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Apostila de Prevenção ao Bullying Escolar “compreensões sobre o fenômeno”

Prof. Paulo César Antonini de Souza

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“Tolerar a existência do outro, e permitir que ele seja diferente, ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro. Deveríamos criar uma relação entre as pessoas, da qual estivessem excluídas a

tolerância e a intolerância.” (José Saramago)

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Introdução à apostila

Esta apostila é uma proposta de trabalho criada para complementação pedagógica de um projeto que desenvolvi entre 2006 e 2008 na Escola Estadual Professora Dinah Lucia Balestrero, localizada no município de Brotas, interior do estado de São Paulo (http://www.escoladinah.com.br). Formam o corpo deste material, uma seleção de textos e sugestões para aprofundamento do estudo, que permitem a docentes e discentes, aproximarem-se do tema Bullying e principiar uma discussão sobre esse fenômeno social.

Não há aqui a pretensão de resumir o assunto, muito pelo contrário, é com a intenção de fomentar a curiosidade a respeito do mesmo e para complementação pedagógica discente em sala de aula (a partir da intervenção realizada em 2008 na Escola Dinah) que esse material foi criado.

Nesse sentido, ao encararmos as relações humanas, de convívio ideológico, político, emocional, cultural etc., e suas complexidades, principalmente se levamos em conta que cada pessoa carrega dentro de si, uma quantidade diversa de referências e modelos de vida e pensamento; relações essas, utilizadas na construção de nossa sociedade, não há como se distanciar das questões relacionadas ao respeito a outrem.

A família, a comunidade, os meios de comunicação e também a escola, cada qual dentro de suas limitações e variáveis de alcance, são participantes da construção e/ou descoberta dos valores que cada um de nós priorizará em nosso desenvolvimento e na elaboração múltipla e singular que assumiremos como personalidade, afinal, como diz BUORO (1996): “A vida adquire sentido para o ser humano à medida que ele organiza o mundo. Por meio das percepções e interpretações, os sistemas externos da realidade são mapeados nos sistemas internos do ser” (p. 19).

As relações sociais surgidas no universo escolar estruturam cultural e historicamente, momentos (educativos ou não) de vivência significativa para a maioria das pessoas que utilizam esse espaço. No entanto, muitas dessas relações, dão mostras de uma convivência nem sempre tão pacífica como era de se esperar em um local de troca de experiências e de crescimento do ser humano e formação dos cidadãos (ãs), e para isso, devemos atentar que:

Cidadãos são mulheres e homens que tomando a história dos grupos a que pertencem nas mãos, empreendem luta para que todos, nas suas particularidades sejam reconhecidos, aceitos e respeitados, buscam garantias para participar das decisões que encaminharão os destinos da sua comunidade, da nação onde exercem a sua cidadania, do continente onde vivem. (SILVA; ARAÚJO-OLIVEIRA, 2004, p. 6)

Um grande avanço nas relações e na participação dos (as) estudantes em decisões importantes para a escola pode ser alcançado com o desenvolvimento do trabalho em busca da compreensão sobre o bullying, entretanto, ainda há muito que se buscar, como a inclusão de medidas preventivas regulamentares nos Regimentos Internos Escolares sobre a prática e os praticantes de bullying. O reflexo dessa necessidade, pode ser verificado na fala de uma das discente participantes do projeto neste ano:

(...) pequenas coisas fazem a diferença, pequenos atos podem criar grandes esperanças dentro de você. (...) O bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola. A escola que não admite existir o bullying não está tentando ajudar. E qualquer um pode ser o agressor ou a vítima. (ALUNA 2º A – 2008 – Escola Dinah).

Espero que aqueles e aquelas que decidirem-se a utilizar este material, mantenham sua configuração original e consigam, de alguma maneira, trazer à discussão a violência entre pares nas escolas, se não para o incentivo de uma humanização necessária à vida social, pelo menos em direção a uma postura reflexiva acerca das práticas que envolvem o estar ao mundo com os outros.

Paulo César Antonini de Souza1 Brotas, SP - Dezembro de 2008.

1 Graduado em Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas pela UNESP de Bauru, mestrando em Educação pela UFSCar. Membro do Núcleo de Estudos em Fenomenologia em Educação Física e da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana. Atua na rede estadual paulista de ensino como professor de Artes.

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Uma conversa inicial Cleo Fante 2

Humilhação e cabeças rapadas para “domesticar” novatos

Há muito tempo a violência entre estudantes tem sido um traço característico das relações escolares. Entretanto, seu foco era direcionado ora para a violência contra a escola e seus representantes (no caso das rebeliões estudantis), ora para os próprios pares (como nos trotes). No que se refere às rebeliões, registros mostram sua ocorrência já no século XVII, na França. A de 1883, no Liceu Louis-le-Grand, em conseqüência da expulsão de um aluno, tornou-se célebre. As revoltas de estudantes contra os pedagogos eram constantes e marcadas por atos de violência, inclusive com a utilização de instrumentos como bastões, pedras, espadas e chicotes. Já a origem dos trotes estudantis é incerta; porém, existem registros de sua ocorrência na Idade Média. Um dos documentos mais antigos desse tipo data de 1342 e refere-se à Universidade de Paris. Nas instituições européias, era comum separar os novatos dos veteranos. Aos novos alunos era negada a possibilidade de assistir às aulas junto com os demais, no interior das salas: eles eram obrigados a se dirigir aos vestíbulos (pátios de acesso ao prédio) – daí o uso do termo vestibulando para identificar aqueles que estão prestes a entrar para a universidade. Sob a alegação de profilaxia e necessidade de manter a higiene, os novatos tinham a cabeça rapada e, na maioria das vezes, suas roupas eram queimadas. Essa prática, no entanto, logo se converteu numa espécie de culto à humilhação. Freqüentemente, os trotes assumiam conotações sexuais, transformando-se em humilhantes orgias para aqueles que eram submetidos a elas. Com o tempo, os trotes ganharam ainda mais requintes de crueldade. Foram registrados, sobretudo, nas universidades de Heidelberg (Alemanha),

Bolonha (Itália) e Paris (França), situações em que os calouros eram obrigados pelos veteranos a beber urina e a comer excrementos antes de serem declarados “domesticados”.

O julgamento dos monstros fedorentos

No início do século XX, na Alemanha, era comum que calouros fossem obrigados a vestir roupas feitas de falsa pele de animal, com orelhas, chifres e presas. Fantasiado, o jovem era arrastado pelos colegas até cinco ou seis “juízes”, sob olhares atentos de uma grande platéia. Era insultado e tratado como “monstro fedorento” por “assistentes”

que em dado momento recebiam ordens para “depená-lo”, cortando-lhe as orelhas com tesouras e os chifres com serras; os dentes eram arrancados com tenazes. O nariz era limado e as nádegas, “polidas”; o novato era sacudido, empurrado e, por fim, açoitado com varas. Durante a tortura, o calouro tinha de se reconhecer culpado de inúmeros “pecados”, sobretudo sexuais. E, como penitência, era obrigado a oferecer um banquete aos veteranos.

Tragédia na escola

Os maus-tratos repetidos podem ao longo do tempo causar graves danos ao psiquismo e interferir negativamente no processo de desenvolvimento cognitivo, emocional, sensorial e socioeducacional. Quando os ataques são crônicos, as vítimas podem se tornar agressoras; em casos extremos, muitas vezes resultam em tragédias escolares, como as de Columbine (1999) e Virginia Tech (2007), nos Estados Unidos, as de Taiúva (2003) e Remanso (2004), no Brasil, e a da Finlândia (2007). 2 Cleo Fante é consultora educacional, doutoranda em ciências da educação da Universidade de Ilhas Baleares, Espanha, pesquisadora do bullying escolar, vice-presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes) e autora do livro Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz (Verus, 2005).

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CONCEITOS-CHAVE Sentimentos de insegurança, inferioridade, incompreensão, revolta e desejos de vingança causados por essa situação podem resultar em stress intenso, depressão, fobias e culminar em suicídio e assassinatos. Muitos não resistem à pressão e abandonam a vida acadêmica, carregando consigo a dor e a frustração de ter pertencido a uma instituição que nada fez para romper com essa cultura. Outros se resignam e aceitam submeter-se à opressão e tortura, ou se tornam cúmplices delas: respaldados na tradição dos trotes, justificarão seus atos de posterior dominação. É a intenção de fazer mal e a persistência dos atos que diferencia o bullying de outras formas de violência. Em razão de atitudes agressivas e abusos psicológicos, sob a alegação de que se trata de “brincadeiras”, muitos estudantes se convertem em “bodes expiatórios” do grupo, desde a sua entrada no ensino superior até a sua conclusão e, em alguns casos, essa situação se perpetua na vida adulta.

A Forma Escolar da Tortura

Rubem Alves

Eu fui vítima dele. Por causa dele odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas eu o via diariamente. Naquela adolescente gorda de rosto inexpressivo que caminhava olhando para o chão. E naquela outra, magricela, sem seios, desengonçada, que ia sozinha para a escola. Havia grupos de meninos e meninas que iam alegremente, tagarelando, se exibindo, pelo mesmo caminho... Mas eles não convidavam nem a gorda e nem a magricela. Dediquei-me a escrever sobre os sofrimentos a que as crianças e adolescentes são submetidos em virtude dos absurdos das práticas escolares. Mas nunca pensei sobre os sofrimentos que colegas infligem a colegas seus. Talvez eu preferisse ficar na ilusão de que todas as crianças e todos os adolescentes são vítimas. Não são. Crianças e adolescentes podem ser cruéis. “Bullying” é o nome dele. Fica o nome inglês porque não se encontrou palavra em nossa língua que seja capaz de dizer o que “bullying” diz. “Bully” é o valentão: um menino que, em virtude de sua força e de sua alma deformada pelo sadismo tem prazer em intimidar e bater nos mais fracos. Vez por outra as crianças e adolescentes brigam em virtude de desentendimentos. São brigas que têm uma razão. Acidentes. Acontecem e pronto. Não é possível fazer uma sociologia dessas brigas. Depois da briga os briguentos podem fazer as pazes e se tornarem amigos de novo. Isso nada têm a ver com o “bullying”. No “bullying” um indivíduo, o valentão, ou um grupo de indivíduos, escolhe a sua vítima que vai ser o seu “saco de pancadas”. A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles “não vão com a cara” da vítima. É preciso que a vítima seja fraca, que não saiba se defender. Se ela fosse forte e soubesse se defender a brincadeira não teria graça. A vítima é uma peteca: cada um bate e ela vai de um lado para outro sem reagir. Do “bulling” pode-se fazer uma sociologia porque envolve muitas pessoas e tem continuidade no tempo. A cada novo dia, ao se preparar para a escola, a vítima sabe o que a aguarda. Até agora tenho usado o artigo masculino – mas o “bullying” não é monopólio dos meninos. As meninas usam outros tipos de força que não a força dos punhos. E o terrível é que a vítima sabe que não há jeito de fugir. Ela não conta aos pais, por vergonha e medo. Não conta aos professores porque sabe que isso só poderá tornar a violência dos colegas mais violenta ainda. Ela está condenada à solidão. E ao medo acrescenta-se o ódio. A vítima sonha com vingança. Deseja que seus algozes morram. Vez por outra ela toma providências para ver seu sonho realizado. As armas podem torná-la forte. Freqüentemente, entretanto, o “bullying” não se manifesta por meio de agressão física mas por meio de agressão verbal e atitudes. Isolamento, caçoada, apelidos. Aprendemos dos animais. Um ratinho preso numa gaiola aprende logo. Uma alavanca lhe dá comida. Outra alavanca produz choques. Depois de dois choques o ratinho não mais tocará a alavanca que produz choques. Mas tocará a alavanca da comida sempre que tiver fome. As experiências de dor produzem afastamento. O ratinho continuará a não tocar a alavanca que produz choque ainda que os psicólogos que fazem o experimento tenham desligado o choque e tenham ligado a alavanca à comida. Experiências de dor bloqueiam o desejo de explorar. O fato é que o mundo do ratinho ficou ordenado. Ele sabe o que fazer. Imaginem agora que uns psicólogos sádicos resolvam submeter o ratinho a uma experiência de horror: ele levará choques em lugares e momentos imprevistos ainda que não toque nada. O ratinho está perdido. Ele não tem formas de

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organizar o seu mundo. Não há nada que ele possa fazer. Os seus desejos, eu imagino, seriam dois. Primeiro: destruir a gaiola, se pudesse, e fugir. Isso não sendo possível, ele optaria pelo suicídio. Edimar era um jovem tímido de 18 anos que vivia na cidade de Taiúva, no estado de São Paulo. Seus colegas fizeram-no motivo de chacota porque ele era muito gordo. Puseram-lhe os apelidos de “gordo”, “mongolóide”, “elefante-cor-de-rosa” e “vinagrão”, por tomar vinagre de maçã todos os dias, no seu esforço para emagrecer. No dia 27 de janeiro de 2003 ele entrou na escola armado e atirou contra seis alunos, uma professora e o zelador, matando-se a seguir. Luis Antônio, garoto de 11 anos. Mudando-se de Natal para Recife por causa do seu sotaque passou a ser objeto da violência de colegas. Batiam-lhe, empurravam-no, davam-lhe murros e chutes. Na manhã do dia fatídico, antes do início das aulas, apanhou de alguns meninos que o ameaçaram com a “hora da saída”. Por volta das dez e meia, saiu correndo da escola e nunca mais foi visto. Um corpo com características semelhantes ao dele, em estado de putrefação, foi conduzido ao IML para perícia. Achei que seria próprio falar sobre o “bullying” na seqüência do meu artigo sobre o tato que se iniciou com esta afirmação: O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre Eros e Tânatos. É através do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece. “Bullying” é a forma escolar da tortura.

Brincadeiras perversas

O bullying é caracterizado por violência recorrente, desequilíbrio de poder e intenção de humilhar; a prática, freqüente nas escolas, pode levar as vítimas à depressão e ao suicídio

Cleo Fante Em razão de atitudes agressivas e abusos psicológicos, sob a alegação de que se trata de “brincadeiras”, muitos estudantes se convertem em “bodes expiatórios” do grupo, desde a sua entrada no ensino superior até a sua conclusão e, em alguns casos, essa situação se estende na vida profissional. Os que se negam a participar da “interação” são sumariamente coagidos, intimidados, perseguidos ou mesmo isolados do convívio e das atividades dos demais. Em muitas situações, o trote, que seria um ato pontual, se prolonga numa série de ações repetitivas e deliberadas. Sobre as vítimas dessa perseguição recaem prejuízos, que podem afetar várias áreas de sua vida afetiva, acadêmica, familiar, social e profissional. Sentimentos de insegurança, inferioridade, incompreensão, revolta e desejos de vingança podem resultar em stress intenso, depressão, fobias e culminar em suicídio e assassinatos. Outros não resistem à pressão e abandonam a vida acadêmica, carregando consigo a dor e a frustração de ter pertencido a uma instituição que nada fez para romper com essa cultura. Por outro lado, existem os que se resignam e aceitam submeter-se às diversas formas de opressão e tortura, ou se tornam cúmplices delas: respaldados na tradição dos trotes, justificarão seus atos de posterior dominação. Há ainda aqueles que apenas presenciam o que acontece aos colegas, mas, mais tarde, também se sentirão aptos a reproduzir a experiência. Estamos, assim, diante de uma dinâmica repetitiva de abusos, já que aquele que foi vítima tende a ser algoz no futuro – seja no ambiente acadêmico, profissional, social ou na instituição familiar. No ambiente profissional essas práticas ocorrem tantas vezes que chegam a ser vistas como “normais”. De acordo com a freqüência e a intensidade os atos podem se caracterizar como assédio moral. Há grande probabilidade de que suas conseqüências afetem a saúde mental de trabalhadores, comprometendo a auto-estima, a vida pessoal e o rendimento profissional, resultando em queda da produção, faltas freqüentes ao trabalho,

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licenciamentos para tratamento médico, abandono do emprego ou pedidos de demissão, alto grau de stress, depressão e, em casos extremos, suicídio. No contexto familiar, a violência pode ser vista como “prática educativa” ou forma eficaz de controle, validada pela maioria que a presencia ou a vive, incluindo a própria vítima. Tanto no contexto profissional quanto na família há estreita ligação de dependência – afetiva, emocional ou financeira – entre os protagonistas. Isso faz com que as vítimas em geral se calem e carreguem consigo uma série de prejuízos psíquicos. Pesquisas mostram que grande parte daqueles que sofreram abusos psicológicos na infância utilizará na vida adulta essas práticas na educação de seus filhos, acreditando ser esse o procedimento mais adequado. Outros se tornarão submissos, passivos, indefesos, acreditando ser merecedores dos maus-tratos. Muitos ainda reproduzirão a violência no espaço socializador imediato à família, ou seja, na escola. Assassinato psíquico

É na análise das relações entre os adultos e na observação das interações de grupos de crianças na escola que se alarga nossa percepção sobre o círculo vicioso de abusos. O que antes se acreditava ocorrer apenas nas relações entre os adultos – descritas como padrões relacionais disfuncionais, abusive relationships – se verifica também entre as crianças com idade igual ou semelhante. Trata-se do bullying escolar: um conjunto de comportamentos marcados por atitudes abusivas, repetitivas e intencionais e pelo desequilíbrio de poder. Bullying é um termo de difícil tradução na língua portuguesa, assim como a dor e o sofrimento daqueles que são vítimas desse fenômeno antigo, mas apenas recentemente identificado. Pode ser considerado um problema mundial que ocorre em todas as escolas, independentemente de serem públicas ou privadas, de sua localização ou dos turnos de funcionamento. Trata-se de uma forma quase invisível, que sorrateiramente vai diminuindo o outro, como se fosse uma espécie de “assassinato psíquico”. Suas conseqüências afetam todos os envolvidos, porém, os maiores prejudicados são mesmo as vítimas diretas, que suportam silenciosas o seu sofrimento. Alguns motivos justificam o silêncio: o medo de represálias e de que os ataques se tornem ainda mais persistentes e cruéis; a falta de apoio e compreensão quando se queixam aos adultos; a vergonha de se exporem perante os colegas; o sentimento de incompetência e merecimento dos ataques; o temor das reações dos familiares, que muitas vezes incentivam o revide com violência ou culpabilizam as vítimas. Apesar de os educadores saberem da existência dessa forma de violência, nenhuma ação efetiva foi adotada até os anos 70, por acreditarem ser “brincadeira própria da idade” ou do processo de amadurecimento do indivíduo. Infelizmente, muitos ainda têm esse olhar, o que colabora significativamente para sua disseminação. O despertar para a gravidade desse comportamento teve início há cerca de duas décadas, primeiro na Suécia e anos depois na Noruega, onde a questão se tornou tema de estudos científicos. O pesquisador norueguês Dan Olweus, professor da Universidade de Bergen, reconhecido internacionalmente como pioneiro nas investigações sobre o fenômeno, observou os altos índices de suicídio entre os estudantes e constatou a relação com o bullying na escola. Aos poucos, o tema despertou interesse em outros países, inclusive no Brasil. Nossos estudos sobre a temática são recentes, datam de 2000, motivo pelo qual muitos ainda desconhecem o tema, sua gravidade e abrangência. Apesar dos recentes estudos, pesquisas revelam que 45% dos estudantes brasileiros estão envolvidos diretamente no fenômeno.

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Assim como no mundo dos adultos, os autores de bullying planejam meticulosamente seus ataques. Escolhem dentre seus pares uma “presa” que pareça vulnerável – aquela que não oferecerá resistência, não revidará, não denunciará e nem conseguirá fazer com que outros saiam em sua defesa. Desferem seus golpes de modo a humilhar, constranger, difamar, menosprezar, excluir a vítima e intimidá-la de forma direta ou indireta. Para isso, se utilizam de várias estratégias, como apelidos pejorativos, comentários maldosos, calúnias, gozações, piadas jocosas relacionadas à sexualidade, insinuações, assédios, ameaças, danificação ou furto de pertences, empurrões, chutes, socos, pontapés, invasões e ataques virtuais, entre outras. Esse tipo de comportamento preocupa pais e educadores de todo o mundo, especialmente por envolver crianças muito novas. O bullying pode ser identificado a partir dos 3 anos, quando a “intencionalidade desses atos já pode ser observada”. As meninas agem de forma ainda mais velada e cruel. Enquanto os garotos escolhem aleatoriamente seus alvos, elas elegem as próprias amigas e “executam o plano” no horário do lanche ou de lazer. Infernizam a vida da colega e desferem contra ela diversas formas de maus-tratos. Uma das mais freqüentes e dolorosas é a exclusão social: ficam “de mal” ou fingem não reconhecer a vítima. Intimidam, constrangem, exigem que traga algo de casa para a escola de que muitas vezes não dispõem, visando ridicularizá-la ou isolá-la. Fofocam, inventam mentiras, ameaçam e contam seus segredos aos outros. Riso e aplauso

Independentemente da idade dos envolvidos e do local onde ocorrem os assédios, parece haver entre aqueles que presenciam a situação certo grau de tolerância ou até mesmo de conivência. Em alguns casos, alegam que a vítima “merece” hostilidade por causa do seu comportamento provocativo ou passivo. Alguns chegam mesmo a rir e incentivar o que ocorre ao “bode expiatório” – uma atitude que fortalece a ação dos autores e sua popularidade. Outros temem ser o próximo alvo, preferindo, assim, fazer parte do grupo de agressores, o que garante a sua segurança na escola. Com a conivência do grupo e a omissão dos adultos, os “valentões” tendem, cada vez mais, a abandonar sentimentos de generosidade, empatia, solidariedade, afetividade, tolerância e compaixão. Falhas na formação do caráter se tornam mais acentuadas e, infelizmente, muitos pais e educadores não percebem – ou fingem não perceber – o que se passa. Com o tempo, as forças do indivíduo que sofre os abusos são minadas, seus sonhos desaparecem, aos poucos ele vai se fechando e se isolando. Esse talvez seja o pior momento na vida das vítimas: o abandono de si mesmo. Muitos não superam as humilhações vividas durante os anos de escola e podem tornar-se adultos abusivos, depressivos ou compulsivos. Tendem a apresentar problemas na vida afetiva, por não confiar nos parceiros. Na vida laboral, podem desenvolver dificuldade de se expressar, principalmente em público, evitar assumir postos de liderança e apresentar déficit de concentração e insegurança, principalmente quando precisam resolver conflitos ou de tomar decisões. Ou seja, tornam-se presa fácil do assédio moral. Quanto à educação dos filhos, há grandes probabilidades de que se mostrem superprotetores, projetando sobre eles seus medos, desconfianças e inseguranças. É importante, porém, lembrar que estamos nos referindo a um comportamento repetitivo, deliberado e destrutivo, diferentemente de um comportamento agressivo pontual, numa situação em que a criança, na disputa de um brinquedo ou de seu espaço, ataca o outro

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com mordidas e socos ou com xingamentos e ameaças. Não nos referimos aqui às divergências de pontos de vista, de idéias contrárias e preconceituosas que muitas vezes redundam em discussões, desentendimentos, brigas ou conflitos sociais ou às disputas profissionais, em que o colega é visto como empecilho para uma promoção, por exemplo. Também não aludimos a pais que, em sua ignorância, aplicam “corretivos” nos filhos quando estes os desafiam, desobedecem ou desapontam. Referimos-nos a uma ação violenta gratuita e recorrente, baseada no desequilíbrio de poder. É a intencionalidade de fazer mal e a persistência dos atos que diferencia o bullying de outras formas de violência. É por meio da desestabilidade emocional das vítimas e no apoio do grupo que os autores ganham simpatia e popularidade. A busca por sucesso, fama e poder a qualquer preço, o apelo ao consumismo, à competitividade, ao individualismo, ao autoritarismo, à indiferença e ao desrespeito favorecem a proliferação do bullying. E seu potencial de destruição psíquica não cessa com o fim da escolaridade ou da adolescência: se desdobra em outros contextos, num movimento contínuo e circular. O que se sabe é que esse movimento não pode mais ser ignorado. É necessário estudá-lo à luz das diversas ciências, para que possamos compreendê-lo melhor. É imprescindível a adoção de medidas emergenciais por parte de autoridades, instituições, empresas, famílias, enfim, da sociedade, uma vez que seus prejuízos afetam a todos os níveis e contextos sociais. Ignorar a situação é abrir espaços para muitos protótipos de tiranos, que estão hoje em pleno desenvolvimento. Afinal, no futuro, não serão estes que ingressarão nas universidades, que desempenharão cargos importantes em grandes empresas, que aplicarão leis e penas, que serão manchete em noti-ciá-rios- sobre violência, que nos representarão no poder e serão responsáveis pela educação das crianças?

Ciberbullying - perigo anônimo Rafael Argemon - Beatriz Rizek - José Alves

A internet, que pode ser um instrumento de auxílio às vítimas – como no exemplo de Daniele3 - também é usada por agressores em uma forma ainda mais prejudicial de bullying, o ciberbullying, que transfere para a internet as agressões que acontecem na sala de aula, no pátio e nos arredores do colégio, transcendendo os limites da instituição de ensino. Hostilidades sempre existiram no ambiente escolar, mas elas se potencializam na rede mundial de computadores, diante da facilidade atual de criar páginas e comunidades na internet. Para humilhar colegas de escola, os meios utilizados vão desde e-mails e mensagens de celular, passando por fotografias digitais e montagens degradantes, a blogs com mensagens ofensivas. Os ataques também tomam forma em vídeos humilhantes e ofensas em salas de bate-papo. "No mundo real, a agressão tem começo, meio e fim. Na internet, ela não acaba, fica aquele fantasma", compara Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor de prevenção da SaferNet Brasil, ONG cujo foco é desenvolver trabalhos contra a pornografia infantil na web. O resultado preliminar de uma enquete sobre segurança na internet realizada no site da ONG assusta: 46% de 510 crianças e adolescentes que responderam ao questionário afirmam que foram vítimas de agressões pela internet ao menos uma vez; 34,8% dizem que foram agredidos mais de duas vezes. "A forma virtual é mais fácil de ser empregada do que as demais (física, verbal, sexual, material, psicológica), pois basta um toque na tecla 'enviar' para que os ataques se tornem reais. Tudo pode ser feito de forma anônima", explica Cleo Fante. Na escola, a identificação é mais fácil. Dependendo do grau de intensidade, as conseqüências podem incidir na saúde física, mental e na aprendizagem. Na Inglaterra, essa forma de praticar bullying foi responsável pelo suicídio de alguns adolescentes. E nesta categoria de bullying, não só os colegas da escola são vítimas, mas também professores, coordenadores e diretores de escolas. "Qualquer um de nós pode se tornar

3 Daniele Vuoto foi vítima do bullying e mantém um blog para falar sobre o fenômeno. Disponível em: http://nomorebullying.blig.ig.com.br/ . Acesso em 02 dez. 2008. [grifo meu]

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vítima de ataques virtuais e se deparar com fotografias montadas, piadinhas, comentários sexistas ou racistas sobre nossa própria intimidade", afirma Cleo Fante. Segundo um estudo inglês encomendado pela Secretaria da Educação da Inglaterra, a popularização de equipamentos eletrônicos e o acesso à web agravou os casos de bullyng. Na pesquisa, 70% das crianças entre 12 e 15 anos afirmam já terem sido vítimas de ciberbullyng, que pode ser a publicação de foto montagens na internet, a divulgação de vídeos da criança sendo ofendida ou agredida por colegas entre outras formas de constrangimento. No texto, os pesquisadores afirmam que o bullyng é registrado em diversos países e culturas e pode gerar distúrbios graves nas crianças vítimas deste tipo de assédio. Entre as conseqüências estão o isolamento da criança, a piora no seu nível de aprendizado e a formação de pessoas violentas. O estudo sugere uma ação mais ativa por parte das instituições de ensino para identificar e punir alunos que agridem colegas e sugere que o tema seja discutido em sala de aula, a fim de gerar uma cultura contra o bullying.

"O que me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons" –

Martin Luther King 4

Mitos que sustentam a continuidade do fenômeno

• O bullying é implicância de criança e não as afeta.

• O bullying termina quando os alunos saem do ensino fundamental.

• A criança que conta que alguém está praticando bullying com ele/a é delator/a.

• A criança que sofre bullying deve retaliar (Lei da Selva).

• A culpa é da vítima, que é fraca, impopular, sensível demais.

• Passar pelo bullying torna a criança mais forte e preparada para a vida.

• Crianças devem enfrentar o bullying como adultos, resolvendo o problema do bullying por

si próprias.

• O bullying é um ritual de passagem normal entre crianças e adolescentes, é uma situação

inevitável.

• Na nossa escola não há bullying.

• O bullying não é importante. Temos problemas mais prioritários nessa escola.

• Se aparecer casos de bullying vamos pensar no problema.

• O problema é dos pais.

• O problema é das crianças.

4 Citação presente no texto “O silêncio dos bons” de D. Luis C. Eccel. Disponível em: http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=29780. Acesso em 02 dez. 2008.

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Os protagonistas do fenômeno

AGRESSORES São os bullies, aqueles que adotam comportamentos abusivos.

ESPECTADORES Assistem a tudo, calados, sofrendo as conseqüências.

VÍTIMAS Vítimas típicas ou passivas:

Servem de “bodes expiatórios” para um indivíduo ou grupo. Vítimas provocadoras:

Provocam reações agressivas, contra as quais não conseguem lidar com eficiência. Vítimas agressoras:

Reproduzem contra outros, os maus-tratos sofridos.

Características da vítima

Durante o recreio está sempre isolado e separado do grupo, ou procura ficar próximo de algum adulto.

Na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou ansioso.

Nos jogos em equipe é o último a ser escolhido. Apresenta-se comumente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito. Apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares. Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada. Falta às aulas com certa freqüência. Perde seu material ou objetos, constantemente.

Características do agressor

Faz brincadeiras ou gozações, além de rir de modo desdenhoso ou hostil. Coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome, de forma malsoante; insulta,

menospreza, ridiculariza e difama. Faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga. Incomoda, intimida, empurra, picha, dá socos,

pontapés, belicões, puxa os cabelos, envolve-se sempre em discussões e desentendimentos. Pega sem consentimento dos colegas, seu material escolar, dinheiro, lanches e outros

pertences.

As principais formas de maus-tratos:

Físico (bater, chutar, beliscar).

Verbal (apelidar, xingar, zoar).

Moral (difamar, caluniar, discriminar).

Sexual (abusar, assediar, insinuar).

Psicológico (intimidar, ameaçar, perseguir).

Material (furtar, roubar, destroçar pertences).

Virtual (zoar, discriminar, difamar, por meio da internet e celular).

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Apostila de Prevenção ao Bullying Escolar “compreensões sobre o fenômeno”

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Como Proporcionar Um Ambiente Saudável Na Escola

Esclarecer o que é Bullying; Avisar que a prática não é tolerada; Conversar com os alunos e escutar atentamente as reclamações e sugestões; Estimular os estudantes a informar os casos; Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema; Identificar possíveis agressores e vitimas; Acompanhar o desenvolvimento de cada um; Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regime

escolar; Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos; Interferir indiretamente nos grupos o quanto antes, para quebrar a dinâmica de Bullying; Prestar a atenção nos mais tímidos e calados. Geralmente as vitimas se retraem.

As conseqüências do fenômeno Bullying

CONSEQUÊNCIAS PARAS VÍTIMAS Aprendizagem - déficit de concentração - desenvolvimento ou agravamento das Síndromes de aprendizagem - queda do rendimento escolar - absenteísmo - desinteresse pela escola - reprovação - evasão escolar Emocionais - queda da auto-estima - baixa resistência imunológica; - sintomatologia psicossomática diversificada; - estresse pós-traumático, fobia escolar e social; - transtornos mentais; - depressão; - pensamentos de vingança e de suicídio; - agressividade, impulsividade, hiperatividade; - uso de substâncias químicas.

CONSEQUÊNCIAS PARA OS AGRESSORES - distanciamento dos objetivos escolares; - dificuldade de adaptação às regras escolares e sociais; - supervalorização da conduta violenta, como forma de obtenção de poder; - consolidação de condutas autoritárias e abusivas; - desenvolvimento de futuras condutas delituosas; - manifestação de condutas agressivas e violentas na vida adulta, como o assédio moral e a violência doméstica. CONSEQUÊNCIAS PARA OS ESPECTADORES

- ansiedade, insegurança, aflição, tensão, irritabilidade; - medo de se tornar a “próxima vítima”; - prejuízos no processo de aprendizagem e socialização; - desenvolvimento de atitudes de conivência, intolerância, desrespeito, individualismo e dificuldade de empatia.

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“Homens e mulheres, ao longo da história, vimo-nos tornando animais deveras especiais: inventamos a possibilidade de nos libertar na medida em que nos tornamos capazes de nos perceber como seres inconclusos, limitados, condicionados, históricos. Percebendo, sobretudo, também, que a pura percepção da inconclusão, da limitação, da possibilidade, não basta. É preciso juntar a ela a luta política pela transformação do mundo. A libertação dos indivíduos só ganha profunda significação quando se alcança a transformação da sociedade”. (FREIRE, 2008. p.100)

Aproximação com uma vítima do Bullying

(Szymansky; Gonçalves; Damke; Kliemann) Uma menina, aluna de uma escola particular de ensino, com poucos alunos, na qual estudou do Maternal à 4ª. série do Ensino Fundamental. Por sua personalidade dominadora e sua inteligência verbal queria sempre ter razão e liderar as brincadeiras. Em sua sala de aula freqüentavam apenas seis alunos em média, durante esse percurso escolar. Ainda na Educação Infantil, recebeu o apelido de Fedora, pois na época, passava uma novela com esse personagem. A menina odiava esse apelido, e quanto mais odiava, mais brigava e mais era assim chamada. Sua mãe via seu sofrimento e conversava com a escola e os professores, que diziam “que ela reagia”e “sabia se defender”. Entretanto, o que a menina queria, não era defender-se, era ser amada, ser aceita pelo grupo. A menina cresceu, carregando essa sensação de rejeição. Ao ir para a 5ª. série em outra escola, a princípio sentiu-se muito bem. Novos amigos, novos modos de relacionar-se. Entretanto, na 6ª. série, quando a menina estava co cerca de doze anos, os antigos colegas foram para essa mesma escola, e seu sofrimento recomeçou. Para sentir-se segura, a menina, agora já se sentindo rejeitada na nova escola, começou a relacionar-se com meninos mais novos, ainda nas séries iniciais, recebendo então o apelido de papa-anjo, além de novamente conviver com fofocas. Esse sofrimento marcou sua adolescência e sua entrada no mundo dos adultos. Hoje, já com um filho, cujo pai é seis anos mais jovem do que ela, ainda traz as marcas da insegurança que se manifestam nas questões de relacionamento afetivo, mesmo sentindo-se segura em outras situações sociais.

Famosos/as internacionais vítimas do Bullying

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Sugestões para complementação de estudo: TEXTOS OU ARTIGOS:

Inferno na Escola – http://veja.abril.com.br/130601/p_142.html A Brincadeira que não tem Graça –

http://www.aprendebrasil.com.br/reportagens/bullying/default.asp Bullying na Escola e na Vida -

http://www.pedagobrasil.com.br/pedagogia/bullyingnaescola.htm Brincadeiras sem limite -

http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2004/espaco49nov/0comportamento.htm A prática de violência entre pares: o bullying nas escolas -

http://www.rieoei.org/rie37a04.pdf Bullying: um crime nas escolas -

http://www.cmpa.tche.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=1485

ORKUT:

Bullying: as marcas ficam - http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1818305

FILMES OU VÍDEOS:

Juventude urbana: bullying - http://br.youtube.com/watch?v=mGbmqdGeokM Tiros em Columbine. (documentário) Direção de Michael Moore. Elefante. Direção de Gus Van Sant. Bang! Bang! Você morreu. Direção de Guy Ferland. Referências e Bibliografia (utilizada na montagem da apostila)

ALVES, R. A forma escolar de tortura. Disponível em: < http://www.rubemalves.com.br/aformaescolardatortura.htm >. Acesso em: 02 dez. 2008.

ARGAMENON, R; RIZEK, B.; ALVES, J. Bullying: brincadeiras que ferem. Disponível em: < http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=revista_educarede.especiais&id_especial=361>. Acesso em: 02 dez. 2008.

BUORO, A. B. O olhar em construção. São Paulo: Cortez, 1996.

FANTE, C. Brincadeiras perversas. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/brincadeiras_perversas_9.html>. Acesso em: 02 dez. 2008.

FANTE, C. Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Ed. Artmed, 2005.

FANTE, C; PEDRA, J. A. Bullying escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmede, 2008.

FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

LOPES NETO, A. A. Bullying - comportamento agressivo entre estudantes. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf>. Acesso em 02 dez. 2008.

NOGUEIRA, R. M. C. P. A. Violência nas escolas e juventude: Um estudo sobre o bullying escolar. Tese apresentada ao Programa de Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade da PUC/SP. 2007

SOUZA, P. C. A. Bullying escolar: ações assertivas e autonomia estudantil no respeito à diversidade. In: II Encontro Iberoamericano de Educação. 2007, Araraquara. Anais... Araraquara, 2007.

SILVA, P. B. G.; ARAÚJO-OLIVEIRA, S. E. Cidadania, ética e diversidade: desafios para a formação em pesquisa. Apresentado no VI Encuentro – Corredor de las ideas del Cono Sur “Sociedade civil, democracia e integración”. Montevideo, 12 mar. 2004. Cópia.

SZYMANSKY, M. L.; GONÇALVES, J. P.; DAMKE, A. S.; KLIEMANN, M. P. O bullying no contexto escolar: a omissão da escola. Disponível em: < http://www.catedra.ucb.br/sites/100/122/00000813.pdf>. Acesso em 02 dez. 2008.