.13-26; 19,7; Lv 4,15):
" D i s s e e n t ã o Ia h w e h a M o i s é s : A j u n t a - m e s e t e n t a h o m e n s d o s a n c i ã o s d e I s r a e l ,
q u e s a b e s m a d u r o s e a p t o s p a r a o g o v e r n o e o s t r a r á s p e r a n t e a t e n d a d a r e u n i -ã o , p a r a q u e e s t e j a m a l i j u n t o d e t i . E n t ã o d e s c e r e i e a l i f a l a r e i c o n t i g o , e t i r a -
r e i d o e s p í r i t o q u e e s t á s o b r e t i , e o p o r e i s o b r e e l e s ; e c o n t i g o l e v a r ã o e l e s o
p e s o d o p o v o p a r a q u e t u n ã o o l e v e s s ó . . . . ( . . . ) . . . S a i u , p o i s , M o i s é s , e r e l a t o u a o p o v o a s p a l a v r a s d e Ia h w e h ; e a j u n t o u s e t e n t a h o m e n s d e n t r e o s a n c i ã o s d o
p o v o e o s c o l o c o u a o r e d o r d a t e n d a . E n t ã o Ia h w e h d e s c e u n a n u v e m , e l h e f a -
l o u ; e , t o m a n d o d o e s p í r i t o q u e e s t a v a n e l e , i n f u n d i u - o n o s s e t e n t a a n c i ã o s ; e
a c o n t e c e u q u e , q u a n d o o e s p í r i t o r e p o u s o u s o b r e e l e s p r o f e t i z a r a m , m a s d e p o i s
n u n c a m a i s o f i z e r a m " ( N m 1 1 , 1 6 - 2 5 ) / " D i a n t e d a s c ã s t e l e v a n t a r á s , e h o n r a r á s
a f a c e d o a n c i ã o , e t e m e r á s o t e u D e u s . E u s o u Ia h w e h " ( Lv 1 9 , 3 2 ) / " O s a n c i -ã o s d a c o n g r e g a ç ã o p o r ã o a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d o n o v i l h o p e r a n t e Ia h w e h ; e
i m o l a r - s e - á o n o v i l h o p e r a n t e Ia h w e h " ( Lv 4 , 1 5 ) .
Sempre i rão compor a organização rel igiosa e pol í t ica de Is rael
desaguando futuramente como um dos elementos const i tut ivos do S i-
nédrio judaico e no Cris t ianismo ao lado dos Apóstolos , como os
Presbí teros (At 11,30; 15,2 -6; 20,17; Tt 1 ,5) , ass im conhecidos em
25
diversas confissões cr is tãs , e como Padres no Clero da Igreja Catól ica.
Presbí tero é palavra de origem grega , s ignif icando ancião e também
senior > senhor do lat im com o mesmo signif icado de o mais velho
(donde a referência de senhor dir igido a um Padre ou Sacerdote Cató-
l ico não ser um pronome de t ratamento) . É uma das Inst i tu ições da
cul tura ant iga não só dos Israel i tas , mas até me smo de out ros povos
(Gn 50,7; Nm 22,4.7) cujo s ignif icado se perdeu, não se sabe ndo ao
certo as dimensões exatas de sua atua ção, em vir tude da ampl i tude de
esferas em que são mencionados .
Então Aarão , com a assis tência de seus Fi lhos , e em obediência
ainda a Moisés assume sua função:
" E n t ã o t r o u x e r a m a t é a e n t r a d a d a t e n d a d a r e u n i ã o o q u e M o i s é s o r d e n a r a , e c h e g o u - s e t o d a a c o n g r e g a ç ã o , e f i c o u d e p é d i a n t e d e Ia h w e h . E d i s s e M o i s é s :
' I s t o o q u e o I a h w e h o r d e n o u q u e f i z é s s e i s ; p a r a q u e a g l ó r i a d e Ia h w e h v o s a -
p a r e ç a ' . D e p o i s d i s s e M o i s é s a A a r ã o : ' C h e g a - t e a o a l t a r , e a p r e s e n t a a t u a o f e r -
t a p e l o p e c a d o e o t e u h o l o c a u s t o , e f a z e e x p i a ç ã o p o r t i e p e l o p o v o ; t a m b é m
a p r e s e n t a a o f e r t a d o p o v o , e f a z e e x p i a ç ã o p o r e l e , c o m o o r d e n o u Ia h w e h " ( L v
9 , 5 - 7 ) .
Aarão dá , então, início ao Cerimonial das Primícias , composto
das diversas oferendas e celebrando todos os Sacri f ícios a começar
pelo Holocausto e o Sacri f ício Expiatório, ou Pelo Pecado, por s i
mesmo, por sua casa e pelo povo:
" A a r ã o , p o i s , c h e g o u - s e a o a l t a r , e i m o l o u o b e z e r r o q u e e r a a s u a p r ó p r i a o f e r -
t a p e l o p e c a d o . O s f i l h o s d e A a r ã o t r o u x e r a m - l h e o s a n g u e ; e e l e m o l h o u o d e d o
n o s a n g u e , e o p ô s s o b r e o s c h i f r e s d o a l t a r , e d e r r a m o u o s a n g u e à b a s e d o a l -t a r ; m a s a g o r d u r a , e o s r i n s , e o r e d e n h o d o f í g a d o , t i r a d o s d a o f e r t a p e l o p e -
c a d o , q u e i m o u - o s s o b r e o a l t a r , c o m o o Ia h w e h o r d e n a r a a M o i s é s . E q u e i m o u
f o r a d o a c a m p a m e n t o a c a r n e e o c o u r o . D e p o i s i m o l o u o h o l o c a u s t o , e o s f i l h o s d e A a r ã o l h e e n t r e g a r a m o s a n g u e , e e l e o e s p a r g i u s o b r e o a l t a r e m r e d o r .
T a m b é m l h e e n t r e g a r a m o h o l o c a u s t o , p e d a ç o p o r p e d a ç o , e a c a b e ç a ; e e l e o s
q u e i m o u s o b r e o a l t a r . E l a v o u o s i n t e s t i n o s e a s p e r n a s , e a s q u e i m o u s o b r e o h o l o c a u s t o n o a l t a r " ( Lv 9 , 8 - 1 4 ) .
Seguem os mesmos sacri f ícios pelo povo al i reunid o em comuni-
dade seguidos da Oblação e do Sacri f ício Pacíf ico , observando-se f i -
elmente todos os r i tuais até mesmo a movimentação da ví t ima e entre-
ga ao celebrante, em tudo buscando , pela Refeição Sagrada , a amizade
e a reconci l iação com Iahweh:
" E n t ã o a p r e s e n t o u a o f e r t a d o p o v o e , t o m a n d o o b o d e q u e e r a a o f e r t a p e l o p e -c a d o d o p o v o , i m o l o u - o e o o f e r e c e u p e l o p e c a d o , c o m o f i z e r a c o m o p r i m e i r o .
A p r e s e n t o u t a m b é m o h o l o c a u s t o , e o o f e r e c e u s e g u n d o o r i t u a l . E a p r e s e n t o u a
o b l a ç ã o e , t o m a n d o d e l a u m p u n h a d o , q u e i m o u - a s o b r e o a l t a r , a l é m d o h o l o -c a u s t o d a m a n h ã . Im o l o u t a m b é m o b o i e o c a r n e i r o e m s a c r i f í c i o d e o f e r t a p a -
c í f i c a p e l o p o v o ; e o s f i l h o s d e A a r ã o e n t r e g a r a m - l h e o s a n g u e , q u e e l e e s p a r -
g i u s o b r e o a l t a r e m r e d o r , c o m o t a m b é m a g o r d u r a d o b o i e d o c a r n e i r o , a c a u -d a g o r d a , e o q u e c o b r e a f r e s s u r a , e o s r i n s , e o r e d e n h o d o f í g a d o ; e p u s e r a m a
g o r d u r a s o b r e o s p e i t o s , e e l e q u e i m o u a g o r d u r a s o b r e o a l t a r ; m a s o s p e i t o s e
a c o x a d i r e i t a , o f e r e c e u - o s A a r ã o p o r o f e r t a m o v i d a p e r a n t e Ia h w e h , c o m o M o i -s é s t i n h a o r d e n a d o " ( Lv 9 , 1 5 - 2 1 ) .
Então segue a Bênção de Aarão seguida de outra conjunta com
Moisés após permanecerem na Tenda da Reunião com o ges to estend i-
do t raduzindo a Imposição das Mãos, manifestando -se então a Glória
de Deus com o Fogo Sagrado consumindo as ví t imas:
26
" D e p o i s A r ã o , l e v a n t a n d o a s m ã o s p a r a o p o v o , o a b e n ç o o u e d e s c e u , t e n d o a c a -b a d o d e o f e r e c e r a o f e r t a p e l o p e c a d o , o h o l o c a u s t o e a s o f e r t a s p a c í f i c a s . E
M o i s é s e A a r ã o e n t r a r a m n a t e n d a d a r e u n i ã o ; d e p o i s s a í r a m , e a b e n ç o a r a m o
p o v o ; e a g l ó r i a d e Ia h w e h a p a r e c e u a t o d o o p o v o , p o i s s a i u f o g o d e d i a n t e d e I a h w e h , e c o n s u m i u o h o l o c a u s t o e a g o r d u r a s o b r e o a l t a r ; p e l o q u e t o d o s o s
p r e s e n t e s a c l a m a r a m e p r o s t r a r a m - s e c o m o s s e u s r o s t o s e m t e r r a " ( Lv 9 , 2 2 - 2 4 ) .
Não pode ser outro o teor dessa Bênção que o determinado pelo
próprio Iahweh:
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a A a r ã o , e a s e u s f i l h o s , d i z e n d o : A s s i m a -b e n ç o a r e i s o s f i l h o s d e I s r a e l ; d i r - l h e s - e i s : I a h w e h t e a b e n ç o e e t e g u a r d e ; Ia h -
w e h f a ç a r e s p l a n d e c e r o s e u r o s t o s o b r e t i , e t e n h a m i s e r i c ó r d i a d e t i ; I a h w e h
l e v a n t e s o b r e t i o s e u r o s t o , e t e d ê a p a z . A s s i m p o r ã o o m e u n o m e s o b r e o s f i -l h o s d e I s r a e l , e e u o s a b e n ç o a r e i " ( N m 6 , 2 2 - 2 7 ) .
" . . . todos os presentes aclamaram e prostraram -se com os seus
rostos em terra" (Lv 9,24): ass im se consumava o Santuário juntame n-
te com a Inst i tuição do Sacerdócio, f igura que “cumprir -se-á com Je-
sus”:
" E l e s m e f a r ã o u m S a n t u á r i o , e E u h a b i t a r e i n o m e i o d e l e s " ( E x 2 5 , 8 ) / " E o
V e r b o s e f e z c a r n e , e h a b i t o u e n t r e n ó s . . . " ( J o 1 , 1 4 ) .
Tal como no Jardim do Éden , Deus cont inua conduzindo o H o-
mem para uma vida em comunhão agora s i gnif icada nos efei tos dos
Sacri f ícios tal como era vis to pelos Is rael i tas , f ig ura do que se cum-
prirá com Jesus. Cris to Jesus é o retorno do Homem ao Jardim de
Deus:
" D i s s e e n t ã o ( “ o B o m La d r ã o " ) : ' J e s u s , l e m b r a - t e d e m i m , q u a n d o e n t r a r e s n o
t e u r e i n o . ' R e s p o n d e u - l h e J e s u s : ' E m v e r d a d e t e d i g o q u e h o j e e s t a r á s c o m i g o
n o p a r a í s o " ( L c 2 3 , 4 2 - 4 3 ) .
Cabe aqui uma observação importante a respei to das vest imentas
dos Sacerdotes Israel i tas : os Ofícios Rel igiosos eram celebr ados sem
calçados de espécie alguma nos pés , apesar de toda a pompa de seu
paramento, e se moviam em lugar santo , o Sa ntuário, em obed iência à
ordem de Iahweh a Moisés:
" P r o s s e g u i u D e u s : N ã o t e a p r o x i m e s e t i r a o s s a p a t o s d o s p é s , p o r q u e o l u g a r
e m q u e t u e s t á s é t e r r a s a n t a " ( E x 3 , 5 ) .
3.6. - O SACERDÓCIO E A SANTIDADE
Não se pode deixar de exemplif icar , nes ta oportun idade o cuida-
do que se deve ter com a divisão em capí tulos e vers ículos das Escr i -
turas Sagradas , para não se tornar uma fonte de equívocos. A ssim, a
presença súbi ta do capí tulo dez pode levar à suposição de que no cap í-
tulo nove onde se narrou o início do e xercício sacerdotal com o ofer e-
cimento das primícias se encerrasse o assunto. Não é bem assim, p o-
rém. Ocorreu o narrado ac idente fatal com Nadab e Abiú (Lv 10,1 -7)
antes do consumo das partes das oferendas dest inadas aos s acerdotes
(Lv 10,12-15) que comple tava os Sacri f ícios então oferecidos. A na r-
rat iva do fato faz com que se dê às perícopes do capí tulo dez t í tulos
com signif icações dis t intas do tema al i desenvolvido, abrindo-lhe uma
27
espécie de parêntesi s como se t ratasse de um acrésc imo às normas que
deveriam seguir os Sacerdotes . Porém, o que se narra após a expos ição
dessa insurreição, e a seguir , fazem parte do tema do capi tulo nove
anterior que não exauriu o assunto. Isso é muito comum em Bíbl ia,
devendo sempre se lembrar que os t í tulos , subt í tulos , ca pí tulos e ver-
s ículos não fazem parte dela, n ão foram inspirados nem revelados sen-
do, apenas, divisões fei tas conforme o uso l i túrgico ou a visão de
quem as dispôs ou para faci l i tar a lguma local ização.
Por causa do episódio de Nadab e Abiú , aparecem fora de lugar
normas r i tuais novas e repet idas . Destacam -se então , como centro ne-
vrálgico , a Sant idade plena do Sacerdócio ao exercer a celebração do
Sacri f ício. Sant idade necessária "porque está sobre vós o óleo da u n-
ção do Senhor" (Lv 10,7) , bem como, "para f azer separação entre o
santo e o profano, e entre o imundo e o l impo; e , também, e nsinar aos
f i lhos de Israel todos os es tatutos que Iahweh lhes tem dado por i n-
termédio de Moisés" (Lv 10,10 -11). Nadab e Abiú quiseram queimar a
Oblação da Invest idura Sace rdotal e o incenso que a acompanhava com
um fogo que não o sagrado e não como estabel ecido (Lv 6,14-18 / Lv
9,4b), "um fogo est ranho perante Iahweh, o que ele não lhes orden a-
ra". Por causa disso foram at ingidos e fulminados por um fogo tão
violento que "os devorou e morreram diante de Ia hweh" (Lv 10,2) , o
que se tomou como um cast igo em vir tude de não se conduz irem com a
dignidade sacerdota l necessária. Não pode ser outro motivo por que
Moisés recorda e aler ta Aarão das palavras de Iahweh de que "serei
sant i f icado naqueles que se chegarem a mim, e serei glori f icado diante
de todo o povo" (cf r . Ex 19,22). Também, ai nda em consequência do
acontecido, Iahweh proíbe o uso de vinho ou de bebidas inebriantes no
ofício rel igioso , ex igindo coerência de conduta e comportamento no
modo de se conduzirem os Sacerdotes ("serei sant i f icado. . . serei glor i -
f icado. . . não somente para separar o santo e o profano. . . mas também
para ens inar . . . ") :
" F a l o u t a m b é m o S e n h o r a A a r ã o , d i z e n d o : N ã o b e b e r e i s v i n h o n e m b e b i d a f o r -t e , n e m t u n e m t e u s f i l h o s c o n t i g o , q u a n d o e n t r a r d e s n a T e n d a d a R e u n i ã o , p a r a
q u e n ã o m o r r a i s ; e s t a t u t o p e r p é t u o s e r á i s s o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s , n ã o s o m e n t e
p a r a f a z e r s e p a r a ç ã o e n t r e o s a n t o e o p r o f a n o , e e n t r e o i m u n d o e o l i m p o , m a s t a m b é m p a r a e n s i n a r a o s f i l h o s d e I s r a e l t o d o s o s e s t a t u t o s q u e Ia h w e h l h e s t e m
d a d o p o r i n t e r m é d i o d e M o i s é s " ( L v 1 0 , 8 - 1 1 ) .
Em consequência ocorre a interdição di reta de Iahweh a A arão e
seus f i lhos do vinho ou bebida forte , quando da celebração sacerd otal ,
que se impõe então como norma discipl inar . Com isso, evi ta-se a pos-
s ível embriaguez durante o minis tér io rel igioso, não apenas por uma
questão de Sant idade e Pureza pessoais , mas como condição n ecessária
para o ensino rel igi oso, a part i r do exemplo , mant ida a sobri edade ou
lucidez da mente. Assim, após a punição, várias observâncias são
mencionadas a começar pela ret i rada para fora do Santuário e do a-
campamento dos cadáveres , com as suas vestes , por es tarem contam i-
nadas pela impureza dos corpos (Lv 10,4 -5) . É vedado a Aarão e seus
f i lhos manifestar sua dor, numa antecipação do modo dos Sace rdotes
se comportarem no luto (Lv 10,6 -7 / Lv 21,1-6.10-12). São impedidos
de o fazerem então para não t ransparecer qualquer reprovação à pun i-
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ção imposta por Iahweh e para infundir o respei to ao s formal i smos
r i tuais pelos Sacerdotes , os quais devem ser muito mais respons áveis
que os demais membros da comun idade:
" D i s s e M o i s é s a A a r ã o : I s t o é o q u e Ia h w e h f a l o u , d i z e n d o : S e r e i s a n t i f i c a d o n a q u e l e s q u e s e c h e g a r e m a m i m , e s e r e i g l o r i f i c a d o d i a n t e d e t o d o o p o v o . A a -
r ã o c a l o u - s e " ( Lv 1 0 , 3 ) .
Com essas palavras Aarão se cala e Moisés insis t e nas inst ru-
ções relat ivas ao consumo das Oferendas , advindas da Inves t idura S a-
cerdotal a Aarão e a seus f i lhos remanescentes O resto da Oblação
queimada (Lv 9,4b / Lv 6,14-18 / Lv 10,12-13) deveria ser comido pe-
lo celebrante e famil iares " sem fermento junto ao Altar , pois é coisa
Sant íss ima" e no que se refere ao pei to e à perna do Sacri f ício Pacíf i -
co (Lv 9,21 / Lv 7,30 -34 / Lv 10,14-15), a que t inham direi to junt o
com seus famil iares , deveriam ser comidos em lugar puro sem prof a-
nação com as impurezas legais , l impas por ass im dizer conforme as
normas de então. O temor de Aarão e seus Fi lhos faz com que viessem
a evi tar até mesmo de comer a parte do bode que lhes cabia no Sacr i -
f ício Pelo Pecado (Lv 9,15 / Lv 6,24 -30 / Lv 10,16-18), em vis ta do
es tado emotivo em que se encontravam por causa do acontecido, ass im
expl icado a Moisés que o compreendeu e aprovou:
" E n t ã o d i s s e A a r ã o a M o i s é s : E i s q u e h o j e o f e r e c e r a m a s u a o f e r t a p e l o p e c a d o e o s e u h o l o c a u s t o p e r a n t e o S e n h o r , e t a i s c o i s a s m e a c o n t e c e r a m ; s e e u t i v e s s e
c o m i d o ( ' t r i s t e c o m o e s t o u ' ) h o j e a o f e r t a p e l o p e c a d o p o r v e n t u r a t e r i a s i d o i s s o
c o i s a a g r a d á v e l a o s o l h o s d o S e n h o r ? O u v i n d o M o i s é s i s t o , p a r e c e u - l h e r a z o á -v e l " ( L v 1 0 , 1 9 - 2 0 ) .
3.7. - A PUREZA LEGAL
Terminada a cerimônia da Invest idura Sacerdotal tem início a
apresentação das condições de Pureza Legal para aproximar -se de I-
ahweh, principalmente para a part icipação nos Sacri f ícios , seja como
Vít ima, seja como Ofertante, seja como Celebrante. Destaca -se, pr i -
meiramente, uma classi f icação de animais em puros e impuros cuja
observância far -se-á até mesmo nas refeições cot idianas:
" ( 1 ) F a l o u o S e n h o r a M o i s é s e a A a r ã o , d i z e n d o - l h e s : D i z e i a o s f i l h o s d e I s r a -e l : E s t e s s ã o o s a n i m a i s q u e p o d e r e i s c o m e r d e n t r e t o d o s o s a n i m a i s q u e h á s o -
b r e a t e r r a . . . ( . . . ) . . . O s s eg u i n t e s , c o n t u d o , n ã o c o m e r e i s . . . ( . . . ) . . . ( 8 ) D a s u a
c a r n e n ã o c o m e r e i s , n e m t o c a r e i s n o s s e u s c a d á v e r e s ; e s s e s v o s s e r ã o i m u n d o s . . . ( . . . ) . . . ( 4 4 ) P o r q u e e u s o u o S e n h o r v o s s o D e u s ; p o r t a n t o s a n t i f i c a i - v o s , e s e d e
s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o ; e n ã o v o s c o n t a m i n a r e i s . . . ( . . . ) . . . p o r q u e e u s o u o
S e n h o r , q u e v o s f i z s u b i r d a t e r r a d o E g i t o , p a r a s e r o v o s s o D e u s , s e r e i s p o i s s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o . E s t a é a l e i s o b r e o s a n i m a i s e a s a v e s , e s o b r e t o -
d a c r i a t u r a v i v e n t e q u e s e m o v e n a s á g u a s e t o d a c r i a t u r a q u e s e a r r a s t a s o b r e a
t e r r a ; p a r a f a z e r s e p a r a ç ã o e n t r e o i m u n d o e o l i m p o , e e n t r e a n i m a i s q u e s e p o -d e m c o m e r e o s a n i m a i s q u e n ã o s e p o d e m c o m e r " ( L v 1 1 , 1 - 4 . 8 . 4 4 - 4 7 ) .
Cabe observar que, ao contrário do que possa parecer , são cu i-
dados a serem observados pelos Is rael i t as para se conseguir a sant ida-
de necessária para a part icipação nos Sacri f ícios , só se aproxima ndo
de Iahweh aquele que fosse santo:
29
" P o r q u e e u s o u o S e n h o r v o s s o D e u s ; p o r t a n t o s a n t i f i c a i - v o s , e s e d e s a n t o s ,
p o r q u e e u s o u s a n t o . . . ( . . . ) . . . e u s o u o S e n h o r , q u e v o s f i z s u b i r d a t e r r a d o E g i -
t o , p a r a s e r o v o s s o D e u s , s e r e i s p o i s s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o " ( Lv 1 1 , 4 4 -
4 6 ) .
"Esta é a lei sobre os animais e as aves . . . ( . . . ) . . . para fazer sep a-
ração entre o imundo e o l impo e entre animais que se podem comer e
os animais que não se podem comer" - apesar dessas pal avras não se
t ratam de normas de higiene e l impeza f ís icas , propriamente di tas , tais
como são concebidas atualmente. Coerentemente com toda a e s t rutura
já montada o Israel i ta mantém -se f iel a Iahweh em torno do compr o-
misso assumido na Aliança de não se misturar com os gent ios “sep a-
rando-se e ass im sant i f icando -se” a que se incluiu a Missão de Israel :
“ . . . e e u o s e x t e r m i n a r , n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l -
t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o -
l u n a s . S e r v i r e i s a o S e n h o r v o s s o D e u s , e e l e a b e n ç o a r á t e u p ã o e t u a á g u a , e a f a s t a r á d o t eu m e i o a s e n f e r m i d a d e s . ( . . . ) N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s n e m
c o m s e u s d e u s e s . . . f a r i a m - t e p e c a r c o n t r a m i m : S e r v i r i a s a o s s e u s d e u s e s , e
i s s o s e r i a u m a a r m a d i lh a p a r a t i ” ( E x 2 3 , 2 3 - 3 3 ) .
Essa Missão de Israel é , várias vezes , rat i f icada (cf r . Ex 34,13;
Lv 18,3.24-30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31) e foi ela que serviu de
orientação ao legis lador para a elaboração das leis at inentes ao p uro e
impuro. Com base , nisso evi tou-se principalmente as prát icas dos ge n-
t ios , seja nos vários sacri f ícios , seja na al imentação cot idiana (Os 9,3;
Ez 4,13; Tb 1,10-12; Dn 1,8-12; Jdt 12,2-4; Lv 18,2-5) . Israel deveria
se dis t inguir de out ros povos pela conformação de sua cond uta e de
seu comportamento com o Desígnio de Iahweh que não acei ta , de for-
ma nenhuma, a impureza (Dt 23,13-15) . Por isso, deve se "sant i f icar
(em hebraico = 'separar ' )" e a todos os objetos ou seres que o r odeiam
para poder ass im puros apresentá -los e a s i mesmo perante Iahweh (Ex
19,6.10.22; Lv 11,44s; 19,2; 20,7; 21,1-8; 22,1-9.31-33; Nm 31,19-
24). Por causa dessa impureza, que a Iahweh repugna a Missão de I s-
rael era destruir os al tares e santuários pagãos (Dt 7,5.25). Tal repu g-
nância vai crescer sobrem aneira até que se vedará qualquer contato
com eles (Jo 18,28; At 10,28; 11,3) . Vê -se faci lmente que es sa pureza
se relaciona com o homem vis to como um todo carnal , não se l im ita a
uma higiene f ís ica nem se ident i f ica apenas com norma moral , nem
com a cast idade. Tem referências exclusiv amente com o rel igioso , nas
suas relações com Iahweh e a Aliança, proven iente do inter ior e não se
res t r inge ao ex terior do Homem apenas, apesar de só a ele se r eferi r :
" A d v e r t i r e i s o s f i l h o s d e I s r a e l d a s u a i m p u r e z a , p a r a q u e n ã o m o r r a m p o r c a u s a
d e l a , c o n t a m i n a n d o a m i n h a H a b i t a ç ã o q u e e s t á n o m e i o d e l e s " ( L v 1 5 , 3 1 ) .
Além do sent ido de separar sant i f ica -se também se ret i rando a
impureza. A pureza é a condição com que alguém torna-se apto a a-
proximar-se de Iahweh, não se contaminando o Santuário com o prof a-
no. Esse sent ido da inst i tuição destaca -se pelo fato de ter s ido ab ol ida
pelo Cris t ianismo, o que não aconteceria se t ivesse s ido inst i tuída por
motivos de higiene f ís ica ou de moral ou de cast idade: Além de tudo
is to , a observância tem relação com o cerimonial pagão que se cara c-
30
ter izava na general idade pelo uso dos anima is t idos como impuros nos
sacri f ícios , e vário outros costumes que a Iahweh repugnava. Some nte
com Jesus em quem “tudo se cumpriu” (Mt 5,17) , essa inst i tuição vai
perder o sent ido, tendo -se em vis ta a superioridade da Nova Vít ima –
o Cris to Eucarís t ico:
" R e s p o n d eu - l h e s e l e : A s s i m t a m b é m v ó s e s t a i s s e m e n t e n d e r ? N ã o c o m p r e e n d e i s q u e t u d o o q u e d e f o r a e n t r a n o h o m e m n ã o o p o d e c o n t a m i n a r , p o r q u e n ã o l h e
e n t r a n o p u r o s c o r a ç ã o , m a s n o v e n t r e , e é l a n ç a d o f o r a ? A s s i m d e c l a r o u t o d o s
o s a l i m e n t o s " ( M c 7 , 1 8 - 1 9 ) / " . . . s u b i u P e d r o a o e i r a d o p a r a o r a r , c e r c a d e h o r a s e x t a . E t e n d o f o m e , q u i s c o m e r ; m a s e n q u a n t o l h e p r e p a r a v a m a c o m i d a , s o b r e -
v e i o - l h e u m ê x t a s e , e v i a o c é u a b e r t o e u m o b j e t o d e s c e n d o , c o m o s e f o s s e u m
g r a n d e l e n ç o l , s e n d o b a i x a d o p e l a s q u a t r o p o n t a s s o b r e a t e r r a , n o q u a l h a v i a d e t o d o s o s q u a d r ú p e d e s e r é p t e i s d a t e r r a e a v e s d o c é u . E u m a v o z l h e d i s s e : L e -
v a n t a - t e , P e d r o , m a t a e c o m e . M a s P e d r o r e s p o n d e u : D e m o d o n e n h u m , S e n h o r ,
p o r q u e n u n c a c o m i c o i s a a l g u m a p r o f a n a e i m u n d a . P e l a s e g u n d a v e z l h e f a l o u a v o z : N ã o c h a m e s t u p r o f a n o a o q u e D e u s p u r i f i c o u . S u c e d e u i s t o p o r t r ê s v e z e s ;
e l o g o f o i o o b j e t o r e c o l h i d o a o c é u " ( A t 1 0 , 9 - 1 6 ) .
Assim é que, perder -se-ia a pureza legal até mesmo por um si m-
ples contato , principalmente com cadáveres (Lv 11,24-28 .29-38.39-
40). Ao contrário do que se poderia esperar , a recuperação não se dá
pela prát ica de atos vir tuosos ou morais ou de higiene, mas das s e-
guintes manei ras:
1) Pelo desaparecimento da impureza por s i mesma e no decu rso
do tempo:
" T a m b é m p o r e l e s v o s t o r n a r e i s i m u n d o s ; q u a lq u e r q u e t o c a r n o s s e u s c a d á v e r e s s e r á i m u n d o a t é a t a r d e , e q u e m l e v a r q u a l q u e r p a r t e d o s s e u s
c a d á v e r e s , l a v a r á a s s u a s v e s t e s , e s e r á i m u n d o a t é a t a r d e " ( Lv 1 1 , 2 4 -
2 5 ) .
2) Pela ablução do corpo ou das vestes:
" D i s s e m a i s o S e n h o r a M o i s é s : V a i a o p o v o , e s a n t i f i c a - o s h o j e e a m a -
n h ã ; l a v e m e l e s o s s e u s v e s t i d o s ( . . . ) . E n t ã o M o i s é s d es c e u d o m o n t e a o
p o v o , e s a n t i f i c o u o p o v o ; e l a v a r a m o s s e u s v e s t i d o s " ( E x 1 9 . 1 0 . 1 4 ) / " E t o d o h o m e m , q u e r n a t u r a l q u e r e s t r a n g e i r o , q u e c o m e r d o q u e m o r r e
p o r s i o u d o q u e é d i l a c e r a d o p o r f e r a s , l a v a r á a s s u a s v e s t e s , e s e b a -
n h a r á e m á g u a , e s e r á i m u n d o a t é a t a r d e ; d e p o i s s e r á l i m p o . M a s , s e n ã o a s l a v a r , n e m b a n h a r o s e u c o r p o , l e v a r á s o b r e s i a s u a i n i q u i d a d e "
( Lv 1 7 , 1 5 - 1 6 ) .
3) Pelo Holocausto e pelo Sacri f ício Expiatório ou Pelo Pec ado:
" E , q u a n d o f o r e m c u m p r i d o s o s d i a s d a s u a p u r i f i c a ç ã o , s e j a p o r f i l h o
o u p o r f i l h a , t r a r á u m c o r d e i r o d e u m a n o p a r a h o l o c a u s t o , e u m p o m b i -
n h o o u u m a r o l a p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o , à p o r t a d a t e n d a d a r e u n i ã o , a o s a c e r d o t e , o q u a l o o f e r e c e r á p e r a n t e o S e n h o r , e f a r á e x p i a ç ã o p o r
e l a ; e n t ã o e l a s e r á l i m p a d o f l u x o d o s e u s a n g u e . E s t a é a l e i d a q u e d e r
à l u z m e n i n o o u m e n i n a " ( Lv 1 2 , 6 - 7 ) .
4) No Grande Dia da Expiação e, durante essa festa, pelo "Bode
Expiatór io ou Emissário":
" D i s s e , p o i s , o S e n h o r a M o i s é s : D i z e a A r ã o , t e u i r m ã o . . . ( . . . ) . . . d a
c o n g r e g a ç ã o d o s f i l h o s d e I s r a e l t o m a r á d o i s b o d e s p a r a o f e r t a p e l o p e -
c a d o e u m c a r n e i r o p a r a h o l o c a u s t o . . . ( . . . ) . . . a s s i m f a r á e x p i a ç ã o p e l o s a n t u á r i o ; t a m b é m f a r á e x p i a ç ã o p e l a t e n d a d a r e u n i ã o e p e l o a l t a r ; i -
g u a l m e n t e f a r á e x p i a ç ã o e p e l o s s a c e r d o t e s e p o r t o d o o p o v o d a c o n -
g r e g a ç ã o . I s t o v o s s e r á p o r e s t a t u t o p e r p é t u o , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o u m a v e z n o a n o p e l o s f i l h o s d e I s r a e l p o r c a u s a d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s . E
31
f e z A a r ã o c o m o o S e n h o r o r d e n a r a a M o i s é s " ( Lv 1 6 , 1 - 3 4 , s ó a s p a r t e s i n i c i a l e f i n a l , p o i s s e r á o b j e t o d e e s t u d o ) .
O valor fundamenta l dessa Inst i tuição da Pureza Legal foi o de
evidenciar a f idel idade à Aliança (Lv 11,44 -45) entregando -se ao mar-
t í r io vár ios f iéis para não desrespei tá - la nem profaná -la (2Mc 6,18-31;
7 ,1-42). Concorreu para se caracterizar e se f i rmar paulat inamente o
monoteísmo e manter f i rme o Povo de Deus na obed iência a Iahweh e
no caminho da renúncia de s i mesmo , como base para uma moral idade
que i rá se cumprir na perfeição da discipl ina cr is tã que condenará o
formal ismo a que se reduziu (Mt 15,2; 23,24 -25). Não há necess idade
de se del inear todos os animais puros e impuros, e todos os casos em
que se contrai a impureza ou se perde a pureza, dada a faci l idade com
que vêm narrados, bastando um estudo atencioso da na rrat iva (Lv 11-
15).
3.8. - A PUREZA LEGAL E A MULHER
Quando se nar raram as consequências do Dilúvio foi vis to que
se acredi tava na ocorrência da concepção do feto quando se frust rava
a menstruação da mulher e como fruto do sangue materno coagulado
pela mescla com o esperma, gerando -se o assim o nasci turo (Jó 10,10;
Sb 7,2; Lv 17,11):
" N o s e i o d e m i n h a m ã e , n o e s p a ç o d e d e z m e s e s e m c a r n e f u i f o r m a d o d o s a n g u e
c o a g u l a d o , p o r f o r ç a d o s ê m e n v i r i l e d o p r a z e r q u e a c o m p a n h a o s o n o " ( S b 7 , 1 -2 ) / " N ã o m e v e r t e s t e c o m o l e i t e e m e c o a l h a s t e c o m o q u e i j o ? " ( J ó 1 0 , 1 0 ) .
Por outro lado, é de se recordar o que Deus disse à mulher,
quando do Pecado Orig inal :
" . . . M u l t i p l i c a r e i o t e u s o f r i m e n t o n a t u a g r a v i d e z ; e m d o r d a r á s à l u z f i l h o s . . . "
( G n 3 , 1 6 ) .
Já Adão recebe além das consequências pessoais e as da natur e-
za aquelas que penal izavam o seu t rabalho pessoal , tendo s ido amald i-
çoada a terra (Gn 3,17 -19), percebendo-se faci lmente que Eva foi mais
responsabi l izada pelo acontecimento (Gn 3,6.12.13.16). Além da ma i-
or culpa pelo Pecado Original é ident i f icada com a ger ação da vida
tendo até recebido de Adão o nome de "Eva, a mãe de todos os vive n-
tes" (Gn 3,20). Além disso, as pal avras ". . . darás à luz f i lhos entre
dores . . ." caracterizam que o parto já era de sua const i tuição f ís ica,
acontecendo que o seu "sofr imento foi - lhe mult ipl icado" (Gn 3,16).
Ocorrem também nela tanto na menstruação como quando dá à
luz , duas efusões do sangue em decorr ência dessa geração de vida.
Torna-se assim o sangue alvo de profundo sent ido rel igioso (Lv
17,11). Juntando-se tudo isso com a concepção de que "a vida da carne
está no sangue" e que ". . . a carne com sua vida, is to é, com seu sa n-
gue, não comereis" (Gn 9,4 ) , es tabeleceu-se profundo respei to e ven e-
ração por ele por es tar , na concepção v igente, vinculado inseparave l-
mente com a vida:
32
" P o r q u e a v i d a d a c a r n e e s t á n o s a n g u e ; p e l o q u e v o - l o t e n h o d a d o s o b r e o a l -t a r , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o p e l a s v o s s a s a l m a s ; p o r q u a n t o é o s a n g u e q u e e x p i a e m
v i r t u d e d a v i d a . P o r t a n t o t e n h o d i t o a o s f i l h o s d e I s r a e l : N e n h u m d e v ó s c o m e r á
s a n g u e ; n e m o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a e n t r e v ó s c o m e r á s a n g u e . T a m b é m , q u a l q u e r h o m e m d o s f i l h o s d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s q u e p e r e g r i n a m e n t r e
e l e s , q u e a p a n h a r c a ç a d e f e r a o u d e a v e q u e s e p o d e c o m e r , d e r r a m a r á o s a n g u e
d e l a e o c o b r i r á c o m t e r r a . P o i s , a v i d a d e t o d a a c a r n e e s t á n o s e u s a n g u e ; p o r i s s o e u d i s s e a o s f i l h o s d e I s r a e l : N ã o c o m e r e i s o s a n g u e d e n e n h u m a c a r n e ,
p o r q u e a v i d a d e t o d a a c a r n e é o s e u s a n g u e ; q u a l q u e r q u e o c o m e r s e r á e x t i r -
p a d o " ( L v 1 7 , 1 1 - 1 4 ) .
O t recho fala por s i e corre-se o r isco de at rapalhar o entend i-
mento claro com qualquer tentat iva de expl icação, cabendo apenas fr i -
sar a noção então bastante difundida do sa ngue "expiar em vir tude da
vida". Além disso, é de se acred i tar que, por cada uma de suas efusões
se ex igisse um restabelecimento da vi tal idade que ter ia s ido perdida
em consequência. Is so aconteceria no Parto e ass im aconteceria na
Menstruação . Pode-se concluir que o Is rael i ta de então via tanto a
menstruação como o parto da mulher , fontes de vida , donde o respei to
e verdadeira veneração rel igiosa por esses es tados f ís icos . E é esse o
ponto central da pos ição da mulher na v ida soc ial , famil iar e moral de
então. Por isso , a mulher desempenhava uma função de grande proj e-
ção na vida rel igiosa do Povo dos Fi lhos de Israel donde a ex is tência
de alguns capí tulos especiais que t ratam da impureza dela , t anto quan-
do da menstruação (Lv 15,19 -30) , como quando do parto (Lv 12,1-8) .
Nunca se deve perder de vis ta que a impureza não é tal qual se ente n-
de atualmente no tocante à higiene, com se fora uma s ujei ra mas se
resumia na impossibi l idade de comparecimento ao Santuário, bem c o-
mo, em qualquer of ício rel igioso. Is so por causa do sangue por ela
perdido, sangue que foi a vida que gerou no parto ou em vias de g erar
na menstruação. Tanto é ass im que a oferenda no Holocausto e no S a-
cri f ício de Expiação , oferecido por ela após o parto , busca rest i tu i r-
lhe a pureza do f luxo do seu sangue. Vê-se que não se t rata de pe rdão
de alguma fal ta como nos r i tuais t ípicos (Lv 5, 10.13.16 -19.25-26),
eis que, o narrador é expl íci to ao dizer que ela será l impa do f luxo do
seu sangue e não que ela será perdoada do f luxo do seu sangue:
" E , q u a n d o f o r e m c u m p r i d o s o s d i a s d a s u a p u r i f i c a ç ã o , s e j a p o r f i l h o o u p o r f i -
l h a , t r a r á u m c o r d e i r o d e u m a n o p a r a h o l o c a u s t o , e u m p o m b i n h o o u u m a r o l a p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o , à p o r t a d a t e n d a d a r e v e l a ç ã o , a o s a c e r d o t e , o q u a l o
o f e r e c e r á p e r a n t e o S e n h o r , e f a r á e x p i a ç ã o p o r e l a ; e n t ã o e l a s e r á l i m p a d o
f l u x o d o s e u s a n g u e . E s t a é a l e i d a q u e d e r à l u z m e n i n o o u m e n i n a . M a s , s e a s s u a s p o s s e s n ã o b a s t a r e m p a r a u m c o r d e i r o , e n t ã o t o m a r á d u a s r o l a s , o u d o i s
p o m b i n h o s : u m p a r a o h o l o c a u s t o e o u t r o p a r a a o f e r t a p e l o p e c a d o ; a s s i m o s a -
c e r d o t e f a r á e x p i a ç ã o p o r e l a , e e l a s e r á l i m p a " ( L v 1 2 , 6 - 8 ) .
Por aí se nota que não é uma denominação justa nem muito m e-
nos certa, causando séria confusão quanto ao estado social da mulher
na comunidade Is rael i ta . Cabe levar em conta também que o respei to
para o Israel i ta vem manifestado de várias formas, destacando -se a l -
gumas dentre elas :
1 . É proibido na al imentação sob pena grave de exclusão do
meio social (Gn 9,3 -4; Lv 7,26-27; 17,10-12; Dt
12,16.23; 15,23; 1Sm 14,32-35).
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2 . É "escorrido no chão e coberto com ter ra", "como água"
(Lv 17,13; Dt 12,24).
3 . É derramado em torno do Altar em oferenda a Iahweh (Lv
1,5.11.15; caps. 3-5) .
4 . Nas Alianças de Sangue, es tabelece laço vi tal (Gn 15,10 -
12; Ex 24,4-8; Hb 9,18-21).
5 . Proteção (Ex 12,7.23.27).
6 . Era usado para aspergir o Altar (Ex 29,16; Lv 3,2); o
Sumo Sacerdote (Ex 29,21); o véu do Templo (Lv 4,6);
para "untar / ungir" ( ' l impar ' ) os chif res do Altar" (Lv
4,7.18; 8 ,15).
7 . O sangue do Sacri f ício puri f ica (Lv 14,6 -7.14; Nm 19,4);
expia (Lv 16; Lv 17; Lv 18); sant i f ica (Ex 29,30 -31).
8 . Com ele se consagra (Ex 29,20 -21; Lv 8,23-24.30; Ez
43,20).
Assim, com tal respei to pelo Sangue animal , o Israel i ta não po-
deria deixar de t ratar com maior veneração ainda o Sangue da M ulher,
"a mãe de todos os vivent es" (Gn 3,20). E conclui de manei ra imediata
que ocorre a morte quando o sangue se esvai e que de sua vida é que
exala o vapor naturalmente quente quando escorre. Assim como " o
sangue expia enquanto é vida" (Lv 17,11) e em cada parto ocorre uma
geração, há uma perda de vi tal idade da mulher, eis que, se então pe r-
deu sangue perdeu vida. Necessi ta ela então de mais tempo para a r e-
cuperação de sua integridade vi tal , e então puri f icada (melhor seria
dizer: res tabelecida) do f luxo do seu sangue (Lv 12,7) , comparecer
perante Iahweh legalmente Sant i f icada. Ocorre a necessidade de mais
tempo também quando o nasci turo é do sexo feminino, de outra "mãe
de viventes", de outra "geradora de vida pelo f luxo do sangue " (Lv
12,5-6) , inf luindo também nesse cr i tér io a maior re sponsabi l idade da
Mulher pelo desate do Pecado Original . Para melhor compreensão do
tex to manter -se-á a mesma terminologia usada na Bíbl ia , porém nunca
se deve fazer a confusão do estado da mulher e também do homem
quanto ao sêmen.
Já no caso do Homem e do Homem e da Mulher no relac iona-
mento sexual em vi r tude de emissão seminal normal , a impureza de
ambos desaparece pelo decurso do tempo " até a tarde" (Lv 15,16-17),
e da mesma forma a Mulher , na menstruação , demandará o decurso do
tempo de sete dias (Lv 15 ,19), pelos mesmos motivos já deline ados no
caso de parto. Exigem o Holocau sto e o Sacri f ício Expiatório os casos
de emissão seminal ou de sangue quando enfermos pelo que , ao oi tavo
dia , após os sete dias de puri f icação buscarão a intervenção do Sace r-
dote para a puri f icação sacri f ical (Lv 15,13-15.28-30). De qualquer
maneira , o aspecto da reprodução humana no que se refere ao geni tal e
suas manifestações é objeto de inst i tuição especial no tocante à Sant i -
dade exigida para o Povo de Deus:
" A s s i m s e p a r a r e i s o s f i l h o s d e I s r a e l d a s u a i m p u r e z a , p a r a q u e n ã o m o r r a m p o r
c a u s a d e l a s , c o n t a m i n a n d o o m e u t a b e r n á c u l o , q u e e s t á n o m e i o d e l e s . E s t a é a
l e i d a q u e l e q u e t e m o f l u x o e d a q u e l e d e q u e m s a i o s ê m e n , d e m o d o q u e p o r e -l e s s e t o r n a i m p u r o ; c o m o t a m b é m d a m u l h e r e n f e r m a c o m a s u a i m p u r e z a e d a -
34
q u e l e q u e t e m o f l u x o , t a n t o d o h o m e m c o m o d a m u l h e r , e d o h o m e m q u e s e d e i -t a c o m m u l h e r i m p u r a " ( L v 1 5 , 3 1 - 3 3 ) .
Maria, f iel cumpridora dos compromissos rel igiosos após os sete
dias de sua puri f icação, no oi tavo dia, quando da ci rcuncisão de Jesus
cumpre precei to junto com a " consagração de 'seu f i lho primogên i to '"
(Ex 13,1.11 / Lc 2,7) , com a oferta de pobre que era e c omo exigia a
lei (Lv 12,8):
" T e r m i n a d o s o s d i a s d a p u r i f i c a ç ã o , s e g u n d o a l e i d e M o i s é s , l e v a r a m - n o a J e -
r u s a l é m , p a r a a p r e s e n t á - l o a Ia h w e h , c o m o e s t á e s c r i t o n a L e i d e Ia h w e h : ' T o d o p r i m o g ê n i t o s e r á c o n s a g r a d o a o S e n h o r ' , e p a r a o f e r e c e r e m u m s a c r i f í c i o s e g u n -
d o o d i s p o s t o n a l e i d e Ia h w e h : ' u m p a r d e r o l a s , o u d o i s p o m b i n h o s ' " ( Lc 2 , 2 2 -
2 4 ) .
Ainda no Evangelho há a cura que Cris to operou da hemorr oíssa:
" E e i s q u e c e r t a m u l h e r , q u e h a v i a d o z e a n o s p a d e c i a d e f l u x o d e s a n g u e , c h e -
g o u p o r d e t r á s d e l e e t o c o u - l h e a o r l a d o m a n t o ; p o r q u e d i z i a c o n s i g o : S e e u t ã o
s o m e n t e t o c a r - l h e o m a n t o , f i c a r e i c u r a d a . M a s J e s u s , v o l t a n d o - s e e v e n d o - a , d i s s e : T e m â n i m o , f i l h a , a t u a f é t e s a l v o u . E d e s d e a q u e l a h o r a a m u l h e r f i c o u
c u r a d a " ( M t 9 , 2 0 - 2 2 ) .
Por es tar ass im profundamente vinculado , indestacavelmente , à
vida é que, ingerindo o Sangue da Ceia Euc arís t ica , ingere-se a Vida
de Jesus tal como Ele anunciara:
" D i s s e - l h e s J e s u s : . . . ( . . . ) . . . Q u e m c o m e a m i n h a c a r n e e b e b e o m e u s a n g u e t e m a v i d a e t e r n a ; e e u o r e s s u s c i t a r e i n o ú l t i m o d i a . P o r q u e a m i n h a c a r n e v e r d a -
d e i r a m e n t e é c o m i d a , e o m e u s a n g u e v e r d a d e i r a m e n t e é b e b i d a . Q u e m c o m e a
m i n h a c a r n e e b e b e o m e u s a n g u e p e r m a n e c e e m m i m e e u n e l e . A s s i m c o m o o P a i , q u e v i v e , m e e n v i o u , e e u v i v o p e l o P a i , a s s i m , q u e m d e m i m s e a l i m e n t a ,
t a m b é m v i v e r á p o r m i m " ( J o 6 , 5 3 - 5 7 ) . / “ . . . e u v i m p a r a q u e t e n h a m v i d a e a t e -
n h a m e m p l e n i t u d e " ( J o 1 0 , 1 0 ) .
3.8.1. - A PUREZA LEGAL E A LEPRA
A Bíbl ia é escri ta sob a Inspiração do Espír i to Santo e tem n‟Ele
o único Autor. Por i sso , mantém entre t odos os l ivros que a compõem
coerência inflex ível . Assim entendido, quando se esbarra em algo i -
nexpl icável é de se procurar em out ras de suas partes o esc larecime nto
necessário. E, também, quando se chega à qualquer conclusão essa
conclusão deverá ser confi rmada pela própria Bíbl ia . É o caso da L e-
pra aqui narrada que tanto pavor inst i lava ant igament e, observando-se
inicialmente que não se narra em lugar nenhum os s intomas mais drá s-
t icos e conhecidos atualmente da fal ta de sensibi l idade em locais do
corpo, bem como da decomposição e deformação de ex tremidades. A-
lém disso, pelos vár ios s intomas descri t os (Lv 13 e Lv 14) evidencia -
se que não se deve t ratar de uma mesma doença. Bastaria a menção de
s intomas de úlceras , fer idas e manchas de pele, até mesmo, de Lepra
de Casas (Lv 14,33 -53) e de Vestes (Lv 13,47 -59) , para conf i rmar esta
af i rmação. Além disso , sabendo-se que a lepra propriamente di ta era
incurável , não deixa de ser contrad i tór io o r i tual para o caso de sua
cura por meios naturais . Acontece, porém que , conforme afi rmado en-
contram-se em vários outros t rechos da Escri tura a mesma denomin a-
35
ção aparecendo como sendo f ruto de um cast igo de Iahweh e com os
mais variados nomes:
" E n t ã o d i s s e Ia h w e h a M o i s é s e a A a r ã o : T o m a i m a n c h e i a s d e c i n z a d o f o r n o , e M o i s é s a e s p a l h e p a r a o c é u d i a n t e d o s o l h o s d e F a r a ó ; ( . . . ) e e l a s e t o r n o u e m
t u m o r e s q u e a r r e b e n t a v a m em ú l c e r a s n o s h o m e n s e n o g a d o " ( E x 9 - 1 0 ) .
" A s s i m s e a c e n d e u a i r a d e Ia h w e h c o n t r a e l e s ; e e l e s e r e t i r o u ; t a m b é m a n u -
v e m s e r e t i r o u d e s o b r e a t e n d a ; e e i s q u e M i r i ã s e t o r n a r a l e p r o s a , b r a n c a c o m o
a n e v e ; e o l h o u A a r ã o p a r a M i r i ã e e i s q u e e s t a v a l e p r o s a . ( . . . ) C l a m o u , p o i s , M o i s é s a Ia h w e h , d i z e n d o : Ó D e u s , r o g o - t e q u e a c u r e s " ( N m 1 2 , 9 - 1 3 ) .
" Ia h w e h t e f e r i r á c o m a s ú l c e r a s d o E g i t o , c o m t u m o r e s , c o m s a r n a e c o m c o c e i -r a , d e q u e n ã o p o s s a s c u r a r - t e ( . . . ) C o m ú l c e r a s m a l i g n a s , d e q u e n ã o p o s s a s s a -
r a r , I a h w e h t e f e r i r á n o s j o e l h o s e n a s p e r n a s , s i m , d e s d e a p l a n t a d o p é a t é o
a l t o d a c a b e ç a " ( D t 2 8 , 2 7 . 3 5 ) .
" T e n d o o r e i d e I s r a e l l i d o a c a r t a , r a s g o u a s s u a s v e s t e s , e d i s s e : S o u e u E l o -
h i m , q u e p o s s a m a t a r e v i v i f i c a r , p a r a q u e e s t e e n v i e a m i m u m h o m e m a f i m d e q u e e u o c u r e d a s u a l e p r a ? ( . . . ) D e s c e u e l e , p o i s , e m e r g u l h o u - s e n o J o r d ã o s e -
t e v e z e s , c o n f o r m e a p a l a v r a d o h o m e m d e D e u s ; e a s u a c a r n e t o r n o u - s e c o m o a
c a r n e d u m m e n i n o , e f i c o u p u r i f i c a d o " ( 2 R s 5 , 7 - 1 4 ) .
" . . . e s e o p u s e r a m a o r e i U z i a s , d i z e n d o - l h e : A t i , U z i a s , n ã o c o m p e t e q u e i m a r
i n c e n s o p e r a n t e Ia h w e h , m a s a o s s a c e r d o t e s , f i l h o s d e A a r ã o , q u e f o r a m c o n s a -g r a d o s p a r a q u e i m a r e m i n c e n s o . ( . . . ) E n t ã o U z i a s s e i n d i g n o u ; e t i n h a n a m ã o
u m i n c e n s á r i o p a r a q u e i m a r i n c e n s o . In d i g n a n d o - s e e l e , p o i s , c o n t r a o s s a c e r d o -
t e s , n a s c e u - l h e a l e p r a n a t e s t a , p e r a n t e o s s a c e r d o t e s , n a c a s a d e Ia h w e h , j u n t o a o a l t a r d o i n c e n s o . ( . . . ) p o i s Ia h w e h o f e r i r a . A s s i m f i c o u l e p r o s o o r e i U z i a s
a t é o d i a d a s u a m o r t e . . . " ( 2 C r 2 6 , 1 8 - 2 3 / 2 R s 1 5 , 5 ) .
O que se constat a de tudo is to é que , tanto a lepra propriamente
di ta era incurável , como o exame das fer idas , úlceras , manchas na p e-
le, mofo e bolor nas casas e nas vestes etc. , conhecidos também pelo
mesmo nome de lepra, se dest inavam a local izá -la no início. Assim,
isolava-se o portador do contato com o Santuário e com os demais
membros da comunidade Israel i ta por causa da sua impureza e até que
fosse curado para vol tar ao convívio. Dois fatores se des tacam: pr i -
meiro, não se buscava o doente para curá -lo , mas para isolá - lo; e , se-
gundo, se não se constatar a contaminação ou se foi curado após o e-
xame pelo Sacerdote e um ri tual todo especial era reintegrado à comu-
nidade. O fato é que a lepra propriamente di ta era um sinal de ca st igo
divino pelo que tudo era fei to para se e vi tar a presença do impuro no
Santuário ou qualquer ofício rel igioso . O r i tual de sua reint egração
era muito mais solene que os demais por causa da seriedade das co n-
sequências do mal e dos meios usados para se evi tar o contágio da i m-
pureza. Tanto é ass im que o primeiro ato do Sacerdote , em qualquer
caso, é o isolamento do chagado somente reintegrado após a veri f ic a-
ção da inexis tência do mal .
Jesus , em todas as oportunidades em que curou leprosos ou os
puri f icou (" l impou") , determinou o comparecimento deles para exame
do Sacerdote para o retorno deles ao co nvívio:
" Q u a n d o J e s u s d e s c e u d o m o n t e , g r a n d e s m u l t i d õ e s o s e g u i r a m . E e i s q u e v e i o
u m l e p r o s o e o a d o r a v a , d i z e n d o : S e n h o r , s e q u i s e r e s , p o d e s t o r n a r - m e l i m p o .
J e s u s , p o i s , e s t e n d e n d o a m ã o , t o c o u - o , d i z e n d o : Q u e r o ; s ê l i m p o . N o m e s m o i n s t a n t e f i c o u p u r i f i c a d o d a s u a l e p r a . D i s s e - l h e e n t ã o J e s u s : O l h a , n ã o c o n t e s
i s t o a n i n g u é m ; m a s v a i , m o s t r a - t e a o s a c e r d o t e , e a p r e s e n t a a o f e r t a q u e M o i -
s é s d e t e r m i n o u , p a r a l h e s s e r v i r d e t e s t e m u n h o " ( M t 8 , 1 - 4 / Lc 5 , 1 2 - 1 4 ; c f r . t b . Lc 1 7 , 1 1 - 1 9 ) .
36
A puri f icação de leprosos é um dos s inais Messiânicos menci o-
nado por Jesus e um dos poderes que deu na Missão Apostól ica aos
setenta discípulos:
" R e s p o n d eu - l h e s J e s u s : Id e c o n t a r a J o ã o a s c o i s a s q u e o u v i s e v e d e s : o s c e g o s v ê e m , e o s c o x o s a n d a m ; o s l e p r o s o s s ã o p u r i f i c a d o s , e o s s u r d o s o u v e m ; o s
m o r t o s s ã o r e s s u s c i t a d o s , e a o s p o b r e s é a n u n c i a d o o e v a n g e l h o " ( M t 1 1 , 4 - 5 ) .
" A e s t e s d o z e e n v i o u J e s u s , e o r d e n o u - l h e s , d i z e n d o : N ã o i r e i s a o s g e n t i o s , n e m
e n t r a r e i s e m c i d a d e d e s a m a r i t a n o s ; m a s i d e a n t e s à s o v e l h a s p e r d i d a s d a c a s a
d e I s r a e l ; e i n d o , p r e g a i , d i z e n d o : É c h e g a d o o r e i n o d o s c é u s . C u r a i o s e n f e r -m o s , r e s s u s c i t a i o s m o r t o s , l i m p a i o s l e p r o s o s , e x p u l s a i o s d e m ô n i o s ; d e g r a ç a
r e c e b e s t e s , d e g r a ç a d a í " ( M t 1 0 , 5 - 8 ) .
3.9. - O DIA DA EXPIAÇÃO
Encerrando a primeira parte do Livro de Leví t ico , conhecida
como Código Sacerdotal é apresentado um ri tual por excelência , o Dia
da Expiação . É o mais importante, solene e de profundas s ignif ic ações
nacionais e rel igiosas dos Israel i tas , ce lebrado uma vez por ano. Esse
dia era tão importante que se tornou conhecido s i mplesmente por O
Dia ou O Jejum (At 27,9) . Nele toda a nação Is rael i ta era puri f ic ada
de todas as suas fal tas que assim se tornava Santa (Ex 19,6) , "pr opícia
a Iahweh", t al como fora "separada" de outros povos (Dt 7,6) . Sant i f i -
cação que começava pela puri f icação dos Sacerdotes , de todo o Sant u-
ário com as suas par tes , e completando -se com a de toda a com unidade
(Lv 16,1 -3) .
Para que não suceda o mesmo acontecido com os f i l hos de Aa-
rão, Nadab e Abiú, que desrespei taram o Santuário, Moisés inst rui A a-
rão "que não entre em todo tempo no Santuário, para dentro do véu,
diante do propiciatório que está sobre a arca, para que não mo rra. . . " ,
eis que, o Propiciatório é o lugar onde I ahweh se manifestava e de o n-
de "falava com Moisés" (Ex 25,22; Lv 16,2; Nm 7,89). Só uma vez por
ano, Aarão, ou o Sacerdote em função sem usar os paramentos pompo-
sos, completos e habi tuais do cerimonial ou dos Sacri f ícios (Ex 29,5-6
/ Lv 8,7-9) , mas uma s imples túnica com as calças sobre a ca rne nua,
cingido com um cinto e a mitra, todos de l inho, na sua cor branca da
pureza pretendida, e vest ido com a humildade de um peni tente em
busca de perdão , entrará no Santu ário "para dent ro do véu" (Lv 16,4):
" A a r ã o e n t r a r á n o S a n t u á r i o c o m u m n o v i l h o p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o e u m c a r -
n e i r o p a r a h o l o c a u s t o " ( Lv 1 6 , 3 ) .
Inicialmente , a cerimônia parte para a puri f icação dos Sacerd o-
tes , eis que, só quem é puro pode interceder para a puri f icação, e n-
t rando o celebrante com a oferenda do novi lho pelo pecado por s i e
por sua casa (os demais Sacerdotes ) , conforme r i tual bem determin a-
do:
" A a r ã o , p o i s , a p r e s e n t a r á o n o v i l h o d a o f e r t a p e l o p e c a d o , q u e é p o r e l e , e f a r á e x p i a ç ã o p o r s i e p e l a s u a c a s a ; e i m o l a r á o n o v i l h o q u e é a s u a o f e r t a p e l o p e -
c a d o . E n t ã o t o m a r á u m i n c e n s á r i o c h e i o d e b r a s a s d e f o g o d e s o b r e o a l t a r , d i -
a n t e d e Ia h w e h , e d o i s p u n h a d o s d e i n c e n s o a r o m á t i c o b e m m o í d o , e o s t r a r á p a -r a d e n t r o d o v é u ; e p o r á o i n c e n s o s o b r e o f o g o p e r a n t e I a h w e h , a f i m d e q u e a
n u v e m d o i n c e n s o c u b r a o p r o p i c i a t ó r i o , q u e e s t á s o b r e o t e s t e m u n h o , p a r a q u e
37
n ã o m o r r a . T o m a r á d o s a n g u e d o n o v i l h o , e o e s p a r g i r á c o m o d e d o s o b r e o p r o -p i c i a t ó r i o a o l a d o o r i e n t a l ; e p e r a n t e o p r o p i c i a t ó r i o e s p a r g i r á d o s a n g u e s e t e
v e z e s c o m o d e d o " ( Lv 1 6 , 1 1 - 1 4 ) .
Após isso, com a nuvem de incenso impedindo o celebrante de
ver a Glória de Iahweh no Propiciatório , sobre a Arca d isposta no
Santo dos Santos (Lv 16,2 / Ex 25,22), e espargindo o Sangue sobre o
Propiciatório, puri f ica a s i mesmo e a sua casa , ou seja, aos demais
Sacerdotes . Assim purif icados os Sacerdotes , penetra o Cel ebrante no
Santo dos Santos e passa a oferecer a expiação “para a expiação de
todas as fal tas cometidas por todo o Povo, para a Puri f icação e Sant i -
f icação respect ivamente pelo Santu ário, pela Tenda da Reun ião e pelo
Altar , imolando um dos b odes escolhido por sorte” (Lv 16,8):
" D e p o i s i m o l a r á o b o d e d a o f e r t a p e l o p e c a d o p e l o p o v o , e t r a r á o s a n g u e d o b o d e p a r a d e n t r o d o v é u ; e f a r á c o m e l e c o m o f e z c o m o s a n g u e d o n o v i l h o , e s -
p a r g i n d o - o s o b r e o p r o p i c i a t ó r i o , e p e r a n t e o p r o p i c i a t ó r i o ; e f a r á e x p i a ç ã o p e l o
s a n t u á r i o p o r c a u s a d a s i m p u r e z a s d o s f i l h o s d e I s r a e l e d a s s u a s t r a n s g r e s s õ e s , d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s . A s s i m t a m b é m f a r á p e l a t e n d a d a r e u n i ã o , q u e p e r m a -
n e c e c o m e l e s n o m e i o d a s s u a s i m p u r e z a s . N e n h u m h o m e m e s t a r á n a t e n d a d a
r e u n i ã o q u a n d o A a r ã o e n t r a r p a r a f a z e r e x p i a ç ã o n o s a n t u á r i o , a t é e l e s a i r , d e -p o i s d e t e r f e i t o e x p i a ç ã o p o r s i m e s m o , e p e l a s u a c a s a , e p o r t o d a a c o m u n i -
d a d e d e I s r a e l . E n t ã o s a i r á a o a l t a r , q u e e s t á p e r a n t e o S e n h o r , e f a r á e x p i a ç ã o
p e l o a l t a r ; t o m a r á d o s a n g u e d o n o v i l h o , e d o s a n g u e d o b o d e , e o p o r á s o b r e o s c h i f r e s d o a l t a r a o r e d o r . E d o s a n g u e e s p a r g i r á c o m o d e d o s e t e v e z e s s o b r e o
a l t a r , p u r i f i c a n d o - o e s a n t i f i c a n d o - o d a s i m p u r e z a s d o s f i l h o s d e I s r a e l " ( L v
1 6 , 1 5 - 1 9 ) .
At ingido então o ponto culminante da cerimô nia com o desem-
penho da Purif icação e Expiação no Santo dos Santos proceder-se-á a
Sant i f icação e a Pur i f icação plenas. Eram signif icadas com o r i tual do
bode emissário ou expiatório , que levaria para uma região sol i t ár ia
todos os pecados do Povo dos Fi lhos de Israel , l ibertando -os deles ,
t raduzindo assim a exclusão de todas as iniq uidades que impediam a
Iahweh lhes ser propício:
" Q u a n d o A a r ã o h o u v e r a c a b a d o d e f a z e r e x p i a ç ã o p e l o s a n t u á r i o , p e l a t e n d a d a
r e u n i ã o , e p e l o a l t a r , a p r e s e n t a r á o b o d e v i v o ; e , p o n d o a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a
d o b o d e v i v o , c o n f e s s a r á s o b r e e l e t o d a s a s i n i q ü i d a d e s d o s f i l h o s d e I s r a e l , e t o d a s a s s u a s t r a n s g r e s s õ e s , d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s ; e o s p o r á s o b r e a c a b e ç a
d o b o d e , e e n v i á - l o - á p a r a o d e s e r t o , p e l a m ã o d e u m h o m e m d e s i g n a d o p a r a i s -
s o . A s s i m a q u e l e b o d e l e v a r á s o b r e s i t o d a s a s i n i q ü i d a d e s d e l e s p a r a u m a r e g i -ã o s o l i t á r i a ; e e s s e h o m e m s o l t a r á o b o d e n o d e s e r t o " ( L v 1 6 , 2 0 - 2 2 ) .
Então Aarão lavar -se-á e vest i rá a roupa que lhe foi dest in ada ao
ser consagrado (Ex 29 / Lv 8) e de posse dos dois carneiros , um lev a-
do por ele mesmo (Lv 16,3) e o outro que lhe fora entregue pela c o-
munidade (Lv 16,5) , oferecê -los-á em Holocausto. Isso fe i to , vi rá o
desfecho defini t ivo com o retorno aos paramentos quot idi anos agora
Purif icados e Sant i f icados pela Expiação "por s i e pelo povo" e após
"queimar sobre o al tar a gordura da oferta pelo pecado ", ass im levada
a efei to:
" D e p o i s A a r ã o e n t r a r á n a t e n d a d a r e u n i ã o , e d e s p i r á a s v e s t e s d e l i n h o , q u e h a v i a v e s t i d o q u a n d o e n t r a r a n o s a n t u á r i o , e a l i a s d e i x a r á . E b a n h a r á o s eu
c o r p o e m á g u a n u m l u g a r s a n t o , e v e s t i r á a s s u a s p r ó p r i a s v e s t e s ; e n t ã o s a i r á e
o f e r e c e r á o s e u h o l o c a u s t o , e o h o l o c a u s t o d o p o v o , e f a r á e x p i a ç ã o p o r s i e p e -l o p o v o . T a m b é m q u e i m a r á s o b r e o a l t a r a g o r d u r a d a o f e r t a p e l o p e c a d o " ( L v
1 6 , 2 3 - 2 5 ) .
38
A seguir veem as abluções, ao levar o bode para o deserto, e ao
que queimar o que restar do novi lho e do bode, integrantes da oferta
pelo pecado, para se conseguir a pu ri f icação necessária ao ingresso no
acampamento. Com isso se evi tam, tanto a contaminação das oferendas
sant íss imas que conduziram, como qualquer contato delas com o imp u-
ro ou profano. Termina o cerimonial com um repouso de sábado qua n-
do "afl igi reis as vos sas almas" (ou seja, "jejuareis") , e t ambém "nesse
dia não fareis t rabalho algum", por arrependimento e por pen i tência,
manifestando os sent imentos interiores , moral e rel igioso da festa , por
isso era conhecida também por Jejum ou D ia (At 27,9):
" E a q u e l e q u e t i v e r s o l t a d o o b o d e p a r a A z a z e l l a v a r á a s s u a s v e s t e s , e b a n h a r á o s e u c o r p o e m á g u a , e d e p o i s e n t r a r á n o a c a m p a m e n t o . M a s o n o v i l h o d a o f e r t a
p e l o p e c a d o e o b o d e d a o f e r t a p e l o p e c a d o , c u j o s a n g u e f o i t r a z i d o p a r a f a z e r
e x p i a ç ã o n o s a n t u á r i o , s e r ã o l e v a d o s p a r a f o r a d o a c a m p a m e n t o ; e l h e s q u e i m a -r ã o n o f o g o a s p e l e s , a c a r n e e o e x c r e m e n t o . A q u e l e q u e o s q u e i m a r l a v a r á a s
s u a s v e s t e s , b a n h a r á o s e u c o r p o e m á g u a , e d e p o i s e n t r a r á n o a c a m p a m e n t o .
T a m b é m i s t o v o s s e r á p o r e s t a t u t o p e r p é t u o : n o s é t i m o m ê s , a o s d e z d o m ê s , a -f l i g i r e i s a s v o s s a s a l m a s , e n ã o f a r e i s t r a b a lh o a l g u m , n e m o n a t u r a l n e m o e s -
t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a e n t r e v ó s ; p o r q u e n e s s e d i a s e f a r á e x p i a ç ã o p o r v ó s ,
p a r a p u r i f i c a r - v o s ; d e t o d o s o s v o s s o s p e c a d o s s e r e i s p u r i f i c a d o s p e r a n t e Ia h -w e h . S e r á s á b a d o d e d e s c a n s o s o l e n e p a r a v ó s , e a f l i g i r e i s a s v o s s a s a l m a s ; é
e s t a t u t o p e r p é t u o " ( Lv 1 6 , 2 6 - 3 1 ) .
Em resumo, nessa solenidade do Dia da Expiação (Lv 16,31) o
Sacerdote Israel i ta , no décimo dia do mês ' tchri ' (Lv 16,29-30) at ra-
vessará o véu e entrará no Santo dos Santos (Ex 26,31 -33, v . tb . o n.°
2 do Capí tulo 4) , para a cerimônia do Perdão dos Pecados cometidos
por toda a Nação:
" E o s a c e r d o t e u n g i d o e s a g r a d o p a r a a d m i n i s t r a r o s a c e r d ó c i o n o l u g a r d e s eu p a i , f a r á a e x p i a ç ã o , h a v e n d o v e s t i d o a s v e s t e s d e l i n h o , i s t o é , a s v e s t e s s a g r a -
d a s ; a s s i m f a r á e x p i a ç ã o p e l o s a n t u á r i o ; t a m b é m f a r á e x p i a ç ã o p e l a t e n d a d a r e -
u n i ã o e p e l o a l t a r ; i g u a l m e n t e f a r á e x p i a ç ã o p e l o s s a c e r d o t e s e p o r t o d o o p o v o d a c o m u n i d a d e . I s t o s e r á p a r a v ó s l e i p e r p é t u a , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o u m a v e z n o
a n o p e l o s f i l h o s d e I s r a e l p o r c a u s a d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s . . . " ( L v 1 6 , 3 2 - 3 4 ) .
É com aquela "ví t ima", que recebeu o nome de "bode emissário
ou bode expiatório", que se pode ident i f icar Jesus ao iniciar o seu M i-
nis tér io de Redenção:
" E n t ã o v e i o J e s u s d a G a l i l é i a t e r c o m J o ã o , j u n t o d o J o r d ã o , p a r a s e r b a t i z a d o
p o r e l e . . . . ( . . . ) . . . B a t i z a d o q u e f o i J e s u s , s a i u l o g o d a á g u a ; e e i s q u e s e l h e a -
b r i r a m o s c é u s , e v i u o E s p í r i t o S a n t o d e D e u s d e s c e n d o c o m o u m a p o m b a e v i n d o s o b r e e l e . . . ( M t 3 , 1 3 - 1 7 ) / " E n t ã o J e s u s f o i c o n d u z i d o p e l o E s p í r i t o a o
d e s e r t o , p a r a s e r t e n t a d o p e l o D i a b o . . . " ( M t 4 , 1 - 1 1 ) .
Essa passagem de Jesus faz pensar na f igura do "bode emiss ário
ou expiatório" , conduzindo os pecados do homem ao deserto. É d if íci l
se conceber a idéia de Jesus em ligação com os pecados do H omem,
mas é São Paulo quem o afi rma:
" À q u e l e q u e n ã o c o n h e c e u p e c a d o , D e u s o f e z p e c a d o p o r n ó s ; p a r a q u e n e l e f ô s s e m o s f e i t o s j u s t i ç a d e D e u s " ( 2 C o r 5 , 2 1 ) / " P o r q u e n ã o t e m o s u m s u m o s a -
c e r d o t e q u e n ã o p o s s a c o m p a d e c e r - s e d a s n o s s a s f r a q u e z a s ; p o r é m u m q u e , c o -
m o n ó s , e m t u d o t e n t a d o , ex c e t o n o p e c a d o " ( H b 4 , 1 5 )
Isso pode ser resumido s implesmente dizendo que Jesus "era i -
gual ao homem em tudo , exceto no pecado". Mas, da mesma forma que
39
o "bode expiatório", sant i f icado, era conduzido "para Azazel" (Lv
16,8.10.21-22.26), Jesus, o Santo de Deus, car regado de nossos pec a-
dos "foi conduzido ao deserto para ser t entado pelo diabo". Ao d eserto
que era concebido como o antro onde os demônios habi tavam e onde
es tava Azazel :
" M a s a s f e r a s d o d e s e r t o r e p o u s a r ã o a l i , e a s s u a s c a s a s s e e n c h e r ã o d e h o r r í -v e i s a n i m a i s ; e a l i h a b i t a r ã o a s a v e s t r u z e s , e o s s á t i r o s p u l a r ã o a l i " ( I s 1 3 , 2 1 ) /
" E a s f e r a s d o d e s e r t o s e e n c o n t r a r ã o c o m h i e n a s ; e o s á t i r o c l a m a r á a o s e u
c o m p a n h e i r o ; e L i l i t e p o u s a r á a l i , e a c h a r á l u g a r d e r e p o u s o p a r a s i " ( I s 3 4 , 1 4 ) / " E n t ã o o A n j o R a f a e l p e g o u n o d e m ô n i o e a c o r r e n t o u - o n o d e s e r t o d o A l t o E -
g i t o " ( T b 8 , 3 ) .
O próprio Jesus vai confi rmar essa crença:
" O r a , h a v e n d o o e s p í r i t o i m u n d o s a í d o d o h o m e m , a n d a p o r l u g a r e s d e s e r t o s , b u s c a n d o r e p o u s o , e n ã o o e n c o n t r a " ( M t 1 2 , 4 3 ) .
É que dentre as inúmeras concepções que se faz do s ignif icado
da denominação de Azazel a que mais s obressai é de se t ratar de um
demônio. Nisso se encontra séria dif iculdade por não se conceber a
remessa de ví t ima santa para o demônio . R etruca-se argumentando que
o bode leva ao demônio o pecado de Israel em devol ução por ser coisa
própria dele e não se contaminando , da mesma forma que Jesus saiu
i leso:
" E n t ã o l h e o r d e n o u J e s u s : V a i - t e , S a t a n á s ; p o r q u e e s t á e s c r i t o : A o S e n h o r t e u
D e u s a d o r a r á s , e s ó a e l e s e r v i r á s . E n t ã o o D i a b o o d e i x o u ; e e i s q u e v i e r a m o s a n j o s e o s e r v i r a m " ( M t 4 , 1 0 - 1 1 ) .
Essa tentação de Jesus no deserto é de muita s ignif icação, po is ,
infr inge ao demônio a primeira derrota que anunciava a f inal . Não
houve tes temunhas do fato e somente Jesus o conhecia donde ter s ido
Ele quem o narrou e com alguma final idade. Jesus não falava nada à
toa, sem razão ou sem um objet ivo claro, e não há de ser para ex ibir
alguma vi tória, o que não Lhe é pr óprio, mas informou aos Apóstolos
que al i jou para o demônio a fonte de todo o mal , a fonte da cobiça
humana, ou seja, a concupiscência:
" N ã o a m e i s o m u n d o , n e m a s c o i s a s d o m u n d o . S e a l g u é m a m a o m u n d o , o a m o r d o P a i n ã o e s t á n e l e . P o r q u e t u d o o q u e h á n o m u n d o , a c o n c u p i s c ê n c i a d a c a r -
n e , a c o n c u p i s c ê n c i a d o s o l h o s e a o s t e n t a ç ã o d a s r i q u ez a s , n ã o v e m d o P a i , m a s
s i m d o m u n d o . O r a , o m u n d o p a s s a , e a s u a c o n c u p i s c ê n c i a ; m a s a q u e l e q u e f a z a v o n t a d e d e D e u s p e r m a n e c e p a r a s e m p r e " ( 1 J o 2 , 1 5 - 1 7 ) .
Foi o que Jesus fez e "permanece para sempre", venceu o demô-
nio não se sujei tando à concupiscência da carne :
" E , t e n d o j e j u a d o q u a r e n t a d i a s e q u a r e n t a n o i t e s , d e p o i s t e v e f o m e . C h e g a n d o ,
e n t ã o , o t en t a d o r , d i s s e - l h e : S e t u é s F i l h o d e D e u s m a n d a q u e e s t a s p e d r a s s e t o r n e m e m p ã e s . M a s J e s u s l h e r e s p o n d e u : E s t á e s c r i t o : N e m s ó d e p ã o v i v e r á o
h o m e m , m a s d e t o d a p a l a v r a q u e s a i d a b o c a d e D e u s " ( M t 4 , 2 - 4 ) .
Em si , não haveria mal algum em transformar pedras em pão p a-
ra se al imentar principalmente Por causa da fome; nunca porém em
atendimento a um desafio para provar que Ele é o Fi lho de Deus. O
que era necessário deixar claro ao demônio era o f im de seu domínio
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com a implantação do Reino de Deus. Além disso, Jesus recusara para
a sua Missão o Poder profano e do mundo, demonstrando isso aos seus
discípulos ao lhes narrar o fato. No Reino de Deus não se busca o P o-
der que é fruto da concupiscência da carne, agora vencível . Traçava
Jesus as l inhas de atuação de Sua Igreja: viver só da " palavra que sai
da boca de Deus ".
Ele a inda derrotou o demônio não se sujei tando à concupiscên-
cia dos olhos :
" E n t ã o o D i a b o o l e v o u à c i d a d e s a n t a , c o l o c o u - o s o b r e o p i n á c u l o d o t e m p l o , e d i s s e - l h e : S e t u é s F i l h o d e D e u s , l a n ç a - t e d a q u i a b a i x o ; p o r q u e e s t á e s c r i t o :
A o s s e u s a n j o s d a r á o r d e n s a t e u r e s p e i t o ; e : e l e s t e s u s t e r ã o n a s m ã o s , p a r a q u e
n u n c a t r o p e c e s e m a l g u m a p e d r a . R e p l i c o u - l h e J e s u s : T a m b é m e s t á e s c r i t o : N ã o t e n t a r á s o S e n h o r t e u D e u s " ( M t 4 , 5 - 7 ) .
Da mesma forma, Cris to acabou com o domínio de Sa tanás no
mundo pondo f im à concupiscência dos olhos, isso é , daquele desejo
inato do Homem de prat icar obras mirabolantes aos olhos de s i pr óprio
e do mundo. Cris to não era um milagrei ro , usando do milagre apenas
para impressionar um públ ico sedento de ano rmalidades e maravi lhas .
Jesus não faz ia pedras voar, nem elevava coisas para se ex ibir , nem se
bi locava ou se t ransportava de um lugar para outro sem os meios no r-
mais de locomoção. Seus milagres t iveram uma conotação bem dif e-
rente. Ele mesmo diz ia que não o entendiam, pois curava cegos, su r -
dos, mudos, coxos, ressusci tou mortos , curou leprosos, apresentando o
advento do Reino de Deus , com o f im das consequências do pecado,
com o término do domínio do diabo. No Reino de Deus , tal como na
Sua Igreja , não se buscará mais a Honra ou a Glória de um malab aris ta
do mundo, coisas da concupiscência dos olh os, que têm por fonte o
demônio rejei tado para sempre. Jesus termina por se impor como Deus
e Senhor, dizendo-lhe "não tentarás o Senhor teu Deus".
Finalmente , f inda a concupiscência da ostentação das r iquezas ,
tornando-se verdadeira idolatr ia pela inversão de Sat anás em Deus:
" N o v a m e n t e o D i a b o o l e v o u a u m m o n t e m u i t o a l t o ; e m o s t r o u - l h e t o d o s o s r e i -
n o s d o m u n d o , e a g l ó r i a d e l e s ; e d i s s e - l h e : T u d o i s t o t e d a r e i , s e , p r o s t r a d o , m e a d o r a r e s . E n t ã o l h e o r d e n o u J e s u s : V a i - t e , S a t a n á s ; p o r q u e e s t á e s c r i t o : A o
S e n h o r t e u D e u s a d o r a r á s , e s ó a e l e s e r v i r á s . E n t ã o o D i a b o o d e i x o u ; e e i s q u e v i e r a m o s a n j o s e o s e r v i r a m " ( M t 4 , 1 - 1 1 ) .
Jesus recusa as r iquezas do mundo , a sua glória e a cobiça hu-
mana, como verdadeira idolatr ia:
" E x t e r m i n a i , p o i s , a s v o s s a s i n c l i n a ç õ e s c a r n a i s : a p r o s t i t u i ç ã o , a i m p u r e z a , a
p a i x ã o , a v i l c o n c u p i s c ê n c i a , e a a v a r e z a , q u e é i d o l a t r i a . . . " ( C l 3 , 5 ) .
Jesus afastou-a defini t ivamente do Reino de Deus e da Sua Igre-
ja , que então anunciava. Não é preciso dizer muito, Ele recusou a pro-
posta do Diabo que "mostrou-lhe todos os reinos do mundo, a glória
deles e disse- lhe que ' tudo is to te darei , se prostrado me adorares '" . O
que se conclui daí é que o bode expiatório devolveu a Satanás o peca-
do que lhe é próprio, inaugurando a era da Sant i f icação do Homem e
levando-o de vol ta ao Paraíso:
" . . . H o j e e s t a r á s c o m i g o n o P a r a í s o " ( Lc 2 3 , 4 3 )
41
E é isso que São Paulo afi rma ter fei to Jesus at ravessando o véu,
aquele que se rasgou quando padecia na Cruz:
" M a s C r i s t o , t e n d o v i n d o c o m o s u m o s a c e r d o t e d o s b e n s j á r e a l i z a d o s , p o r m e i o d o m a i o r e m a i s p e r f e i t o t a b e r n á c u l o , n ã o f e i t o p o r m ã o s , i s t o é , n ã o d e s t a c r i a -
ç ã o , e n ã o p e l o s a n g u e d e b o d e s e n o v i l h o s , m a s p o r s e u p r ó p r i o s a n g u e , e n t r o u
u m a v e z p o r t o d a s n o s a n t u á r i o , h a v e n d o o b t i d o u m a e t e r n a r e d e n ç ã o . P o r q u e , s e a a s p e r s ã o d o s a n g u e d e b o d e s e d e t o u r o s , e d a s c i n z a s d u m a n o v i l h a s a n t i -
f i c a o s c o n t a m i n a d o s , q u a n t o à p u r i f i c a ç ã o d a c a r n e , q u a n t o m a i s o s a n g u e d e
C r i s t o , q u e p e l o E s p í r i t o e t e r n o s e o f e r e c e u a s i m e s m o i m a c u l a d o a D e u s , p u r i -f i c a r á d a s o b r a s m o r t a s a v o s s a c o n s c i ê n c i a , p a r a s e r v i r d e s a o D e u s v i v o ? E p o r
i s s o é m e d i a d o r d e u m a n o v a A l i a n ç a , p a r a q u e , i n t e r v i n d o a m o r t e p a r a r e m i s -
s ã o d a s t r a n s g r e s s õ e s c o m e t i d a s d e b a i x o d a p r i m e i r a A l i a n ç a , o s c h a m a d o s r e -c e b a m a p r o m e s s a d a h e r a n ç a e t e r n a . . . ( . . . ) . . . P o i s C r i s t o n ã o e n t r o u n u m s a n t u á -
r i o f e i t o p o r m ã o s , f i g u r a d o v e r d a d e i r o , m a s n o p r ó p r i o c é u , p a r a a g o r a c o m p a -
r e c e r p o r n ó s p e r a n t e a f a c e d e D e u s ; n e m t a m b é m p a r a s e o f e r e c e r m u i t a s v e -z e s , c o m o o s u m o s a c e r d o t e d e a n o e m a n o e n t r a n o s a n t o l u g a r c o m s a n g u e a -
l h e i o ; d o u t r a f o r m a , n e c e s s á r i o l h e f o r a p a d e c e r m u i t a s v e z e s d e s d e a f u n d a ç ã o
d o m u n d o ; m a s a g o r a , n a c o n s u m a ç ã o d o s s é c u l o s , u m a v e z p o r t o d a s s e m a n i -
f e s t o u , p a r a a n i q u i l a r o p e c a d o p e l o s a c r i f í c i o d e s i m es m o . . . . " ( H b 9 , 1 1 - 2 8 ) .
Então, toda a es t ru tura do Santuário e o Sacerdócio de então ,
que culminam no Dia da Expiação , é f igura de Cri s to:
" . . . J u r o u o S e n h o r , e n ã o s e a r r e p e n d e r á : T u é s s a c e r d o t e p a r a s e m p r e , d e t a n t o
m e l h o r A l i a n ç a J e s u s f o i f e i t o f i a d o r . E , n a v e r d a d e , a q u e l e s f o r a m f e i t o s s a -c e r d o t e s e m g r a n d e n ú m e r o , p o r q u e p e l a m o r t e f o r a m i m p e d i d o s d e p e r m a n e c e r ,
m a s e s t e , p o r q u e p e r m a n e c e p a r a s e m p r e , t e m o s e u s a c e r d ó c i o p e r p é t u o . P o r -
t a n t o , p o d e t a m b é m s a l v a r p e r f e i t a m e n t e o s q u e p o r e l e s e c h e g a m a D e u s , p o r -q u a n t o v i v e s e m p r e p a r a i n t e r c e d e r p o r e l e s . P o r q u e n o s c o n v i n h a t a l s u m o s a -
c e r d o t e , s a n t o , i n o c e n t e , i m a c u l a d o , s e p a r a d o d o s p ec a d o r e s , e f e i t o m a i s s u -
b l i m e q u e o s c é u s ; q u e n ã o n e c e s s i t a , c o m o o s s u m o s s a c e r d o t e s , d e o f e r e c e r c a d a d i a s a c r i f í c i o s , p r i m e i r a m e n t e p o r s e u s p r ó p r i o s p e c a d o s , e d e p o i s p e l o s
d o p o v o ; p o r q u e i s t o f e z e l e , u m a v e z p o r t o d a s , q u a n d o s e o f e r e c e u a s i m e s -
m o . P o r q u e a l e i c o n s t i t u i s u m o s s a c e r d o t e s a h o m e n s q u e t ê m f r a q u e z a s , m a s a p a l a v r a d o j u r a m e n t o , p o s t e r i o r à l e i , c o n s t i t u i o F i l h o , e t e r n a m e n t e p e r f e i t o "
( H b 7 , 2 1 - 2 8 ) .
Não é diferente o que ensina o Catecismo da Igreja Catól ica :
" O n o m e d e D e u s S a l v a d o r e r a i n v o c a d o a p e n a s u m a v e z p o r a n o , p e l o S u m o S a -c e r d o t e , p a r a E x p i a ç ã o d o s P e c a d o s d e I s r a e l , d e p o i s d e t e r a s p e r g i d o o P r o p i -
c i a t ó r i o d o " s a n t o d o s s a n t o s " c o m o s a n g u e d o s a c r i f í c i o ( c f . Lv 1 6 , 1 5 - 1 6 ; S i r
5 0 , 2 0 ; N m 7 , 8 9 ; H b 9 , 7 ) . O P r o p i c i a t ó r i o e r a o l u g a r d a p r e s e n ç a d e D e u s ( c f . E x 2 5 , 2 2 ; Lv 1 6 , 2 ; N m 7 , 8 9 ; H b 9 , 5 ) . Q u a n d o S ã o P a u l o d i z d e J e s u s q u e D e u s
O " a p r e s e n t o u c o m o A q u e l e q u e e x p i a o s p e c a d o s , p e l o S e u S a n g u e d e r r a m a d o " ( R m 5 , 2 5 ) , s i g n i f i c a q u e , n a h u m a n i d a d e d ' E s t e , " e r a D e u s q u e e m C r i s t o r e c o n -
c i l i a v a o m u n d o C o n s i g o " ( 2 C o 5 , 1 9 ) [ n . ° 4 3 3 – s e m d e s t a q u e s ] / " A M o r t e d e
C r i s t o é , a o m e s m o t e m p o , o s a c r i f í c i o p a s c a l q u e r e a l i z a a r e d e n ç ã o d e f i n i t i v a d o s h o m e n s ( c f . 1 C o 5 , 7 ; J o 8 , 3 4 - 3 6 ) p o r m e i o d o " C o r d e i r o q u e t i r a o p e c a d o
d o m u n d o " ( J o 1 , 2 9 ) ( c f . 1 P e 1 , 1 9 ) , e o s a c r i f í c i o d a N o v a A l i a n ç a ( c f . 1 C o
1 1 , 2 5 ) q u e r e s t a b e l e c e a c o m u n h ã o e n t r e o h o m e m e D e u s ( c f . E x 2 4 , 8 ) , r e c o n -c i l i a n d o - o c o m E l e p e l o " s a n g u e d e r r a m a d o p e l a m u l t i d ã o , p a r a r e m i s s ã o d o s
p e c a d o s " ( M t 2 6 , 2 8 ; c f . L v 1 6 , 1 5 - 1 6 ) [ n . ° 6 1 3 - d e s t a q u e s a p r o p ó s i t o ] .
E quanto à Tentação de Jesus no deserto , cont inua o Catecismo :
" O s e v a n g e l i s t a s i n d i c a m o s e n t i d o s a l v í f i c o d e s t e a c o n t e c i m e n t o m i s t e r i o s o . J e s u s é o N o v o A d ã o , q u e S e m a n t é m f i e l n a q u i l o e m q u e o p r i m e i r o s u c u m b i u à
t e n t a ç ã o . J e s u s c u m p r e p e r f e i t a m e n t e a v o c a ç ã o d e I s r a e l : c o n t r a r i a m e n t e a o s
q u e o u t r o r a , d u r a n t e q u a r e n t a a n o s , p r o v o c a r a m D e u s n o d e s e r t o ( c f . S l 9 4 , 1 0 ) , C r i s t o r e v e l a - S e o S e r v o d e D e u s t o t a l m e n t e o b e d i e n t e à v o n t a d e d i v i n a . N i s t o ,
J e s u s v e n c e o d i a b o : " a m a r r o u o h o m e m f o r t e " , p a r a l h e t i r a r o s d e s p o j o s ( M c
3 , 2 7 ) . A v i t ó r i a d e J e s u s s o b r e o t e n t a d o r , n o d e s e r t o , a n t e c i p a a v i t ó r i a d a P a i -x ã o , s u p r e m a o b e d i ên c i a d o s e u a m o r f i l i a l a o P a i " ( C a t e c i s m o d a Ig r e j a C a t ó l i -
c a n . ° 5 4 0 ; v . t b . : n . ° s . 5 3 8 e 5 3 9 ) .
42
Concluindo, na Tentação do Deser to Jesus anuncia a Expiação
do Pecado do Homem pelo Seu Sacri f íc io no Altar da Cruz de maneira
defini t iva, er radicando -o do coração humano pela ação do Espír i to
Santo, bem como, a concupiscê ncia, e recusando para o Seu Reino ,
s ignif icado e corpori f icado na Sua Igreja, o Poder, a Glória e as Ri-
quezas do mundo , que devolve ao diabo , de uma vez por todas.
O CÓDIGO DE SANTIDADE
3.10. - AS LEIS DE SANTIDADE
Até aqui foram narrados os r i tos para a comunhão com Iahweh
pelo Sacri f ício e para se manter ou se recuperar a pureza legal sem o
que não há Sant idade. De agora em diante serão apresentadas normas
de conduta e comportamento que também e por sua vez a fav orecem ou
a comprometem nos termos da Aliança. São normas de moral rel igiosa ,
buscando-se at ingir a Sant idade interior mais ampla e perfe i ta que não
se exaure em uma Pureza Legal , nem em uma Sant i f icação Ritual , nem
se ident i f ica apenas com a ex teriorização rot ineira e apenas f ís ica .
Desde o tempo da promulgação do Decálogo lançaram-se as bases para
a vida rel igiosa plena do Povo de Israe l , o Código da Aliança, er igi n-
do-se imediatamente um Santuário. Além disso, es tabel eceu-se uma
série de observâncias para a part icipação na vida em comunidade, nos
Sacri f ícios para tornar Israel " a minha propriedade pecul iar dentre t o-
dos os povos", e "um reino de sacerdotes e uma nação santa" :
" V ó s t e n d e s v i s t o o q u e f i z a o s e g í p c i o s , c o m o v o s l e v e i s o b r e a s a s d e á g u i a s , e v o s t r o u x e a m i m . A g o r a , p o i s , s e a t e n t a m e n t e o u v i r d es a m i n h a v o z e s e g u a r -
d a r d e s a m i n h a A l i a n ç a s e r e i s a m i n h a p r o p r i e d a d e p e c u l i a r d e n t r e t o d o s o s p o -
v o s , p o r q u e m i n h a é t o d a a t e r r a ; e v ó s s e r e i s p a r a m i m u m r e i n o d e s a c e r d o t e s e u m a n a ç ã o s a n t a . S ã o e s t a s a s p a l a v r a s q u e f a l a r á s a o s f i l h o s d e I s r a e l ( . . . ) .
D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : V a i a o p o v o , e s a n t i f i c a - o h o j e e a m a n h ã ; l a v e m
e l e s o s s e u s v e s t i d o s ( . . . ) . E n t ã o M o i s é s d e s c e u d o m o n t e a o p o v o , e s a n t i f i c o u o p o v o q u e l a v a r a m o s s e u s v e s t i d o s ( . . . ) . O r a , s a n t i f i q u e m - s e t a m b é m o s s a c e r -
d o t e s , q u e s e c h e g a m a Ia h w e h , p a r a q u e Ia h w e h n ã o s e l a n c e s o b r e e l e s " ( E x
1 9 , 4 - 6 . 1 0 . 1 4 . 2 2 ) .
Essa ex igência de Sant idade , condicionada à condição de "ate n-
tamente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha Aliança" torna-os
"uma propriedade pecul iar dentre todos os povos ( . . . ) um reino de s a-
cerdotes e uma nação santa", acentuando -se coerentemente nos r i tuais
prat icados no Santuário de acordo com os Desígnios de Iahweh, ex t e-
r iorizando-se num comportamento “santo” assumido desde o int erior e
não apenas ex teriorizado f is icame nte:
" P o r q u e e u s o u I a h w e h o v o s s o D e u s ; . . . s a n t i f i c a i - v o s e s e d e s a n t o s p o r q u e e u
s o u s a n t o . . . ( . . . ) . . . e u s o u I a h w e h , q u e v o s f i z s u b i r d a t e r r a d o E g i t o , p a r a s e r o
v o s s o D e u s , s e r e i s p o i s s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o " ( L v 1 1 , 4 4 - 4 6 ) .
Por causa disso, entre os compromissos assumidos na Aliança se
incluiu o que se pode denominar de Missão de Is rael , várias vezes r a-
t i f icada (cfr . Ex 34,13; Lv 18,3.24 -30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31),
43
e com base nela elaboraram-se as leis at inentes ao puro e impuro para
se evi tar principalmente as prát icas dos gent ios que os rodeavam, nos
vários sacri f ícios , no comportamento moral , ou na al imentação cot id i -
ana (Os 9,3; Ez 4,13; Tb 1,10 -12; Dn 1,8-12; Jdt 12,2-4; Lv 18,2-5):
" . . . n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u -m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o l u n a s . S e r v i r e i s a Ia h w e h o
v o s s o D e u s ( . . . ) . N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s n e m c o m s e u s d e u s e s . . . ” ( E x 2 3 , 2 3 -
3 3 ) / " G u a r d a r e i s , p o i s , t o d o s o s m e u s e s t a t u t o s e t o d o s o s m e u s p r e c e i t o s , e o s c u m p r i r e i s ; a f i m d e q u e a t e r r a , p a r a a q u a l e u v o s l e v o , p a r a n e l a m o r a r d e s ,
n ã o v o s v o m i t e . E n ã o a n d a r e i s n o s c o s t u m e s d o s p o v o s q u e e u e x p u l s o d e d i a n -
t e d e v ó s ( . . . ) : H e r d a r e i s a s u a t e r r a , e e u v o - l a d a r e i p a r a a p o s s u i r d e s , t e r r a q u e m a n a l e i t e e m e l . E u s o u o S e n h o r v o s s o D e u s , q u e v o s s e p a r e i d o s p o v o s .
( . . . ) E s e r e i s p a r a m i m s a n t o s ; p o r q u e e u , Ia h w e h , s o u s a n t o , e v o s s e p a r e i d o s
p o v o s , p a r a s e r d e s m e u s " ( L v 2 0 , 2 2 - 2 6 ) .
Is rael então deveria ass im se separar ou se dis t inguir de outros
povos principalmente pela conformação de sua conduta e de seu co m-
portamento com o Desígnio de Iahweh, o que o levaria a se sant i f icar ,
"para serdes meus". Portanto, para se "sant i f icar" (em seu radical h e-
braico t raz o sent ido de "separar , cortar") , e ra necessário "separar -se"
ou "dis t inguir -se" dos gent ios (Ex 19,6.10.14.22; Lv 11,44s ; 18 ,24-30;
19,2; 20,7.8; 21,1 -8; 22,1-9.31-33; Nm 31,19-24):
" N ã o v o s c o n t a m i n e i s c o m n e n h u m a d e s s a s c o i s a s , p o r q u e c o m t o d a s e l a s s e
c o n t a m i n a r a m a s n a ç õ e s q u e e u e x p u l s o d e d i a n t e d e v ó s ; ( . . . ) V ó s , p o i s , g u a r -
d a r e i s o s m e u s e s t a t u t o s e o s m e u s p r e c e i t o s , e n e n h u m a d e s s a s a b o m i n a ç õ e s f a -r e i s ( . . . ) g u a r d a r e i s o m e u m a n d a m e n t o , d e m o d o q u e n ã o c a i a i s e m n e n h u m
d e s s e s a b o m i n á v e i s c o s t u m e s q u e a n t e s d e v ó s f o r a m s e g u i d o s , e p a r a q u e n ã o
v o s c o n t a m i n e i s c o m e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s " ( Lv 1 8 , 2 4 - 3 0 ) .
Assim é que, desde o alvorecer bíbl ico, tal como com Adão e
Eva que "se esconderam da presença de Deus" (Gn 3,8) , usa -se a ex-
pressão "andou com Deus" (cfr . Gn 5,21.24; 6 ,9) ou "andar na prese n-
ça de Deus e ser perfei to" (Gn 17,1) ou outras equivalentes como
"guardar os caminhos de Iahweh prat icando o direi to e a ju s t iça" (Gn
18,19), para se exprimir e t raduzir a Sant idade de vida e vincula ndo-a
ao dever de "observar os (meus) precei tos e os (meus) es tatutos gua r-
dareis , para andardes neles", mantendo -se uma est rei t a comunhão com
Iahweh:
" F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : E u s o u I s r a e l o v o s s o D e u s . N ã o f a r e i s
s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d o E g i t o , e m q u e h a b i t a s t e s ; n e m f a r e i s s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d e C a n a ã , p a r a a q u a l e u v o s l e v o ; n e m a n d a r e i s s e g u n d o o s s e u s
e s t a t u t o s . O s m e u s p r e c e i t o s o b s e r v a r e i s , e o s m e u s e s t a t u t o s g u a r d a r e i s , p a r a
a n d a r d e s n e l e s . E u s o u I s r a e l o v o s s o D e u s " ( L v 1 8 , 2 - 4 ) .
Faci lmente percebe-se a já referida e es t rei ta l igação do conce i to
de "santo" com um sent ido claro de que se "é se parado" e não se mi s-
tura com o que for "profano" até mesmo no comportamento. Esse co n-
cei to de Santo em "guardar os caminhos de Iahweh prat icando o direi to
e a just iça" (Gn 18 ,19) é ainda bem claro nas palavras do Salmista
muitos séculos depois pela união q ue se almeja com Iahweh, seja "h a-
bi tando no teu tabernáculo" seja "descansando no teu santo monte":
" Q u e m , Ia h w e h , h a b i t a r á n o t e u t a b e r n á c u l o ? Q u e m d e s c a n s a r á n o t e u s a n t o
m o n t e ? A q u e l e q u e a n d a i r r e p r e e n s i v e l m e n t e e p r a t i c a a j u s t i ç a , e d o s e u c o r a -
ç ã o f a l a a v e r d a d e ; q u e n ã o d i f a m a c o m a s u a l í n g u a , n e m f a z o m a l a o s e u s e -m e l h a n t e , n e m c o n t r a e l e a c e i t a d i f a m a ç ã o ; a q u e l e a c u j o s o l h o s o r é p r o b o é
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d e s p r e z a d o , m a s q u e h o n r a o s q u e t e m e m a o S e n h o r ; a q u e l e q u e , e m b o r a j u r e c o m d a n o s e u , n ã o m u d a ; q u e n ã o e m p r e s t a o s e u d i n h e i r o c o m u s u r a , n e m r e c e -
b e d á d i v a s c o n t r a o i n o c e n t e . A q u e l e q u e a s s i m p r o c e d e n u n c a s e r á a b a l a d o " ( S l
1 5 , 1 - 5 ) .
Isso porque a fonte única e o fundamento de toda a Sant idade é
Iahweh pelo fato de que somente Iahweh é Santo em vir tude de se r o
único absolutamente "separado". E em assim sendo só Iahweh Sant i f i -
ca (Lv 19,2; 20,7 -8 .26; 21,6.8.15.23; 22,9.16.32), a sant i f icação que
se vincula, como consequência, à ordem de "guardai os meus estat utos
e cumpri -os":
" G u a r d a i o s m e u s e s t a t u t o s , e c u m p r i - o s . E u s o u Ia h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o " ( Lv
2 0 , 7 - 8 ) .
E tudo isso vai então ecoar como um gri to solene de Iahweh e
em torno do qual gi ra a Sant idade , na perspect iva l eví t ica:
" S e d e S a n t o s , p o r q u e e u Ia h w e h v o s s o D e u s S o u S a n t o " ( Lv 1 9 , 2 ) .
Essa Sant idade está es t rei tamente vinculada ao cumprimento dos
Desígnios de Iahweh , prescri tos nos seus precei tos ou mand amentos:
" O s m e u s p r e c e i t o s o b s e r v a r e i s , e o s m e u s e s t a t u t o s g u a r d a r e i s , p a r a a n d a r d e s
n e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . G u a r d a r e i s , p o i s , o s m e u s e s t a t u t o s e a s m i -
n h a s o r d e n a n ç a s , p e l o s q u a i s o h o m e m , o b s e r v a n d o - o s , v i v e r á . E u s o u Ia h w e h " ( Lv 1 8 , 4 - 5 ) / " P o r t a n t o s a n t i f i c a i - v o s , e s e d e s a n t o s , p o i s e u s o u Ia h w e h o v o s -
s o D e u s . G u a r d a i o s m e u s e s t a t u t o s , e c u m p r i - o s . E u s o u Ia h w e h , q u e v o s s a n t i -
f i c o " ( L v 2 0 , 7 - 8 ) .
"Guardai os meus es tatutos , e cumpri -os . Eu sou Iahweh, que vos
sant i f ico" - clara f ica a vinculação da Sant idade com o cumpr imento
dos precei tos emanados de Iahweh consubstanciados nestes t r echos
selecionados dent re muitos outros que diz em o mesmo. Princ ipalmente
quando diz "pelos quais o homem, observando -os, v iverá" assume a
posse de bens e bênçãos n ecessárias a uma vida fel iz de que é "f igura"
o Jardim do Éden e m que se contrasta com a violação do prece i to , pelo
que "morrerás" (Gn 2,17).
3.10.1 - A LEI DE SANTIDADE DO SACRIFÍCIO E DE CULTO (LV 17) :
Usando-se a terminologia atual , a primei ra regulamentação hav i-
da foi a da Sant idade do Sacri f ício e do Cul to:
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a A a r ã o e a o s s e u s f i l h o s , e a o s I s r a e l i t a s , e
d i z e - l h e s : I s t o é o q u e Ia h w e h t e m o r d e n a d o : Q u a l q u e r I s r a e l i t a q u e i m o l a r b o i , o u c o r d e i r o , o u c a b r a , d e n t r o o u f o r a d o a c a m p a m e n t o , e n ã o o t r o u x e r à p o r t a
d a t e n d a d a r e u n i ã o , p a r a o f e r e c ê - l o c o m o o f e r t a a Ia h w e h d i a n t e d o t a b e r n á c u l o
d e Ia h w e h , a e s s e h o m e m s e r á r é u d o s a n g u e ; d e r r a m o u s a n g u e , p e l o q u e s e r á e x t i r p a d o d o m e i o d o s e u p o v o . P o r i s s o o s f i l h o s d e I s r a e l t r a g a m a s v í t i m a s
q u e o f e r e c e m n o c a m p o , i s t o é , a s t r a g a m a Ia h w e h , à p o r t a d a t e n d a d a r e u n i ã o ,
e n t r e g a n d o - a s a o s a c e r d o t e p a r a q u e a s o f e r e ç a p o r s a c r i f í c i o s p a c í f i c o s a Ia h -w e h . E o s a c e r d o t e e s p a r g i r á o s a n g u e s o b r e o a l t a r d e I a h w e h , à p o r t a d a t e n d a
d a r e u n i ã o , e q u e i m a r á a g o r d u r a e m s u a v e f r a g r â n c i a a Ia h w e h " ( Lv 1 7 , 1 - 6 ) .
45
Desde o Dilúvio , não é tolerada a matança indiscriminada d e
homens e de animais , por cujo derramamento do sangue se responde de
igual maneira, veda ndo-se totalmente o seu consumo:
" A c a r n e , p o r é m , c o m s u a v i d a , i s t o é , c o m s e u s a n g u e , n ã o c o m e r e i s . C e r t a m e n -t e p e d i r e i s a t i s f a ç ã o d o v o s s o s a n g u e , d o s a n g u e d a s v o s s a s v i d a s ; d e t o d o a n i -
m a l a p e d i r e i ; c o m o t a m b é m d o h o m e m . . . " ( G n 9 , 4 - 5 ) .
O sangue e o respei to por ele torna -se essencial ao Sacri f ício
(Lv 17,11.14) e é a razão dos primeiros cuidados a serem observ ados
numa Sant idade mais vol tada ao interior . Assim, p or ser Vida, só pode
ser vert ido para o Autor da Vida em vir tude do que vigorava a regra de
não haver abate sem o r i tual do S acri f ício , com respei to ao sangue:
" T a m b é m , q u a l q u e r h o m e m d a c a s a d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s q u e h a b i t a m e n t r e e l e s , q u e c o m e r a l g u m s a n g u e , c o n t r a e s s a p e s s o a v o l t a r e i o m e u r o s t o , e a
e x t i r p a r e i d o s e u p o v o . P o r q u e a v i d a d a c a r n e e s t á n o s a n g u e ; e v o - l o t e n h o d a -
d o s o b r e o a l t a r , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o p e l a s v o s s a s f a l t a s ; p o r q u a n t o é o s a n g u e q u e f a z e x p i a ç ã o , e m v i r t u d e d a v i d a q u e e s t á n e l e . P o r t a n t o t e n h o d i t o a o s f i -
l h o s d e I s r a e l : N e n h u m d e v ó s c o m e r á s a n g u e ; n e m o e s t r a n g e i r o q u e h a b i t a e n -
t r e v ó s c o m e r á s a n g u e . T a m b é m , q u a l q u e r h o m e m d o s f i l h o s d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s q u e h a b i t a m en t r e e l e s , q u e a p a n h a r c a ç a d e f e r a o u d e a v e q u e s e
p o d e c o m e r , d e r r a m a r á o s a n g u e d e l a e o c o b r i r á c o m t e r r a . P o i s , a v i d a d e t o d a
a c a r n e e s t á n o s e u s a n g u e ; p o r i s s o e u d i s s e a o s f i l h o s d e I s r a e l : N ã o c o m e r e i s o s a n g u e d e n e n h u m a c a r n e , p o r q u e a v i d a d e t o d a a c a r n e é o s e u s a n g u e ; q u a l -
q u e r q u e o c o m e r s e r á e x t i r p a d o " ( L v 1 7 , 1 0 - 1 4 ) .
A Vida é um Dom de Deus, só a Ele pertence, e ela é e ass im se
acredi tava inseparável do sangue , motivo porque é Iahweh quem o tem
dado sobre o al tar , numa concessão que faz apenas e tão somente , "pa-
ra fazer expiação pelas vossas fal tas". Não permite o seu consumo c o-
mo al imento, nem dos animais puros abat idos em caça, dos quais "de r-
ramar-se-á o sangue e o cobri rá com terra". E é por causa disso ta m-
bém que se torna necessário, indispensável mesmo, que "qualquer Is-
rael i ta que imolar boi , ou cordei ro, ou cabra, dentro ou fora do aca m-
pamento, e não o t rouxer à porta da Tenda da Reunião para oferecê-lo
como oferenda a Iahweh diante do Tabernáculo de Iahweh, esse h o-
mem será réu do sangue; derramou sangue, pelo que se rá ex t i rpado do
meio de seu povo" (Lv 17,3 -4) . Com isso já se anuncia a futura ex i-
gência da unidade de santu ário:
" E n t ã o h a v e r á u m l u g a r q u e Ia h w e h o v o s s o D e u s e s c o l h e r á p a r a a l i f a z e r h a b i -
t a r o s e u n o m e ; a e s s e l u g a r t r a r e i s t u d o o q u e e u v o s o r d e n o : o s v o s s o s h o l o -
c a u s t o s e s a c r i f í c i o s , o s v o s s o s d í z i m o s , a v o s s a c o n t r i b u i ç ã o e t u d o o q u e d e m e l h o r o f e r e c e r d e s a o S e n h o r e m c u m p r i m e n t o d o s v o t o s q u e f i z e r d e s . E v o s a -
l e g r a r e i s p e r a n t e Ia h w e h o v o s s o D e u s , v ó s , v o s s o s f i l h o s e v o s s a s f i l h a s , v o s -
s o s s e r v o s e v o s s a s s e r v a s ( . . . ) . G u a r d a - t e d e o f e r e c e r e s o s t e u s h o l o c a u s t o s e m q u a l q u e r l u g a r q u e v i r e s ; m a s n o l u g a r q u e Ia h w e h e s c o l h e r ( . . . ) a l i o f e r e c e r á s
o s t e u s h o l o c a u s t o s , e a l i f a r á s t u d o o q u e e u t e o r d e n o " ( D t 1 2 , 1 1 - 1 4 ) .
”. . . a esse homem será imputado o sangue; derramou sangue, p e-
lo que será ex t i rpado do seu povo" - é a violação da Lei do Respei to à
Vida, seja humana, seja animal , pois a vida pertence só a Ia hweh pelo
que Ele mesmo punirá o culpado, pois "contra essa pessoa vol tarei o
meu rosto" (Lv 17,10) "ext i rpando-a do meio do povo" (Lv 17,4) , ve r -
dadeira excomunhão. Esse respei to pelo sangue vai v igorar ainda nos
primórdios do Cris t i anismo:
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" P o r q u e p a r e c e u b e m a o E s p í r i t o S a n t o e a n ó s n ã o v o s i m p o r m a i o r e n c a r g o a -l é m d e s t a s c o i s a s n e c e s s á r i a s : Q u e v o s a b s t e n h a i s d a s c o i s a s s a c r i f i c a d a s a o s
í d o l o s , e d o s a n g u e , e d a c a r n e s u f o c a d a , e d a p r o s t i t u i ç ã o ; e d e s t a s c o i s a s f a -
r e i s b e m d e v o s g u a r d a r . S a u d a ç õ e s " ( A t 1 5 , 2 8 - 2 9 ) / " T o d a v i a , q u a n t o a o s g e n -t i o s q u e t ê m c r i d o j á e s c r e v e m o s , d a n d o o p a r e c e r q u e s e a b s t e n h a m d o q u e é
s a c r i f i c a d o a o s í d o l o s , d o s a n g u e , d a s c a r n e s d o s a n i m a i s s u f o c a d o s e d a p r o s t i -
t u i ç ã o " ( A t 2 1 , 2 5 ) .
3.10.2 -- A LEI DO AMOR AO PRÓXIMO E A SANTIDADE DOS COSTUMES :
A narrat iva vem impregnada de refrãos , que fazem dos vers ícu-
los por eles separados , episódios de uma formulação moral . São ch a-
madas de atenção para o princípio ordenador da Sant id ade a que Is rael
es tá comprometido, e a sua fonte em Iahweh para se dis t inguir dos o u-
t ros povos de costumes r eprovados:
" N ã o f a r e i s s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d o E g i t o , e m q u e h a b i t a s t e s ; n e m f a r e i s
s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d e C a n a ã , p a r a a q u a l e u v o s l e v o ; n e m a n d a r e i s s e -
g u n d o o s s e u s e s t a t u t o s . O s m e u s p r e c e i t o s o b s e r v a r e i s , e o s m e u s e s t a t u t o s g u a r d a r e i s , p a r a a n d a r d e s n e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . G u a r d a r e i s , p o i s ,
o s m e u s e s t a t u t o s e a s m i n h a s o r d e n a n ç a s , p e l a s q u a i s o h o m e m , o b s e r v a n d o - a s ,
v i v e r á . E u s o u Ia h w e h " ( Lv 1 8 , 3 - 5 ; c f r . t b . 1 8 , 2 4 - 3 0 ) .
Considerando o paganismo do Egi to , reafi rma a Aliança e o De-
cálogo, unindo-os no futuro à Terra P rometida ou Terra de Canaã, c u-
jos costumes também são por Iahweh rechaçados como pecamin osos.
Apresenta então desenvolvimentos at inentes à Sant idade e à dignidade
da natureza humana no Casamento quanto às uniões i l íci tas , t idas co-
mo incestuosas , bem como alguns t ipos de consanguinidade, nem sem-
pre concordes com os atuais cujas causas não cient í f icas , mas rel igio-
sas se desconhecem quase sempre. Combate-se o adul tér io de ambos os
cônjuges (Lv 18,20 / Lv 20,10), e a proibição de se entregar os de s-
cendentes a Moloc em sacri f í cio, bem como a sodomia , juntamente
com o comércio carnal com animais , o que leva a crer numa conden a-
ção da prost i tuição s agrada que incluía homens, comum aos povos de
então. Tudo vai desaguar naquele gri to central que já ecoa e vai ecoar
por toda a vida Is raelense:
" . . . s e r e i s s a n t o s , p o r q u e e u , Ia h w e h v o s s o D e u s , s o u s a n t o " / " P o r t a n t o s a n t i f i -
c a i - v o s , e s e d e s a n t o s , p o i s e u s o u Ia h w e h v o s s o D e u s . G u a r d a i o s m e u s e s t a t u -t o s , e c u m p r i - o s . E u s o u Ia h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o " ( L v 1 9 , 2 / Lv 2 0 , 7 - 8 ; c f r .
t b . : E x 2 2 , 3 0 a / Lv 1 1 , 4 5 c ) .
Não se pode deixar de perceber a presença salpicada de f rases
desse t ipo espalhadas por todo o contexto , seguido e encimado por
normas de conduta moral , advindas quase todas do Decálogo. Uma es-
pécie de l is ta de exemplo s de algumas fal tas que não se deve m come-
ter , caracterizando-se pelo diapasão cont ínuo à fonte interior das no r-
mas de procedimentos que deve m orientar o Israel i ta . Além disso, esse
desenrolar at inge a regra básica e genér ica profundame nte v inculada a
Iahweh:
" N ã o t e v i n g a r á s n e m g u a r d a r á s i r a c o n t r a o s f i l h o s d o t e u p o v o ; m a s a m a r á s o t e u p r ó x i m o c o m o a t i m e s m o . E u s o u Ia h w e h . G u a r d a r e i s a s m i n h a s l e i s " ( L v
1 9 , 1 8 - 1 9 a ) .
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" . . . amarás o teu próximo como a t i mesmo Eu sou Iahweh" – es-
se precei to vai ser “cum prido” (Mt 5,17) por Jesus Cris to não mais se
rest r ingindo “o teu próximo” aos ". . . f i lhos do teu povo. . ." , mas a m-
pliando-o a qualquer outra pessoa com quem de alguma forma se rel a-
cione, amando-a por f idel idade e obediência a Iahweh que os ma ndou
"guardar as minhas leis" (Lv 19,19a). Jesus ainda ampliará a n oção de
próximo, es tendendo-a a todo "aquele com quem se deve usar de mis e-
r icórdia", com o que a univers al iza no Amor de Deus:
" E e i s q u e s e l e v a n t o u c e r t o d o u t o r d a l e i e , p a r a o e x p e r i m e n t a r , d i s s e : M e s t r e , q u e f a r e i p a r a h e r d a r a v i d a e t e r n a ? P e r g u n t o u - l h e J e s u s : Q u e e s t á e s c r i t o n a
l e i ? C o m o l ê s t u ? R e s p o n d e u - l h e e l e : A m a r á s a o S e n h o r t e u D e u s d e t o d o o t e u
c o r a ç ã o , d e t o d a a t u a a l m a , d e t o d a s a s t u a s f o r ç a s e d e t o d o o t e u e n t e n d i m e n -t o , e a o t e u p r ó x i m o c o m o a t i m e s m o . T o r n o u - l h e J e s u s : R e s p o n d e s t e b e m ; f a z e
i s s o , e v i v e r á s . E l e , p o r é m , q u e r e n d o j u s t i f i c a r - s e , p e r g u n t o u a J e s u s : E q u e m é
o m e u p r ó x i m o ? J e s u s , p r o s s e g u i n d o , d i s s e : U m h o m e m d e s c i a d e J e r u s a l é m a
J e r i c ó , e c a i u n a s m ã o s d e s a l t e a d o r e s , o s q u a i s o d e s p o j a r a m e e s p a n c a n d o - o ,
s e r e t i r a r a m , d e i x a n d o - o m e i o m o r t o . C a s u a l m e n t e , d e s c i a p e l o m e s m o c a m i n h o
c e r t o s a c e r d o t e ; e v e n d o - o , p a s s o u d e l a r g o . D e i g u a l m o d o t a m b é m u m l e v i t a c h e g o u à q u e l e l u g a r , v i u - o , e p a s s o u d e l a r g o . M a s u m s a m a r i t a n o , q u e i a d e v i -
a g e m , c h e g o u p e r t o d e l e e , v e n d o - o , e n c h e u - s e d e c o m p a i x ã o ; e a p r o x i m a n d o - s e ,
a t o u - l h e a s f e r i d a s , d e i t a n d o n e l a s a z e i t e e v i n h o ; e p o n d o - o s o b r e a s u a c a v a l -g a d u r a , l e v o u - o p a r a u m a e s t a l a g e m e c u i d o u d e l e . N o d i a s e g u i n t e t i r o u d o i s
d e n á r i o s , d e u - o s a o h o s p e d e i r o e d i s s e - l h e : C u i d a d e l e ; e t u d o o q u e g a s t a r e s a
m a i s , e u t o p a g a r e i q u a n d o v o l t a r . Q u a l , p o i s , d e s t e s t r ê s t e p a r e c e t e r s i d o o p r ó x i m o d a q u e l e q u e c a i u n a s m ã o s d o s s a l t e a d o r e s ? R e s p o n d e u o d o u t o r d a l e i :
A q u e l e q u e u s o u d e m i s e r i c ó r d i a p a r a c o m e l e . D i s s e - l h e , p o i s , J e s u s : V a i , e f a -
z e t u o m e s m o " ( Lc 1 0 , 2 5 - 3 7 ) .
Esse episódio comprova a necessidade de se conhecer o Ant igo
Testamento para se compreender o Novo. Ao que se perc ebe, de início ,
"um homem descia de Jerusalém a Jericó", isso é , pelas local idades
que menciona era um israel i ta , inimigo do povo da Samaria por causa
da idolatr ia pagã lá es tabelecida (2Rs 17,24 -41). Foi assa l tado e muito
fer ido "deixando-o meio morto". Foi um samari tano "que se e ncheu de
compaixão e do inimigo cuidou", após ter passado ao largo um sace r-
dote e um levi ta [ respect ivamente da Casa de Aarão (Ex 29) e da Tribo
de Levi (Nm 8,17-19), detentores do sacerdócio perene] . A ssim, Jesus
ressal ta que passa ao largo um sacerdote "pleno" e um "auxi liar" sem
pres tar socorro ao moribundo, o que um inimigo faz , um samari tano.
Jesus não os es tá condenando, mas mostrando ao doutor da lei ,
que "querendo just i f icar -se” perguntou -Lhe quem era o seu próx imo,
com um exemplo prát ico, a ef iciência do verdadeiro Amor ao Pr óximo.
Amor bem diferente daquele que a Lei de Sant idade exigia, impedindo
o Sacerdote que se aproximasse de uma pessoa morta (o moribundo foi
"deixado meio morto") , sob pena de se tornar "impura" (Lv 10,6;
21,1.11 / Nm 6,6 / „e não se chegará a cadáver a lgum; nem sequer por
causa de seu pai ou de sua mãe se contaminará‟ Lv 21,11), ao contr á-
r io do modo de agir do inimigo e es t rangeiro samari tano, que também
não era Sacerdote. Contrasta ainda com o pr econcei to legal de que "o
próximo seria um dos f i lhos de seu povo" o fato de ter s ido um “in i -
migo” o verdadeiro "próximo do ferido", “aquele que usou de miser i -
córdia para com e le”.
Vários exemplos de s i tuações , envolvendo o "amor ao próximo,
'dos f i lhos de seu povo'" são mencionados, após a repet ição da repu lsa
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que Iahweh sente pelos costumes dos gent ios , não os querendo prat i -
cados pelos Israel i tas , o Povo de Deus:
" N ã o v o s c o n t a m i n e i s c o m n e n h u m a d e s s a s c o i s a s , p o r q u e c o m t o d a s e l a s s e c o n t a m i n a r a m a s n a ç õ e s q u e e u e x p u l s o d e d i a n t e d e v ó s ; e , p o r q u a n t o a t e r r a
e s t á c o n t a m i n a d a , e u v i s i t o s o b r e e l a a s u a i n i q u i d a d e , e a t e r r a v o m i t a o s s e u s
h a b i t a n t e s . V ó s , p o i s , g u a r d a r e i s o s m e u s e s t a t u t o s e o s m e u s p r e c e i t o s , e n e -n h u m a d e s s a s a b o m i n a ç õ e s f a r e i s , n e m o n a t u r a l , n e m o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i -
n a e n t r e v ó s . P o r q u e t o d a s e s s a s a b o m i n a ç õ e s c o m e t e r a m o s h o m e n s d a t e r r a ,
q u e n e l a e s t a v a m a n t e s d e v ó s , e a t e r r a f i c o u c o n t a m i n a d a . P a r a q u e a t e r r a n ã o s e j a c o n t a m i n a d a p o r v ó s e n ã o v o s v o m i t e t a m b é m a v ó s , c o m o v o m i t o u a n a ç ã o
q u e n e l a e s t a v a a n t e s d e v ó s . P o i s q u a l q u e r q u e c o m e t e r a l g u m a d e s s a s a b o m i -
n a ç õ e s , p o i s a q u e l e s q u e a s c o m e t e r e m s e r ã o e x t i r p a d o s d o s e u p o v o . P o r t a n t o g u a r d a r e i s o m e u m a n d a m e n t o , d e m o d o q u e n ã o c a i a i s e m n e n h u m d e s s e s a b o -
m i n á v e i s c o s t u m e s q u e a n t e s d e v ó s f o r a m s e g u i d o s , e p a r a q u e n ã o v o s c o n t a -
m i n e i s c o m e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s " ( Lv 1 8 , 2 4 - 3 0 ) .
Dentre essas s i tuações destacam -se vár ios deveres de just iça ao
próximo de então, "outro Israel i ta ", pro ibindo-se o roubo, a fraude, a
ment i ra, o falso juramento, a opressão e o prejuízo do menos favoreci-
do (Lv 19,11-13.35.36), a parcial idade nos julgamentos (Lv 19,15s) , o
desrespei to aos pais e aos velhos, bem como aos est rangeiros (Lv
19,3.32-34), o sadismo contra enfermos e portadores de defei tos f ís i -
cos (Lv 19,14), a maledicência, a di famação, o ódio e a vingança (Lv
19,16-18); algumas disposições quanto aos pobres (Lv 19,9s .13);
quanto aos variados costumes ét icos de então e a condenação de sort i -
légios , incisões de luto, tatuagem, recorrer -se a fei t iceiros e consul tar
adivinhos (Lv 19,19 .26 -31), a "incircuncisão" de f rutas nas terras co n-
quis tadas , delas só se p odendo al imentar após t rês anos de puri f icação
e um ano de consagração por serem contaminadas com as impur ezas
dos costumes pagãos (Lv 19,23 -25); quanto ao adul tér io com uma e s-
crava, uma exceção puni t iva (Lv 19,20-22) e muitos outros casos de
lei tura fáci l , a que se remete o estudo. Destacam-se algumas recomen-
dações quanto aos Sacri f ícios Pacíf icos , mais l igados aos leigos, ún i-
cos em que esses part icipavam da manducação das oferendas, inst r uin-
do-os para não se perder a ef icácia pela inobservância do prazo r i tual
para consumi-las , não incorrer em fal ta muito grave e por isso ser "e x-
t i rpado do meio de seu povo" (Lv 19,5 -8) . São ordenanças rel igi osas ,
ét icas e sociais , de colorido profundamente interior , em que se dest a-
cava, principalmente , a busca s is temát ica da Sant idade de vida, tão
cara a Iahweh, que assim "os sant i f icaria" (Lv 20,8) .
Segue um elenco de penas de morte , a que se sujei tam os tran s-
gressores a começar com a idolatr ia e os s acri f ícios humanos a Moloc,
o adul tér io , o comércio carnal entre homens e animais e vários outros
exemplos de desordens e taras sexuais . Também, mencionam -se exem-
plos de uniões t idas como i l íci tas e então pr át icas dos outros povos e
as punições consequentes que se es tendem aos que se omitem em p uni-
los (Lv 20,1-30):
" G u a r d a r e i s , p o i s , t o d o s o s m e u s e s t a t u t o s e t o d o s o s m e u s p r e c e i t o s , e o s c u m -
p r i r e i s ; a f i m d e q u e a t e r r a , p a r a a q u a l e u v o s l e v o , p a r a n e l a m o r a r d e s , n ã o v o s v o m i t e . E n ã o a n d a r e i s n o s c o s t u m e s d o s p o v o s q u e e u e x p u l s o d e d i a n t e d e
v ó s ; p o r q u e e l e s f i z e r a m t o d a s e s t a s c o i s a s , e e u o s a b o m i n e i . M a s a v ó s v o s t e -
n h o d i t o : H e r d a r e i s a s u a t e r r a , e e u v o - l a d a r e i p a r a a p o s s u i r d e s , t e r r a q u e m a n a l e i t e e m e l . E u s o u I a h w e h o v o s s o D e u s , q u e v o s s e p a r e i d o s p o v o s . F a -
r e i s , p o i s , d i f e r e n ç a e n t r e o s a n i m a i s l i m p o s e o s i m u n d o s , e e n t r e a s a v e s i -
m u n d a s e a s l i m p a s ; e n ã o f a r e i s a b o m i n á v e i s a s v o s s a s a l m a s p o r c a u s a d e a n i -m a i s , o u d e a v e s , o u d e q u a l q u e r c o i s a d e t u d o d e q u e e s t á c h e i a a t e r r a , a s
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q u a i s c o i s a s a p a r t e i d e v ó s c o m o i m u n d a s . E s e r e i s p a r a m i m s a n t o s ; p o r q u e e u , I a h w e h , s o u s a n t o , e v o s s e p a r e i d o s p o v o s , p a r a s e r d es m e u s . O h o m e m o u m u -
l h e r q u e c o n s u l t a r o s m o r t o s o u f o r f e i t i c e i r o , c e r t a m e n t e s e r á m o r t o . S e r ã o a -
p e d r e j a d o s , e o s e u s a n g u e s e r á s o b r e e l e s " ( L v 2 0 , 2 2 - 2 7 ) .
Não há de se qual i f icar de cruéis a essas penas , comparando-as
com as conquis tas atuais , mas lembrar -se de que, naquela época, eram
das profundamente vinculadas à Aliança, tornando-se então uma ques-
tão de vida ou morte e de verdadeira sobrevivência, tal como seria a-
tualmente a prát ica de um ato de terrorismo ou t ráf ico de drogas . Não
se pode julgar o passado com as racional izações e conquis tas atuais .
3.10.3 - A LEI DE SANTIDADE DOS SACERDOTES E DAS OF E-RENDAS
O que o Sacerdócio representava para o Povo de Israel é faci l -
mente compreensível pela es t rutura teocrát ica da nação que se formava
a part i r da Aliança contraída com os Patr iarcas e perenizada num Sa-
cri f ício. Daí em diante e por meio d o sacerdócio , seguindo o mesmo
caminho e permanecendo na presença de Iahweh , buscou-se aprofundar
cada vez mais o relacionamento e d‟Ele receber as bênçãos de que c a-
recia o Povo até rat i f icar a Aliança no Si nai . A Aliança é um Trato ,
um Contrato , inal terável uni lateralmente, a part i r do súdi to, já contra-
ída no Sinai nas condições di tadas por Iahweh , onde e quando se es t ru-
turou. Sempre desempenhou um papel medianeiro entre ambos e era
tamanha a veneração que se lhe devotava que nem mesmo a s imples
refeição podia ser tomada sem se considerar as ma is elementares r e-
gras sacri f icais a part i r da veneração do sangue como fonte da vida e
sua rest i tuição ao so lo, bem como, não se nutr indo de animais class i f i -
cados como impuros . Com a unif icação do santuário até mesmo a Pá s-
coa, solenidade famil iar por excel ência, terá o seu cordeiro imol ado no
Templo e o Sangue derram ado no Altar por um Sacerdote (2Cro 35,11
/ Dt 12). O Sacerdócio, por causa dele, vai se tornar o centro de toda a
vida Israel i ta . Assim sendo, a Sant idade deles é mais r igorosamente
ex igida:
" F a l a a o s s a c e r d o t e s . . . S a n t o s s e r ã o p a r a s e u D e u s , e n ã o p r o f a n a r ã o o n o m e d o
s e u D e u s ; p o r q u e o f e r e c e m a s o f e r t a s q u e i m a d a s d e I a h w e h , q u e s ã o o p ã o d o s e u D e u s ; p o r t a n t o s e r ã o s a n t o s . ( . . . ) P o r t a n t o o s a n t i f i c a r á s ; p o r q u a n t o o f e r e c e
o p ã o d o t eu D e u s , s a n t o t e s e r á ; p o i s e u , I a h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o , s o u s a n t o "
( Lv 2 1 , 1 a . 6 . 8 ) .
Aqui aparece a cláss ica dis t inção que se es tabeleceu entre os S a-
cerdotes: "Aarão", aquele "sobre cuja cabeça foi derramado o óleo da
Unção" (Lv 8,12) e "os f i lhos de Aarão", elev ados ao sacerdócio em
conjunto com Aarão numa Unção "indireta e por aspersão" (Lv
8,13.24.30). Exigia-se mais Sant idade do Sumo Sacerdote por ca usa da
Unção direta que recebeu (Lv 21,10 -15 / comparar com 21,1 -9) para se
evi tar a contaminação direta do Sant uário e do Cul to por a lguma pr o-
fanação, degenerando-se toda a es t rutura cul tual . Caber - lhe-ia zelar
pela pureza de seus i rmãos e do cul to em vir tude da responsab i l idade
que assumira para o pleno desempenho de sua função sagrada. Assim o
50
sacerdote não poder ia se aproximar de um morto, mesmo que seu pai
ou mãe, nem exteriorizar os s inais de luto, nem então se afas tar do
Santuário e só poder ia tomar por esposa uma vi rgem:
" A q u e l e q u e é s u m o s a c e r d o t e e n t r e s e u s i r m ã o s , s o b r e c u j a c a b e ç a f o i d e r r a m a -d o o ó l e o d a u n ç ã o , e q u e f o i c o n s a g r a d o p a r a v e s t i r a s v e s t e s s a g r a d a s , n ã o
d e s c o b r i r á a c a b e ç a n e m r a s g a r á a s u a v e s t i d u r a ; e n ã o s e c h e g a r á a c a d á v e r a l -
g u m ; n e m s e q u e r p o r c a u s a d e s e u p a i o u d e s u a m ã e s e c o n t a m i n a r á ; n ã o s a i r á d o s a n t u á r i o , n e m p r o f a n a r á o s a n t u á r i o d o s e u D e u s ; p o i s a c o r o a d o ó l e o d a
u n ç ã o d o s e u D e u s e s t á s o b r e e l e . E u s o u Ia h w e h . E e l e t o m a r á p o r e s p o s a u m a
m u l h e r n a s u a v i r g i n d a d e . V i ú v a , o u r e p u d i a d a , o u d e s o n r a d a , o u p r o s t i t u t a , d e s t a s n ã o t o m a r á ; m a s v i r g e m d o s e u p o v o t o m a r á p o r m u l h e r . E n ã o p r o f a n a r á
a s u a d e s c e n d ê n c i a e n t r e o s e u p o v o ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h q u e o s a n t i f i c o " ( L v
2 1 , 1 0 - 1 5 ) .
Já "os f i lhos de Aarão" têm observâncias dis t intas e menos r ig o-
rosas:
" D e p o i s d i s s e Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s s a c e r d o t e s , f i l h o s d e A a r ã o , e d i z e -
l h e s : O s a c e r d o t e n ã o s e c o n t a m i n a r á p o r c a u s a d u m m o r t o e n t r e o s e u p o v o ,
s a l v o p o r u m s e u p a r e n t e m a i s c h e g a d o : p o r s u a m ã e o u p o r s e u p a i , p o r s e u f i -l h o o u p o r s u a f i l h a , p o r s e u i r m ã o , o u p o r s u a i r m ã v i r g e m , q u e l h e é c h e g a d a ,
q u e a i n d a n ã o t e m m a r i d o ; p o r e l a t a m b é m p o d e c o n t a m i n a r - s e . ( . . . ) N ã o t o m a -
r ã o m u l h e r p r o s t i t u t a o u d e s o n r a d a , n e m t o m a r ã o m u l h e r r e p u d i a d a d e s e u m a r i -d o ; p o i s o s a c e r d o t e é s a n t o p a r a s e u D e u s " ( Lv 2 1 , 1 - 7 ) .
Além disso, ex is tem as normas que se dest inam a ambos os S a-
cerdotes:
" N ã o f a r ã o o s s a c e r d o t e s c a l v a n a c a b e ç a , e n ã o r a p a r ã o o s c a n t o s d a b a r b a , n e m
f a r ã o l a c e r a ç õ e s n a s u a c a r n e . S a n t o s s e r ã o p a r a s e u D e u s , e n ã o p r o f a n a r ã o o n o m e d o s e u D e u s ; p o r q u e o f e r e c e m a s o f e r t a s q u e i m a d a s d e Ia h w e h , q u e s ã o o
p ã o d o s e u D e u s ; p o r t a n t o s e r ã o s a n t o s ( . . . ) P o r t a n t o o s a n t i f i c a r á s ; p o r q u a n t o
o f e r e c e o p ã o d o t e u D e u s , s a n t o t e s e r á ; p o i s e u , I a h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o , s o u s a n t o . E s e a f i l h a d u m s a c e r d o t e s e p r o f a n a r , t o r n a n d o - s e p r o s t i t u t a , p r o f a n a a
s e u p a i ; n o f o g o s e r á q u e i m a d a " ( L v 2 1 , 5 - 6 . 8 - 9 ) .
A precaução com o casamento que contraíam era devido à re s-
ponsabi l idade famil iar assumida para o exe rcício do Sacerdócio que
não poderia correr o r isco de se contaminar com o profano, nem muito
menos se deformar ou se desviar para a infidel id ade, pela mistura com
outros povos ou com costumes e supers t ições pagãs :
" E n ã o p r o f a n a r á a s u a d e s c e n d ê n c i a e n t r e o s e u p o v o ; p o r q u e e u s o u o S e n h o r
q u e o s a n t i f i c o " ( L v 2 1 , 1 5 ) .
Ainda o sacerdote não se esquecerá da advertência fei ta por oc a-
s ião do ocorrido a Nadab e Abiú , t amanha era a Sant idade Sacerd otal
que se ex igia , pelas consequências advindas para todos os i rmãos do
povo e pela responsabi l idade que det inham principalmente no past o-
reio deles:
" D i s s e M o i s é s a A a r ã o : I s t o é o q u e Ia h w e h d e c l a r o u q u a n d o d i s s e : " S e r e i s a n t i -f i c a d o n a q u e l e s q u e s e c h e g a r e m a m i m , e s e r e i g l o r i f i c a d o d i a n t e d e t o d o o p o -
v o " . O q u e o u v i n d o A a r ã o , s e c a l o u " / " . . . p a r a q u e n ã o m o r r a i s , n e m v e n h a a i r a
d e Ia h w e h s o b r e t o d o o p o v o . . . " ( Lv 1 0 , 3 . 6 c ) .
" . . . serei glori f icado di ante de todo o povo" e ". . . para que não
morrais , nem venha a i ra de Iahweh sobre todo o povo. . . " - Assim se
resumia a relação de reciprocidade entre ambos em que a Sant idade do
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Sacerdote ref let ia -se sobre o Povo. E tamanha era a suntuosidade que
ornava o Cul to Israel i ta que se rejei tava no cerimonial toda imperfe i -
ção possível , até mesmo humana, como uma homenagem à majest ade
de Iahweh:
" D i s s e m a i s o Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a A a r ã o , d i z e n d o : N i n g u é m d e n t r e o s t e u s d e s c e n d e n t e s , p o r t o d a s a s s u a s g e r a ç õ e s , q u e t i v e r d e f e i t o , s e c h e g a r á p a r a o f e -
r e c e r o p ã o d o s e u D e u s . ( . . . ) n e n h u m h o m e m d e n t r e o s d e s c e n d e n t e s d e A a r ã o ,
o s a c e r d o t e , q u e t i v e r a l g u m d e f e i t o , s e c h e g a r á p a r a o f e r e c e r a s o f e r t a s q u e i -m a d a s d o Ia h w e h ; e l e t e m d e f e i t o ; n ã o s e c h e g a r á p a r a o f e r e c e r o p ã o d o s e u
D e u s " ( Lv 2 1 , 1 6 - 2 1 ) .
Porém, se t ivesse algum defei to o descendente de Aarão, sace r-
dote por direi to perpétuo (Ex 29), não part iciparia de seu direi to nas
partes que lhe eram consagradas nos vários Sacri f ícios , apenas se al i -
mentando delas com a sua famíl ia , não podendo ofertá- las :
" C o m e r á d o p ã o d o s e u D e u s , t a n t o d o s a n t í s s i m o c o m o d o s a n t o ; c o n t u d o , n ã o e n t r a r á a t é o v é u , n e m s e c h e g a r á a o a l t a r , p o r q u a n t o t e m d e f e i t o ; p a r a q u e n ã o
p r o f a n e o s m e u s s a n t u á r i o s ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h q u e o s s a n t i f i c o . M o i s é s ,
p o i s , a s s i m f a l o u a A a r ã o e a s e u s f i l h o s , e a t o d o s o s f i l h o s d e I s r a e l " ( L v 2 1 , 2 2 - 2 4 ) .
O Sacerdócio , por s i , só não impedia o Sacerdote de se contam i-
nar com alguma impureza legal afastando -o do Santuário como qua l-
quer Israe l i ta , bem como do exercício de sua função sagrada. Comp e-
t ia- lhe puri f icar -se conforme as normas vigentes e devotar a Iahweh
uma maior homenagem de vida sant i f icada, tendo -se em vis ta os com-
promissos assumidos na Aliança e co rpori f icados desde o Egi to:
" D i z e a A a r ã o e a s e u s f i l h o s q u e s e a b s t e n h a m d a s c o i s a s s a g r a d a s d o s f i l h o s
d e I s r a e l , a s q u a i s e l e s a m i m m e s a n t i f i c a m , e q u e n ã o p r o f a n e m o m e u s a n t o n o m e . E u s o u Ia h w e h . D i z e - l h e s : T o d o h o m e m d e n t r e o s v o s s o s d e s c e n d e n t e s p e -
l a s v o s s a s g e r a ç õ e s q u e , t e n d o s o b r e s i a s u a i m u n d í c i a , s e c h e g a r à s c o i s a s s a -
g r a d a s q u e o s f i l h o s d e I s r a e l s a n t i f i c a m a o Ia h w e h , a q u e l a a l m a s e r á e x t i r p a d a d a m i n h a p r e s e n ç a . E u s o u I a h w e h ( . . . ) s e j a q u a l f o r a s u a i m u n d í c i a , o h o m e m
q u e t o c a r e m t a i s c o i s a s s e r á i m u n d o a t é a t a r d e , e n ã o c o m e r á d a s c o i s a s s a g r a -
d a s , m a s b a n h a r á o s e u c o r p o e m á g u a e , p o s t o o s o l , e n t ã o s e r á l i m p o ; d e p o i s c o m e r á d a s c o i s a s s a g r a d a s , p o r q u e i s s o é o s e u p ã o ( . . . ) G u a r d a r e i s o s m e u s
m a n d a m e n t o s , e o s c u m p r i r e i s . E u s o u Ia h w e h . N ã o p r o f a n a r e i s o m e u s a n t o n o -
m e , e s e r e i s a n t i f i c a d o n o m e i o d o s f i l h o s d e I s r a e l . E u s o u Ia h w e h q u e v o s s a n -t i f i c o , q u e v o s t i r e i d a t e r r a d o E g i t o p a r a s e r o v o s s o D e u s . E u s o u Ia h w e h "
( Lv 2 2 , 2 - 4 . 5 b - 7 . 3 1 - 3 3 ) .
Da mesma forma, as ví t imas dest inadas às Oferendas não podiam
apresentar nenhum defei to f ís ico, nenhuma imperfeição, numa hom e-
nagem submissa e solene à majestade de Iahweh a quem se ofereceria
o que havia de melhor no reb anho, nunca um refugo:
" F a l a a A a r ã o , e a s e u s f i l h o s , e a t o d o s o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : T o d o
h o m e m d a c a s a d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s e m Is r a e l , q u e o f e r e c e r a s u a o f e r -
t a , s e j a d o s s e u s v o t o s , s e j a d a s s u a s o f e r t a s v o l u n t á r i a s q u e o f e r e c e r e m a o S e -n h o r e m h o l o c a u s t o , p a r a q u e s e j a i s a c e i t o s , o f e r e c e r e i s m a c h o s e m d e f e i t o , o u
d o s n o v i l h o s , o u d o s c o r d e i r o s , o u d a s c a b r a s . N e n h u m a c o i s a , p o r é m , q u e t i v e r
d e f e i t o o f e r e c e r e i s , p o r q u e n ã o s e r á a c e i t a a v o s s o f a v o r . E , q u a n d o a l g u é m o f e -r e c e r s a c r i f í c i o d e o f e r t a p a c í f i c a a o S e n h o r p a r a c u m p r i r u m v o t o , o u p a r a o -
f e r t a v o l u n t á r i a , s e j a d o g a d o v a c u m , s e j a d o g a d o m i ú d o , o a n i m a l s e r á p e r f e i -
t o , p a r a q u e s e j a a c e i t o ; n en h u m d e f e i t o h a v e r á n e l e " ( L v 2 2 , 1 8 - 2 1 ) .
Isso , ao lado de algumas aparentes superst ições , como deixar a
cr ia com a mãe no mínimo sete dias e somente então a imolar , bem
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como, não matar a mãe e sua cri a no mesmo dia (Lv 22,27) sob pena
de não ser acei ta a oferta. Da mesma forma qualquer sacri f ício, mesmo
o de Ação de Graças , deveria ser alvo de f idel id ade a todos os detalhes
r i tuais "de modo a serdes ace i tos":
" E , q u a n d o o f e r e c e r d e s a Ia h w e h s a c r i f í c i o d e a ç ã o d e g r a ç a s , o f e r e c ê - l o - e i s d e m o d o a s e r d e s a c e i t o s . N o m e s m o d i a s e c o m e r á ; n a d a d e i x a r e i s f i c a r d e l e a t é
p e l a m a n h ã . E u s o u Ia h w e h . G u a r d a r e i s o s m e u s m a n d a m e n t o s , e o s c u m p r i r e i s .
E u s o u Ia h w e h . N ã o p r o f a n a r e i s o m e u s a n t o n o m e , e s e r e i s a n t i f i c a d o n o m e i o d o s f i l h o s d e I s r a e l . E u s o u Ia h w e h q u e v o s s a n t i f i c o , q u e v o s t i r e i d a t e r r a d o
E g i t o p a r a s e r o v o s s o D e u s . E u s o u Ia h w e h " ( L v 2 2 , 2 9 - 3 3 ) .
" . . . e serei sant i f icado no meio dos f i lhos de Is rael" - Não é pos-
s ível passar adiante sem se quest ion ar: como é possível "ser sant i f ic a-
do" aquele que sant i f ica, ou seja, "Iahweh que vos sant i f ico . . ." É des-
de "que vos t i rei da terra do Egi to para ser o vosso Deus", ind ico-lhes
como adquir i r a Sant idade que oferecia ex teriorizada na conduta e no
comportamento de todos e de cada um. Então, dessa manei ra, o nome
de Iahweh, um Deus Santo, seria glori f icado e reconhecido. A ssim foi
no Egi to onde se impôs pelos prodígios prat icados. Jesus vai incluir
isso na Oração do Pai Nosso (Mt 6,9 -10 e Lc 11,2) , vinculando o "san-
t i f icado seja o teu nome" com o "venha o teu reino" e "seja fe i ta a tua
vontade":
" P o r t a n t o , o r a i v ó s d e s t e m o d o : P a i n o s s o q u e e s t á s n o s c é u s , s a n t i f i c a d o s e j a o t e u n o m e ; v e n h a o t e u r e i n o , s e j a f e i t a a t u a v o n t a d e , a s s i m n a t e r r a c o m o n o
c é u . . . " ( M t 6 , 9 - 1 0 ) . / " A o q u e e l e l h e s d i s s e : Q u a n d o o r a r d e s , d i z e i : P a i , s a n t i -
f i c a d o s e j a o t e u n o m e ; v e n h a o t e u r e i n o ; . . . " ( Lc 1 1 , 2 ) .
O que rat i f icará dizendo ainda que as obras prat icadas pelos seus
discípulos devam br i lhar para que os homens, vendo -as , glor i f iquem a
Deus (Mt 5,14-16):
" V ó s s o i s a l u z d o m u n d o . N ã o s e p o d e e s c o n d e r u m a c i d a d e s i t u a d a s o b r e u m
m o n t e ; n e m o s q u e a c e n d e m u m a c a n d e i a a c o l o c a m d e b a i x o d o a l q u e i r e , m a s n o
c a n d e l a b r o , e a s s i m i l u m i n a a t o d o s q u e e s t ã o n a c a s a . A s s i m r e s p l a n d e ç a a v o s -s a l u z d i a n t e d o s h o m e n s , p a r a q u e v e j a m a s v o s s a s b o a s o b r a s , e g l o r i f i q u e m o
v o s s o P a i , q u e e s t á n o s c é u s " ( M t 5 , 1 4 - 1 6 ) .
Não é diferente do que ensina a Igreja:
" A S a n t i d a d e d e D e u s é o f o c o i n a c e s s í v e l d o s e u m i s t é r i o e t e r n o . A o q u e s e
m a n i f e s t o u d e l a n a c r i a ç ã o e n a h i s t ó r i a , a S a g r a d a E s c r i t u r a c h a m a G l ó r i a , a i r -
r a d i a ç ã o d a s u a m a j e s t a d e ( c f . S l 8 ; I s 6 , 3 ) . A o f a z e r o h o m e m " à s u a i m a g e m e s e m e l h a n ç a " ( G n 1 , 2 6 ) , D eu s " c o r o a - o d e g l ó r i a " ( S l 8 , 6 ) , m a s , a o p e c a r , o h o -
m e m é " p r i v a d o d a g l ó r i a d e D e u s " ( R m 3 , 2 3 ) . A p a r t i r d a í , D e u s v a i m a n i f e s t a r
a s u a S a n t i d a d e r e v e l a n d o e d a n d o o s e u n o m e , p a r a r e s t a u r a r o h o m e m " à i m a -g e m d o s e u C r i a d o r " ( C o l 3 , 1 0 ) " ( C a t e c i s m o d a Ig r e j a C a t ó l i c a n . º 2 8 0 9 ) .
3.11. - AS FESTAS RELIGIOSAS DE TODO O POVO DE ISRAEL (Lv 23-25):
Toda a es t rutura da Nação Israel i ta era comprometida , indesta-
cavelmente , na Aliança com Iahweh. Em vi r tude de ser um “Trato” ou
“Acordo” essa Aliança oferec ida pelo Criador à sua criatura essenci-
almente se completava e se integrava num relacioname nto rel igioso.
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Dele part ia e nele sempre desaguava. Além de normas comportame n-
tais que a exprimiam como união i rrevers ível , havia o cul to que vinha
completar a resposta do Homem ao Apelo de Deus. Assim as Festas
Li túrgicas , comemorat ivas dos vários momento s épicos dessa História ,
são repet ições ou celebrações das intervenções em que Iahweh se m a-
nifestou e se revelou ao Seu Povo. O ponto culm inante dessa História
é a comunhão com Iahweh, perd ida no Éden, tão bem expressa pelo
“repouso” de Iahweh na Criação, no concei to do “shabat” de “cessar o
que faz e vol tar ao estado anterior”: Iahweh “cessa de criar e vo l ta a
própria int imidade” (cf r . Capí tulo I, n . º 1 .6.1) .Essa comunhão com I-
ahweh é também o principal f im do cul to e das celebrações l i túrg icas .
Por isso, as comemorações fest ivas começam com a do Sábado iniciada
pela mesma forma de convocação de reunião das demais s olenidades.
Vem em primeiro lugar , na ordem das fest ividades , exatamente por
inspirar maior respei to e observância. Todas elas foram form alizadas
desde o Sinai e inst i tuídas nessa oportunidade as t rês princ ipais , como
expressão de f idel idade e cul to exclusivo a Iahweh, como descr i tas
(cfr . Capí tulo II, n . º 2 .11).
Agora, observar -se-á outra formal idade que vem enriquecer os
r i tuais dest inados a incrementar ainda mais os laços de união entre t o-
dos e cada um com Iahweh, condição de unidade de um povo em to rno
de um ideal ou sentimento his tórico comum: - são as reuniões do povo
em Santas Assembléias no Santuário as quais se incorp oram às Festas
Rel igiosas já inst i tuídas . Essas Assembléias Sagradas dever -se- iam
convocar com esse sent ido solene e sant íss imo incluindo -se entre tais
solenidades e antes de todas a do Sábado do Decálogo, reforçando a s-
s im a sua exclusiva, dis t inta e inconfundível importância cu l tual :
" D e p o i s d i s s e Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : A s f e s t a s f i x a s d e Ia h w e h , q u e c o n v o c a r e i s c o m o s a n t a s a s s e m b l é i a s s ã o e s t a s : S e i s d i a s
s e f a r á t r a b a l h o , m a s o s é t i m o d i a é o s á b a d o d o d e s c a n s o s o l e n e , u m a s a n t a a s -
s e m b l é i a ; n e n h u m t r a b a l h o f a r e i s ; é s á b a d o d e Ia h w e h e m t o d a s a s v o s s a s h a b i -t a ç õ e s " ( L v 2 3 , 1 - 3 , c f r . t b . E x 1 6 , 2 3 ; 2 0 , 8 - 1 1 ; 3 1 , 1 2 - 1 7 ; 3 5 , 2 ) .
3.11.1 - A FESTA DA PÁSCOA E A DOS PÃES ÁZIMOS :
" S ã o e s t a s a s f e s t a s s a n t a s d e Ia h w e h , s a n t a s a s s e m b l é i a s , q u e c e l e b r a r e i s n o s e u t e m p o : N o m ê s p r i m e i r o , a o s c a t o r z e d o m ê s , à t a r d e , é a P á s c o a d e Ia h w e h .
E a o s q u i n z e d i a s d e s s e m ê s é a F e s t a d o s P ã e s Á z i m o s d e Ia h w e h . D u r a n t e s e t e
d i a s c o m e r e i s s e m f e r m e n t o . N o p r i m e i r o d i a t e r e i s s a n t a a s s e m b l é i a ; n e n h u m t r a b a l h o f a r e i s . E p o r s e t e d i a s o f e r e c e r e i s u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o a I a h w e h ; n o
s é t i m o d i a h a v e r á s a n t a a s s e m b l é i a e n e n h u m t r a b a l h o f a r e i s " ( Lv 2 3 , 4 - 8 ) .
"Três vezes no ano todos os teus homens aparecerão diante de
Iahweh teu Deus" (Ex 23,17 / Ex 13,6) era a regra básica em vigor pa-
ra as t rês fes tas principais t ranscri tas , Ázimos, Pentecostes e Te ndas.
Nos termos da sua inst i tuição no Sinai , todos os homens deveriam
comparecer ao Santuário nas celebrações correspondentes , pr evendo-se
então dois dias solenes, o primeiro e o sét imo, quando não haveria n e-
nhum trabalho (Ex 12,15-17).
3.11.2. - A FESTA DA OFERENDA DAS PRIMÍCIAS :
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Esta fes ta é , muitas vezes , recomendada (Ex 22,29; 23,16.19;
34,26; Lv 2,14-16; Nm 15,17-21; 18,12; Dt 18,4; 26,1 -11), devendo
ser prat icada quando est iverem de posse da Terra Prom etida:
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : Q u a n d o h o u v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a q u e e u v o s d o u , e f i z e r d e s a c e i f a d a s s e a r a s , t r a r e i s
a o s a c e r d o t e u m m o l h o d a s p r i m í c i a s d a v o s s a c o l h e i t a ; e e l e m o v e r á o m o l h o
p e r a n t e Ia h w e h , p a r a q u e s e j a a c e i t o e m v o s s o f a v o r . N o d i a s e g u i n t e a o s á b a d o o s a c e r d o t e o m o v e r á . E n o d i a e m q u e m o v e r d e s o m o l h o , o f e r e c e r e i s u m c o r -
d e i r o s e m d e f e i t o , d e u m a n o , e m h o l o c a u s t o a Ia h w e h . S u a o f e r t a d e c e r e a i s s e -
r á d o i s d é c i m o s d e e f á d e f l o r d e f a r i n h a , a m a s s a d a c o m a z e i t e , p a r a o f e r t a q u e i m a d a e m c h e i r o s u a v e a Ia h w e h ; e a s u a o f e r t a d e l i b a ç ã o s e r á d e v i n h o , u m
q u a r t o d e h i m . E n ã o c o m e r e i s p ã o , n e m t r i g o t o r r a d o , n e m e s p i g a s v e r d e s , a t é
a q u e l e m e s m o d i a , e m q u e t r o u x e r d e s a o f e r t a d o v o s s o D e u s ; é e s t a t u t o p e r p é -t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s , e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s " ( Lv 2 3 , 9 - 1 4 ) .
Essa Oferenda das Primícias tem um sent ido bem mais amplo do
que aparenta e para apreendê -lo será necessário antecipar , pelo menos
superficialmente , algumas noções do Inst i tuto das Oferendas, a part i r ,
por ora, de dois t rechos em que se destacam algumas noções do seu
s ignif icado para os Is rael i tas :
" O s s a c e r d o t e s l e v i t a s , e t o d a a t r i b o d e L e v i , n ã o t e r ã o p a r t e n e m h e r a n ç a c o m
I s r a e l . A l i m e n t a r - s e - ã o d a s o f e r e n d a s q u e i m a d a s a Ia h w e h e d o p a t r i m ô n i o d e l e . N ã o t e r ã o h e r a n ç a n o m e i o d e s e u s i r m ã o s ; Ia h w e h é a s u a h e r a n ç a , c o m o l h e s
t e m d i t o . E s t e , p o i s , s e r á o d i r e i t o d o s s a c e r d o t e s , a r e c e b e r d o p o v o , d o s q u e
o f e r e c e r e m s a c r i f í c i o s d e b o i o u d e o v e l h a : o o f e r t a n t e d a r á a o s a c e r d o t e a e s -p á d u a , a s q u e i x a d a s e o b u c h o . A o s a c e r d o t e d a r á s a s p r i m í c i a s d o t e u g r ã o , d o
t e u m o s t o e d o t e u a z e i t e , e a s p r i m í c i a s d a t o s q u i a d a s t u a s o v e l h a s . P o r q u e I -
a h w e h t e u D e u s o e s c o l h e u d e n t r e t o d a s a s t r i b o s , p a r a a s s i s t i r e m i n i s t r a r e m n o m e d e Ia h w e h , e l e e s e u s f i l h o s , p a r a s e m p r e " ( D t 1 8 , 1 - 5 ) .
Neste t recho vê -se que as oferendas eram a herança dos int e-
grantes da Tribo de Levi , que não receberam nenhuma posse ssão em
terras a não ser aquele mínimo para se es t abelecer e se f ixar com i n-
dependência pessoal e famil iar . Assim sendo , as Primícias eram direi to
deles e a ci tação delas é apenas exemplif icat iva, pois abrangiam todos
os produtos que se produzissem. Também, mais adiante, ainda se es t a-
beleceu:
" T a m b é m , q u a n d o t i v e r e s e n t r a d o n a t e r r a q u e Ia h w e h t e u D e u s t e d á p o r h e r a n -ç a , e a p o s s u í r e s , e n e l a h a b i t a r e s , t o m a r á s d a s p r i m í c i a s d e t o d o s o s f r u t o s d o
s o l o q u e t r o u x e r e s d a t e r r a q u e Ia h w e h t e u D e u s t e d á , e a s p o r á s n u m c e s t o , e
i r á s a o l u g a r q u e o Ia h w e h t e u D e u s e s c o l h e r p a r a a l i f a z e r h a b i t a r o s e u n o m e . E i r á s a o s a c e r d o t e q u e n a q u e l e s d i a s e s t i v e r d e s e r v i ç o , e l h e d i r á s : H o j e d e c l a -
r o a Ia h w e h t e u D e u s q u e e n t r e i n a t e r r a q u e o s e n h o r c o m j u r a m e n t o p r o m e t e u a
n o s s o s p a i s q u e n o s d a r i a . O s a c e r d o t e , p o i s , t o m a r á o c e s t o d a t u a m ã o , e o p o r á d i a n t e d o a l t a r d e Ia h w e h t e u D e u s ( . . . ) o Ia h w e h n o s t i r o u d o E g i t o c o m
m ã o f o r t e e b r a ç o e s t e n d i d o , c o m g r a n d e e s p a n t o , e c o m s i n a i s e m a r a v i l h a s ; e
n o s t r o u x e a e s t e l u g a r , e n o s d e u e s t a t e r r a , t e r r a q u e m a n a l e i t e e m e l . E e i s q u e a g o r a t e t r a g o a s p r i m í c i a s d o s f r u t o s d a t e r r a q u e t u , ó Ia h w e h , m e d e s t e .
E n t ã o a s p o r á s p e r a n t e o Ia h w e h t e u D e u s , e o a d o r a r á s ; e t e a l e g r a r á s p o r t o d o
o b e m q u e o Ia h w e h t e u D e u s t e t e m d a d o a t i e à t u a c a s a , t u e o l e v i t a , e o e s -t r a n g e i r o q u e e s t á n o m e i o d e t i " ( D t 2 6 , 1 - 5 . 8 b - 1 1 ) .
Neste segundo t recho , observa-se que as oferendas eram levadas
num cesto e entregues ao Sacerdote que dispunha uma parte no Altar .
Quanto à outra parte, dela se al imentava e entregava -se aos Sacerdotes
a sua herança que a comiam, junto com o forastei ro, para a Sant i f ic a-
ção geral da colhei ta . A palavra cesto em lat im é " sportula", donde o
costume da Igreja em receber espórtulas de alguns atos . É direi to da
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Igreja , desde os primórdios do cris t ianismo em que era a oferta levada
num “cesto” durante o Ofertório da Cerimônia Eucarís t ica e entr egue
ao Sacerdote . Este recolhia o conteúdo e depois se lavava para p oder
manusear e dis t r ibuir a Comunhão, donde o r i tual do Lava – Mãos das
Missas .
Como toda cerimônia rel igiosa, essa ter ia também o seu desate
num sacr i f ício solene e completo:
" E n o d i a e m q u e m o v e r d e s o m o l h o , o f e r e c e r e i s u m c o r d e i r o s e m d e f e i t o , d e u m a n o , e m h o l o c a u s t o a Ia h w e h . S u a o f e r t a d e c e r e a i s s e r á d o i s d é c i m o s d e e f á d e
f l o r d e f a r i n h a , a m a s s a d a c o m a z e i t e , p a r a o f e r t a q u e i m a d a e m c h e i r o s u a v e a
I a h w e h ; e a s u a o f e r t a d e l i b a ç ã o s e r á d e v i n h o , u m q u a r t o d e h i m " ( Lv 2 3 , 1 2 -1 3 ) .
A oblação seria o indispensável complemento consecratório de
toda a oferenda que se faz ia e somente após a Sant i f icação , ass im for-
mal izada, é que se al imentavam dos frutos da produção então "abenç o-
ada" (Lv 23,11 - " . . . para que sejais acei tos"):
" E n ã o c o m e r e i s p ã o , n e m t r i g o t o r r a d o , n e m e s p i g a s v e r d e s , a t é a q u e l e m e s m o
d i a , e m q u e t r o u x e r d e s a o f e r t a d o v o s s o D e u s ; é e s t a t u t o p e r p é t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s , e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s " ( Lv 2 3 , 1 4 ) .
3.11.3. - FESTA DE PENTECOSTES OU FESTA DAS SEMANAS
A part i r do dia seguinte ao Sábado, quando do Movimento do
Feixe de Primícias , contar -se-ão sete semanas intei ras , cinq uenta d ias ,
para a celebração da Festa de Pentecostes ou Festa das Sem anas:
" C o n t a r e i s p a r a v ó s , d e s d e o d i a d e p o i s d o s á b a d o , i s t o é , d e s d e o d i a e m q u e
h o u v e r d e s t r a z i d o o m o l h o d a o f e r t a d e m o v i m e n t o , s e t e s e m a n a s i n t e i r a s ; a t é o d i a s e g u i n t e a o s é t i m o s á b a d o , c o n t a r e i s c i n q u e n t a d i a s ; e n t ã o o f e r e c e r e i s u m a
o b l a ç ã o n o v a d e c e r e a i s a I a h w e h " ( Lv 2 3 , 1 5 - 1 6 ) .
Então, no quinquagésimo dia ". . . o ferecereis uma oblação n ova
de cereais a Iahweh", ou seja, um sacri f ício de produtos da c olhei ta
recente cujo cer imonial se dest ina a agradecer a Iahweh pela far tura
reconhecida e então evidenciada, na prometida "ter ra boa e espaçosa
onde f lui o lei te e o mel " (Ex 3,8):
" D a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s t r a r e i s , p a r a o f e r t a d e m o v i m e n t o , d o i s p ã e s d e d o i s d é -
c i m o s d e e f á ; s e r ã o d e f l o r d e f a r i n h a , e l e v e d a d o s s e c o z e r ã o ; s ã o p r i m í c i a s a
I a h w e h . C o m o s p ã e s o f e r e c e r e i s s e t e c o r d e i r o s s e m d e f e i t o , d e u m a n o , u m n o -v i l h o e d o i s c a r n e i r o s ; s e r ã o h o l o c a u s t o a Ia h w e h , c o m a s r e s p e c t i v a s o f e r t a s d e
c e r e a i s e d e l i b a ç ã o , p o r o f e r t a q u e i m a d a d e c h e i r o s u a v e a Ia h w e h . T a m b é m o -
f e r e c e r e i s u m b o d e p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o , e d o i s c o r d e i r o s d e u m a n o p a r a s a -c r i f í c i o d e o f e r t a s p a c í f i c a s . E n t ã o o s a c e r d o t e o s m o v e r á , j u n t a m en t e c o m o s
p ã e s d a s p r i m í c i a s , p o r o f e r t a d e m o v i m e n t o p e r a n t e I a h w e h , c o m o s d o i s c o r -
d e i r o s ; s a n t o s s e r ã o a Ia h w e h p a r a u s o d o s a c e r d o t e . E f a r e i s p r o c l a m a ç ã o n e s s e m e s m o d i a , p o i s t e r e i s s a n t a c o n v o c a ç ã o ; n e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s ; é e s t a -
t u t o p e r p é t u o e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s " ( L v 2 3 , 1 7 -
2 1 ) .
"Das vossas habi tações t rareis para oferta de movimento dois
pães de dois décimos de efá, de f lor de far inha e cozidos com lev edo,
como primícias a Iahweh". A oferenda desses dois pães levedados c a-
racteriza especif icamente a solenidade , por causa do fermento que se
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vedava nos sacri f ícios (Lv 2,11s) , motivo por que não seriam queim a-
dos no Altar . Seriam queimados então junto com dois cordeiros da o-
ferta pacíf ica e des t inar -se-iam ao Sacerdote, e seus fami l iares (Lv
23,20) após o holocausto de sete cordei ros , um novi lho e dois carne i-
ros , com as l ibações do r i tual , e o bode de oferenda de expiação (Lv
23,18-19). O nome de Oferta de Movimento origina -se do movimento
fei to pelo ofertante , empunhando a oferenda junto com o celebrante
em direção do Altar , entregando-a s imbol icamente a Iahweh e , ao t ra-
zê-la e recebê -la de vol ta, vinda de Iahweh que a recebera, de ixava-a
nas mãos do sacerdote.
A regulamentação da solenidade termina com uma recomendação
humanitár ia:
" Q u a n d o f i z e r e s a s e g a d a t u a t e r r a , n ã o s e g a r á s t o t a l m e n t e o s e x t r e m o s d o t e u c a m p o , n e m r e s p i g a r á s a s e s p i g a s c a í d a s q u e f i c a r e m ; p a r a o p o b r e e p a r a o e s -
t r a n g e i r o a s d e i x a r á s . E u s o u Ia h w e h v o s s o D e u s " ( L v 2 3 , 2 2 ) .
3.11.4. - FESTA DAS TROMBETAS
Assim era conhecida a fes ta que t inha início no primeiro dia d o
sét imo mês rel igioso, em que se anunciaria com o toque de t rombetas e
mais tarde o começo do ano civi l :
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l : N o s é t i m o m ê s , n o p r i -m e i r o d i a d o m ê s , h a v e r á p a r a v ó s d e s c a n s o s o l e n e , e m m e m o r i a l , c o m t o q u e d e
t r o m b e t a s e u m a s a n t a a s s em b l é i a . N e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s , e o f e r e c e r e i s
s a c r i f í c i o s p e l o f o g o a Ia h w e h " ( Lv 2 3 , 2 3 - 2 5 ) .
Todos os meses do ano e por ocasião da lua nova havia uma s o-
lenidade em que se ofereciam holocaustos e um bode , em expiação
(Nm 28,11-15). Este assumia um caráter especial de Sant idade por ser
o sét imo, o mês sabát ico, coincidindo ainda nele a Gra nde Festa de
Expiação e a Festa das Tendas (Lv 23,27-43). Isso faz com que seja
dis t inguido com uma comemoração especial , inicialmente de regozi jo
ao som das Trombetas (Nm 10,1 -2a.10), completando-se com mais Ho-
locaustos e Sacri f íc io Pelo Pecado, junto com o que já se celebravam
mensalmente (Nm 28,11 -15):
" N o s é t i m o m ê s , n o p r i m e i r o d i a d o m ê s , t e r e i s u m a a s s e m b l é i a s a n t a ; n e n h u m
t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s ; s e r á p a r a v ó s d i a d e t o q u e d e t r o m b e t a s . O f e r e c e r e i s u m h o l o c a u s t o e m c h e i r o s u a v e a Ia h w e h : u m n o v i l h o , u m c a r n e i r o e s e t e c o r d e i r o s
d e u m a n o , t o d o s s e m d e f e i t o ; e a s u a o f e r t a d e c e r e a i s , d e f l o r d e f a r i n h a m i s -
t u r a d a c o m a z e i t e , t r ê s d é c i m o s d e e f á p a r a o n o v i l h o , d o i s d é c i m o s p a r a o c a r -n e i r o , e u m d é c i m o p a r a c a d a u m d o s s e t e c o r d e i r o s ; e u m b o d e p a r a o f e r t a p e l o
p e c a d o , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o p o r v ó s ; a l é m d o h o l o c a u s t o d o m ê s e a s u a o f e r t a
d e c e r e a i s , e d o h o l o c a u s t o c o n t í n u o e a s u a o f e r t a d e c e r e a i s , c o m a s s u a s o f e r -t a s d e l i b a ç ã o , s e g u n d o a o r d e n a n ç a , e m c h e i r o s u a v e , o f e r t a q u e i m a d a a Ia h -
w e h " ( N m 2 9 , 1 - 6 ) .
3.11.5. - FESTA DO GRANDE DIA DA EXPIAÇÃO
Esta fes ta é um complemento:
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" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : O r a , o d é c i m o d i a d e s s e s é t i m o m ê s s e r á o d i a d a e x p i a ç ã o ; t e r e i s s a n t a a s s e m b l é i a , e m o r t i f i c a r e i s a s v o s s a s a l m a s ( ' j e j u a r e i s ' ) ; e
o f e r e c e r e i s o f e r t a q u e i m a d a ( ' h o l o c a u s t o ' ) a Ia h w e h . N e s s e d i a n ã o f a r e i s t r a b a -
l h o a l g u m ; p o r q u e é o d i a d a e x p i a ç ã o , p a r a n e l e f a z e r - s e e x p i a ç ã o p o r v ó s p e -r a n t e Ia h w e h o v o s s o D e u s P o i s t o d a a l m a q u e n ã o s e a f l i g i r ( j e j u a r ) n e s s e d i a ,
s e r á e x t i r p a d a d o s e u p o v o . T a m b é m t o d a a l m a q u e n e s s e d i a f i z e r a l g u m t r a b a -
l h o , e u a d e s t r u i r e i d o m e i o d o s e u p o v o . N ã o f a r e i s n e l e t r a b a l h o a l g u m ; i s s o s e r á e s t a t u t o p e r p é t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s . S á -
b a d o d e d e s c a n s o v o s s e r á , e a f l i g i r e i s a s v o s s a s a l m a s ; d e s d e a t a r d e d o d i a n o -
n o d o m ê s a t é a o u t r a t a r d e , g u a r d a r e i s o v o s s o s á b a d o " ( Lv 2 3 , 2 6 - 3 2 ) .
Dessa Festa , já se t ratou no n º 3 .9, do Capí tulo III, quando se
comentou Lv 16, impondo-se então uma breve recordação a que se r e-
mete o lei tor . Insis te -se, aqui , na observância r igorosa do jejum e do
repouso e sua duração , com graves ameaças para quem não respei tar o
cerimonial nos mínimos de talhes .
3.11.6. - FESTA DAS TENDAS OU DOS TABERNÁCULOS OU DAS CABANAS
Já se falou a respei to quando ainda t inha o nome de Festa da Co-
lhei ta , de f im de ano agrícola. Em vir tude da variedade de datas da
real ização das colhei tas na Palest ina não se f ixa a data dessa comemo-
ração, podendo -se observar a sua divers idade em vários locais (Ex
23,16 / Lv 28,33-43 / Dt 16,13-15 / Nm 29,12-38):
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , d i z e n d o : D e s d e o d i a
q u i n z e d e s s e s é t i m o m ê s h a v e r á a f e s t a d o s t a b e r n á c u l o s a Ia h w e h p o r s e t e d i a s .
N o p r i m e i r o d i a h a v e r á s a n t a a s s e m b l é i a ; n e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s . P o r s e t e d i a s o f e r e c e r e i s s a c r i f í c i o s p e l o f o g o a I a h w e h ; a o o i t a v o d i a t e r e i s s a n t a a s -
s e m b l é i a , e o f e r e c e r e i s s a c r i f í c i o p e l o f o g o a Ia h w e h ; s e r á u m a a s s e m b l é i a s o l e -
n e ; n e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s " ( Lv 2 3 , 3 3 - 3 6 ) .
Rat i f icam-se então, sem se descuidar dos sábados, todas as c o-
memorações do ano, cada qual com suas of erendas apropriadas e seus
Sacri f ícios específ icos , f inal izando -se a sua descrição. Realça-se, pelo
destaque da repet ição , a importância da Festa das Cabanas , como fora
o encerramento de todas elas exat amente por ser a úl t ima do ano. Daí a
sua celebração bem mais solene, tal como está descri to em Nm 29,12 -
38 com o oferecimento de Holocausto s , Sacri f ícios , Oblações e Lib a-
ções todos os dias da semana fest iva, sem prejuízo do Holocaus to Co-
t idiano, também oferecido (Nm 29,16.19.22.25.28.31.34.38) e dos
dons, votos , ofertas voluntárias , oferendas diversas , primícias , prim o-
gêni tos , díz imos etc . (D t 12,5 -7) , como se deduz da nomeação genér i -
ca então fei ta:
" E s t a s s ã o a s f e s t a s f i x a s d e Ia h w e h , q u e p r o c l a m a r e i s c o m o s a n t a s a s s e m b l é i a s ,
p a r a o f e r e c e r - s e a Ia h w e h o f e r t a q u e i m a d a , h o l o c a u s t o e o f e r t a d e c e r e a i s , s a -c r i f í c i o s e o f e r t a s d e l i b a ç ã o , c a d a q u a l e m s e u d i a p r ó p r i o ; a l é m d o s s á b a d o s
d e Ia h w e h , e a l é m d o s v o s s o s d o n s , e a l é m d e t o d o s o s v o s s o s v o t o s , e a l é m d e
t o d a s a s v o s s a s o f e r t a s v o l u n t á r i a s q u e d e r d e s a o S e n h o r " ( Lv 2 3 , 3 7 - 3 8 ) .
Esclarecida a f inal ização do ano l i túrgico , coincidindo com as
colhei tas f inais se f ixa a data inicial da fe s ta, descrevendo-se o caráter
comemorat ivo dela e o motivo da celebração vinculado à Aliança que
se corpori f icou a part i r da l ibertação do Egi to, lembrando a vida nô-
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made do Povo de Deus em peregrinação no desert o em busca da Terra
Prometida a Abraão, e em fase de cumprimento defini t ivo :
" D e s d e o d i a q u i n z e d o s é t i m o m ê s , q u a n d o t i v e r d e s c o l h i d o o s f r u t o s d a t e r r a , c e l e b r a r e i s a f e s t a d e Ia h w e h p o r s e t e d i a s ; n o p r i m e i r o d i a h a v e r á d e s c a n s o s o -
l e n e , e n o o i t a v o d i a h a v e r á d e s c a n s o s o l e n e . N o p r i m e i r o d i a t o m a r e i s p a r a v ó s
o f r u t o d e á r v o r e s f o r m o s a s , f o l h a s d e p a l m e i r a s , r a m o s d e á r v o r e s f r o n d o s a s e s a l g u e i r o s d e r i b e i r a s ; e v o s a l e g r a r e i s p e r a n t e Ia h w e h v o s s o D e u s p o r s e t e d i a s .
E c e l e b r á - l a - e i s c o m o f e s t a a Ia h w e h p o r s e t e d i a s c a d a a n o ; e s t a t u t o p e r p é t u o
s e r á p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s ; n o m ê s s é t i m o a c e l e b r a r e i s . P o r s e t e d i a s h a b i t a r e i s e m t e n d a s d e r a m o s ; t o d o s o s n a t u r a i s e m Is r a e l h a b i t a r ã o e m t e n d a s d e r a m o s ,
p a r a q u e a s v o s s a s g e r a ç õ e s s a i b a m q u e e u f i z h a b i t a r e m t e n d a s d e r a m o s o s f i -
l h o s d e I s r a e l , q u a n d o o s t i r e i d a t e r r a d o E g i t o . E u s o u Ia h w e h v o s s o D e u s " ( L v 2 3 , 3 9 - 4 3 ) .
Certos aspectos d a Festa das Tendas só se esclarecem em outros
locais destacando-se o caráter fes t ivo de enorme regozi jo e solen idade
de que se revest ia , chegando a ser denominada s implesmente de " Fes-
ta". Era ocasião de verdadei ro reconhecimento das bênçãos com que o
Povo de Iahweh foi cumulado, passando da vida rúst ica e nôm ade do
deserto para a vida de far tura em terr i tório f ixo , cuja colhei ta se co-
memorava, pedindo-as ainda para a próxima semeadura (Ne 8,14 -18 /
2Mac 10,6-7 / cfr . tb . Dt 16,13 -17). Com essa Festa encerra -se a des-
crição pormenorizada das fes tas f ixas :
" A s s i m p r o m u l g o u M o i s é s a o s f i l h o s d e I s r a e l a s f e s t a s f i x a s d e Ia h w e h " ( L v
2 3 , 4 4 ) .
3.11.7. - O CANDELABRO E OS PÃES DA APRESENTAÇÃO
Novamente são alvo de anál ise algumas normas de cul to cot idi a-
no de valor fundamental , apesar de sua aparente s implicidade. São as
concernentes ao Candelabro e aos Pães da Proposição ou da Apr esen-
tação. O Candelabro é descri to de maneira muito idênt ica a Ex 27,20 -
21, a respei to dos quais já se c omentou (Cap. II, n . º 2 .12, i t em 3):
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : O r d e n a a o s f i l h o s d e I s r a e l q u e t e t r a g a m , p a r a o
c a n d e l a b r o , a z e i t e d e o l i v e i r a , p u r o , b a t i d o , a f i m d e m a n t e r u m a l â m p a d a a c e s a
c o n t i n u a m e n t e . A a r ã o a c o n s e r v a r á e m o r d e m p e r a n t e Ia h w e h , c o n t i n u a m e n t e , d e s d e a t a r d e a t é a m a n h ã , f o r a d o v é u d o t e s t e m u n h o , n a t e n d a d a r e u n i ã o ; s e r á
e s t a t u t o p e r p é t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s . S o b r e o c a n d e l a b r o d e o u r o p u r o c o n -s e r v a r á e m o r d e m a s l â m p a d a s p e r a n t e Ia h w e h c o n t i n u a m e n t e " ( Lv 2 4 , 1 - 4 ) .
A seguir , regulamenta-se o cerimonial dos Pães da Proposição já
inst i tuído e anunciado (Ex 25,30) , quando foi descri ta a mesa onde é
colocado (Ex 25,23-30; 37,10-16):
" T a m b é m t o m a r á s f l o r d e f a r i n h a , e d e l a c o z e r á s d o z e p ã e s ; c a d a p ã o s e r á d e
d o i s d é c i m o s d e e f á . E p ô - l o s - á s p e r a n t e Ia h w e h , e m d u a s f i l e i r a s , s e i s e m c a d a f i l e i r a , s o b r e a m e s a d e o u r o p u r o . S o b r e c a d a f i l e i r a p o r á s i n c e n s o p u r o , p a r a
q u e s e j a s o b r e o s p ã e s c o m o m e m o r i a l , i s t o é , c o m o o f e r t a q u e i m a d a a Ia h w e h .
E m c a d a s á b a d o , c o l o c a r - s e - ã o r e g u l a r m e n t e p e r a n t e Ia h w e h p a r a s e m p r e , c o m o u m a a l i a n ç a p e r p é t u a d a p a r t e d e I s r a e l . P e r t e n c e r ã o o s p ã e s a A a r ã o e a s e u s f i -
l h o s , q u e o s c o m e r ã o e m l u g a r s a n t o , p o r s e r e m c o i s a s a n t í s s i m a p a r a e l e s , d a s
o f e r t a s q u e i m a d a s a Ia h w e h p o r e s t a t u t o p e r p é t u o " ( L v 2 4 , 5 - 9 ) .
Em vários locais recebe também o nome de " Pão da Face", ou
"Pão da Presença" (Ex 25,30; 35,13; 39,36; 40,23; Nm 4,7; 1Sm 21,5 -
59
7; 1Rs 7,48; 2Cr 4,19), ou "Pão da Pi lha", is to é, "part ido em fi le i ras
ou pi lhas" (1Cr 9,32; 23,29; Ne 10,34; 2Cr 13,11). Eram Pães , que se
dispunham em mesa a eles dest inada (Ex 25,23 -30) "na minha presença
(de Iahweh - Ex 29,30)" , em número de doze, representando , logica-
mente, as t r ibos de Is rael , seis em cada f i lei ra, sobre os quais se de i-
tava Incenso a ser queimado em oblação (Lv 2,2) . Por se integrar num
cerimonial de sacri f ício eram "coisa sant íss ima para os sacerd otes , das
oferendas no fogo a Iahweh", devendo ser por eles comidos cada se-
mana, ao se subst i tui r por novos e no momento de se queimar o Ince n-
so “como memorial” perene da Aliança. Além do pão , há ainda resqu í-
cios do uso de l ibações de vinho, po is fala-se em "copos e taças de
ouro" (Ex 25,29; 37,16; Nm 4,7) , o que lembra a Ceia Eucarís t ica. J e-
sus menciona que Davi e seus soldados comeram desse Pão , quando em
fuga de Saul es tando com fome, e mostra aos far iseus que exis tem n e-
cessidades do homem que permitem o descumprimento de determ inadas
prescrições legais (Mt 12,4 e par . ) .
3.11.8. - O CASTIGO DAS BLASFÊMIAS E A LEI DO TALIÃO
A sequência da exposição é bruscamente deformada pela narrat i -
va de uma desavença ocorrida entre o f i lho de pai egípcio e mãe Isra e-
l i ta com outro israel i ta , que culmina com uma ofensa a Iahwe h (Lv
24,10-16). Tal blasfêmia era intolerável e desde o Sinai condenada (Ex
22,27), porém não t raz ia a pena corre spondente. Por causa disso é ele
enclausurado até que Moisés consul tasse Iahweh do cast igo a lhe ser
imposto, e aqui lo que Moisés dissesse era acei to como sendo determ i-
nado por Deus, tal como informara ao seu sogro Jetro em si tuações
s imilares:
" R e s p o n d eu M o i s é s a s e u s o g r o : É p o r q u e o p o v o v e m a m i m p a r a c o n s u l t a r a I a h w e h . Q u a n d o e l e s t ê m a l g u m a d e s a v e n ç a , v ê m a m i m ; e e u j u l g o e n t r e u m e
o u t r o e d o u - l h e s a c o n h e c e r o s e s t a t u t o s d e D e u s e a s s u a s l e i s " ( E x 1 8 , 1 5 - 1 6 ) .
Moisés se impusera ao Povo Israel i ta como um enviado de Deus.
Suas decisões fruto de oração e medi tação, bem como, de oráculos ( c-
fr . Hb 11,7) para se decidir pela sorte questõe s as mais diversas eram
reconhecidas como advindas de Deus. Usava para isso métodos então
reconhecidos (Gn 25,22-23) ou o "pei toral do julgamento" (Ex 28,15;
1Sm 14,41). O fato é que Moisés decreta em nome de Iahweh e era a-
cei to tal como se fora recebido d o própr io Deus:
" E n t ã o d i s s e Ia h w e h a M o i s é s : T i r a p a r a f o r a d o a r r a i a l o q u e t e m b l a s f e m a d o ;
t o d o s o s q u e o o u v i r a m p o r ã o a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d e l e , e t o d a a c o n g r e g a ç ã o
o a p e d r e j a r á . E d i r á s a o s f i l h o s d e I s r a e l : T o d o h o m e m q u e a m a l d i ç o a r o s e u D e u s , l e v a r á s o b r e s i o s e u p e c a d o . E a q u e l e q u e b l a s f e m a r o n o m e d e Ia h w e h ,
c e r t a m e n t e s e r á m o r t o ; t o d a a c o n g r e g a ç ã o c e r t a m e n t e o a p e d r e j a r á . T a n t o o e s -
t r a n g e i r o c o m o o n a t u r a l , q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h , s e r á m o r t o " ( L v 2 4 , 1 3 - 1 6 ) .
Esse fato da ocorrênc ia da blasfêmia ident i f ica-se à condição de
qualquer pessoa que oferecesse um fi lho seu a Moloc (Lv 20 ,2 -5) , cau-
sando a mesma ofensa a Iahweh que a adoração de outro Deus. Deveria
60
ocorrer , nesses casos, até mesmo a sol idariedade de todos com o ato ,
no caso de se omit i r a punição do responsável :
" E a q u e l e q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h , s e r á m o r t o ; t o d a a c o m u n i d a d e o a -p e d r e j a r á . T a n t o o e s t r a n g e i r o c o m o o n a t u r a l , q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h
s e r á m o r t o " ( L v 2 4 , 1 6 ) / " D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : T a m b é m d i r á s a o s f i l h o s
d e I s r a e l : Q u a l q u e r d o s f i l h o s d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s p e r e g r i n o s e m I s r a -e l , q u e d e r d e s e u s f i l h o s a M o l o c , s e r á m o r t o ; o p o v o d a t e r r a o a p e d r e j a r á . E u
p o r e i o m e u r o s t o c o n t r a e s s e h o m e m , e o e x t i r p a r e i d o m e i o d o s e u p o v o ; p o r -
q u a n t o d e u d e s e u s f i l h o s a M o l o c , a s s i m c o n t a m i n a n d o o m e u s a n t u á r i o e p r o -f a n a n d o o m e u s a n t o n o m e . E , s e o p o v o d a t e r r a d e a l g u m a m a n e i r a e s c o n d e r o s
o l h o s p a r a n ã o v e r e s s e h o m e m , q u a n d o d e r d e s e u s f i l h o s a M o l o c , e n ã o o m a -
t a r , eu p o r e i o m e u r o s t o c o n t r a e s s e h o m e m , e c o n t r a a s u a f a m í l i a , e o e x t i r p a -r e i d o m e i o d o s e u p o v o , b e m c o m o a t o d o s o s q u e f o r e m a p ó s e l e , p r o s t i t u i n d o -
s e a p ó s M o l o c " ( Lv 2 0 , 1 - 5 ) .
Alguns fatos chamam a atenção a começar com a imposição das
mãos das tes temunhas sobre a cabeça d o ofensor , tal como no holo-
causto são colocadas na cabeça do animal oferecido em expiação. Tal
ato tem essa dimensão apoiando-se na afi rmação de que "o blasfema-
dor levará sobre s i o seu pecado ". As tes temunhas e principais acus a-
doras e executoras (Dt 17,7) declaram assim, solenemente , a culpa do
blasfemador apurada no julgamento, e as tes temunhas isen tavam -se de
qualquer sol idariedade com o ofensor , sofrendo este a plena respons a-
bi l idade do que f izera. Ret i ram o infrator para "fora do acampamento"
para não contaminá-lo tal como ao Santuário , com essa impureza ou
profanação, como se faz ia com as Oferendas da Festa da Expiação que,
contaminadas com as iniq uidades de Israel , eram queimadas fora da
mesma forma (Lv 16 ,27; 24,14; Nm 15,35; Dt 17,2 -7; At 7,57).
Surgem então , aparentemente deslocadas do contexto , essas duas
leis respect ivamente contra os que blasf emarem o nome de Iahweh e os
que feri rem a outrem da comunidade Is rael i ta , seja natural ou est ra n-
geiro. São meios enérgicos para coibir os abusos que venham provocar
desequi l íbrio, desarmonia ou confl i to ao meio social , t razendo inseg u-
rança aos integrantes da comunidade recém -formada. São alvos de rea-
ção enérgica e violenta por causa das conseq uências danosas que t r a-
zem à nova nação , a inda no nascedouro. São os del i tos prat icados dir e-
tamente contra as pessoas, agressões ou outras violências , bem como
as blasfêmias fer indo a Aliança com Ia hweh, fonte de todas as bênção s
ao Povo Is rael i ta:
" Q u e m m a t a r a l g u é m , s e r á m o r t o ; e q u e m m a t a r u m a n i m a l , o r e s s a r c i r á , a n i m a l
p o r a n i m a l . S e a l g u é m f e r i r o s e u p r ó x i m o , c o m o e l e f e z , a s s i m l h e s e r á f e i t o :
f r a t u r a p o r f r a t u r a , o l h o p o r o l h o , d e n t e p o r d e n t e ; t a l c o m o e l e t i v e r f e r i d o u m h o m e m , t a l l h e s e r á f e i t o . Q u e m , p o i s , m a t a r u m a n i m a l , f a r á r e s t i t u i ç ã o p o r e -
l e ; m a s q u e m m a t a r u m h o m e m , s e r á m o r t o . U m a m e s m a l e i t e r e i s , t a n t o p a r a o
e s t r a n g e i r o c o m o p a r a o n a t u r a l ; p o i s e u s o u o Ia h w e h v o s s o D e u s " ( L v 2 4 , 1 7 -2 2 ) .
Com isso, há um encerramento parcial das normas puni t ivas d a-
das por Iahweh no Monte Sinai para serem cumprida s pela comunidade
de Israel . Cumpriram-nas quando disse que "Eu porei o meu rosto co n-
tra esse homem, e o ex t i rparei do meio do seu povo ", subst i tuindo as-
s im a Deus na execução da pena di tada por Moisés:
" T o d o h o m e m q u e a m a l d i ç o a r o s e u D e u s , l e v a r á s o b r e s i o s e u p e c a d o . E a q u e l e
q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h , c e r t a m e n t e s e r á m o r t o ; t o d a a c o n g r e g a ç ã o c e r t a m e n t e o a p ed r e j a r á . ( . . . ) E n t ã o f a l o u M o i s é s a o s f i l h o s d e I s r a e l . D e p o i s
61
e l e s l e v a r a m p a r a f o r a d o a r r a i a l a q u e l e q u e t i n h a b l a s f e m a d o e o a p e d r e j a r a m . F i z e r a m , p o i s , o s f i l h o s d e I s r a e l c o m o I a h w e h o r d e n a r a a M o i s é s " ( Lv 2 4 , 1 5 -
1 6 . 2 3 ) . 0
No Novo Testamento , tanto São Estevão (At 7,57) como Jesus
são ví t imas do mesmo tratamento, de que S. Paulo na Epís tola aos H e-
breus t i ra uma concl usão prát ica:
" O u v i n d o e l e s i s t o , e n f u r e c i a m - s e e m s e u s c o r a ç õ e s , e r a n g i a m o s d e n t e s c o n t r a E s t ê v ã o . M a s e l e , c h e i o d o E s p í r i t o S a n t o , f i t a n d o o s o l h o s n o c é u , v i u a g l ó r i a
d e D e u s , e J e s u s e m p é à d i r e i t a d e D e u s , e d i s s e : E i s q u e v e j o o s c é u s a b e r t o s ,
e o F i l h o d o h o m e m e m p é à d i r e i t a d e D e u s . E n t ã o e l e s g r i t a r a m c o m g r a n d e v o z , t a p a r a m o s o u v i d o s , e a r r e m e t e r a m u n â n i m e s c o n t r a e l e e , l a n ç a n d o - o f o r a
d a c i d a d e o a p e d r e j a v a m . E a s t e s t e m u n h a s d e p u s e r a m a s s u a s v e s t e s a o s p é s d e
u m m a n c e b o c h a m a d o S a u l o . A p e d r e j a v a m , p o i s , a E s t ê v ã o q u e o r a n d o , d i z i a : S e n h o r J e s u s r e c e b e o m e u e s p í r i t o " ( A t 7 , 5 4 - 5 9 ) / " J e s u s C r i s t o é o m e s m o , o n -
t e m , e h o j e , e e t e r n a m e n t e . N ã o v o s d e i x e i s l e v a r p o r d o u t r i n a s v á r i a s e e s t r a -
n h a s ; p o r q u e b o m é q u e o c o r a ç ã o s e f o r t i f i q u e c o m a g r a ç a , e n ã o c o m a l i m e n -t o s , q u e n ã o t r o u x e r a m p r o v e i t o a l g u m a o s q u e c o m e l e s s e p r e o c u p a r a m . T e m o s
u m a l t a r , d o q u a l n ã o t ê m d i r e i t o d e c o m e r o s q u e s e r v e m a o t a b e r n á c u l o . P o r -
q u e o s c o r p o s d o s a n i m a i s , c u j o s a n g u e é t r a z i d o p a r a d e n t r o d o s a n t o l u g a r p e l o s u m o s a c e r d o t e c o m o o f e r t a p e l o p e c a d o , s ã o q u e i m a d o s f o r a d o a r r a i a l . P o r i s -
s o t a m b é m J e s u s , p a r a s a n t i f i c a r o p o v o p e l o s e u p r ó p r i o s a n g u e , s o f r e u f o r a d a
p o r t a . S a i a m o s p o i s a e l e f o r a d o a r r a i a l , l e v a n d o o s e u o p r ó b r i o ( H b 1 3 , 8 - 1 3 ) .
Também o Evangelho de Mateus , que pretendeu mostrar aos j u-
deus Jesus como o Novo Moisés (Dt 18,15) s i tua o Sermão da Mont a-
nha no al to de um monte (Mt 5,1) como ocorrera no Monte Sinai (Ex
19-20) com o Código da Aliança. Tanto é isso certo que Lucas o s i tua
num "lugar plano" (Lc 6,17) tal como Moisés recapi tula , a l tera e reno-
va o Decálogo , nas Planícies de Moab , na entrada da Terra Promet ida
(Dt 4,45-5,1-21, comparando-se com Ex 19-20). Com isso , os Evange-
l is tas t ransmitem o cumpr imento da Promessa por Jesus Cris to.
Não se pode ver a í uma contradição ou que os Evangelhos sejam
mais fruto de art i f íc io l i terário de seus autores , mas apenas que na di s-
t r ibuição dos temas interpretavam os fatos e escolhiam aqueles mais
adequados à catequese. Basta que se observe ser impossível Cris to ter
pronunciado somente essas bem -aventuranças e somente em um só l u-
gar . E é a í nesse Sermão da Montanha , que o Evangel is ta apresenta o
ponto de chegada , ou o cume de dout r ina de Cris to , part indo-se do
princípio de que viera para l evar a plena eficácia a Lei e os Profe tas:
N ã o p e n s e i s q u e v i m d e s t r u i r a l e i o u o s p r o f e t a s ; n ã o " v i m d e s t r u i r , m a s c u m -
p r i r . P o r q u e e m v e r d a d e v o s d i g o q u e , a t é q u e o c é u e a t e r r a p a s s e m , d e m o d o n e n h u m p a s s a r á d a l e i u m s ó i o u u m s ó t i l , a t é q u e t u d o s e j a c u m p r i d o . Q u a l -
q u e r , p o i s , q u e v i o l a r u m d e s t e s m a n d a m e n t o s , p o r m e n o r q u e s e j a , e a s s i m e n -
s i n a r a o s h o m e n s , s e r á c h a m a d o o m e n o r n o r e i n o d o s c é u s ; a q u e l e , p o r é m , q u e o s c u m p r i r e e n s i n a r s e r á c h a m a d o g r a n d e n o r e i n o d o s c é u s . P o i s e u v o s d i g o
q u e , s e a v o s s a j u s t i ç a n ã o e x c e d e r a d o s e s c r i b a s e f a r i s e u s , d e m o d o n e n h u m
e n t r a r e i s n o r e i n o d o s c é u s " ( M t 5 , 1 7 - 2 0 ) .
Quando à lei do Tal ião a modificará substancialmente ao "ens i-
nar com autoridade" (Mt 7,29):
" O u v i s t e s q u e f o i d i t o : O l h o p o r o l h o , e d e n t e p o r d e n t e . E u , p o r é m , v o s d i g o
q u e n ã o r e s i s t a i s a o h o m e m m a u ; m a s , a q u a l q u e r q u e t e b a t e r n a f a c e d i r e i t a ,
o f e r e c e - l h e t a m b é m a o u t r a ; e a o q u e q u i s e r p l e i t e a r c o n t i g o , e t i r a r - t e a t ú n i c a , l a r g a - l h e t a m b é m a c a p a ; e , s e q u a l q u e r t e o b r i g a r a c a m i n h a r m i l p a s s o s , v a i
c o m e l e d o i s m i l . D á a q u em t e p e d i r , e n ã o v o l t e s a s c o s t a s a o q u e q u i s e r q u e
l h e e m p r e s t e s " ( M t 5 , 3 8 - 4 2 ) .
62
Também, referindo-se à blasfêmia a esc larece bem:
" P o r t a n t o v o s d i g o : T o d o p e c a d o e b l a s f ê m i a s e p e r d o a r ã o a o s h o m e n s ; m a s a b l a s f ê m i a c o n t r a o E s p í r i t o n ã o s e r á p e r d o a d a . S e a l g u é m d i s s e r a l g u m a p a l a v r a
c o n t r a o F i l h o d o H o m e m , i s s o l h e s e r á p e r d o a d o ; m a s s e a l g u é m f a l a r c o n t r a o
E s p í r i t o S a n t o , n ã o l h e s e r á p e r d o a d o , n e m n e s t e m u n d o , n e m n o v i n d o u r o " ( M t 1 2 , 3 1 - 3 2 ) .
3.12. - O ANO SABÁTICO E O ANO DO JUBILAR
São as duas úl t imas festas rel igiosas advindas do Código da Al i -
ança (Ex 23,10-11) entregue a Moisés no Sinai ou Horeb (Lv 27,34) de
grande alcance comunitário, e basicamente rel igioso, vol tado para os
pobres e até mesmo para os animais do campo :
3.12.1. - O ANO SABÁTICO
" S e i s a n o s s e m e a r á s t u a t e r r a , e r e c o l h e r á s o s s e u s f r u t o s ; m a s n o s é t i m o a n o a
d e i x a r á s r e p o u s a r , p a r a q u e o s p o b r e s d o t e u p o v o p o s s a m c o m e r , e d o q u e e s t e s d e i x a r e m c o m a m o s a n i m a i s d o c a m p o . A s s i m f a r á s c o m a t u a v i n h a e c o m o t e u
o l i v a l " ( E x 2 3 , 1 0 - 1 1 ) .
É indispensável repet i r e ampliar o s ignif icado da palavra "s h-
bat" em hebraico que é "cessar o que se faz e se retornar ao que se f a-
z ia antes". Assim foi que , no f im da Criação , Deus "shabat" , qual seja
"cessou de toda obra que criando havia fei to" (Gn 2,3) . Os Isr ael i tas
são inst ruídos para fazer o mesmo com a terra "que pr oduz":
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s n o m o n t e S i n a i : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l e d i z e -
l h e s : Q u a n d o t i v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a q u e e u v o s d o u , a t e r r a g u a r d a r á u m s á -
b a d o e m h o n r a d e Ia h w e h . S e i s a n o s s e m e a r á s a t u a t e r r a , e s e i s a n o s p o d a r á s a
t u a v i n h a , e c o l h e r á s o s s e u s f r u t o s ; m a s n o s é t i m o a n o h a v e r á s á b a d o d e d e s -c a n s o s o l e n e p a r a a t e r r a , u m s á b a d o e m h o n r a d e Ia h w e h ; n ã o s e m e a r á s o t e u
c a m p o , n e m p o d a r á s a t u a v i n h a . O q u e n a s c e r d e s i m e s m o d a t u a s e g a n ã o s e -
g a r á s , e a s u v a s d a t u a v i d e n ã o t r a t a d a n ã o v i n d i m a r á s ; a n o d e d e s c a n s o s o l e n e s e r á p a r a a t e r r a . M a s o s f r u t o s d o s á b a d o d a t e r r a v o s s e r ã o p o r a l i m e n t o , a t i ,
e a o t e u s e r v o , e à t u a s e r v a , e a o t e u j o r n a l e i r o , e a o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a
c o n t i g o , e a o t e u g a d o , e a o s a n i m a i s q u e e s t ã o n a t u a t e r r a ; t o d o o s e u p r o d u t o s e r á p o r m a n t i m e n t o " ( Lv 2 5 , 1 - 7 ) .
À guisa de busca de melhor entendimento e de comparação sub s-
t i tua-se a palavra "sábado" pelo correspo ndente sent ido hebraico de
"cessar", e ter -se-á uma “tradução” mais compreensível e conforme a
entenderam os Is rae l i tas , que desconheciam a deformação advinda p elo
uso inadequado do apel ido que r ecebeu o sét imo dia:
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s n o m o n t e S i n a i : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l e d i z e -l h e s : Q u a n d o t i v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a q u e e u v o s d o u , a t e r r a g u a r d a r á u m " c e s -
s a r " ( r e p o u s o s a b á t i c o ) e m h o n r a d e Ia h w e h . S e i s a n o s s e m e a r á s a t u a t e r r a , e
s e i s a n o s p o d a r á s a t u a v i n h a , e c o l h e r á s o s s e u s f r u t o s ; m a s n o s é t i m o a n o h a -v e r á " u m c e s s a r " ( u m s á b a d o ) s o l e n e p a r a a t e r r a , " u m c e s s a r " ( u m s á b a d o ) . e m
h o n r a d e Ia h w e h ; n ã o s e m e a r á s o t e u c a m p o , n e m p o d a r á s a t u a v i n h a . O q u e
n a s c e r d e s i m e s m o d a t u a s e g a n ã o s e g a r á s , e a s u v a s d a t u a v i d e n ã o t r a t a d a n ã o v i n d i m a r á s ; a n o s a b á t i c o ( " d e r e t o r n o a o e s t a d o a n t e r i o r " ) s o l e n e s e r á p a r a
a t e r r a . M a s o s f r u t o s d o " c e s s a r " ( s á b a d o ) d a t e r r a v o s s e r ã o p o r a l i m e n t o , a t i ,
e a o t e u s e r v o , e à t u a s e r v a , e a o t e u j o r n a l e i r o , e a o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a c o n t i g o , e a o t e u g a d o , e a o s a n i m a i s q u e e s t ã o n a t u a t e r r a ; t o d o o s e u p r o d u t o
s e r á p o r m a n t i m e n t o " ( Lv 2 5 , 1 - 7 ) .
63
Então o que se recebe da ter ra no "Ano Sabát ico" são os frutos
da Bênção de Iahweh ao "Sét imo Dia" (". . . e Iahweh abençoou o sét i -
mo dia. . ." - Gn 2,3) , i s to é, de sua fec undidade natural , sem o concu r-
so humano e "em honra de Iahweh" , pelo que é uma dádiva de Deus. E
com a autoridade de dono de toda a "ter ra que vos dou" (Lv 25,2) de s-
t ina os mesmos frutos a todos os habi tantes (Lv 25,6 -7) e também aos
pobres e o que lhes sobrar , aos animais (Ex 23,10-11). A f inal idade da
comemoração não é outra que homenagear e reconhecer a soberania de
Iahweh agindo na Criação pela Bênção que lhe deu independent emente
do Homem. Sem tal Bênção , o t rabalho humano nada produzir ia e na
qual idade de dono exclusivo da terra e de tudo que ela contém” (Lv
25,2.23 / 1Cro 19,15) Iahweh dis t r ibui os frutos a quem dest inou na
Criação, is to é , a todos os seres vivos:
" S e d i s s e r d e s : Q u e c o m e r e m o s n o s é t i m o a n o , v i s t o q u e n ã o h a v e m o s d e s e m e a r ,
n e m f a z e r a n o s s a c o l h e i t a ? e n t ã o e u m a n d a r e i a m i n h a b ê n ç ã o s o b r e v ó s n o s e x -
t o a n o , e a t e r r a p r o d u z i r á f r u t o b a s t a n t e p a r a o s t r ê s a n o s . N o o i t a v o a n o s e m e -
a r e i s , e c o m e r e i s d a c o l h e i t a v e l h a ; a t é o a n o n o n o , a t é q u e v e n h a a c o l h e i t a n o -v a , c o m e r e i s d a v e l h a " ( L v 2 5 , 2 0 - 2 2 ) .
3.12.2. - O ANO JUBILAR
Fundamental para o Povo de Is rael desde o seu anúncio, durante
o seu preparo e no decurso de sua form ação é a busca de comunhão
com Iahweh t raduzida na Aliança. Essa condição é tão bás ica que se
torna a essência de sua v ida, tanto na esfera rel igiosa como na prof a-
na. Na Inst i tuição do Ano Jubilar a mesma tendência vai adquir i r um
sent ido vivencial prát ico para o equi l íbrio da comunidade , a f im de se
manter a paz e harmonia entre os seus membros. Para isso, busca -se
reduzi r ao máximo as diferenças de fortuna que soem acontecer sem
infr ingir as regras de just iça então vigentes . Coerentemente , o que re-
ge essa Inst i tuição é o princípio de que toda a terra é de Iahweh (Lv
25,2.23), que a dis t r ibui ao Seu Povo com a observância duma série
variável de condições , de acordo com cada t ipo de propried ade.
Del ineia-se o modo de se determinar a data da festa anunciada
no Dia da Expiação com " trombetas" ("yobel" = nome hebraico do ch i-
fre do carnei ro usado nelas , d e onde veio o nome da f esta - "jubi leu"):
" T a m b é m c o n t a r á s s e t e s e m a n a s d e a n o s , s e t e v e z e s s e t e a n o s ; d e m a n e i r a q u e o s d i a s d o s s e t e s á b a d o s d e a n o s s e r ã o q u a r e n t a e n o v e a n o s . E n t ã o , n o d é c i m o d i a
d o s é t i m o m ê s , f a r á s s o a r f o r t e m e n t e a t r o m b e t a ; n o d i a d a e x p i a ç ã o f a r e i s s o a r
a t r o m b e t a p o r t o d a a v o s s a t e r r a . E s a n t i f i c a r e i s o a n o q ü i n q u a g é s i m o , e a p r e -g o a r e i s l i b e r d a d e n a t e r r a a t o d o s o s s e u s h a b i t a n t e s ; a n o d e j u b i l e u s e r á p a r a
v ó s ; p o i s t o r n a r e i s , c a d a u m à s u a p o s s e s s ã o , e c a d a u m à s u a f a m í l i a . E s s e a n o
q ü i n q u a g é s i m o s e r á p a r a v ó s j u b i l e u ; n ã o s e m e a r e i s , n e m s e g a r e i s o q u e n e l e n a s c e r d e s i m e s m o , n e m n e l e v i n d i m a r e i s a s u v a s d a s v i d e s n ã o t r a t a d a s . P o r -
q u e é j u b i l e u ; s a n t o s e r á p a r a v ó s ; d i r e t a m e n t e d o c a m p o c o m e r e i s o s e u p r o d u -
t o . N e s s e a n o d o j u b i l e u t o r n a r e i s , c a d a u m à s u a p o s s e s s ã o " ( Lv 2 5 , 8 - 1 3 ) .
Ao que se observa , a abertura do Ano Jubi lar dava-se no Dia da
Expiação, ao som de t rombetas , e ass im , eram preparados pelo jejum e
a peni tência. O r i tual de sant i f icação compunha -se do retorno de cada
qual à sua herança ou propriedade e do escravo à sua famíl ia , bem co-
mo o repouso da ter ra igualar -se-á ao do ano sabát ico:
64
" S e v e n d e r d e s a l g u m a c o i s a a o v o s s o p r ó x i m o o u a c o m p r a r d e s d a m ã o d o v o s s o
p r ó x i m o , n ã o v o s d e f r a u d a r e i s u n s a o s o u t r o s . C o n f o r m e o n ú m e r o d e a n o s d e s d e
o j u b i l e u é q u e c o m p r a r á s a o t e u p r ó x i m o , e c o n f o r m e o n ú m e r o d e a n o s d a s c o -
l h e i t a s é q u e e l e t e v e n d e r á . Q u a n t o m a i s f o r e m o s a n o s , t a n t o m a i s a u m en t a r á s o p r e ç o , e q u a n t o m e n o s f o r e m o s a n o s , t a n t o m a i s a b a i x a r á s o p r e ç o ; p o r q u e é o
n ú m e r o d a s c o l h e i t a s q u e e l e t e v e n d e " ( Lv 2 5 , 1 4 - 1 6 ) .
Usando de l inguagem atual são rest r ições ao absolut ismo da pr o-
priedade privada com duas normas de fortes conseq uências econômicas
e sociais : o retorno da propriedade imóvel à herança do vendedor e a
l ibertação de todos os escravos israel i tas . P or se t ratar da Terra Pro-
metida e de um direi to Israel i ta de herança famil iar (Lv 25,25.47 -55)
em si inal ienável , vendia-se “o número das colhei tas” , uma espécie de
direi to de usufruto, em tudo conforme o soberano D esígnio de Iahweh,
cuja Bênção a acompanhava:
" N e n h u m d e v ó s o p r i m i r á a o s e u p r ó x i m o ; m a s t e m e r á s o t e u D e u s ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . P e l o q u e o b s e r v a r e i s o s m eu s e s t a t u t o s , e g u a r d a r e i s
o s m e u s p r e c e i t o s e o s c u m p r i r e i s ; a s s i m h a b i t a r e i s s e g u r o s n a t e r r a . E l a d a r á o
s e u f r u t o , e c o m e r e i s a f a r t a r ; e n e l a h a b i t a r e i s s e g u r o s . S e d i s s e r d e s : Q u e c o -m e r e m o s n o s é t i m o a n o , v i s t o q u e n ã o h a v e m o s d e s e m e a r , n e m f a z e r a n o s s a c o -
l h e i t a ? e n t ã o e u m a n d a r e i a m i n h a b ê n ç ã o s o b r e v ó s n o s e x t o a n o , e a t e r r a p r o -
d u z i r á f r u t o b a s t a n t e p a r a o s t r ê s a n o s . N o o i t a v o a n o s e m e a r e i s , e c o m e r e i s d a c o l h e i t a v e l h a ; a t é o a n o n o n o , a t é q u e v e n h a a c o l h e i t a n o v a , c o m e r e i s d a v e -
l h a . T a m b é m n ã o s e v e n d e r á a t e r r a e m p e r p e t u i d a d e , p o r q u e a t e r r a é m i n h a ;
p o i s v ó s e s t a i s c o m i g o c o m o e s t r a n g e i r o s e p e r e g r i n o s . P o r t a n t o e m t o d a a t e r r a d a v o s s a p o s s e s s ã o c o n c e d e r e i s q u e s e j a r e m i d a a t e r r a . S e t e u i r m ã o e m p o b r e -
c e r e v e n d e r u m a p a r t e d a s u a p o s s e s s ã o , v i r á o s e u p a r e n t e m a i s c h e g a d o e r e -
m i r á o q u e s e u i r m ã o v e n d e u . E s e a l g u é m n ã o t i v e r r e d e n t o r , m a s e l e m e s m o t i -v e r e n r i q u e c i d o e a c h a d o o q u e b a s t a p a r a o s e u r e s g a t e , c o n t a r á o s a n o s d e s d e a
s u a v e n d a , e o q u e f i c a r d o p r e ç o d a v e n d a r e s t i t u i r á a o h o m e m a q u e m a v e n -
d e u , e t o r n a r á à s u a p o s s e s s ã o . M a s , s e a s s u a s p o s s e s n ã o b a s t a r e m p a r a r e a v ê -l a , a q u i l o q u e t i v e r v e n d i d o f i c a r á n a m ã o d o c o m p r a d o r a t é o a n o d o j u b i l e u ;
p o r é m n o a n o d o j u b i l e u s a i r á d a p o s s e d e s t e , e a q u e l e q u e v e n d e u t o r n a r á à s u a
p o s s e s s ã o " ( Lv 2 5 , 1 7 - 2 8 ) .
Havia também modificações no Direi to Urbano da Propriedade
Imóvel , variando-se a vigência do Dire i to de Re sgate (Lv 25,29-31),
bem como o r i tual concernente à herança dos levi tas (Lv 25 ,32-34):
" S e a l g u é m v e n d e r u m a c a s a d e m o r a d i a e m c i d a d e m u r a d a , p o d e r á r e m i - l a d e n -
t r o d e u m a n o i n t e i r o d e p o i s d a s u a v e n d a ; d u r a n t e u m a n o i n t e i r o t e r á o d i r e i t o
d e a r e m i r . M a s s e , p a s s a d o u m a n o i n t e i r o , n ã o t i v e r s i d o r e s g a t a d a , e s s a c a s a q u e e s t á n a c i d a d e m u r a d a f i c a r á , e m p e r p e t u i d a d e , p e r t e n c e n d o a o q u e a c o m -
p r o u , e à s u a d e s c e n d ê n c i a ; n ã o s a i r á o s e u p o d e r n o j u b i l e u . T o d a v i a a s c a s a s d a s a l d e i a s q u e n ã o t ê m m u r o a o r e d o r s e r ã o c o n s i d e r a d a s c o m o o c a m p o d a t e r -
r a ; p o d e r ã o s e r r e m i d a s , e s a i r ã o d o p o d e r d o c o m p r a d o r n o j u b i l e u . T a m b é m , n o
t o c a n t e à s c i d a d e s d o s l e v i t a s , à s c a s a s d a s c i d a d e s d a s u a p o s s e s s ã o , t e r ã o e l e s d i r e i t o p e r p é t u o d e r e s g a t á - l a s . E s e a l g u é m c o m p r a r d o s l e v i t a s u m a c a s a , a c a -
s a c o m p r a d a e a c i d a d e d a s u a p o s s e s s ã o s a i r ã o d o p o d e r d o c o m p r a d o r n o j u b i -
l e u ; p o r q u e a s c a s a s d a s c i d a d e s d o s l e v i t a s s ã o a s u a p o s s e s s ã o n o m e i o d o s f i -l h o s d e I s r a e l . M a s o c a m p o d o a r r a b a l d e d a s s u a s c i d a d e s n ã o s e p o d e r á v e n d e r ,
p o r q u e l h e s é p o s s e s s ã o p e r p é t u a " ( L v 2 5 , 2 9 - 3 4 ) .
Por causa da igualdade e just iça que deveria nortear a dis t r ibu i-
ção da Terra Promet ida deveria ser amparada a escravidão dos "herdei-
ros" por se t ratar de "servos de Iah weh" (Lv 25,42) , que se empobrec i-
am e se vendiam por dívidas (Dt 15,4 -15), pelo que desde o in ício , o
Código da Aliança mit igava essa servidão (Ex 21,1-11). São os vários
deveres de misericórdia divina que o Povo de Iahweh deveria ref let i r
como "imagem", a té mesmo, com os estrangeiros (Ex 12,49; 22,20; Lv
65
19,33-34) pois se condena e se iguala o t ratamento dispensado ao e s-
cravo Is rael i ta:
" S e t e u i r m ã o f i c a r p o b r e a o t e u l a d o , e l h e e n f r a q u e c e r e m a s m ã o s , a m p a r á - l o -á s c o m o e s t r a n g e i r o e p e r e g r i n o p a r a q u e p o s s a v i v e r c o n t i g o . N ã o t o m a r á s d e l e
j u r o s n e m l u c r o , m a s t e m e r á s o t e u D e u s , p a r a q u e t e u i r m ã o v i v a c o n t i g o . N ã o
l h e d a r á s t e u d i n h e i r o a j u r o s , n e m o s t e u s v í v e r e s p o r u s u r a . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s , q u e v o s t i r e i d a t e r r a d o E g i t o , p a r a v o s d a r a t e r r a d e C a n a ã , p a r a
s e r o v o s s o D e u s . T a m b é m , s e t e u i r m ã o e m p o b r e c e r a o t e u l a d o e v e n d e r - s e a
t i , n ã o o f a r á s s e r v i r c o m o e s c r a v o . C o m o a s s a l a r i a d o e c o m o p e r e g r i n o t r a b a -l h a r á c o n t i g o a t é o a n o d o j u b i l e u . E n t ã o s a i r á d o t e u s e r v i ç o , e c o m e l e s e u s f i -
l h o s , e t o r n a r á à s u a f a m í l i a , à p o s s e s s ã o d e s e u s p a i s . P o r q u e s ã o m e u s s e r v o s ,
q u e t i r e i d a t e r r a d o E g i t o ; n ã o s e r ã o v e n d i d o s c o m o e s c r a v o s . N ã o d o m i n a r á s s o b r e e l e c o m r i g o r , m a s t em e r á s o t e u D e u s . E q u a n t o a o s e s c r a v o s o u à s e s c r a -
v a s q u e t i v e r e s s e r ã o c o m p r a d o s d a s n a ç õ e s q u e e s t i v e r e m a o r e d o r d e v ó s .
T a m b é m o s c o m p r a r e i s d e n t r e o s f i l h o s d o s e s t r a n g e i r o s q u e h a b i t a r e m e n t r e v ó s , b e m c o m o d e n t r e a s s u a s f a m í l i a s q u e v i v e m c o n v o s c o , q u e n a s c e r e m n a
v o s s a t e r r a ; s e r ã o v o s s a p r o p r i e d a d e . E d e i x á - l o s - e i s p o r h e r a n ç a a o s v o s s o s f i -
l h o s d e p o i s d e v ó s , p a r a o s h e r d a r e m c o m o p r o p r i e d a d e p e r p é t u a . D e s s e s t o m a -r e i s o s v o s s o s e s c r a v o s ; m a s s o b r e v o s s o s i r m ã o s , o s f i l h o s d e I s r a e l , n ã o o s o -
p r i m i r e i s c o m p o d e r " ( L v 2 5 , 3 5 - 4 6 ) .
"Eu sou Iahweh o vosso Deus, que vos t i rei da ter ra do Egi to,
para vos dar a terra de Canaã, para ser o vosso Deus" ( . . . ) "Porque são
meus servos, que t i rei da terra do Egi to ; não serão vendidos como e s-
cravos. Não dominarás sobre ele com rigor, mas temerás o teu Deus" -
O temor de Iahweh é o fu ndamento rel igioso de t odas as Inst i tuições
Is rael i tas do que não se isentaria o Jubi leu. Esse temor não era prop ri -
amente falando medo, mas o profundo receio de não mais gozar da
Bênção de Iahweh. A generosidade de Deus deveria ser part i lhada por
todos os povos que se abrigassem em Is rael . É a sober ania de Iahweh
que se t raduz em atos de seus súdi tos dis t ingui ndo-os dos demais e
que os tornava "santos", “separados”, cu ja sant idade vai se comemorar
na Festa do Ano Jubi leu que se inicia no Dia da Expi ação . Assim, a
generosidade de Iahweh, "que não faz acepção de pessoas ", vai se re-
f let i r tanto no t rato do est rangeiro , como no do escravo Israel i ta , dis-
pensando igual t ratamento desde a l ibert ação do Egi to.
É claro que , somente fora dos domínios de I ahweh, junto dos
demais povos é que era possível adquir i r escravos nos moldes vigentes
de propriedade perpétua, objeto até mesmo de herança. Tal como no
cris t ianismo, o obje to fundamental do t ratamento aos i rmãos e es t ra n-
geiros al i res identes e reduzidos à miséria , era o que se denomina as-
s is tência social no sent ido de que tudo se far ia para a sua recuperação
de just iça. Buscava-se ampará-los no infortúnio , res t i tuindo-lhes a l i -
berdade e os bens , quando os pudessem possuir e adminis t rar . Daí a
proibição da usura e dos mei os de provento de qualquer espécie em
toda a legis lação da Aliança (cfr . Ex 22,25 e Dt 23,20 -21) e o t rata-
mento especial dispensado ao escravo hebreu, que nem poderia ser
vendido a outrem. A essa Lei do Jubi leu sujei tava -se até mesmo o es-
t rangeiro , no caso do infortúnio do Is rael i ta (Lv 25,47 -55), pelo mes-
mo fundamento:
" P o r q u e o s f i l h o s d e I s r a e l s ã o m e u s s e r v o s q u e t i r e i d a t e r r a d o E g i t o . E u s o u
I a h w e h o v o s s o D e u s " ( L v 2 5 , 5 5 ) .
66
João Paulo II fundamentado nessa comemoração Is rael i ta do J u-
bi leu conclama a Igreja a sua prát ica na Carta Apostól ica " Tercio Mi l-
lenio Adveniente " ("O Advento do Terceiro Milênio") onde diz :
“ 1 0 . N o c r i s t i a n i s m o , o t e m p o t e m u m a i m p o r t â n c i a f u n d a m e n t a l . D e n t r o d a s u a
d i m e n s ã o , f o i c r i a d o o m u n d o , n o s e u â m b i t o s e d e s e n r o l a a h i s t ó r i a d a s a l v a ç ã o ,
q u e t e m o s e u p o n t o c u l m i n a n t e n a " p l e n i t u d e d o t e m p o " d a E n c a r n a ç ã o e a s u a m e t a n o r e g r e s s o g l o r i o s o d o F i l h o d e D e u s n o f i m d o s t e m p o s . ( . . . ) D e s t a r e l a -
ç ã o d e D e u s c o m o t e m p o n a s c e o d e v e r d e s a n t i f i c á - l o . T a l s e v e r i f i c a , p o r e -
x e m p l o , q u a n d o s e d e d i c a m a D e u s t e m p o s e s p e c í f i c o s , d i a s o u s e m a n a s , c o m o j á s u c e d i a n a r e l i g i ã o d a A n t i g a A l i a n ç a , e a c o n t e c e a i n d a , e m b o r a d e m o d o n o v o ,
n o c r i s t i a n i s m o .
( . . . ) . 1 1 . N e s t e c o n t e x t o , t o r n a - s e c o m p r e e n s í v e l o c o s t u m e d o s j u b i l e u s , q u e t e m i n í c i o n o A n t i g o T e s t a m e n t o e r e e n c o n t r a a s u a c o n t i n u a ç ã o n a H i s t ó r i a d a
I g r e j a . U m d i a J e s u s d e N a z a r é , t e n d o i d o à s i n a g o g a d a s u a C i d a d e , l e v a n t o u - s e
p a r a l e r ( c f . Lc 4 , 1 6 - 3 0 ) . F o i - l h e e n t r e g u e o l i v r o d o p r o f e t a I s a í a s , o n d e l e u o s e g u i n t e t r e c h o : " O E s p í r i t o d o S e n h o r e s t á s o b r e M i m , p o r q u e M e u n g i u , p a r a
a n u n c i a r a B o a - N o v a a o s p o b r e s : e n v i o u - M e a p r o c l a m a r a l i b e r t a ç ã o d o s c a t i -
v o s e , a o s c e g o s , o r e c o b r a r d a v i s t a ; a a n d a r e m l i b e r d a d e o s o p r i m i d o s , a p r o -
c l a m a r u m a n o d e g r a ç a d o S e n h o r " ( I s 6 1 , 1 - 2 ) .
O P r o f e t a f a l a v a d o M e s s i a s . " C u m p r i u - s e h o j e - a c r e s c e n t o u J e s u s - e s -
t a p a s s a g e m d a E s c r i t u r a , q u e a c a b a i s d e o u v i r " ( Lc 4 , 2 1 ) , f a z e n d o c o m p r e e n d e r q u e E l e p r ó p r i o e r a o M e s s i a s a n u n c i a d o p e l o P r o f e t a , e q u e n ' E l e t i n h a i n í c i o o
" t e m p o " t ã o e s p e r a d o : t i n h a c h e g a d o o d i a d a s a l v a ç ã o , a " p l e n i t u d e d o t e m p o " . T o d o s o s j u b i l e u s s e r e f e r e m a e s t e " t e m p o " e d i z e m r e s p e i t o à m i s s ã o m e s s i â n i -
c a d e C r i s t o , q u e v e i o c o m o " c o n s a g r a d o c o m a u n ç ã o d o E s p í r i t o S a n t o " , c o m o
" e n v i a d o p e l o P a i " . É E l e q u e a n u n c i a a B o a - N o v a a o s p o b r e s . É E l e q u e l e v a a l i b e r d a d e à q u e l e s q u e d e l a e s t ã o p r i v a d o s , q u e l i b e r t a o s o p r i m i d o s , q u e r e s t i t u i
a v i s t a a o s c e g o s ( c f . M t 1 1 , 4 - 5 ; Lc 7 , 2 2 ) . D e s t e m o d o , E l e r e a l i z a " u m a n o d e
g r a ç a d o S e n h o r " , q u e a n u n c i a n ã o s ó c o m a p a l a v r a , m a s s o b r e t u d o c o m a s s u a s o b r a s . J u b i l e u , o u s e j a , " u m a n o d e g r a ç a d o S e n h o r " “ é a c a r a c t e r í s t i c a d a a t i -
v i d a d e d e J e s u s , e n ã o a p e n a s a d e f i n i ç ã o c r o n o l ó g i c a d e c e r t a o c o r r ê n c i a . "
3.13. - EXORTAÇÕES
Elas formam o que se denomina geralmente de " Bênçãos e Mal-
dições", decorrentes do cumprimento ou não das leis di tadas por Ia h-
weh no Monte Sinai , ou seja, as Leis da Aliança. A Terra Prometida é
tal e qual uma antevisão do Paraíso a que Deus dest inou e ainda dest i -
na o Homem, e cuja violação do precei to de vida (" bênção") en tão lhe
t rouxe a morte ("maldição ") . Da mesma forma , aqui o abandono de I-
ahweh e a violação dos precei tos di tados t rarão a es ter i l idade da ma l-
dição:
" S e a n d a r d e s c o n f o r m e o s m e u s p r e c e i t o s , e g u a r d a r d e s o s m e u s m a n d a m e n t o s e o s c u m p r i r e s , e u v o s d a r e i a s v o s s a s c h u v a s a s e u t e m p o , e a t e r r a d a r á o s e u
p r o d u t o , e a s á r v o r e s d o c a m p o d a r ã o o s s e u s f r u t o s ; a d e b u l h a v o s c o n t i n u a r á
a t é a v i n d i m a , e a v i n d i m a a t é a s e m e a d u r a ; c o m e r e i s o v o s s o p ã o a f a r t a r , e h a -b i t a r e i s s e g u r o s n a v o s s a t e r r a . T a m b é m d a r e i p a z a o p a í s , e v o s d e i t a r e i s , e
n i n g u é m v o s a m e d r o n t a r á . F a r e i d e s a p a r e c e r d a t e r r a o s a n i m a i s n o c i v o s , e p e l a
v o s s a t e r r a n ã o p a s s a r á e s p a d a . P e r s e g u i r e i s o s v o s s o s i n i m i g o s , e e l e s c a i r ã o à e s p a d a d i a n t e d e v ó s . C i n c o d e v ó s p e r s e g u i r ã o a u m c e n t o d e l e s , e c e m d e v ó s
p e r s e g u i r ã o a d e z m i l ; e o s v o s s o s i n i m i g o s c a i r ã o à e s p a d a d i a n t e d e v ó s . O u -
t r o s s i m , o l h a r e i p a r a v ó s , e v o s f a r e i f r u t i f i c a r , e v o s m u l t i p l i c a r e i , e c o n f i r m a -r e i m i n h a a l i a n ç a c o n v o s c o . E c o m e r e i s d a c o l h e i t a v e l h a p o r l o n g o t e m p o
g u a r d a d a , a t é a f i n a l a r e m o v e r d e s p a r a d a r l u g a r à n o v a . T a m b é m p o r e i o m e u
s a n t u á r i o n o m e i o d e v ó s , e n ã o v o s r e j e i t a r e i . A n d a r e i n o m e i o d e v ó s , e s e r e i o v o s s o D e u s , e v ó s s e r e i s o m e u p o v o . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s , q u e v o s t i -
r e i d a t e r r a d o s e g í p c i o s , p a r a q u e n ã o f ô s s e i s s e u s e s c r a v o s ; e q u e b r e i a s c a -
d e i a s d o v o s s o p e s c o ç o p a r a a n d a r d e s d e c a b e ç a e r g u i d a " ( Lv 2 6 , 3 - 1 3 ) .
"Andarei no meio de vós. . ." lembra com perfeição uma frase já
bem conhecida do Jardim do Éden:
67
" E , o u v i n d o a v o z d o S e n h o r D e u s , q u e p a s s e a v a ( ' a n d a v a ' ) n o j a r d i m . . . " ( G n
3 , 8 ) .
" . . . porei o meu santuário no meio de vós. . ." - Enquanto em pe-
regrinação a "f igura" do Paraíso se concentra no Santuário de Ia hweh
cuja edif icação se consuma com vis tas à Terra Prometida e o Re ino de
Deus que vai se inaugurar com a Ressurreição de Jesus [cfr . Jo 1,14
(„ . . . e habi tou entre nós ') / Lv 26,12; Ex 25,8; 29,45] :
" . . . q u e b r e i a s c a d e i a s d o v o s s o p e s c o ç o p a r a a n d a r d e s d e c a b e ç a e r g u i d a " ( L v
2 6 , 1 3 ) / " O r a , q u a n d o e s s a s c o i s a s c o m e ç a r e m a a c o n t e c e r , e x u l t a i e l e v a n t a i a s v o s s a s c a b e ç a s , p o r q u e a v o s s a r e d e n ç ã o s e a p r o x i m a . . . ( . . . ) . . . q u a n d o v i r d e s
a c o n t e c e r e m e s t a s c o i s a s , s a b e i q u e o r e i n o d e D e u s e s t á p r ó x i m o . E m v e r d a d e
v o s d i g o q u e n ã o p a s s a r á e s t a g e r a ç ã o a t é q u e t u d o i s s o s e c u m p r a " ( Lc 2 1 , 2 8 -3 2 ) .
A condição fundamental é a exclusividade da adoração de um só
Deus, Iahweh (Lv 26,1 -2) , por cujo abandono várias "maldições" se
manifestarão , denotando a fal ta da Bênção d‟Ele . Não se t rata de s i m-
ples fal tas decorrentes de uma fraqueza humana , sempre previs ível em
qualquer inst i tuição , mas de um desl igamento defini t ivo e obst inado
de Iahweh:
" N ã o f a r e i s p a r a v ó s í d o l o s , n e m p a r a v ó s l e v a n t a r e i s i m a g e m e s c u l p i d a , n e m
c o l u n a , n e m p o r e i s n a v o s s a t e r r a p e d r a c o m f i g u r a s , p a r a v o s i n c l i n a r d e s a e l a ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . G u a r d a r e i s o s m eu s s á b a d o s , e r e v e r e n c i a -
r e i s o m e u s a n t u á r i o . E u s o u Ia h w e h " ( L v 2 6 , 1 - 2 ) / " M a s , s e n ã o m e o u v i r d e s , e
n ã o c u m p r i r d e s t o d o s e s t e s m a n d a m en t o s , e s e r e j e i t a r d e s o s m e u s e s t a t u t o s , e d e s p r e z a r d e s o s m e u s p r e c e i t o s n ã o c u m p r i n d o t o d a s a s m i n h a s l e i s , m a s v i o l a n -
d o a m i n h a a l i a n ç a , e n t ã o e u v o s t r a t a r e i a s s i m : p o r e i s o b r e v ó s . . . " ( Lv 2 6 , 1 4 -
1 6 ) .
A primeira decorrência da preferência e exclusividade de Iahweh
como único Deus é a f idel idade aos seus precei tos ou leis em que se
ex terioriza ou se manifesta ef icazmente a Aliança , que se apresenta
até mesmo em cada movimento de conversão ou de retorno:
" S e e n t ã o o s e u c o r a ç ã o i n c i r c u n c i s o s e e n v e r g o n h a r , e p e d i r e m p e r d ã o d e s u a s
i n i q ü i d a d e s , e u m e l e m b r a r e i d a m i n h a a l i a n ç a c o m J a c ó , d a m i n h a a l i a n ç a c o m
I s a a c , e d a m i n h a a l i a n ç a c o m A b r a ã o . . . " ( Lv 2 6 , 4 1 - 4 2 ) .
O seu rompimento ocasionará uma série de maldições exemplif i -
cadas em cinco ameaças, dest inadas mais a aler tar quanto às cons e-
quências do abandono de Iahweh , que propriamente a um cast igo. É
um chamado ped agógico à conversão:
1ª) - A Doença e a pi lhagem das colheitas fei ta por inimigos ,
em vir tude da impossibi l idade de sua defesa pela f raqueza dos homens
ocasionada pelo f l agelo:
" . . . e u , c o m e f e i t o , p o r e i s o b r e v ó s o t e r r o r , a t u b e r c u lo s e e a f e b r e a r d e n t e , q u e
c o n s u m i r ã o o s v o s s o s o l h o s e f a r ã o d e f i n h a r a v i d a ; e m v ã o s e m e a r e i s a v o s s a s e m e n t e , p o i s o s v o s s o s i n i m i g o s a c o m e r ã o . P o r e i o m e u r o s t o c o n t r a v ó s , e c a -
i r e i s d i a n t e d e v o s s o s i n i m i g o s ; o s q u e v o s o d i a r e m d o m i n a r ã o s o b r e v ó s , e f u -
g i r e i s s e m q u e n i n g u é m v o s p e r s i g a " ( Lv 2 6 , 1 6 - 1 7 ) .
68
2ª) - A Esteri l idade da Terra , cuja fer t i l idade e abundância das
colhei tas os levaria ao orgulho , levando-os ao esquecimento de Iah-
weh, aler tando-os pois quer sempre o retorno de les ou seja a conver-
são:
" S e n e m a i n d a c o m i s t o m e o u v i r d e s , p r o s s e g u i r e i e m c a s t i g a r - v o s s e t e v e z e s m a i s , p o r c a u s a d o s v o s s o s p e c a d o s . P o i s q u e b r a r e i a s o b e r b a d o v o s s o p o d e r , e
v o s f a r e i o c é u c o m o f e r r o e a t e r r a c o m o b r o n z e . E m v ã o s e g a s t a r á a v o s s a
f o r ç a , p o r q u a n t o a v o s s a t e r r a n ã o d a r á o s e u p r o d u t o , n e m a s á r v o r e s d a t e r r a d a r ã o o s s e u s f r u t o s " ( Lv 2 6 , 1 8 - 2 0 ) .
"Se nem ainda com is to me ouvirdes prosseguirei em cast igar -
vos sete vezes mais por causa dos vossos p ecados" - essa f rase mostra
o caráter pedagógico da conversão que Iahweh lhes imporá "sete v e-
zes", até a exaustão, - em que "quebrarei a soberba do vosso poder"
(“do vosso orgulho”). A terra nada produzirá por causa do calor exce s-
s ivo e da seca decorrente.
3ª) - A Invasão dos Animais selvagens , então comuns na Terra
Prometida, ou se ja, a atual Palest ina:
" O r a , s e a n d a r d e s c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o m i g o , e n ã o m e q u i s e r e s o u v i r , t r a r e i
s o b r e v ó s p r a g a s s e t e v e z e s m a i s , c o n f o r m e o s v o s s o s p e c a d o s . E n v i a r e i p a r a o m e i o d e v ó s a s f e r a s d o c a m p o , a s q u a i s m a t a r ã o o s v o s s o s f i l h o s , e d e s t r u i r ã o o
v o s s o g a d o , e v o s r e d u z i r ã o a p e q u e n o n ú m e r o ; e o s v o s s o s c a m i n h o s s e t o r n a -
r ã o d e s e r t o s " ( Lv 2 6 , 2 1 - 2 2 ) .
"Ora, se andardes contrariamente para comigo e não me quiseres
ouvir t rarei sobre vós pragas sete vezes mais , conf orme os vossos pe-
cados" - a mesma frase pedagógica e crescente da conversão , mostran-
do a vinda de animais selvagens como um dos frutos da desordem i m-
plantada pela idolat r ia (2Rs 17,25-26).
4ª) - O Flagelo da Guerra e suas conseq uências como a peste,
a fome e a opressão inimiga:
" S e n e m a s s i m q u i s e r d e s v o l t a r a m i m , m a s c o n t i n u a r d e s a a n d a r c o n t r a r i a m e n t e
p a r a c o m i g o , e u t a m b é m a n d a r e i c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o n v o s c o ; e e u , e u m e s m o ,
v o s f e r i r e i s e t e v e z e s m a i s , p o r c a u s a d o s v o s s o s p e c a d o s . T r a r e i s o b r e v ó s a e s p a d a , q u e e x e c u t a r á a v i n g a n ç a d a a l i a n ç a v i o l a d a , e v o s a g l o m e r a r e i s n a s
v o s s a s c i d a d e s ; e n t ã o e n v i a r e i a p e s t e e n t r e v ó s , e s e r e i s e n t r e g u e s n a m ã o d o i n i m i g o . Q u a n d o eu v o s q u e b r a r o s u s t e n t o d o p ã o , d e z m u l h e r e s c o z e r ã o o v o s -
s o p ã o n u m s ó f o r n o , e d e n o v o v o - l o e n t r e g a r ã o r a c i o n a d o ; e o c o m e r e i s , m a s
n ã o v o s f a r t a r e i s " ( L v 2 6 , 2 3 - 2 6 ) .
Isso indica a principal consequência do f lagelo da guerra, a fa l ta
do pão, aqui s ignif icada na quant idade tão ex ígua que "dez mulh eres
cozerão o vosso pão num só for no, e de novo vo-lo entregarão racio-
nado peso; e o comereis , mas não vos far tareis "
5.ª) - A Devastação do País , o Agravamento da Fome e o Ex í-
l io:
" S e n e m a i n d a c o m i s t o m e o u v i r d e s , m a s c o n t i n u a r d e s a a n d a r c o n t r a r i a m e n t e
p a r a c o m i g o , t a m b é m e u a n d a r e i c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o n v o s c o c o m f u r o r ; e v o s
c a s t i g a r e i s e t e v e z e s m a i s , p o r c a u s a d o s v o s s o s p e c a d o s . E c o m e r e i s a c a r n e d e v o s s o s f i l h o s e a c a r n e d e v o s s a s f i l h a s . D e s t r u i r e i o s v o s s o s l u g a r e s a l t o s , d e r -
r u b a r e i a s v o s s a s i m a g e n s d o s o l , e l a n ç a r e i o s v o s s o s c a d á v e r e s s o b r e o s d e s -
69
t r o ç o s d o s v o s s o s í d o l o s ; e a m i n h a a l m a v o s a b o m i n a r á . R e d u z i r e i a s v o s s a s c i -d a d e s a d e s e r t o , e a s s o l a r e i o s v o s s o s s a n t u á r i o s , e n ã o c h e i r a r e i o v o s s o c h e i r o
s u a v e . A s s o l a r e i a t e r r a , e s o b r e e l a p a s m a r ã o o s v o s s o s i n i m i g o s q u e n e l a h a b i -
t a m . E s p a l h a r - v o s - e i p o r e n t r e a s n a ç õ e s e , d e s e m b a i n h a n d o a e s p a d a , v o s p e r -s e g u i r e i ; a v o s s a t e r r a s e r á a s s o l a d a , e a s v o s s a s c i d a d e s s e t o r n a r ã o e m d e s e r -
t o " ( Lv 2 6 , 2 7 - 3 3 ) .
A devastação será de tal envergadura que não mais se conterá a
selvageria decorrente , nem o amor natural pelos f i lhos em busca da
própria sobrevivência. Parece que o inst into de conservação da espécie
vai falar mais al to a ponto de " comereis a carne de vossos f i lhos e a
carne de vossas f i lhas ", o que acontecia às vezes naq uele tempo, pela
crueldade dos cercos mil i tares de conquis ta (cfr . 2Rs 6,28 -29; J r 19,9;
Lm 2,20; 4 ,10; Ez 5,10). Outra consequência da envergadura da "ma l-
dição" que at ingir ia os idólatras , além da destruição dos lugares de
cul to , seria a privação da sepul tura (J r 14,10-13; J r 22,18-19; Tb
4,3s) . Isso era considerado uma i r reparável t ragédia f icando os mortos
expostos ao relento ta is e quais as imagens ou ídolos destruídos, igu a-
lando-os, servindo ainda de pasto às aves de rapina. Os lugares al tos
de cul to eram muito venerados ant igamente, pois quanto mais al to se
f icasse mais perto dos céus e de Deus e s tar-se- ia. Al i se erguiam as
várias imagens ou ídolos , mencionando-se aqui , especif icamente uma
imagem do "Deus - Sol", que deveria ser uma das idolatr ias de então.
Após isso tudo, ou após a ocorrência das maldições advi ndas da
idolatr ia implantada com o exí l io , vi r ia a puri f icação da ter ra contra s-
tando com a covardia dos sobreviventes que apodreceriam em terra e s-
t rangeira, "por causa de suas iniq uidades e a dos seus pais ":
" E n t ã o a t e r r a r e p o u s a r á n o s s e u s s á b a d o s , t o d o s o s d i a s d a s u a d e s o l a ç ã o , e v ó s e s t a r e i s n a t e r r a d o s v o s s o s i n i m i g o s ; n e s s e t e m p o a t e r r a d e s c a n s a r á , e r e p o u -
s a r á n o s s e u s s á b a d o s . P o r t o d o s o s d i a s d a d e s o l a ç ã o d e s c a n s a r á , p e l o s d i a s q u e
n ã o d e s c a n s o u n o s v o s s o s s á b a d o s , q u a n d o n e l a h a b i t á v e i s . E , q u a n t o a o s s o b r e -v i v e n t e s , e u l h e s i n f u n d i r e i p a v o r n o c o r a ç ã o n a s t e r r a s d o s s e u s i n i m i g o s ; e o
r u í d o d e u m a f o l h a a g i t a d a o s p o r á e m f u g a ; f u g i r ã o c o m o q u e m f o g e d a e s p a d a ,
e c a i r ã o s e m q u e n i n g u é m o s p e r s i g a . E , e m b o r a n ã o h a j a q u e m o s p e r s i g a , t r o -p e ç a r ã o u n s s o b r e o s o u t r o s c o m o d i a n t e d a e s p a d a ; e n ã o p o d e r e i s r e s i s t i r a o s
v o s s o s i n i m i g o s . A s s i m p e r e c e r e i s e n t r e a s n a ç õ e s , e a t e r r a d o s v o s s o s i n i m i g o s
v o s d e v o r a r á ; e o s q u e d e v ó s f i c a r e m a p o d r e c e r ã o p e l a s u a i n i q ü i d a d e n a s t e r -r a s d o s v o s s o s i n i m i g o s , c o m o t a m b é m p e l a i n i q ü i d a d e d e s e u s p a i s " ( Lv 2 6 , 3 4 -
3 9 ) .
Toda a consequência dessa idolatr ia pra t icada pela infidel idade a
Iahweh seja t rocando-O por out ro, seja igualando -O a outros deuses do
panteão dos outros povos seria esquecida com a conversão futura de
descendentes . Seria possível isso desde que reconhecessem e confe s-
sassem o er ro dos antecessores juntamente com a expi ação das culpas ,
pela acei tação da justa ret r ibuição a que se sujei tara m, t raduzida no
pedido de perdão. Seria a ss im uma conversão plena a part i r do interior
por causa da f idel idade de Iahweh à A liança com Abraão, Isaac e Jacó
apesar da impureza advinda pelo convív io com povos pagãos pelo que
se tornavam também de certa forma incircuncisos:
" E n t ã o c o n f e s s a r ã o a s u a i n i q u i d a d e , e a i n i q u i d a d e d e s e u s p a i s , c o m a s s u a s
t r a n s g r e s s õ e s , c o m q u e t r a n s g r e d i r a m c o n t r a m i m ; i g u a l m e n t e c o n f e s s a r ã o q u e ,
p o r t e r e m a n d a d o c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o m i g o , e u t a m b é m a n d e i c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o m e l e s , e o s t r o u x e p a r a a t e r r a d o s s e u s i n i m i g o s . S e e n t ã o o s e u c o r a -
ç ã o i n c i r c u n c i s o s e h u m i l h a r , e e x p i a r e m a s s u a s i n i q u i d a d e s , e u m e l e m b r a r e i
d a m i n h a a l i a n ç a c o m J a c ó , d a m i n h a a l i a n ç a c o m Is a a c , e d a m i n h a a l i a n ç a c o m A b r a ã o ; e b e m a s s i m d a t e r r a m e l e m b r a r e i . A t e r r a t a m b é m s e r á d e i x a d a p o r e -
70
l e s e r e p o u s a r á n o s s e u s s á b a d o s , t e n d o s i d o d e s o l a d a p o r c a u s a d e l e s ; e e l e s e x p i a r ã o a s s u a s i n i q ü i d a d es , e m r a z ã o m e s m o d e q u e r e j e i t a r a m o s m e u s p r e c e i -
t o s e a d e s p r e z a r a m o s m e u s e s t a t u t o s . T o d a v i a , a i n d a a s s i m , q u a n d o e l e s e s t i -
v e r e m n a t e r r a d o s s e u s i n i m i g o s , n ã o o s r e j e i t a r e i n e m o s a b o m i n a r e i a p o n t o d e c o n s u m i - l o s t o t a l m e n t e e q u e b r a r a m i n h a a l i a n ç a c o m e l e s ; p o r q u e e u s o u
I a h w e h o s e u D e u s . A n t e s p o r a m o r d e l e s m e l e m b r a r e i d a a l i a n ç a c o m o s s e u s
a n t e p a s s a d o s , q u e t i r e i d a t e r r a d o E g i t o a o s o l h o s d a s n a ç õ e s , p a r a s e r o s e u D e u s . E u s o u Ia h w e h " ( L v 2 6 , 4 0 - 4 5 ) .
Aqui f inal iza o Código da Aliança e o de Sant idade com a reg u-
lamentação de todo o cul to e da vida toda dos Israel i tas em torno do
Único Deus , reconhecendo toda a lei que Iahweh entregou a Moisés no
Sinai onde se formal izou com o Povo de Iahweh a Pr omessa a Abraão,
a Isaac e Jacó:
" S ã o e s s e s o s e s t a t u t o s , o s p r e c e i t o s e a s l e i s q u e Ia h w e h f i r m o u e n t r e s i e o s
f i l h o s d e I s r a e l , n o m o n t e S i n a i , p o r i n t e r m é d i o d e M o i s é s " ( L v 2 6 , 4 6 ) .
Estavam assim preparados espir i tualmente para tomar posse da
Terra Prometida , rat i f icando-se a fonte de todas as normas:
" S ã o e s s e s o s m a n d a m e n t o s q u e Ia h w e h o r d e n o u a M o i s é s , p a r a o s f i l h o s d e I s -
r a e l , n o m o n t e S i n a i . " ( Lv 2 7 , 3 4 ) .
3.14. - A CONSAGRAÇÃO PARA A CONQUISTA
Descort ina-se outra regulamentação necessária à tomada de
consciência rel igiosa do Is rael i ta para a Co nquista da Terra Prometida,
verdadei ra Guerra Santa desde a saída do Eg i to:
" F i z e r a m , p o i s , o s f i l h o s d e I s r a e l c o n f o r m e a p a l a v r a d e M o i s é s ( . . . ) e d e s p o j a -r a m o s e g í p c i o s . ( . . . ) E a c o n t e c e u q u e , ( . . . ) n a q u e l e m e s m o d i a , t o d o s o s e x é r c i -
t o s d o S e n h o r s a í r a m d a t e r r a d o E g i t o ( . . . ) . E n a q u e l e m e s m o d i a Ia h w e h t i r o u
o s f i l h o s d e I s r a e l d a t e r r a d o E g i t o , s e g u n d o o s s e u s e x é r c i t o s " ( E x 1 2 , 3 5 -3 6 . 4 1 . 5 1 ) .
Basta uma lei tura atenta dos t rechos des tacados para se perceber
a ex is tência de um preparo para uma Co nquista armada da Terra de
Canaã. Em se t ratando de uma conquis ta rel igiosa impunha -se uma a-
desão exclus iva à Aliança , em obediência a Iahweh o que implica n u-
ma consagração plena que agora se reg ula.
3.14.1. - A CONSAGRAÇÃO DE PESSOAS E BENS – VOTOS E OFERENDAS
Inicialmente apresentam -se os votos , as consagrações de pessoas
ou bens e as oferendas voluntár ias . Não eram obrigatórios , porém
quando fei tos , impunham-se o seu pleno e cabal cumprimento (Dt
23,21-23), ou o seu resgate, i sso é a entrega ao Santuário do valor co r-
respondente então aval iado, pois se dest inavam à manutenção dos S a-
cerdotes:
" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : Q u a n d o a l -g u é m f i z e r a I a h w e h u m v o t o e s p e c i a l q u e e n v o l v a p e s s o a s , o v o t o s e r á c u m p r i -
d o s e g u n d o a t u a a v a l i a ç ã o d a s p e s s o a s . S e f o r d e u m h o m e m , d e s d e a i d a d e d e
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v i n t e a t é s e s s e n t a a n o s , a t u a a v a l i a ç ã o s e r á d e c i n q ü e n t a s i c l o s d e p r a t a , s e -g u n d o o s i c l o d o s a n t u á r i o . S e f o r m u l h e r , a t u a a v a l i a ç ã o s e r á d e t r i n t a s i c l o s .
S e f o r d e c i n c o a n o s a t é v i n t e , a t u a a v a l i a ç ã o d o h o m e m s e r á d e v i n t e s i c l o s , e
d a m u l h e r d e z s i c l o s . S e f o r d e u m m ê s a t é c i n c o a n o s , a t u a a v a l i a ç ã o d o h o -m e m s e r á d e c i n c o s i c l o s d e p r a t a , e d a m u lh e r t r ê s s i c l o s d e p r a t a . S e f o r d e
s e s s e n t a a n o s p a r a c i m a , a t u a a v a l i a ç ã o d o h o m e m s e r á d e q u i n z e s i c l o s , e d a
m u l h e r d e z s i c l o s . M a s , s e f o r m a i s p o b r e d o q u e a t u a a v a l i a ç ã o , s e r á a p r e s e n -t a d o p e r a n t e o s a c e r d o t e , q u e o a v a l i a r á c o n f o r m e a s p o s s e s d a q u e l e q u e t i v e r
f e i t o o v o t o " ( L v 2 7 , 1 - 8 ) .
O uso de voto envolvendo pessoas ocorr ia em Israel tendo aco n-
tecido em várias ocasiões (Jz 11,30 -40; 13,3-4; 1Sm 1,11). Destaca-se
o de Ana, a mãe de Samuel que o consagrou desde antes do nascimento
usando outra forma para o apresentar , pelas palavras "e pela sua cab e-
ça não passará navalha", faz ia também outro voto , o do Nazireu (Nm
6):
" E l a , p o i s , c o m a m a r g u r a d e c o r a ç ã o , o r o u a Ia h w e h , e c h o r o u m u i t o , e f e z u m
v o t o , d i z e n d o : Ia h w e h d o s e x é r c i t o s ! S e a t e n t a r e s p a r a a a f l i ç ã o d a t u a s e r v a , e
d e m i m t e l e m b r a r e s , e d a t u a s e r v a n ã o t e e s q u e c e r e s , m a s l h e d e r e s u m f i l h o
v a r ã o , a Ia h w e h o d a r e i p o r t o d o s o s d i a s d a s u a v i d a , e p e l a s u a c a b e ç a n ã o p a s s a r á n a v a l h a " ( 1 S m 1 , 1 0 - 1 1 ) .
Quanto ao voto de bens , destaca-se o de Jacó:
" F e z t a m b é m J a c ó u m v o t o , d i z e n d o : S e D e u s f o r c o m i g o e m e g u a r d a r n e s t e
c a m i n h o q u e v o u s e g u i n d o , e m e d e r p ã o p a r a c o m e r e v e s t e s p a r a v e s t i r , d e m o -d o q u e e u v o l t e e m p a z à c a s a d e m e u p a i , e s e Ia h w e h f o r o m e u D e u s , e n t ã o e s -
t a p e d r a q u e t e n h o p o s t o c o m o c o l u n a s e r á c a s a d e D e u s ; e d e t u d o q u a n t o m e
d e r e s c e r t a m e n t e t e d a r e i o d í z i m o " ( G n 2 8 , 2 0 - 2 2 / G n 3 1 , 1 3 ) .
Resgatava-se da mesma forma e regulamenta -se o voto de ofe-
renda de animais:
" S e f o r a n i m a l d o s q u e s e o f e r e c e m e m o f e r t a a Ia h w e h , t u d o q u a n t o d e r d e l e a
I a h w e h s e r á s a n t o . N ã o o m u d a r á , n e m o t r o c a r á b o m p o r m a u , o u m a u p o r b o m ;
m a s s e d e q u a l q u e r m a n e i r a t r o c a r a n i m a l p o r a n i m a l , t a n t o u m c o m o o o u t r o s e -r á s a n t o . S e f o r a l g u m a n i m a l i m u n d o , d o s q u e n ã o s e o f e r e c e m e m o f e r t a a Ia h -
w e h , a p r e s e n t a r á o a n i m a l d i a n t e d o s a c e r d o t e ; e o s a c e r d o t e o a v a l i a r á , s e j a
b o m , o u s e j a , m a u ; s e g u n d o t u , s a c e r d o t e , o a v a l i a r e s , a s s i m s e r á . M a s , s e o h o m e m , c o m e f e i t o , q u i s e r r e s g a t á - l o , a c r e s c e n t a r á a q u i n t a p a r t e s o b r e a t u a
a v a l i a ç ã o " ( L v 2 7 , 9 - 1 3 )
Em todas as oferendas voluntárias , numa espécie de s imples
promessa, se es tabelece o valor e o modo do resgate da importância
que se entrega ao Santuário , em subst i tuição ao voto. Quando se r efe-
r i r a um campo levar -se-á em conta o tempo do Jubi leu para a aval i a-
ção (Lv 27,16-25). Porém, não pode ser objeto de oferenda ou resgate
aqui lo que já pertence a Iahweh por precei to , tal como os primogêni tos
(Ex 13,1-2.12-16 / Ex 34,19-20). Um caso de re sgate imposto pelo
próprio Iahweh é o proveniente da subs t i tuição dos primogêni tos pelos
levi tas , no exercício do sace rdócio auxi l iar (Nm 3,12.40 -51) .
3.14.2. - OS INTERDITOS OU ANÁTEMAS
Também não pode ser vendido ou resgatado o que for objeto de
consagração por interdi to a Iahweh de que nada era reservado para o
ofertante, que dava tudo a Iahweh i rrevogavelmente de forma pacíf ica
72
ou na guerra. " . . . toda coisa consagrada será sant íss ima a Iahweh" (Lv
27,28). Por essa fórmula se percebe que o princípio dessa operação era
rel igioso, e era sant íss imo por ter s ido subtraído ao profano, não p o-
dendo ser resga tado , tal como não se comiam as oferendas dos hol o-
caustos contaminadas pelo pecado. Ass im, não se resgata o que se d e-
nomina aqui de interdi to ou anátema que são tanto os despojos ou as
prendas advindas dos inimigos, ou eles mesmos. Conquistados ou de s-
t roçados por Is rael , contaminados pela idolatr ia (Dt 20,10 -20) tornam-
se como as pessoas ou bens que alguém oferece a Iahweh em c aráter
solene e i rrevogável . É que, entre os compromissos da Aliança há a
"Missão de Israel" várias vezes rat i f icada (cf r . Ex 34,13; Lv 18,3.24 -
30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31):
" . . . n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u -m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o l u n a s . S e r v i r e i s a Ia h w e h o
v o s s o D e u s ( . . . ) . N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s n e m c o m s e u s d e u s e s . . . ” ( E x 2 3 , 2 3 -
3 3 / N m 3 3 , 5 0 - 5 6 / D t 1 2 , 1 - 3 ) / " Q u a n d o Ia h w e h t e u D e u s t e h o u v e r i n t r o d u z i d o n a t e r r a a q u e v a i s a f i m d e p o s s u í - l a , e t i v e r l a n ç a d o f o r a d e d i a n t e d e t i m u i -
t a s n a ç õ e s , ( . . . ) e q u a n d o I a h w e h o t e u D e u s a s t i v e r e n t r e g a d o e m t u a s m ã o s , e
a s f e r i r e s , t o t a l m e n t e a s d e s t r u i r á s ; n ã o f a r á s c o m e l a s a l i a n ç a a l g u m a , n e m t e -r á s p i e d a d e d e l a s . . . " ( D t 7 , 1 - 2 )
Com base nela tal como se el aborou a lei at inente ao puro e im-
puro para se evi tar principalmente as prát icas dos pagãos que os rod e-
avam (Os 9,3; Ez 4,13; Tb 1,10 -12; Dn 1,8-12; Jdt 12,2-4; Lv 18,2-5)
é que se inst i tui o interdi to ou anátema , principalmente na Guerra co n-
t ra pagãos:
" Q u a n d o t e a p r o x i m a r e s d u m a c i d a d e p a r a c o m b a t ê - l a , a p r e g o a r - l h e - á s a p a z . S e
e l a t e r e s p o n d e r e m p a z , e t e a b r i r a s p o r t a s , t o d o o p o v o q u e s e a c h a r n e l a s e r á s u j e i t o a t r a b a l h o s f o r ç a d o s e t e s e r v i r á . S e e l a , p e l o c o n t r á r i o , n ã o f i z e r p a z
c o n t i g o , m a s g u e r r a , e n t ã o a s i t i a r á s , e l o g o q u e Ia h w e h o t e u D e u s a e n t r e g a r
n a s t u a s m ã o s , p a s s a r á s a o f i o d a e s p a d a t o d o s o s h o m e n s q u e n e l a h o u v e r ; p o -r é m a s m u l h e r e s , o s p e q u e n i n o s , o s a n i m a i s e t u d o o q u e h o u v e r n a c i d a d e , t o d o
o s e u d e s p o j o , t o m a r á s p o r p r e s a ; e c o m e r á s o d e s p o j o d o s t e u s i n i m i g o s , q u e
I a h w e h o t e u D e u s t e d e u . A s s i m f a r á s a t o d a s a s c i d a d e s q u e e s t i v e r e m m a i s l o n g e d e t i , q u e n ã o s ã o d a s c i d a d e s d e s t a s n a ç õ e s . M a s , d a s c i d a d e s d e s t e s p o -
v o s , q u e Ia h w e h o t e u D e u s t e d á e m h e r a n ç a , n a d a q u e t e m f ô l e g o d e i x a r á s c o m
v i d a ; a n t e s f e r i r á s c o m i n t e r d i t o ( . . . ) c o m o Ia h w e h o t e u D e u s t e o r d e n o u ; p a r a q u e n ã o v o s e n s i n e m a f a z e r c o n f o r m e t o d a s a s a b o m i n a ç õ e s q u e e l e s f a z e m a
s e u s d e u s e s , e a s s i m p e q u e i s c o n t r a Ia h w e h o v o s s o D e u s " ( D t 2 0 , 1 0 - 1 8 ) .
É a essa interdição que se refere também o fecho das inst ruções
para a Conquista , exatamente pela imposs ibi l idade do resgate:
" T o d a v i a , n e n h u m a c o i s a c o n s a g r a d a a Ia h w e h p o r i n t e r d i t o , s e j a h o m e m , o u a -
n i m a l , o u c a m p o d a s u a p o s s e s s ã o , s e r á v e n d i d a n e m s e r á r e s g a t a d a ; t o d a c o i s a
i n t e r d i t a s e r á s a n t í s s i m a a o S e n h o r . N e n h u m a p e s s o a q u e d e n t r e o s h o m e n s f o r i n t e r d i t a s e r á r e s g a t a d a , m a s c e r t a m e n t e s e r á m o r t a . " ( L v 2 7 , 2 8 - 2 9 )
Jesus vai se insurgi r contra os abusos decorrentes dos interdi tos
e das oferendas , em seu tempo, que passaram a servir de cobertura ao
descumprimento da Lei de Deus nos Mandamentos em favor do ofe r-
tante, ocasionando verdadei ra inversão de valores:
" E l e , p o r é m , r e s p o n d e n d o , d i s s e - l h e s : E v ó s , p o r q u e t r a n s g r e d i s o m a n d a m e n t o
d e D e u s p o r c a u s a d a v o s s a t r a d i ç ã o ? P o i s D e u s o r d e n o u : H o n r a a t e u p a i e a t u a m ã e ; e , Q u e m m a l d i s s e r a s e u p a i o u a s u a m ã e , c e r t a m e n t e m o r r e r á . M a s v ó s
d i z e i s : Q u a l q u e r q u e d i s s e r a s e u p a i o u a s u a m ã e : O s u s t e n t o q u e p o d e r i a s r e -
c e b e r d e m i m é i n t e r d i t o a o S e n h o r ; e s s e d e m o d o a l g u m t e r á d e h o n r a r a s e u
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p a i . E a s s i m p o r c a u s a d a v o s s a t r a d i ç ã o i n v a l i d a s t e s a p a l a v r a d e D e u s " ( M t 1 5 , 3 - 6 / M c 7 , 1 0 - 1 3 ) .
3.14.3. - OS PRIMOGÊNITOS, AS PRIMÍCIAS E OS DÍZIMOS
Em vir tude de se t ratar de oferendas já consagradas a Iahweh,
em princípio não podem ser objeto de resgate, mas são regulamentadas
de uma maneira especial :
" C o n t u d o o p r i m o g ê n i t o d u m a n i m a l , q u e p o r s e r p r i m í c i a j á p e r t e n c e a Ia h w e h ,
n i n g u é m o c o n s a g r a r á . Q u e r s e j a b o i o u g a d o m i ú d o , j á p e r t e n c e a Ia h w e h . M a s s e o p r i m o g ê n i t o f o r d u m a n i m a l i m u n d o , r e s g a t a r - s e - á s e g u n d o a t u a a v a l i a ç ã o ,
e a e s t a s e a c r e s c e n t a r á a q u i n t a p a r t e ; e s e n ã o f o r r e s g a t a d o , s e r á v e n d i d o s e -
g u n d o a t u a a v a l i a ç ã o . ( . . . ) T a m b é m t o d o s o s d í z i m o s d a t e r r a , q u e r d o s c e r e a i s , q u e r d o f r u t o d a s á r v o r e s , p e r t e n c e m a Ia h w e h ; s ã o c o n s a g r a d o s a Ia h w e h . S e
a l g u é m q u i s e r r e s g a t a r u m a p a r t e d o s s e u s d í z i m o s , a c r e s c e n t a r - l h e - á a q u i n t a
p a r t e . Q u a n t o a t o d o d í z i m o d o g a d o e d o r e b a n h o , d e t u d o o q u e p a s s a r d e b a i x o
d a v a r a , e s s e d í z i m o s e r á c o n s a g r a d o a Ia h w e h . N ã o s e e x a m i n a r á s e é b o m o u
m a u , n e m s e t r o c a r á ; m a s s e , c o m e f e i t o , s e t r o c a r , t a n t o u m c o m o o o u t r o s e r á
c o n s a g r a d o ; n ã o s e r ã o r e s g a t a d o s . S ã o e s s e s o s m a n d a m e n t o s q u e Ia h w e h o r d e -n o u a M o i s é s , p a r a o s f i l h o s d e I s r a e l , n o m o n t e S i n a i . " ( Lv 2 7 , 2 6 - 2 7 . 3 0 - 3 3 )
O t recho é muito claro dispensando -se outros comentários . É de
ser di to apenas que o s is tema de seleção então usado de passar debaixo
da vara as cr ias novas do gado e delas t i rando o díz imo, faz com que
não se dest ine a Iahweh apenas o refugo ou o defei tuoso. A o contrário,
obriga a uma separação justa entre a to tal idade mesmo que , aparente-
mente aleatória , não f icava sujei ta à escolha.
Não se pode deixar de comentar a regulamentação do resgate de
parte do díz imo, uma exceção quanto ao consagrado, mas que, em vi r -
tude disso mesmo deverá ser acrescido de um quinto no valor a ser e n-
t regue aos sacerdotes . Porém , em si , o todo não poderá ser objeto de
nenhuma t ransação e nem d e resgate. O interessante é o caso de uma
t roca f raudulenta caso , em que ambos f icarão consagr ados e ass im in-
disponíveis .
Fonte: www.mundocatol i co.com.br/Bib l ia/curso.htm