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APOIOS ESTUDANTIS NO ÂMBITO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM
BOSCO/MS: descrição e análise à luz do Serviço Social1
Estela Márcia Rondina Scandola2
Ana Cláudia Oviedo Alves Pereira3
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo descrever e analisar, à luz do Serviço Social os apoios
estudantis operacionalizados no âmbito do SAE da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB,
a partir dos critérios de elegibilidade, vínculo às políticas sociais e âmbitos de governo e atuação
do profissional Assistente Social. Metodologia: A metodologia é qualitativa, sendo coleta de
dados foi realizada nos bancos de dados e sites oficiais, documentos institucionais, artigos
científicos e nos registros do diário de campo e relatórios elaborados no estágio em Serviço
Social no SAE. Principais Resultados: A atuação do SAE ocorre principalmente na
intermediação de bolsas, apoio ao financiamento público e acesso ao transporte estudantil. Há
diferentes condicionalidade para o acesso aos apoios estudantes e, quando advém de políticas
do governo federal e estadual, a atuação do SAE é de caráter finalístico. Foram estudados 8
tipos de bolsas executadas, em alguma parte, no SAE. Considerações Finais: Percebemos que
os programas de incentivos estudantis não são suficientes para garantir a entrada e permanência
de estudantes no ensino superior, pois ainda são restritas à questão financeira e estão
diretamente vinculadas ao pagamento de mensalidades. Há um significativo espaço de
possibilidades de atuação das Assistentes Sociais na medida em que a Universidade também
expressa as diferentes formas de desigualdade existente na sociedade e, sua possibilidade de
ensino, pesquisa e extensão potencializam para tal.
Palavras-chaves: Assistência Estudantil, Serviço Social, UCDB.
1 Este artigo é parte do Projeto de Pesquisa “Universitárias com mais de 30: condições e expectativas do
retorno aos estudos” aprovado pelo CEP-UCDB sob o no. CAAE: 57311516.9.0000.5162 2 Doutora em Serviço Social, Professora da Universidade Católica Dom Bosco. Endereço eletrônico:
[email protected]. 3 Graduanda do curso de Serviço Social da Universidade Católica Dom Bosco. Endereço eletrônico:
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1. INTRODUÇÃO
A presença da Missão Salesiana de Mato Grosso-MSMT na região Centro-Oeste,
segundo o historiador Ferreira (1994), citado por Bittar no final do século XIX, tinha como
objetivo “ressuscitar as missões e permitir a expansão do trabalho salesiano entre os índios”.
Conforme o autor, a chegada dos salesianos era vista como um desafio, pois diferentes outras
tentativas de pacificação dos Bororo tinham sido frustradas. A missão, desta forma, além da
aproximação com essa etnia, também significava que “eles se entregassem às atividades
pastoris e extrativas [além de] garantir, graças ao índio pacificado e civilizado, a ligação entre
a bacia platina e a bacia amazônica e fazer do índio o natural defensor do solo brasileiro”
(FERREIRA, 1994, pp.4 -5).
Bittar (s/d) afirma que a atuação dos salesianos nas atividades educacionais em Mato
Grosso ocorreu pela própria pressão da sociedade da época. De forma conjunta com a atuação
aos indígenas, passaram a intensificar as atividades da congregação “ao ministério sacerdotal e
à educação da mocidade, nas cidades e centros mais povoados como Cuiabá, Corumbá, Campo-
Grande, Três Lagoas, Ponta Porã, Santana do Paranaíba etc” (CARLETTI, 1944 apud BITTAR,
s/d).
Em 1919, a Missão Salesiana chegou ao sul de Mato Grosso, fundou em Campo Grande
a Escolinha de São José e passou a constituir-se em referência para o ensino regular de
estudantes que, à época, somente dispunham na cidade do ensino primário. Com a fundação do
Colégio Dom Bosco- CDB em 1929, crianças e jovens varões, que não tinham como acessar a
rede de ensino regular na capital Cuiabá, passaram a estudar nos salesianos de Campo Grande.
Em 1971, ou seja, 52 anos depois, foi realizado o primeiro processo para admissão de meninas
no colégio (BITTAR, s/d).
Após concluíram o ensino ginasial e científico, os jovens não contavam na cidade de
Campo Grande com o curso superior, e na década de 50, elaboraram uma proposta para a
criação dos cursos de Pedagogia e Letras.
Em 1961, a MSMT instituiu, em Campo Grande, o primeiro Centro de
Educação Superior do Estado de Mato Grosso, a Faculdade “Dom Aquino de
Filosofia Ciências e Letras”- FADAFI, com os cursos de Pedagogia e Letras,
voltados para a formação de educadores, orientadores e agentes de
transformação da sociedade mato-grossense (SANTOS, 2006, p. 10).
No ano de 1970, através de um projeto elaborado pelos funcionários e membros das
Faculdades de Pedagogia, Letras e Direito, foi encaminhado ao Conselho Federal de Educação
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o pedido de autorização para a criação da Faculdade de Serviço Social. O Ministério da
Educação- MEC autorizou o seu funcionamento da FASSO sob Parecer 437/72 e decreto nº
70905. “Seu reconhecimento ocorreu em 10 de outubro de 1975 pelo parecer nº 4024/75”
(VILLANUEVA, 2001, apud SANTOS, 2006, p. 29).
Segundo Santos (2006), com o crescente aumento dos cursos e, portanto, do número de
alunos, houve a necessidade da criação de um setor que seria o responsável pelos programas e
bolsas de apoio estudantil, instituindo-se, então, a Ação Comunitária. Vinculados a este setor
ficavam ainda a Clínica Escola que oferecia serviços de Psicologia à comunidade vulnerável, o
CEPACE (Centro de Pesquisa, Assessoria e Consultoria Econômica) e a Assistência Jurídica
para quem necessitasse.
Ainda, segundo essa autora, a intensificação das ações da “Ação Comunitária” exigiu a
melhoria do espaço físico, constituindo-se em um marco importante para a afirmação da atuação
desse setor. Embora ainda não tivesse uma sala privativa para o atendimento em Serviço Social,
todo o atendimento aos estudantes e à comunidade tinha como referência uma grande sala
comum.
Pode-se afirmar que o trabalho realizado naquele setor teve o seu desenvolvimento tanto
em número de serviços realizados quanto em abrangência a partir do próprio crescimento da
atuação da MSMT no criado estado de Mato Grosso do Sul. O Departamento de Ação
Comunitária – DAC, coordenado por uma profissional do Serviço Social, foi se constituindo e
se fortalecendo também a partir da transformação da FUCMT em Universidade Católica Dom
Bosco – UCDB. A própria instituição reconhece que o status de Universidade foi o
reconhecimento do seu amadurecimento acadêmico-administrativo4.
A UCDB compõe a rede de Instituições de Ensino Superior Salesianas existentes em
muitos países. Tem como identidade ser “projeto cristão salesiano orientado pela
intencionalidade educativo-pastoral, que se concretiza no âmbito da comunidade acadêmica e
no desenvolvimento das ações direcionadas às populações mais vulnerabilizadas (UCDB,
2014a).
A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) é uma universidade Comunitária,
Confessional, Católica e Salesiana. A titulação de Universidade Comunitária significa, segundo
o artigo 20 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, que “são instituídas por grupos de
pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, sem fins
4 A criação da UCDB ocorre em outubro de 1993, pela Portaria n° 1.547, do Ministério da
Educação e Cultura.
4
lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade” (BRASIL,
2010, p. 9).
De acordo com o Relatório Social de 2014, a Instituição oferece graduação universitária
em 32 cursos na modalidade presencial e 14 na modalidade à distância; 12 cursos de Pós-
graduação Lato Sensu presencial; 5 cursos de mestrado e 4 cursos de doutorado. Atualmente
conta com, aproximadamente, 10 mil estudantes.
No processo de implantação da Universidade foram criadas a Reitoria, as Pró-Reitorias5
e os Departamentos e, dentre esses, foi a pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários que
ficou também sob sua coordenação o Departamento de Ação Comunitária- DAC, sua maior
atuação está na responsabilidade pelos programas de bolsa. Nesse processo, o corpo de
profissionais foi formado exclusivamente por Assistentes Sociais, estagiárias do curso de
Serviço Social e uma secretária. Desvinculou-se também do atendimento psicológico que até
então era prestado no mesmo setor.
No ano de 2010, com a aprovação da Política Nacional de Assistência Estudantil-
PNAES (BRASIL, 2010), o Departamento de Ação Comunitária foi reordenado constituindo-
se no Setor de Assistência ao Estudante- SAE, realizando diferentes interlocuções institucionais
nesta temática, especialmente com o Ministério da Educação - MEC. Esse Setor atua como
mediador entre a Instituição, os acadêmicos e a comunidade e tem como objetivo:
Propiciar às pessoas em situação de vulnerabilidade social possibilidades de
acesso, permanência e conclusão ao ensino superior, na perspectiva da
inclusão social, com vista à formação integral do estudante e na melhoria do
desempenho acadêmico e da qualidade de vida (UCDB, 2011).
Na Universidade Católica Dom Bosco, embora não esteja coberta pela legislação federal
no que tange à PNAES, ou seja, não está obrigada da mesma forma que as Instituições Federais
de Ensino Superior – IFES a desenvolverem a PNAES, o SAE registra que sua atuação está em
consonância com esta política. Tem, portanto, a finalidade de ampliar as condições de
permanência dos jovens na educação superior. Conforme registra o Decreto 7234/2010, no seu
artigo 2º, são objetivos da PNAES:
I – democratizar as condições de permanência dos jovens na educação
superior pública federal;
II - minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência
e conclusão da educação superior;
III - reduzir as taxas de retenção e evasão; e
5 As Pro-Reitorias são: Pró-Reitoria Administrativa, Pró-Reitoria de Ensino e Desenvolvimento, Pró-Reitoria de
Extensão e Assuntos Comunitários, Pró-Reitoria de Pastoral, Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação.
5
IV - contribuir para a promoção da inclusão social pela educação (BRASIL,
2010).
O atendimento aos estudantes ocorre por diferentes demandas desses e, especialmente,
tem a ver com informações sobre benefícios que a UCDB oferece ou intermedeia. Por isso, no
SAE, há um conjunto de atividades de articulação junto a outras instituições públicas ou
internamente visando buscar apoio às necessidades dos estudantes, cujo maior volume refere-
se a bolsas e/ou financiamentos para acessar ou permanecer na Universidade.
Diferentemente do histórico da inserção do Serviço Social na política de educação,
pode-se afirmar que, atualmente, o SAE não atua no campo dos estudantes-problema do ponto
de vista de relações familiares, aprendizagem, comportamento em sala de aula. Como afirma
Barbosa (2015), a atuação histórica do Serviço Social no mundo escolar estava diretamente
destinada aos ajustamentos, à responsabilização das famílias e seus reajustamentos sociais. A
atuação da categoria dizia respeito à manutenção da ordem escolar, focalizando, nos indivíduos
e suas famílias, o escopo do agir profissional.
No caso da UCDB, o SAE cuja atuação é com universitários, portanto, quase todos com
mais de 18 anos e responsáveis por si, o ajustamento não ocorre do ponto de vista
comportamental, mas da intermediação entre programas públicos e próprios visando ao acesso
e permanência do ponto de vista da adimplência financeira e das condicionalidades para
manutenção do benefício.
A participação das Instituições de Ensino Superior - IES particulares e, como exemplo,
a UCDB, confessional comunitária, tem significativa importância no acesso de estudantes ao
nível superior. O INEP (2015) informa que as taxas de escolarização universitária que em 1970
correspondia a 8,3%, chega aos anos 2000 com 26,7%. No entanto, se considerarmos a relação
entre ensino público e privado, dentre as 7 milhões de vagas ocupadas em 2012, 73% era do
setor privado da educação. Os programas como o PROUNI e FIES tornam-se importantes elos
entre as políticas públicas de apoio aos estudantes e as Universidades privadas e, no caso da
UCDB, comunitária.
A intervenção do Estado, no caso brasileiro, não significa apenas a abertura de vagas
universitárias na rede própria de ensino superior. Ao contrário, também tem se apresentado em
um importante fomento de financiamento aos estudantes que acessam e permanecem em
instituições privadas. O acesso a esse financiamento tem diferentes condicionalidades e é nesse
campo que ocorre a atuação de profissionais de Serviço Social que atuam no setor privado ou
comunitário das IES.
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De acordo com o Relatório Social (2014), foram realizados, no SAE/UCDB, 29.990
atendimentos diretos aos estudantes, sendo que 50% desses referiu-se à solicitação de
informações diversas e cuja demanda foi considerada espontânea. É a partir desse atendimento
inicial que se inicia ou não a viabilização da demanda apresentada pelos estudantes. Como
podem ser observadas no gráfico a seguir, as solicitações referem-se ao acesso a bolsas,
financiamentos e transporte.
Figura 1: Gráfico demonstrativo do fluxo de Atendimento no SAE no ano de 2014.
Fonte: Relatório Social 2014 – UCDB.
Ao observar o gráfico, fica evidente que a demanda pelo transporte público constitui,
isoladamente, por mais de 1/3 do atendimento realizado pelo setor. A comprovação da condição
de estudante e as informações sobre a forma de acesso constituem-se nas principais ações desse
atendimento. Ressalte-se que esse direito não é conflitante com os demais, ou seja, os estudantes
que acessam as bolsas e financiamentos praticamente são também beneficiários do passe
estudante.
O manejo entre os objetivos institucionais, os programas públicos de apoio aos
estudantes e o projeto ético-político do Serviço Social compõe o cotidiano dos profissionais
que estão vinculados ao SAE. Esse espaço sócio-ocupacional está permeado por diferentes
fontes de demandas, contradições e mediações que articulam a singularidade de cada estudante,
a particularidade da condição institucional e essas ambas estão inseridas em uma sociedade em
que o capital e a educação vivem em permanente ajuste e conflito.
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Como afirma o CFESS (2012), a política de educação é o resultado de forças
contraditórias que historicamente construíram respostas ao acirramento entre a negação e o
acesso aos direitos. Também, no setor educacional, o capital procura assegurar estratégias de
reprodução e acumulação de riqueza. O status da UCDB – confessional e comunitária- embora
a coloque em patamares diferenciados em relação ao “mercado” da educação, do ponto de vista
do acesso dos estudantes às políticas, mantém, por vezes, a relação de ser não pública, ou seja,
não está sob sujeição a determinadas tratativas públicas, embora faça parte da Rede de
Educação. Por outro lado, em muitas situações ascende, nas suas proposituras, a condição de
ser comunitária, confessional e salesiana, ou seja, com forte compromisso a partir dessas
premissas.
Diante desta realidade, o objetivo deste artigo é descrever e analisar à luz do Serviço
Social os apoios estudantis operacionalizados no âmbito do SAE da Universidade Católica Dom
Bosco – UCDB, a partir dos critérios de elegibilidade, vínculo às políticas sociais e âmbitos de
governo e a ação do Setor.
2. METODOLOGIA
O estudo é qualitativo de análise documental. Como afirma Minayo (2010), trata-se de
ir em busca dos significados e das intenções, ou seja, não foi focado na quantidade de trabalho
ou de operacionalizações de apoios estudantis realizados, mas na compreensão de seus
benefícios e condicionalidade.
A coleta de dados ocorreu tanto em sites oficiais dos Programas Públicos
governamentais quanto nos documentos institucionais da Universidade Católica Dom Bosco.
Também foram utilizados os dados registrados no Diário de Campo, Diagnóstico Institucional
e Plano de Estágio da acadêmica.
A organização dos dados ocorreu primeiramente sobre o contexto histórico do
SAE/UCDB, seguido do levantamento dos diferentes apoios trabalhados no âmbito da
Instituição. Realizados os levantamentos nas fontes já descritas, elencou-se 8 (oito) apoios em
que há a participação efetiva do SAE e, em cada um deles, foram registrados três quesitos: tipo
de apoio; condicionalidades e atuação do SAE.
A análise de dados ocorreu a partir dos fundamentos do Serviço Social, utilizando
especialmente a teoria sócio-histórica apresentadas pelos autores que trabalham com a temática
do Serviço Social, Políticas Públicas e Educação.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir do Relatório Anual 2014 da UCDB e dos registros no Diário de Campo do
estágio em Serviço Social da pesquisadora, foram encontrados oito (8) tipos de apoio que são
realizados com os estudantes de graduação e pós-graduação da instituição, os quais passaremos
a descrever conforme os itens que foram definidos na metodologia.
3.1 Programa Universidade para Todos-PROUNI
3.1.1 Tipo de apoio: disponibiliza bolsas parciais (50%) e integrais (100%). A UCDB
aderiu ao PROUNI, mas somente disponibiliza vagas para as bolsas integrais.
3.1.2 Condicionalidades: a) É preciso que o candidato tenha participado do Exame
Nacional do Ensino Médio-ENEM e ter obtido no mínimo 450 pontos na média das notas do
Exame, ter obtido nota na redação que não seja zero; b) O candidato pré-selecionado deve ter
concluído o ensino médio na rede pública ou na rede particular de ensino na condição de
bolsistas integrais da própria escola; c) também são cobertos por este programas, estudante com
deficiência e professores da rede pública de ensino, no efetivo exercício do magistério da
educação básica, integrantes de quadro de pessoal permanente de instituição pública. d) A renda
familiar bruta não pode ultrapassar um salário mínimo e meio (vigente), e não é necessário que
o candidato esteja matriculado em alguma rede de ensino particular, mas deve ser sua primeira
graduação. e) Após o processo de aprovação da bolsa, o candidato deve obter no mínimo 75%
do aproveitamento acadêmico no semestre, sendo que o baixo aproveitamento pode ser
reconsiderado duas vezes (BRASIL, 2005).
3.1.3 Atuação do SAE: realizar entrevistas dos candidatos pré-selecionados; analisar e
elaborar pareceres sociais; acompanhar o aproveitamento acadêmico semestralmente; manter
atualizado os dados dos bolsistas. E manter o relacionamento com o MEC através da COLAP6.
6 São órgãos colegiados, de natureza consultiva instituídos em cada Instituição de Ensino Superior - IES
participante do Prouni, com função preponderante de acompanhamento, averiguação e fiscalização da
implementação local do Programa Universidade para Todos – Prouni nas IES, devendo promover também a
articulação entre a CONAP e a comunidade acadêmica das IES participantes do programa, com vistas ao seu
constante aperfeiçoamento. As Comissões Locais veem com a finalidade de aprimorar as relações acadêmicas
entre os bolsistas Prouni e as Instituições de Ensino Superior – IES.
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3.2 Financiamento Estudantil -FIES
3.2.1 Tipo de Apoio: financiamento a ser pago após a conclusão da graduação, sendo
que a porcentagem a ser financiada será definida de acordo com o comprometimento da renda
familiar mensal bruta per capita.
3.2.2 Condicionalidades: a) o estudante deve ter sido pré–selecionado em cursos
presenciais de graduação oferecidos por instituições de ensino superior. b) O candidato deve
participar do ENEM e ter obtido no mínimo 450 pontos na média geral do Exame, obtido nota
na redação que não seja zero; c) a renda per capita da família não pode ultrapassar a dois salários
mínimos e meio por pessoa. d) a manutenção do financiamento ocorre por aditamento semestral
que são as renovações dos contratos de financiamento (BRASIL, 2001).
3.2.3 Atuação do SAE: realizar os agendamentos e entrevistas para confirmação das
informações exigidas pelo Programa e encaminhar os processos aprovados às instituições
bancárias.
3.3 Programa Vale Universidade
3.3.1 Tipo de apoio: O Governo Estadual disponibiliza o custeio financeiro de duas
formas: 70% das mensalidades, e a Instituição disponibiliza 20%, totalizando 90% de desconto
no valor integral da mensalidade; ou é repassado para Instituição como limite máximo mensal
o valor de um salário mínimo somado com os 20% disponibilizado pela Instituição7.
3.3.2 Condicionalidades: a) o acadêmico deve estar matriculado em curso presencial de
bacharelado ou licenciatura autorizado pelo MEC, mantido por instituição de ensino superior
pública ou privada; b) não ser beneficiado por qualquer outro tipo de benefício ou de auxílio
financeiro, com a mesma finalidade do Programa; c) não ter registro de reprovação de qualquer
disciplina na data de inscrição e convocação pelo Programa; d) não possuir, simultaneamente,
outro membro da família beneficiado; e) Poderá se inscrever no Programa o acadêmico que
comprove renda individual igual ou inferior a R$ 1.448,00 (um mil, quatrocentos e quarenta e
oito reais) e renda familiar mensal não superior a R$ 2.896,00 (dois mil, oitocentos e noventa e
seis reais) e f)O acadêmico deverá realizar estágio com carga horária de 20 (vinte) horas
semanais, cumpridas em jornadas de 04 (quatro) horas diárias no período matutino ou
vespertino, compatíveis com o horário escolar. (MATO GROSSO DO SUL, 2009).
7 Cabe ao estudante realizar o pagamento da diferença do valor da mensalidade à Instituição.
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3.3.3 Atuação do SAE: realizar o cadastro das bolsas no sistema interno da Instituição,
acompanhar e atualizar os dados dos bolsistas e encaminhar para o Programa.
3.4 Bolsa Social
3.4.1 Tipo de apoio: disponibiliza bolsas parciais (50%) e integrais (100%). É um
programa interno da UCDB.
3.4.2 Condicionalidades: a) estar regularmente matriculado na Instituição no curso de
graduação presencial; b) não possuir nenhuma reprovação; c) não ter outro tipo de apoio
estudantil; d) e a renda per capita não pode ultrapassar a 2 salários mínimos e meio e e) O
bolsista precisa atingir o aproveitamento acadêmico de 75% semestralmente, podendo ser
reconsiderado duas vezes (UCBD, 2014).
3.4.3 Atuação do SAE: elaborar o edital e os instrumentais de inscrição para bolsa,
selecionar os acadêmicos que possuem perfil para bolsa, realizar entrevistas com os acadêmicos
pré-selecionados e elaborar seus pareceres e fazer o acompanhamento e monitoramento dos
aproveitamentos semestralmente.
3.5 Bolsa Social Indígena
3.5.1 Tipo de apoio: bolsas integrais.
3.5.2 Condicionalidades: a) acadêmicos que comprovadamente são indígenas em
aldeias urbanas, rural ou mesmo residentes dentro da área urbana que não são consideradas
aldeias; b) sejam encaminhados por meio do Núcleo de Pesquisa da População Indígenas-
NEPPI. c) Os estudantes precisam obter aproveitamento de 75% para permanecer com a bolsa,
podendo ser reconsiderado duas vezes (UCBD, 2014).
3.5.3 Atuação do SAE: realizar o cadastro das bolsas no sistema interno da Instituição,
acompanhar e atualizar os dados dos bolsistas e o aproveitamento acadêmico.
3.6 Bolsa Colaborador/ Dependente
3.6.1 Tipo de apoio: Desconto na mensalidade pode variar dependendo da renda do
trabalhador da UCDB, outros setores da Missão Salesiana e/ou grupo familiar.
3.6.2 Condicionalidades: a) ser trabalhador administrativo ou professor com vínculo
administrativo; ou b) ser cônjuge ou filho de trabalhador ou professor com vínculo empregatício
com a UCDB e Missão Salesiana nos cursos de educação básica (permuta no Colégio Dom
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Bosco), graduação e pós-graduação lato sensu8; c) os critérios são de acordo com o
Regulamento vigente de cada modalidade aprovado pela Direção, podendo ser alterado
anualmente (UCBD, 2014).
3.6.3 Atuação do SAE: analisar dos processos desta referida Bolsa, sendo que foram
utilizados todos os instrumentais necessários como entrevistas, visitas domiciliares, entre
outros.
3.7 Bolsa Cultura e Arte, Esporte e Cerimonial
3.7.1 Tipo de apoio: bolsa de 50% ou 100%, a ser decidido pela equipe de cada
atividade9.
3.7.2 Condicionalidades: a) aptidão nas modalidades inscritas.10 (UCDB, 2014).
3.7.3 Atuação do SAE: atualizar dados dos bolsistas, cadastrar e recadastrar as bolsas
no sistema interno da Instituição.
3.8 Passe do Estudante
3.8.1 Tipo de apoio: transporte sem custo para o estudante e são disponibilizados ônibus
nos períodos matutinos, noturnos e integrais de acordo com o horário de funcionamento do
curso11.
3.8.2 Condicionalidades: a) estar comprovadamente matriculados na Instituição de
ensino e b) distância mínima de 2.000 metros entre a residência do aluno e a unidade escolar
(CAMPO GRANDE, 1993).
3.8.3 Atuação do SAE: organização do dossiê contento o formulário de cadastro e
recadastro do passe estudantil contendo o formulário disponibilizado pelo programa, cópia do
comprovante de residência, e cópia do CPF do aluno e/ou do responsável, encaminhamento
deste dossiê a Agetran - Agência Municipal de Transporte e Trânsito.
A UCDB oferece outros tipos de apoio estudantis que não fazem parte da ação do SAE
e que estão vinculados à sua missão institucional e o vínculo confessional como a Bolsa
Seminarista e Seminaristas Diocesanos. Esses apoios não têm participação do SAE.
8 Nas bolsas de pós-graduação não contempla os dependentes, mas somente aqueles que diretamente tem vínculo
empregatício. 9 Atividades artísticas são: teatro, dança, coral, grupo musical; as desportivas são: de basquete, vôlei, handebol,
futsal e modalidades individuais (feminino e masculino). 10 Não são utilizados critérios de renda e aproveitamento escolar. 11 Não estão cobertas pelo passe do estudante as atividades que não sejam executadas no espaço físico da Instituição
e horário do curso.
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Tanto no apoio ao acesso quanto à permanência, as bolsas se constituem em importante
instrumento de apoio aos estudantes, como também no desenvolvimento das pesquisas e
extensão. Assim, as bolsas de doutorado, extensão, atleta pós-graduação, capacitação e Projeto
desafio conformam o conjunto de apoios realizados pela UCDB, sendo que nenhum desses tem
atuação do SAE.
De acordo com o Relatório de Atividades (2015B-2016A), a UCDB oferece 1.729
bolsas, com exceção do Fies, que não faz parte da ação do setor a sua manutenção12. Na bolsa
na modalidade atleta são oferecidas 70 bolsas parciais, sendo que 69 são bolsas integrais. Na
modalidade de Cultura e Arte são no total oferecidas 76 bolsas, sendo 62 bolsas parciais. Na
bolsa Social são oferecidas 523, sendo que 345 são bolsas parciais. O Prouni disponibiliza 891
bolsas integrais. E para as bolsas de Colaborador/Dependente e Permuta oferece 276 bolsas,
sendo 242 com bolsas integrais.
O conjunto do trabalho executado no SAE responde, portanto, por parte significativa da
visibilidade da UCDB junto aos estudantes e, por outro lado, no relacionamento com os vários
âmbitos de governo e seus diferentes programas. Em cada tipo de apoio a ser intermediado ou
mesmo disponibilizado, há demandas e critérios diferenciados que impõem manejos de
instrumentalidades do Serviço Social.
O conjunto de condicionalidades de que trata cada apoio a ser operacionalizado no SAE,
tendo este maior ou menor espaço de trabalho, tem a ver mais com os gestores públicos do que
necessariamente com a proposição dos trabalhadores no setor. É visível que grande parte das
bolsas tem a condicionalidade de renda pessoal e/ou familiar. Não sendo universidade pública,
o apoio recebido é uma forma de paga da mensalidade, ou seja, resolve a relação financeira
com a instituição e, não necessariamente, apoio às condições de vida para permanência.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças ocorridas no histórico da Missão Salesiana e sua inserção na política
educacional coadunam com as diferentes formas de atuação comunitária e assistência aos
estudantes que foram se modificando ao longo da sua história. Da Ação Comunitária -AC,
Departamento de Ação Comunitária- DAC ao Serviço de Assistência ao Estudante - SAE,
12 No SAE, o procedimento realizado pela equipe é o processo de pré-seleção, no qual o acadêmico ou candidato
apresenta os documentos solicitados pelo Programa para a confirmação do perfil, após este processo é
encaminhado ao banco.
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ocorreram mudanças de objetivos, campo de atuação e missão institucional que estão
diretamente vinculadas ao que é hoje a Universidade Católica Dom Bosco.
A relação com os diferentes âmbitos de governo, no que se refere à garantia de direito
dos estudantes, tem diferentes níveis de autonomia, sendo que, para cada programa,
determinadas ações são realizadas ou não.
Os apoios estudantis são fundamentais para acesso e permanência dos estudantes na
Universidade e há um crescente processo de benefícios que são agregados à atuação do SAE.
No entanto, o manejo dos apoios está praticamente focado no acesso ao pagamento das
mensalidades e ao transporte vinculado ao comparecimento às aulas regulares.
A Política Nacional de Assistência Estudantil-PNAES, embora não exija cumprimento
por parte da UCDB das mesmas ações, pode compor um conjunto possível de atuação que leve
em conta outras necessidades dos estudantes. Em especial, destaque-se o enfrentamento às
discriminações e às violências que podem ocorrer no ambiente universitário e que promovem a
expulsão dos bancos escolares, assim como a falta de condições como acesso a recursos que
possam apoiar os estudos, como a compra de material escolar, livros, vestimentas, computador,
internet, etc...
A ideia de centrar a atuação profissional a partir vulnerabilidade social apresentadas
pelos estudantes coloca em questão o agir profissional baseado na focalidade do problema, e
não sobre as expressões de desigualdade social. Com isso, a universalidade é desconsiderada
como meta, sendo as condicionalidades naturalizadas como forma de gestão da pobreza. A
atuação do Serviço Social é centrada nas ações finalísticas em detrimento da gestão,
planejamento e pesquisa, reduzindo o escopo profissional ao nível da execução do que está
posto. O espaço sócio ocupacional dos profissionais, determinado tanto pelas políticas sociais
quanto pelas relações de trabalho, está configurado em um exercício de possibilidades de
manejo das condições e não da qualidade individual da formação profissional.
Mesmo considerando que um número importante de concessão de benefícios não está
vinculado ao SAE, é fundamental considerar que o número de bolsistas e acessantes do FIES é
significativo para o próprio desenvolvimento da Universidade. Por outro lado, a condição de
ser confessional e ter vínculo histórico com os indígenas mantém esses grupos como
participantes da Universidade. A presença de grupos étnico e raciais, sobretudo participantes
das classes subalternizadas não tem significado um trabalho de empoderamento por parte do
Serviço Social, embora haja relatos que outros projetos internamente na universidade o façam.
A partir dos fundamentos do Serviço Social, reafirma-se que o projeto ético-político da
categoria é totalmente vinculado à busca da universalização de direitos e ao enfrentamento das
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desigualdades. Estas, na sociedade e no interior da Universidade, se manifestam por
discriminações e injustiças de gênero, etnorracial, geração, orientação sexual, com as pessoas
vivendo com deficiência e/ou advindas de territórios rurais ou longínquos. Compondo com
todas as injustiças já citadas, é na desigualdade de classe que reside a maior delas e, por isso,
todas as expressões da questão social precisam estar no cotidiano dos espaços sócio-
ocupacionais.
Na UCDB, há um território importante para que ocorram ações emancipatórias não
somente com aqueles mais atingidos pelas desigualdades, mas como espaço universitário que
propicia diferentes processos de construir saberes e desconstruir preconceitos e discriminações.
As condições técnicas e científicas estão postas enquanto detentora de missão institucional e
qualidade de corpo docente. No entanto, há que se construir as condições políticas como
fundamento para que as práticas pedagógicas libertárias ocorram em um ambiente educador
que acolhe as diversidades e as potencializa.
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