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RELATÓRIO DE ATIVIDADE CLÍNICA

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA

ABORDAGEM DO PACIENTE SURDO NO CONTEXTO DA MEDICINA DENTÁRIA

João Miguel Neiva e Cabral dos Santos

Porto 2014

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária

João Miguel Neiva e Cabral dos Santos

(Estudante do 5º ano do Mestrado Integrado em Medicina Dentária)[email protected]

Monografia de revisão bibliográfica submetida à Faculdade de Medicina Dentária da

Universidade do Porto para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Dentária

Orientadora Professora Doutora Maria de Lurdes Ferreira Lobo Pereira

Professora Auxiliar da FMDUP

Coorientadora Professora Doutora Isabel Cristina Gonçalves Roçadas Pires

Professora Auxiliar da FMDUP

Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto

Porto, 2014

À minha família, pelo amor, educação, apoio e oportunidade de estudar,

À Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, pelo apoio e conhecimentos

transmitidos pelos seus docentes e pelo carinho e amizade com que o pessoal não-docente

sempre me brindou,

Aos meus binómios (Maria, Vânia e Ricardo), pela paciência, amizade e momentos partilhados,

Aos meus colegas de casa, Rui e Cristiano, por testarem constantemente a minha paciência,

Aos elementos do Grupo de Jovens Esperança, minha segunda família, por tudo o que me

ensinaram e por partilharem comigo a vontade de tornar o Mundo um lugar melhor,

À Tuna de Medicina Dentária do Porto, pelas experiências, amizades e conquistas que

alcançamos juntos,

À Susana, ao Francisco, à Helena, à Aurelie, ao Reis e ao Mota,

Ao Nuno,

À Claudia,

O meu mais sincero e eterno obrigado.

“You may never know what results come of your actions, but if you do nothing, there will be no results.”

― Mahatma Gandhi

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

AgradecimentosEm primeiro lugar quero agradecer à minha estimada Orientadora, Professora Doutora Maria de

Lurdes Ferreira Lobo Pereira, pela inspiração, ajuda e motivação, sem as quais este trabalho não

teria sido possível.

Quero também agradecer à minha Coorientadora, Professora Doutora Isabel Cristina Gonçalves

Roçadas Pires, pelo seu olhar atento e pela sua disponibilidade.

Devo também homenagear aqui a Dr.ª Ana Bela Baltazar, pela sua ajuda, disponibilidade,

simpatia e trabalho de vanguarda desenvolvido na sua área e por ter coorientado este trabalho,

ainda que não oficialmente.

A todos os que me ajudaram de maneira direta ou indireta a concluir este trabalho, o meu

obrigado.

Por fim, quero agradecer a todas as instituições e indivíduos que lutam de forma constante e

incansável por uma sociedade melhor.

I

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

ResumoIntrodução: A boa comunicação entre médico e paciente é essencial para uma boa relação entre

estes, aumentando o grau de satisfação e participação do último. Indivíduos surdos ou com

dificuldades auditivas deparam-se com dificuldades no acesso a cuidados na Medicina Dentária,

entre elas: pobre comunicação entre médico-paciente, desconhecimento por parte dos prestadores

de cuidados de saúde acerca das características próprias da comunidade surda e falta de acesso a

intérpretes devidamente treinados. Os médicos dentistas devem adotar formas mais eficazes para

uma comunicação bem-sucedida com este tipo de pacientes para prestar um serviço de

qualidade. Esta monografia pretende sumariar estas particularidades e sugerir técnicas e

ferramentas para auxiliar no tratamento e comunicação com estes pacientes.

Material e métodos: Foi analisada bibliografia disponível na base de dados “PubMed®” e em

publicações nacionais e internacionais impressas, escritas em Inglês e Portugês, no intervalo de

tempo entre 1999 e 2014.

Desenvolvimento: Para uma prestação de serviços adequada os médicos dentistas devem

registar na história clínica do paciente uma descrição aprofundada da condição deste, sendo isto

importante para a compreensão do seu contexto e dos obstáculos com que se depara. Por

desconhecimento, os médicos dentistas criam geralmente uma conceção errada sobre a

comunicação com estes pacientes, o que se pode dever à falta de instrução a este nível na sua

formação. Esta falha pode ser colmatada através de módulos virtuais de aprendizagem ou

formação básica em Língua Gestual e introdução à cultura surda.

Conclusão: O esforço e dedicação dos profissionais e das instituições de ensino e formação na

instrução acerca do atendimento deste tipo de pacientes estão na base da quebra das barreiras

comunicativas. É recomendado a recolha e produção de dados estatísticos a nível nacional que

ajudem a aumentar a perceção acerca do assunto ou melhorar os métodos já implementados.

Palavras-chave: comunicação – metodologia; surdez; língua gestual; competências de

comunicação clínica; Medicina Dentária; cuidados dentários

II

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

AbstractIntroduction: Good communication between doctor and patient is essential for a good

relationship between them, increasing the degree of satisfaction and involvement of the latter.

Deaf or hard of hearing individuals are faced with difficulties in accessing care in dentistry,

including: poor communication between doctor and patient, ignorance by health care providers

about the characteristics of the deaf community and lack of access to trained interpreters. The

dentist should adopt more effective ways for a successful communication with this type of

patients to provide a quality service. This paper aims to summarize these features and suggest

techniques and tools to assist in the treatment and communication with these patients.

Methods: The bibliography consists of available literature at "PubMed ®" scientific database as

well as national and international printed publications, published in English and Portuguese

between the years 1999 and 2014.

Development: Towards an adequate provision of services dentists should record at the patient’s

file a thorough description of his condition, which is important data for understanding the

context and the obstacles he faces. Through ignorance, dentists generally create a wrong

conception about communicating with these patients, which may be due to lack of instruction at

this subject during their training. This drawback can be overcome through virtual learning

modules or basic training in sign language and an introduction to the deaf culture.

Conclusion: The effort and dedication of professionals and institutions of education and training

in the instruction of this type of patient care is fundamental to breakdown communication

barriers. The collection and production of statistical data at a national level is recommended to

help increase the perception on the subject or improve the methods already implemented.

Keywords: communication – methodology; deafness; sign language; clinical communication

skills; dentistry; dental care

III

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Índice

ÍndiceIntrodução......................................................................................................................................................1

Materiais e Métodos......................................................................................................................................3

Desenvolvimento............................................................................................................................................4

Surdez........................................................................................................................................................5

Surdez em Portugal................................................................................................................................5

O paciente surdo........................................................................................................................................6

Comunicar..................................................................................................................................................7

Utilização de elementos escritos............................................................................................................8

Leitura labial..........................................................................................................................................9

Comunicação com pacientes que preferem usar a Língua Gestual Portuguesa (LGP).......................12

Comunicação com pacientes que preferem usar a LGP, na presença de um intérprete......................13

Comunicação com utilizadores de dispositivos auditivos...................................................................14

Comunicação com crianças surdas......................................................................................................15

Encontrar um intérprete qualificado....................................................................................................18

Sala de espera...........................................................................................................................................19

Outras técnicas e perspetivas futuras.......................................................................................................20

Conclusão....................................................................................................................................................21

Bibliografia..................................................................................................................................................22

Anexos..........................................................................................................................................................25

Anexo A – Brochura...................................................................................................................................... i

Anexo B - Parecer e Declaração..........................................................................................................xxxvii

IV

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Introdução

IntroduçãoOs indivíduos surdos ou com dificuldades auditivas deparam-se, de uma forma geral, com várias

dificuldades quando tentam aceder a serviços de saúde, entre os quais a Medicina Dentária. O

desconhecimento acerca da cultura surda e a falta de formação nesta área pode criar mal-

entendidos e obstáculos durante a partilha de informação com pacientes desta comunidade, que

se sentem frustrados quando perdem a sua autonomia e/ou recebem sentimentos de

condescendência por parte de outros.(1–6)

Com o objetivo de melhorar o cuidado destes pacientes, o médico dentista deve fazer um esforço

no sentido de conhecer as suas características e entender as barreiras existentes no processo de

comunicação. Devem, assim, ser adotadas formas mais eficazes de estabelecer uma comunicação

bem-sucedida com este tipo de pacientes.(1–7)

A comunicação é um sistema complexo que envolve a emissão e a interpretação de mensagens.

Na sua forma mais simples é um processo com duas vias, envolvendo um emissor e um recetor.

Para existir uma comunicação adequada o sinal emitido e o sinal recebido têm imperativamente

de ser o mesmo, independentemente do sistema utilizado para a transmitir, seja ele por símbolos,

linguagem ou imagens.(8)

Quando esta comunicação falha, a relação médico-paciente pode ficar comprometida e a

validade dos tratamentos pode, nalgumas situações, ser posta em causa. Não se pode esperar que

um paciente seja capaz de prestar um consentimento válido relativo aos tratamentos a que vai ser

sujeito se não for capaz de entender aquilo que lhe é proposto.(1,5,9) Se a comunicação não for

eficaz estão criadas as condições para que ocorram mal-entendidos que podem ter efeitos

negativos nos dois sentidos da comunicação: o prestador de cuidados pode pensar que a sua

mensagem ou intenção foi recebida e entendida pelo paciente e, por outro lado, o paciente pode

pensar que apreendeu a mensagem quando, na verdade, nenhuma das situações se verificou.(3)

Por outro lado, uma comunicação que envolva a transmissão bem-sucedida de informação entre

os dois interlocutores (paciente e médico) estimula uma boa relação entre estes e diminui a

sensação de isolamento, aumentando o grau de satisfação e participação do paciente. Pacientes

surdos preferem ser atendidos por médicos que sabem Língua Gestual ou médicos que são

surdos, bem como por médicos que fazem o esforço de se aproximar da sua forma de 1

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

comunicação. Adicionalmente esperam algum esforço por parte destes com vista a melhorar o

acesso aos seus serviços.(1,5)

O Código Deontológico da Ordem dos Médicos Dentistas refere que “Todo o médico dentista

tem o dever de assegurar ao seu doente a prestação dos melhores cuidados de saúde oral ao seu

alcance, agindo com correcção e delicadeza”. Além disso, “o médico dentista deve apoiar e

participar nas actividades da comunidade que tenham por fim promover a saúde e o bem-estar da

população”.(10)

Também a legislação portuguesa procura a promoção da acessibilidade, referindo que esta

“constitui um elemento fundamental na qualidade de vida das pessoas” e contribui decisivamente

“para um maior reforço dos laços sociais, para uma maior participação cívica de todos aqueles

que a integram e, consequentemente, para um crescente aprofundamento da solidariedade no

Estado social de direito.”(11)

A obtenção de consentimento para os tratamentos a efetuar é indispensável em Medicina

Dentária e “O médico dentista deve informar e esclarecer o doente, a família ou quem

legalmente o represente, acerca dos métodos de diagnóstico e terapêutica que pretende aplicar,

bem como transmitir a sua opinião sobre o estado de saúde oral do doente.”(10)

Segundo vários autores, as maiores dificuldades encontradas pelos pacientes surdos são a pobre

comunicação entre médico-paciente, o desconhecimento por parte dos prestadores de cuidados

de saúde acerca das características próprias da comunidade surda e a falta de acesso a intérpretes

devidamente treinados.(1–7,12)

Tudo isto pode levar a más interpretações do diagnóstico, objetivo dos tratamentos, da

medicação e os seus efeitos secundários por parte dos pacientes, que consequentemente podem

sentir frustração, exclusão e incapacidade de transmitir os seus sentimentos, sintomas, história

médica e ter controlo sobre a própria saúde. Nestas condições é difícil providenciar um

tratamento de saúde adequado.(1,3–5,12)

Esta monografia pretende sumariar as particularidades relacionadas com a abordagem de

pacientes surdos, especificamente em Medicina Dentária e sugerir técnicas e ferramentas para

auxiliar no tratamento e comunicação com estes pacientes. Apesar de ser mais difícil, o processo

de comunicação entre um paciente surdo e um prestador de cuidados de saúde não é impossível.

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Materiais e Métodos

Materiais e MétodosA pesquisa bibliográfica efetuada durante a elaboração desta monografia teve como principal

objetivo a obtenção de informação científica atual. Incluíram-se (Tabela 1): publicações

nacionais e internacionais que incluíram livros, revistas da especialidade, publicações avulsas e

imprensa escrita. A pesquisa na base de dados indexada “PubMed®” e foi limitada a artigos

publicados nos últimos 15 anos, escritos em Inglês e Português. Para evitar a introdução de

possíveis fatores que pudessem induzir conclusões erróneas nesta monografia, optou-se por

incluir apenas as publicações que estudassem populações humanas surdas ou com dificuldades

auditivas e que não apresentassem outro tipo de limitações sensoriais ou psico-motoras.

Utilizaram-se os termos de pesquisa: “deaf”, “dentistry”, “special care”, “clinic”, “waiting

room”, “hearing impairment” e “patient management”.

Tabela 1 – Critérios de inclusão e exclusão da bibliografia utilizada

Critérios Inclusão Critérios exclusãoData de publicação: últimos 15 anos População: surda e/ou com dificuldades auditivas

associadas a outras incapacidadesLíngua: Português, InglêsPopulação: apenas pacientes surdos e/ou com dificuldades auditivasDisponibilidade: Livros e artigos “full-text available”

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Desenvolvimento

DesenvolvimentoO choque cultural e os obstáculos sentidos por pacientes surdos ou com dificuldade auditivas

quando tentam aceder a serviços de saúde geram sentimentos negativos nestes pacientes.(1–5,12)

Chaveiro et al (2009) definem que “a surdez se distingue de outras deficiências, não pela

deficiência propriamente dita, mas pela dificuldade de estabelecer comunicação entre pessoas”.

(1)

Num estudo baseado em entrevistas a pacientes surdos brasileiros, Pereira & Fortes (2010)

observaram que os prestadores de cuidados de saúde são descritos, geralmente, de forma

negativa.(5) Neste estudo, os entrevistados caracterizavam com as seguintes afirmações o

pessoal prestador de cuidados de saúde:

“[Eles] têm medo de comunicar.” “[Eles] fogem de você.” “[Eles] não sabem como ajudar e

não sabem como comunicar.” “[Eles] não sabem o que fazer.” “[Eles] não se conseguem

adaptar à pessoa surda.” “[Eles] têm preconceitos.” “[Eles] são duros.” “[Eles] não gostam

de pessoas surdas.” “[Eles] não têm respeito.” “[Eles] riem-se da pessoa surda que tem medo”

“[Eles] ficam com o dinheiro e dizem adeus.” “[Eles] mostram preocupação.”

Kritzinger et al (2014), por outro lado, referem que os pacientes relatam mais experiências

positivas junto de médicos dentistas que recorriam a intérpretes com experiência clínica, com

profissionais capazes de utilizar língua gestual e nos casos onde os prestadores de cuidados de

saúde faziam um esforço por melhorar a comunicação.(5,13)

Outros autores apontam ainda a falta de sensibilidade e de conhecimento de boas práticas a ter

com esta comunidade, expressa frequentemente através de erros básicos como a falta de cuidado

em esclarecer claramente quando se dirigem ao paciente surdo, manter contacto visual com este

quando o fazem ou quando o excluem de conversas.(2,4)

Embora haja esforços no sentido de promover a saúde oral em crianças surdas, tem sido relatado

por pacientes surdos adultos que sentem que à medida que crescem encontram menos paciência e

preocupação por parte do pessoal médico.(14)

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Por estas razões os pacientes surdos adultos sentem-se frequentemente envergonhados ou

inibidos em ambientes clínicos e consequentemente podem evitar os cuidados de saúde com

medo de o tratamento correr mal devido à comunicação má ou insuficiente.(3,5,13,15,16) Estas

atitudes por parte dos profissionais de saúde podem levar a que os pacientes surdos desistam e

deixem de procurar obter mais informação junto dos seus médicos ou, por outro lado, criem o

hábito de consultar vários profissionais como forma de lidar com a falta de informação que

obtêm de cada um.(2,5)

Pacientes no Reino Unido reportaram dificuldades em entender o diagnóstico ou instruções dos

medicamentos, consequentemente tomando doses erradas; um deles chegou a relatar acordar de

uma cirurgia e surpreender-se ao aperceber-se que tinha sido amputado.(16)

SurdezSegundo a OMS a surdez pode ser congénita ou adquirida. Pode então estar presente ao

nascimento nos casos em que tem origem hereditária e noutros com origem não-hereditária como

quando é causada por doenças maternas (e.g.: rubéola, sífilis) ou complicações durante o parto.

Pode ser posteriormente causada por certas doenças infeciosas tais como a meningite, infeções

crónicas dos ouvidos ou desenvolver-se devido ao contacto com substâncias ototóxicas

(aminoglicosídeos, fármacos citotóxicos, medicação antimalárica e diuréticos), exposição a

níveis sonoros elevados e ao processo fisiológico do envelhecimento.(17)

A OMS refere que existem 360 milhões de pessoas no mundo com perda auditiva incapacitante,

o que quer dizer que no adulto existe uma perda auditiva superior a 40dB no ouvido que ouve

melhor e em crianças que existe uma perda auditiva superior a 30dB no ouvido que ouve melhor.

(17)

Aproximadamente um terço dos indivíduos com idade superior a 65 anos encontram-se afetados

por perda auditiva incapacitante.(18)

Surdez em Portugal

A Associação Portuguesa de Surdos estima que existem cerca de 30 000 surdos (na sua maioria

portadores de surdez grave e profunda) que praticam Língua Gestual Portuguesa no nosso país.

A mesma associação estima ainda que existam cerca de 120 000 pessoas com algum grau de

perda auditiva (incluindo aqui os idosos que vão perdendo a audição gradualmente).(19) Ana

Bela Baltazar, autora do Dicionário de Língua Gestual Portuguesa editado em 2010, refere no

seu Prefácio que a comunidade surda representa cerca de 100 000 indivíduos em Portugal.(20)5

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Segundo dados recolhidos entre Setembro de 1993 e Junho de 1995 publicados pelo então

Secretariado Nacional de Reabilitação residiam em Portugal, num universo de 142 112

indivíduos, 19 172 (cerca de 13,5%) eram surdos ou tinham redução grave da capacidade

auditiva. Destes, 39,42% declararam não possuir nenhum nível de instrução; apenas 2,34%

referiram o nível secundário, 1,72% a instrução politécnica e 1,54% o ensino universitário.(21)

Os Resultados Definitivos dos Censos 2011 não fazem referência específica à população surda

ou com dificuldades auditivas.(22)

Pereira & Fortes (2010) referem que a dificuldade em fazer um retrato fiel da realidade do

problema no Brasil se deve à inexistência de dados produzidos de forma sistemática à escala

nacional, o que também acontece no nosso país.(5,23)

O paciente surdoO médico dentista deve reconhecer que cada paciente é um indivíduo único e que os pacientes

surdos podem apresentar uma grande heterogeneidade de características. O médico dentista deve,

em primeiro lugar, procurar saber como o paciente comunica normalmente.(2,4) Se o paciente é

uma criança, pode perguntar aos pais ou ao cuidador. Também deve procurar observar como o

paciente se comunica com os pais ou encarregados de educação. No caso de adultos, o médico

dentista pode fazer a pergunta diretamente ou o paciente pode antecipar a questão e explicar

como a devemos tratar.(4)

Os três primeiros anos de vida são críticos para o desenvolvimento da criança ao nível percetivo,

das capacidades motoras, da inteligência e da linguagem, segundo Alsmark e colegas.(4) Outros

autores estimam que o período ideal para desenvolver esta última se situe algures entre os 5 e os

9 anos de idade.(3) Quando a surdez tem origem anterior ao desenvolvimento da fala, diz-se

surdez pré-lingual. Por outro lado, quando é adquirida após o desenvolvimento desta habilidade,

diz-se surdez pós-lingual.(24)

Algumas famílias podem privar a criança surda de aprender Língua Gestual numa atitude de

negação face à realidade e motivadas pelo medo de perder a criança para uma comunidade que

não conhecem.(3)

A perceção de pacientes surdos adultos indica que alguns podem ter um nível de stress mais

elevado do que a população geral. A presença de fatores como o difícil acesso ao emprego,

6

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

dificuldades de comunicação no quotidiano e stress associado a fazer parte de uma minoria

linguística e cultural podem justificar este facto.(25)

Vários autores e equipas de investigadores referem ter encontrado piores condições de higiene

oral em pacientes surdos quando comparado com pacientes ouvintes, o que é preocupante.

(12,26)

Há também indícios que sugerem que a taxa de infeção por VIH em algumas populações surdas

é maior quando comparada com a população ouvinte e que há uma maior incidência de doenças

sexualmente transmissíveis (DSTs). Tais achados poderão ser justificados pela maior dificuldade

de acesso a informação de saúde e prevenção de DSTs reportada por estas populações.(27)

Tabela 2 – Graus de surdez e possível impacto no paciente(8)

Grau de surdez

Sons ouvidos mais leves, em decibéis Possível impacto

Leve 25-39 Dificuldade em acompanhar conversas em situações ruidosas.

Moderado 40-69 Dificuldade em acompanhar conversas sem um dispositivo auditivo.

Grave 70-94

Dependente de leitura de lábios mesmo com um dispositivo auditivo;Língua Gestual pode ser o meio preferencial de comunicação.

Profundo >95 Língua Gestual pode ser o meio preferencial de comunicação.

O médico dentista deve registar na história clínica do paciente a fase de desenvolvimento em que

surgiu a surdez (pré ou pós-lingual, por exemplo), o grau de surdez (leve, moderado, grave ou

profundo) (Tabela 2), o nível de formação escolar ou académica e tipo de educação recebida

(oral, bilingue, integrada, especial), problemas associados (dificuldades de aprendizagem, por

exemplo) e fatores familiares (atitude dos pais face à surdez, pais ouvintes ou surdos). Estes

dados são importantes de modo a compreender o contexto do paciente e os obstáculos com que

se deparou previamente e que influenciam a sua atitude perante os outros.(4)

ComunicarPor falta de conhecimento, o médico dentista pode criar a conceção errada de que para

comunicar com pacientes surdos ou com dificuldades auditivas basta recorrer à linguagem

escrita, leitura de lábios ou confiar em terceiros relacionados com o paciente que façam o papel

de intérprete.

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

É certo que existe uma falha generalizada na formação dos profissionais de saúde relativamente

aos cuidados a ter com a população surda, pois são raras as instituições de ensino que incluem no

seu programa curricular algum tipo de formação específica nesta área. Está provado que a

utilização, por exemplo, de um módulo de aprendizagem através de um paciente virtual

interativo pode ser uma ferramenta eficaz para introduzir o contato clínico com pacientes com

anomalias de desenvolvimento a estudantes de medicina dentária.(28)

Um facto que pode passar despercebido e que deve ser mencionado é que pode haver

transmissão de informação sem que se diga uma única palavra através, por exemplo, da

linguagem expressa facial ou corporalmente.(3,5) Segundo Dougall e Fiske (2008), esta

representa cerca 60% de responsabilidade na transmissão da mensagem.(8) Os pacientes surdos

interpretam não só o que é dito mas principalmente o modo como o médico se comporta

enquanto transmite a informação.(5)

Pereira e Fortes (2010) referem que os prestadores de cuidados de saúdem tendem a melhorar a

sua postura e eficácia de comunicação assim que se apercebem da importância da linguagem

corporal, aumentando a proximidade física, postura e contacto visual com o paciente.(5)

Pacientes surdos aprendem por observação e repetição. Apresentar e demonstrar como utilizar

equipamentos ou medicação tem melhores resultados do que a mera explicação.(2–4)

Nos tópicos seguintes apresentam-se e discutem-se os vários métodos que podem ser utilizados

para veicular a informação aos pacientes surdos ou com dificuldades auditivas no ambiente

clínico.

Os protocolos apresentados são baseados no trabalho de Alsmark e colegas em 2007, tendo sido

completados com informações e conselhos publicados por outros autores.

Utilização de elementos escritos

Os programas de educação para a saúde oral são frequentemente produzidos e divulgados sob a

forma de informação escrita (panfletos, brochuras) ou áudio (vídeo), caso sejam dirigidos a um

público infantil, por exemplo.(29–31)

A utilização de elementos escritos apresenta vantagens e desvantagens. Apesar de poder fornecer

um meio imediato de transmissão de informação entre paciente e médico, pode criar novas

barreiras ao processo de comunicação.(4,5)8

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

A Língua Portuguesa não é a língua nativa de todos os pacientes surdos. Muitos tiveram de o

aprender como uma língua secundária, geralmente se a surdez está presente numa fase precoce.

Acrescentando o facto de que muitos pacientes surdos podem ter encontrado barreiras no acesso

a oportunidades de educação é compreensível que desconheçam inclusivamente a própria

anatomia e nomenclatura associada, prevenção e tratamento de doenças. É normal também que o

vocabulário possa ser reduzido o que complica a transmissão de mensagens complexas através

deste meio.(1,4)

A informação escrita pode ser complementada com desenhos simples, imagens ou até pequenos

vídeos.(2–4)

Na tentativa de fornecer uma base para a educação destes pacientes, criou-se uma brochura

(Anexo A) que simplifica os Folhetos Educativos da Ordem dos Médicos Dentistas e que aborda

a generalidade das áreas da Medicina Dentária.(29) Contém informação relevante para o

paciente, desde a prevenção de várias patologias orais até às opções de tratamento mais comuns

e está redigida num Português simples, podendo ser impressa e entregue aos pacientes que a

poderão levar consigo para estudar e familiarizar-se com alguns termos e conceitos até então

desconhecidos.

Leitura labialA leitura labial é praticada pela maioria das pessoas com deficiência auditiva e pode por isso ser

utilizada em combinação com as outras técnicas. É apenas totalmente eficiente quando as

condições são ideais. Muitas vezes há obstáculos como bigodes, falta de iluminação, localização

e posição errada do falante, falar excessivamente rápido, sotaques estrangeiros, alguns sons que

não pode ser vistos (por exemplo, sons guturais), palavras homófonas (mamã, papá, etc.), a falta

de conhecimento do vocabulário habitual do destinatário e a distância entre os interlocutores. Na

clínica dentária, podem existir outros obstáculos, tais como a máscara facial do dentista, o uso de

termos técnicos, a posição supina do paciente na cadeira, ansiedade, etc. O médico dentista deve

tentar comunicar nas melhores condições possíveis para que o paciente o possa compreender.(2–

4,6,7,9,15)

Existem algumas regras básicas que devem ser levadas em conta antes e durante a conversa:

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Antes da conversa: Fale com calma, devagar e agradavelmente. Se estiver com pressa, cansado ou irritado,

isso vai afetar a sua comunicação com o paciente. Uma atitude paciente relaxa o doente e

melhora a sua concentração e confiança.

Entenda que a ida a uma consulta médica envolve geralmente um grande esforço por

parte do paciente surdo e este precisa de ultrapassar o medo de que algo corra mal devido

a problemas de comunicação.(5)

Nunca comece a falar se o paciente não está a olhar.

Chame a sua atenção com um leve toque no braço ou ombro, uma pancada ligeira na

estrutura ou superfície onde o paciente está apoiado para criar vibrações, um sinal

discreto antes de começar a falar ou até acendendo/apagando as luzes da sala onde o

paciente se encontra. Tenha isso em mente ao chamar o paciente a partir da sala de

espera.

Encare o paciente de frente e, de preferência, ao mesmo nível (especialmente para

crianças). Tente manter a mesma posição durante a conversa.

Se quiser explicar alguma coisa, deve parar o procedimento e dirigir-se ao paciente.

Não mova a sua cabeça para qualquer lado no final de uma frase; não olhe para baixo,

etc.

Não se mova para muito longe ou muito perto do paciente.

Deve manter-se numa posição confortável para o paciente e em que é totalmente visível.

Evite ficar em pé atrás do encosto de cabeça, pois nesse caso o paciente deve assumir

uma posição desconfortável de modo a conseguir ver os seus lábios.

Certifique-se o seu rosto está bem iluminado.

o Nunca fique em frente a uma janela ou luz (se o fizer o rosto vai estar na

escuridão).

Durante a conversa: Certifique-se que não tem nada entre os lábios (cigarro, caneta), nem na boca (pastilha

elástica, doces).

Evite colocar a mão ou qualquer objeto em frente à sua boca. A máscara facial é uma

barreira para a leitura labial.

Quaisquer procedimentos devem ser explicados antes de aplicar a máscara facial.

Se quiser explicar alguma coisa a meio do processo, o dentista não se deve esquecer de

remover a máscara.10

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Pronuncie claramente, sem exagerar ou gritar. Os movimentos labiais devem ser claros,

mas não exagerados. Com isso evita distorcer os lábios, tornando-se mais fácil de ler.

Isso também acontece com gritos, que são desagradáveis para os deficientes auditivos,

especialmente em público e que afetam a sua dignidade e privacidade.

Falar claramente é muito mais eficaz do que falar alto. No entanto, pode ser útil para

alguns pacientes com perda auditiva levantar ligeiramente a sua voz ou falar num tom

mais grave na medida em que as pessoas perdem primeiro a audição de sons agudos.

(8,32)

Fale sempre usando a sua voz.

Fale naturalmente, nem muito rápido nem muito devagar.

Não simplifique demasiado a frase nem utilize termos técnicos, pois o paciente surdo, ao

contrário de ouvintes que estão constantemente a receber informações e aprender novas

palavras e termos, pode não entender.

De modo a facilitar a integração do deficiente auditivo, é importante explicar o que está a

acontecer e dito em torno dele ou dela.

Como médico dentista deve ensinar novas palavras relacionadas com a saúde oral (cárie,

restauração, etc.) a crianças ou adultos com deficiência auditiva

Evite conversa excessiva, porque a leitura labial é cansativa.

Use linguagem simples e frases curtas, especialmente com crianças pequenas, sem as

tratar, contudo, como se tenham uma dificuldade de aprendizagem.

Simplifique a frase mas não as palavras. O contexto da frase é muitas vezes importante.

Há certas palavras homófonas que são difíceis de distinguir unicamente através de leitura

labial.

Se não se conseguir fazer entender, repita a sua mensagem (cerca de 3 vezes). Se ainda

não conseguir ser compreendido, reconstrua a frase ou use sinónimos.

Se necessário, use gestos naturais ou algumas palavras escritas.

É possível comunicar por escrito com pacientes com deficiência auditiva que têm

dificuldade de entender, pelo que deve ter sempre lápis e papel à mão. Os inconvenientes

da escrita manual são que algumas pessoas com deficiência auditiva podem não ser bons

leitores e isso leva tempo, especialmente se a informação para ser transmitida é complexa

(como quando se descreve um tratamento endodôntico radical) e a caligrafia não é a

melhor.

11

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Uma alternativa é ter algumas folhas escritas preparadas com antecedência (ver Anexo

A), explicando os principais procedimentos dentários, instruções, etc.(2)

Desenhos simples podem também ser úteis.

Este material poupa tempo e permite que o paciente leve consigo uma cópia para casa e o

estude à vontade.

A linguagem corporal (postura e movimento) e as expressões faciais desempenham um

papel muito importante na comunicação com o deficiente auditivo na clínica dentária e

pode ser especialmente importante no ensino de crianças surdas.

Deve saber como usar o seu rosto e corpo para expressar sentimentos (de felicidade,

tristeza, raiva, medo, interesse, etc.), para facilitar a compreensão para a criança surda. Se

a criança não se comportar corretamente e for repreendida de forma inexpressiva, pode

não entender.

Use expressões faciais agradáveis e calmas.

Outros conselhos: Vá perguntando ao longo da consulta se a comunicação está a funcionar ou se pode ser

melhorada.

As perguntas devem ser de forma aberta para evitar respostas do tipo sim-não e assegurar

que tudo foi compreendido. O paciente com deficiência auditiva pode anuir mesmo que

não tenha compreendido inteiramente.(3,13)

Não se iniba de repetir qualquer frase quando for necessário.

Comunicação com pacientes que preferem usar a Língua Gestual Portuguesa

(LGP)A Língua Gestual é uma forma de comunicação que se baseia em sinais que são reconhecidos a

nível nacional e regional (mas não internacionalmente), e tem a sua própria estrutura que é

diferente da linguagem oral e escrita.(20)

Esta língua é realizada recorrendo a diferentes configurações, locais de articulação e orientação

das mãos, bem como a diferentes expressões faciais e movimentos corporais que acompanham

os gestos criados pelas mãos. A sua estrutura é muito específica e diferente da que é utilizada

habitualmente na Língua Portuguesa, predominando a sequência sujeito-objeto-verbo.(20)

Os membros da família ou amigos capazes de usar língua gestual acompanham por vezes o

paciente e ajudam a dar explicações ou fazer perguntas. Por outro lado, apesar de estas pessoas

12

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

serem capazes de comunicar com o paciente surdo, o médico dentista deve reconhecer que é

improvável que estejam familiarizados com a amplitude de sinais necessários para transmitir

conceitos médicos complexos. O recurso a amigos ou familiares como intérpretes pode criar

problemas quanto à garantia de confidencialidade do paciente e levá-lo a guardar informações de

natureza pessoal ou sensível. Podem ainda alterar inconscientemente as observações referidas

pelo paciente ou transmitir informação tendenciosa acerca deste para o proteger.(2,6,7,33,34)

Pereira e Fortes (2010) referem que a utilização de um intérprete não qualificado pode ter

consequências tão ou mais negativas como a não-utilização do intérprete.(5)

Deve então ser utilizado um intérprete profissional com experiência clínica sempre que possível

e quando aceite pelo paciente; no entanto, isto pode aumentar os custos da consulta ou criar

questões de confiança entre o paciente e o intérprete caso este lhe seja desconhecido.(3,7) Nos

Estados Unidos da América a legislação contempla esta situação e o prestador de cuidados de

saúde é responsável por providenciar e suportar os custos relacionados com o intérprete

especializado e registado.(2,8,35)

Alguns médicos podem recear que o recurso a um intérprete possa representar perigo para eles

na medida em que poderá tornar-se uma testemunha de defesa caso o paciente alguma vez decida

processar o profissional devido a má-prática.(15)

Os avanços tecnológicos permitem o desenvolvimento de áreas como a telemedicina nalguns

países. Esta área tem especial interesse neste assunto, uma vez que o paciente ou o médico

dentista podem aceder em tempo real aos serviços de um intérprete utilizando uma webcam e

uma ligação à Internet.(3)

Comunicação com pacientes que preferem usar a LGP, na presença de um

intérpreteQuando se recorre aos serviços de um intérprete de LGP (membro profissional, familiar ou

amigo paciente), é importante olhar mais para o paciente do que para o intérprete.(2,4,6,8,32)

Os únicos momentos em que se deve dirigir ao intérprete durante a consulta são no início e no

fim, para lhe agradecer o serviço prestado. Pode ser útil encontrar-se previamente com o

intérprete para discutirem terminologia médico-dentária e necessidades especiais de

interpretação.(8) O intérprete deve estar presente em todas as consultas, garantindo (caso seja um

intérprete profissional com experiência na área) que o médico dentista é capaz de compreender

as queixas do paciente, que se consegue obter um consentimento informado, que o tratamento 13

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

prestado é o mais seguro e eficiente e que se promove o entendimento e a colaboração do

paciente, funcionando de modo vantajoso para ambas as partes.(7,35)

Deve falar-se diretamente com o paciente usando a segunda pessoa e prestar atenção

quando o paciente responde. A generalidade da bibliografia refere que o intérprete deve

estar posicionado ligeiramente atrás do prestador de cuidados de saúde de modo a que

estejam ambos no campo de visão do paciente. No entanto, a orientação dos

intervenientes segundo um triângulo equilátero conseguindo contato visual direto entre

todos poderá ser mais favorável.

A pessoa surda pode ser bilingue, isto é, pode ser capaz de utilizar ambos os tipos de

linguagem (oral/gestual).

É útil aprender o alfabeto da Língua Gestual Portuguesa. Participando num curso de

Língua Gestual Portuguesa pode, pelo menos, familiarizar-se com a sua estrutura básica e

alguns gestos simples.

Fale devagar e com clareza. Use frases simples porque a língua gestual tem uma estrutura

diferente daquela usada na linguagem oral e escrita, por exemplo: “O aluno deu uma flor

à professora” (Língua Portuguesa)./ “Aluno flor professora dar” (Língua Gestual

Portuguesa).(20)

É muito importante o uso de linguagem corporal e expressões faciais. As expressões

faciais fazem parte da língua gestual. Podem ser usados para expressar felicidade,

tristeza, raiva, dúvida, ignorância, desapontamento, etc.

As mudanças de tópico devem ser claramente identificadas.

Deve verificar-se periodicamente que o paciente está a perceber e que se consegue

perceber o paciente. Deve confirmar-se com paciente, não com o intérprete.

Comunicação com utilizadores de dispositivos auditivosMuitos pacientes desligam os seus dispositivos auditivos devido à expectativa de encontrarem no

ambiente clínico ruídos agudos ou que causem interferência com os dispositivos. Deve

assegurar-se que o dispositivo está ligado durante os períodos de comunicação sempre que for

possível.(8)

Caso não haja um aparelho auditivo disponível, uma alternativa possível e acessível para

conseguir aumentar o som sem grandes custos económicos associados é a utilização de um

aparelho de comunicação um-para-um. Com este dispositivo, o médico dentista fala para um

14

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

microfone ligado a um amplificador que envia então o sinal para auscultadores usados pelo

paciente.(36)

Não deve assumir que o paciente vai conseguir entender simplesmente porque usa um aparelho

auditivo uma vez que este pode ser utilizado apenas para conseguir distinguir sons ambientais

como por exemplo alarmes de incêndio ou buzinas de automóveis e não serem capazes de ajudar

o paciente a compreender o discurso oral.(34)

A utilização de instrumentos elétricos em pacientes portadores de implantes cocleares pode

causar algumas preocupações no médico dentista. Um estudo realizado por Roberts e colegas

(2002) em tecidos cadavéricos sugere que a utilização de equipamento dentário como o

cauterizador elétrico, localizador de ápice ou o ortopantomógrafo é segura; no entanto, a

utilização de equipamentos como o bisturi elétrico pode causar danos irreversíveis no implante

coclear a partir de um certo nível de potência (nível 5).(37)

Recomendações para melhorar a comunicação com pacientes que usem

aparelhos auditivos Elimine qualquer ruído de fundo (música, trânsito, etc.) durante a conversa. Os aparelhos

auditivos digitais mais modernos fazem isso automaticamente.

Evite ruídos repentinos que podem afetar mais o paciente com dificuldades auditivas do

que um ouvinte normal. Crianças com deficiência auditiva podem assustar-se com

barulhos vindo de trás. Tente não fazer muito barulho.

Se a pessoa com deficiência auditiva prefere desligar o aparelho auditivo enquanto o

médico dentista está a utilizar instrumentos rotatórios ou o sistema de sucção, deve avisá-

lo antes de começar a usar esses equipamentos.

Deve recordar-se que, se o aparelho auditivo está desligado, a conversa deve ser muito

limitada e, durante o tratamento, o assistente deve assegurar que as instruções e ações são

claras.

Evite passar as mãos perto do aparelho auditivo ou inclinar o seu braço ou corpo contra

ele durante o tratamento uma vez que pode causar interferências.

Comunicação com crianças surdasA criança surda deve ser tratada na clínica dentária como um ser único na sua individualidade. O

médico dentista deve reunir informação sobre o grau de comprometimento, quando foi adquirida,

15

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

o tipo de tratamento de reabilitação a que a criança está sujeita, o tipo de educação e da

comunicação preferida, o tratamento familiar e qualquer problema associado.

Recomendações especialmente apropriadas para crianças surdasO mais importante é saber como a criança comunica. Pode ser útil observar como os pais ou

educadores falam com a criança, usando uma linguagem que seja o mais semelhante possível.

Uma reunião marcada previamente com os responsáveis pela criança pode servir para explicar

exatamente o que vai acontecer durante a consulta e informá-los de como a podem preparar para

a visita ao médico dentista.

Podem ser entregues folhetos ou fotos aos educadores para que a criança possa ter uma ideia do

que é a clínica e o que vai acontecer aí. As visitas devem ser cuidadosamente programadas para

que a criança não tenha que esperar muito tempo na sala de espera, evitando assim a ansiedade

excessiva e medo características da situação.

Uma vez que a criança se encontre na cadeira de observação, o dentista, assistente e os seus

acompanhantes devem permanecer dentro do seu campo de visão. O dentista deve olhar para a

criança mais do que para os seus intérpretes ao explicar coisas ou responder perguntas.

Durante as primeiras visitas, os responsáveis pela criança podem preferir estar presentes para a

ajudar a sentir-se mais segura. A partir desse momento deve ser feita uma tentativa para falar

com a criança através da sua forma de comunicação e estimular a sua autonomia. Quando há

confiança por parte dos adultos e da criança, a criança pode gradualmente ser separada dos seus

responsáveis. Isto ajudará a aumentar a sua independência.

A equipa clínica deve estar treinada para utilizar comunicação não-verbal, com linguagem

corporal e expressões faciais e estar consciente da sua importância. É importante para dar uma

impressão agradável, a fim de relaxar a criança e promover a confiança.

Os pais ou educadores, primeiros intérpretes da criança, podem determinar a atitude da criança

para novas experiências. As atitudes da família podem ser positivas ou negativas (excesso de

proteção, não aceitação da deficiência, carga excessiva num membro da família, pais exigentes,

etc.) Se os pais forem realistas e compreenderem e aceitarem as limitações da criança, vão ajudar

a criança a lidar com a nova situação de forma independente. Por outro lado, se forem super-

protetores e considerarem o comprometimento auditivo como uma deficiência incapacitante, vão

limitar a participação da criança na nova experiência e tornar a criança muito dependente deles,

16

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

caso em que a criança vai prestar pouca atenção ao médico dentista e procurar constantemente a

atenção dos adultos, deixando-os comunicar por si.

Quando explicar as coisas, use frases claras, curtas. Se a criança não entendeu

completamente, repita a frase e se ainda não é se conseguiu fazer compreender, deve

reconstruir a frase com sinónimos ou usando uma estrutura mais simples. Se há algo que

o paciente ainda não entende bem, uma palavra ou frase pode ser escrita, ou explicada

com um desenho.

Como todas as crianças, a criança surda ou com dificuldades auditiva vai se sentir mais

relaxada com uma carícia ou um aperto de mão.

A criança surda tem especialmente medo do desconhecido e precisa por isso de muitas

explicações e demonstrações. Os instrumentos e equipamentos devem ser mostrados e

todos os que vibram devem ser apresentados e explicados para que a criança possa

entender que é normal e preparar-se.

A técnica “dizer-mostrar-fazer” pode ser alterada nestes pacientes para “mostrar-fazer”;

no entanto, deve ter em conta a idade do paciente, o grau de comprometimento, o tipo de

comunicação principal, habilidades, etc.

As técnicas de modelação podem ser muito úteis, permitindo que a criança observe o

irmão ou outra criança a ser tratado ou enquanto está na cadeira de observação ou

assistindo vídeos sobre consultas dentárias. Outra forma de explicar os atos clínicos

dentários é usar panfletos, fotografias e desenhos. Devem ser utilizados estímulos visuais

para promover a aprendizagem e melhorar o comportamento.

Lembre-se que a visibilidade total é essencial para a comunicação com a criança surda.

Deve retirar a máscara facial quando algo para dizer e não fazer nada fora do campo de

visão da criança pois pode criar uma fonte de frustração.

Se a criança usa um aparelho auditivo, siga as instruções anteriormente descritas (reduzir

o ruído de fundo, desligar dispositivos de rotação que perturbem a criança, etc.)

Se a criança geralmente usa a língua de sinais, os pais podem agir como intérpretes. Se o

dentista não for capaz de utilizar a LGP, os pais ou um intérprete profissional adequado

terão que estar presentes em todos os momentos durante a consulta.

Recomenda-se que o médico dentista aprenda pelo menos a estrutura básica da Língua

Gestual e alguns sinais simples, bem como a utilização de linguagem corporal e

expressões faciais.

17

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

O tratamento dentário propriamente dito para uma criança surda é semelhante à das

crianças ouvintes, mas é importante realizar tratamento preventivo para essas crianças,

pois pode haver falta de higiene devido principalmente a uma educação pobre ou mal-

sucedida e falta de motivação.

O tratamento requer uma boa comunicação entre o médico dentista e a criança e os pais

ou educadores devem estar envolvidos na educação para a saúde oral.

Não é fácil explicar o conceito de anestesia local a uma criança surda, mas com a ajuda

dos seus intérpretes, pode ser útil dizer que os dentes são postos "a dormir". A palavra

"dor" é importante para estas crianças, por isso não é aconselhável utilizar uma palavra

diferente. Uma vez que a anestesia local for administrada, é importante testar se está a

funcionar; caso contrário pode levar à falta de confiança no dentista.

A utilização do dique de borracha deve ser introduzida lentamente de modo a evitar o

comportamento negativo na criança. Não se deve bloquear o campo de visão da criança

enquanto o aplica, pois irá afetar a comunicação entre a criança e o médico dentista.

Havendo uma relação de confiança, a maior parte das dificuldades será resolvida.

Encontrar um intérprete qualificadoO paciente deve ser informado das vantagens e necessidade de recorrer a um intérprete

profissional e as vantagens/desvantagens de recorrer a um familiar devem ser bem esclarecidas.

Assim que isto esteja clarificado deve ser dada oportunidade ao paciente para se pronunciar e

tomar uma opção.

Segundo o Artigo 2.º da Lei n.º 89/99 de 5 de Julho, “consideram-se intérpretes de língua gestual

portuguesa os profissionais que interpretam e traduzem a informação de língua gestual para a

língua oral ou escrita e vice-versa, por forma a assegurar a comunicação entre pessoas surdas e

ouvintes.” A mesma Lei define que para se considerar profissional, o indivíduo deve ter

frequentado com aproveitamento um curso superior de tradutor-intérprete de língua gestual, com

a duração mínima de três anos. Os intérpretes de língua gestual, no exercício da sua atividade

devem respeitar e cumprir o código de ética e linhas de conduta do intérprete de língua gestual

portuguesa. Assim, estão obrigados a: guardar sigilo de tudo o que interpretam; realizar uma

interpretação fiel, respeitando o conteúdo e o espírito da mensagem do emissor; utilizar uma

linguagem compreensível para os destinatários da interpretação; não influenciar ou orientar

nenhuma das partes interlocutoras; não tirar vantagem pessoal de qualquer informação conhecida

durante o seu trabalho.(38)

18

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Não há ainda em Portugal um registo nacional oficial acessível que inclua todos os intérpretes

profissionais de Língua Gestual Portuguesa.

Para requisitar os serviços de um profissional, os médicos dentistas interessados devem entrar

em contato com a associação de surdos federada mais próxima da área. Através da página web da

Federação Portuguesa das Associações de Surdos é possível aceder aos contatos das Associações

Filiadas.(39) Atualmente são as que se seguem:

Associação Cultural de Surdos da Amadora

Associação Cultural de Surdos do Barreiro

Associação Cultural dos Surdos de Águeda

Associação de Surdos da Alta Estremadura

Associação de Surdos da Linha de Cascais

Associação de Surdos de Guimarães e Vale do Ave

Associação de Surdos do Algarve

Associação de Surdos do Concelho da Almada

Associação de Surdos do Oeste

Associação de Surdos do Porto

Associação Portuguesa de Surdos

Sala de esperaTradicionalmente, os médicos dentistas baseiam-se no método oral para informar os seus

pacientes que estão prontos para o receber, chamando o paciente pelo nome. Essa tarefa pode ser

sua ou estar a cargo do pessoal assistente ou rececionista. Alguns pacientes surdos referem ter

dificuldades com este sistema pelas razões óbvias e referem que a alternativa passa pela

implementação de mostradores eletrónicos, mais comuns em meios hospitalares ou então por ter

alguém a vir informá-los diretamente e que esteja treinado para lidar com pacientes surdos, de

preferência.(2,18) Outra opção pode ser entregar aos pacientes um pager ou um dispositivo

eletrónico que vibre assim que forem chamados.(3)

De modo a facilitar e simplificar este processo, o tempo de espera dos pacientes surdos deve ser

minimizado ao máximo; para isso, as consultas devem ser previamente organizadas e agendadas

de modo a proporcionar um ambiente calmo e um tempo de espera adequado.(4)

Importa também minimizar o stress que o paciente surdo possa apresentar e que é normalmente

provocado pelo medo de haver problemas na comunicação, ansiedade normal da ida ao dentista

19

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

ou até medo de se sentir exposto perante outros.(3,5,15,18) Na eventualidade de o paciente se

mostrar demasiado tenso ou ansioso devido a fobias relacionadas com a clínica dentária poderá

ser vantajoso efetuar uma primeira consulta de apresentação ou avaliação num ambiente ou

espaço diferente.(8)

Outras técnicas e perspetivas futurasAlguns autores sugerem utilizar outras técnicas e materiais para facilitar ou melhorar a

comunicação entre o médico dentista e os pacientes surdos ou com dificuldades auditivas.

Aparelhos de mensagens instantâneas, software tradutor informatizado ou o recurso a

interpretação online em tempo real poderão ser cada vez mais utilizados no futuro.(3,9,18,33,40)

Em Portugal, existe pelo menos um projeto em execução que busca criar um software de

tradução de Língua Portuguesa para Língua Gestual recorrendo a um avatar virtual.

20

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Conclusão

ConclusãoOs Médicos Dentistas, à semelhança de outros prestadores de cuidados de saúde, têm geralmente

uma conceção errada de como abordar e comunicar com pacientes surdos e podem, por isso,

provocar graves mal-entendidos quando esta comunicação falha, perpetuando a ideia negativa

que estes pacientes têm acerca desta classe profissional. Estes profissionais podem também

desconhecer algumas particularidades destes pacientes, como por exemplo patologias ou

dispositivos médicos associados à surdez.

De modo a ultrapassar esta falha, as instituições de ensino superior devem incluir no seu

programa curricular a contextualização sobre regras de conduta perante a cultura surda e, se

possível, algum grau de formação básica em língua gestual. Os profissionais já formados devem

procurar obter estes conhecimentos junto das instituições ou organizações que lhes fornecem

formação contínua de modo a poder proporcionar os melhores cuidados possíveis aos seus

pacientes.

Existe ainda alguma dificuldade em retratar fielmente a realidade sobre este tema em Portugal,

fato que pode ser mitigado pela aplicação de ferramentas estatísticas ou de recenseamento que

incluam dados sobre a população surda portuguesa e a sua experiência no acesso aos serviços de

saúde. Há ainda muito trabalho que pode ser feito na área da Medicina Dentária com vista a

facilitar o acesso destes pacientes aos seus serviços e garantir tratamentos de qualidade. Esta

monografia pode ser um ponto de partida para os interessados em desenvolver este tema.

Por último, é importante esclarecer ou relembrar que havendo esforço da parte dos intervenientes

(médico dentista e paciente), é possível estabelecer uma comunicação adequada e prestar um

tratamento informado e esclarecido.

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Bibliografia

Bibliografia

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Anexos

Anexos

25

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Anexo A

Anexo A – Brochura (29)

Índice

Prevenção e Higiene Oral........................................................................................................................iv

Cárie Dentária e Dentisteria....................................................................................................................vi

Branqueamento dentário........................................................................................................................viii

Periodontologia.........................................................................................................................................x

Mau hálito................................................................................................................................................xii

Endodontia...............................................................................................................................................xv

Cirurgia Oral.........................................................................................................................................xvii

Cancro Oral............................................................................................................................................xix

Próteses dentárias..................................................................................................................................xxi

Próteses removíveis................................................................................................................................xxi

Próteses fixas........................................................................................................................................xxiv

Implantes dentários.............................................................................................................................xxvii

Ortodontia..............................................................................................................................................xxx

Saúde oral na grávida e no bebé.........................................................................................................xxxii

Saúde oral na criança.........................................................................................................................xxxiv

Saúde oral sénior................................................................................................................................xxxvi

i

Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Prevenção e Higiene Oral

1. Quais as vantagens da higiene oral diária para a saúde? Ajuda a manter os dentes e gengivas com saúde e evitar a maior parte das doenças da boca; Ajuda a mastigar bem todos os alimentos; Ajuda a dizer bem todas as palavras; Pode manter um sorriso bonito.

2. Quando devo ser consultado pelo médico dentista? Pelo menos uma vez por ano; Assim que o primeiro dente nascer; Prevenir é sempre mais fácil que tratar.

3. Qual a melhor dieta para continuar com os dentes mais saudáveis? Deve ser simples, variada e equilibrada; Evitar comer doces fora das horas das refeições – de preferência só à sobremesa.

4. Sabe um truque para manter os seus dentes saudáveis? Técnica 2x2x2 2 vezes por dia 2 minutos a escovar 2 horas sem comer a seguir à escovagem e às refeições principais.

5. Quando devo mudar a minha escova dos dentes? A cada 3 meses ou quando os “pêlos” da escova perderem a forma. Que instrumentos devo usar para escovar os dentes? Escova e pasta; Fio ou fita dentária; Escovilhão.

6. Como fazer a higiene da boca? Primeiro deve usar o fio/fita dentária ou o escovilhão para tirar os restos de comida que podem

ter ficado presos entre os dentes; Depois colocar na escova uma quantidade pequena de pasta (do tamanho de uma ervilha); Escovar todos os dentes, de trás para a frente, em cima e em baixo; Fazer movimentos em círculo com a escova por todo o dente e fazer o mesmo com o dente a

seguir indo de um lado da boca até ao lado contrário; No fim deve escovar a parte de cima da língua com a escova de trás para a frente.

7. Como usar o fio dentário? Deve usar cerca de 40cm de fio; Enrole as pontas à volta dos dedos do meio das suas mãos; Deve segurar o fio com os polegares e os indicadores;

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Com a ajuda desses dedos, passar o fio no espaço entre os dentes e retirar os restos de comida e placa bacteriana desse espaço.

8. Conselhos muito importantes! Quando não tem saúde oral, não está de perfeita saúde; Manter a saúde oral em bom estado ajuda a ter uma vida melhor e mais longa; A prevenção é sempre a forma mais barata de prevenção dos problemas; Quanto mais adiar o tratamento, mas difícil este se torna; Ter os dentes bem alinhados ajuda a manter uma postura do corpo equilibrada.

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Cárie Dentária e Dentisteria

1. O que é a cárie dentária? Quase 9 em 10 pessoas têm esta doença; Causada por bactérias; Pode destruir a parte ou a totalidade de um dente; As bactérias são ajudadas pela alimentação má (muitos doces) e por lavar mal os dentes; Pode causar infeções que afetam saúde das pessoas.

2. Como aparece a cárie dentária? Quando a comida tem açúcar simples (doces, bolos, chocolates, gomas, etc..) as bactérias vão

comer este açúcar e fazer ácido que destrói os dentes. Este processo é mais rápido quando comemos estes açúcares fora das refeições ou à noite antes

de deitar.

3. Os dentes são afetados todos da mesma forma? Não. Os dentes são mais sensíveis quando aparecem na boca porque ainda são jovens. Os dentes de trás têm vales onde a comida fica presa com mais facilidade e por mais tempo e são

mais difíceis de limpar.

4. Porque é que as cáries podem causar dores fortes nos dentes? É normal a cárie começar devagar e quando começa aparece uma mancha branca na parte de fora

dos dentes (o esmalte). Com o tempo esta mancha pode transformar-se num pequeno buraco (cavidade). Através desta cavidade as bactérias entram na parte intermédia do dente – a dentina.

A dentina é mais mole e menos resistente às bactérias e facilita o avanço da cárie. Com cavidades pequenas pode não haver dor. Com cavidades mais fundas pode haver

desconforto, mau hálito e dor: causada (pelo frio, calor ou alimentos doces) ou doer de repente com muita intensidade.

5. Como posso saber se tenho cárie dentária? Se é capaz de sentir uma cavidade ou falta de parte do dente é provável que tenha uma lesão de

cárie avançada. Cáries em fase inicial são difíceis de descobrir e normalmente só os médicos dentistas são

capazes. Deve estar atento a alterações de cor como manchas de cor branca, amarela, castanha ou preta nos

vales dos dentes. Cáries entre os dentes podem ser descobertas caso o fio dentário fique preso ou se estrague ao passar entre esses dentes.

6. Que cuidados devo ter para prevenir a cárie dentária? Escovar corretamente os dentes duas vezes por dia depois de comer. A escovagem da noite é a mais importante e não deve comer depois desta escovagem. Deve usar o fio dentário pelo menos uma vez por dia – de preferência à noite antes de dormir. Fazer refeições equilibradas e evitar petiscar entre refeições.

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Se não conseguir escovar a seguir à refeição pode mastigar uma pastilha elástica sem açúcar mas isto nunca vai substituir a escovagem!

Visite o seu médico dentista frequentemente.

7. O que é a Dentisteria? É a área da medicina dentária que trata as lesões dos dentes. Utiliza materiais que substituem a estrutura do dente perdido (materiais restauradores).

8. Que tipos de materiais restauradores existem? Materiais da cor dos dentes (resinas compostas) – que têm a vantagem de ser estéticos (bonitos) e

aplicados diretamente, numa só consulta. Em dentes de trás pode usar-se amálgama de prata, que é uma liga metálica. Se o dente estiver muito destruído, o melhor tratamento pode ser uma prótese feita em

laboratório, fixa, que envolve mais consultas para a sua conclusão.

9. O amálgama dentário pode fazer mal à saúde? Não. Já se usa há mais de 100 anos e nunca se encontrou uma relação direta entre restaurações de

amálgama e desenvolvimento de doenças sistémicas.

10. Devo substituir as restaurações escuras em amálgama por outras mais estéticas?

Depende. Apenas é obrigatório se a restauração tiver problemas (fratura, cárie). Pode ser trocada por motivos estéticos.

11. Um dente escurecido por restauração em amálgama pode ficar melhor se trocar a restauração por uma em resina composta?

Uma restauração antiga em amálgama pode escurecer o dente. Ao trocar essa restauração por uma em resina composta pode melhorar o problema. Pode ser preciso desgastar muito o dente para remover algumas manchas, o que não é adequado

muitas vezes.

12. Uma restauração em resina composta dura o mesmo que uma em amálgama? Restaurações em amálgama ou ouro podem durar 10 a 20 anos. Restaurações em resina composta podem durar cerca de 8 anos.

13. Como cuidar das restaurações? Deve controlar diariamente a higiene oral. Visitar o seu médico dentista regularmente.

14. Alguma comida ou bebida pode mudar a cor dos materiais estéticos? Os pigmentos existentes nas comidas ou bebidas podem mudar a cor destes materiais. O café, o chá, as colas (refrigerantes) e o tabaco podem acelerar este processo. Devemos evitar estes produtos, principalmente nas horas a seguir a realizar uma restauração

destas.

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Branqueamento dentário

O branqueamento dentário

A área da dentisteria estética é uma das formas mais equilibradas e com melhor relação custo/benefício, podendo tratar uma grande parte da população com efeitos estéticos rápidos. Por isso, os branqueamentos dentários estão a tornar-se mais relevantes e populares.

Um dos princípios básicos dos prestadores de saúde é executar os tratamentos mais adequados e prevenir danos causados pelos próprios atos médicos. Assim é importante informar os pacientes sobre técnicas mais eficazes e seguras e desmascarar alguns conceitos e métodos criados por estratégias de venda e publicidade e muitas vezes sem serem provados pela ciência.

1. Os branqueamentos dentários são eficazes e seguros? Existem diversos materiais e técnicas de branqueamento que permitem resultados eficazes e

seguros se forem selecionados e usados de maneira correta. Os produtos de venda livre (disponíveis em supermercados, farmácias, TV-shops, etc.)

publicitados como branqueadores não devem ser utilizados por serem pouco seguros: a sua eficácia é menor e não têm certificação nem controlo de qualidade.

Há também técnicas utilizadas somente por profissionais que, apesar da sua eficácia potencial, não estão devidamente estudadas no que se refere à sua segurança a médio e longo prazo.

2. Que materiais e técnicas de branqueamento podem ser utilizados? Pelas razões apresentadas acima já excluímos a utilização de produtos de venda livre; As técnicas utilizadas por profissionais podem ser distinguidas, de modo geral, com base nas

concentrações dos produtos químicos usados e na sua forma de aplicação; Esta concentração pode variar num intervalo muito amplo (cerca de 10 vezes); A sua aplicação pode ser:

o Em casa, diretamente pelo paciente;o Em casa, pelo paciente usando um “aparelho” adaptado aos seus dentes feito por um

profissional;o Direta, em consultório, feita por profissionais e mais intensa;

Os produtos usados em casa têm menor concentração e podem ser aplicados por períodos entre 1 a 6 horas por dia durante vários dias ou semanas;

Os produtos usados em consultório têm maior concentração e devem ser aplicados por profissionais em ambiente controlado.

3. Quais devem ser usados? A escolha depende principalmente do paciente: do seu estado clínico, das suas expectativas e da

rapidez pretendida; O profissional deve aconselhar a técnica mais correta sempre com base na relação

eficácia/segurança; De um modo geral o “tratamento em casa” com produtos de baixa concentração, receitados e

com instruções e controlo dos profissionais é eficaz e seguro a médio e longo prazo;

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A utilização de produtos com maior concentração por profissionais em consultório, apesar de eficaz, ainda não tem suporte científico que garanta a sua segurança, pelo menos em certas condições clínicas.

4. São necessárias luzes de LASER ou de outro tipo para branquear os dentes? As luzes não tornam os dentes mais brancos; As luzes apenas aceleram o efeito branqueador dos produtos químicos utilizados; Esta vantagem potencial pode não ser percetível; As luzes que provocam calor, apesar de acelerarem muito a reação química, podem ser lesivas

para a polpa (“nervo”) dos dentes saudáveis.

5. A quem pode ser feito a um branqueamento dentário? Em princípio, qualquer pessoa com bom estado de saúde oral; Pacientes com problemas dentários (cáries, desgastes, sensibilidade aumentada, etc.) podem

precisar de tratamentos antes de fazer o branqueamento; Os jovens e adolescentes podem fazer branqueamentos mas com cuidados especiais; Pessoas com restaurações e próteses na boca podem ter de as substituir depois do branqueamento

para equilibrar a cor dos dentes; os produtos de branqueamento não atuam na cor dos materiais destas próteses e restaurações.

6. Que efeitos secundários podem surgir? Os efeitos secundários, nos dentes e nas gengivas, estão relacionados com a concentração dos

produtos, a sua forma de aplicação e as condições de cada paciente; Os mais frequentes são a sensibilidade dentária e algum desconforto gengival que desaparece

normalmente ao interromper o tratamento; A aplicação incorreta dos produtos de maior concentração pode provocar lesões mais graves e

duradouras.

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Periodontologia

1. O que são doenças periodontais? São doenças que afetam os tecidos que envolvem e dão suporte aos dentes; Incluem a gengiva, osso e outras estruturas que mantêm os dentes bem seguros nos maxilares; Há dois grandes grupos:

o Gengivites – há inflamação da gengiva (camada mais à superfície) mas são fáceis de tratar e os tecidos (gengiva, etc) recuperam completamente;

o Periodontites – as estruturas mais profundas são destruídas e há perda de osso, sem dor e pode levar à perda de dentes se não for tratada.

2. Qual a causa destas doenças? A causa mais frequente são as bactérias; As bactérias que vivem na boca formam uma placa na superfície dos dentes e junto à gengiva

(sulco gengival); Quando o número de bactérias é muito grande, causa doenças periodontais.

3. As doenças periodontais passam de pais para filhos? (São hereditárias?) Para haver doença é preciso haver bactérias; A doença pode ser mais ou menos grave e pode depender de características genéticas/hereditárias.

4. Com que idade começam estas doenças? São mais frequentes em adultos, por volta dos 30 anos; Geralmente, se o paciente for mais jovem, é mais provável ter uma forma mais grave da doença e

precisa de mais cuidados; Raramente afetam crianças mas quando isso acontece, são um perigo grave para os dentes e para

a saúde geral; São das doenças mais frequentes na raça humana; A gengivite afeta quase toda a população; A periodontite afeta quase metade dos adultos com mais de 35 anos.

5. Como sei que a minha gengiva está doente? Os sintomas são: Sangrar das gengivas durante a escovagem ou sem razão aparente (espontâneo); Aparecer pus nas gengivas; Aparecer mau hálito ou mau sabor na boca; Gengiva muito vermelha; A gengiva começar a “baixar”; Os dentes ficarem com posições diferentes; Os dentes começam a abanar; Se tiver algum destes sinais deve consultar o seu médico dentista que pode avaliar e fazer o

diagnóstico.

6. É normal que a gengiva sangre? Não;

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Sangrar das gengivas é o primeiro sinal que algo não está bem; Uma gengiva que sangra pode ter gengivite (menos grave) ou uma periodontite (mais grave); Algumas doenças e alguns medicamentos fazem com que seja mais fácil sangrar das gengivas.

7. Quando os dentes começam a abanar e há doença periodontal, podem ficar bons outra vez?

Quando abanam pouco, podem melhorar depois do tratamento; Contudo, nunca param de abanar completamente porque o osso que se perdeu por causa da

periodontite não volta a crescer; Por estas razões o diagnóstico deve ser feito o mais cedo possível.

8. A doença periodontal tem cura? O tratamento consegue parar o avanço da doença mas não consegue recuperar os tecidos que se

perderam; A periodontite é uma doença para a vida (crónica); A periodontite precisa de cuidados frequentes (para manutenção) senão pode avançar mais; Nos casos mais graves pode não ser possível parar a doença mas apenas ter um avanço mais

lento; Os casos mais graves são:

o Casos que aparecem em crianças ou adultos jovens;o Pessoas que fumam mais de 20 cigarros por dia;o Algumas doenças (como a diabetes não controlada, por exemplo).

9. Como se tratam estas doenças? O objetivo do tratamento é eliminar as bactérias e controlar os fatores que diminuem a resistência

a estas doenças (tabaco, diabetes, medicamentos, etc.); Nas gengivites basta melhorar a higiene e fazer um tratamento que possa evitar a doença

(profilaxia), rápido e fácil; Nas periodontites há várias fases:

o Estudo inicial para fazer diagnóstico e criar um plano;o Fase básica – remover a placa bacteriana;o Em alguns casos pode ser preciso fazer uma pequena cirurgia;o Depois de ter a doença controlada faz-se a fase de tratamento de manutenção (manter a

doença controlada).

10. Basta escovar os dentes para prevenir a doença periodontal? Não; A escova não chega aos espaços entre os dentes; Para remover a placa bacteriana destes espaços deve usar fio dentário ou escovilhões

interdentários; Pode ser difícil aprender a utilizar estes instrumentos (fio e escovilhão); Se sentir mau cheiro ao utilizar estes instrumentos significa que há bactérias que causam

alterações na gengiva; Quanto mais tempo passar entre cada limpeza entre os dentes, pior se torna o cheiro.

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Mau hálito

1. O que é a halitose? Halitose (mau hálito) é o termo que descreve um hálito desagradável ; Pode ter origem em várias alterações na cavidade oral (boca) ou outras localizações.

2. Qual a sua frequência na população? Não se conhece a frequência (quantas vezes acontece); Trata-se de uma situação que afeta provavelmente toda a gente, pelo menos de vez em quando e

de forma transitória (aparece e desaparece) e apresenta consequências sociais, afetivas e psicológicas.

3. Qual a principal origem da halitose? Na maioria dos casos tem origem na boca; Pode ser o primeiro sinal de uma doença sistémica.

4. Quais as causas principais que originam a halitose? Podemos dividir as várias causas em três grupos:

o Causas orais;o Causas externas;o Causas relacionadas com outras áreas.

5. Causas oraiso Má higiene oral;o Presença de cáries;o Doenças das gengivas;o Ulcerações (feridas) orais;o Infeções orais (devido a bactérias, vírus ou fungos;o Prótese dentárias com má higiene oral;o Diminuição da quantidade de saliva;o Cancro oral;o Alguns estudos associam presença de bactérias que degradam produtos que contenham

enxofre e como resultado libertam produtos sulfurosos que dão a noção do mau cheiro.

6. Onde se encontram estas bactérias? As bactérias encontram-se em toda a cavidade oral; Devido à sua grande área e estrutura a língua parece formar um ambiente ideal para as bactérias; As bactérias utilizam os produtos presentes na língua (restos de comida, células, saliva, etc.) para

produzir compostos sulfurosos.

7. Quais as causas externas? As principais causas externas estão ligadas à ingestão de certos alimentos durante o nosso dia a

dia (por exemplo o alho e a cebola) que têm efeito direto e sistémico no nosso hálito;

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Qualquer fator que diminua o fluxo salivar (quantidade de saliva presente na nossa boca e velocidade com que é produzida) como o álcool, tabaco e certos medicamentos, agrava o mau hálito.

8. O que é o hálito matinal? Durante a noite, ao dormir, produzimos menos saliva e passamos várias horas sem ingerir

líquidos e alimentos, por isso é normal que às vezes se sinta um hálito mais intenso.

9. Quais as causas relacionadas com outras áreas? A otorrinolaringologia (área da medicina relacionada com ouvidos, nariz, laringe, faringe, etc.)

pode ser considerada a segunda área de maior importância associada à halitose o que se deve, por exemplo, à ocorrência de sinusite ou de corpos estranhos no nariz em crianças;

Há causas pouco frequentes que têm origem nos pulmões, estômago, fígado e rins; Pode existir uma relação entre mau-hálito e doenças no estômago e do sistema digestivo; O mau hálito pode também surgir por causa de doenças e alterações gerais como por exemplo a

diabetes, falta de vitaminas, falta de água (desidratação) e até o ciclo menstrual.

10. Temos sempre uma noção correta do nosso hálito? Muitas vezes não; Às vezes podemos estar menos sensíveis por causa da habituação; Noutras vezes podemos ter uma ideia mais exagerada e isso pode dever-se a:

o Publicidade acerca do mau-hálito que torne as pessoas mais sensíveis a esse problema;o Noção de mau sabor na boca;o Crianças com pais com mau hálito podem crescer a pensar que também têm esse

problema;o Se no passado já houve uma chamada de atenção por causa do mau hálito a pessoa pode

continuar preocupada.

11. Como é que um médico dentista pode diagnosticar o meu mau hálito? Num diagnóstico adequado há recolha de história clínica e um exame intra e extra oral (dentro e

fora da boca); O seu médico dentista pode ainda usar exames complementares tais como testes à saliva, testes de

pesquisa de micróbios e usar aparelhos especiais para o medir.

12. Como se pode prevenir o mau hálito? Geralmente o mau hálito pode ser prevenido com uma boa higiene oral; A higiene oral tem de incluir:

o Escovar os dentes;o Fazer limpeza entre os dentes (com fio dentário por exemplo);o Fazer a limpeza da língua (com raspadores linguais, por exemplo);

Deve ingerir água suficiente para manter uma hidratação correta durante o dia; Pode usar ainda elixires que o seu médico dentista lhe recomende e que ajudam na prevenção e

tratamento da halitose.

13. Como posso avaliar o meu hálito? Avaliação global : coloque as mãos em frente à boca em forma de tigela, inspire (respirar) pelo

nariz e cheire o ar depois de expirar (soltar o ar) pela boca;

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Teste de lamber o pulso : pode fazer este teste sozinho ou pedir ajuda a outros; deve lamber o seu pulso e depois de 5 segundos e a 3 centímetros de distância, quem vai examinar pode avaliar o cheiro.

Teste da colher : raspe a parte de cima (dorso) da sua língua com uma colher plástica, removendo a placa bacteriana e resíduos presentes e analise o cheiro que fica na colher;

Avaliação olfativa (do cheiro) por uma pessoa amiga ou cônjuge : é o melhor método apesar de muitas pessoas não se sentirem à vontade para o usar; essa pessoa pode ainda ajudar a avaliar os fatores que causam o mau hálito e deve participar no diagnóstico e de avaliação do tratamento.

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Endodontia

1. O que é a endodontia? A palavra endodontia tem origem na língua grega e significa: dentro (endo) do dente (dontia); Dedica-se às doenças da polpa dentária (órgão conhecido como o “nervo” do dente) e tecidos que

rodeiam as raízes e o seu tratamento; A polpa dentária ocupa canais na parte de dentro do dente – canais radiculares; Antigamente, os dentes com problemas na polpa dentária eram extraídos; Hoje em dia os tratamentos disponíveis permitem quase sempre salvar estes dentes.

2. Que acontece quando surge uma dor com origem num dente? A maior responsável pela origem da dor de dentes é a cárie dentária; Quando a cavidade causada pela cárie chega a zonas mais profundas do dente, a polpa dentária

fica inflamada e normalmente surgem dores causadas pelo frio; Se esta agressão continuar a polpa perde a capacidade de defesa e recuperação; Neste estado (irreversível), há normalmente dores intensas e que duram muito tempo provocadas

pelo frio, quente ou até que surgem de repente durante a noite; Nesse caso é preciso remover a polpa dentária, ou seja, fazer um tratamento endodôntico.

3. Que acontece quando surge um abcesso? Quando aparece dor espontânea (de repente), na maior parte das vezes significa que a polpa

dentária encontra-se a “morrer” e as bactérias começam a invadir essa parte do dente; Essa invasão das bactérias provoca uma infeção que se alastra para o osso em volta do dente,

podendo causar um abcesso.

4. Em que consiste um tratamento endodôntico não cirúrgico? O objetivo de um tratamento endodôntico não cirúrgico (“desvitalização”) é garantir que os

tecidos à volta do dente mantenham ou recuperem o estado saudável; O tratamento começa com uma anestesia e abertura de uma pequena cavidade no dente para

aceder ao seu interior; De seguida desinfetam-se os canais e altera-se a sua forma utilizando instrumentos que podem ser

manuais ou mecânicos; Termina-se o tratamento ao preencher os canais com um material próprio; Depois do tratamento endodôntico o acesso (cavidade) é selado.

5. Após a endodontia (“desvitalização”), quanto tempo devo esperar até restaurar o dente?

Depois do tratamento endodôntico os canais ficam preenchidos e selados; A cavidade feita para o acesso do tratamento na parte visível do dente deve ser restaurada

definitivamente no prazo máximo de um mês para garantir a proteção e resistência total do dente.

6. O que acontece se não fizer a restauração em tempo útil? Se não restaurar o dente no prazo de um mês, a restauração provisória (temporária) poderá

estragar-se e/ou sair, o que pode expor o tratamento e causar uma nova infeção;

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Como na maior parte dos casos o dente que teve o tratamento já possui pouca estrutura saudável na coroa (parte visível do dente) pode haver fratura, tornando a restauração impossível e obrigando a extrair (tirar) o dente.

7. Quanto tempo dura um dente tratado por endodontia? Um dente é tratado com o objetivo de durar toda a vida; no entanto, após o tratamento não fica

imune (resistente) a novas cáries; Além disso, ao perder a polpa dentária (“nervo”), o dente deixa de doer e de ser capaz de sinalizar

as agressões dentárias; Assim, é essencial fazer consultas periódicas de controlo no médico dentista.

8. Não será preferível extrair o dente e substituí-lo com prótese? Não tome a decisão de extrair um dente sem antes discutir com o seu médico dentista todos os

benefícios e desvantagens das opções de tratamento disponíveis. O custo e simplicidade de uma extração dentária podem ser atrativos mas substituir um dente

extraído por um dente artificial será quase certamente mais complexo e dispendioso do que fazer um tratamento endodôntico e reabilitar o dente afetado.

9. O que é um retratamento endodôntico? É uma opção de tratamento quando um tratamento endodôntico prévio falhou; Geralmente tem um grau elevado de dificuldade; Alguns problemas do tratamento prévio podem não ser corrigíveis; nesse caso a microcirurgia

endodôntica pode ser uma alternativa de recurso.

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Cirurgia Oral

1. O que é a Cirurgia Oral? Especialidade da medicina dentária; Diagnostica e trata doenças, lesões e anomalias dos dentes, boca, maxilares e estruturas anexas

através de cirurgia.

2. O que é que faz? O seu campo de ação clínico é grande:

o Extrair (arrancar) dentes – presentes na boca ou inclusos;o Cirurgia endodôntica (ver folheto de endodontia);o Cirurgia de quistos ou tumores;o Cirurgia periodontal (dos tecidos que suportam os dentes);o Implantologia (cirurgia de implantes);o Cirurgia pré-protética (preparar a boca para que seja colocada uma prótese);o Cirurgia de lesões infeciosas;o Traumatologia oral (quando se partem ossos da face, por exemplo).

3. O que é um dente incluso? É um dente que não nasce e fica no interior dos tecidos da boca (osso ou mucosa) mesmo depois

da altura normal. Os mais comuns são os dentes do siso (3os molares), principalmente os inferiores.

4. Como posso saber se tenho um dente incluso? Geralmente o diagnóstico só pode ser feito com exames de raios-X; Há vários métodos, sendo que o seu médico dentista selecionará o(s) mais indicado(s).

5. Tenho um dente incluso. Devo extraí-lo? Não existe uma regra geral para esta decisão; Diferentes critérios são ponderados dependendo de cada situação clínica; Fale com o seu médico dentista.

6. As cirurgias na boca (atos de cirurgia oral) causam dor? Graças à evolução da medicina dentária o desconforto causado por qualquer acto cirúrgico é

agora muito pequeno; Existe trauma em todos eles mas podem ser minimizados; Deve haver uma boa preparação com recolha da história clínica, diagnóstico e planificação da

cirurgia. Uma boa anestesia, uma técnica que cause o menor trauma possível e medicação posterior eficaz

permitem um grande nível de conforto durante a após a cirurgia.

7. O que devo fazer antes de uma cirurgia oral? Se estiver planeada uma anestesia local durante a cirurgia, deve evitar um período longo de jejum

na hora da cirurgia;

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Apenas se estiver planeada uma anestesia geral deve estar em jejum várias horas antes; O seu médico dentista deve dar-lhe as indicações necessárias.

8. O que devo fazer depois de uma cirurgia oral? Após a cirurgia é muito importante ter alguns cuidados para minimizar algumas marcas

(sequelas) e melhorar a cicatrização. Geralmente deve:

o Aplicar gelo no rosto sobre a região operada, durante 5 a 10 minutos de cada vez durante as primeiras 24h; o gelo deve ser colocado num saco plástico e envolvido por um pano para evitar queimaduras;

o Evitar apanhar muito sol, alimentos muito quentes e duros e esforços físicos até remover a sutura (os pontos);

o Optar por uma dieta mole ou líquida nas primeiras 24 a 48h (gelados, iogurtes, sumos, batidos, gelatina, etc.);

o Descansar e dormir com a cabeça mais elevada do que o resto do corpo e deitar-se sobre o lado não afetado;

o Escovar normalmente os dentes e a língua mas ter cuidado com a região da ferida causada pela cirurgia – pode usar uma escova muito macia (cirúrgica) após as primeiras 24h nesta região;

o Após as primeiras 24h, fazer bochechos leves (com cuidado) com um elixir oral (anti-séptico) 2 a 3 vezes por dia durante um minuto;

o Evitar fumar, principalmente nas primeiras 24h;o Cumprir a medicação prescrita (recomendada).

9. O que fazer se tiver uma hemorragia (se sangrar) É normal sentir um sangramento ligeiro nas primeiras 24h; Se sangrar intensamente (hemorragia), deve dobrar uma ou mais compressas de gaze esterilizada,

colocar sobre a região que está a sangrar e segurá-las fechando a boca até controlar a hemorragia; Se precisar de aplicar mais compressas não remova a primeira, aplicando outra sobre esta; aplique

gelo e evite deitar-se; Se a hemorragia continuar contacte o seu médico dentista.

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Cancro Oral

1. O que é o cancro oral? O cancro oral engloba o conjunto de tumores malignos que afetam qualquer localização da boca,

dos lábios à garganta (o que inclui as amígdalas e a faringe); São mais frequentes no pavimento da boca (mucosa abaixo da língua), parte lateral da língua e

palato mole; Mais de 90% afetam o epitélio (revestimento) da mucosa oral e chamam-se carcinomas; Os restantes correspondem a formas raras de tumores (incluem linfomas, sarcomas, melanomas,

etc.); O cancro oral tem índices de mortalidade elevados, muito por causa do seu diagnóstico que se faz

tarde.

2. O cancro oral é frequente? O carcinoma (cancro) da cabeça e do pescoço representa cerca de 2.8% de todos os cancros e é o

6º cancro mais comum em todo o mundo; É mais frequente nos homens, acima dos 45 anos de idade e o risco aumenta muito até aos 65

anos.

3. Quais os fatores de risco do cancro oral? Os principais são o tabaco e o álcool; O fumo do tabaco relaciona-se com várias alterações na mucosa oral e tem um efeito

carcinogénico (criador de cancro) direto nas células epiteliais (as que revestem a mucosa); Calcula-se que 80% dos doentes diagnosticados com cancro oral sejam fumadores ou ex-

fumadores; estes doentes têm um risco 5 a7 vezes maior de desenvolverem cancro oral quando comparados com não-fumadores;

O risco diminui depois de deixar de fumar: após 15 anos de ter parado de fumar o risco é parecido com o de um não-fumador;

O cancro oral está associado com consumo de álcool e tabaco e pouca ingestão de vegetais e frutas.

4. Como se manifesta o cancro oral? Quais os seus principais sinais e sintomas? Os carcinomas podem manifestar-se como uma mancha, de cor variável, branca ou avermelhada,

uma massa mais ou menos dura ou uma úlcera (ferida) que não cicatriza; Começa por ser indolor (sem dor) e vai ficando cada vez mais doloroso; Sinais e sintomas:

o Úlceras persistentes e lesões que não cicatrizam;o Áreas mais duras que o normal;o Áreas de crescimento anormal dos tecidos;o Dentes que se começam a mexer;o Dor;o Perdas de sensibilidade;o Dificuldade em engolir, o Lesões brancas e vermelhas;o Gânglios linfáticos aumentados.

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5. Como se trata o cancro oral? Geralmente com cirurgia e radioterapia (com radiação) e podem ser isoladas ou combinadas; O fator que melhora muito a taxa de sobrevivência à doença é fazer um diagnóstico precoce.

6. O cancro oral mata! Apesar dos avanços da ciência no diagnóstico e tratamento o cancro oral continua a ter uma taxa

de mortalidade bastante elevada; Cerca de 6 em cada 10 doentes de cancro oral morrem no espaço de 5 anos depois do diagnóstico; O insucesso parece estar ligado ao diagnóstico tardio.

7. Como posso prevenir o cancro oral? A prevenção passa por:

o Adotar um estilo de vida saudável;o Não consumir tabaco;o Diminuir o consumo de álcool;o Consumir regularmente vegetais frescos e frutas;o Visitar o médico dentista regularmente para permitir o diagnóstico inicial das lesões.

8. Em que consiste uma consulta de rastreio (deteção) de cancro oral? Nesta consulta o médico dentista examina as estruturas orais (lábios, língua, gengivas, palato,

bochechas, pavimento da boca, etc.) e também as estruturas anexas (glândulas salivares, pescoço, etc.)

Faz-se um exame visual e também palpação (toque) destas regiões para detetar aumento do volume e se estão mais duras que o normal;

Podem fazer-se exames de raio-X; Quando se encontra uma lesão suspeita pode ser feita uma biópsia para confirmar o diagnóstico

inicial.

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Próteses dentárias

O que são próteses dentárias?

São peças que permitem substituir dentes e outras estruturas da boca (gengiva e osso) e restabelecer a função estética, fonética e mastigatória;

Há dois tipos: o Removíveis – o paciente consegue tirar e voltar a colocar a prótese;o Fixas – o paciente não consegue tirar e voltar a colocar a prótese.

Consultas periódicas de controlo são muito importantes – o seu médico dentista examina a sua boca para garantir que as próteses continuam adaptadas e procurar sinais de doenças, incluindo o cancro oral (da boca).

Próteses removíveis

1. O que são próteses totais removíveis? Próteses para substituir os seus dentes e o seu sorriso se perdeu todos os seus dentes naturais; Tradicionalmente a prótese total é colocada na boca depois de os últimos dentes na boca serem

extraídos e os tecidos estiverem cicatrizados, o que pode levar alguns meses; Uma prótese total imediata é inserida na boca logo depois de remover os últimos dentes; com este

tipo de próteses o paciente não passa nenhum período sem dentes mas precisa de a ajustar passado poucos meses.

2. O que são próteses parciais removíveis? São próteses dentárias removíveis usadas quando alguns dentes estão ausentes e os dentes

presentes são saudáveis; Têm estrutura em metal ou acrílico para suporte de dentes artificiais; Restabelecem as funções orais:

o Mastigação;o Estética;o Fonética;o Estabilidade e prevenção de outros problemas nos dentes naturais.

3. Qual a diferença entre uma prótese parcial esquelética e uma acrílica? Prótese parcial esquelética – tem uma base metálica feita sobre um molde e a estrutura fica

apoiada sobre a gengiva e os dentes; Prótese parcial acrílica – construída em resina acrílica e apoia apenas nas gengivas; pode ter

partes metálicas como ganchos ou redes e barras para reforço.

4. Quais as vantagens/desvantagens de uma prótese esquelética/acrílica? Quando comparada com uma prótese acrílica, a prótese esquelética tem as seguintes vantagens:

o É mais resistente e higiénica;o Pode ter uma base mais fina, o que aumenta o conforto;o Tem melhor suporte do que uma prótese acrílica e não se afunda tanto na gengiva;

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Quando comparada com uma prótese acrílica, a prótese esquelética tem a desvantagem de ser normalmente mais cara devido ao material usado e custos de laboratório que são maiores.

5. Qual a sensação do uso de próteses dentárias removíveis? As próteses novas podem ser desconfortáveis inicialmente; As próteses novas podem parecer soltas inicialmente; É normal precisar de algum tempo para que os músculos e a língua se habituem e aprendam a

manter a prótese no seu lugar; É normal aparecerem pequenas irritações ou úlceras nos primeiros dias; É normal que a saliva aumente nos primeiros dias; Estes problemas começam a diminuir quando se habitua à prótese; É normal ser necessária uma ou mais consultas de controlo com o seu médico dentista depois de

ter uma prótese nova.

6. Serei eu capaz de comer com as minhas próteses? A mastigação exige prática:

o deve começar com comida mole e cortada em pedaços mais pequenos;o deve mastigar devagar e usando os dois lados da boca ao mesmo tempo;o à medida que se habitua à prótese, comece com outros alimentos até voltar à dieta

normal.

7. As próteses fazem-me parecer diferente? As próteses podem ser feitas de modo a ficarem parecidas com os seus dentes naturais; As alterações são muito pequenas e quase não se notam. As próteses podem melhorar a aparência da sua face e do seu sorriso.

8. As próteses vão alterar a forma como eu falo? Pode precisar de algum tempo e prática para voltar a pronunciar corretamente algumas palavras; Pode tentar ler em voz alta e dizer palavras difíceis; Se os problemas continuarem deve consultar o seu médico dentista.

9. Quanto tempo devo usar as minhas próteses? Durante os primeiros dias deve usar as próteses o máximo de tempo possível, mesmo enquanto

dorme; Depois de se habituar às próteses deve dormir sem elas para que as gengivas descansem e

aumente a saúde oral.

10. Devo usar fixador (adesivo/“cola”) de prótese? Estes adesivos funcionam bem em próteses bem adaptadas; Não são a solução para próteses antigas e desajustadas; Não devem ser usados sempre; Estas próteses desajustadas podem precisar de ser adaptadas de novo (rebasadas) ou mesmo

substituídas por outras novas; Caso não o fizer podem causar feridas de alguma gravidade.

11. Posso fazer ajustes pequenos ou reparar a minha prótese?

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Pode causar dano às suas próteses e fazer mal à sua saúde se a tentar ajustar sozinho; Se a sua prótese partiu, rachou, estalou ou se perdeu um dos dentes visite o seu médico dentista; O seu médico dentista pode fazer os ajustes em tempo útil.

12. Como devo cuidar das minhas próteses? Mantenha as próteses afastadas de animais ou crianças quando não as está a usar; As próteses são muito frágeis e podem partir se caírem, mesmo de poucos centímetros; Tal como os dentes, deve escovar as suas próteses diariamente para remover comida e placa

bacteriana, prevenir o aspeto sujo e manter um hálito fresco e saudável; Deve usar escovas próprias para próteses ou escovas macias; Deve ter uma toalha ou o lavatório com água para as proteger da queda enquanto limpa as suas

próteses; O seu médico dentista pode recomendar-lhe produtos para limpar a sua prótese, que pode

comprar na farmácia.

13. As minhas próteses vão precisar de ser substituídas? Com o passar do tempo é preciso reajustar as suas próteses ou até fazer próteses novas; Com o uso normal as próteses podem ficar soltas na boca e/ou apresentar um grande desgaste; As próteses ficam desadaptadas porque a sua boca também se altera com idade e perde osso e

gengiva; Próteses que causam irritações constantes podem causar feridas ao fim de algum tempo pelo que

deve evitar usar uma prótese desajustada durante muito tempo.

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Próteses fixas

1. O que é a prótese fixa? É restaurar a coroa de um dente de maneira parcial ou total através de uma prótese que não pode

ser removida pelo paciente e que é colocada:o Num dente natural preparado para isso;o Sobre um implante dentário.

Pode ser utilizada para substituir um só dente (coroa) ou vários dentes perdidos (ponte); As próteses fixas têm o objetivo de imitar ao máximo os dentes naturais do paciente; É a opção ideal quando faltam poucos dentes devido ao conforto e à estética.

2. Qual é o objetivo das coroas? As coroas são aconselhadas quando é preciso:

o Dar mais resistência a dentes danificados para que durem mais tempo;o Melhorar a estética;o Melhorar o formato ou alinhamento dos dentes;o Conseguir a forma e a estrutura de um dente perdido quando colocada sobre um implante.

3. Qual é o objetivo das pontes? As pontes são usadas para substituir um ou mais dentes ausentes e são várias coroas, todas

unidas; Podem ser feitas sobre dentes naturais mas nestes casos é necessário haver dentes nas pontas

(extremos) das zonas sem dentes; Nas pontes maiores podem existir dentes ou implantes entre os extremos para ser possível

suportar toda a estrutura.

4. Em que situações estão indicadas as próteses fixas? As próteses fixas são indicadas quando queremos:

o substituir uma grande restauração quando não resta muita estrutura do dente natural;o proteger um dente enfraquecido que se partiu;o aumentar a retenção e suporte de uma prótese removível esquelética (metálica);o substituir um dente ausente colocando-a sobre um implante dentário;o “cobrir” um dente com alteração de cor ou forma;o proteger dentes desvitalizados que se tornaram frágeis;o substituir dentes ausentes.

5. Qual é o objetivo do uso dos implantes dentários? As coroas sobre implantes dentários permitem-nos substituir um ou mais dentes; os implantes

funcionam como as raízes dos dentes naturais e suportam as próteses fixas; Os implantes são muito úteis quando os pacientes não têm dentes naturais e as condições da boca

(osso e gengiva) não permitem usar uma prótese total com conforto e de maneira estável; Neste caso os implantes aumentam o suporte e a retenção da prótese que será removível mas bem

estável.xxii

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6. Há necessidade de realização de tratamento endodôntico (“desvitalização”) dos dentes que suportam a prótese fixa?

Idealmente não; O melhor suporte é um dente com boa estrutura e gengivas saudáveis; O tratamento endodôntico está indicado se houver dúvidas quanto à saúde da polpa dentária

(“nervo” do dente); Algumas situações clínicas podem levar à decisão de desvitalizar estes dentes.

7. Quanto tempo demora a fazer uma prótese fixa? Depende se o caso é complexo ou extenso mas são necessárias várias sessões clínicas; Também deve ter em conta o tempo que se demora a fazer as próteses em laboratório; Pode demorar vários meses.

8. O resultado estético é bom? (Fica bonito?) Sim, na maior parte dos casos é bom; Há situações que tornam difícil conseguir uma estética excelente; Nesses casos a prioridade é:

o Voltar a conseguir uma boa mastigação;o Conseguir um tratamento que dure bastante;o Conseguir um tratamento que fique bonito.

9. Eu fico sem os dentes durante o tratamento? Não; É feita uma prótese fixa provisória (temporária) enquanto o tratamento não está completo; Esta prótese vai permitir mastigar, falar e sorrir de maneira normal durante o tratamento; não tem

tanta estética nem resistência mas permite proteger o dente preparado; A prótese fixa provisória não tem qualidade suficiente para ser considerada uma restauração fixa

permanente.

10. Este tratamento é simples? Sim mas requer grande experiência e conhecimento técnico/científico por parte do médico

dentista; Utilizam-se materiais e equipamento de grande qualidade; O trabalho laboratorial é feito por um técnico de prótese com conhecimentos para este efeito.

11. Como realizar uma boa higiene para evitar mau hálito e garantir que as próteses fixas duram muito tempo?

Quando bem desenhadas e adaptadas as próteses fixas são como dentes naturais e precisam dos mesmos cuidados de higiene oral;

Pacientes com pontes precisam de ferramentas especiais para limpar os espaços entre as coroas (pônticos) tais como:

o passadores de fio dentário;o fios com ponta mais dura;o escovilhões.

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A má higiene ou má adaptação de uma prótese fixa pode levar a que restos de comida e bactérias causem inflamação da gengiva e mau hálito, estragando a estrutura que suporta a prótese fixa;

Por vezes as coroas e as pontes podem soltar-se; isto é normal acontecer se os dentes ou o osso que as suportam forem danificados por doenças;

Para prevenir danos na prótese fixa deve evitar trincar alimentos ou objetos duros; O mais importante para que as próteses fixas durem muito tempo é fazer visitas regulares ao

médico dentista para controlo e higiene.

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Implantes dentários

1. O que são os implantes dentários? São “raízes artificiais”, utilizadas para substituir os dentes em falta com o objetivo de suportar

uma coroa e/ou prótese.

2. Como se liga um implante ao osso? Quando são colocados em contacto com o osso, os implantes estabelecem uma união biológica

saudável e estável com este.

3. São sempre a melhor solução quando falta um dente? Os implantes são mais uma alternativa de tratamento para substituir dentes perdidos, tal como as

próteses removíveis e próteses fixas; Os implantes são geralmente a opção mais próxima da dentição natural em termos de função e

conforto.

4. E quando faltam vários ou todos os dentes? Como referido atrás, existem outras opções de tratamento; Cada uma tem diferentes indicações e vantagens.

5. Como posso saber a melhor solução para o meu caso? Deve informar-se com o seu médico dentista que poderá fazer o seu diagnóstico e explicar-lhe as

alternativas de tratamento que melhor se adaptam ao seu caso clínico.

6. Os tratamentos com implantes provocam dor? Há regras bem estipuladas nas cirurgias com implantes e a maioria das situações não implica

nenhum incómodo e/ou dor; Realiza-se este procedimento com anestesia local; Depois da cirurgia pode haver uma ligeira inflamação e edema da área (pode “inchar”); Em raras ocasiões estes sintomas podem ser mais acentuados; O seu médico dentista pode receitar-lhe medicamentos para aliviar os incómodos nas situações

que julgue necessárias.

7. Em que consiste o tratamento com implantes? Em termos gerais tem quatro fases: planificação, cirurgia, reabilitação e manutenção:

o Fase de planificação – a complexidade depende da situação inicial. Implica geralmente o estudo clínico e radiográfico (com raios-X) do seu caso e outros tratamentos dentários para atingir uma boa saúde oral antes do tratamento com implantes;

o Fase cirúrgica – realiza-se uma cirurgia para colocar o implante (raiz artificial) em contacto com o osso; pode haver necessidade de mais cirurgias dependendo do seu caso, geralmente quando há pouco osso disponível;

o Fase restauradora ou de reabilitação – pode ser feita no mesmo dia ou até 6 meses após a colocação do implante; envolve procedimentos necessários para fabricar a prótese que vai ser colocada sobre o implante e pode envolver várias consultas;

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

o Fase de manutenção – pode ser considerada a mais importante pois é a que permite manter em saúde o que foi realizado antes; a duração e a qualidade do tratamento dependem muito dos cuidados de higiene oral feitos pelo paciente e pelo médico dentista.

8. Podem os implantes perder-se? Em pacientes com boa saúde oral e geral, vários estudos indicam uma eficácia de tratamento na

ordem dos 90% a 98%; Tal como outros tratamentos dependem de vários fatores como características dos pacientes e os

seus hábitos de higiene oral, tabágicos e outros; O seu médico dentista poderá informá-lo sobre as possibilidades de êxito no seu caso; Se perder um implante pode sempre colocar outro sem que isso signifique um risco aumentado de

fracasso no futuro.

9. E porque falham os implantes? Os implantes podem perder-se por múltiplas razões em diferentes fases:

o Numa fase inicial por não se conseguir a união osso-implante (devido a infeções, falta de sangue na região, alteração da cicatrização – frequente nos fumadores – e forças muito grandes sobre as próteses colocadas nos implantes;

o Numa fase posterior pode haver falha devido a perda do ajuste ou fratura das próteses ou das peças que as unem ao implante; podem também acontecer infeções que resultam da falta de higiene oral – falta de tratamento de manutenção.

10. O tabaco aumenta realmente o risco de fracasso? O tabaco diminui a quantidade de sangue que chega ao osso e à gengiva e atrasa a cicatrização o

que aumenta o risco de infeção; Está provado que os implantes em pacientes que fumam têm maior taxa de insucesso.

11. Que problemas podem acontecer durante o tratamento? Durante a fase cirúrgica são as mesmas de qualquer tratamento de cirurgia oral; Apesar de pouco frequentes podem acontecer lesões em nervos ou em dentes vizinhos mas são

facilmente evitáveis se houver uma boa fase de preparação.

12. E agora, depois de ter o implante, que alterações posso apresentar? Em termos de função, os implantes são como os dentes naturais, ou seja, as pessoas não os

sentem como sendo algo estranho; Dependendo do tipo de prótese que se coloca os pacientes podem sentir algum movimento da

prótese, o que é normal; este movimento é sempre mais pequeno do que uma prótese removível normal;

A estética e a mastigação melhoram; Deve ter em atenção que o tabaco e a higiene oral influenciam a duração a longo prazo destes

tratamentos.

13. Quanto tempo duram os tratamentos com implantes? São para toda a vida? Nenhum tratamento reabilitador em Medicina Dentária é eterno;

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Com os avanços recentes da tecnologia pode esperar uma durabilidade dos implantes sempre superior a 15 anos e no caso das próteses que são apoiadas nos implantes 10 anos é o tempo mínimo aceitável de duração;

Se houver alguma infeção ou problema mecânico no conjunto implante-prótese este período de duração esperada reduz bastante; estes problemas costumam surgir quando a manutenção destes tratamentos é má;

Deve fazer consultas de controlo no mínimo de 6 em 6 meses.

14. A prótese definitiva é colocada no mesmo dia em que os implantes são colocados?

Normalmente não; apesar de ser possível, a desvantagem é que está a colocar uma prótese que pode não ficar bem adaptada à gengiva que rodeia os implantes;

É possível colocar uma prótese fixa provisória (temporária) no mesmo momento em que são colocados os implantes e a sua vantagem principal é o conforto que obtém enquanto espera em média 8-12 semanas até que o implante se adapte ao osso;

A prótese definitiva é muito parecida com a provisória mas é feita num material mais resistente e duradouro e está mais adaptada à gengiva.

15. Os implantes e outras patologias de saúde geral… O tratamento com implantes pode fazer-se:

o em pacientes diabéticos, desde que tenham os níveis metabólicos controlados;o em mulheres com osteoporose, mas pode ser necessária uma planificação específica;o em pacientes que tomem medicamentos que alterem a velocidade com que estanca

normalmente o sangramento (coagulação e agregação plaquetária) – neste caso deve informar o seu médico dentista uma vez que pode ser necessário alterar a medicação antes de colocar os implantes.

16. Que mitos existem? Os implantes dentários são detetados ao passar nos detetores de metais – falso; O tratamento com implantes dentários é doloroso – falso; Pode pôr-se e tirar-se um implante depois de colocado – falso.

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Ortodontia

1. O que é a ortodontia? É a especialidade da medicina dentária que previne e corrige as más posições dos dentes e dos

maxilares.

2. Em que idade se deve efetuar a primeira consulta de ortodontia? Todas as crianças devem ter a sua primeira consulta de ortodontia com o seu médico dentista por

volta dos 6-7 anos de idade.

3. Quais são os benefícios do tratamento ortodôntico? Melhoria estética da face e do sorriso, aumentando a autoestima e inserção social; Correto alinhamento dos dentes, facilitando a higiene oral; Boa função ao mastigar, promovendo a saúde dos músculos e da articulação que usamos ao

mastigar, beneficiando a saúde e o bem-estar geral.

4. Quais são as principais causas dos problemas ortodônticos? Os problemas ortodônticos podem ser:

o Hereditários (familiares – queixo ou dentes salientes do pai ou mãe);o Ambientais (hábitos – chupar no dedo, respirar pela boca, perda precoce de dentes de

leite);o Combinação hereditário/ambiental.

5. Os adultos também podem corrigir os dentes? Sim. Qualquer pessoa com problemas ortodônticos pode beneficiar de um tratamento ortodôntico

na idade adulta.

6. Quanto tempo demora o tratamento? Em média 24 meses; Pode variar dependendo do tipo de deformação e da dificuldade do tratamento a efetuar.

7. Os aparelhos fixos requerem cuidados especiais de higiene oral? Os aparelhos fixos tornam mais fácil a retenção de placa bacteriana; Os dentes devem por isso ser escovados depois de todas as refeições (incluindo lanches),

utilizando uma pasta fluoretada e uma escova ortodôntica.

8. Os aparelhos de ortodontia provocam dor? Os aparelhos podem provocar algum desconforto, principalmente nas primeiras horas depois de

serem colocados ou ajustados. Esse incómodo desaparece rapidamente.

9. Que tipos de aparelhos ortodônticos existem? Atualmente existe uma grande variedade de aparelhos fixos e removíveis criados para

movimentar os dentes e os próprios maxilares para as posições desejadas.

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

10. Como é que se movem os dentes? Através de forças leves que os aparelhos fazem sobre os dentes, que promovem a transformação

do osso que os rodeia.

11. Podem-se praticar desportos com aparelhos fixos? Sim. No entanto deve usar-se uma proteção individualizada no caso de desportos com contacto

físico (rugby, andebol, judo, etc.) para evitar lesões nos tecidos moles.

12. O que é um especialista em ortodontia? Do mesmo modo que existem especialidades em medicina, em medicina dentária existem

especialistas em ortodontia, que possuem conhecimentos acrescidos para efetuar este tipo de tratamentos;

No entanto, a Ortodontia faz parte das competências profissionais de qualquer médico dentista.

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Saúde oral na grávida e no bebé

1. A gravidez enfraquece os dentes e aumenta o risco de cárie? Não; A má saúde oral pode ficar mais grave durante a gravidez mas não aumenta o risco de cárie

sozinha.

2. Durante a gravidez os dentes enfraquecem por causa do bebé? Não, o cálcio dos dentes da mãe é estável e não vai para o sangue; A gravidez por si só não aumenta o número de cáries.

3. A gengiva sangra mais na gravidez? Sim, por causa de alterações que acontecem no corpo da mulher a gengiva pode doer e sangrar; A situação fica mais grave se não houver uma boa higiene oral.

4. Em caso de dor de dentes que medicamentos pode tomar a grávida? Nunca tome medicamentos sem consultar um médico! A grávida pode consultar um médico dentista para recomendar medicamentos ou tratamentos

para resolver a dor de dentes.

5. A grávida pode fazer qualquer tipo de tratamento dentário? Sim, mesmo que precise de anestesia; Uma infeção oral faz pior ao bebé do que o tratamento dentário; O ideal é fazer uma consulta de medicina dentária antes da gravidez para evitar infeções da boca

ou dos dentes enquanto está grávida; As consultas devem ser curtas, durante a manhã e entre o 4º e o 7º mês de gravidez.

6. Como é que a higiene oral pode afetar a saúde do bebé? A higiene oral é a melhor maneira de evitar infeções na boca; A grávida pode fazer mal ao bebé por causa de bactérias com origem em doenças como a cárie ou

doenças periodontais (das gengivas).

7. Quando se deve começar os cuidados de saúde oral? Devem começar antes do nascimento com conselhos aos pais; A educação funciona como prevenção e permite à criança crescer, desenvolver e funcionar sem

problemas; Mesmo antes de nascerem os dentes, as gengivas do bebé devem ser limpas todos os dias, de

preferência à noite, com uma gaze e água.

8. Qual a idade ideal para levar o bebé ao dentista pela primeira vez? A primeira visita deve ser feita até ao primeiro ano de vida ou quando nasce o primeiro dente

temporário (de leite).

9. Os primeiros dentes são importantes?

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Os dentes temporários (de leite) permitem que a criança desenvolva bem:o Estética;o Mastigação;o Espaço para os dentes definitivos;o Fala;o Crescimento dos maxilares (ossos da boca e cara);o Respiração;o Engolir (deglutição);o Alguns dentes de leite podem estar na boca até aos 11-12 anos e devem estar em

condições até essa idade.

10. Os “dentes de leite” devem ser tratados? Sim; Estes dentes são mais frágeis que os definitivos e também podem ter cáries; Deve evitar-se a infeção destes dentes por causa da dor e de não afetar os dentes que vêm depois

e a saúde em geral.

11. O que fazer se houve trauma (pancada) nos “dentes de leite”? Deve visitar logo o médico dentista; Uma pancada nestes dentes pode afetar a formação dos dentes permanentes (definitivos) e alterar

a sua cor, forma, posição… Se um dente de leite cair por acidente não o volte a pôr no sítio pois pode estragar o dente

permanente que vem a seguir.

12. Quando erupcionam (“nascem”) os primeiros dentes? Normalmente entre os 6-8 meses e vão nascendo até aos 2,5-3 anos; Alguns bebés já nascem com dentes na boca (dentes natais) ou podem ter dentes durante o

primeiro mês de vida (dentes neonatais). Consulte o seu médico dentista.

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Saúde oral na criança

1. A partir de que idade é que a criança deve ir ao dentista? E de quanto em quanto tempo?

A primeira consulta deve acontecer quando os primeiros dentes temporários (“de leite”) nascem ou no máximo até ao primeiro ano de vida;

Quando há boa saúde oral, a criança deve ser vista a cada 6 meses; Se houver maior risco de cárie a criança deve ser vista a cada 3 meses.

2. Em que idade aparecem os primeiros dentes? Em média os primeiros dentes aparecem entre os 6 e os 8 meses; Entre os 2 anos e meio e os 3 anos os 20 dentes temporários já devem estar presentes na boca; Os dentes permanentes (“definitivos”) começam a aparecer na boca entre os 5 e os 7 anos e

podem ser até 32 dentes, caso os terceiros molares consigam erupcionar (“nascer”), o que nem sempre acontece;

Se a criança não tiver nenhum dente e já tiver um ano de idade deve ser observada por um Médico Dentista.

3. Quais as queixas que a criança pode ter enquanto os dentes estão a “nascer”(erupcionar)? Como posso ajudar a criança nesta fase?

Os sintomas mais comuns são:o Gengivas mais vermelhas;o Maior quantidade de saliva;o Perda de apetite;o Ansiedade;o A criança pode não conseguir dormir;

Se a criança tiver febre, vómitos ou diarreia deve ser vista por um médico pois pode haver outras razões;

Pode ajudar a criança limpando a boca 2 a 3 vezes por dia com uma gaze molhada ou usar mordedores (para a criança morder) ou gel disponível no mercado.

4. Quando deve parar o uso da chupeta, biberão ou chuchar nos dedos? Estas situações devem ser terminadas até aos 3 anos de idade e o biberão mais cedo, até a criança

ter 1 ano; Pode trocar o biberão por exemplo, por um copo com palhinha ou colher.

5. Como evitar que apareçam cáries em bebés ou crianças pequenas (cáries precoces da infância)?

Promover a amamentação materna até aos 4-6 meses; Colocar apenas leite ou água no biberão; Dar o biberão à criança só durante o dia e nunca quando estiver a dormir; Não colocar líquidos com açúcar nem no biberão nem na chupeta;

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Limpar os dentes depois das refeições com uma gaze ou escova macia logo depois de estes nascerem.

6. Quais as causas mais frequentes para alterações na cor dos dentes das crianças?

Cáries; Trauma (pancadas); Problemas na formação do dente; Má higiene oral; Coloração devida a bactérias ou alimentos. As crianças devem tomar flúor? Não há acordo sobre este tema; A Direção Geral de Saúde recomenda dar prioridade a aplicar flúor através das pastas usadas

durante a escovagem; Os comprimidos e gotas apenas são aplicados a crianças com mais de 3 anos e com alto risco de

cárie; Nesta situação os comprimidos devem ser dissolvidos lentamente na boca, antes de deitar.

7. Como deve ser feita a escovagem dentária nas crianças? Depende mais da idade:

o 0-3 anos – devem ser os pais a escovar com uma gaze, escova macia ou dedeira, duas vezes por dia e uma das vezes antes de deitar a criança;

o 3-6 anos – a criança começa a escovar sozinha duas vezes por dia e uma das vezes antes de deitar, mas deve ser acompanhada por um adulto, usando uma escova macia e de tamanho certo e a pasta igual ao tamanho da unha do dedo mais pequeno da criança;

o Mais de 6 anos – a criança já deve ser capaz de escovar sozinha duas vezes por dia e uma das vezes antes de deitar, mas os pais podem ver se ela o faz de maneira correta e ajudar se for preciso; podem usar uma escova macia ou média e a pasta pode ter o tamanho de uma ervilha pequena ou até 1cm.

8. As crianças podem usar fio dentário? Podem e devem começar assim que possível; Normalmente por volta dos 8 a 10 anos a criança já deve ser capaz de o fazer sozinha. O que é um selante de fissuras e para que serve? É uma espécie de verniz que se aplica nos dentes posteriores (pré-molares e molares definitivos)

para prevenir a cárie dentária; É bastante eficaz mas o risco de cárie deve ser analisado antes de ser aplicado.

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Saúde oral sénior

1. Com a idade, quais os problemas que podem surgir na minha boca? Com a idade é mais frequente:

o aparecerem cáries, principalmente nas raízes dos dentes;o aparecer doença periodontal (das gengivas e estruturas que suportam o dente);o haver alterações funcionais (da mastigação, por exemplo);o haver desgaste dentário;o aparecer cancro oral;o xerostomia (sentir a boca seca);o sofrer dores na cara/cabeça;o a mucosa (revestimento interno da boca) ficar mais sensível e fina;o haver alteração da cor dos dentes;o deixar de sentir certos sabores.

2. Posso fazer tratamentos dentários se tiver problemas de saúde geral? Sim; Deve visitar o seu médico dentista e dar informação (escrita) quanto a todos os seus problemas de

saúde e todos os medicamentos que está a tomar; Assim, o tratamento dentário pode ser feito em segurança pois o profissional toma todos os

cuidados que são precisos.

3. É importante informar o meu médico dentista de todos os medicamentos que tomo?

Sim; Alguns medicamentos podem alterar a forma como a sua boca se comporta e podem influenciar

os tratamentos; O médico dentista deve ajustar o seu modo de ação e realizar o tratamento com segurança.

4. É importante manter os dentes naturais? Sim; Um único dente pode ser importante para ajudar a segurar uma prótese removível durante alguns

anos, por exemplo; Deve ter sempre atenção e visitar regularmente o seu médico dentista para cuidar dos dentes,

mesmo que sejam poucos.

5. As alterações (dos dentes e gengivas) que surgem com a idade podem ser corrigidas?

Sim; Com a idade os dentes podem ficar mais amarelos ou escuros e terem alterações no tamanho; Os dentes podem parecer mais longos se a gengiva começar a baixar e podem parecer mais curtos

se houver desgaste;

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Abordagem do paciente surdo no contexto da Medicina Dentária João MNC Santos

Existem alguns tratamentos simples (restaurações ou branqueamento) e outros mais complexos (próteses fixas e ortodontia) que podem ajudar a melhorar a estética em algumas destas situações, mesmo nestas idades.

6. Há risco em manter os dentes naturais na minha boca? Não, mas só se:

o o dente não tiver problemas como cárie e doença periodontal;o o dente não cause danos nas gengivas/mucosas; o o dente não provoque problemas de saúde geral;

O seu médico dentista deve avaliar a sua saúde oral e estabelecer um plano de tratamento adequado.

7. Quais os problemas mais graves que podem surgir se perder os meus dentes naturais?

Além das alterações no aspeto da cara e do sorriso, na fala e na função, perder um dente leva a alterações na relação entre os dentes pois os dentes que ficam podem mover-se para os espaços “vazios” que se criam.

8. Quando os dentes “abanam” ou as gengivas sangram e causam dor, o que devo fazer?

Deve ir com urgência ao médico dentista para que este avalie o que é preciso fazer; Pode ser urgente fazer uma “limpeza” (destartarização) para remover as bactérias ou o tártaro

(“pedras” nos dentes) que causam esta situação; O tártaro aparece quando a placa bacteriana não é removida e fica dura.

9. Que posso fazer para ajudar a manter a saúde da minha boca? Escove os dentes todos os dias, pelo menos 2 vezes por dia; Uma destas vezes tem de ser antes de se deitar; Use uma escova de dureza média e use escovilhões ou fio dentário para limpar entre os dentes e

um raspador para limpar a língua; Use diariamente dentífrico e suplemento para bochecho com flúor (pasta, gel, etc.).

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Anexo B – Parecer e Declaração

Parecer do Orientador

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Declaração do Investigador

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