Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Escola de Administrao
Programa de Ps-Graduao em Administrao
Fatores crticos de sucesso
de programas de educao a distncia via Internet
Maurcio Gregianin Testa
Orientador
Prof. Henrique Freitas
Dissertao apresentada ao Programade Ps-Graduao em Administrao(PPGA/EA/UFRGS) como requisitoparcial para a obteno do grau deMestre em Administrao.
Porto Alegre, 1 de maro de 2002
ii
Distncias
Essas distncias astronmicas no so to
grandes assim: basta estenderes o brao e tocar
no ombro do teu vizinho...
Mrio Quintana
iii
Agradecimentos
Ainda que uma dissertao de mestrado seja escrita por uma nica pessoa, cada
vez mais me conveno de que o processo de sua construo uma experincia coletiva.
Sozinho, impossvel escrever uma dissertao. Afinal, quantas idias 'roubamos' do nosso
dia a dia, numa sala de aula, num bate papo com colegas, em uma conversa com algum
professor? Alm disso, se no fossem os conhecidos e amigos a nos incentivar (ou, ao
menos, a ouvir os nossos desabafos) durante essa tarefa empenhativa, seria necessrio
uma grande fora de vontade para se chegar at o final. Por isso, nada mais justo do que
agradecer a todos vocs que foram peas fundamentais (certamente bem mais do que os
livros!!!) neste trabalho.
Primeiro, quero fazer um agradecimento mais do que obrigatrio a todos os
entrevistados, que tiveram a gentileza (e pacincia!) de responder cada questo
atentamente. Sei do esforo realizado por cada um para encontrar um tempo precioso no
meio do trabalho ou mesmo nos congressos. Alguns arriscaram a perder vos, outros
tiveram que me aturar no meio de suas refeies, no vou esquecer disto... Tambm quero
agradecer a Loraine, em nome de todos envolvidos no IPGN, pela abertura e
disponibilidade apresentadas. Aproveito tambm para dar os parabns pelo timo trabalho
desenvolvido. Obrigado tambm ao Prof. Klering, do NAVi, pela preocupao e ateno
dedicada.
Agora, vamos ao agradecimento mais tradicional: o orientador! O Prof. Henrique
foi o meu maior motivador no mestrado (e no apenas nos prazos, que fique bem claro!).
Minha maior admirao vem do seu empenho, competncia e desejo de melhorar a Escola
de Administrao; exigente com os orientandos, nunca deixa de abri-lhes oportunidades.
No podia deixar de agradecer a outra pessoa fundamental, companheira de longas horas
de trabalhos e pesquisas (e conversas sobre estas coisas chamadas mestrado e
doutorado!), ex-vizinha em Guapor, a incansvel Edimara. Na realidade, podia chamar a
Edi de co-orientadora (acho que o Henrique no se importa...) pelo apoio em todas as
iv
atividades acadmicas. E, claro, agradeo tambm a toda "equipe HF", os componentes
atuais e passados (inclusive o William que pediu para ser citado porque ajudou a fazer a
figura que est na pgina 2!).
Um agradecimento sincero tambm a todos do mestrado e doutorado 2001.
Desculpem-me as outras turmas, mas o pessoal deste ano muito legal. Sem querer
desmerecer ningum, vou citar dois nomes em especial: Jonas e Flvia, grandes
companheiros de conversas sobre a vida, a academia, o futuro, o incerto, as viagens, o
mergulho, a (falta de) grana, ...foi um imenso prazer t-los como amigo e colega! Como no
posso citar todos os quarenta e tantos, vou agradecer a Celina, a Stefnia e o Joo
Batista, em nome de todos os colegas com quem passei timos momentos durante este
ano de mestrado; e o Moiss e o Nlson, em nome dos colegas que o convvio,
infelizmente, ficou mais restrito s aulas, mas que a admirao a mesma.
Queria ainda aproveitar para agradecer a todos os competentes professores do
PPGA, com quem aprendi tanto, seja nas aulas como fora delas. So os principais
responsveis pela excelente qualidade de ensino e pesquisa da EA/UFRGS.
Da Escola para a famlia. Acima de todos, agradeo a meu pai e minha me - se
algum no sabe o nome deles Jacir e Maria Oliva - que sempre me apoiaram nos meus
estudos, tanto moralmente como financeiramente! A eles devo, certamente, a conscincia
da importncia do estudo em minha vida. J que estamos em famlia, aproveito para
agradecer meus irmos por no terem atrapalhado tanto e todos os parentes, que so
muitos e no d para citar agora (seno preciso de mais um ano para terminar!).
No poderia deixar de agradecer queles com quem compartilho o mesmo ideal de
vida, amigos verdadeiros j de tanto tempo, de tantas aventuras e lutas, sucessos e
fracassos: Ronaldo, Adlson, Aurlio, Ari, Giovani, Elizandro, Henrique, Duda, Felipe,
Ale, Emlio, Mrcio e tantos, tantos outros, os quais no vou procurar citar agora para no
cometer nenhuma injustia. Mas cada um de vocs sabe o que representam para mim.
Aahhhh, achavam que eu ia esquecer da Paula? Claro que no. Deixei para o final
de propsito.... Mas seria impossvel no agradecer quem eu amo tanto, e cuja presena
(mesmo a distncia) foi fundamental para que eu mantivesse o equilbrio e as foras durante
o curso. Namorada, amiga, companheira, compreensiva, motivadora, paciente, ... inmeros
adjetivos eu poderia citar para expressar todo apoio que me deu. Estou com saudades...
Claro, agradeo tambm ao nosso grande e mais do que bom Deus (imagino
quantos erros Ele deve saber que existem na minha dissertao!). E a todos os amigos e
conhecidos, que por injustia eu no tenha citado, o meu muito obrigado!
vSumrio
Lista de Figuras viiLista de Quadros viiiResumo xAbstract xi1 Introduo 12 Objetivos 6
2.1 OBJETIVO GERAL 62.2 OBJETIVOS ESPECFICOS 6
3 A educao a distncia via Internet e os seus fatores crticos de sucesso 73.1 ELEMENTOS ENVOLVIDOS NA EAD ATRAVS DA INTERNET 12
3.1.1 Entradas as caractersticas dos recursos envolvidos na EAD via Internet 133.1.2 Sadas os resultados esperados de um programa de EAD via Internet 163.1.3 Controle as regras que devem ser seguidas 173.1.4 Transformao criando processos de aprendizagem 183.1.5 Feedback melhorando a partir dos resultados 283.1.6 Ambiente a interao entre a EAD via Internet e a sociedade 293.2 Conceituando Fatores Crticos de Sucesso para a EAD Via Internet 30
4 Mtodo de pesquisa 334.1 ETAPA 1: PESQUISA BIBLIOGRFICA 344.2 ETAPA 2: ELABORAO DO ROTEIRO DE ENTREVISTAS 344.3 ETAPA 3: REALIZAO E ANLISE DE ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS COMESPECIALISTAS 354.4 ETAPA 4: ELABORAO DE UM PROTOCOLO DE ESTUDO 384.5 ETAPAS 5 E 6: ESTUDOS DE CASO 40
4.5.1 Iniciando Pequeno Grande Negcio (IPGN) - SEBRAE 414.5.2 Ncleo de Aprendizagem Virtual (NAVi) EA/UFRGS 43
5 Anlise 465.1 ANLISE DAS ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS 46
5.1.1 A percepo espontnea dos especialistas sobre a EAD via Internet 465.1.1.1 A categoria 'Estudante' 485.1.1.2 A categoria 'Modelo Pedaggico' 505.1.1.3 A categoria 'Tecnologia' 535.1.1.4 A categoria 'Gesto' 555.1.1.5 A categoria 'Capacitao de pessoal' 565.1.1.6 A categoria 'Objetivos' 585.1.1.7 A categoria 'Envolvimento' 595.1.2 Reflexes dos especialistas sobre pontos especficos da EAD via Internet 615.1.2.1 A importncia relativa de alguns elementos da EAD via Internet 61
vi
5.1.2.2 A necessidade de capacitao em EAD e a falta de cursos 685.1.2.3 A rotatividade e conhecimento tcito 685.1.2.4 A terceirizao de servios tcnicos e a qualidade dos cursos 705.1.2.5 A concorrncia das organizaes estrangeiras 705.1.2.6 A imagem da educao a distncia e a credibilidade dos programas de EAD viaInternet 725.1.2.7 As limitaes da capacidade de transmisso da Internet 725.1.2.8 A escolha de equipamentos 735.1.2.9 Os softwares especficos para a EAD via Internet 745.1.2.10 Modelo pedaggico para a educao a distncia via Internet 765.1.2.11 A confiabilidade da avaliao na educao a distncia via Internet 775.1.2.12 Objetivos de socializao, afetividade e atitude na EAD via Internet 785.1.2.13 A disciplina exigida pela flexibilidade 795.1.2.14 A influncia do modelo fordista de produo na EAD e a Internet 805.1.2.15 Gesto focada no estudante 815.1.2.16 Os custos iniciais dos programas de EAD via Internet 81
5.2 ANLISE DOS ESTUDOS DE CASO 835.2.1 O caso do IPGN SEBRAE 83
5.2.1.1 A capacitao em EAD dos membros da equipe do IPGN 855.2.1.2 O envolvimento de pessoas do SEBRAE com o IPGN 875.2.1.3 A influncia das caractersticas e do comportamento do estudante 875.2.1.4 Aspectos especficos de gesto 895.2.1.5 O modelo pedaggico e seus principais aspectos 895.2.1.6 A avaliao do aprendizado do estudante 905.2.1.7 Os objetivos dos IPGN 915.2.1.8 A infra-estrutura tecnolgica e suas implicaes 915.2.1.9 As precaues com os softwares especficos para a EAD 925.2.1.10 A influncia do controle governamental 925.2.1.11 O estabelecimento de parcerias e a terceirizao 93
5.2.2 O caso do NAVi Escola de Administrao da UFRGS 935.2.2.1 A capacitao em EAD dos membros da equipe do NAVi 945.2.2.2 O envolvimento de pessoas da Escola de Administrao com o NAVi 955.2.2.3 A influncia das caractersticas e do comportamento do estudante 965.2.2.4 Aspectos especficos de gesto 975.2.2.5 O modelo pedaggico e seus principais aspectos 975.2.2.6 A avaliao do aprendizado do estudante 985.2.2.7 Os objetivos do NAVi 995.2.2.8 A infra-estrutura tecnolgica e suas implicaes 995.2.2.9 As precaues com os softwares especficos para a EAD 995.2.2.10 A influncia do controle governamental 1005.2.2.11 O estabelecimento de parcerias e terceirizao 100
6 Consideraes Finais 1026.1 LIMITES DA PESQUISA 1056.2 SUGESTES DE PESQUISAS FUTURAS 106
Referncias 107APNDICE A - Roteiro de entrevistas 112APNDICE B - Resultado do teste e do reteste da anlise de contedo das entrevistas 115APNDICE C - Questes do protocolo de estudo de caso 122
vii
Lista de Figuras
Figura 1 - Educao como comrcio eletrnico: foras conduzindo a transio 2
Figura 2 reas convergindo na EAD via Internet 7
Figura 3 - Ganhos esperados com o e-learning 10
Figura 4 - Modelo sistmico de educao/ensino a distncia (DEL) 11
Figura 5 - Base terica para modelos pedaggicos em ambientes informatizados 22
Figura 6 - Desenho de pesquisa 33
Figura 7 - Fontes de evidncias para o estudo de caso do IPGN - SEBRAE 41
Figura 8 - Fontes de evidncias para o estudo de caso do NAVi 44
Figura 9 Avaliao geral do curso IPGN pelos seus concluintes 85
Figura 10 Banner do ambiente de aprendizagem do IPGN 92
viii
Lista de Quadros
Quadro 1 - Mudana no paradigma educacional 3
Quadro 2 - Vantagens e desvantagens da entrevista pessoal 35
Quadro 3 Sntese do resultado da anlise de contedo das questes genricas 47
Quadro 4 Comparativo entre respondentes acadmicos e empresariais 61
Quadro 5 Notas de importncia atribudas pelos respondentes na questo 3 62
Quadro 6 Anlise da importncia: experincia ou formao em EAD 62
Quadro 7 Anlise temtica: experincia ou formao em EAD 63
Quadro 8 Anlise da importncia: pessoal tcnico 63
Quadro 9 Anlise temtica: pessoal tcnico 64
Quadro 10 Anlise da importncia: controle por parte dos rgos governamentais 65
Quadro 11 Anlise temtica: controle dos rgos governamentais 65
Quadro 12 Anlise da importncia: tecnologia 65
Quadro 13 Anlise temtica: tecnologia 66
Quadro 14 Anlise da importncia: modelo pedaggico 66
Quadro 15 Anlise temtica: modelo pedaggico 67
Quadro 16 Anlise da importncia: administrao e gesto 67
Quadro 17 Anlise temtica: administrao e gesto 67
Quadro 18 Anlise de problemas: a necessidade de capacitao e a falta de cursos 68
Quadro 19 Anlise temtica: a necessidade de capacitao e a falta de cursos 68
Quadro 20 Anlise de problemas: a rotatividade e o conhecimento tcito 69
Quadro 21 Anlise temtica: a rotatividade e o conhecimento tcito 69
ix
Quadro 22 - Anlise de problemas: a terceirizao de servios tcnicos e a qualidade 70
Quadro 23 Anlise temtica: terceirizao 70
Quadro 24 Anlise de problemas: a concorrncia das organizaes estrangeiras 71
Quadro 25 Anlise temtica: a concorrncia das organizaes estrangeiras 71
Quadro 26 Anlise de problemas: a imagem da EAD e a credibilidade dos programas 72
Quadro 27 Anlise temtica: a imagem da EAD e a credibilidade dos programas 72
Quadro 28 Anlise de problemas: limitaes na capacidade de transmisso da Internet 73
Quadro 29 Anlise temtica: as limitaes na capacidade de transmisso da Internet 73
Quadro 30 Anlise de problemas: a escolha de equipamentos 74
Quadro 31 Anlise temtica: a escolha de esquipamentos 74
Quadro 32 Anlise de problemas: os softwares especficos para a EAD via Internet 75
Quadro 33 Anlise temtica: os softwares especficos para a EAD via Internet 75
Quadro 34 Anlise de problemas: modelo pedaggico para a EAD via Internet 76
Quadro 35 Anlise temtica: modelo pedaggico para a EAD via Internet 76
Quadro 36 Anlise de problemas: a confiabilidade da avaliao na EAD via Internet 77
Quadro 37 Anlise temtica: a confiabilidade da avaliao na EAD via Internet 77
Quadro 38 Anlise de problemas: socializao, afetividade e atidude 78
Quadro 39 Anlise temtica: socializao, afetividade e atitude 78
Quadro 40 Anlise de problemas: a disciplina exigida pela flexibilidade 79
Quadro 41 Anlise temtica: a disciplina exigida pela flexibilidade 79
Quadro 42 Anlise temtica: a influncia do fordismo na EAD e a Internet 80
Quadro 43 Anlise de importncia: gesto focada no estudante 81
Quadro 44 Anlise temtica: gesto focada no estudante 81
Quadro 45 Anlise de problemas: os custos iniciais dos programas de EAD via Internet 82
Quadro 46 Anlise temtica: os custos iniciais na EAD via Internet 82
Quadro 47 - Avaliao geral do programa de educao a distncia IPGN SEBRAE 84
Quadro 48 - Fatores crticos de sucesso na educao a distncia (1) 103
Quadro 49 Fatores crticos de sucesso na educao a distncia (2) 104
x
xi
Resumo
Empresas e instituies de ensino tm realizado investimentos significativos na
implementao de programas de educao a distncia (EAD) que utilizam a Internet como
principal tecnologia de informao e comunicao. O atual cenrio econmico, cultural e
tecnolgico favorece a criao de um mercado eletrnico da aprendizagem, justificando tais
investimentos. A educao a distncia aparenta mover-se em direo da Internet, mas o
caminho difcil por causa das muitas incertezas. Estas incertezas, juntamente com o
grande nmero de variveis envolvidas nos programas de EAD via Internet, dificultam, para
os gestores, que se mantenha o foco nos pontos mais essenciais. Assim, o objetivo deste
trabalho identificar os fatores crticos de sucesso dos programas de educao a distncia
via Internet. Procura-se ainda, identificar os pontos importantes e os problemas mais crticos
na gesto destes programas. Para isso, foram realizadas 9 entrevistas em profundidade
com especialistas do assunto no Brasil. Posteriormente, a partir dos resultados destas
entrevistas, foram realizados dois estudos de caso, com o programa Iniciando um Pequeno
Grande Negcio, do SEBRAE, e com o Ncleo de Aprendizagem Virtual da Escola de
Administrao da UFRGS. O resultados da pesquisa apontaram a existncia de seis fatores
crticos de sucesso, ligados capacitao e experincia da equipe dos programas de
EAD, ao grau de envolvimento dos membros da organizao com os programas de EAD, ao
conhecimento e preocupao com as caractersticas e comportamento do estudante, ao
modelo pedaggico, tecnologia em especial a infra-estrutura tecnolgica e os softwares
utilizados - e realizao de parcerias.
xii
Abstract
Significative amounts of money are being invested by organizations worldwide in the
implementation of Internet based distance education programs. Economical, cultural and
technological context favor the creation of an electronic market of learning, justifying such
investments. The distance education seems to move towards the Internet, but there are still
many uncertainties. Despite that, there are certain things that need to be considered when
developing or implementing a distance education program. The objective of this study is to
explore these things from a macro perspective, identifying the critical success factors of the
Internet based distance education programs. Also, it identifies the important points and
critical problems of these programs. For that, 9 interviews were made with brazilian experts
in the subject. After that, two case studies were done, the first was the "Iniciando um
Pequeno Grande Negcio" program, of SEBRAE, and the second, the "Ncleo de
Aprendizagem Virtual" program, of UFRGS. The results of this research points to the
existence of six critical success factors: the team's qualification of the programs, the
involvement of the people with the programs, the knowledge and the concern with the
student's behavior and characteristics, the pedagogic model, the technology - especially the
technological infrastructure and the softwares - and, finally, the accomplishment of
partnerships.
1 Introduo
As novas tecnologias de informao e de comunicao esto causando profundas
transformaes dentro das organizaes. Dentre estas tecnologias, a Internet destaca-se
por abrir novos horizontes para o comrcio eletrnico, levando empresas a correr em busca
dos mercados emergentes. Em meio a este cenrio, a educao atravs da Internet j
uma das aplicaes mais lucrativas do comrcio eletrnico (DRUCKER, 2000) e constituir
um mercado cada vez mais explorado (KALAKOTA e WHINSTON, 1996; MARTIN, 1999;
TURBAN et al., 1999). Em 2000, mais de 17.000 cursos estavam disponveis totalmente
atravs da Internet. Nos Estados Unidos, a educao a distncia (EAD) dever movimentar
cerca de 8,3 bilhes de dlares em 2002, sendo que 15% dos estudantes de graduao e
ps-graduao estudaro em cursos online, contra 5% em 1999 (SCHOPFIELD apud
GONZLEZ, 2000).
Empresas e instituies de ensino tm realizado investimentos significativos na
implementao de programas de educao a distncia via Internet. Os benefcios deste
novo processo de ensino-aprendizagem justificam os esforos das organizaes para atuar
na educao online, ainda que os interesses de cada organizao possam ser bem
distintos. Existem empresas que desejam treinar seus colaboradores, outras, pretendem
desenvolver tecnologias de apoio, ou ainda, existem instituies de ensino que buscam
ampliar sua oferta oferecendo cursos na Web, para citar alguns exemplos. Porm,
independentemente dos objetivos, a educao a distncia aparenta ter um futuro promissor
com as novas tecnologias. Veiga et al. (1998, p.2) ressaltam que necessrio desenvolver
uma slida imagem e reputao, com a consolidao de uma marca em EAD, e que "a
sobrevivncia das universidades, enquanto instituies de ensino, demanda o
desenvolvimento da maior competncia no uso da tecnologia da informao e nas novas
tecnologias de EAD".
Diversos fatores convergem para a criao do mercado educacional na Internet.
(figura 1). Algumas caractersticas da atual demanda educacional so importantes neste
sentido, por exemplo, hoje praticamente impossvel compreender os processo polticos,
2econmicos, culturais e educacionais sem levar em conta o crescimento das tecnologias e a
importncia da informao. Na economia globalizada, a informao e o conhecimento so
insumos essenciais para a competitividade, mas so produtos que se tornam obsoletos cada
vez mais rapidamente. Com as novas tecnologias de informao e comunicao, que
favorecem o surgimento de redes de empresas e de empresas em rede (alm do declnio
gradativo do modelo taylorista-fordista de produo) o trabalho manual vem desaparecendo
enquanto o trabalho imaterial ganha fora (COCCO, 2000). Neste cenrio, cresce a presso
do mercado de trabalho, que exige atualizao constante, ampliando ainda mais a demanda
educacional, em especial da educao continuada.
E assim, diversos outros cenrios de carter econmico, cultural e tecnolgico
poderiam ser traados para justificar o crescimento da educao a distncia atravs da
Internet. Estes cenrios resultam, conforme a figura 1 apresenta, em diversos elementos: o
movimento em direo s bibliotecas digitais, o crescimento do custo da educao
convencional, a convergncia das tecnologias digitais, a crescente conectividade e
abrangncia da internet, o desenvolvimento de uma infra-estrutura para o comrcio
eletrnico, a rpida obsolescncia dos contedos, a globalizao dos negcios e da
educao, entre outros.
Figura 1 - Educao como comrcio eletrnico: foras conduzindo a transio
Fonte: adaptado de Hamalaimen et al. (apud TURBAN et al., 1999, p.556)
3Alm disso, a educao, ao contrrio de outros produtos da Internet, no tende a
ser gratuita, sobretudo na rea da administrao, onde as empresas querem para seus
funcionrios um ensino de qualidade e prestgio, onde o preo mais utilizado como fator de
percepo de qualidade, podendo, portanto, ser relativamente alto, do que como fator de
concorrncia (DRUCKER, 2000).
Segundo Kalakota e Whinston (1996), um novo paradigma educacional
demandado e est emergindo atravs das aplicaes online, como se pode verificar no
Quadro 1. Ainda que existam diferenas entre a realidade brasileira e a de outros pases em
termos de paradigma educacional (basta ver, por exemplo, a maior nfase no construtivismo
existente no Brasil e no behavorismo, nos Estados Unidos sem entrar no mrito da
qualidade educacional em cada pas), as mudanas apresentadas por Kalakota e Whinston
(1996) refletem tambm a realidade local. E, ainda que tais reflexes no surjam
exclusivamente em funo do crescimento da EAD via Internet, esta forma de ensino-
aprendizagem tem fomentado e potencializado discusses sobre o tema.
Isto no significa, entretanto, que a educao atravs da Internet venha a substituir
a educao presencial (ou mesmo que o modelo emergente seja exclusividade da
modalidade a distncia). Para Drucker (2000), a Internet deve ser entendida como um novo
canal de distribuio, que normalmente so adies e complementos, e no substituies.
Assim como a televiso no eliminou o rdio e o jornal, a educao a distncia com a
Internet no dever tomar o lugar do ensino presencial. Mas preciso destacar, como
colocam Chatterjee e Jin (1997), que no se pode pensar na Internet apenas como um novo
canal de distribuio, sem compreender o potencial da relao entre a mdia e a
aprendizagem. A aprendizagem ativa, construtiva, cognitiva, um processo social no qual
o aprendiz gerencia recursos cognitivos, fsicos e sociais para criar novos conhecimentos. E
a mdia deve oferecer tais recursos.
Quadro 1 - Mudana no paradigma educacional
MODELO TRADICIONAL MODELO EMERGENTE ASPECTOS TECNOLGICOSDistribuio de informao exposies em salas deaula
Iniciativa individual e auto-explorao
CD-ROMs, redes de computadorescom acesso a banco de dados online
Absoro passiva Aprender fazendo Requer simulaes e exerccios para odesenvolvimento de habilidades
nfase no individualismo nfase na colaborao e noaprendizado em grupo
Requer ferramentas colaborativas(chats, fruns e listas de discusses,videoconferncias, entre outros)
Professor sabe tudo Professor como um guia Dar acesso a especialistas nas redesContedo estvel Contedo mudando
rapidamenteRequer acesso a notcias em temporeal e atualizao constante docontedo, possvel na Web, porexemplo
Fonte: adaptado de Kalakota e Whinston (1996, p.556)
4Porm, em uma sociedade onde a informao e o conhecimento ganham destaque,
os desafios educacionais ainda esto longe de serem resolvidos. Nos pases em
desenvolvimento, a excluso de uma parcela significativa da populao da educao formal
cria divises culturais e econmicas que contribuem para o aumento das desigualdades
sociais e atrasam o desenvolvimento scio-econmico.
Apenas no Brasil, so 19 milhes de adultos analfabetos. Na indstria de
transformao, somente 7,4% tinham o ensino mdio completo em 1990 e 38% dos
trabalhadores brasileiros no passaram do antigo curso primrio. Entre os jovens de 15 a 19
anos, somente 30% cursam o ensino mdio (NISKIER, 1999). Ainda que a oferta
educacional venha crescendo nos ltimos anos, ela ainda est muito longe de atender as
demandas existentes. Os investimentos a serem feitos aparentam ser muitos altos para o
setor pblico e o setor privado oferece uma educao cujo custo est fora da realidade da
maioria dos estudantes brasileiros. Isto, sem entrar no mrito da qualidade da oferta
educacional existente.
A conscincia do relevante papel da educao no exclusividade de professores e
educadores. E a educao a distncia (EAD) surge tambm com um papel importante e
crescente na busca de solues para os problemas educacionais brasileiros. a
tecnologia da esperana destacada por Niskier (1999). Impulsionada pelas novas
tecnologias, a EAD ganha novas foras para se desfazer da imagem de uma educao de
segunda linha e se consolidar finalmente como elemento essencial na democratizao do
conhecimento.
Entretanto, ainda so poucos os estudos e pesquisas sobre o tema, sobretudo no
Brasil, e muitas as perguntas das empresas e instituies de ensino que desejam atuar
nesta rea. A educao a distncia aparenta mover-se na direo da Internet, mas o
caminho difcil devido s muitas incertezas. Em muitos casos, investimentos em tecnologia
de informao tm sido feitos na direo da automao de antigos processos de
aprendizagem, ao invs de desenhar, descobrir ou possibilitar outros novos (KALAKOTA e
WHINSTON, 1996).
So muitas as variveis envolvidas no desenvolvimento de programas e cursos
atravs da Internet. No basta apenas definir e trabalhar os aspectos tecnolgicos, apesar
da evidente importncia destes dentro do processo, mas preciso analisar uma srie de
outros elementos, que levantam diversas interrogaes. Por exemplo, pensando nos
clientes/estudantes, pode-se perguntar: quais so suas expectativas? Como motivar o
aluno? Como buscar a personalizao na interao com os estudantes, e at que ponto esta
personalizao e interao fica comprometida em funo do nmero de estudantes? Na
5prtica, como respeitar o ritmo de aprendizado de cada um? Como ficam os aspectos de
socializao e o sentimento de pertencer a um grupo?
Perguntas como estas surgem em relao a diversos aspectos: sobre o processo
de comunicao, a metodologia utilizada, os softwares empregados, os equipamentos
(hardware) adquiridos, os professores, tutores e a equipe tcnica de apoio, a avaliao, os
aspectos financeiros, a legislao, a segurana e assim por diante. Alm de gerenciar todas
estas variveis, administradores de programas de educao atravs da Internet devem ter
conscincia de que a EAD um sistema social aberto, onde o meio-ambiente exerce forte
influncia e existe uma relao de interdependncia entre seus elementos (FRANTZ e
KING, 2000).
O desafio para os administradores aumenta em funo da caracterstica
multidisciplinar dos programas de educao via Internet e da escassez de pessoas
especializadas no assunto. Decises erradas podem comprometer o sucesso de um
programa em desenvolvimento, e no meio das diversas escolhas que devem ser feitas no
estabelecimento de uma estratgia, importante manter o foco nos fatores crticos de
sucesso envolvidos.
A partir deste ponto surge o problema chave que este trabalho procura abordar:
quais so os fatores crticos de sucesso dos programas de educao atravs da Internet?
Porque constituem fatores crticos de sucesso? Quais problemas podem causar? A
pesquisa sobre a educao via Internet relativamente nova, pois a prpria utilizao da
Internet no processo de ensino-aprendizagem algo recente. Os resultados esperados
pretendem ser uma contribuio aos administradores de empresas e instituies de ensino
como subsdio no planejamento e na gesto de programas de EAD.
A seguir, apresentam-se os objetivos deste trabalho (captulo 2) e, posteriormente,
o referencial terico utilizado no desenvolvimento da pesquisa (captulo 3). O captulo 4
apresenta o mtodo atravs do qual buscou-se atingir os objetivos propostos. Finalmente,
no captulo 5, descrita a anlise dos dados deste estudo, cujas concluses e limitaes
so abordadas no captulo 6.
62 Objetivos
A seguir, descreve-se o objetivo geral e os objetivos especficos deste estudo.
2.1 OBJETIVO GERAL
Identificar os fatores crticos de sucesso de programas de educao a distncia que
utilizam a Internet como principal tecnologia de informao e comunicao.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Os objetivos especficos deste trabalho so:
- Identificar os pontos importantes na gesto de programas de educao a distncia
via Internet;
- Identificar os problemas crticos de programas de educao a distncia via
Internet.
73 A educao a distncia via Internet e os seus fatores crticos de
sucesso
A utilizao da Internet como ambiente de aprendizagem para pessoas dispersas
geograficamente pode ser analisada, entre outras maneiras, atravs de dois enfoques
distintos. Por um lado, constitui a evoluo da educao a distncia, como processo de
ensino-aprendizagem que se utiliza de meios (tecnologias) de comunicao para ter acesso
a estudantes remotos. Sob este enfoque, a evoluo do ensino por correspondncia, da
TV corporativa, da educao por rdio, etc. (BELLONI, 2001). Por outro lado, pode ser uma
das aplicaes (ou categoria) do comrcio eletrnico ou do e-business, assim como o e-
banking ou o e-auctioning (AMOR, 2000).
As duas vises no so necessariamente divergentes entre si. De fato, o fenmeno
em questo resultado da convergncia de diversas reas de conhecimento, conforme
apresenta a figura 2, podendo ser, portanto, analisado por vises diferentes. Assim, existem
diversos estudos sobre a EAD via Internet na educao, enfatizando aspectos pedaggicos,
e na rea de tecnologia, no desenvolvimento de novos softwares para serem aplicados nos
cursos a distncia, para citar alguns exemplos.
Figura 2 reas convergindo na EAD via Internet
TI
CE
Internet
Educao
EAD via Internet
EAD
8Um dos resultados desta multidisciplinariedade o surgimento de diversas
expresses para se retratar a EAD via Internet (aprendizagem a distncia e ensino a
distncia via Internet, Web Based Learning, Web-based Training, E-learning, etc.). Estas
expresses no tm exatamente o mesmo significado, pois possuem implicitamente uma
viso sobre o fenmeno determinada na sua origem.
Por exemplo, o ensino a distncia, como cita Gonalves (1999, p.2), trata-se do ato
de transmitir informao, de oferecer oportunidades para que o conhecimento seja
construdo, de organizar as condies de aprendizagem e assim por diante. O ensino
apenas um aspecto do processo educacional, j o termo educao a distncia assume um
compromisso mais amplo, de desenvolvimento da cidadania e do ser humano.
Neste trabalho, entretanto, utiliza-se a expresso educao a distncia via Internet,
sem entrar muito no mrito das eventuais diferenas entre as expresses ainda que elas
no tenham sido ignoradas - de modo que se consultou referncias que utilizam as diversas
denominaes. importante ressaltar que, ainda que possa ser construda com base em
diferentes modelos pedaggicos, a EAD educao: no um sistema tecnolgico, nem
mesmo um meio de comunicao. Estas vises distorcidas permeiam muitos programas de
educao a distncia e podem ser responsveis por muitos casos de insucessos.
Portanto, apesar de no existir um consenso na literatura em relao
conceituao genrica de educao a distncia (EAD), pode-se dizer que uma modalidade
de ensino-aprendizagem que tem por caracterstica bsica a separao fsica entre
professores e alunos e a existncia de algum tipo de tecnologia para possibilitar uma
interao entre eles (BELLONI, 2001; NISKIER, 1999; MARTIN, 1999; VEIGA et al., 1998;
WILLIS, 1994). A definio de Moore (apud BELLONI, 2001, p.24) complementa:
Educao a distncia pode ser definida como a famlia de mtodos instrucionais nosquais comportamentos de ensino so executados em separado dos comportamentosde aprendizagem, incluindo aqueles que numa situao presencial (contgua) seriamdesempenhados na presena do aprendente de modo que a comunicao entre oprofessor e o aprendente deve ser facilitada por dispositivos impressos, eletrnicos,mecnicos e outros.
Moore e Kearsley (apud FRANTZ e KING, 2000) definem educao a distncia
como uma aprendizagem planejada que normalmente ocorre em local diferente do ensino e
que por isso requer tcnicas especiais de design de cursos, de planejamento instrucional,
mtodos especiais de comunicao via eletrnica ou atravs de outras tecnologias, assim
como uma organizao administrativa especial.
Muitas definies de EAD enfocam, na realidade, limitaes destas. Por causa das
fracas possibilidades de interao dos meios tradicionais (como o correio e a TV), algumas
definies de EAD enfatizam o auto-estudo e a maior adequao desta forma de
9aprendizagem para os adultos. Dohmen (apud VEIGA et al., 1998, p.3), afirma que
educao a distncia pode ser definida como:
Uma forma sistematicamente organizada de auto-estudo onde o aluno se instrui apartir do material de estudo que lhe apresentado, e seu acompanhamento esuperviso feito por um grupo de professores, utilizando-se meios de comunicaocapazes de vencer longas distncias.
E Trindade (apud BELLONI, 2001, p.33) coloca:
EAD uma metodologia desenhada para aprendentes adultos, baseado nopostulado que, estando dadas sua motivao para adquirir conhecimento equalificaes e a disponibilidade de materiais apropriados para aprender, eles estoaptos a terem xito em um modo de auto aprendizagem.
A educao a distncia no uma forma de aprendizado nova. De fato, a utilizao
do correio, da televiso, do rdio e de outros meios para a distribuio de
materiais/contedos para fins de aprendizagem surgiu dcadas atrs e vem sendo utilizada
com maior ou menor sucesso por organizaes em todo mundo (BELLONI, 2001; WILLIS,
1994). Entretanto, o surgimento de novas tecnologias de informao e comunicao como a
videoconferncia, CD-ROM, Internet, entre outros, tem ampliado o interesse de
organizaes e instituies de ensino na EAD (KALAKOTA e WHINSTON, 1996; MARTIN,
1999; TURBAN et al., 1999; DRUCKER, 2000).
Um dos termos mais utilizados em funo deste crescente interesse no meio
empresarial e que merece destaque o de e-learning, muito utilizado (mas no apenas)
para se referir ao treinamento interno das organizaes atravs de Internet, extranet ou
intranet. Rosenberg (2001) define e-learning como o uso de tecnologias da Internet para
distribuir ao largo uma grande quantidade de solues que aprimoram conhecimento e
performance. Destaca que este conceito est baseado em trs critrios fundamentais: (1) o
e-learning via rede de trabalho, o que possibilita atualizaes instantneas,
armazenamento e busca, distribuio e compartilhamento de instruo e informao; (2)
distribudo ao usurio final via computador utilizando o padro da Internet; (3) foca na viso
de aprender a aprender, que vai alm do paradigma tradicional de treinamento.
Assim, a Internet oferece vantagens no apenas para instituies de ensino
ampliarem a oferta de cursos, mas tambm para as empresas. Inicialmente apontado como
uma maneira de cortar custos, a educao a distncia tem sido percebida de outra maneira,
como uma forma de aumentar vendas, reter profissionais e oferecer melhores servios aos
clientes (INFORMATIONWEEK, 2001, p.19). Na figura 3 pode-se ver o resultado de uma
pesquisa com 250 profissionais de TI e de negcios sobre os ganhos do ensino via Internet:
10
Figura 3 - Ganhos esperados com o e-learning
Fonte: InformationWeek (2001, p.19)
Rosenberg (2001) aponta outras vantagens do e-learning: baixo custo pelo ganho
em escala; possibilidade de atingir grande quantidade de pessoas simultaneamente;
possibilidade de customizao; possibilidade de atualizao rpida; acesso 24 horas, 7 dias
por semana; crescente familiaridade das pessoas com a Internet; universalidade dos
protocolos da Internet; etc.
Porm, experincias tm demonstrado que a educao a distncia possui tambm
desafios a serem superados. Por exemplo, a complexidade dos servios administrativos; os
altos custos iniciais; o alto ndice de abandono; a dificuldade de se encontrar mtodos de
avaliao confiveis; a exigncia de elevados conhecimentos na compreenso de textos e
na utilizao de recursos da multimdia; o perigo da EAD transformar-se em apenas
transferncia de informaes; e a lentido no feedback com a conseqente demora na
correo de erros (ARETIO apud EDUCNET, 1999). Assim, diversos esforos tornam-se
necessrios a fim de evitar erros e garantir o sucesso na implementao e gesto de
programas de EAD via Internet.
Para melhor compreender as variveis envolvidas nos programas de educao a
distncia e o seu funcionamento, descreve-se, a seguir (item 3.1), os principais elementos
envolvidos na EAD. Para isso, utiliza-se um modelo sistmico de EAD (figura 4), uma vez
que a teoria de sistemas auxilia na compreenso de fenmenos, especialmente os
relacionados com as cincias sociais, facilitando a formulao conceitual, e preocupa-se
11
com o desenvolvimento de um quadro de referncia que descreva as relaes gerais do
mundo emprico (KWASNICKA, 1989, p.125).
Entender a educao a distncia como um sistema particularmente interessante
pelo seu carter multidisciplinar. De fato, uma das preocupaes principais da teoria dos
sistemas a integrao de diversas reas do conhecimento para uma mais completa
compreenso dos fenmenos sociais (BERTALANFFY, 1977).
Figura 4 - Modelo sistmico de educao/ensino a distncia (DEL)
Fonte: Frantz e King (2000, p.36)
Aps a anlise dos elementos envolvidos na EAD, analisa-se, ainda neste captulo
(item 3.2), os fatores crticos de sucesso (FCS): sua origem, conceituao, caractersticas e
um trabalho inicial sobre os FCS na educao a distncia.
TRANSFORMAO
Tecnologia InstrucionalENTRADAS
Recursos HumanosProfessores/ especialistas em treinamentoEstudantes/ treinandosTcnicosEquipe de suporteMateriaisLivros, suporteinstrucional, suprimentos
FacilidadesEspao, equipamento
OperacionalDinheiro, tempo,informao, infra-estrutura (eletricidade,telefone, etc.)
SADAS
Processo Eficaz deAprendizagem
Aquisies dosestudantes etreinandosCidadaniaCompetncia nocontedoSocializaoUso do material na vidareal
SatisfaoPessoal
ContabilidadeFinanceira
CONTROLELeis e polticas estaduais, federais e
internacionaisrgos governamentais
Padres e regras de associaes profissionais
Processo deComunicao
Contedo& Currculo
Comportamento& Socializao
Interao &Atividades dedistribuio
Administrao/Gerenciamento
Positivo
FEEDBACK
Ambiente (sistema maior/sociedade)
Distribuio e Mdia
PesquisaAvaliao
MemriaRegistros
12
3.1 ELEMENTOS ENVOLVIDOS NA EAD ATRAVS DA INTERNET
A abordagem sistmica da educao a distncia proposta por Frantz e King (2000)
auxilia a compreenso das relaes entre os diversos elementos envolvidos em um
programa de EAD e, consequentemente, transmite uma viso geral da educao a distncia
(figura 4). Apesar de no ter sido especificamente desenvolvido para programas de EAD via
Internet, mas para a educao a distncia de forma genrica, vlido como base na anlise
das variveis envolvidas.
Segundo Frantz e King (2000), a interface da educao, tecnologia, educao a
distncia e mudanas muito complexa. Ao se examinar o cenrio da EAD, nota-se que a
abordagem sistmica uma ferramenta poderosa para conectar e relacionar pessoas,
objetivos, organizaes e tecnologias no campo educacional.
Por isso, Frantz e King (2000) desenvolveram um modelo denominado DEL
(Distance Educacion Learning Systems model) a fim de auxiliar professores e
administradores de instituies pblicas e privadas, gerentes de empresas e de consrcios
de organizaes. O DEL (figura 4) prov um processo focado no aprendiz ou estudante,
para o desenvolvimento, controle, avaliao e feedback da educao a distncia. o
resultado tambm da abordagem sistmica da EAD realizada por outros autores desde
1988.
Baseado em trs nveis, o modelo DEL pode ser visto a partir das seguintes
perspectivas:
- Sistema/ambiente: uma viso geral da EAD - situa o sistema de educao a
distncia no contexto da sociedade, definindo suas relaes, interaes e
interdepedncias com os cidados, a comunidade, o estado e a nao, e, inclusive,
dentro do cenrio internacional;
- Funo/estrutura: o que o sistema e faz - permite descrever os objetivos do
sistema, identificar as funes necessrias para se atingir os objetivos, selecionar os
componentes de acordo com as funes e formular a estrutura de relacionamentos
do sistema (BANATHY apud FRANTZ e KING, 2000);
- Processo/comportamento: como a educao a distncia age em um sistema
social de mudanas - o que o sistema faz atravs do tempo, como ele (a) recebe,
analisa, avalia e processa entradas, (b) transforma as entradas para serem usadas
no sistema, (c) desencadeia transformaes para produzir as sadas esperadas, (d)
guia o processo de transformao, (e) processa sua sada e avalia sua adequao
13
(feedback) e (f) realiza ajustes no sistema se necessrio ou, se indicado, o
redesenha (BANATHY apud FRANTZ e KING, 2000).
Segundo Frantz e King (2000), o modelo DEL uma ferramenta que pode ser usada
para desenhar, implementar e avaliar programas de EAD e tambm os cursos a distncia
isoladamente. Constitui tambm um bom ponto de partida para se analisar os elementos
envolvidos na educao a distncia. Por isso, a seguir, enquanto descreve-se os diversos
subsistemas que compe o modelo DEL (entradas, transformao, sada, controle,
feedback, tecnologia instrucional e ambiente), busca-se confrontar o que outros autores tem
estudado e pesquisado em relao a pontos especficos que compe cada subsistema. Ou
seja, utiliza-se o modelo DEL como uma espcie de roteiro na anlise das variveis
envolvidas na implementao e gesto de programas de educao a distncia,
especialmente atravs da Internet.
3.1.1 Entradas as caractersticas dos recursos envolvidos na EAD via Internet
A Internet possibilita a criao de ricos ambientes de aprendizagem, mas para tal,
uma variedade de recursos (entradas) so necessrios. As entradas vm de fora do sistema
educacional propriamente dito, so parte de seu ambiente, da sociedade.
Dentre as entradas, os recursos humanos no incluem apenas professores, tutores e
especialistas em treinamentos, mas tambm o estudante como um participante ativo em um
processo de transformao (FRANTZ e KING, 2000). Na educao a distncia, os alunos
geralmente so mais heterogneos quanto idade, qualificao e ao nvel de
escolaridade, alm de provirem de diferentes realidades e meios. A EAD mais flexvel do
que o ensino presencial, pois propicia ao aluno escolher, desde que possua os meios
tecnolgicos para tal, onde e em que horrio deseja estudar, estabelecendo o seu prprio
ritmo de estudo. Consequentemente traz maiores possibilidades de se trabalhar e
permanecer no ambiente cultural, profissional e familiar prprios. Alm disso, respeitando o
ritmo de aprendizagem do aluno, este processo pode tornar-se mais eficaz (ARETIO apud
EDUCNET, 1999; NISKIER, 1999; MARTIN, 1999).
tambm verdade que a flexibilidade pode representar um problema: exige do aluno
uma maior disciplina e responsabilidade pelo prprio desenvolvimento, o que torna a
educao a distncia mais adequada para adultos do que para adolescentes ou crianas.
14
Conforme o perfil, o estudante, acostumado com uma educao onde exerce um papel
passivo, pode encontrar dificuldades na educao a distncia1.
Por outro lado, o aluno tambm se torna mais ativo. Desenvolve iniciativa, atitudes,
interesses, valores e hbitos educativos. Estas qualidades, alinhadas a uma comunicao
bidirecional freqente, garantem uma aprendizagem dinmica e inovadora (ARETIO apud
EDUCNET, 1999; NISKIER, 1999; MARTIN, 1999).
Na EAD possvel envolver palestrantes e professores dispersos geograficamente.
Entretanto, os docentes, ao contrrio da educao presencial, normalmente so de diversos
tipos, desempenhando um papel de suporte e orientao da aprendizagem e encontrando
mais problemas para o desenvolvimento e a avaliao curricular (ARETIO apud EDUCNET).
De fato, Belloni (2001, p.79) destaca
[...] uma das questes centrais na anlise da EAD, e talvez a mais polmica, refere-se ao papel do professor nesta modalidade de ensino, chamado a desempenharmltiplas funes, para muitas das quais no se sente, e no foi, preparado.
[...]
Em EAD, assim como na aprendizagem aberta e autnoma da educao do futuro, oprofessor dever tornar-se parceiro dos estudantes no processo de construodo conhecimento, isto , em atividades de pesquisa e na busca da inovaopedaggica.
Belloni (2001) destaca as diversas funes do professor na educao a distncia e
analisa, de forma contextualizada e crtica, como deve ser a formao deste professor,
envolvendo trs grandes dimenses: pedaggica, tecnolgica e didtica. O que se nota
que esta formao envolve grande complexidade e reflexo. Entretanto, sendo a EAD via
Internet algo relativamente novo, mas em grande expanso, existiriam bons cursos para
formao destes professores? Conforme coloca Belloni (2001, p.89) a problemtica da
formao de professores para EAD extrapola o mbito cientfico e pedaggico do campo da
educao para se situar no campo poltico e institucional, onde esto em jogo seus fatores
determinantes.2
A educao a distncia necessita ainda de processos complexos de concepo,
produo e difuso dos cursos, exige menos docentes e mais profissionais administrativos e
tende a ser mais democrtica no seu acesso pelos estudantes. Possibilita muitos alunos por
1 Algumas questes especficas, destacadas neste captulo 3 de referencial terico, serviram de base naconcepo de um roteiro de entrevistas utilizado neste estudo (APNDICE A). Maiores detalhes so descritos nocaptulo 4 (mtodo de pesquisa). Procura-se, entretanto, destacar a origem das questes a partir deste captulo,como neste caso, onde a questo da disciplina e do perfil do estudante originou a pergunta nmero 15 do roteirode entrevistas.
2 A questo da formao dos professores originou a pergunta nmero 4 e o primeiro item da pergunta 3 doroteiro de entrevistas (APNDICE A).
15
curso, o que reduz os custos, apesar de serem, inicialmente, mais altos (ARETIO apud
EDUCNET, 1999; NISKIER, 1999).
Os altos custos iniciais provm da aquisio de equipamentos de informtica, de
investimentos em infra-estrutura tecnolgica, da aquisio de licenas de softwares, da
formao dos professores para a EAD, etc. So custos que no ocorrem na educao
presencial, apesar desta necessitar de prdios e construes que podem constituir um custo
ainda maior. Assim, o capital inicial empregado pode ser alto, se considerados os
equipamentos e a equipe que so necessrios, como pode ser baixo, uma vez que no
necessita de salas de aulas e bibliotecas fsicas (ARETIO apud EDUCNET, 1999; MARTIN,
1999). Rosenberg (2001) tambm destaca o custo de desenvolvimento dos cursos
realizados a distncia, como sendo trs vezes superior ao custo de uma aula presencial (a
mesma proporo estimada para se manter o curso).3
Por outro lado, Rosenberg (2001) aponta diversos fatores que compensam estes
custos, afirmando que eles podem ser recuperados no primeiro ano de atuao do programa
de EAD. Entre os fatores destaca-se a maior eficincia do e-learning (o estudante aprende
em menos tempo) e a possibilidade de se desenvolver o curso para grande quantidade de
alunos simultaneamente. Porm, a maioria dos fatores destacados por Rosenberg (2001)
est ligada ao caso especfico de sua concepo do e-learning como uma forma de
capacitao do pessoal interno das empresas. Assim, fatores como menor gasto em viagens
com estudantes; menor custo pela sada do trabalhador do seu local de trabalho; custo de
oportunidade pelo rpido treinamento de funcionrios, etc., no so aplicveis a todas as
organizaes. Rosenberg (2001) tambm no considera o custo da infra-estrutura
tecnolgica, pois afirma que esta normalmente j existe nas empresas por outras razes.
Os recursos humanos ainda incluem tcnicos especializados e uma equipe de
suporte aos cursos. Eles so formados por Web designers, especialistas em montagem e
planejamento do currculo, tcnicos em Internet, udio e videoconferncia, entre outros
(FRANTZ e KING, 2000). Esta necessidade por especialistas uma das grandes diferenas
entre a EAD e a educao tradicional, que aumenta significativamente a complexidade dos
programas de EAD, afetando tambm os custos envolvidos.4
Alm de recursos humanos, diversos materiais so necessrios, desde os mais
tradicionais, como livros, papis e canetas, at outros novos, relacionados com a tecnologia,
3 A questo dos altos custos iniciais originou a pergunta nmero 19 do roteiro de entrevistas (APNDICE A).4 A questo dos profissionais tcnicos na EAD originou o segundo item da pergunta nmero 3 do roteiro deentrevistas (APNDICE A).
16
como softwares, CD-ROM, tinta para impressora, browsers de Internet e sistemas de
computadores. A tecnologia um recurso que assume um papel importantssimo na
educao a distncia. Aborda-se mais detalhadamente este tpico no item 3.1.4 deste
trabalho.
Deve-se ainda considerar outras entradas operacionais necessrias, como recursos
financeiros, tempo e informaes que possibilitam o aprendizado a distncia acontecer.
Alm disso, no se pode esquecer da infra-estrutura bsica, como eletricidade, linha
telefnica, entre outros. O tempo, especialmente, precioso na educao a distncia, pois a
fase de planejamento e implementao de programas de EAD maior do que no sistema
educacional tradicional. Isto especialmente verdade na primeira e segunda verso de
cursos oferecido pela Internet (FRANTZ e KING, 2000).
3.1.2 Sadas os resultados esperados de um programa de EAD via Internet
O principal resultado esperado de um programa de educao a distncia o
desenvolvimento de um processo eficaz de aprendizagem, que possibilite ao estudante (ou
mesmo um funcionrio em treinamento na empresa) conquistar objetivos em relao
aprendizagem do contedo. Mas no apenas isto, pois o desenvolvimento de um processo
que valorize a cidadania, a socializao e a aplicao do que foi aprendido no dia-a-dia
tambm so importantes. Portanto, no se deve pensar em ter como objetivo apenas o
desenvolvimento e a disponibilizao de um Website ou a transmisso de um vdeo (pois
estes so meios e no fins). Por outro lado, tambm no se deve restringir os resultados
somente aquisio de conhecimento pelo aluno. De fato, alm dos itens j colocados
acima, preciso que um programa de EAD atinja ainda objetivos como a satisfao pessoal
dos seus clientes e alcance os resultados financeiros desejados (FRANTZ e KING, 2000).
claro que os resultados esperados em um programa de EAD variam muito. Como
foi citado no incio deste trabalho, as organizaes tem objetivos bastante diferenciados, o
que afeta os resultados. Entretanto, os pontos citados acima devem ser comuns a maior
parte das experincias em EAD via Internet, mudando, entretanto, a intensidade de cada
item. Por exemplo, cidadania e socializao so resultados mais esperados no mbito
acadmico, enquanto aplicao do que foi aprendido no dia-a-dia mais esperado nos
cursos de capacitao interna das empresas. Para as universidades, Nevado (1996, p.150)
defende, por exemplo, que preciso buscar uma aprendizagem expandida, feita, com o
auxlio da tecnologia, e
17
[...] a partir da ampliao e transformao dos contextos, eliminando distnciasfsicas e promovendo a construo cooperativa dos conhecimentos, odesenvolvimento da conscincia crtica e o favorecimento das solues criativaspara os novos problemas que se impe.
importante que os resultados esperados sejam definidos antes das estratgias, da
definio do processo de aprendizagem de um programa (ou curso) de EAD, e
consequentemente, dos recursos (entradas) necessrios. Uma vez implementado um
programa de EAD, os mecanismos de controle possuem um papel importante na
transformao das entradas em resultados bem sucedidos (FRANTZ e KING, 2000). J
Rosenberg (2001) destaca que a falta de viso, ou seja, no ter claro porque adotar um
Programa de EAD, constitui um dos erros mais freqentes cometidos pelas empresas.
3.1.3 Controle as regras que devem ser seguidas
Os mecanismos de controle tm a funo de regular o sistema e so formados por
polticas e leis pblicas, entidades governamentais, alm das diretrizes internas das
organizaes e tambm de entidades de classe. Na educao a distncia via Internet, os
mecanismos de controle no esto relacionados apenas com a questo educacional, mas
tambm com tecnologia, telecomunicaes e outros setores especficos (FRANTZ e KING,
2000).
No meio deste conjunto de elementos, a questo da regulamentao da EAD no
Brasil se destaca e assume vital importncia especialmente para as instituies de ensino.
Conforme Maia (2001), a normatizao da EAD dada pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional (Lei nmero 9.394 de 20 de setembro de 1996), e pelos decretos
nmero 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, e 2.561, de 27 de abril de 1998, alm da Portaria
Ministerial nmero 301, de 07 de abril de 1998.
O ponto mais importante neste conjunto de leis a necessidade de credenciamento
das instituies de ensino para poderem oferecer cursos atravs da EAD. O artigo 80 da lei
nmero 9.394 coloca que o Poder Pblico deve incentivar o desenvolvimento e a
veiculao de programas de ensino a distncia credenciando instituies, regulamentando a
realizao de exames e registro de diplomas". J o artigo 2 do decreto 2.494/98 afirma que
[...] os cursos a distncia que conferem certificado ou diploma de concluso doensino fundamental para jovens e adultos, do ensino mdio, da educaoprofissional e de graduao sero oferecidos por instituies pblicas e privadasespecificamente credenciadas para esse fim [...] (MAIA, 2001, p. 51).
A competncia para delegao de credenciamento s instituies que desejam
ofertar cursos a distncia dirigidos educao fundamental, ensino mdio e educao
profissional de nvel tcnico dada
18
[...] s autoridades integrantes dos sistemas de ensino, [...] para promover os atos decredenciamento de instituies localizadas no mbito de suas respectivasatribuies. Assim, as propostas de cursos nestes nveis devero ser encaminhadasao rgo do sistema municipal ou estadual responsvel pelo credenciamento deinstituies e autorizao de cursos a menos que se trate de instituio vinculadaao sistema federal de ensino, quando, ento, o credenciamento dever ser feito peloMinistrio da Educao (MAIA, 2001, p.51).
J o credenciamento para cursos de graduao outorgado pelo Ministrio da
Educao (MEC), sendo necessrio autorizao especial para cada curso ofertado. A
Secretaria de Educao a Distncia (SEED) ligada ao MEC, desenvolveu indicadores de
qualidade para os cursos de graduao a distncia, que devero ser seguidos pelos projetos
das Instituies de Ensino Superior (MAIA, 2001).
Este projeto que acompanha a solicitao de credenciamento dever conter o
estatuto e o modelo de gesto institucional, cursos j autorizados, dados sobre o curso
pretendido, descrio de infra-estrutura, descrio do suporte aos professores tutores,
identificao das equipes multidisciplinares, indicao de atividades extracurriculares,
descrio do processo seletivo e de avaliao de rendimento ao longo do curso, e dever
passar por uma avaliao para fins de recredenciamento aps cinco anos.
Os cursos de mestrado e doutorado a distncia sero objetos de regulamentao
especfica, conforme texto do decreto 2.494/98. Os critrios de reconhecimento esto sendo
desenvolvidos pela CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel
Superior (MAIA, 2001). Entretanto, j existem cursos de mestrado a distncia autorizados
no Brasil. Os cursos de ps-graduao latu sensu tambm necessitam de regulamentao,
o que se dar em cima de critrios em definio pelo SEED.5
3.1.4 Transformao criando processos de aprendizagem
O que colocado por Frantz e King (2000) como transformao consiste no
corao do modelo por eles desenvolvido. dividido em seis subsistemas que interagem
para produzir os resultados desejados: administrao e gerenciamento, comportamento e
socializao, currculo e contedo, interao e atividades de distribuio e processo de
comunicao. A seguir, descreve-se mais detalhadamente cada um destes subsistemas.
a) Administrao e Gerenciamento
Os administradores ou gerentes de programas e cursos a distncia provem
suporte e recursos, alm da motivao e viso necessrias. Tambm controlam os recursos
5 A questo do controle dos rgos governamentais originou o terceiro item da pergunta nmero 3 do roteiro deentrevistas (APNDICE A).
19
financeiros. Adicionalmente, devem estar ativamente envolvidos em conhecer o mercado: as
necessidades do pblico e dos estudantes (FRANTZ e KING, 2000).
De acordo com Willis (1994), apesar dos administradores normalmente
influenciarem o planejamento de programas de educao a distncia, eles freqentemente
perdem o contato ou passam o controle para gerentes tcnicos, uma vez que o programa
est em andamento. Um administrador eficaz em EAD mais do que uma pessoa com
idias, um construtor de consenso e tomador de decises. Trabalha junto com o pessoal
tcnico e de suporte, assegurando que os recursos tecnolgicos estejam efetivamente
sendo empregados para alcanar a misso acadmica da instituio. Mais importante,
busca o perfeito equacionamento entre a tecnologia e o enfoque acadmico, sabendo que ir
ao encontro das necessidades dos estudantes a distncia sua responsabilidade.6
Para isso, importante estar atento aos atributos que os estudantes consideram
importantes na educao (e especial na EAD), a fim de que na gesto dos programas sejam
realizadas aes que busquem a satisfao dos alunos. Alguns atributos essenciais so a
valorizao do raciocnio, o domnio do contedo pelo professor, a existncia de objetivo, a
utilidade e aplicabilidade do contedo e a transmisso e aquisio de conhecimento
(TESTA; LUCIANO e FREITAS, 2001). A imagem dos estudantes no processo de ensino-
aprendizagem tambm deve ser considerada, onde se destaca a importncia da existncia
de interao e convivncia com colegas e professores, a existncia de professor e de uma
instituio de ensino (TESTA e SCHULER, 2000).7
b) Comportamento e socializao
A maioria dos cursos ministrados no presencialmente apresenta srias limitaes
em alcanar objetivos de socializao devido s escassas ocasies de interao dos alunos
com o docente e entre si. Alm disso, apresenta limitaes na rea afetiva e atitudinal, e na
troca direta de experincias proporcionadas pela relao educativa pessoal entre professor
e aluno (ARETIO apud EDUCNET, 1999; MARTIN, 1999). Isto representaria um dos
grandes motivos dos altos ndices de evaso dos cursos distncia: muito mais
interessante o intercmbio de idias com outras pessoas como um grupo de aprendizado do
que trabalhar isoladamente com matria pr-fabricada, com apenas um feedback ocasional
de seu instrutor (BISHOP apud MARTIN, 1999, p.223). 8
6 O papel dos gestores e sua importncia para manter o foco nas necessidades dos estudantes originou apergunta nmero 18 do roteiro de entrevistas (APNDICE A).7 A questo da administrao e gesto originou o sexto item da pergunta nmero 3 do roteiro de entrevistas(APNDICE A).8 A questo comportamental e de socializao originou a pergunta nmero 14 do roteiro de entrevistas(APNDICE A).
20
c) Processo de comunicao
Comunicao o processo que interconecta gerenciamento, contedo, distribuio e
socializao. essencial para o planejamento e distribuio do conhecimento e experincia,
para avaliao e para o contnuo aperfeioamento do processo.
Diversos recursos podem ser utilizados na educao a distncia para estabelecer a
comunicao entre seus participantes: os mais tradicionais so o correio (meio impresso), o
rdio e a televiso, mas recentemente novas tecnologias de informao, como a
videconferncia e a Internet, tm trazido grandes contribuies para a EAD. De fato, as
contribuies que a Internet pode dar educao a distncia so muitas, e representam o
principal motivo da crescente importncia que esta forma de ensino-aprendizagem, j
existente h muito tempo, tem ganhado recentemente (MARTIN, 1999; KEARSLEY, 2000;
VEIGA et al., 1998, TURBAN et al., 1999; KALAKOTA e WHINSTON, 1996).
d) Interao e processo de distribuio9
Segundo Drucker (2000, p.67), a Internet deve ser entendida como um novo canal de
distribuio do conhecimento. Sobre este assunto, se manifesta dizendo que os canais de
distribuio so, geralmente, adies e complementos, e no substituies. Assim como a
televiso no eliminou o rdio e o jornal, a educao a distncia, atravs da Internet, no
dever tomar o lugar do ensino presencial.
A integrao da tecnologia de informao com os processos de aprendizagem afeta
potencialmente a distribuio do conhecimento em ambientes universitrios e comerciais
(Webb, 1998), porm, ao contrrio de Drucker (2000), Chatterjee e Jin (1997) colocam que
no se pode pensar na Internet apenas como um novo canal de distribuio, sem
compreender o potencial da relao entre a mdia e a aprendizagem. A aprendizagem
ativa, construtiva, cognitiva, um processo social no qual o aprendiz gerencia recursos
cognitivos, fsicos e sociais para criar novos conhecimentos. De qualquer maneira, a
Internet est fazendo com que educadores repensem a real natureza do que ensinar,
aprender e educar (AMOR, 2000; MAMAGHANI, 1998).
O certo que no processo de distribuio que ocorre na EAD via Internet, a
interao um dos aspectos mais importantes. De fato, a grande corrida de empresas e
instituies de ensino na direo da EAD deve-se, sobretudo, a um grande benefcio gerado
9 A questo da interao e dos modelos pedaggicos originou a pergunta 12 e o quinto item da pergunta nmero3 do roteiro de entrevistas (APNDICE A).
21
pelas novas tecnologias de comunicao e informao: uma maior e mais qualificada
interao. A EAD tem ocorrido, tradicionalmente, por meios que no permitem uma razovel
interao entre alunos e professores, como ocorre no ensino presencial. A interao via
correio, ou televiso, por exemplo, muito precria. J com a Internet e videoconferncia, a
interao - elemento essencial dentro de um processo de aprendizagem - ganha novas
foras (MARTIN, 1999; KEARSLEY, 2000).
necessrio entender bem o que significa interao para a EAD. Tem-se entendido
que interativo o texto que contm cones clicveis ou hiperlinks. Ou, por exemplo, os
programas de TV que permitem a votao em certas respostas, como sim ou no, ou ainda
os videogames que respondem ao de joysticks. Na realidade, estes so exemplos
pobres de interatividade, pois o espectador simplesmente reage aos estmulos a partir das
respostas que a ele so permitidas. As tecnologias hoje existentes possibilitam uma
interao muito mais intensa, em que se criam ambientes propensos criatividade, sem
restries de respostas como nos exemplos anteriores (PRIMO e CASSOL, 1999).
Pode-se, ainda, precisar melhor a diferena entre os termos interao e
interatividade. Quando se fala em interatividade, trata-se com a complexidade do
desenvolvimento e com a implementao da eficcia, qualidade e relacionamento entre as
pessoas e os computadores no campo das comunicaes. J o conceito de interao est
mais relacionado com a educao, na relao entre professores, alunos e contedo,
independente deste ser mediado pela informtica (SIMS, 1999).
A transmisso de informaes de forma passiva imposta pela mdia tradicional
(jornal, revista, rdio e televiso) pode ser superada com as novas tecnologias digitais, que
trazem novas formas de circulao de informaes. Acompanha-se ento uma passagem
do modelo transmissionista Um-todos, para outro modelo Todos-todos, que constitui uma
forma descentralizada e universal na circulao das informaes (PRIMO e CASSOL, 1999,
p.68).
A interao pode ocorrer em tempo real (sncrona) ou no (assncrona). Na sala de
aula tradicional, a interao ocorre normalmente em tempo real, mas na EAD ela ocorre
freqentemente nas duas formas. A distino entre a interao sncrona ou assncrona
importante porque determina a lgica, as sensaes associadas a uma experincia em
educao a distncia. Para obter interao sncrona necessrio que os alunos participem
num horrio fixo e pr-estabelecido, enquanto na interao assncrona a participao
depende apenas do horrio que o aluno estabelece. Assim, os programas de EAD que
envolvem educao assncrona fornecem mais controle e flexibilidade para o aluno,
enquanto as aulas que requerem interao em tempo real destacam-se por, na maioria das
22
vezes, possuir uma sensao de excitao e espontaneidade que no est presente na
interao assncrona (KEARSLEY, 2000).
A Interao nos cursos a distncia via Internet tem sido alvo de pesquisas h
bastante tempo. Por exemplo, analisando as interaes em uma disciplina a distncia,
Nevado (1996) identificou um processo que comeou atravs de trocas simples sem
coordenao at a conquista de um equilbrio tpico das trocas cooperativas. Este processo
aconteceu em trs fases. A primeira fase marcada pela busca por uma escala comum de
valores, onde os estudantes comeam a se acostumar com a comunicao disponvel.
Alm disso, atribudo um valor maior s colocaes do professor, que centraliza boa parte
das trocas de mensagens. Na segunda fase se estabelece uma dinmica onde os
estudantes, juntamente com o professor, comeam a se responsabilizar sobre o processo.
As preocupaes dos alunos, sobre o que deveriam fazer, so substitudas por o que
esperar dos outros estudantes e quais temas privilegiar, de acordo com os interesses do
grupo. o resgate dos direitos em relao s obrigaes.
Finalmente chega-se terceira fase, onde se observa a existncia de trocas
cooperativas, que no so desviadas por fatores egocntricos ou coercitivos, aproximando-
se do que Piaget (apud NEVADO, 1996) define como equilbrio cooperativo ou trocas
cooperativas de pensamento. Assim, cria-se uma autonomia nos estudantes que no
significa isolamento, mas que permite que idias com pontos de vista diferentes possam ser
discutidas e compreendidas sem imposies. Analisando o processo de construo do
conhecimento dos estudantes, Nevado (1996) ressalta que quanto maior a integrao, maior
a relacionamento de conceitos em meio discusso dos temas em circulao da rede.
Figura 5 - Base terica para modelos pedaggicos em ambientes informatizados
A interaofavorece
conhecimento/construo
autonomia moral eintelectual
"troca intelectual"/desenvolvimentodo pensamento/
cooperao
reflexes sobre asaes-contradies/
tomada deconscincia
23
Fonte: Nevado et al. (1999, p.131)
Com o objetivo de construir um novo modelo pedaggico para ambientes
informatizados, Nevado et al. (1999) buscaram uma base terica cujas idias so
representadas na figura 5 e explicadas a seguir:
- Conhecimento/construo: todo conhecimento resulta de uma construo da
pessoa que ocorre a partir de sua ao sobre o mundo: conhecer um objeto agir fsica ou
mentalmente sobre ele;
- Interao: o modo como se age e pensa desenvolvido num processo interativo,
da pessoa com objetos ou com outras pessoas, o que permite ampliar e aprofundar a leitura
do mundo e condio necessria a toda construo de conhecimento;
- Troca Intelectual/desenvolvimento do pensamento/cooperao: as relaes
cooperativas pressupem a coordenao de diferentes pontos de vista e idias. A
discusso, a troca intelectual, fator necessrio no desenvolvimento do pensamento;
- Reflexo sobre aes-contradies/tomada de concincia: a tomada de
conscincia est relacionada anlise das aes das pessoas no superamento de
contradies, no enfrentamento de obstculos;
- Autonomia moral e intelectual: a autonomia moral est vinculada possibilidade
de coordenao de diferentes perspectivas sociais mantendo-se o respeito recproco. J a
autonomia intelectual implica na liberao do que a tradio ou as ideologias procuram
impor pessoa, atravs da existncia de idias ou aes prprias.
e) Tecnologia instrucional10
A tecnologia permeia todo o processo de transformao, tornando possvel a
comunicao entre os diversos subsistemas. o que torna possvel a existncia da
educao a distncia, ligando os processos no espao e no tempo (FRANTZ e KING, 2000).
Segundo Belloni (2001, p.54), essencial que, na anlise das relaes entre tecnologia e
educao, o uso do termo tecnologia, como um artefato tcnico em situao de ensino-
aprendizagem, esteja associado ao conhecimento embutido no artefato e em seu contexto
de produo e utilizao.
Sob a tica das tecnologias, existem trs geraes bsicas de modelos de
educao a distncia (BELLONI, 2001). A primeira gerao o ensino por correspondncia,
10 A questo da tecnologia originou o quarto item da pergunta nmero 3 do roteiro de entrevistas (APNDICE A).
24
iniciado no final do sculo XIX, possibilitado, principalmente, pelo desenvolvimento da
imprensa e das estradas de ferro. Esta gerao marcada pela assimetria no espao e
tempo e pela maior autonomia dos estudantes em relao ao local de estudo. A segunda
gerao denominada de ensino multimeios a distncia, que se desenvolveu nos anos 60,
atravs da integrao do ensino por correspondncia com programas de vdeo e udio,
difundidos via cassete ou via broadcasting atravs de rdio ou televiso. Esta gerao
fortemente influenciada pelos modelos fordistas de produo, sendo caracterizada pelo
pblico em massa, economia de escala, diviso de trabalho, centralizao e ainda o
modelo mais presente na EAD.
A terceira e mais atual gerao, ainda segundo Belloni (2001), a formada pelas
novas tecnologias de comunicao, onde a Internet se destaca. Utiliza redes telemticas
com banco de dados, e-mail, listas de discusso, sites, com apoio de CD-ROM. As marcas
desta nova gerao so os ambientes de aprendizagem com interao suportada por
computador. Entretanto, como j dito anteriormente, muitas vezes a tecnologia de
informao tem sido utilizada na automao de antigos processos de aprendizagem
(KALAKOTA e WHINSTON, 1996), sendo que a terceira gerao ainda constitui mais "uma
proposta a realizar do que propriamente uma realidade a analisar (BELLONI, 2001, p.55).
Mas Belloni (2001) reserva as crticas mais duras para a segunda gerao. Cita, por
exemplo, Stewart (apud BELLONI, 2001, p.15), quando afirma que os modelos fordistas
desempenham um papel de desintegrao de nossa sociedade, pois contribuem para o
isolamento e evitam a interao pessoal e crtica. Apesar de estar claro que a concepo
fordista que tem dominado a EAD no deriva da tecnologia, mas de um modelo econmico
que se usa desta, a Internet, como nova tecnologia, pode ser usada pelas idias
emergentes ps-fordistas - relacionadas a flexibilizao no trabalho, responsabilizao do
trabalho, segmentao de mercados para desenvolver uma aprendizagem aberta mais
adequada na EAD.11
Diversas expresses em relao a tecnologia so utilizadas neste trabalho. Por
isso, a seguir, destacam-se os principais elementos e conceitos relacionados a tecnologia
de informao (TI) e especialmente Internet.
Primeiro, vale destacar a prpria idia de tecnologia de informao, que consiste no
lado tecnolgico (hardware, banco de dados, softwares, etc.) dos sistemas de informao
(SI). Um sistema de informao, por sua vez, um subsistema da TI, uma srie de
11 Esse debate originou a pergunta nmero 17 do roteiro de entrevistas (APNDICE A).
25
componentes que coletam, processam, armazenam, analisam e disseminam informao
com um objetivo especfico (TURBAN; MCLEAN e WETHERBE, 1996; LAUDON e
LAUDON, 2000).
Pode-se dividir as TI a partir de algumas caractersticas, ou funes, segundo
Laudon e Laudon (2000):
- hardware: o equipamento fsico utilizado para atividades de entrada,
processamento e sada em um sistema de informao;
- software: consiste em instrues detalhadamente programadas que controlam e
coordenam os componentes de hardware em um sistema de informao;
- tecnologia de armazenamento: so os bancos de dados, consistem na mdia
fsica para armazenamento de dados, como discos magnticos e ticos, e nos
softwares para gerenciamento da organizao dos dados no meio fsico;
- tecnologia de comunicao: composta por equipamentos fsicos e softwares,
que conectam vrias unidades de hardware e transferem dados de um local
fsico para outro. Computadores e equipamentos de comunicao podem ser
conectados em rede para compartilharem voz, dados, sons e vdeos.
Das vrias tecnologias de informao existentes, uma das mais conhecidas (e
certamente a mais importante para este trabalho) a Internet. A Internet atualmente uma
rede interligada de redes de computadores (AMOR, 2000, p.62). As vrias redes esto
conectadas entre si atravs de um conjunto de protocolos, que so regras para
computadores e aplicaes interagirem (AMOR, 2000). A Internet utiliza como padro de
comunicao o modelo Transmission Control Protocol/Internet Protocol - TCP/IP, que
possibilita a comunicao entre dois computadores ainda que estes estejam baseados em
hardwares e plataformas de softwares diferentes, facilitando bastante a comunicao
(LAUDON e LAUDON, 2000).
O que torna a Internet to importante a sua abrangncia. Esta conexo de redes,
formada por ns e canais, espalhou-se globalmente. Os ns so clientes (computadores que
os usurios utilizam para se comunicar a outros ns), servidores (provedores de servios
para os clientes) e roteadores e bridges (computadores que distribuem e filtram o trfego da
rede). Os servidores tambm podem ser clientes ao mesmo tempo, assim como podem ser
um roteador simultaneamente (e vice-versa) (AMOR, 2000, p.63). Eles so identificados por
um endereo IP e, a princpio, todo n pode se comunicar como outro n, a no ser que
estejam protegidos por dispositivos de proteo, chamados firewalls (Amor, 2000). Firewall
consiste em software e hardware colocados para filtrar as informaes que trafegam entre
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uma rede interna de uma organizao e uma rede externa, incluindo a Internet (LAUDON e
LAUDON, 2000).
A parte mais importante da Internet a World Wide Web (ou simplesmente Web),
um sistema aceito universalmente que padroniza o armazenamento, a recuperao, a
formatao e a apresentao da informao usando tecnologia cliente/servidor. A Web est
baseada em uma linguagem padro denominada Hipertext Markup Language (HTML), que
usa instrues chamadas tags para combinar texto, hipermdia, grficos e som em um
documento, e para criar links dinmicos para outros documentos e objetos armazenados no
mesmo ou em outro computador. Vale a pena, ainda, destacar a linguagem de programao
Java, que permite distribuir pequenos programas, chamados applets, utilizados somente
quando necessrios para realizar tarefas especficas, possibilitando a interao dentro de
pginas Web. Um conjunto de controles denominados Active X uma forma alternativa de
prover interao: ele proporciona, dentro do ambiente operacional Windows, programas e
outros objetos (como tabelas e animaes) serem embutidos dentro de uma pgina Web
(LAUDON e LAUDON, 2000). Estas caractersticas da Web possibilitam grandes aplicaes
dentro da EAD.
Uma rede privada, que utiliza a mesma tecnologia World Wide Web (com
programao em HTML para pginas Web) e, inclusive, utilizando protocolo TCP/IP, mas
somente dentro de uma organizao, denominada intranet. Ela normalmente separada
da Internet por um firewall. Intranet privadas que estendem a usurios autorizados de fora
da organizao so chamadas extranets (LAUDON e LAUDON, 2000). Os exemplos mais
comuns de extranets so as que conectam uma empresa a seus fornecedores, parceiros
e/ou clientes.
Com a inteno de apresentar os componentes tecnolgicos essenciais ligados
Internet, para o desenvolvimento e compreenso deste trabalho, apresenta-se, a seguir
mais alguns conceitos importantes, pois freqentemente so utilizados em cursos a
distncia (LAUDON e LAUDON, 2000):
- Correio eletrnico (e-mail): troca de mensagens entre computadores, pode ser
realizada via Internet atravs do Simple Mail Transfer Protocol (SMTP), que traduz
a mensagem entre o formato local e o da Internet;
- FTP (File Transfer Protocol): protocolo de comunicao usado para o acesso
remoto a computadores, na recuperao de arquivos. Sua principal vantagem a
rapidez e facilidade na transferncia de arquivos;
- Videoconferncia: grupo de pessoas que interagem simultaneamente utilizando
recursos de voz e vdeo;
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- Chat: consiste na interao (normalmente escrita) entre duas ou mais pessoas
simultaneamente na Internet;
- Frum de discusso: consiste em um grupo de discusso onde pessoas dividem
informaes e idias sobre tpicos definidos, assincronamente.
- Groupware: consiste em um software que prov funes e servios para suportar
a atividades colaborativas em grupos de trabalhos.
Uma questo importante para a EAD a capacidade e velocidade de transmisso
de dados na Internet. A velocidade de transferncia dos dados determinada pela
velocidade do acesso ao servidor e pela velocidade da conexo do usurio. As limitaes
impostas por estes fatores podem ser um obstculo ao sucesso de um Programa de EAD,
porque sendo o acesso mais lento, a interatividade menor, e os recursos de udio e vdeo
podem no ser adequados. E a utilizao de determinados softwares pode frustar os
usurios se eles rodarem muito lentamente (HSM MANAGEMENT, 2001).
Por outro lado, existe a expectativa de rpida expanso da largura de banda da
Internet. Alm disso, Rosenberg (apud HSM MANAGEMENT, 2001, p. 88) salienta:
Muitos dizem que no conseguem implantar iniciativas de e-learning se no tiveremconexes de alta velocidade ou acesso de banda larga. Em minha opinio, no uma desculpa vlida. como dizer que uma boa escola se define pela quantidadede computadores quando o que importa a qualidade de seus professores. possvel elaborar um excelente programa de ensino para qualquer nvel tecnolgico,sempre que as pessoas tiverem acesso ao contedo. Para comear, o nicorequisito o acesso bsico Internet, e medida que melhorar o tipo de conexo,melhoraro as capacidades e a oferta de servios.12
Outro aspecto que merece destaque quanto aos softwares utilizados na EAD.
Existem diversas solues especficas para a EAD via Internet. Estes aplicativos contm
vrias funes que podem ser utilizadas no desenvolvimento e no gerenciamento de um
curso a distncia. Muitos programas tambm utilizam softwares genricos disponveis na
Internet, que possibilitam criar ambientes mais flexveis e customizados. Rosenberg (apud
HSM MANAGEMENT, 2001) afirma que a maioria dos programas (softwares) desenvolvidos
internamente nas empresas e muitos dos pacotes prontos so pobres graficamente, tendo
um visual pouco atraente e portanto uma interface inadequada.13
Rosenberg (apud HSM MANAGEMENT, 2001, p.84) tambm afirma que a
navegao um critrio importante dentro de um software que constitua um ambiente na
12 A questo da velocidade de transmisso de dados na Internet originou a pergunta nmero 9 do roteiro deentrevistas (APNDICE A).13 A questo dos softwares especficos para EAD na Internet originou a pergunta nmero 11 do roteiro deentrevistas (APNDICE A).
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EAD. Segundo ele, os usurios tm de: conseguir escolher seu prprio caminho dentro do
curso; ter acesso opo de sair do curso em todos os momentos; ter acesso a um mapa
do curso; e conseguir visualizar claramente cones e resumos.
f) Memria, pesquisa e avaliao
As organizaes educacionais precisam registrar e armazenar diversas
informaes de alunos, professores e funcionrios, de avaliao e performance, entre vrias
outras. Estas informaes so chamadas de Memria no modelo DEL (FRANTZ e KING,
2000). Com as novas tecnologias na educao a distncia, informaes podem ser geradas
em grande quantidade e qualidade bem mais facilmente, como, por exemplo, atravs de
anlise de logs dos acessos dos estudantes, integrao de banco de dados de cursos com a
instituio, etc.
Relacionado com a memria, esto os processos aqui chamados de pesquisa e
avaliao em um programa de EAD. A pesquisa e a avaliao esto presentes no incio do
desenvolvimento de um curso ou projeto de educao a distncia, para a definio dos
esforos de marketing e avaliao das necessidades dos estudantes. Tambm est
presente durante a fase operacional (na mensurao da competncia) e final, onde avalia-se
a satisfao, o retorno, a performance do estudante, etc. (FRANTZ e KING, 2000).
3.1.5 Feedback melhorando a partir dos resultados
Em um sistema social aberto, como o educacional, o feedback suporta o
aperfeioamento contnuo. Existe a interao com o ambiente, que faz com que no apenas
seja possvel ajudar a corrigir (feedback negativo), como aperfeioar (feedback positivo) os
mecanismos de controle, as funes de transformao e os recursos (entradas)
necessrios. Sadas (resultados) bem sucedidos criam um reforo positivo e crescem no
sistema, enquanto que o feedback negativo ajuda na auto-correo do sistema (FRANTZ e
KING, 2000). As linhas do feedback na figura 4 esto quebradas para indicar a relao com
o ambiente/sociedade.
A educao a distncia marcada pela flexibilidade de seus programas. Assim,
segundo Litwin (2000, p.14), tambm as propostas de implementao no respondem a um
modelo rgido, mas exigem uma organizao que permita ajustar de forma permanente as
estratgias desenvolvidas. Este ajuste deve vir a partir da retroalimentao proveniente
das avaliaes parciais do programa.
29
3.1.6 Ambiente a interao entre a EAD via Internet e a sociedade
O ambiente onde um programa de EAD est inserido tambm exerce forte
influncia sobre a performance de um curso a distncia. No modelo DEL (figura 4), a
interao programa-ambiente representada pelas flechas pequenas mais grossas.
Problemas desta relao podem vir da queda de sinal de satlite, congestionamento na rede
durante a transmisso de algum vdeo na Internet ou mesmo no corte de custos da
organizao para o programa, para citar alguns exemplos. Entender como o ambiente
permeia o modelo DEL pode ajudar os planejadores a visualizar diferentes planos de
contingncia necessrios para minimizar os impactos ambientais adversos. importante,
ainda, que cada pessoa envolvida saiba como sua atividade individual afeta o todo
(FRANTZ e KING, 2000).
Por outro lado, pode-se tambm avaliar o impacto contrrio, ou seja, dos programas
de EAD na sociedade. Por exemplo, o crescimento dos cursos via Internet tem trazido
algumas interrogaes e preocupaes entre educadores e administradores, por ser
considerado um processo de globalizao da educao. De fato, grande parte da oferta de
cursos a distncia no Brasil provm dos Estados Unidos e da Europa.
Segundo Gonzlez (2000), isto pode ser avaliado de duas formas: de um lado, os
pases desenvolvidos se beneficiam economicamente, podendo, inclusive, impor polticas e
ideologias; de outro, os mais beneficiados so os pases em desenvolvimento, pois estes
teriam acesso mais rpido a informaes, conhecimento e inovaes tecnolgicas. Como
isto afeta a educao local? Que impactos tem sobre as instituies de ensino dos pases
em desenvolvimento, principalmente? Ou ainda, qual o impacto no setor de transporte e
hotelaria, uma vez que muitas pessoas deixaro de viajar para realizar cursos? Enfim, so
diversas as perguntas que poderiam ser levantadas em relao ao impacto do crescimento
da EAD via Internet. Os receios ou interesses em relao a estes impactos podem ser
traduzidos em mecanismos de controle atravs de leis e organismos governamentais,
exercendo assim, influncia sobre os programas de EAD.14
14 Esta temtica originou a pergunta nmero 7 do roteiro de entrevistas (APNDICE A)
30
3.2 CONCEITUANDO FATORES CRTICOS DE SUCESSO PARA A EAD VIA INTERNET
A compreenso do significado da expresso fatores crticos de sucesso (FCS)
importante para precisar o foco da pesquisa. O termo foi lanado por Rockart (1979) em um
artigo em que examina diversos mtodos utilizados para prover informao a gerentes ou
administradores de empresas, discutindo vantagens e desvantagens de cada mtodo. O
problema abordado por Rockart (1979) tem origem no excesso de informao disponvel nas
empresas, e a necessidade de verificar quais so as informaes que os administradores
realmente precisam. Como soluo, atravs de uma abordagem sistmica, prope o
mtodo dos fatores crticos de sucesso, desenvolvido por uma equipe de pesquisa do
MITs Sloan School of Management.
O termo original em ingls critical success factors (ROCKART, 1979), traduzido
no Brasil como fatores crticos de sucesso ou fatores chaves de sucesso (FURLAN,
1997). Consistem em fatores essenciais, fundamentais para alcanar objetivos executivos,
estratgicos ou tticos de uma organizao, que garantem o seu desempenho competitivo,
mesmo se outros fatores forem negligenciados (FURLAN, 1997; ROCKART,