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  • 8/8/2019 Appleton Nota Historica

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    CONSTRUES EM BETO Nota histrica sobre a sua evoluo

    Jlio Appleton

    Professor Catedrtico de Beto Armado e Pr-Esforado do IST

    O beto e as argamassas so utilizados como materiais de construo h milhares de

    anos, sendo ento produzidos pela mistura de argila ou argila margosa, areia, cascalho e

    gua. H registos de que os materiais eram, quando necessrio, transportados a

    distncias de centenas de quilmetros, como o exemplo de um pavimento de beto

    simples datado de 5600 AC em Lepenskivin {1}.

    Nas antigas civilizaes estes materiais eram utilizados essencialmente em pavimentos,paredes e suas fundaes. Os Romanos exploraram as possibilidades deste material

    com mestria em diversas obras casas, templos, pontes e aquedutos, muitos dos quais

    chegaram aos nossos dias e so exemplos do elevado nvel atingido pelos construtores

    Romanos. A ttulo de exemplo referem-se o Panteon de Roma (com uma cpula de 50m

    de dimetro, de beto de inertes leves, realizado no ano 127 DC (Figura 1), o Aqueduto

    da Pont du Gard em Nimes (realizado em 150 DC no qual se utilizou o beto no canal de

    gua e no interior do forro das cantarias Figura 2) e diversas pontes de alvenaria e beto

    ainda existentes em diversos pases de que se salientam em Portugal a Ponte de VilaFormosa na N369 e a Ponte de Trajano sobre o Rio Tmega em Chaves {3a e 3b}.

    Figura 1 Panteon de Roma {2}

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    Vista Geral Pormenor das Alvenarias

    Figura 2 Aqueduto da Pont du Gard em Nimes

    H registos de que os Romanos fizeram tentativas para armarem o beto com cabos de

    bronze, experincias no bem sucedidas devido aos diferentes coeficientes de dilatao

    trmica do bronze e do beto.

    Posteriormente e at ao sculo XVIII o beto tem uma utilizao reduzida, quase

    exclusivamente limitada s fundaes e ao interior de paredes de alvenaria.

    com o desenvolvimento da produo e estudo das propriedades do cimento (Smeaton

    em 1758, James Parker em 1976, Louis Vicat em 1818) que culminou com a aprovao

    da patente do cimento Portland (nome dado por a cor do cimentos ser parecida com a da

    rocha Portland) apresentada por Joseph Aspdin em Leeds em 1824 que se vai dar o

    grande desenvolvimento na aplicao do beto nas construes. Em 1885 concebem-seos fornos rotativos (Frederick Ransome) que permitiriam baixar substancialmente o preo

    do cimento.

    Em Portugal a Industria do cimento inicia-se em 1894 com a fbrica de cimento Tejo em

    Alhandra.

    As utilizaes do beto ganham ento nova dinmica, no s em fundaes como em

    pavimentos trreos e paredes, estas com uma textura concebida por forma a imitar apedra (Osborn House em 1845, Axmouth Bridge em 1877, Sway Tower com 66m de

    altura em 1885).

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    Em 1852 Francois Coignet e em 1854 William Wilkinsen iniciaram a realizao de

    pavimentos de beto armado (lajes e vigas) os quais se tornaram na maior aplicao

    deste material at poca actual.

    No final do sculo XIX so j vrios os estudos publicados sobre o beto armado

    (Coignet, Considre, Mesnager) teorizando o comportamento flexo, tendo em 1897

    sido criada a primeira disciplina de Beto Armado na ENPC cole National de Ponts et

    Chausses (Paris) de que foi primeiro professor Rabut. As patentes tornam-se tambm

    numerosas (Cottancin, Monnoyer, Hyatt, Coignet).

    Em 1906 so publicadas as primeiras instrues francesas (Regulamento), traduzidas epublicadas em 1907 pela Revista de Obras Pblicas e Minas da Associao Portuguesa

    dos Engenheiros Civis, com o ttulo As Instrues Francesas para o Formigo Armado

    (5).

    Neste perodo e nos anos seguintes as designaes mais correntes para o que

    actualmente se designa Beto Armado eram o Formigo Armado (semelhante ao

    Hormigon, em espanhol) e Cimento Armado (semelhante ao Cemento Armato ainda hoje

    usual em Itlia). Outras designaes como o Beton Armado, o Siderocimento, o Beton deCimento Armado encontram-se em publicaes da primeira metade do sculo XX. A este

    propsito refira-se que a origem da palavra concreto concretus que significa composto

    e a origem da palavra beto bitumen.

    O princpio do sculo XX caracterizado por um desenvolvimento extraordinrio na

    utilizao e compreeno do funcionamento e possibilidades do beto armado. Esse

    desenvolvimento est associado realizao de numerosas patentes onde se indicam as

    bases de clculo e as disposies de armaduras adoptadas para diversos elementos

    estruturais.

    De entre essas patentes distingue-se o Sistema Hennebique datado de 1892 e que vem a

    ser aplicado em numerosos pases (em 1910 a empresa Hennebique, com sede em

    Paris, tem j 40 000 obras realizadas de edifcios, pontes, reservatrios e navios em

    beto armado, espalhadas pelo mundo). O seu sistema estrutural caracterizado pela

    introduo de estribos nas vigas, ligando os vares traccionados zona de beto

    comprimido (Figura 5). Os estribos eram constitudos por chapas de ao de seco

    rectangular dobradas em forma de U.

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    Seco vertical

    Estribo

    Estribo

    Seco AB

    A

    B

    Figura 5 Vigas do Sistema Hennebique Pormenor de Armaduras e Fotografia de

    Vigas de um Armazm em Lisboa

    O sucesso de Hennebique esteve associado a uma concepo e preparao da

    execuo das obras que lhes permita atingir uma rapidez e qualidade extraordinrias,

    aliada a custos competitivos quando comparados com os obtidos para outros materiais.

    Desse perodo e desse sistema construtivo referem-se o Weavers Mill em Swansea

    (1898), o Meyrick Park Water Tower em Bournemouth (1900), a Ponte del Risorgimento

    em Roma (1904, uma ponte em arco sobre o rio Tigre com um vo superior a 100m) e

    em Portugal merecem especial referncia o Edifcio de moagem de trigo do Caramujo

    (Cova da Piedade) realizado em 1898 {4} e {6} e onde depois funcionou uma moagem da

    Sociedade Industrial Aliana e a Ponte Luiz Bandeira de Sejes na EN333-3 sobre o rio

    Vouga (Figura 5). Esta ponte em arco de 44m de vo foi realizada em 3 meses e 4 dias

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    em formigo de cimento armado {7} Figura 6 (ver notcia da execuo da ponte no Anexo

    1).

    Figuras 6 Ponte de Sejes na EN333-3 Sistema Hennebique, 1907

    Em 1911 so entretanto criadas em Portugal as Universidades de Lisboa e Porto e em

    1918 aprovado o 1 Regulamento Portugus no domnio do beto armado Instrues

    Regulamentares para o Emprego do Beton Armado, realizadas com base nas normas

    francesas de 1906 e nos desenvolvimentos posteriores (8), Dec. 4036 de 3/4/1918.

    Importa tambm destacar neste perodo o contributo dado por Freyssinet ao desenvolver

    o sistema de vibrao mecnica para compactao do beto (1917) e os estudos

    realizados sobre os efeitos diferidos do beto e aplicao do pr-esforo (1928) (9).

    Como curiosidade refere-se que durante a primeira grande guerra realizaram-se grandes

    navios em ferrocimento, alguns com mais de 100m de comprimento.

    Nas dcadas seguintes h a referir grandes realizaes do Suo Maillart (2) como a

    famosa Ponte de Salginatobel (1930) e os seus estudos e obras sobre lajes fungiformes;

    do Francs Eugne Freyssinet como a Ponte Villeneuve-Sur-Lot com 96m de vo (Figura

    7) (1919), os Hangares de Orly com um vo de 90m (1921) e a Ponte de Plougastel com3 arcos de 186m de vo (1930), do Espanhol Eduardo Torroja como a Cobertura do

    Hipdromo de Zarzuela em Madrid (1935) com uma consola de 12.6m, e do Italiano Pier

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    Nervi como o Estdio Comunal de Firenze (1932) com uma consola de 17.0m e mais

    tarde com um conjunto extraordinrio de obras, nomeadamente de coberturas de

    restaurantes e estdios.

    Figura 7 a) Pont de Prairal sur La Besbre (arco de 26m). Uma das primeiras Pontes de

    Beto Armado de Freyssinet, 1907 {10}

    Figura 7 b) Ponte Villeneuve-Sur-Lot de Freyssinet, 1919 {10}

    Em Portugal a 1 disciplina de Cimento Armado foi criada em 1922 na Faculdade Tcnica

    da Universidade do Porto (o Eng Theotonio Rodrigues foi o seu 1 professor) e em 1935

    publicado o Regulamento do Beto Armado dec. 25948 de 1935 (11) que sintetiza o

    estado do conhecimento neste domnio. O 1 Congresso Internacional do Beto e do

    Beto Armado foi realizado em 1930.

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    Na primeira metade deste sculo muitas so as realizaes em beto armado em

    Portugal. Destacam-se o Canal do Tejo (executado de 1932 a 1940 e que envolveu a

    realizao de tneis, pontes canal e tubagens de 2.5m de dimetro, tendo sido utilizada a

    vibrao mecnica pela primeira vez no nosso pas), numerosas pontes de que se

    salienta o Viaduto Duarte Pacheco em Lisboa (concludo em 1944 com um

    desenvolvimento total de 505m tendo o arco central um vo de 91.97m) e edifcios de

    que se salienta o conjunto dos edifcios do IST (1936). Deve no entanto referir-se que

    neste perodo era ainda usual realizar a estrutura dos edifcios com paredes de alvenaria

    e o beto armado era aplicado na estrutura dos pisos em alternativa a solues de

    estrutura de madeira.

    Figura 8 Viaduto Duarte Pacheco, B. Carmona, 1944

    Fotografia da obra e pormenor de armaduras

    No Brasil {12} destaca-se a contribuio de Emlio Boumgart quer como professor quer

    como construtor (Ponte Paranaba, 1938; Edifcio dos Ministrios da Educao e Sade

    no Rio de Janeiro em 1937).

    Durante a 2 Grande Guerra h a referir a ttulo de curiosidade a realizao dos caixes

    de beto com 62m 17m em planta que foram transportados para a Normandia e

    constituram um porto artificial de apoio ao desembarque dos aliados em 1944.

    Aps a 2 Grande Guerra assiste-se afirmao das grandes possibilidades do beto

    armado como material estrutural, explorao do beto aparente como soluo

    arquitectnica e ao grande desenvolvimento do beto armado pr-esforado.

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    No domnio das pontes refere-se a execuo de grandes pontes em arco de que se

    destacam a Ponte Sando na Sucia com 264m de corda (1943) e a Ponte da Arrbida

    projectada pelo Prof. Edgar Cardoso com 270m de corda (1963) Figura 9.

    Figura 9 Ponte da Arrbida, Edgar Cardoso, 1963

    No domnio das barragens inicia-se em Portugal um perodo de execuo de grandes

    barragens abbada de que a Barragem do Cabril no Rio Zzere o primeiro exemplo

    (1953).

    Outras estruturas que justificam referncia so as coberturas onduladas das Pedras

    Rubras (Correia de Arajo, 1950), o Monumento das Descobertas em Lisboa com 50m de

    altura (Edgar Cardoso, 1958), o Monumento e Esttua do Cristo Rei com 76m de altura a

    que acresce a esttua com 28m de altura e 16m de envergadura (Brazo Farinha, 1959).

    A nvel internacional e no que se refere ao uso da capacidade do beto para criar novas

    formas referem-se os nomes de Nervi, Le Corbusier, scar Niemeyer e Joaquim Cardoso

    (Palcio Presidencial de Braslia com 135m de altura e 360m de desenvolvimento no

    coroamento, 1958) e a Catedral de Braslia com 70m de dimetro e 16 escoras de Beto

    Armado com 39.6m de altura, em forma de boomerang (1961).

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    Os progressos tcnicos e a cooperao internacional na Europa deram origem criao

    em 1951 da FIP Fderation Internationale de la Prcontrainte que realizou o primeiro

    Congresso em 1953 e em 1953, do CEB Comisso Europeia do Beto, associao que

    produziu as primeiras recomendaes em 1963. Estas Associaes fundiram-se em 1998

    na actual fib fderation internationale du bton, fib.

    A nvel nacional marcante a criao do LNEC Laboratrio Nacional de Engenahria

    Civil de que se destaca neste domnio o contributo do Eng Jlio Ferry Borges. Na

    Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto realizada em 1944 a primeira tese

    de doutoramento em beto armado e pr-esforado pelo Prof. Joaquim Sarmento.

    Em 1958 publicado o Regulamento de Segurana das Construes contra os Sismos

    (Decs. 41658 de 31/05/1958) que estabelce a diferenciao do risco sismico no pasquantificando de forma simplificada as respectivas solicitaes. Este regulamento

    praticamente revogado com a publicao em 1961 do Regulamento de Solicitao de

    Edifcios e Pontes.

    Em 1967 publicado novo regulamento no domnio do beto armado, REBA (13) o qual

    integra j a moderna filosofia de verificao da segurana em relao aos estados limites.

    No que se refere ao pr-esforo e aps os trabalhos pioneiros de Freyssinet (Figura 10),Magnel e Hoyer assiste-se aps a 2 grande guerra ao grande desenvolvimento deste

    sistema construtivo que veio alargar a fronteira da aplicao do beto nas construes.

    Figura 10 Pont de Luzancy sobre o Sena. Tabuleiro pr-fabricado com 3 vigas caixo

    com 55m de vo e 1.22m de altura no vo, 1945

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    A primeira construo portuguesa de beto pr-esforado {14} a cobertura de vrios

    armazns para algodo na Avenida Meneses em Matosinhos com um vo de 32.4m e

    vigas simplesmente apoiadas de altura varivel e de beto armado postensionado (1951).

    A primeira ponte em beto armado pr-esforado em Portugal a Ponte de Vala Nova

    em Benavente na EN118 ao Km 43.45 realizada em 1954 e que apresenta 3 vos

    simplesmente apoiados de 36.0m.

    No trabalho de Joaquim Vizeu {15} so apresentadas numerosas obras e contribuies

    para a histria do beto armado em Portugal.

    Referncias

    1. Stanley, C. Highlights in the History of Concrete, C&CA, 1982

    2. Walter, R., - Construire en Bton, Presses Polytechniques et Universitaires

    Romandes, 1993

    3. a) Saraiva, J.H. Histria de Portugal, Volume 1, pag. 149 a 212 A dominao

    romana, publicaes Alfa, 1903.

    3. b) Soares Ribeiro, A. Pontes Antigas Classificadas, JAE, 1998.

    4. Ferreira, C.A. Beto A idade da Descoberta, Passado Presente, Lisboa, 1989 eBeto Aparente, Edio do Autor, 1967

    5. Revista de Obras Pblicas e Minas Instrues Francesas para o Formigo

    Armado, Tomo XXXVIII, pg 385 a 389, 1907

    6. Quintela, A.C. Contribuio para a Histria do Beto Armado em Portugal, Primeiras

    Obras, Revista Portuguesa Engenharia de Estruturas (RPEE), 1989, n30.

    7. Revista de Obras Pblicas e Minas Descrio de Obras em Curso Ponte Luiz

    Bandeira em Sejes, Tomo XXXIX 1908, pg 25

    8. Decreto 4036 Regulamento para o emprego do beton armado, 28/3/1918

    9. Freyssinet, E. Une Rvolution dans les Techniques du Bton, Eyrolles, Paris, 1939

    10. Ordonez, J.A.F. Eugne Freyssinet, 2C Editions, 1979.

    11. Decreto 25948 RBA Regulamento do Beto Armado, 16/10/1935

    12. Vasconcelos, A.C. O Concreto no Brasil Recordes, Realizaes, Histria, So

    Paulo, 1985.

    13. Decreto 47723 Regulamento de Estruturas de Beto Armado, 20/05/1967

    14. Rego, A. Teixeira A Primeira Construo Portuguesa de Beto Pr-Esforado com

    Cabos, Revista da Ordem dos Engenheiros, Outubro 1951.

    15. Viseu, J.C.S. Histria do Beto Armado em Portugal, ATIC 1993.

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    ANEXO 1 Extrato daRevista de Obras Pblicas e Minas

    Publicao Mensal da Associao dos Engenheiros Civis Portuguezes

    Tomo XXXIX 1908, pg 25

    Ponte Luiz Bandeira, em Sejes, Concelho de Oliveira de Frades, districto de Viseu, sobre o

    Vouga.

    Construco inteiramente de formigo de cimento armado, systema Hennebique. Comprimento

    44 metros; largura 4m,50, dos quaes 0m,75 para cada passeio; abertura do arco 32 metros,

    flecha 6m,40. Espessura de pavimento 12 centimetros e dos passeios 10 centimentros.

    Comeada a construir em 10 de junho de 1907, foi concluida em 14 de Setembro deste anno,

    levando, por consequencia, a sua construco apenas tres mezes e quatro dias.

    Nesta obra foram empregadas 16 toneladas de ao Bessemer e 60 metros cubicos de

    formigo; pezo total do taboleiro crca de 167 toneladas e sobrecarga para que foi calculado 78

    toneladas.

    As provas de resistencia esto sendo feitas na presente ocasio.

    Empreitada dos engenheiros constructores Moreira de S & Malevez.

    ANEXO 2 Apreciao da evoluo da regulamentao nacional aplicvel s estruturasde beto

    1. Evoluo nos materiais

    1.1 Beto

    Nos regulamentos de 1918 e 1935 do-se indicaes quanto composio a adoptar

    num beto normal (dosagem tipo: 300 Kg de cimento; 400 litros de areia e 800 litros

    de brita).

    A resistncia era definida pelo valor mdio dos resultados de ensaio compresso

    simples, aos 28 dias, de cubos de 20cm de aresta o qual deveria ser superior a

    120 Kg/cm2 (regulamento de 1918) e 180 Kg/cm2 (regulamento de 1935).

    A tcnica de compactao era inicialmente o apiloamento sendo tambm referida no

    Regulamento de 1935 a vibrao mecnica.

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    No regulamento de 1967 introduz-se o conceito da classe de resistncia para o beto

    definida pela resistncia caracterstica em Kg/cm2 obtida em ensaios de cubos aos 28

    dias, compresso simples (B180/B225/B300/B350/B400).

    Em 1971 publicado o Regulamento de Betes de Ligantes Hidrulicos (RBLH, Dec.

    404/71 de 23/9/71) no qual so introduzidos 2 tipos de beto B para os requisitos de

    resistncia e BD 1, 2 ou 3 para betes com qualidades e requisitos de durabilidade

    especial.

    Em 1983 publicado o actual regulamento REBAP (Dec.Lei 349-C/83) que amplia as

    classes de resistncia, definidas agora nas unidades internacionais (MPa), at ao

    B55.

    Em 1990 publicada a ENV206 Beto Comportamento, produo, colocao e

    critrios de conformidade que substitui o RBLH, aprofundando-se neste documento os

    conceitos de durabilidade do beto.

    Actualmente est em curso a implementao do Eurocdigo 2 ENV1992 e da EN206,

    sendo novamente ampliadas as classes de resistncia at ao C90/105 (fck = 90MPa

    referida a cilindros e 105MPa referida a cubos).

    1.2 Aos para beto armado

    Os regulamentos de 1918 e 1935 referm-se ao ao ento disponvel ao liso de

    dureza natural com uma tenso ltima da rotura fsu de 3800 a 4600 Kg/m2 (Reg.

    1918) e superior a 3700 Kg/cm2 (Reg. 1935) e uma grande ductilidade, definida pela

    extenso aps rotura u (superior a 22% no reg. 1918 e superior a 24% no Reg.

    1935). Para estes aos a tenso de cedncia deveria tambm ser superior ou igual a

    fsu/2 (Reg. 1918) ou de 0.6 fsu (Reg. 1935).

    Nesta poca os dimetros eram definidos em polegadas (ver tabela no Anexo 3) e

    recomendava-se que no se utilizasse soldadura para emenda de vares.

    No regulamento de 1967 so introduzidos as classes de resistncia (A24, A40, A50,

    A60) definidas pelo valor caracterstico da tenso de cedncia (ou limite convencional

    de proporcionalidade a 0.2% f0.2k, em Kgf/mm2). Os dimetros passam a ser definidos

    em milmetros. So tambm introduzidos dois tipos de vares lisos e nervurados,

    sendo aconselhados estes ltimos. A utilizao de aos fica dependente da

    classificao ou homologao do LNEC.

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    No regulamento de 1983 so adoptadas trs classes de resistncia A230/A400/A500

    referidas ao valor caracterstico da tenso de cedncia ou f0.2k expressa em MPa. So

    ainda introduzidas as armaduras de alta resistncia (pr-esforo).

    No Eurocdigo 2 (e norma europeia EN 10080) as classes de resistncia adoptadas

    so 400/500/600.

    2. Durabilidade das Estruturas de Beto. Recobrimento das Armaduras

    No regulamento de 1918 os recobrimentos mnimos Cmin especificados eram os

    seguintes:

    Cmin 1.5 (dimetro do varo) 1cm (lajes)

    2cm (vigas e pilares)

    no entanto recomendado que estes valores sejam duplicados em construes junto

    ao mar ou para as dotar de boa resistncia ao fogo.

    No regulamento de 1967 este assunto no teve evoluo positiva. Com efeito

    especificam-se valores semelhantes aos de 1918 (Cmin; 1.0cm em geral; e 2.0cmem estruturas no protegidas) e apenas se sugere que tais valores devem ser

    aumentados se se pretender melhorar a proteco contra a corroso ou o fogo.

    Com o regulamento de 1983 (e de acordo com as classes de agressividade definidas

    no RBLH) so definidas trs classes de exposio a que correspondem valores de

    recobrimentos mnimos de 2.0cm; 3.0cm e 4.0cm.

    Finalmente com o Eurocdigo 2 (EN 1992) e com a EN206 as classes de exposio

    so mais diferenciadas e os correspondentes requisitos de durabilidade mais

    coerentes e apropriados. tambm introduzido neste contexto a importncia da

    qualificao do perodo de vida til requerido para as construes.

    3. Modelos de verificao da segurana

    No regulamento de 1918 e de 1935 a verificao da segurana feita pelo critrio das

    tenses admissveis estando nesses valores incorporado o coeficiente global de

    segurana (as aces no eram majoradas na verificao das condies de segurana

    rotura, sendo apenas minoradas as capacidades resistentes dos materiais).

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    Na verificao da segurana o clculo de esforos baseado num modelo elstico

    linear rotura, a resistncia traco do beto era desprezada, e no clculo de

    tenses a relao tenso/deformao do beto compresso eltica e linear.

    Os valores das tenses admissveis eram os seguintes:

    compresso: b = 40 Kg/cm2 (Reg. 1918)

    = 40/45 Kg/cm2 (Reg. 1935 em compresso simples)

    = 45/50 Kg/cm2 (Reg. 1935 flexo simples ou composta)

    Traco: s = 1100 Kg/cm2 (Reg. 1918)

    = de 1200 Kg/cm2 (ao corrente) a 1500 (ao com fsu > 4800 Kg/cm2)

    Ao corte: = 4 Kg/cm2

    No regulamento de 1967 introduzida a moderna filosofia de segurana aos estados

    limites mediante a aplicao do mtodo semiprobabilistico de coeficientes parciais de

    segurana.

    So introduzidos conceitos de anlise no linear e clculo plstico.

    Para os clculos rotura a relao tenso/deformao do beto uma parbola

    limitada por uma extenso de 2.

    As aces passam a ser definidas em regulamento especfico RSEP (Regulamento

    de Solicitaes em Edifcios e Pontes, Dec 44041 de 18/11/1961) sendo introduzido o

    conceito de aces excepcionais que integram em especial a aco ssmica (no

    majorada).

    No regulamento de 1983 aprofundada a filosofia da verificao da segurana aos

    estados limites (agora definida em conjunto com as aces no RSA Regulamento

    de Segurana e Aces). A aco ssmica tratada como aco varivel sendo

    majorada por 1.5 para a verificao da segurana ao Estado Limite ltimo.

    Para o clculo da resistncia das seces de beto sujeitas flexo a relao

    tenso/deformao de beto uma parbola rectangulo com a extenso limitada a

    3.5.

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    Verifica-se com a entrada em vigor deste Regulamento uma reduo significativa da

    capacidade resistente ao esforo transverso em lajes sem armaduras transversais

    visto tal resistencia estar fortemente dependente da reistncia traco do beto (e

    da amarrao das armaduras longitudinais). Por outro lado verifica-se um aumento da

    resistncia mxima ao esforo transverso em peas com armaduras transversais.

    Com a publicao dos Eurocdigos a verificao da segurana sofre um aumento de

    complexidade, mas tambm de rigor, em particular para a aco ssmica, agora

    tratado em documento normativo especfico (Eurocdigo 8).

    4. Pormenorizao de armaduras e execuo de trabalhos

    O regulamento de 1918 inclui indicaes detalhadas relativas betonagem eexecuo dos moldes. De referir que os vares, referenciados a polegadas, eram

    lisos devendo terminar em gancho, quando traccionados.

    No regulamento de 1935 aumentou-se consideralvelmente o tratamento das

    disposies construtivas. No que se refere aos vares de resistncia do esforo

    transverso recomenda-se que, para alm dos estribos, sejam levantados vares de

    45 junto aos apoios, alguns dos quais associados dispensa de vares requeridos

    pela resistncia ao momento flector. De referir a indicao relativa compactao dobeto por apiloamento ou vibrao mecnica (desenvolvimento ento recente) e a

    hiptese de realizar a juno de vares por unio roscados.

    No regulamento de 1967 so introduzidos os conceitos de armaduras mnimas e para

    a resistncia ao esforo transverso recomendada a adopo de estribos. Os vares

    passam a ser referenciados em milimetros.

    No regulamento de 1983 so introduzidas as disposies construtivas relativas ao

    pr-esforo e so introduzidas modificaes importantes na pormenorizao da

    cintagem em pilares. ainda introduzido um captulo muito interessante e actual

    relativo forma de conceber, calcular e pormenorizar estruturas de ductilidade

    melhorada, com um tratamento muito semelhante ao que veio a ser introduzido no

    Eurocdigo 8 para estruturas de beto em regies ssmicas.

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    5. Outros comentrios

    Salientam-se neste captulo alguns aspectos que se consideram especialmente

    relevantes na regulamentao em apreciao:

    No regulamento de 1918 estabelecida a obrigatoriedade de aprovao (verificao)

    do projecto pelas reparties tcnicas do Estado ou dos corpos administrativos e a

    obrigatoriedade da existncia em obra de um caderno com o registo dos principais

    trabalhos. tambm curiosa a considerao do efeito da cintagem no aumento da

    resistncia compresso do beto. So preconizados ensaios de carga,

    especificando-se que para uma aco de 1.25 vezes a sobrecarga de servio a flecha

    no dever excederError!do vo.

    No regulamento de 1935 feita, na introduo, uma apresentao detalhada da

    regulamentao europeia e americana. neste regulamento que so introduzidas

    pela primeira vez, ao nvel regulamentar, as aces a adoptar no projecto de edifcios.

    dado um grande desenvolvimento ao clculo de lajes fungiformes e a vrios

    aspectos do dimensionamento de pontes, nomeadamente o clculo de articulaes e

    aparelhos de apoio.

    O regulamento de 1967 marca a modificao do mtodo da verificao da seguranapor tenses admissveis para o mtodo de verificao da segurana aos estados

    limites, sendo para a rotura adoptada a filosofia dos coeficientes parciais de

    segurana. As solicitaes (como eram ento designadas as aces) passaram a ser

    definidas no RSEP Regulamneto de Solicitao em Edifcios e Pontes (Dec. 44041

    de 18 de Novembro de 1961). O regulamento apresenta as bases e modelos de

    clculo dos esforos resistentes e do clculo de fendas e deslocamentos.

    O regulamento de 1983 inclui finalmente ao nvel regulamentar os critrios e modelos

    de verificao da segurana para estruturas de beto armado pr-esforado de uma

    forma integrada com as estruturas de beto armado. Adopta-se o sistema

    Internacional de Unidades e simbologia (ISO 3898) o que implicou por si s um

    grande esforo de adaptao dos profissionais de engenharia.

    Importa tambm referir que no final dos anos 60 e primeira metade dos anos 70 d-se

    a revoluo associada ao desenvolvimento dos computadores e consequentemente

    dos mtodos de clculo automtico, permitindo resolver os problemas existentes com

    modelos mais fiveis (e tambm mais complexos). Anteriormente eram adoptados

    modelos experimentais e no que se refere a modelos analticos recorria-se

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    frequentemente a mtodos grficos e a mtodos simplificados. Os modelos analticos

    eram apenas resoluveis para estruturas poucas vezes hiperstticas, e envolviam um

    trabalho significativo.

    tambm relevante referir que com o decreto 73 de 1973 deixa de ser obrigatria a

    verificao e aprovao dos projectos pelas entidades pblicas o que veio a revelar-

    se uma medida inadequada.

    ANEXO 3 Tabelas de vares com dimetros definidos em polegadas

    Diametro

    reas das seces de 1 a 15 vares em cm2 Diametro

    Pesopor

    metroPole

    gadas1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Poleg m/m Kg

    1/161/83/16

    1/45/163/87/16

    1/29/165/8

    11/16

    3/413/167/8

    15/16

    111/811/413/811/2

    0.020.080.18

    0.320.500.710.97

    1.271.611.992.41

    2.873.333.874.45

    5.076.427.949.5711.4

    0.040.160.36

    0.630.991.421.93

    2.533.213.974.81

    5.736.677.748.90

    10.112.815.919.122.8

    0.060.240.53

    0.951.482.142.90

    3.804.825.967.22

    8.5910.011.613.3

    15.219.323.828.734.2

    0.080.370.71

    1.271.982.853.87

    5.076.427.949.62

    11.513.315.517.8

    20.325.731.838.345.6

    0.100.400.89

    1.582.473.564.84

    6.338.039.9312.0

    14.316.719.422.2

    25.332.139.747.857.0

    0.120.471.07

    1.902.964.275.81

    7.609.6411.914.4

    17.220.023.226.7

    30.438.547.757.468.4

    0.140.551.25

    2.223.464.986.77

    8.8711.213.916.8

    20.123.327.131.1

    35.545.055.667.079.8

    0.160.631.42

    2.533.955.697.74

    10.112.815.919.2

    22.926.731.035.6

    40.551.463.676.591.2

    0.180.711.60

    2.854.446.418.71

    11.414.517.921.6

    25.830.034.840.0

    45.757.871.586.1

    102.6

    0.200.791.78

    3.174.947.129.68

    12.716.119.924.1

    28.733.338.744.5

    50.764.279.495.7

    114.0

    0.220.871.96

    3.485.437.8310.6

    13.917.721.826.5

    31.536.742.648.9

    55.770.787.4

    105.2125.4

    0.240.952.13

    3.805.938.5411.6

    15.219.323.828.9

    34.440.046.453.4

    60.877.195.3

    114.8136.8

    0.261.032.31

    4.116.429.2512.6

    16.520.925.831.3

    37.243.350.357.8

    65.983.5

    103.2124.4148.2

    0.281.102.49

    4.436.919.9713.5

    17.722.527.833.7

    40.146.754.262.3

    70.989.9111.2133.9159.6

    0.301.182.67

    4.757.4110.714.5

    19.024.129.836.1

    43.050.058.166.7

    76.096.4

    119.1143.5171.0

    1/161/83/16

    1/45/163/87/16

    1/29/165/8

    11/16

    3/413/167/8

    15/16

    111/811/413/811/2

    1.593.174.76

    6.357.949.52

    11.11

    12.7014.2915.8717.46

    19.0520.6422.2223.81

    25.4028.5731.7534.9238.10

    0.0160.0620.139

    0.2470.3850.5550.755

    0.9881.2531.5491.876

    2.2352.6003.0193.470

    3.9525.0116.1957.4618.892