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ANÁLISE EPISÓDICA DE UM EVENTO PLUVIOMÉTRICO EXTREMO ASSOCIADO À INUNDAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O
ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA CIDADE DE MARINGÁ, PARANÁ, BRASIL
LEANDRO ZANDONADI1
ARNALDO DE ARAÚJO RIBEIRO2
Resumo: Maringá é uma cidade da Mesorregião Norte Central Paranaense, na latitude do Trópico
de Capricórnio, influenciada por sistemas atmosféricos tropicais e subtropicais de intensa variabilidade atmosférica e com eventos climáticos muitas vezes intensos, principalmente de chuvas. O regime hídrico do rio Pirapó, que abastece a cidade, é altamente dependente deste dinamismo climático. Nesta pesquisa analisamos as características pluviais, os impactos associados e as tomadas de decisões acerca de um evento pluviométrico extremo ocorrido em janeiro de 2016, que inundou a área de captação de água no rio e gerou caos para a população. Foram verificados dados diários de chuvas de 9 postos pluviométricos à montante da área de captação, no período de 1980 a 2016. Foram constatados volumes de chuvas históricos para o episódio analisado, porém, há também comprovação de tendência histórica de aumento nos volumes diários de chuvas para toda a área, sugerindo ausência de acompanhamento e/ou negligência da empresa responsável pela captação de água.
Palavras-chave: Excesso de chuvas; Abastecimento urbano; Maringá.
Abstract: Maringá is a city of the North Central Meso-region of Parana, in the latitude of the Tropic of
Capricorn, influenced by tropical and subtropical atmospheric systems of intense atmospheric variability and with often intense climatic events, mainly of rains. The water regime of the river Pirapó, which supplies the city, is highly dependent on this climate dynamism. In this research, we analyzed rainfall characteristics, associated impacts and decision-making about an extreme rainfall event that occurred in January 2016, which flooded a catchment area in the river and generated chaos for the population. Daily rainfall data of 9 pluviometric stations upstream from the catchment area were verified from 1980 to 2016. Historical rainfall volumes were recorded for the analyzed episode, however, there is also evidence of a historical trend of increase in daily rainfall volumes for the whole area, suggesting absence of monitoring and / or negligence of the company responsible for water abstraction.
Key-words: Excessive rainfall; Urban Supply; Maringá.
1 – Introdução
A cidade de Maringá localiza-se na Mesorregião Norte Central Paranaense
(IPARDES, 2012), a uma altitude média de 555 metros. É a terceira cidade mais
populosa do Estado do Paraná e a sétima da região Sul do Brasil, e mesmo sendo de
1 Professor Adjunto Doutor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá. E-mail de contato: [email protected] 2 Doutorando do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina e integrante do Laboratório de Climatologia - LabClima. E-mail de contato: [email protected]
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médio-grande porte, com população estimada no ano de 2016 em 403.063 habitantes
(IBGE, 2016), a cidade é bem conhecida devido, principalmente, aos seguintes
quesitos: à qualidade de vida oferecida aos seus habitantes (IDHM = 0,808 e PIB
maior que do Estado e do país) (IPARDES, 2017); à sua riquíssima arborização (uma
árvore para cada quatro habitantes) que a destaca como uma das mais arborizadas
do país; e ao bom planejamento urbano proporcionado desde a sua fundação, no ano
de 1947, e que foi idealizado pela Companhia de Terras Norte do Paraná, um empresa
de origem inglesa (PMM, 2017). Tais qualidades fizeram com que a cidade sempre
despontasse dentre as melhores do país para ser viver, segundo os diversos índices
de pesquisas de diferentes entidades especializadas, bem como de revistas e jornais
de grande circulação.
Cortada pela linha imaginária do Trópico de Capricórnio, a cidade tem na sua
dinâmica climática as influências tanto de sistemas atmosféricos com características
tropicais quanto subtropicais. Tais particularidades climáticas fazem com que a
mesma seja marcada, muitas vezes ao ano, por intensa variabilidade atmosférica que,
em alguns casos, podem promover situações de eventos climáticos mais intensos com
impactos diretos para a população.
Por outro lado, todo esse dinamismo climático é também responsável pela
existência e manutenção do regime hídrico das diversas bacias hidrográficas e rios da
região, em especial do rio Pirapó, que hoje é praticamente a única fonte de
abastecimento e consumo de água da cidade de Maringá (O DIÁRIO, 2011). E neste
quesito, é necessário mencionar que a cidade também desponta como uma das que
tem os melhores índices de saneamento básico do país (PORTAL SANEAMENTO
BÁSICO, 2016; INSTITUTO TRATA BRASIL, 2014), e que a empresa responsável
pela manutenção da qualidade e melhorias desta rede de saneamento, a Companhia
de Saneamento do Paraná - Sanepar, é considerada uma das melhores do Brasil
neste ramo de atividade.
Se por um lado temos todas as qualidades socioeconômicas acima relatadas,
apontando níveis de excelência acima dos padrões da maioria das cidades brasileiras,
e de outro, as condições topográficas e climáticas favoráveis da região garantindo a
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manutenção dos mananciais de abastecimento urbano, as indagações que surgem
são as seguintes:
a) Existem eventos climáticos de risco que podem impactar diretamente a
população de Maringá, especialmente no que diz respeito ao abastecimento de
água da cidade?
b) Já ocorreram eventos climáticos capazes de afetar tal abastecimento? Quais
as características destes eventos?
c) Quais medidas estão sendo tomadas pela empresa responsável na tentativa
de mitigar tais ocorrências?
Estas são algumas das respostas que se procura responder nesta pesquisa,
que será pautada na análise episódica de um evento pluviométrico extremo ocorrido
em janeiro de 2016, período fortemente marcado pela influência de um intenso
fenômeno El Niño, culminando, por vários dias, em uma situação de absoluto caos e
deixando a população em situação de impotência, desespero e revolta (O DIÁRIO,
2016a, b, c, d; G1GLOBO, 2016a, b, c, d).
Os resultados mostram que apesar de ter sido um evento com volumes diários
de chuvas considerados históricos, houve também negligência por parte da empresa
responsável pela prestação do serviço de captação e distribuição de água para a
população, seja pela ausência de planejamentos mais amplos, detalhados e de longo
prazo, ou pela ausência de medidas/soluções imediatas para mitigar o problema logo
após a ocorrência do episódio.
2 – Caracterização geral da área de estudo
A bacia hidrográfica do rio Pirapó localiza-se no norte central do Estado do
Paraná, no Terceiro Planalto Paranaense (MAACK, 1968), entre as latitudes de
22°32’30” e 23°36’18” S e longitudes de 51°22’42” e 52°12’30” W (Figura 1). Segundo
a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA, 2013), o rio Pirapó nasce
no município de Apucarana, a cerca de 1.000 metros de altitude, e escoa para a
direção norte, percorrendo uma extensão de 168 km até sua foz no rio Paranapanema,
a cerca de 300 metros de altitude no município de Jardim Olinda. Contribuem para a
bacia aproximadamente 60 tributários diretos, não levando em conta os pequenos
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riachos. O rio Bandeirantes do Norte é seu maior afluente, tem sua nascente no
município de Arapongas e possui uma extensão de 106 km. Ao todo, a bacia
hidrográfica drena aproximadamente 5.098,10 Km².
A área da bacia abrange também parte dos territórios de 33 municípios que,
juntos, somam uma população de aproximadamente 950 mil habitantes (IAP, 2010).
E dentre tais municípios, Maringá é o mais populoso. A demanda de água da
população e suas atividades na bacia é amplamente atendida por águas superficiais,
chegando a aproximadamente 75% (SEMA, 2013).
Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do rio Pirapó, no Paraná
Fonte: Marcatto, F.
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A bacia do rio Pirapó localiza-se numa região em que o microssistema climático
é definido como subtropical úmido, mesotérmico, com verões quentes, sem estação
seca de inverno definida e geadas pouco frequentes (MAACK, 1968).
De acordo com Ribeiro (1987), o clima da bacia apresenta um ritmo
termopluviométrico marcado pela irregularidade interanual, com verões sempre
chuvosos e invernos quase sempre úmidos, porém, apresentando um ou dois meses
secos. Na área observa-se também o controle orográfico da temperatura e da
precipitação, sendo que as cabeceiras da bacia apresentam temperaturas mais
brandas e totais pluviométricos mais elevados que os setores mais baixos da bacia,
onde as temperaturas são mais elevadas e os totais anuais de precipitação menores,
porém, mais concentrados.
Na escala mensal, segundo Galiani, Baldo e Dziubate (2011), a maior
precipitação média mensal refere-se ao mês de janeiro, ultrapassando os 200 mm, e
o mês de agosto possui o menor índice de pluviosidade, pouco mais de 50 mm. A
distribuição da precipitação na bacia apresenta grande irregularidade no tempo e
espaço, sendo que a estação mais chuvosa é o verão e a mais seca é o inverno.
2 – Materiais e métodos
Para se alcançar um entendimento do problema tratado aqui nesta pesquisa,
foram levantados dados diários de chuvas de 9 postos pluviométricos da rede do
Instituto das Águas do Paraná (AGUASPARANÁ, 2017), ambos localizados em 8
municípios diferentes e que fazem parte da bacia hidrográfica do rio Pirapó, sendo 3
deles no município de Maringá (Quadro 1).
Quadro 1 – Características geográficas dos postos pluviométricos analisados
N° Postos Município Código Latitude Longitude Altitude (m) 3 Arapongas Arapongas 2351048 -23° 24' 00'' -51° 25' 59'' 793
6 Astorga Astorga 2351051 -23° 14' 14'' -51° 39' 41'' 572
7 Cruzeiro Cambira 2351043 -23° 39' 46'' -51° 36' 09'' 601
13 Iguaraçu Iguaraçu 2351050 -23° 10' 59'' -51° 49' 59'' 581
18 São Miguel do Cambuí Marialva 2351029 -23° 36' 35'' -51° 51' 36'' 372
19 Maringá Maringá 2351013 -23° 25' 00'' -51° 57' 00'' 542
21 Floriano Maringá 2352055 -23° 31' 35'' -52° 03' 13'' 424
22 Guaiapó Maringá 2351045 -23° 24' 00'' -51° 52' 26'' 584
39 Vale Azul Sarandi 2351044 -23° 29' 02'' -51° 54' 20'' 504
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A seleção dos postos acima elencados foi realizada considerando-se apenas
aqueles localizados à montante da área de captação de água da empresa que controla
tal serviço, no caso a Companhia de Saneamento do Paraná - Sanepar, pois o objetivo
era verificar os volumes de águas caídas nas áreas acima da área de captação,
podendo contribuírem para o processo de transbordamento do rio naquele local, e não
após a sua localização, pois estas águas colaborariam pouco para o evento de
enchente do rio no ponto de interesse da análise.
Posteriormente, houve ainda a seleção daqueles postos que apresentaram
séries históricas correspondentes com o período de implantação da área de captação
de água no local estudado, ou seja, a partir do ano de 1980 e se estendendo até o
momento do episódio de chuva extrema registrado em janeiro de 2016. A escolha
desta série histórica é justificada pela garantia de que o período de análise dos dados
pluviométricos dos postos escolhidos coincidisse com o período em que a empresa
assumiu os serviços de captação e abastecimento de água da cidade e, portanto,
havendo condições técnicas de acompanhamento de modo mais detalhado das
condições pluviométricas e fluviais da bacia.
Com o período de análise dos dados definido para cada um dos 9 postos, foram
verificados os valores máximos diários de chuvas de toda a série histórica (janeiro de
1980 a janeiro de 2016) para se identificar se os volumes registrados durante o evento
de 2016 foram realmente extraordinários do ponto de vista climatológico. Foram
identificados também os meses do ano em que tais valores elevados ocorreram,
objetivando saber se o mês de janeiro é realmente um período de risco mais elevado.
Em seguida, verificou-se as tendências de aumento ou de diminuição histórica
das chuvas diárias para cada mês de todos os 9 postos pluviométricos, visando
compreender se tais tendências poderiam servir de base para um monitoramento de
longo prazo e uma tomada de decisão por parte da empresa.
Os tratamentos estatísticos dos dados necessários para as análises, tais como
cálculos dos totais de chuvas, frequências de ocorrências, médias, etc., bem como os
gráficos, quadros e tabelas, foram realizados através de planilhas do software
Microsoft Excel 2016.
Os mapeamentos foram realizados com o software QGIS versão 2.18.4.
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3 – Resultados
Em relação ao episódio de chuva extrema envolvendo a população de Maringá
e a empresa Sanepar, deve-se considerar que, uma vez instalada a área de captação
e bombeamento no local onde a mesma se encontra atualmente (Figura 2 e 3),
entende-se que era necessário um monitoramento e uma avaliação contínua das
chuvas caídas historicamente ao longo de toda a bacia do rio Pirapó, através da
observação dos dados de diversos postos pluviométricos, principalmente à montante
do local atual de captação, visto que o regime fluviométrico do rio pode ser diretamente
influenciado pelas águas das chuvas que caem ao longo de toda essa área acima e
não somente por um único ponto da mesma, como uma micro bacia, por exemplo.
Figura 2 – Distribuição espacial dos postos pluviométricos analisados
Área à montante da captação
-23°36’18”
-51
°22’4
2
-52
°12’3
0”
-22°32’30”
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Figura 3 – Local de instalação da área de captação e bombeamento da Sanepar
Após o evento catastrófico, com as chuvas caídas entre os dias 11 e 12 janeiro
de 2016, momento do episódio, a empresa utilizou como referência para o
acompanhamento das chuvas e para explicação das causas apenas os dados do
posto pluviométrico Guaiapó que, sozinho, não representa de modo fiel a
espacialidade e temporalidade pluviométrica da área à montante da área de captação.
Pesa-se, ainda, o fato de que tal posto se encontra distante aproximadamente 10 km
da área problema e vizinho à área urbana da cidade de Maringá.
Na ocasião do evento, a empresa justificou que os volumes de chuvas
registrados foram extraordinários, históricos e, portanto, imprevisíveis. Todavia, ao
utilizar somente o posto pluviométrico Guaiapó como referência, tal afirmação passa
a não ser totalmente verdadeira.
O primeiro contraponto diz respeito às possíveis mudanças no fluxo de
escoamento das águas pluviais, as quais dependerão também dos processos de
alteração das características naturais ocorridas ao longo do tempo em toda a área da
bacia, ou seja, atuações antrópicas, como o desmatamento e alterações no uso dos
solos, que ocorrem com a mecanização na agricultura e a urbanização, por exemplo,
poderiam intensificar drasticamente o volume de água que escoa pela superfície de
toda a região, e não somente na área onde se encontra o posto pluviométrico Guaiapó,
alcançando o canal do rio e, assim, possibilitando cheias mais significativas.
CAPTAÇÃO
BOMBEAMENTO
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Ao analisarmos os dados dos demais postos pluviométricos (Tabela 1),
percebemos que naquela ocasião o posto pluviométrico Guaiapó realmente
apresentou volume histórico para janeiro, porém, além dele, somente o de Arapongas
também teve volume expressivo e, este sim foi histórico. Outros postos já tinham
apresentado valores mais elevados que o Guaiapó em outros meses, caso de
Cruzeiro (em maio) e São Miguel do Cambuí (em abril), ou seja, em períodos
diferentes do ano, sugerindo que o mês de janeiro pode não ser o único passível de
apresentar risco para a área de captação de água.
Tabela 1 – Máximos diários registrados em cada mês no período de 1980 a 2015 Posto Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Arapongas 285,5 110,1 84,5 102,0 114,5 160,5 98,5 66,2 99,3 83,2 99,4 119,1
Astorga 158,2 123,7 94,6 87,9 127,6 168,0 76,8 76,6 144,3 105,0 129,2 118,1
Cruzeiro 106,3 129,0 135,2 111,2 187,8 173,2 114,3 83,8 100,2 97,6 86,8 97,2
Iguaraçu 165,2 164,3 64,2 87,5 115,2 100,4 97,4 85,4 85,5 97,4 170,2 109,0
S. M. Cambuí 111,0 94,7 118,8 186,0 148,2 185,7 94,6 96,2 71,2 86,8 106,8 141,2
Maringá 137,7 101,2 127,2 111,2 94,4 151,5 87,2 57,6 110,6 115,9 104,8 127,3
Floriano 94,0 118,0 143,8 115,8 116,8 155,8 128,6 51,6 75,2 99,2 81,6 97,2
Guaiapó 180,2 108,7 113,4 110,2 105,6 151,9 103,5 58,2 107,9 104,8 98,9 93,5
Vale Azul 121,3 111,2 121,1 90,6 96,2 141,6 92,4 70,2 86,5 108,2 109,0 125,2
A tabela 2 mostra ainda que para todos os postos pluviométricos à montante
da área estudada, os meses de fevereiro, dezembro e também janeiro, nesta ordem,
são os que apresentam as mais elevadas taxas de frequências absolutas (tons de azul
mais escuro) de participação em termos de volumes máximos diários, ou seja, são os
meses mais quentes do ano, de verão, que geralmente apresentam volumes diários
mais expressivos. É possível perceber também que que novamente o posto Guaiapó
não é o que apresenta as maiores frequências, mas sim Iguaraçu e Astorga,
evidenciando novamente que somente o posto Guaiapó é insuficiente para um bom
planejamento ou tomada de decisão para o caso de cheias no rio Pirapó.
Ao investigarmos as tendências em relação aos volumes máximos de chuvas
diárias de cada mês, em cada posto pluviométrico, percebemos que novamente que
há inconsistência nas respostas dadas pela empresa, pois uma análise histórica (1980
a 2015) desta informação aponta que no total, a maioria dos meses (63, na cor azul)
apresentam tendências de aumento destes volumes mais expressivos, enquanto que
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37 se apresentam com tendências de diminuição nos volumes e apenas 8 não
apresentaram tendências de modificação ou modificação inexpressiva.
Tabela 2 – Frequência absoluta de ocorrência de volumes máximos diários
registrados em cada mês no período de 1980 a 2015
Posto Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Total Média
Arapongas 16 14 12 13 16 13 9 3 11 13 11 15 146 12,2
Astorga 20 20 11 13 15 12 9 2 16 17 16 23 174 14,5
Cruzeiro 12 17 19 14 22 14 7 4 10 11 12 11 153 12,8
Iguaraçu 25 24 16 13 20 11 8 7 16 16 19 23 198 16,5
S. M. Cambuí 16 19 17 11 18 15 8 3 11 13 15 15 161 13,4
Maringá 18 18 12 18 13 13 7 2 14 18 17 19 169 14,1
Floriano 13 19 20 11 15 16 6 3 11 13 9 15 151 12,6
Guaiapó 19 19 15 16 15 9 5 2 12 14 12 18 156 13,0
Vale Azul 18 16 19 13 14 11 7 5 8 18 14 22 165 13,8
Total 157 166 141 122 148 114 66 31 109 133 125 161
Média 17,4 18,4 15,7 13,6 16,4 12,7 7,3 3,4 12,1 14,8 13,9 17,9
Tabela 3 – Frequência absoluta de ocorrência de volumes máximos diários
registrados em cada mês no período de 1980 a 2015 Posto Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Arapongas + + - = + - + + - + - -
Astorga + + - - + - + + - + + -
Cruzeiro + = - - - + + = - = + -
Iguaraçu + + - - + = + + + + + +
S. M. Cambuí + - = - + + + - + + + =
Maringá + + - - - - + + + + = -
Floriano + + - - + - + - - + + -
Guaiapó + + - - - + + + + + + +
Vale Azul + + + - - + + - + + + +
Legenda: + Aumento - Diminuição = Sem alteração
Temos que analisar que há a grande diferença de altitude entre a jusante e a
montante, que chega a ultrapassar os 800 metros, e sabemos que o relevo age de
modo significativo nos volumes de chuvas. E neste caso, diversos autores já
comprovaram esta relação para as áreas à montante da bacia do rio Pirapó
(DZIUBATE e BALDO, 2015; GALIANI, 2012; NÓBREGA et. al, 2015; SOUZA E
SILVEIRA, 2016; TERASSI et. al, 2017).
Outra questão é a disposição geográfica da bacia que, tendo o rio Pirapó
escoando de sudeste-noroeste, faz com que os sistemas atmosféricos quentes e
úmidos provenientes da Amazônia (vindos de noroeste) adentrem pela calha do rio,
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atingindo as partes à montante, potencializando o efeito das chuvas orográficas à
barlavento. Tais sistemas atmosféricos são bastante comuns na região durante os
meses de verão, principalmente no mês de janeiro, quando as temperaturas são
bastante elevadas, colaborando para processos convectivos mais intensos e gerando
chuvas mais volumosas.
Além disso, os volumes extremos de chuvas registrados durante o episódio
aqui analisado estavam associados ao fenômeno El Niño, que atuou durante
praticamente todo o ano de 2015 e boa parte de 2016 (NOAA, 2017). Foi considerado
o segundo mais intenso El Niño já registrado, fazendo com que várias áreas da região
sul do país, incluindo a de Maringá, batessem recordes de chuvas ao longo de
praticamente todos os meses em que atuou nestes dois anos. Atingiu seu ápice em
dezembro de 2015, quando, a partir de então, passou a perder forças novamente,
encerrando seu ciclo durante o mês de maio de 2016, porém, nota-se que durante
todo o mês de janeiro a intensidade do El Niño ainda era elevada e todas as condições
climáticas e geográficas acima elencadas foram conjuntamente determinantes para
que altos volumes de chuvas caíssem de modo contínuo por vários dias do mês de
janeiro em toda a região à montante da área de captação da Sanepar.
Quando os volumes diários excessivos foram registrados entre os dias 11 e 12
de janeiro, os solos da região já se encontravam totalmente saturados, e praticamente
toda a água proveniente destas chuvas foi direcionada para o canal do rio Pirapó,
transbordando-o e inundando a área de captação e bombeamento, encerrando o
processo de abastecimento de água da cidade de Maringá por aproximadamente 10
dias, gerando caos e situação de impotência na população.
4 – Considerações
Vários foram os fatores que colaboraram para os problemas ocorridos durante
o mês de janeiro de 2016 na área de captação da Sanepar, no rio Pirapó, principal
fonte de abastecimento de água da cidade de Maringá, o que a torna uma catástrofe
rara, porém, não totalmente imprevista, já que os levantamentos aqui realizados
apontam que a empresa utilizava de poucos recursos para acompanhamento e
prevenção de desastres na área estudada.
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Neste sentido, é importante salientar que estudos da variabilidade temporal e
espacial das chuvas de modo mais detalhado, por meio de séries temporais longas,
bem como o acompanhamento das influências antrópicas no uso do solo deveriam
ser essenciais para garantir um bom planejamento em longo prazo.
Além disso, todas essas considerações revestem-se de pouca importância sem
que haja um levantamento histórico também das cheias da bacia hidrográfica do rio
Pirapó. Recomenda-se um estudo integrado e multidisciplinar, visando melhor
compreender o regime hidrológico da referida bacia, bem como o uso do solo e as
diversas alterações antrópicas existentes na área.
4 – Referências
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