Adubação orgânica em milho verde no norte fluminense.
Lúcia Valentini1; José Márcio Ferreira1; Aldo Shimoya2; Cleber Carlos da Silva Costa3 1PESAGRO-RIO/Estação Experimental de Campos - C. Postal 114331 - 28080-000 - Campos dos Goytacazes-
RJ - E-mail: [email protected]; 2Bolsista da FAPERJ/PESAGRO-RIO/Estação Experimental de
Campos; 3Técnico Agrícola da PESAGRO-RIO/Estação Experimental de Campos
RESUMO
Avaliou-se os efeitos de doses de adubação orgânica (esterco de bovino curtido)
sobre algumas características agronômicas de três cultivares de milho verde. O experimento
foi conduzido em Campos dos Goytacazes, RJ, utilizando-se o delineamento experimental
de blocos ao acaso, em esquema de parcelas subdivididas, sendo alocadas nas parcelas as
cultivares AG 4051, DINA 170 e DINA 270 e, nas subparcelas, as cinco doses de adubação
orgânica (0, 10, 20, 30 e 40 t ha-1). As características avaliadas foram: altura de plantas
(cm), altura de espigas (cm), peso de espigas comerciais com e sem palha (g/parcela) e
diâmetro da espiga (cm). Somente a DINA 170, entre as cultivares, apresentou peso máximo
de espigas comerciais com palha com a aplicação de 23,98 t ha-1 de esterco; AG 4051 e
DINA 170 apresentaram pesos máximos de espigas comerciais sem palha com a aplicação
de 26,36 e 24,77 t ha-1 de esterco, respectivamente; e a AG 4051 teve acréscimo no
diâmetro da espiga à medida em que foram aumentadas as doses de esterco.
Palavras chave: Zea mays, esterco, rendimento.
ABSTRACT
Organic fertilization in green corn in the northern Rio de Janeiro State, Brazil.
It was evaluated the effects of doses of bovine manure on some agronomic
characteristics of three cultivates of green corn. The experiment was conducted in Campos of
Goytacazes, State of Rio de Janeiro, the experimental design used was randomized blocks
at random, in split plot, being allocated in the plots the cultivates AG 4051, DINA 170 and
DINA 270 and, in the subplots the five doses of manure (0, 10, 20, 30 and 40 t ha-1 of bovine
manure tanned). The characteristics evaluated were height of plants (cm), height of spike of
corn (cm), weigh of commercial spike of corn with and without straw (g/plot) and diameter of
the spike of corn (cm). The DINA 170, among the cultivates, presented maximum weight of
commercial spike of corn with straw with the application of 23,98 t ha-1 of manure; AG 4051
and DINA 170 presented maximum weights of commercial spike of corn without straw with
the application of 26,36 and 24,77 t ha-1 of manure, respectively; and AG 4051 had increment
in the diameter of the spike of corn as the manure doses increased.
Keywords: Zea mays, manure, yield.
No Estado do Rio de Janeiro a oferta do milho verde não tem acompanhado a demanda, requerendo importações de outros estados. O milho verde é considerado uma excelente opção para pequenos e médios produtores, constituindo uma cultura para rotação com hortaliças. Seu cultivo necessita de cuidados especiais como melhor adubação para se obter uma boa produção e melhor qualidade das espigas. Segundo Pires & Junqueira (2001), quimicamente, a adubação orgânica é importante fonte de nutrientes, especialmente N, P, S e micronutrientes, sendo a única forma de armazenamento de N que não volatiliza e, ainda, responsável por 80% do fósforo total encontrado no solo. No Brasil, existem vários estudos com milho verde que se referem mais ao comportamento de cultivares (Silva et al., 1997; Paiva Junior et al., 1998; Valentini et al., 2002b), sendo o emprego de adubos orgânicos pouco mencionado (Araújo et al., 2000; Silva et al., 2002), possivelmente, em razão do manejo seguir as mesmas recomendações para o milho grão. A utilização de adubação orgânica nas culturas em geral, como insumo agrícola, não constitui prática rotineira no Estado do Rio de Janeiro, sendo que demonstrações da sua importância como componente fundamental do solo devem ser implementadas, principalmente para os produtores que dispõem desse insumo na propriedade. O objetivo deste trabalho foi o de estudar os efeitos de doses de adubação orgânica sobre algumas características agronômicas do milho verde.
MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Estação Experimental de Campos da PESAGRO-
RIO, Campos dos Goytacazes, RJ, em solo classificado como neossolo flúvico, coletado à
profundidade de 0 – 20 cm, com as seguintes características químicas: pH = 5,4; P = 11 mg
dm-3 e K = 76 mg dm-3, ambos pelo extrator Carolina do Norte; Ca = 4,7 cmolc dm-3; Mg = 2,1
cmolc dm-3; Fe = 222 cmolc dm-3; Cu = 3 cmolc dm-3; Zn = 5,8 cmolc dm-3; Mn = 75 mg dm-3 e
M.O. = 2,4%. As características físicas foram: areias = 40%, silte = 31% e argila = 29%.
O resultado da análise do esterco bovino (material seco) apresentou as seguintes
características: N = 1,69%; P = 0,48%; K = 1,97%; Ca = 0,18%; Mg = 0,06%; C = 29,28%; U
= 50,5%; Fe = 11.880 mg dm-3; Cu = 40 mg dm-3; Zn = 132 mg dm-3;e Mn = 365 mg dm-3.
O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, em esquema de parcelas
subdivididas, com três repetições. Nas parcelas foram dispostas as cultivares AG 4051,
DINA 170 e DINA 270 e nas subparcelas as cinco doses de esterco de bovino curtido (t/ha):
0 (testemunha), 10, 20, 30 e 40. As parcelas foram constituídas por quatro linhas de 5,0 m,
utilizando-se os espaçamentos de 0,9 m entre linhas e 0,25 m entre plantas. Como área útil
foram consideradas as duas linhas centrais. A semeadura foi realizada em 29.06.1999.
Foram avaliadas as seguintes características: altura de plantas e de espigas (cm), peso de
espigas comerciais com e sem palha (g/parcela) e diâmetro da espiga (cm). Foi retirada uma
amostra de cinco espigas comerciais de cada tratamento para avaliação das características
peso de espigas com e sem palha e diâmetro da espiga.
O ensaio recebeu irrigação suplementar pelo método de aspersão convencional e os
tratos culturais foram os comumente utilizados na cultura do milho. A colheita foi feita
parceladamente, à medida que os grãos atingiram o “ponto de milho verde”, no período de
29.09.1999 a 06.10.1999.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e regressão polinomial,
utilizando o programa computacional Genes (Cruz, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado da análise de variância mostrou efeito significativo de cultivar e dose para
todas as características avaliadas, com exceção de peso de espigas comerciais com palha
para dose. Já para a interação cultivar x dose somente houve significância para altura de
espigas.
Os dados médios das características avaliadas e as equações de regressão com os respectivos coeficientes de determinação e suas significâncias estão na Tabela 1. Para altura de plantas, foram ajustadas equações quadráticas para as cultivares AG 4051 e DINA 170. A altura máxima de 217 cm para a AG 4051 e de 241 cm para a DINA 170 foram obtidas, respectivamente, com a aplicação de 20,01 e 29 t ha-1 de esterco. Com relação a cultivar DINA 270 houve uma resposta linear e crescente à elevação das doses de adubação. Quanto à característica altura de espigas, as cultivares AG 4051, DINA 170 e DINA 270 demonstraram efeito quadrático, nas quais as respectivas alturas das espigas máximas foram de 125 cm com 20,27 t ha-1, 139 cm com 30,17 t ha-1 e 123 cm com 32,2 t ha-1 de esterco. Todas as cultivares apresentaram a inserção da espiga na parte mediana do colmo, porém, em média, o porte das cultivares diminuiu em relação aos resultados encontrados em outubro de 1998 por Valentini et al. (2002a), possivelmente, devido a época de instalação do experimento. Para peso de espigas comerciais com palha, as cultivares AG 4051 e DINA 270 não obtiveram regressão significativa a 5% de probabilidade e, a DINA 170, mostrou efeito quadrático obtendo o peso máximo de 386 g com a aplicação de 23,98 t ha-1 de esterco. Somente as cultivares AG 4051 e DINA 170 demonstraram efeito quadrático significativo para peso de espigas comerciais sem palha, obtendo, respectivamente, seus pesos máximos de 252,7 g com 26,36 t ha-1 e 251 g com 24,77 t ha-1 de esterco. Somente a cultivar AG 4051 mostrou regressão significativa para diâmetro da espiga, obtendo um incremento linear à medida que se aumentavam as doses de adubação. Pode-se observar que a cultivar DINA 270 apresentou médias superiores às demais para peso de espigas com e sem palha e diâmetro da espiga, embora não tenha mostrado significância nas análises de regressão, indicando que as doses de esterco não influenciaram nessas características. Este fato pode ser atribuído, possivelmente, às quantidades de nutrientes presentes no solo, uma vez que apresentou médias altas para essas características.
Tabela 1. Médias das características avaliadas em cinco doses de esterco bovino e equações de regressão com os respectivos coeficientes de determinação e suas significâncias, obtidos do experimento de milho verde, Campos dos Goytacazes, RJ, 1999. Característica
Cultivar 0 tha-1 10 tha-1 20 tha-
1 30 tha-
1 40 tha-
1 Média Equação R2
AG 4051 179,3 219,3 207,0 212,0 183,3 200,2 182,9238 + 3,4352x – 0,0857x2
0,81**
DINA 170 206,0 219,3 234,0 251,0 231,3 228,3 202,7714 + 2,6424x – 0,0455x2
0,85*
DINA 270 182,0 206,0 209,3 217,0 212,3 205,3 191,0001 + 0,7167x 0,69**
Altura de plantas (cm)
Média 189,1 214,9 216,8 226,7 209,0
AG 4051 94,0 130,3 116,0 119,3 101,3 112,2 98,4667 + 2,6367x – 0,0650x2
0,70**
DINA 170 112,3 122,0 133,0 146,0 132,3 129,1 109,9524 + 1,9162x – 0,0319x2
0,86*
DINA 270 87,7 106,3 116,3 125,0 120,3 111,1 87,4762 + 2,2114x – 0,0343x2
0,99*
Altura de espigas (cm)
Média 98,0 119,5 121,8 130,1 118,0
AG 4051 346,0 406,3 359,3 399,3 370,3 376,3 -
DINA 170 333,7 363,3 375,0 399,7 354,3 365,2 330,0952 + 4,6910x – 0,0979x2
0,81*
DINA 270 391,0 378,0 388,7 396,7 417,0 394,3 -
Peso de espigas comerciais com palha (g)
Média 356,9 382,5 374,3 398,6 380,5
AG 4051 210,0 257,0 234,3 255,3 244,0 240,1 216,4381 + 2,7490x – 0,0521x2
0,56*
DINA 170 219,3 248,0 243,7 251,0 240,7 240,5 221,9238 + 2,3519x – 0,0474x2
0,84*
DINA 270 263,0 253,3 259,0 250,7 276,0 260,4 - -
Peso de espigas comerciais sem palha (g)
Média 230,8 252,8 245,7 252,3 253,6
AG 4051 4,33 4,70 4,63 4,70 4,77 4,63 4,4533 + 0,0087x 0,65**
DINA 170 4,43 4,53 4,63 4,63 4,60 4,57 - -
DINA 270 4,73 4,73 4,80 4,80 4,87 4,79 - -
Diâmetro da espiga (cm)
Média 4,50 4,65 4,69 4,71 4,74
Entre as cultivares, somente a DINA 170 apresentou peso máximo de espigas
comerciais com palha, com a aplicação de 23,98 t ha-1 de esterco; as cultivares AG 4051 e
DINA 170 apresentaram pesos máximos de espigas comerciais sem palha com a aplicação
de 26,36 e 24,77 t ha-1 de esterco, respectivamente; e a cultivar AG 4051 teve acréscimo no
diâmetro da espiga à medida em que foram aumentadas as doses de esterco.
LITERATURA CITADA
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