A EDUCAOMUSICALNOBRASIL DOSCULOXXI:A RELAOCOMOSABERNA SOCIEDADECONTEMPORNEA
Tema
ANAIS
XEncontroRegionalNordesteIENCONTROREGIONAL NORDESTEDEPROFESSORESDE ARTES/MSICA DOSIFs
IFORUMPERNAMBUCANODEEDUCAOMUSICAL
2a4junho2011Recife-PE
Realizao
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Apoio
PROEXT PROPESO PROACAD
X ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DA ABEM I ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DE PROFESSORES DE
ARTES/MSICA DOS IFS I FRUM PERNAMBUCANO DE EDUCAO MUSICAL
A EDUCAO MUSICAL NO BRASIL DO SCULO XXI: a relao com o saber na sociedade contempornea
ANAIS
RECIFE 2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Reitor Prof. Amaro Henrique Lins Vice-Reitor Prof. Gilson Edmar Pr-Reitora para Assuntos Acadmicos Profa. Ana Cabral Pr-Reitor para Assuntos de Pesquisa e Ps-Graduao Prof. Ansio Brasileiro Pr-Reitora de extenso Profa. Solange Coutinho Diretora do Centro de Artes e Comunicao Profa. Virgnia Leal Chefe do Departamento de Msica Prof. Paulo Lima INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO Reitor Prof. Srgio Gaudncio Portela de Melo Vice-reitora Cludia da Silva Santos Pr-Reitora de Ensino Edilene Rocha Guimares Pr-Reitora de Pesquisa Ana Patrcia S. T. Falco Pr-Reitora de Extenso Cludia da Silva Santos
Diretoria da ABEM (2009-2011) Presidente Profa. Dra. Magali Oliveira Kleber UEL, PR Vice-presidente Profa. Dra. Jusamara Souza UFRGS, RS Tesoureira Profa. Dra. Cristiane Almeida UFPE, PE Segunda Tesoureira Profa. Ms. Vnia Malagutti Fialho UEM, PR Secretrio Prof. Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz UFPB, PB Segunda Secretria Profa. Ms. Flvia Narita UNB, DF CONSELHO EDITORIAL Presidente Profa. Dra. Luciane Wilke Freitas Garbosa UFSM, RS Editora Profa. Dra. Maria Ceclia Torres IPA, RS Membros Prof. Dr. Carlos Kater UFSCar, SP Profa. Dra. Cssia Virginia Coelho de Souza UEM, PR Profa. Dra. Lilia Neves UFU, MG DIRETORIA REGIONAL Norte Prof. Dr. Ruy Henderson Filho UEPA PA Nordeste Prof. Ms. Vanildo Marinho UFPB, PB Centro-oeste Profa. Ms. Flavia Maria Cruvinel UFG, GO Sudeste Profa. Dra. Ilza Zenker Joly UFSCar, SP Sul Profa. Dra. Cludia Ribeiro Bellochio UFSM, RS
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X Encontro Regional Nordeste da ABEM Associao Brasileira de Educao Musical I Encontro Regional Nordeste dos Professores de Msica dos IFs
I Frum Pernambucano de Educao Musical
Coordenadora Geral: Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE)
Comisso Organizadora: Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE)
Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE) Prof. Ms. Jos Davison da Silva Jnior (IFPE)
Prof. Ms. Srgio Ricardo de Godoy Lima (UFPE)
Coordenao Cientfica: Prof. Dr. Paulo David Braga (UFPE/CAA)
Prof. Dr. Carlos Sandroni (UFPE)
Atividades Artstico-Culturais: Prof. Ms. Flvio Gomes Tenrio de Medeiros (UFPE)
Profa. Ms. Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes (SE-PE)
Infra-Estrutura: Prof. Ms. Srgio Ricardo de Godoy Lima (UFPE) Prof. Ms. Leonardo Pellegrim Sanchez (UFPE)
Manasss Bispo da Silva (UFPE)
Financeiro e Secretaria Geral: Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE)
Profa. Adilza Raquel Cavalcanti dos Santos (SE-PE) Prof. Ms. Jos Davison da Silva Jnior (IFPE)
Documentao e Comunicao: Profa. Ms. Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes (SE-PE) Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE)
Natlia Dantas de Oliveira Duarte (UFPE) Crislany Viana da Silva (UFPE)
Programao Visual, Digital e Informtica:
Manasss Bispo da Silva (UFPE) Jadiel Mendona de Vasconcelos (UFPE)
Jadson Felipe Dias (UFPE) Paulo Henrique Lopes de Alcntara (UFPE)
Gleice Kelly Luiz da Silva (UFPE)
Apoio aos Participantes: Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE)
Leonardo Ferreira da Silva (UFPE Priscila Daniele da Silva (UFPE)
Rebeca Juliana Farias da Costa (UFPE)
PROFESSORES PARECERISTAS
Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE) Prof. Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz (UFPB) Profa. Dra. Ana Cristina Tourinho (UFBA) Prof. Ms. Marcos dos Santos Moreira (UFAL) Prof. Dr. Carlos Sandroni (UFPE) Profa. Dra. Maria Cristina Carvalho Cascelli de Azevedo (UnB) Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE) Profa. Dra. Maria Guiomar de Carvalho Ribas (UFPB) Prof. Ms. Danilo Guanais (UFRN) Profa. Dra. Maria Isabel Montandn (UnB) Prof. Dr. Elvis de Azevedo Mattos (UFC) Prof. Dr. Paulo David Amorim Braga (UFPE) Profa. Dra. Flvia Candusso (UFBA) Prof. Dr. Srgio Luiz Ferreira de Figueiredo (UDESC) Prof. Ms. Giann Mendes Ribeiro (IFRN) Prof. Ms. Tarcsio Gomes Filho (UFRN) Prof. Ms. Henderson de Jesus Rodrigues dos Santos (UERN) Profa. Dra. Valria Lzaro de Carvalho (UFRN) Profa. Ms. Juciane Araldi (UFPB) Prof. Ms. Vanildo Mousinho Marinho (UFPB)
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Apresentao Prezados(as) colegas, com muita alegria que damos as boas-vindas a todos(as) que vieram partilhar conosco suas experincias educativas no X Encontro Regional Nordeste da ABEM/ I Encontro Regional Nordeste dos Professores de Artes/Msica dos IFs/ I Frum Pernambucano de Educao Musical. Desejamos que o Encontro, alm de produtivo em sua proposta de refletir sobre os diversos aspectos da Educao Musical Brasileira, seja tambm festivo. Dentre os motivos para comemorao, destacamos o incio dos dois outros eventos que se unem ao Encontro Regional Nordeste da ABEM, ampliando os espaos de trocas entre aqueles(as) que querem discutir o ensino de msica e seus desdobramentos. Agradecemos aos que, nesses dez anos, contriburam para a continuidade dos Encontros, como integrante da equipe organizadora ou como participante que vem somar com os demais para a realizao desse momento de construo coletiva de conhecimentos. Um evento especial para todos(as)! Ana Carolina Nunes do Couto, Cristiane Maria Galdino de Almeida, Jos Davison da Silva Jnior e Srgio Ricardo de Godoy Lima
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AGRADECIMENTOS Assessoria de Comunicao do IFPE Centro de Artes e Comunicao da UFPE Centro de Filosofia e Cincias Humanas da UFPE Coordenao de Comunicao e Design do CAC-UFPE Editora Universitria UFPE Centro de Educao Musical de Olinda Conservatrio Pernambucano de Msica Escola Tcnica Estadual de Criatividade Musical Pr-Reitoria de Extenso do IFPE Pr-Reitoria de Extenso da UFPE Pr-Reitoria para Assuntos Acadmicos da UFPE Pr-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e Ps-Graduao da UFPE Professores(as) ministrantes de cursos Professores(as) coordenadores de GT's Professores(as) palestrantes Professores(as) pareceristas Funcionrios(as) e alunos(as) do Departamento de Msica da UFPE
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A educao musical dos cantores de Renovao: herana vocal da cultura
religiosa de Juazeiro do Norte - CE
Juliany Ancelmo Souza Universidade Federal do Cear Campus Cariri
Josemeire Medeiros Silveira de Melo Universidade Federal do Cear Campus Cariri
[email protected] Resumo: O presente trabalho apresenta informaes resultantes de uma pesquisa em andamento, sobre a aprendizagem emprica dos cantores de Renovao de Juazeiro do Norte-CE. Os cnticos entoados por ocasio desta festa religiosa caracterizam-se como herana cultural, visto que so transmitidos pelas geraes mais velhas para as mais novas. Trata-se de um aprendizado informal, imitativo, que ocorre mediante observao da sonoridade do coro nas cerimnias religiosas ou nas experincias de ouvir-cantar do dia a dia. As vozes, predominantemente femininas, produzem sonoridade original, utilizam o vibrato e so executadas em unssono ou em primeira e segunda voz, alternando-se entre sopranos, contraltos e tenores. No h acompanhamento com instrumentos musicais. Esta manifestao cultural muito importante, pois consegue penetrar no ntimo das pessoas atravs da vitalidade e potncia vocal, bem como propicia a valorizao do saber popular e fortalecimento da identidade do povo caririense.
Palavras-chave: Educao musical, herana vocal, Renovao.
Introduo
Este artigo apresenta algumas consideraes iniciais acerca do processo de educao
informal dos cantores de Renovao.
Resulta de pesquisa em andamento, de cunho qualitativo, caracterizada como estudo
de caso. A inteno deste estudo conhecer o processo de ensino e aprendizagem dos cantores
de Renovao da cidade de Juazeiro do Norte, identificando as caractersticas da educao
musical que permeiam sua formao. Neste contexto, faz-se necessrio: entender as
metodologias e estratgias vocais utilizadas; analisar a forma de transmisso e assimilao
dos cnticos; identificar a relao entre a msica e a religiosidade; perceber a presena
significativa das msicas de Renovao na trajetria de vida dos cantores; e compreender a
importncia desta manifestao artstico-religiosa, para a valorizao da cultura caririense.
Renovao: uma celebrao religiosa
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Denomina-se de Renovao a celebrao religiosa da Igreja Catlica Apostlica
Romana, em louvor ao Sagrado Corao de Jesus e ao Sagrado Corao de Maria
consagrando a famlia no lar. Ocorre em geral por ocasio dos festejos do aniversrio de
casamento, natalcio ou outra data especial, escolhida pelos donos da casa. A partir da
entronizao - cerimnia inicial em que se abenoa residncia, imagens e quadros de devoo
- todos os anos vindouros, nesta mesma data se renovar esse compromisso religioso.
Essa cerimnia foi criada pelo Papa Pio X, em 1908 (documento da Sagrada
Penitenciria Apostlica sobre a consagrao das famlias ao Sagrado Corao de Jesus). Com
efeito, no Brasil, desde o princpio a consagrao promovida pelo Apostolado foi acolhida
com ardor. Em 17 de fevereiro de 1918, a Unio trazia a bela soma de 6.617 famlias, que
ao mesmo jornal mandavam participar que se haviam oferecido ao Corao Divino, colocando
tambm a imagem no lugar de honra da casa (GENTIL, 1948, p. 56).
Nesta poca, era comum o costume de construir capelas e igrejinhas nos povoados.
Nas cerimnias de benzimentos de capelas, nos stios e fazendas, ou ento durante as festas
de padroeiro, o povo das redondezas comparecia com fervor (PAZ, 2004, p. 12). Contudo, o
contato dessas pessoas com as celebraes da Igreja, com os padres e sacramentos, era muito
escasso devido ao nmero reduzido de sacerdotes para atender a populao com servios
religiosos. Ento surgiram celebraes paralitrgicas de carter devocional realizadas
coletivamente, tais como festas, procisses, novenas e renovaes (PAZ, 2004, p. 12).
A Renovao foi incentivada pelo Padre Ccero Romo Batista, no incio do sculo
XX, na pequena vila de Juazeiro do Norte, Estado do Cear. Cheio de disposio comeou a
evangelizar todos os dias na capelinha de Nossa Senhora das Dores e a comunidade foi se
habituando e aceitando tudo que o vigrio ordenava.
As bases da trajetria eclesistica de padre Ccero tiveram como fundamento as Misses Populares ou Santas Misses, que atuaram no Brasil a partir do sculo XVII, numa tradio iniciada pelos jesutas, franciscanos e lazaristas. (...) Nestas misses a participao de leigos era estimulada pelos padres (...) (MELO, 2004, p. 31).
Ele estava sempre pronto a ajudar aquele povo, como tambm os visitantes. Ento
sua credibilidade foi aumentando a cada dia. Famlias de outros estados do nordeste vinham
para Juazeiro em busca de auxlio e palavra de conforto. O sacerdote os ajudava no intuito de
resolver seus problemas, e ele sempre tinha uma resposta produtiva para aqueles que
necessitavam. Evangelizava a todo o momento.
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No h romeiro ou devoto do Padre Ccero, que no traga um rosrio pendente ao pescoo, e os de classe social mais sofisticada trazem no bolso ou na bolsa um tero que, invariavelmente, rezado todos os dias. Nas casas de famlia, alm da reza do rosrio em comum, recita-se piedosamente o ofcio de Nossa Senhora, que todo romeiro e devoto de brio sabe decorado. (VIEIRA, 1988, p. 117)
O sacerdote orientava as mulheres a rezar nas residncias, convocava todos para
rezar o rosrio da Me de Deus pedindo para minimizar as dificuldades: a seca, a guerra e
todas as doenas que assolavam a regio. O binmio orao e trabalho era o seu lema.
Juazeiro o seu grande e incontestvel milagre (BEM FILHO, 2002, p. 41).
Ao tempo em que iniciava um intenso trabalho missionrio, ao instigar a obedincia e a devoo dos fiis, padre Ccero, espelhando-se na ao missionria de padre Ibiapina, organizou um grupo de mulheres que passou a acompanhar os seus passos, dedicando-se aos rituais, s oraes e s missas de maneira cada vez mais intensa (MELO, 2004, p. 32).
nesta cidade onde atualmente, se verifica maior quantidade de adeptos a este ritual
religioso, mas ele ocorre tambm em outras cidades do Cariri cearense e pernambucano.
em alguma espcie de forma cerimonial () que as disposies e motivaes induzidas pelos smbolos sagrados nos homens e as concepes gerais da ordem da existncia que eles formulam para os homens se encontram e se reforam umas s outras. Num ritual, o mundo vivido e o mundo imaginrio fundem-se sob a mediao de um nico conjunto de formas simblicas () (GEERTZ, 2008, p. 82).
Para a realizao dessa atividade religiosa faz-se necessrio ornamentar a sala de
visitas da casa com um altar, montado sobre uma pequena mesa (situada abaixo do quadro do
Sagrado Corao de Jesus e Sagrado Corao de Maria), coberta por uma toalha de seda e
renda branca, um jarro com flores artificiais de papel crepom ou plstico, um ou dois castiais
com velas, uma Bblia, esculturas de santos de devoo da famlia e cortinas de vrias cores.
Baseadas na devoo e cultos aos santos e almas, as crenas e prticas desta forma de catolicismo viabilizam a relao direta entre santo e fiel, sem a necessidade de interferncia de sacerdotes. Os devotos estabelecem com os santos uma relao afetizada, familiar, como um modo de marcar o lugar da religio em suas vidas, trazendo para a sua intimidade estes intercessores prximos, capazes de resolver questes cotidianas (PAZ, 2004, p. 14).
O turno em que ocorre esta festividade geralmente noite, para viabilizar a
presena dos convidados (familiares e vizinhos) que trabalham durante o dia. A cerimnia
inicia-se com msica, leitura do evangelho e segue alternando com oraes, realizadas pelos
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rezadores e rezadeiras (pessoas que memorizam a sequncia das falas e cnticos deste ato
religioso). O tempo de durao desta reza de, aproximadamente, uma hora e meia. No
final, a famlia oferece um lanche aos participantes com bolo de mandioca, batata, milho,
sequilhos (biscoitos feitos com goma), caf, ch de ervas medicinais, alu (bebida feita a
partir da fermentao do abacaxi), refrigerantes e s vezes, um jantar. Alm do louvor a Deus,
essa uma das formas de aproximao entre famlias.
A msica presente nessa celebrao so cnticos, oraes, salmos, poemas meldicos
e benditos. executada por coro formado predominantemente por mulheres, sem auxlio de
instrumentos musicais. Uma singela forma de transmitir o amor fraterno, como relata Vieira:
para mim, a msica e a sua irm poesia nasceram dos lbios perfumados das mes, cantando
acalentos primorosos e melodiosos para adormecerem os seus filhos (...) (VIEIRA, 1988,
p.87).
Os cantores entoam as msicas da celebrao com uma sonoridade marcante
preenchendo toda a dimenso da residncia sem necessidade de amplificao sonora. Uma
capacidade singular de extenso e potncia vocal. Sabem conduzir os procedimentos da
celebrao com seus cnticos dinmicos, compartilhando e envolvendo todos os presentes
num momento de adorao crist.
Assim acontece com Juazeiro, com o seu povo, que com uma das mos faz deslizar as do seu rosrio e com a outra maneja o instrumento de trabalho, e os acordes intermitentes dos hinos, benditos, e canes religiosas dos seus romeiros a cidade distende os seus msculos gigantescos para crescer e oferecer condies humanas de conforto, de bem-estar (VIEIRA, 1988, p. 102).
Atravs da voz essas cantoras de renovao despertam emoes, sentimentos
profundos e ao mesmo tempo conseguem transmitir uma agradvel sucesso de sons.
impressionante a extenso vocal desse pessoal que canta em harmonia, sem medo de errar,
cantando por mais de uma hora em cada residncia, conseguindo tessituras vocais com
segurana e dinamismo. Nenhum instrumento comparvel voz, ela a nica que tem o
privilgio de unir o texto msica. Mas, s emociona dependendo da sensibilidade e da musicalidade
do intrprete (DINVILLE, 1993, p.3).
O aprendizado das msicas de Renovao
O aprendizado dos cnticos consiste numa transmisso oral, realizada sem
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conhecimento sistematizado, nem saber especfico na rea de msica e tcnica vocal. Mesmo
diante desta constatao, o que se verifica um processo de ensino e aprendizagem que
resulta na formao dos cantores de Renovao, que executam as msicas de maneira afinada,
com segurana e estratgia vocal que os possibilita cantar por longo tempo, sem irritar as
cordas vocais.
Os cantores de Renovao ensinam as msicas da maneira que aprenderam, de forma
oral e emprica, a seus familiares e vizinhos mais novos. Eles cantam juntos nas residncias e
tambm levam as crianas para as celebraes, no intuito delas ingressarem nesse mesmo
grupo, pois quando no puderem comparecer, j tero alguns preparados para substitu-los.
A educao est presente durante toda a vida do indivduo. Ela consiste na ao exercida pelas geraes mais velhas sobre as mais novas, suscitando o desenvolvimento dos aspectos fsico, intelectual e moral, reclamados pela sociedade poltica, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a pessoa, particularmente, se destine (DURKHEIM, 1978 apud PILETTI, 2002, p. 111).
Muitos dos cantores de Renovao tm pouco ou nenhum conhecimento de leitura e
escrita. So, em geral, pertencentes camada pobre da populao. Manifestam grande fervor
religioso, tambm aprendido com seus antepassados. Assumem com responsabilidade o
compromisso de cantar em louvor a Deus, sem receber nenhum pagamento por esse ato. Dona
Maria Neuza1, cantora de Renovao de Juazeiro do Norte, revela como aprendeu os cnticos:
Nasci os dente ouvindo a minha me cantando. Ela me levava pra Renovao, pra Igreja que s tinha missa de oito em oito dias. Eu sempre fui rude pra aprender a ler e escrever - leio um pouquinho e mal sei assinar meu nome - mas decorei as msicas. Aprendi com minha me e minhas irms tambm (...).
Ela tambm faz referncia a Dona Quiterinha cantora de Renovao, j falecida,
que teve a oportunidade de conviver com Padre Ccero Romo Batista. Esta senhora marcou a
trajetria de vida de Dona Maria Neuza, pela devoo divina e fervor religioso que transmitia
ao cantar.
Tinha uma velhinha, Dona Quiterinha que era cantora de Renovao. Meu padrinho Cio dizia a ela: - No tenha preguia Quiterinha, que cantora na terra cantora no cu. O canto do Corao de Jesus o que sai da alma, com alegria, cantando a vida Dele.
1 Entrevista concedida por Dona Maria Neuza, cantora de Renovao, 21 de maro de 2011 em Juazeiro do Norte-CE.
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Dona Maria Neuza j ensinou s sobrinhas os cnticos de Renovao. Atualmente
assumiu a incumbncia de ensinar tambm para sua irm mais nova, que sabe ler e escrever
muito bem e j canta nas igrejas.
O que se observa que o aprendizado dos cnticos de renovao se inicia na
infncia. Neste perodo de desenvolvimento humano, a msica pode suscitar na criana
emoes originais capazes de provocar ao motora e facilitar a compreenso do mundo
exterior, promovendo assim, a interrelao entre as dimenses individuais e sociais.
possvel tambm perceber a facilidade de familiarizao dos pretensos rezadores
com a msica. Mesmo sem domnio do cdigo lingustico, conhecimento de teoria musical e
tcnicas vocais, so capazes de compreender a melodia e memoriz-la. H, portanto,
sensibilidade musical e aguamento da percepo auditiva.
(...) a msica a relao entre os sons e no o prprio som, qualquer que seja o grau de artifcio e de complexidade de sua sucesso. Ou melhor ainda: compreender e fazer msica primeiro ser dotado da faculdade de perceber intervalos e de estabelecer relaes entre eles.(...) O intervalo um movimento entre as alturas sonoras.(HOWARD, 1984, p. 63)
No existe uma seleo prvia nem argumentos de falta de dom que impeam as
pessoas de serem cantoras de Renovao. Para cantar, basta sentir o despertar de forte emoo
psquica e tenso motora capaz de gerar esta ao. (...) Em princpio, todas as crianas
manifestam profundo interesse pela msica e, possivelmente mais profundo ainda, pelo seu
exerccio (HOWARD, 1984, p. 101).
A capacidade de cantar tambm propicia a elevao da auto-estima na medida em
que as pessoas tomam conscincia do seu potencial e ao mesmo tempo, assumem a funo de
mensageiras da Palavra de Deus. Na execuo da msica em coro, por ocasio da cerimnia
da Renovao, esta atividade coletiva assume a expresso de identidade popular, porque se
caracteriza como manifestao prpria do povo e da sociedade que integram.
Diante do exposto possvel afirmar que a formao de cantores decorre de um
processo emprico, informal que valoriza movimentos de execuo espontneos, possui
caractersticas prprias e beleza singular, que perpassa por uma corrente contnua de
aprendizagem dinmica e consciente em relao habilidade vocal.
Consideraes finais
As msicas cantadas nas Renovaes apresentam forte carter religioso, expresso
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singular da sociedade caririense, em que a base a manifestao da f em Deus.
A experincia informal e cotidiana gerou, ao longo do tempo, um saber popular que
vem sendo repassado das geraes mais antigas para as mais jovens. Esse tipo de
conhecimento envolve tanto a forma de cantar, como tambm a desenvoltura da voz no
momento da cerimnia.
As msicas de Renovao propiciam o vnculo entre a satisfao pessoal e social,
bem como promove a valorizao cultural da regio. Esta afirmao evidenciada na fala de
Dona Maria Neuza, em que se percebe a alegria e honra de participar do grupo que foi
iniciado pelo Padre Ccero, que at hoje mantm e tambm visa perpetuar esta tradio.
Este trabalho revela que a preocupao puramente mecnica e tcnica do canto, no
garante a qualidade esttica. preciso considerar a presena da emoo e a autenticidade da
manifestao artstica.
Pretende-se com este estudo, possibilitar o conhecimento, reflexo e anlise crtica
acerca do ensino dos cnticos religiosos de Renovao. Para tanto, faz-se necessrio
aprofundar e concluir esta pesquisa para que se obtenham informaes mais precisas sobre a
qualidade esttica, processo de ensino e aprendizagem e implicaes scio-culturais desta
celebrao religiosa para o povo da regio do Cariri.
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Referncias
BEM FILHO, Mario. Formao Religiosa de Juazeiro do Norte. Fortaleza: ABC, 2002. DINVILLE, Claire. A tcnica da voz cantada. Traduo Marjorie B. Couvoisier Hasson. 2a. ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 1993. GEERTZ, Clifford. A interpretao das culturas. Traduo The Interpretation of Cultures. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GENTIL, P. Josephus da Frota. Manual do Corao de Jesus. Rio de Janeiro: Mensageiro do Corao de Jesus, 1948. HOWARD, Walter. A msica e a criana. Traduo Norberto Abreu Silva Neto. So Paulo: Summus, 1984. MELO, Rosilene Alves de. O outro Juazeiro: Histrias das crenas e prticas ocultas na cidade sagrada. Tendncias: Caderno de Cincias Sociais da Universidade Regional do Cariri, Crato, v. 2, n. 1, p. 29-40, jul. 2004. PAZ, Renata Marinho. Cariri, campo frtil da religiosidade popular. Tendncias: Caderno de Cincias Sociais da Universidade Regional do Cariri, Crato, v. 2, n. 1, p. 9-27, jul. 2004. PILETTI, Nelson. Sociologia da Educao. 18a. ed. So Paulo: tica, 2002. VIEIRA, Padre Antnio. Roteiro Lrico e Mstico sobre Juazeiro do Norte. Fortaleza: Imprensa Oficial do Cear IOCE,1988.
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A formao dos professores de Arte/Msica da Rede Municipal de
Ensino de Mossor
Elder Pereira Alves Conservatrio de Msica Dalva Stella Nogueira Freire/UERN
Resumo: Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa concluda em nvel de mestrado, desenvolvida na cidade de Mossor-RN. O estudo teve como objetivo apresentar, analisar e refletir acerca da realidade do ensino da msica, enquanto contedo obrigatrio do componente curricular Arte, em escolas municipais de Mossor. O trabalho buscou identificar: 1) qual a formao do professor de Arte desse contexto; 2) quais dentre esses profissionais trabalham com o ensino da msica; 3) que prticas de educao musical so desenvolvidas por esses profissionais e que concepes norteiam suas prticas. Esse estudo possui uma metodologia quantitativo-qualitativa, pois alm de ter buscado realizar um levantamento sobre o ensino da msica e a formao dos professores de Arte, procurou tambm analisar concepes e prticas de educao musical desenvolvidas nesse contexto. Este artigo, especificamente, se prope a apresentar os dados referentes formao dos docentes de Arte da Rede Municipal de Ensino de Mossor.
Palavras-chave: formao de professores, ensino de msica, professor de arte.
Introduo
As discusses sobre o ensino da msica na educao bsica tm sido bastante
enfatizadas nas ltimas dcadas, tendo em vista, principalmente, a significativa ausncia da
msica nos currculos escolares. Diversos aspectos tm contribudo para essa ausncia, tais
como a formao dos professores de arte/msica atuantes nesse contexto, os problemas
relacionados legislao educacional brasileira, concepes equivocadas sobre o ensino de
msica, entre tantos outros. No entanto, no ano de 2008, atravs da Lei 11.769 que altera a
atual LDB - Lei n 9.394/96, a msica foi instituda como contedo obrigatrio do
componente curricular Arte, devendo estar efetivamente presente na educao bsica
brasileira at agosto de 2011. Tendo em vista esse cenrio, senti o interesse de investigar
como se encontra o ensino da msica nas escolas da cidade de Mossor-RN, especificamente
na rede municipal de ensino da cidade.
Partindo dessa perspectiva, como objetivo geral o estudo buscou apresentar, discutir
e analisar a atual situao do ensino da msica, enquanto contedo obrigatrio do componente
curricular Arte, em escolas da Rede Municipal de Ensino de Mossor-RMEM. Com vistas a
contemplar o objetivo geral, o trabalho de pesquisa realizado teve os seguintes objetivos
especficos: identificar a formao dos professores que atuam na disciplina de Arte, a
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quantidade desses docentes que trabalham com msica e aspectos relacionados formao e
experincia musical desses professores; analisar as concepes e prticas de educao musical
desenvolvidas por esses profissionais. Nesse trabalho, apresento apenas os resultados relativos
formao do corpo docente de Arte/Msica da RMEM1.
Na Educao Musical, os estudos brasileiros que giram em torno do ensino da
msica na educao bsica tem se intensificado cada vez mais, e essa temtica tornou-se um
dos principais focos das discusses na rea nos ltimos anos. Vrios estudiosos vm se
dedicando a essa questo, desenvolvendo investigaes nesse contexto sob diversas
abordagens, o que tem nos ajudado a compreender melhor essa realidade. Para fundamentar
essa investigao, selecionei dois aspectos fundamentais no que diz respeito ao ensino da
msica na educao bsica: a formao de professores (BELLOCHIO, 2003; DEL BEN,
2003b; MATEIRO, 2003; SANTOS, 2005; PENNA, 2007; FIGUEIREDO, 2004; QUEIROZ;
MARINHO, 2007) e a anlise das politicas educacionais e termos normativos (PENNA, 2001;
2004a; 2004b; 2008a; ARROYO, 2003; FERNANDES, 2004; SOBREIRA, 2008).
Procedimentos metodolgicos
O trabalho possui uma abordagem metodolgica quantitativo-qualitativa,
proporcionando uma viso ampla da realidade estudada, atravs de um levantamento
quantitativo que investiga a formao dos professores de Arte e sua atuao no ensino da
msica, assim como uma anlise mais aprofundada, por meio de uma apreciao qualitativa
que analisa as concepes e prticas de educao musical desses profissionais. Como
comentei anteriormente, apresentarei nesse trabalho parte do levantamento quantitativo,
focando na formao dos professores.
O universo da pesquisa foi constitudo pelas escolas da RMEM, de maneira mais
especfica, foi selecionado o Ensino Fundamental II (6 ao 9 ano) como alvo da investigao.
Atualmente essa rede de ensino conta com 72 escolas2, sendo 35 localizadas na regio urbana
e 37 pertencentes zona rural da cidade. O foco do estudo foi na zona urbana do municpio,
procurando abranger os professores de Arte que atuam nas escolas existentes nessa regio.
Das 35 escolas da zona urbana, apenas 18 atendem aos anos finais do ensino fundamental.
1 Em Alves (2010), foram apresentados alguns resultados parciais dessa pesquisa, referentes formao e atuao desses profissionais. 2 Dados da Gerncia Executiva da Educao rgo da prefeitura responsvel pela educao no municpio - no incio de 2010
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Deste modo, o universo da pesquisa foi constitudo pelos professores de Arte que atuam
nessas 18 escolas.
A fase quantitativa da pesquisa de campo foi concretizada atravs da aplicao de
questionrios. Esse instrumento , geralmente, empregado em pesquisas desta natureza por
alcanar um grande pblico. Foi aplicado com todos os professores de Arte das 18 escolas
municipais, localizadas na zona urbana da cidade, com o objetivo de identificar,
principalmente, a formao dos professores de Arte e a quantidade desses docentes que
trabalham com msica.
Resultados obtidos
Por meio da pesquisa de campo foi possvel verificar que, atualmente, nas 18 escolas
onde h o Ensino Fundamental II, existem 24 professores atuando na disciplina Ensino da
Arte. Vale ressaltar que na poca da pesquisa de campo, iniciada nas primeiras semanas do
ano letivo de 2010, uma dessas 18 escolas ainda encontrava-se sem professor de Arte. Dos 24
professores identificados, somente um se recusou a responder o questionrio, alegando que
estava assumindo a disciplina h pouco tempo e que, por esse motivo, no gostaria de
participar. Apenas trs professores no devolveram os questionrios. Portanto, consegui
receber 20 questionrios respondidos, o que corresponde a um percentual de 83,33%, um
ndice significativo para uma pesquisa dessa natureza.
Desse universo, composto por 20 professores, h uma predominncia de mulheres,
15 professoras e apenas cinco professores. De uma forma geral, essa uma realidade
fortemente encontrada na educao bsica brasileira, confirmando a existncia da feminizao
do magistrio (Ver: DEL BEN, 2005; DINIZ, 2005; HIRSCH, 2007).
A faixa etria desses profissionais est entre 31 e 55 anos, com mdia de 44 anos. No
estudo desenvolvido por Del Ben (2005), encontrou-se uma faixa etria semelhante, no qual
Um percentual de 41,38% dos professores est acima dos 45 anos. Esse dado pode indicar que os jovens professores de msica ou das demais modalidades artsticas no tm se sentido atrados para atuar como docentes nas escolas pblicas estaduais de educao bsica. Ou, ainda, que tm sido escassos os concursos para professores nessas reas (p. 73).
Portanto, parece haver um nmero reduzido de jovens professores de arte/msica
atuando como docentes nas escolas pblicas.
Atravs dessa pesquisa, procuro apresentar um panorama geral sobre a formao
inicial dos professores de Arte da RMEM, para que assim, atravs do conhecimento dessa
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realidade, seja possvel verificar quem o profissional que atua na disciplina Ensino da Arte,
pois, at bem pouco tempo no existiam cursos de formao de professores de arte na cidade
de Mossor e regio. O primeiro criado foi a Licenciatura em Msica da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte UERN, no ano de 2004.
Primeiramente, importante destacar que todos os professores participantes da
pesquisa so licenciados, estando assim em consonncia com a atual LDB, que exige
formao superior na modalidade de licenciatura para a atuao no Ensino Fundamental e
Mdio. A TAB. 1 apresenta dados referentes graduao desses docentes:
TABELA 1
Graduao dos professores de Arte da RMEM
GRADUAO QUANTIDADE PERCENTUAL
Letras 10 50% Histria 4 20% Teologia 2 10%
Educao Artstica 1 5% Geografia 1 5%
Cincias Sociais 1 5% No respondeu 1 5%
Como se pode observar, apenas um entre os 20 professores possui formao na rea
de Arte, especificamente, no curso de Educao Artstica com Habilitao em Msica. Uma
realidade diferente da encontrada em outras cidades brasileiras, como em Porto Alegre, onde
60,34% de todos os 58 professores participantes da pesquisa possuem formao especfica
para atuar na rea de artes (DEL BEN, 2005, p. 75), e Joo Pessoa, onde a grande maioria
dos professores tem formao especfica: 86% (160 em 186) dos entrevistados informam ter
cursado ou estar cursando uma licenciatura em Educao Artstica (PENNA, 2002b, p. 22)3.
Constatei tambm que a metade dos professores que atua na disciplina de arte possui
formao na rea de Letras. Esse fato parece ter relao com o ttulo que o Curso de Letras da
UERN possua at pouco tempo, denominado de Letras e Artes. Esse Curso funcionava
oferecendo uma ou duas disciplinas optativas na rea de Arte e talvez passasse a impresso de
habilitar, efetivamente, o professor para atuar nessa rea4. Como aponta um dos professores
de arte da RMEM, apesar de ser chamado de Letras e Artes, o curso no traz essa formao
3 Ver tambm: (ARAJO, 2002; ALMEIDA, 2006; HIRSCH, 2007). 4 Informao dada pelos professores formados nesse Curso.
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especificamente (P8)5. No entanto, outro professor acredita que o Curso de Letras e Artes,
habilita para ensinar Portugus, Ingls e Artes (P5). Pelo o que se pode perceber, com a
falta de cursos especficos para a formao de professores de Arte na cidade, esse parece ter
sido o curso que, durante algum tempo, assumiu o papel dos cursos formadores de professores
da rea na regio, talvez por causa desse ttulo. Inclusive, um dos docentes participantes da
pesquisa afirmou que assumiu o cargo de professor de Arte na RMEM atravs de concurso
pblico para a rea. Ou seja, j existiram concursos pblicos no Municpio, nos quais,
professores sem formao especfica puderam concorrer e assumir o cargo.
Os demais professores possuem formaes diversas: quatro em Histria, que tambm
uma quantidade significativa (20%); dois em Teologia; um em Geografia; um em Cincias
Sociais; e apenas um no respondeu a essa questo. Apesar de existirem alguns contextos
diferenciados, como os apontados anteriormente, essa ainda a realidade do ensino de arte
encontrada em grande parte das escolas brasileiras, nas quais a grande maioria dos professores
no possui formao para atuao na rea de Arte:
De acordo com o trabalho, baseado no Censo Escolar da Educao Bsica 2007, o Brasil possui cerca de 124 mil professores de Artes. A grande maioria (92%) tem licenciatura. Mas o dado preocupante que Artes a disciplina com menor proporo de docentes com formao na rea especfica de atuao: 25,7%, nos anos finais do ensino fundamental. Destes, s 2,4% lecionam a disciplina correspondente ao curso em que se formaram na graduao. O trabalho do MEC informa ainda que 50,2% dos professores que lecionam Artes so formados em outras reas (BOLETIM ARTE NA ESCOLA, 2010, p. 6).
Em Mossor, a situao ainda mais complicada, pois, s existe um profissional
com formao especfica para trabalhar na rea de Arte em toda a rede municipal.
Atualmente, de acordo com o EDUCACENSO6, a RMEM atende a uma demanda de mais de
21 mil alunos matriculados da educao infantil ao ltimo ano do ensino fundamental.
Outro aspecto importante que, dos 20 professores identificados, apenas dois atuam,
exclusivamente, na disciplina de Arte: o professor formado em Educao Artstica e o que
formado em Letras concursado na rea de Arte. Os demais professores tambm ministram
aula de outras disciplinas, geralmente, relacionadas a seu campo de formao.
Nesse contexto, o que tem levado a maioria desses professores de outras reas a
trabalharem com o ensino de arte a necessidade da complementao de suas cargas horrias.
5 P Refere-se a uma numerao utilizada nesse trabalho para identificao dos 20 Professores. 6 Censo Escolar realizado pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP).
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Dez professores (50%) apontaram que esse o principal motivo que os levaram a trabalhar
com essa disciplina, como se pode verificar na TAB. 2:
TABELA 2
Motivao dos professores para trabalhar com Arte
MOTIVOS QUANTIDADE PERCENTUAL
Complementao de carga horria
10 50%
Se sentem preparados 3 15% No responderam 3 15%
Identificao com a rea 2 10% Necessidade da escola 1 5%
Aprovao em concurso pblico na rea
1 5%
Total 20 100%
Apenas trs assinalaram que se sentem preparados para ensinar na rea (incluindo o
professor que tem formao especfica) e dois que possuem, de fato, alguma identificao
com a disciplina. Esses dados so preocupantes, primeiramente, porque os profissionais no
possuem formao para a atuao, mas como j apontei essa no a realidade apenas de
Mossor, mas de boa parte do pas. E segundo, porque a maioria assume a disciplina em
funo de uma circunstncia empregatcia e no por se sentir preparada ou pelo menos
identificar-se com a rea.
Com o intuito de conhecer detalhadamente a atuao desses professores, procurei
verificar em quais das quatro modalidades artsticas eles se sentem melhor preparados para
trabalhar. A maioria dos professores apontou mais de uma modalidade7. Como era de se
esperar, a maior parte afirmou que se sente preparada para atuar com Artes Visuais, num total
de 15 professores. Essa tendncia, aps a LDB de 1971, tem sido muito forte nas aulas de
Arte, chegando ao ponto de poder configurar-se apenas como Ensino de Artes Visuais (ver:
PENNA, 2008b). Dos 20 professores, 12 acreditam tambm estarem preparados para trabalhar
com Msica, 13 com Teatro e apenas cinco com Dana.
Por terem sua formao fundada em outras reas, interessante observar que esses
professores demonstram sentirem-se preparados para atuarem nas diversas modalidades
artsticas, alguns chegando a apontar as quatro modalidades. So dados que nos levam a
7 Essa questo era de mltipla escolha, na qual os professores poderiam eleger quantas modalidades quisessem, entre as quatro existentes (Artes Visuais, Msica, Teatro ou Dana).
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refletir acerca das concepes dessas aulas de Artes desenvolvidas por esses profissionais,
pois, essas prticas educativas parecem estar baseadas numa concepo polivalente.
Para verificar essa situao, solicitei aos professores que apontassem quais as
modalidades artsticas que eles, efetivamente, trabalham em sala de aula. Suas respostas
confirmaram a concepo da atuao polivalente, que parece acontecer em grande parte das
aulas de arte, como podemos verificar na TAB. 3:
TABELA 3
Modalidades artsticas trabalhadas pelos professores
MODALIDADES QUANTIDADE PERCENTUAL
Msica e outras modalidades (Artes Visuais, Teatro e
Dana)
13
65%
Outras modalidades (Artes Visuais, Teatro e Dana)
3
15%
Somente Artes Visuais 3 15%
Somente Msica 1 5% Somente Teatro 0 0% Somente Dana 0 0%
Total 20 100%
Somente trs professores trabalham exclusivamente com Artes Visuais e um com
Msica, o restante atua ensinando mais de uma modalidade artstica. Um aspecto positivo que
ressalto nesses dados que 14 professores afirmam trabalhar com Msica, 13 de forma
polivalente e um de forma exclusiva.
Como possvel perceber, a influncia da polivalncia nas aulas de Arte ainda
muito forte atualmente. Pude verificar tambm que, em diversos estudos realizados em
escolas brasileiras, a influncia da formao e da concepo polivalente esteve presente em
grande parte deles. No estudo desenvolvido por Del Ben (2005) em Porto Alegre, os dados
indicam que a maioria dos professores investigados atua concomitantemente nas reas de
artes plsticas, artes cnicas e msica (p. 77). Do mesmo modo, na regio Sul do Rio
Grande do Sul,
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Nota-se que ainda h a presena de uma atuao polivalente, quando o somatrio de 33,1% dos professores afirma trabalhar com mais de uma modalidade artstica, contra o somatrio de 59,0% dos professores que declaram trabalhar com apenas uma modalidade artstica (HIRSCH, 2007, p. 48).
Na pesquisa realizada em Belo Horizonte, pde-se evidenciar que ainda h
influncia da formao polivalente (cursos de Educao Artstica) sobre a prtica pedaggica
e as concepes docentes sobre o ensino de msica (MARINO, 2005, p. 5). Em Joo Pessoa,
foi possvel verificar
Uma forte tendncia atuao polivalente, comprovada pelos dados coletados. [...] 85 (45,7%) professores trabalham apenas uma linguagem artstica em sala de aula, enquanto 43 (23,1%) trabalham com duas, 34 (18,3%) com 3 linguagens e os demais trabalham com 4 (PENNA, 2002b, p. 27).
Todo esse cenrio reflete, no mnimo, que os profissionais que esto sendo formados
nas novas licenciaturas (Licenciatura em Artes Visuais, Msica, Dana e Teatro), ainda no
esto presentes, efetivamente, na educao bsica, pelo menos o que se pode evidenciar na
realidade de Mossor.
Aproveitando essa rpida discusso sobre as concepes dos professores de arte,
procurei verificar se esses profissionais conhecem ou, pelo menos j ouviram falar, da Lei
11.769/08, para ter uma ideia da repercusso e discusso dessa Lei nesse contexto
educacional. Apenas quatro professores afirmam conhec-la, sendo que um deles desconhece
o seu texto. Portanto, os demais 16 professores de Arte da RMEM (80%) nunca ouviram falar
das discusses sobre a obrigatoriedade do ensino da msica na educao bsica, aps mais de
um ano da promulgao dessa Lei8.
Essa realidade no deixa de ser impactante, e por mais que esses profissionais no
possuam formao nas reas de Arte e Msica, seria importante que estivessem atentos s
discusses que envolvem suas reas de atuao, das quais a Msica faz parte. Portanto, se os
professores de arte, potenciais professores de msica desse contexto, desconhecem as
discusses que tratam da obrigatoriedade do ensino da msica na educao bsica, provvel
que, praticamente, no existam reflexes e aes a respeito desse aspecto no mbito da
RMEM.
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Concluses
Na cidade de Mossor e na Rede Municipal de Ensino, especificamente, at o
presente momento, pouco se sabia a respeito de quem vem atuando com o ensino de
arte/msica, uma vez que, at ento, nenhum estudo dessa natureza fora desenvolvido nesse
contexto. Atravs desse trabalho, procurei apresentar um breve levantamento sobre a
formao dos professores que atuam na disciplina Arte na RMEM.
Foi possvel identificar que apenas um professor possui formao na rea de Artes,
no extinto curso de Educao Artstica. Verifiquei tambm que a metade dos professores de
Arte possui formao na rea de Letras, e que o curso de Letras da UERN, at bem pouco
tempo denominado de Letras e Artes, parece ter assumido o papel dos cursos formadores de
professor de Arte na regio. Esse curso funcionou oferecendo umas duas disciplinas optativas
na rea de Arte e acabou passando a impresso de formar, efetivamente, os professores para
atuarem na rea.
Contudo, a maior parte dos professores de Arte da RMEM tem assumido a disciplina
de Arte por causa de uma circunstncia empregatcia, ou seja, por necessitarem complementar
suas cargas horrias. Assim, essa formao oferecida nesse curso de Letras e Artes parece
no ter exercido tanta influencia na atuao desses professores.
De forma geral, a partir da realizao desse estudo, foi possvel verificar que a
grande maioria dos professores de Arte atuantes nesse contexto no possuem formao nas
reas de Arte e Msica. Portanto, o que se pode evidenciar, a partir de todo o exposto, a
urgente necessidade de formao existente nesse contexto educacional, tanto na rea de Arte,
quanto em Msica especificamente, pois, praticamente no h profissionais especializados
atuando nessas reas.
8 Ressaltando que esses dados foram coletados no incio de 2010.
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A informalidade construindo a formao musical dos adolescentes
frequentadores da Praa Verde Historiador Raimundo Giro (Centro
Drago do Mar de Arte e Cultura)
Yure Pereira de Abreu Universidade Federal do Cear
Luiz Botelho Albuquerque Universidade Federal do Cear
Resumo: O presente artigo um relato de pesquisa que teve como objetivo identificar e compreender como est se estruturando a formao musical, formal e informal, dos adolescentes entre 12 18 anos frequentadores da Praa Verde Historiador Raimundo Giro, espao pertencente ao Centro Drago do Mar de Arte e Cultura e mantido pelo Instituto de Arte e Cultura do Cear (IACC), situado na Rua Drago do Mar, n 81, Praia de Iracema. Entender a formao musical destes adolescentes de certa forma, compreender os contextos scio-culturais em que esto inseridos. Sob essa perspectiva foi realizado estudo de caso sobre o impacto que as mdias e grupamentos jovens exercem sobre a formao musical dos indivduos que freqentam o centro, vislumbrado apontar um panorama acerca da formao musical, em carter formal e informal, e repensar estratgias de incentivar uma dissipao igualitria ao acesso msica.
Palavras-chave: Adolescentes, Grupamentos Jovens, Formao Musical.
Introduo
Compreender o processo de construo da formao musical de certa forma
compreender o contexto scio-cultural no qual a juventude est inserida. em meio
sociedade moderna com o advento da cultura de massas, vinculada s mdias, que a
educao musical se torna ainda mais dinmica e interativa. No entanto a educao
passa a operar tanto na formalidade quanto e principalmente em uma mescla entre a
formalidade e informalidade. neste contexto que a educao musical informal cresce,
sendo acentuada pelas mdias e grupamentos jovens.
Graduando em Msica (licenciatura) pela Universidade Federal do Cear. bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia MEC/CAPES UFC e integrante do grupo de pesquisa Ensino de Msica, atuando na linha de Culturas Contemporneas e Educao Escolar, sob a orientao do Prof. Dr. Luiz Botelho Albuquerque.
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Atualmente a cidade de Fortaleza no oferece educao musical em carter
formal acessvel a toda populao, pelo simples fato de no ofertar nenhuma disciplina
de msica nas matrizes curriculares das escolas pblicas de ensino bsico nem escolas
de msica ou conservatrios pblicos, deixando a formao musical por conta da
informalidade e, em nvel superior, as universidades que ofertam cursos de licenciatura,
bacharelado e de nvel tcnico.
O presente trabalho visa refletir sobre um processo da formao musical dos
adolescentes entre 12 18 anos, de carter informal e a educao musical de carter
formal, vislumbrando apontar os mecanismos formativos presentes no cotidiano dos
adolescentes que freqentam a Praa Verde Historiador Raimundo Giro (Praa Verde).
Espero que este artigo venha a contribuir com a comunidade cientfica,
educadores musicais, bem como toda a comunidade educacional ao apresentar um
panorama da formao musical, formal e informal, dos adolescentes acima citados,
repensando estratgias e fazendo reflexes acerca da formao musical no que diz
respeito implementao do ensino de msica na educao bsica, o que j est
previsto na Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008.
Metodologia
A pesquisa foi realizada a partir da observao do local e suas especificidades
com 21 sujeitos freqentadores da Praa Verde, numa tentativa de identificar elementos
e concepes acerca dos processos formativos em msica, na busca de responder a
pergunta: como ocorre o processo de formao musical dos adolescentes de Fortaleza na
contemporaneidade.
Um estudo de caso foi realizado com o intuito de compreender certas nuances
acerca da formao musical dos jovens e o modo como os grupamentos jovens e as
mdias tendem a influenciar nesse processo, colaborando para uma padronizao.
Dessas fontes empricas extraram-se dados importantes sobre o assunto, de observao
do cotidiano e do entendimento que os adolescentes freqentadores da Praa Verde tm
sobre a sua formao musical, relacionando-as com suas prprias experincias. Segundo
Gil (2009), estudos de casos: Caracterizam-se pelo estudo profundo e exaustivo de um
dos poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.
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Com o intuito de recolher informaes acerca da formao musical dos
adolescentes que freqentam a Praa Verde, eu confeccionei e apliquei um questionrio
contendo 11 perguntas, dentre abertas e fechadas, direcionadas a temtica do artigo, tais
como: se os entrevistados j haviam estudado msica, formalmente ou informalmente
(autodidata); Em qual instituio e/ou local tiveram acesso ao conhecimento musical; Se
os entrevistados cantam ou tocam algum instrumento musical e se participam de
formaes artsticas (corais, bandas, etc.); quais meios de comunicao os entrevistados
mais utilizam; quais os gneros musicais, artistas ou bandas favoritas e quais meios
culturais mais freqentam; na busca de responder a pergunta supracitada.
A Praa Verde Historiador Raimundo Giro: um espao de lazer,
formao e encontros.
A Praa Verde Historiador Raimundo Giro, ou simplesmente Praa Verde
como dizem s pessoas que ali freqentam, um dos mais amplos espaos pertencente
ao Centro Drago do Mar de Arte e Cultura, o qual tem por finalidade promover
atividades artsticas, culturais e recreativas visando propagar e preservar as culturas
locais, bem como auxiliar no desenvolvimento artstico, educacional, cultural e
cognitivo das crianas que participam dos projetos do local. O espao tambm tem por
proposta abrigar espetculos, shows e eventos de grande porte como, por exemplo, a
Feira da Msica de Fortaleza; ainda conta com um espao anexo, o Ateli das Artes,
que um espao voltado para a realizao de cursos, oficinas, debates, dentre outras
atividades.
No entanto durante as noites de sbado que o local recebe o pblico alvo
deste trabalho, visto que esse o dia escolhido pelos jovens para realizarem as reunies
de seus grupos e encontrarem seus amigos, com inmeros objetivos, tais como: divertir-
se, namorar, trocar idias, fazer msica, etc. Porm as atividades realizadas por esses
jovens no possuem ligao com as atividades ofertadas pela instituio, visto que esta
uma atividade que no compe a programao do local. Assim as aes realizadas
nestes encontros no possuem nenhum direcionamento especfico, o que as torna
bastante diversificadas e heterogneas, atendendo a diversos campos e interesses como
dana, msica, pintura, teatro, dentre outras.
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A influncia das mdias e dos grupamentos jovens e os impactos na
formao musical
No decorrer do sculo XX as sociedades passaram por significativas mudanas
estruturais que influenciaram os campos social, ideolgico e cientfico-tecnolgico
colaborando para o surgimento de uma nova cultura que Morin (1997) define como a
terceira cultura, originria das mdias novas e antigas como cinema, rdio, televiso,
jornal, projetando-se ao lado das culturas tradicionais. Esta cultura de massas que tem
como objetivo a padronizao, criando uma cultura dita Universal, que uma juno
de crenas, costumes, mitologias, etc.
no decorrer do desenvolvimento industrial que a mdia se apresenta como
uma grande ferramenta de propagao da lgica do consumo, proporcionando estmulos
de massificao social de uma cultura universal, incorporado pelos grupamentos
jovens que associam elementos da cultura universal aos hbitos intimamente
relacionados ao modo como esses grupamentos se organizam.
Para tanto, em meio ao desenvolvimento miditico, surgem diversas prticas
correntes, que muitas vezes no emergiam com o propsito de educao, mas ao final,
constituem um imenso mecanismo educacional. Ento, tomando por base que a
educao um processo dinmico e que a educao ocorre em todos os locais e com
todas as coisas, a mdia com certeza auxilia no desenvolvimento educacional dos
jovens.
Para analisar a formao musical dos adolescentes que freqentam a Praa
Verde, ressaltando as contribuies do local que aos sbados congrega jovens de toda a
cidade de Fortaleza e regio metropolitana, o que favorece a criao de grupamentos
jovens, surge a necessidade de compreenso dos processos de formao dos
grupamentos jovens e de interao entre os adolescentes que compem o grupo, ao
entender que ambos exercem influncias sobre a formao musical dos jovens que ali
freqentam. Para Janotti Jr. (2003) o conceito de grupamento jovem est intimamente
relacionado perspectiva das:
Agremiaes de indivduos que partilham interesses comuns, vivenciam valores, gostos, afetos, privilegiam determinadas produes
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de sentido em espaos desterritorializados, atravs de processos miditicos que se utilizam de referenciais globais.
Levando em conta que a adolescncia um perodo instvel e conturbado, que
Pfromm Netto (1976) define como inquietao, pode-se afirmar que nessa fase da vida
que as pessoas sofrem mais influncias, pelo simples fato de ainda estar constituindo
seus valores e hbitos, sua identidade. Assim foi possvel perceber que a formao
musical dos jovens que freqentam a Praa Verde influenciada pela mdia e
grupamentos jovens.
Resultados e discusses
Aps coleta dos dados ficou constatado que a maioria dos jovens entrevistados
no havia estudado msica de forma mais sistemtica, em carter formal, ou seja, ligada
a uma instituio de ensino, seja ela pblica ou privada, como, por exemplo,
conservatrios, escolas de msica, escolas de educao bsica, etc. Segundo Arroyo
(2000, apud WILLE, 2005):
Ao utilizarmos o termo formal para qualificarmos a educao musical diferentes significados podero ser destacados, pois esse termo pode ter significao como escolar, oficial, ou dotado de uma organizao.
Eu acredito que o fato da maioria dos jovens no terem estudado msica
formalmente esteja intimamente ligado ao fato da carncia de escolas ou conservatrios
de msica pblicos e tambm pela ausncia de msica na matriz curricular da rede
publica de ensino bsico.
Deste modo pude constatar uma predominncia dos estudos musicais
informais, o que podemos denominar de autodidatismo, ou seja, no ligado a nenhuma
instituio, o que contribui para uma maior fragilidade no aprendizado musical. Eu
entendi tambm que o estudo autodidata pode afetar a sade fsica dos adolescentes, j
que nem sempre ao se tocar um instrumento musical ou cantar os alunos tomam cuidado
com postura, tcnicas, dentre outras coisas.
Dentre os jovens que afirmaram ter estudado msica formalmente, alguns
afirmam possuir habilidades como cantar e/ou tocar um instrumento musical. Entre os
instrumentos mais citados esto o violo, o teclado e a bateria. Porm, a maioria dos
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entrevistados dizem saber tocar algum instrumento e/ou cantar, mesmo sem haver
estudado msica formalmente.
Consideraes Finais
A partir de minha pesquisa pude constatar como est se estruturando a
formao musical dos adolescentes freqentadores da Praa Verde Historiador
Raimundo Giro, e que tal formao est bastante implicada na informalidade, ao passo
que os grupamentos jovens e as mdias vm intensificando suas influncias sobre o
processo de formao musical dos jovens que ali freqentam e que, apesar de algumas
aes isoladas que tm sido realizadas no municpio, na tentativa de promover um
acesso mais igualitrio ao ensino de msica, analiso que esto sendo insuficientes e
deficitrias, j que a maioria dos jovens ainda no possuem acesso ao conhecimento
musical formalmente.
Tambm foi possvel constatar como est ocorrendo a formao musical
informal, sendo realizada atravs de amigos, livros, mtodos, vdeos-aula, revistas,
dentre outros.
Por fim podemos concluir que a mdia juntamente com os grupamentos jovens
e a carncia de educao musical em carter formal na cidade de Fortaleza colaboram
na dissipao da cultura educacional informal.
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Referncias
GIL, Antonio Carlos. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. 6 Edio. So Paulo: Atlas, 2009. JANOTTI JUNIOR, Jeder Silveira. Mdia, cultura juvenil e rock and roll: comunidades, tribos e grupamentos urbanos. Disponvel em: . Acessado em 28 de outubro de 2010. MORIN, Edgar. Culturas de massas no sculo XX: Neurose. Traduo de Maura Ribeiro Sardinha. 9 Edio. Rio de Janeiro: Forense Universitria,1997. PFROMM NETTO, Samuel. Psicologia da adolescncia. 5. Edio. So Paulo, Pioneira; Braslia, INL, 1976. WILLE, Regiana Blank. Educao musical formal, no formal ou informal: um estudo sobre processos de ensino e aprendizagem musical de adolescentes. Disponvel em: . Acessado em 28 de maro de 2011.
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A Licenciatura em Msica da UFPI: dilogo entre a formao oferecida e a formao almejada
Juliana Carla Bastos Universidade Federal do Piau (UFPI)
[email protected] Resumo: O presente artigo tem como objetivo investigar e identificar as caractersticas inerentes ao perfil de curso traado pelo Projeto Poltico-Pedaggico da Licenciatura em Msica da Universidade Federal do Piau, bem como compreender de que maneira(s) essa caracterizao est sendo recebida pelos alunos e trabalhada pelos professores. Com base no referencial terico e na reviso bibliogrfica j constitudos, a discusso inicial aqui apresentada servir de base para a fase prtica da pesquisa, que ser de aplicao de questionrios e realizao de entrevistas com o intuito de conseguir informaes efetivas sobre a opinio de alunos e professores com respeito ao caminho que o curso vem trilhando. Palavras-chave: educao musical, UFPI, formao do professor.
Apresentao
Como professora do curso de Licenciatura em Msica da Universidade Federal do
Piau desde janeiro de 2011, alguns aspectos me chamaram a ateno no que diz respeito ao
perfil profissional que o curso salienta como ideal para seus egressos. Interessei-me,
especialmente, em investigar de que maneira(s) esse ensino est aliado ao conhecimento
extra-sala de aula, relacionando-o no s com o perfil dos licenciandos, mas tambm
observando a interao destes com o mercado de trabalho musical em Teresina. O impulso
inicial de pesquisa surgiu de conversas com alunos e professores do curso, nas quais se
menciona uma desconexo de usos entre o que se ensina na universidade e o que se aplica
efetivamente no cotidiano profissional dos licenciandos. Alm de procurar compreender os
possveis motivos geradores e/ou intensificadores desse descompasso, julgo necessrio
tambm perguntar o que os docentes esperam e pretendem fazer no/com o curso. Com base
nessas informaes, o objetivo do trabalho, ainda em fase inicial, realizar uma pesquisa
bsica com a inteno de levantar dados sobre essa realidade, compreendendo aspectos
caractersticos do contexto.
O referencial terico est sendo construdo com base nas idias de educadores
musicais consolidados nacionalmente e que apresentam, a cada trabalho, contribuies
significativas para a rea (PENNA, 2007, 2008; MARINHO; QUEIROZ, 2005; MATEIRO,
2009; CAJAZEIRA; OLIVEIRA, 2007). Para constituir o quadro de reviso bibliogrfica,
busquei trabalhos sobre Educao Musical que contemplem a cidade de Teresina ou o Estado
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do Piau, percebi que as questes tratadas em quase todos os exemplos encontrados giram em
torno ensino fundamental e mdio, como questes oriundas da normatizao e estruturao do
ensino da msica nas escolas (FERNANDES, 2004)1, ou fazendo meno aos processos de
cognio envolvidos na formao musical das crianas e jovens participantes bandas de
msica (BENEDITO, 2008)2. A exceo, nesse sentido, o trabalho de Ferreira Filho (2009),
que contempla o assunto da pesquisa ao traar um panorama histrico da Educao Musical
no Piau, englobando atores do ensino fundamental ao superior. Completando as bibliografias,
utilizo tambm trs outros escritos que versam sobre anlise de projetos poltico-pedaggicos
(PPP) em licenciaturas em msica no Brasil (MATEIRO, 2009); saberes e competncias
compartilhados entre o professor de msica e o aluno que pretende ser um professor de
msica (REQUIO, 2002); e um artigo que fala sobre o perfil dos graduandos em msica da
Universidade Federal da Paraba e procura discutir definies sobre a significao de valores
e concepes musicais para esses discentes (BASTOS, 2009).
A Educao Musical para educar o... professor!
A Educao Musical, como rea em ampla consolidao no Brasil, sobretudo nas
ltimas trs dcadas, aponta aspectos com relao ao ensino da msica e formao do
educador musical quase sempre relacionando o contexto social com a sala de aula - e quem
foi que disse que esses dois universos deveriam, algum dia, ter sido dissociados? Certamente,
devemos sistematizar os processos ocorrentes em nossa sociedade para que seja possvel
aplic-los, mas talvez tenhamos nos equivocado quanto definio sadia da palavra
organizao, resultando, em parte, na fragmentao presente por muito tempo no ensino
brasileiro algo como um conjunto de gavetas, cada qual com seu assunto; cada assunto a ser
tratado separadamente. Atualmente, com base nas falas dos estudiosos sobre o assunto
(PENNA, 2007; MATEIRO, 2003), a constatao de que essa fragmentao no assim to
benfica bastante bvia, j que no podemos compartimentar a vida. Sendo assim,
compartimentar o ensino tambm no deveria fazer sentido.
1 FERNANDES, Jos Nunes. Normatizao, estrutura e organizao do ensino da msica nas escolas de educao bsica do Brasil: LDBEN/96, PCN e currculos oficiais em questo. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 10, p. 75-87, 2004.
2 BENEDITO, Celso. Curso de capacitao para Mestres de Filarmnicas: o prenncio de uma proposta curricular para formao do mestre de bandas de msica. In: CONGRESSO DA ASSOCIAO NACIONAL DE PESQUISA E PS-GRADUAO, 18., 2008, Salvador. Anais... Salvador: 2008. Disponvel em: http://www.anppom.com.br/anais/. Acesso em: 22 abr. 2001.
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Quer dizer que, nessa conversa de convergir e aliar, a discusso sobre a extino do
ensino polivalente de artes caminha na direo contrria ao querer separar seus contedos? De
maneira alguma. O caso do ensino das artes demonstra, historicamente, a gradativa predileo
por uma das frentes, que no a msica, em detrimento das demais. O que a Lei 11.769/083
ordena, ao colocar a msica como contedo obrigatrio, porm no exclusivo, na aula de
artes, apenas uma luz no fim desse tnel, uma primeira vitria que deve ser comemorada,
certamente, mas que no pode desviar-nos do foco, que a delimitao da disciplina de
msica. Cada frente de conhecimento deve demonstrar sua autonomia dentro do sistema de
ensino, j que so reas delimitadas. No entanto, e to importante quanto, compreender que as
fronteiras entre elas no so estanques parece ser o cerne desse processo de entendimento
sobre aliar sala de aula o contexto social e do cuidado para no fazer confuses sobre o uso
da polivalncia.
No ensino superior, a crescente migrao das habilitaes em msica presentes no
curso de educao artstica para a transformao em cursos especficos de msica
(MATEIRO, 2009, p.59) demonstra que as discusses sobre a reconfigurao da rea de
Educao Musical esto atingindo um dos degraus iniciais de todo esse processo educacional:
a formao do professor de msica.
Panorama atual do curso de Msica da UFPI
Assim como presenciamos, atualmente, as discusses acerca da Lei 11. 769/08,
algumas leis anteriores implementaram justamente o que ela procura modificar. Em 1971, a
disciplina de Educao Artstica foi definida como obrigatria nos ensinos fundamental (atual
educao bsica) e mdio pela Lei 5692/71. Data dessa poca a criao de cursos de
Licenciatura em Educao Artstica com habilitaes em quatro frentes de conhecimento
artstico: Artes Cnicas, Artes Plsticas, Desenho e Msica.
Na Universidade Federal do Piau, a Licenciatura em Educao Artstica nasceu em
19774 e, tal como referido acima, oferecia a habilitao em msica at 2008 (PROJETO
POLTICO PEDAGGICO, 2009, p. 6). As turmas remanescentes dessa grade curricular5
encontram-se em fase de concluso de curso e alguns estudam a possibilidade de migrao
para a grade curricular atual, da qual falarei adiante.
3 Altera a LDB 9394/96, que, no 2 do Art. 26., diz que a arte deve ser componente obrigatrio na educao bsica, a fim de promover o desenvolvimento cultural dos alunos, sem especificao de contedo.
4 Resoluo n 01/77 CCE/UFPI, CONSUM. 5 A ltima ingressou em 2008.1, portanto, forma-se, no mnimo, em 2011.2 e, no mximo, em 2012.2.
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O recorte do presente estudo se ater s caractersticas do curso a partir do primeiro
semestre de 2009, quando os aprovados no vestibular passaram a ingressar num curso de
Msica, e no mais em Educao Artstica com habilitao em Msica. O PPP desse novo
curso, aprovado em 22 de junho de 2009, apresentava, como titulao acadmica dos
egressos, a formao de Licenciado em Msica. O ensino superior em msica no Estado
acontece apenas na UFPI, e atende a demanda de Teresina e da Regio Integrada de
Desenvolvimento da Grande Teresina6.
A aprovao do referido projeto demonstrou que o curso j havia iniciado sua
trajetria em direo a um delineamento condizente com as discusses atuais da Educao
Musical. Nesse nterim, h, ainda, outro importante aspecto a ser mencionado: na UFPI, e a
exemplo do que acontece em outras licenciaturas em msica, como a da UFPB (QUEIROZ;
MARINHO, 2005), a UFG e a UFMG (MATEIRO, 2009, p. 65), observa-se que a formao
oferecida tem procurado aliar ao embasamento musico-pedaggico da licenciatura a
habilitao em instrumento. Isso se deve a vrios fatores, grande parte justificados pelo
remodelamento do campo de atuao profissional do msico que, cada vez mais, abrange
aspectos alm dos inerentes a saber dar aulas de msica ou dominar um instrumento. O que
vrios autores demonstram em suas falas que tanto as possibilidades quanto os deveres
aumentaram significativamente (REQUIO, 2002; CAJAZEIRA; OLIVEIRA, 2007;
BASTOS, 2009).
Observando essas mudanas, o PPP (2009) de Msica da UFPI d ao aluno a opo
de escolher um dos instrumentos contemplados pelas titulaes do corpo docente violo,
piano, violino, canto. Composio e regncia tambm esto entre as titulaes dos
professores, mas no so oferecidas como habilitaes.
O que se constata, contudo, que o perfil das pessoas que ingressam no curso
variado: apenas uma parcela se dedica exclusivamente a um dos instrumentos contemplados
pelas habilitaes. Noutros casos, o estudante toca dois instrumentos o da habilitao e
outro, fora da universidade. Existe, ainda, o grupo que no toca nenhum instrumento dos
ofertados pela universidade, relegando o estudo deste somente aos momentos restritos aos
muros universitrios, e, fora deles, toca outro(s) instrumento(s), como o caso de alguns
bateristas, percussionistas, trompetistas, trombonistas, guitarristas, baixistas e cavaquinistas,
por exemplo. Essa vida dupla gera um sentimento de insatisfao em alguns estudantes.
Segundo relatos informais de alguns deles, a prtica do instrumento de universidade fica em
6 Composta pelos municpios de Altos, Beneditinos, Coivaras, Curralinhos, Demerval Lobo, Jos de Freitas,
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segundo plano porque em seu trabalho pela cidade e em seu interesse pessoal, o(s) outro(s)
instrumento(s) (em geral, executado a mais tempo) o que, de fato merece sua ateno e
dedicao. Tem-se, ento uma problemtica dupla: o instrumento de universidade, para
alguns, significar um aprendizado no prazeroso e, por vezes, at prejudicial s suas carreiras
musicais. Alm disso, o fato de no se ter um ensino superior no instrumento de real interesse
faz com que o aproveitamento do curso seja reduzido, haja vista que as disciplinas prticas
tero um foco diferente do almejado pelo estudante.
Frente necessidade eminente de ampliao desse quadro, o PPP foi reformulado em
2010 e tem previso de implantao ainda em 2011. Revisto pela mesma equipe docente, ele
prev, alm das habilitaes j mencionadas, tambm titulao em: viola, violoncelo,
contrabaixo, saxofone, flauta doce, trompete, trompa, trombone, bombardino, tuba, flauta
transversal, obo, clarinete, fagote e percusso. Funcionar da seguinte forma: por ano, so
disponibilizadas quarenta vagas, distribudas entre as quatro habilitaes contempladas no
curso. Caso nem todas sejam preenchidas, o PPP prev que
[...] as vagas [...] [que sobrarem] sero redistribudas conforme a oferta de prticas instrumentais em novos instrumentos; isto , as 40 vagas se dividiro igualmente pelo nmero total dos instrumentos cujo ensino possa ser oferecido. Por exemplo, se houver a possibilidade de se disponibilizar prticas instrumentais em 8 instrumentos diferentes, as vagas sero distribudas na proporo de 5 para cada opo instrumental. A oferta de ensino em instrumentos diferentes daqueles ora realizada (piano, canto, violo e violino) estar, claro, condicionada contratao de novos professores especializados nos novos instrumentos (PROJETO POLTICO-PEDAGGICO, 2010, p. 35).
Ou seja: no PPP prestes a entrar em vigor, novas habilitaes esto previstas;
contudo, seu implemento depende da contratao dos referidos professores. A titulao do
egresso desse curso ser, ainda, a de Licenciado em Msica, com a diferena de acrescer ao
ttulo a frase com habilitao em [instrumento].
Procedimentos metodolgicos
Alm da pesquisa bibliogrfica, j referida anteriormente; a metodologia conta
tambm com a pesquisa documental, dando nfase ao PPP do curso; e com a observao
Lagoa Alegre, Lagoa do Piau, Miguel Leo, Monsenhor Gil e Unio, no Piau; e por Timon, no Maranho.
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participante, tanto nos momentos em que eu estiver em sala com os discentes, quanto quando
realizar a coleta dos dados diretamente com eles e com os professores.
Os dados a serem informados pelo corpo docente (7 professores efetivos e 1
substituto no contando comigo) sero obtidos por meio de entrevistas individuais,
esclarecendo aspectos fundamentais do curso e andamento dos implementos. A administrao
est contemplada no corpo docente na figura do Professor Cssio Martins que tambm o
coordenador do curso.
A amostragem do corpo discente pretende contemplar 20 alunos por ano de ingresso
(50% do total), totalizando 80 pessoas. A fim de investigar as relaes entre os diversos
mundos musicais presentes no contexto, a coleta de dados acontecer da seguinte forma:
Entrevista com 5 alunos de cada grupo de 20;
Questionrio para os 60 indivduos restantes.
As entrevistas sero utilizadas para que dados qualitativos delineadores dos grupos
sejam cruzados com dados quantitativos do panorama geral extrado dos questionrios,
fornecendo, dessa maneira, resultados rigorosamente mais fiis ao contexto.
Os questionrios a serem aplicados so divididos em trs partes: dados quantitativos
a respeito do curso e da habilidade escolhida; opinio dos graduandos sobre gneros musicais
e sua utilizao dentro e/ou fora do contexto acadmico atravs da indicao de adjetivos; e,
por fim, compreenso dos estudantes sobre elementos musicais diversos encontrados em
obras musicais de diferentes perodos.
Em suma, sero 28 pessoas investigadas atravs de entrevistas e 60 pessoas
investigadas por questionrio.
A fase de anlise dos dados contemplar a catalogao do material coletado. A partir
de ento, os dados dos questionrios sero quantificados a fim de obter, ainda que de maneira
panormica, o delineamento do pensamento ocorrente entre os estudantes; e as entrevistas
passaro por transcrio e posterior anlise, a qual utilizar como base a anlise da
conversao e da fala7 (MYERS, 2002), e a anlise de discurso8 (GILL, 2002).
7 Tipo de anlise na qual procuram-se decifrar os padres comportamentais, bem como afirmaes atribudas a grupos e tipos de atividade especficos.
8 Tipo de anlise que procura revelar aspectos fundamentais que constituem a dimenso ideolgica e poltica das
argumentaes consolidadas no processo discursivo de pessoas num determinado contexto.
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Outro aspecto importante a ser mencionado no cruzamento dessas informaes a
atuao que a prpria IES9 possui no processo de consolidao de um curso de formao
superior. Devemos lembrar que uma parcela considervel de decises tomadas dentro de uma
coordenao de curso passa por instncias outras que vo alm da reunio de professores ou
da reivindicao dos discentes. Espero compreender o perfil do curso de Licenciatura em
Msica da UFPI atravs da observao da atuao conjunta dessas trs frentes professores,
alunos, administrao.
Consideraes
Observar e analisar os processos de interao entre o PPP e a realidade do curso
universitrio de msica da UPFI significa no s compreender alguns valores e concepes
inerentes ao processo de formao, mas tambm se configura em mais uma opo para
vislumbrar possveis adequaes que visem a melhoria do ensino oferecido e/ou para dar
nfase a aspectos que j funcionam nesse contexto. O curso bastante jovem, e o caminho
de sua consolidao qualitativa deve ser o mesmo a ser trilhado pela aplicabilidade efetiva na
carreira dos indivduos que o buscam como alternativa de formao musical profissional no
Estado do Piau.
9 Instituto de Ensino Superior.
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Referncias
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