ANÁLISE DO CONCEITO DE GÊNERO: UMA REVISÃO DE LITERATURA NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-
CULTURAL
Patrícia Barbosa da Silva (Universidade Estadual de Maringá)
Adriana de Fátima Franco (Universidade Estadual de Maringá)
Resumo O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfico-conceitual, que visou
realizar levantamentos e análises de produções científicas relacionadas ao tema
gênero. Os referidos levantamentos selecionaram artigos entre os anos de 2013-
2017, presentes na revista “Psicologia Escolar e Educacional”. Dentro deste período
foram selecionados para análise 18 artigos, por meio do descritor “gênero”,
presentes no título, nas palavras-chave e/ou no corpo do texto. Para a análise dos
artigos, foi utilizado o referencial teórico da Psicologia Histórico-Cultural. Esta
abordagem compreende gênero como uma dimensão cultural e histórica. A partir
dos dados da análise se pode concluir, os artigos encontrados não definem o
referencial teórico, nem conceituam gênero. Constata-se também que 5 dos 18
artigos confunde os conceitos gênero e sexo biológico.
Palavras-chave: Gênero; Bibliográfico conceitual; Psicologia Histórico-Cultural. Introdução
O presente trabalho objetivou analisar a presença e conteúdo do tema de
gênero na revista “Psicologia Escolar e Educacional” entre os anos de 2013 e 2017.
No período proposto foram encontrados 222 artigos.
Optamos por realizar a leitura dos resumos e palavras chave de cada artigo,
em busca do conceito: gênero. Devido ao número reduzido de artigos encontrados
nessa seleção, acrescentamos como descritor a ferramenta de busca “Ctrl F”,
chegando ao número de 18 artigos.
Na análise dos artigos ocorreu nos fundamentamos na Psicologia Histórico-
Cultural. Nesta perspectiva teórica, define-se gênero como um processo amplo que
envolve múltiplas relações e não se limita a diferença entre os sexos. Trata-se da
dimensão cultural na qual o sexo biológico se manifesta (SAFFIOTI, 2013; 2015;
1987).
O termo gênero é compreendido por Saffioti (2013), como a-histórico e
ideológico. Nesse aspecto, a autora considera que “gênero” é a-histórico, devido ao
termo representar a possibilidade de relações iguais ou desiguais. E em si, não
explicar a desigualdade presente na sociedade entre homens e mulheres.
Saffioti também ressalta que o conceito de gênero, precisa ser utilizado em
conjunto com o patriarcado, pois este, explica historicamente e na materialidade a
desigualdade entre os gêneros. O patriarcado exerce também influencia ideológica
na compreensão do tema, sendo esta mais uma razão para a utilização de ambos os
conceitos na compreensão e explicação da temática.
De acordo com Saffioti (2013) a ideologia expressa pelo patriarcado ocorre
em duas esferas: material e abstrata. A partir da materialidade, consiste em pensar
como a sociedade constrói o feminino, e como suas regras recaem sobre o corpo da
mulher. Essa face da ideologia é o que possibilita a educação do corpo feminino
voltado para a submissão.
Tais características, que se voltam para a submissão, são apropriadas em
diversos momentos da vida. Na infância a criança está internalizando quem ela é e
como deve agir socialmente, é neste bojo que ocorrem as apropriações que atuam
na construção de características psicológicas voltadas ao gênero feminino. Isso
ocorre por meio da delimitação de comportamentos socialmente definidos a cada
sexo. Em outras palavras, de forma alienada e ideológica se definem maneiras como
as mulheres devem se comportar, desde sua infância, estabelecendo regras rígidas,
que complementam as apropriações ideológicas voltadas a expressão do corpo
feminino.
Gênero nas produções científicas Para a análise selecionamos as categorias: conceituação de gênero,
abordagem teórica, e utilização do conceito de gênero e sexo biológico. Por meio
dos dados, podemos constatar que nenhum, dos 18 artigos que se referem ao
conceito de gênero, nenhum menciona seu referencial teórico no resumo. Constata-
se também que os presentes artigos não definem a abordagem teórica que guia
suas análises.
No que se refere a ausência de definição da abordagem teórica e da definição
do conceito “gênero”, Vigotski (2012) argumenta que a presença de teorias, que não
definem a concepção de ser humano e os conceitos aos quais pretendem estudar
expressam uma questão ideológica. Nesse aspecto, Saffioti (2013) ressalta que
produções científicas que não se posicionam perante a realidade reproduzem a
ideologia do patriarcado em sua esfera abstrata e material, limitando o
desenvolvimento humano e se caracterizando como pseudociências, em referencia
ao conceito de gênero.
No que se refere a análise da utilização dos conceitos de gênero e sexo
biológico, do total de artigos (18 artigos), 5 o mencionam gênero para representar a
relação entre os sexos, demonstrando a dimensão cultural existente nas relações
humanas. Destes 5 artigos, apenas três citam em seus resumos a palavra gênero,
os dois restantes, foram incluídos nesta modalidade de análise, devido a
expressarem conteúdos referentes a consideração de gênero como fenômeno
cultural. Os dois artigos, que não mencionam a palavra “gênero” apresentam em
comum o tema da feminilidade e da construção da identidade da mulher.
A partir da leitura dos resumos dos 5 artigos, foi possível notar a menção de
conteúdos como: a unidade entre gênero e sexo biológico (1 artigo); a relação
gênero e classe social (1 artigo); e a relação gênero e etnia (1 artigo). Contudo,
destaca-se que apenas a relação gênero-etnia foi explicitada pelos autores.
Constata-se que 8 artigos não puderam ser classificados devido a inexistência
nos resumos da palavra gênero. Por fim, ressalta-se que em 5 artigos, foi possível
analisar a redução das relações sociais referentes a temática gênero, pelo conceito
de sexo biológico. Tais resultados, explicitam a presença das teorias biologizantes
na psicologia, já criticadas por Vigotski (2012). Também demonstram a necessidade
de olhar para o fenômeno gênero de forma histórica e em unidade com o sexo
biológico, superando a mera redução de um conceito a outro (SAFFIOTI, 2015).
Destaca-se ainda que dos 18 artigos analisados nenhum considera que as
questões de gênero devem serem analisadas em conjunto com dominações e
explorações étnicas e de classe social (SAFFIOTI, 1987).
Considerações finais A presente pesquisa possibilitou constatar que o conceito de gênero foi pouco
estudado nos anos de 2013 a 2017 na revista “Psicologia Escolar e Educacional.
Infere-se, a partir da Psicologia Histórico-Cultural que o baixo número de produções
científicas relacionados a gênero nesta revista demonstra a possibilidade que tal
tema não é trabalhado e estudado em instituições escolares.
No que se refere a inexistência de conceituação de gênero e da abordagem a
qual o artigo se refere, considera-se que as presentes produções analisadas
expressão que gênero é visto pela literatura de forma alienada, devido a sua não
conceituação nos resumos, e uso do conceito gênero e sexo como sinônimos, em 5
artigos analisados.
Referências SAFFIOTI, H. A mulher na sociedade de classes: mitos e realidade. Expressão
Popular: 2013.
SAFFIOTI, H. Gênero, Patriarcado e Violência. Expressão Popular: 2015.
SAFFIOTI, H. O Poder do Macho. Editora Moderna: 1987
VIGOTSKI, L. S. El problema de la edad. In: VIGOTSKY, L. S. Obras escogidas:
Tomo IV. Madrid: Visor y A. Machado Libros, 2012. p. 250-273. VIGOTSKY, L. S. A
brincadeira e o seu papel no desenvolvimento psíquico da criança. Revista Virtual de Gestão
de Iniciativas Sociais. Publicada em Junho de 2008, Trad. Zoia Prestes, p. 23-36.