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Page 1: Almada Festival - Dif Magazine (PT)

Portugal Dança Enquanto Dorme

Texto Hugo Israel

Contemporary Dance Festival

16º Edição da Quinzena de Dança de Almada

«A existência precede e governa a essência.»

Jean-Paul Sartre

Estamos perante o último grande movimento

cultural do ano na dança (Inter)Nacional.

Confrontado com a programação da QUINZENA

DE DANÇA DE ALMADA fiquei [profundamente]

orgulhoso pelo desenvolvimento de âmbito

artístico e cultural apresentado. Com uma

dinâmica política e social muito peculiar,

diria mesmo sui generis, a dinamização e o

impulso na produção artística na autarquia,

foi dar prioridade, no plano nacional,

às actividades culturais e artísticas

trabalhadas/desenvolvidas por Associações

e Companhias residentes que, no fundo, são

a matéria-prima do Concelho, e promover a

inovação e a qualidade destes grupos locais

através de apoios sustentados à medida do

público, cada vez mais exigente.

A programação internacional numa estética de

fusão (dança, vídeo, teatro e imagem) vem

agarrar novos públicos-alvo e acrescentar uma

nova plataforma coreográfica, enriquecendo,

nessa medida, a programação e projecção

internacional deste evento. Ao invés do

que ocorre/acontece noutros festivais,

a QUINZENA DE DANÇA DE ALMADA, e a mais-valia

trazida pela Plataforma Internacional, tem

sempre procurado não se limitar a um estilo

ou corrente artística de predilecção da

direcção; é esse o desejo que os move, o peso

da responsabilidade de quem é totalmente

livre nas decisões que assume.

E, frente a essa liberdade de eleição, o

ser humano angustia-se, pois a liberdade

implica escolhas, numa lógica de livre-

arbítrio, as quais só o próprio indivíduo

pode fazer. Muitos de nós ficamos paralisados

e, dessa forma, abstemo-nos de fazer as

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escolhas necessárias. Arriscar-se, procurar

a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma

jornada pessoal que o ser deve empreender

em busca de si mesmo, sendo que esta procura

nos encaminha para um espaço aberto à

individualidade, terreno fértil à inovação e

à miscigenação, funcionando como uma montra

da qualidade e variedade que compõe a dança

contemporânea actual. A QUINZENA DE DANÇA DE ALMADA

lança-nos neste arriscado desafio.

Um verdadeiro banquete de corpos prontos

a serem exibidos e consumidos pelo nosso

olhar (des)atento. A Ana, uma personagem

civil que faz parte da minha vida há muitos

anos, ensinou-me um sugestivo provérbio que

desconhecia e que não resisto a referi-lo

aqui: “guardado está o pecado para aquele

que o há-de comer”, e a produção artística

preparou um banquete “pecaminoso” para

nos saciar sem barreiras ou restrições

artísticas.