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Presidente da República Fernando Henrique Cardoso

Ministro da Educação Paulo Renato Souza

Secretário Executivo Luciano Oliva Patrício

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Livro do artesanato Waiapi

CTI/ MEC/ NRF

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Secretária de Educação Fundamental Iara Glória Areias Prado

Diretor de Política da Educação Fundamental Walter Kiyoshi Takemoto

Coordenadora Geral de Apoio às Escolas Indígenas Ivete Maria Barbosa Madeira Campos

Endereço MEC/SEF/DPEF Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas Esplanada dos Ministérios, Bloco "L" Sala 626 70.047-900 Brasília/DF Fax: (61) 321 5864 Tel: (61) 410 8630/321 5323 [email protected]

Esta publicação foi idealizada em 1993 no segundo curso para Profes­sores Waiãpi, e é resultado dos cursos promovidos posteriormente pelo Centro de Trabalho Indigenista, com apoio do Ministério da Educação e da Norwegian Rainforest Foundation / Operação OD. Esta publicação é recomenda­da pelo Comitê de Educação Escolar Indígena no âmbito do Programa de Promoção Divulgação de Materiais Didático-Pedagógicos para Escolas Indígenas.

Livro do artesanato Waiãpi / Centro de Trabalho Indigenista. - Brasília : MEC, Secretaria de Educação Fundamental, 1999.

60p. : il.

1.Cultura Indígena I. Centro de Trabalho Indigenista.

CDU39(=081:81)

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Apresentação 5

Nossa terra 6

Nossas aldeias 8

Nosso jeito de viver 10

Trabalho 16

Nosso artesanato 20

Utensílios para casa 22

Utensílios de cozinha 34

Instrumentos de caça e pesca 40

Objetos de uso pessoal e adornos 44

Instrumentos musicais 52

Porque vendemos artesanato 57

índice

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Apresentação Nós somos Waiãpi. Nós moramos no Brasil, no estado do Amapá. Vivemos dentro da Terra Indí­gena Waiãpi, com 604 mil hectares. A demarca­ção começou em 1994 e terminou em 1996. Cada grupo Waiãpi mora em uma aldeia separa­da. Alguns moram muito longe, outros moram perto. Nós temos I 3 aldeias, e os Waiãpi ainda vão aumentar. A vida waiãpi é diferente da vida do branco. Nós usamos tanga, urucum, flecha e colar de miçanga. Nossa alimentação também é diferente. Comemos beiju e carne de caça - por exemplo: caititu, veado e anta. Nós não perde­mos a nossa bebida. Ela é feita de mandioca. Nossas aldeias são diferentes das cidades. Nós derrubamos poucas árvores para fazermos as roças.

APINA é o Conselho das Aldeias Waiãpi. Foi for­mado no dia 25 de agosto de 1994. Todos os caciques vieram. Foram os chefes que colocaram o nome APINA. É para ajudar o povo Waiãpi, para apoiar nossos parentes e vender artesanato e produtos - por exemplo: cupuaçu, copaíba, cas­tanha. Para isso nós criamos o APINA. O APINA tem quatro secretários para ajudar o presidente e o tesoureiro.

Professôres Waiãpi

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Nossa te r ra

Antes não havia limites. Só floresta. Não precisava estabelecer limites. Toda essa flo­resta era nossa. Os antigos só falavam das roças, onde ficavam suas moradas. Delas, abriam caminhos para caçar e visitar outras aldeias. Nossos antepassados só abriam caminhos de caça. Só marcavam esses trechos, só faziam esses percursos. Quando acabava a caça numa área, abriam caminho em outra direção. E lá ficavam de novo...

Waiwai

Agora (com a demarcação) esta­mos satisfeitos, porque vamos po­der continuar a dispersar nossas aldeias, visitar uns aos outros, pas­sear de aldeia em aldeia. E nossos netos poderão abrir novos cami­nhos de caça, longe...

Ajãreaty

Antes nós não sabíamos que tínhamos "limites", só sabíamos que tudo era floresta... Agora, demarcamos nossa área porque é só o que sobra dos lugares antigos. Os nossos netos precisam defender esta terra para continuar vivendo como Waiãpi.

Kumai

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Não fizemos demarcação à toa. E nossa terra. Queremos manter a floresta como ela está. Sempre pensamos o que fazer e como fazer, mas precisamos vender os produtos de nossa terra. Por isso fizemos a demarcação. Sempre estamos nos perguntando como controlar a área para que os brancos não invadam nossa terra. Nós não vivemos despreocupados com tudo isso.

Não deixamos madeireiro entrar na nossa terra. Nós cuidamos da floresta. Não queremos que desmatem a área. Nós não queremos ninguém derrubando grandes extensões. Antigamente, as árvores e as plantas da floresta foram dadas pe­lo criador Jane Jar ("nosso dono"). Agora não, ele não vai mandar outras frutíferas boas para nós. Esse tempo acabou. Se derrubar tudo, es­sas plantas não vão voltar a crescer: acabou. Nós também vimos que os igarapés acabam, que agora os peixes estão muito tristes por­que o garimpeiro faz muita sujeira na cabeceira dos rios. Então os peixes vão ficando doentes também. Garimpeiro não está nem aí. Depois que estragou, o garimpeiro vai embora, deixan­do a terra estragada...

Kasiripina

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Nossas aldeias A aldeia é muito diferente da cidade. Porque lá é bem calmo. Não tem barulho de carro, de avião, nem de moto e nem de fábrica. E por isso que lá é bom para morar e dormir de noite. Lá só tem canto dos pássaros e os Waiãpi conversando com seus parentes. Na aldeia não tem prédio, não tem casa coberta com brasilit, não tem ruas. As nossas casas são cobertas de palha. Cada fa­milia tem uma casa para morar e dormir. Nós, Waiãpi, não usamos cama. Usamos redes feitas de algodão. Só na rede que nós dormimos. Ca­da Waiãpi tem sua rede, as crianças e os adultos.

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Na aldeia não tem supermercado para vender mercadorias como na cidade. Cada família tem a alimentação na sua casa. Na minha área não tem café da manhã, almoço e janta como na cidade. Nós, Waiãpi, comemos a qualquer hora, quando estamos com fome, mas na cidade não é assim. Nas nossas aldeias tem muitas plantas perto das nossas casas. Em toda aldeia tem um grupo de Waiãpi morando. Na aldeia não tem energia. A energia dos Waiãpi é o fogo. Cada casa tem seu fogo. Alguns parentes usam turi, que o bran­co chama de breu. Nós respeitamos o jeito dos brasileiros. Eles também tinham que respeitar o modo de vida dos Waiãpi.

Aikyry

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Nosso jeito de viver

Waiãpi não é pobre

Os Waiãpi não são pobres. Porque nós temos aterra demar­cada, temos floresta, temos anima­is, rio puro. Os rios daqui não são poluídos como na cidade. Nós fa­zemos roça e plantamos mandio­ca, macaxeira e outras plantas para nós comermos e sobrevivermos. A água dos rios é pura e bebemos água dos rios mesmo na nossa área.

Contando histórias para os filhos

Nós, Waiãpi, contamos muitas histórias para nossos filhos. E durante a noite que nós contamos as histórias para nossos fi­lhos ouvirem, porque à noite não tem muita coisa para fazer. Contamos as histó­rias das dezenove horas até as vinte e duas horas. Desde pequenas, as crianças Waiãpi aprendem as histórias dos nossos antepassados.

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Nós, Waiãpi, sabemos tudo e valemos muito. Nós sabemos fazer reuniões. Sabemos fazer festas. Nós somos conta­dores, cantores, lutadores, brincalhões, guerreiros. Nós, Waiãpi, sabemos fazer filhos para o povo Waiãpi não acabar. Nós, Waiãpi, somos inteligentes também. Sabemos ler, escrever, fazer projetos, usar dinheiro... Sabemos dirigir carro, motor de popa. Sabemos manter a nossa floresta, os rios, nossas famílias... Sabemos criar filhos de animais como filhos de humanos.

Aikyry

Nós, Waiãpi, somos donos da nossa terra. Nós, Waiãpi, somos donos da floresta. Nós somos donos dos animais. Nós somos donos das nossas riquezas. Nós somos donos dos nossos filhos. Nós, Waiãpi, somos donos de nossas famílias.

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A gente se pinta com uru­cum para proteger nosso corpo. Nas festas, a gente se pinta com urucum para enfeitar o corpo. As mulheres é que pintam os homens com urucum, porque isso é trabalho das mulheres. Os homens se pintam também, mas só quando a mulher está ocu­pada e está trabalhando.

A gente não se pinta só com urucum. A gente junta óleo de copaíba com o urucum para ficar bem lisi-nho. Se não tem óleo de copaíba, a gente tira óleo de andiroba para misturar com urucum e pintar o corpo. O urucum deixa o corpo da gente vermelho. Depois de quatro dias, o urucum sai todo do corpo da gente.

Seki

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Primeiro a gente sobe na árvore para tirar o jenipapo. Tem que tirar quando está verde. Depois a mulher rala o jenipapo, depois es­preme com a mão. Quando a cuia está cheia de jenipapo, ela coloca no sol, para ficar preto. A gente mistura carvão no jenipapo. Para pin­tar, a gente amarra algodão na ponta de um pauzinho. Depois pinta o corpo. A gente pin­ta o corpo porque gosta. A gente se pinta pa­ra caçar, aí os bichos não vêem bem a gente. A gente se pinta para a festa, para ir na roça, todo dia.

Emyra e Waimisi

Nós temos tinta para pintar os nossos corpos, para ficarmos mais bonitos. Nossa tinta é o urucum e o jenipapo. Usamos muito na hora da festa, usamos quase todos os dias. Com tinta de jenipapo, dese­nhamos desenhos que represen­tam ossos de peixe, borboletas e outras coisas. Com o urucum, pin­tamos espalhando pelo corpo to­do. Pintura serve para proteger os nosso corpos, como os brasileiros, franceses e alemães usam calças compridas e camisas para proteger suas peles e corpos.

Aikyry

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O calendário dos brancos parece um quadrado cheio de números. Os brancos só mudam os núme­ros. O calendário dos Waiãpi é redondo e só com palavras, com nomes de animais e de frutas marcando o tempo, por exem­plo: o tempo da bacaba ou o tempo do açaí.

Tapenaiky

No verão, é muito difícil matar tu­cano. Porque no verão não tem muita fruta. No inverno é mais fá­cil matar tucano. Porque o inver­no é o tempo do açaí, da bacaba e outras frutas. Quando é tempo do açaí, dá muito tucano, pois os tucanos comem muito açaí, e nós matamos muitos tucanos. Quando nós matamos, come­mos. É gostoso com tucupi. Quando nós matamos, nós também tiramos o papo dos tucanos para fazer a coroa akanytar.

Kaitona

Marcamos o tempo do verão como o tempo que é bom para pescar e para andar no mato. E quando a queixada está muito gorda. No nos­so calendário não tem mês, só tem a lua para ver. Por exemplo, quando um Waiãpi vai para outra aldeia e a lua está crescendo, ele vai falar para a mulher: "Eu vou chegar aqui quando a lua estiver cheia. Então você tem que fazer caxiri".

Makaratu

Calendário waiãpi

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Para nós, a lua cheia é chamada lua das meninas. É quando as me­ninas trabalham em casa fazendo tapioca. Elas colocam a tapioca dentro da panela e levantam para a lua cheia. É porque que­rem conseguir também uma pa­nela cheinha de tapioca. Quando tem lua nova, a gente chama de lua das crianças. Porque é quando a gente pendura as crianças no es­teio da casa para ficarem altas. Por isso alguns Waiãpi são muito altos.

Japarupi

Nós falamos assim: "Esse mês é de chuva". Os brancos são diferentes, eles dão nome para os meses de janeiro, fevereiro, etc. É com esses nomes que eles marcam quando vai chegar o ve­rão. Para nós é diferente. Nós só marcamos na cabeça, ou sabemos pelo rio. Quando o rio abai­xa é porque está começando o verão. Os Waiãpi sabem também quando está acaban­do o verão. Quando a tarde está acabando, apa­recem nuvens. Então cai chuva e fica frio. E assim que nossos pais sabem.

Parará

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Trabalho Na minha área quem trabalha mais são as mulheres. Elas plantam roçados, elas tiram lenha para fazer fogo, elas cuidam das crianças, elas ralam mandioca, fazem beiju, farinha e caxiri, que é uma bebida Waiãpi. A mulher Waiãpi fia algo­dão, faz rede e faz tudo... Os homens trabalham também. O trabalho dos homens Waiãpi é fazer roça, derrubar as árvores, fabricar artesanatos. Os homens caçam também. São eles que trazem a caça para as mulheres. São os homens que fa­zem as casas para morar, os homens que fazem as festas para seus filhos verem, mas as mulheres também ajudam os homens.

A roça Aikyry

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Nossa cultura é muito diferente da cultura do branco. Traba­lhamos nas roças. Derrubamos árvores com machado para fa­zer a roça. Nós não derrubamos todos os matos. Os brancos derrubam todos os matos e destróem. Os brancos não sabem cuidar da floresta, serram madeira para vender e estragam a ter­ra. Nós não somos assim, não serramos madeira e não estraga­mos a terra. Sabemos cuidar do mato, sabemos cuidar da terra. Sabemos que, se derrubarmos todo o mato, não vai ter nunca mais mato para nossos netos. Nossos avós não derrubaram todos os matos, por isso nós, jovens, sabemos cuidar do mato. Se nossos avós derrubassem todos os matos, nós não iríamos saber como era o mato. Nossos avós não pensaram só neles, eles pensaram no futuro, pensaram em como os netos iriam viver no futuro: "Não vai ter lugar para eles fazerem as roças, se eu destruir toda a terra e todo o mato". Nossos avós não mata­ram todas as caças, só mataram o que era para comer: "Se eu matar todas as caças, não vai ter onde meus netos caçarem".

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De manhã, às sete horas, saímos para caçar. Qualquer caça que aparecesse na frente. Encontramos um rastro de anta e, assim, fomos atrás dela. Muitas vezes, seguindo pelo rastro, demora para encontrar a anta. Tem que ir bem devagar. Se for depressa, a anta corre. A anta não dorme na mata limpa, ela dorme na mata cerrada. E sempre tem pássaros que a acompanham. Quando esses pássaros vêem gente, a anta corre ! E por isso que tem que esperar que os pássaros saiam. Quan­do todos foram embora, então voltamos a seguir a anta. Quando a encontramos, atiramos bem certo, na cos­tela, para ela morrer rápido.

Professôres Waiõpi

Os nossos filhos têm direito de caçar sozinhos quando eles não têm medo. Os nossos filhos co­meçam a caçar sozi­nhos quando eles têm dez ou onze anos.

Aikyry

Caçar

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O meu pai me contou que existe K.a'ajar, que é o dono das florestas. Quando a pessoa vai caçar sozinha à noite, muito longe, ele deixa a pessoa ficar doida. Sabe como ele faz para a pessoa não voltar para sua casa ? Ka'ajar deixa a pessoa ir dentro do mato. A pessoa faz caminho, mas volta sempre no mesmo caminho, sai no mesmo lu­gar... Até que Ka'ajarvem comer a pessoa. Ou ele dei­xa a pessoa voltar para sua casa e morrer lá. Para o Ka'a Jar não pegar a gente, tem que amarrar um cipó e deixar no caminho. Lá Ka'a Jar fica. Até nós temos medo de Ka'ajar. Dizem que este Ko o Jar mora numa montanha ou na mata cerrada. Por isso, também, quando nosso parente está caçando sozinho, ficamos muito tristes. Principalmente a esposa da pessoa. Mas quando a pes­soa vai caçar de dois, Ka'ajar não pega.

Aikyry

Nós, Waiãpi, pescamos também. Pescamos com anzol. As iscas que usamos para pescar são carne de animais, frutas do mato como taperebá, ingá e outras. Os nossos filhos gostam muito de pescar, e os adultos também. Depois de pegar os peixes nós levamos para a aldeia onde nós moramos. E lá que as mulheres preparam o peixe para seus maridos e para seus filhos comerem.

Aikyry

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Aprendizado

Nosso pai ensina a gente a fazer artesanato dos nove até os doze ou quinze anos. Quando ainda não sabemos, nosso pai ensina todo os dias. Às vezes, o arumã corta toda a nossa mão, e paramos de fazer artesanato. Deixamos para fazer nos outros meses. Quando a gente fica muito preguiçoso para fazer arte­sanato, a gente apanha do nosso pai.

Para aprender a fabricar artesanato, temos que ficar prestando atenção quando nosso pai está fazendo. Só olhando. Depois fazemos sozinhos o que o nosso pai fez. Tem que treinar quase todos os dias para saber fazer vários tipos de artesana­to. Quem ensina a fazer artesanato é o avô, o pai ou um amigo da pes­soa. Com o avô ou com o pai é mais fácil de aprender. Com os nos­sos amigos é mais difícil, porque eles não explicam direito para nós.

Parará Aikyry

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Utensílios para casa

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Mitu Esteira quadrangular trançada em folhas de palmeira bacaba (Oenocarpus bacaba Marf.J ou murumuru (Asfrocaryum sàophilum Miquel), usada também como tampa para os potes de alimentos e bebidas.

Antigamente nosso povo usava o mitu para colocar beiju em cima. Agora também usamos para colocar algodão em cima. As mulheres usam quando vão bater o algodão.

Professores Waiãpi

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Warape'a Pequeno cesto com tampa encaixante, trançado com folíolos de palmeira curuá (Atalea spectabilis Mart.).

A gente usa palha de curuá para fazer warape'a. A gente tira a palha ainda nova e não abre. Tira e cozinha. Quando está bem cozida, a gente abre. Depois coloca no sol para secar. Aí faz warape'a. Trança na mão e enrola, até sair warape'a. Usa­mos para guardar penas de tucano, de arara. Para manter as coisas limpas.

Kumare

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M atura Cesto cilíndrico de trama fechada, trançado com fasquias de arumã (Ischnosiphon obliquus R.). Os motivos marchetados resultam do entrelaçamen­to de fasquias pintadas com resina e de fasquias simplesmente descasca­das. Esses cestos, em di­versos tamanhos, são sobretudo usados pelas mulheres, para conservar sementes ou fibras de al­godão, fusos e novelos de fios; também são usados para guardar objetos de uso pessoal: colares, cor­tes de pano, pentes, ...

Primeiro a gente vai buscar arumã na beira dos igarapés. A gente tira trinta arumãs para trazer para casa. A gente tira a casca do arumã e, quando está pronto, a gente co­meça a fazer o artesanato. Tem que fazer bem devagar, para não fazer errado. A gente tem que prestar bem atenção. Por isso que, no começo, tem que ter cabeça boa para fazer um artesanato. Levamos cinco dias para acabar de fazer um cesto grande ou um cesto pequeno. Os nossos pais ou nossos avós ficam de olho na hora que a gente está fazendo. Quando não sabemos fazer, chamamos nosso pai para ajudar a gente.

Parará

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Karyru 'Maia' ou cestos quadrangulares, com tampa encaixante, trança­dos com folíolos de palmeiras curuá ou com fasquias de arumã. Estes cestos são usados pelos homens como recipiente para os mais diversos pertences pessoais: adornos, cortes de pano, ci­garros, anzóis, fibras...

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Primeiro nós vamos pro­curar as palhas no mato e trazemos para casa. Depois as mulheres cozinham. Quando terminam de co­zinhar, põem para secar no sol. Quando seca bem, aí nós vamos pegar o talo de flecha. Descascamos bem o talo de flecha. Tiramos talo de flecha fino para fazer o quadro. Aí começamos a fazer a mala koryru. Aí faze­mos de novo a tampa da mala koryru. Levamos dez dias para terminar. A mala karyru serve para guardar coisas dentro: penas de tucano, penas de arara, penas de mutum, pilhas e pano fino. Serve também para vender na cidade. Nós fazemos caprichada a mala karyru. Não é qualquer ma­to que tem palha nova. Por isso às vezes nós não faze­mos a mala karyru.

Kaitona

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Kea Rede de dormir em fios de algodão (Gossypum barbadense), distinguindo-se a rede de trama aberta, sawyra, e a rede de tecido compacto, ini.

Como as mulheres fazem a rede: Primeiro as mulheres planta algo­dão na roça. Plantam também no pátio da casa. Depois de alguns meses, nascem as sementes de algodão. No outro ano, a planta já dá flor e depois fruta. A semente de algodão abre, e então as mu­lheres vão buscar o algodão na ro­ça, trazem para casa e colocam o algodão no sol para secar. Depois as mulheres tiram a semente do algodão. Batem o algodão com ta­lo de miriti, em cima da esteira mitu. Batem bem, para ficar duro. Depois as mulheres pedem para o marido ir buscar pau preto para fa­zer os fusos. As mulheres fiam o algodão e depois, quando o fuso está cheio de linha, elas guardam o fuso embaixo do telhado da casa e fiam outro novelo. Demora muito para acabar, porque é difícil fiar. As vezes as mulheres cansam de fiar, a mão da mulher fica cansada.

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Quando os novelos estão prontos, os homens vão buscar dois paus pequenos para as mulheres. Primeiro descascam e fincam os paus embaixo da casa. Aí as mulheres trançam a rede em torno dos paus. Em cinco dias fica pronta. Depois os homens vão buscar kurawa na roça, descascam o kurawa e fazem a cor­da para o punho da rede. Então as mulheres deitam dentro da rede, para ver se não falta alguma coisa. A rede serve para dormir dentro.

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Kea Para suspensão das redes no madeirame das habitações, são usadas cordas em fibras de curauá (Bromedía Karafas L.j.

Rykyry - Cesto de trama aberta também utilizado para a coleta dos pro­dutos da roça (cará, bata­tas doces, milho) e para o armazenamento de ali­mentos (farinha de man­dioca, em folhas de bananeira). Esses cestos, amplamente utilizados no cotidiano, são confeccio­nados com fasquias de arumã ou cipó.

Os homens fazem os fusos. Quando terminam de fazer os fusos, dão para as mulheres, e as mu­lheres pegam o algodão para fiar. As vezes, elas levam três meses para terminar de fiar. Fazem um novelo muito grande. Depois, os homens vão pegar um pedaço de madeira pequeno para as mulheres armarem o tear.

Seni

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As mulheres tiram o algodão e guardam dentro do rykyry. Depois colo­cam o algodão no chão, para secar no sol, e tiram as sementes para po­der fiar com o fuso. Então as mulheres fiam o algodão. Fazem dois nove­los para fazer uma rede com trança grande. Não é difícil fazer a rede dos Waiãpi. Primeiro o homem vai procurar duas varas retas. Não pode fa­zer com vara torta porque não dá certo. Então descascamos e depois trazemos para casa. Também não fincamos rápido as varas, primeiro co­locamos para secar no sol. Quando estiverem bem secas, fincamos as varas, as mulheres armam os fios em volta delas e começam a tecer. Terminam de fazer a rede em vinte dias. Quando as mulheres trançam rápido, terminam em menos dias. Quando acabam de tecer, elas esperam a gente terminar de fazer a corda.

Taraku'asi

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Apyka Bancos talhados num só bloco de madeira de ce­dro vermelho (Cedrela Odorata L). Os bancos masculinos, apyka kwaima'e, têm um formato côncavo ovalado, ao passo que os bancos usados pelas mulheres e crianças têm formato quadrangular.

Primeiro nós vamos procurar o cedro. Quando nós achamos, derrubamos a árvore com o machado e cor­tamos, também com o machado, dois metros de cedro. Depois descascamos e, quando acabamos de descascar, entalhamos com terçado. Tem que fazer bem devagar, porque senão de repente quebra a cabeça do banco. Por isso, tem que fazer a cabeça com canivete. A pes­soa vai buscar o leite de uma árvore que nós chamamos dejywo. Leva uma panela para colocar o leite da árvore dentro, traz para casa e pinta com um pedaço de pau fino. Primeiro molha o pau com o leite da árvore, depois pinta. Faz um tipo de desenho. Quando acaba de pintar, bota o banco no sol para secar.

Parará

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MEC/INEP/CIBEC

O banco é feito pelos homens Waiãpi. Os homens vão procurar o cedro na ma­ta; quando encontram, eles derrubam com machado. Cortam um pedaço, ras­pam, descascam e entalham. Quando ter­minamos de entalhar, nós vamos procurar leite de maçaranduba para pintar o banco. Quando não tem leite de maçaranduba, a gente pega o jenipapo para ralar, depois espreme e coloca no sol para ficar preto. Aí a gente pega um pauzinho, enrola algo­dão, molha e faz um desenho bem feito no banco. Pode ser desenho de espinha de pacu, desenho de sucuriju, de jibóia e de onça. Este banco simples serve para a gente vender na cidade.

Seni

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Utensílios de cozinha

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Kui Recipiente de cuia, fruta da árvore Crescenfia cujete L, plantada na roça. Utilizado para servir bebidas fermentadas, alimentos líquidos (xibe, mingaus, e tc . ) e cozidos de carne ou peixe. A parte interna da cuia é polida com folhas e revestida com resina; a parte externa pode ser decorada com motivos incisos.

Tapekwa Abano trançado com folíolos de palmeira murumuru ou cunanã. Além de sua principal função, atiçar o fogo, este artefato também é usado como bandeja para alimentos ou co­mo virador de beiju.

Os Waiãpi plantam pés de cuia perto de suas casas. Os homens plantam, e as mulheres também. Quando a fruta está madura, a gen­te tira, corta no meio, tira a polpa e depois cozinha a cuia. Depois pinta com a resina pysyru. É a mulher que corta a cuia e cozinha, mas é o homem que pinta. As vezes as mulheres pin­tam, também. Usamos a cuia para tomar caxiri e mingau.

Emyra e Waimisi

As mulheres usam tapekwa para virar o beiju, quando está assando, e para tirar o beiju do fogo. Os homens fazem tapekwa com a folha nova do cunanã. O tape­kwa também serve para acender o fogo.

Emyra e Waimisi

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Panakari Cesto quadrangular con­feccionado de fasquias de arumã com e sem casca, num trançado marcheta-do. As bordas do cesto consistem num trançado cerrado de arumã cuja borda superior é refor­çada com cipó. O cesto repousa sobre quatro pés de madeira e é utilizado como recipiente para a massa de mandioca peneirada.

Primeiro nós vamos buscar o arumã. Nós leva­mos terçado para cortar. Depois nós trazemos para a aldeia. Nós também trazemos breu para pintar com ele o arumã. Nós tiramos a casca do arumã, depois pintamos com breu. Primeiro nós acendemos o breu, depois colocamos embaixo, na panela de barro. Depois que saiu bem a tinta, aí nós pintamos. Depois que pintamos, tiramos com nossa unha; depois, trançamos. Depois está pronto: aí nós trazemos para vender na cidade. O panakari é muito difícil de fazer. Por isso é caro.

Paturi

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Urupe - Peneira quadrangular, consistindo num trançado com fasquias de arumã preso à uma amarração de varetas de madeira dura de pitangueira (Eugenia Patrisii Vahl).

urupe

Para fazer panokarí, primeiro nós vamos procurar breu para pintar arumã. Nós vamos muito longe para pegar breu. Nós também usamos a tinta de uma árvore chamada sisi esi para pintar arumã. Nós fazemos um panaku para carregar o breu e levamos até a aldeia. Aí nós queimamos o breu. Se o breu molhou, primeiro tem que pôr para secar. Quando seca bem, aí queima. O breu faz muita fumaça, então nós colocamos numa panela de barro e tampamos bem. Quando está bem tampada, o breu fica todo na panela. Depois nós vamos muito longe de novo, para pegar arumã. Nós levamos terçado e faca para cortar o arumã. Tiramos muito arumã e levamos para casa. Quan­do chegamos em casa, nós raspamos o arumã com uma faca. Depois pintamos com tinta feita de breu. Quando terminamos de pintar, aí nós vamos des­cascar. Depois de descascar, nós levamos dez dias para trançar o panakari. O ponakah serve para guardar massa, beiju e outras coisas.

Kaitona

panakari

panakari de lado

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Tepisi Cesto cilíndrico extensível, confeccionado com fasquias de arumã. O cilindro apresenta uma abertura na parte superior e duas alças; a de cima para prender o tipiti a um ponto fixo e a de baixo para introduzir a alavanca e distendê-lo. O tipiti é usado para prensar a massa de mandioca brava ralada, extrain-do-se assim o ácido hidrociânico.

Primeiro corta arumã, aí tira a cas­ca. Quem faz tipiti é homem, quem usa é mulher. Rala a mandioca, co­loca dentro do tipiti, pendura no pau e enfia outro pau na parte de baixo. Aí a mulher senta no pau de baixo, e o tucupi sai. Depois a mu­lher cozinha o tucupi. Também tira a tapioca, coando na peneira.

Emyra e Waimisi

Page 41: Artesanato indígena

Turuwa Com o barro as mulheres confec­cionam recipientes de diversos tamanhos e formas, distinguindo-se os grandes potes para água e bebi­das fermentadas, y' ar, warypy; as panelas para cozer alimentos, turuwa, e as tigelas para servir e armazenar alimentos, parapí. As peças de cerâmica são enverni-zadas com resina de jutaiceira ou jatobá (Hymenea courbaril) e rara­mente apresentam motivos decorativos.

Nossos avôs faziam turuwa com barro (yjy). Aqui na aldeia Aramirã é difícil encontrar. Na al­deia Ytuwasu tem, na beira do rio. Não é em to­do lugar que tem esse barro. Os homens tiram o barro e as mulheres fazem. Tem barro azul, mar­rom, branco, vermelho. Esse barro não quebra. As mulheres enrolam o barro para fazer uma pa­nela. Quando a panela sai fininha, continuam en­rolando. Depois deixam secar, até o barro ficar bem seco. Aí as mulheres alisam com um seixo (takuã), até o barro ficar bem liso. Depois colo­cam dentro do fogo para queimar. A gente usa lenha leve ou casca bem seca, para queimar rápi-do. E bom usar lenha seca de andiroba, que é uma lenha leve. Depois de queimar por baixo, elas colocam a lenha em cima da panela e acen­dem o fogo de novo. Depois, viram de ponta ca­beça e colocam carvão dentro da panela, para queimar por dentro. Quando terminam de queimar, as mulheres preparam a casca de uma árvo-re chamada toriri, tirando a seiva, e pintam a panela enquanto ainda está quente. Não pode misturar o barro com cinza. Só pode misturar barras de cores diferentes.

Kumare

Page 42: Artesanato indígena

Instrumentos de caça e pesca

Page 43: Artesanato indígena

Nossos avós faziam anzol de chifre de veado porque eles não conheciam anzol de karai ko (não índios). Nossos avôs tiravam o chifre do veado, cortavam um pedaço de madeira e amarravam o chifre no pedaço de madeira com algodão e resina.

Professores Waiãpi

So'o pina Anzol confeccionado com uma pon­ta em chifre de veado fixada a uma vareta de pau d' arco paira, extremamente resistente. A alça é amarrada à linha de algodão.

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Rapar Flechas, cujas hastes de sagitária (Gynerium Sagittatum) são plantadas nas capoeiras. As extremidades das fle­chas são constituídas de uma reta de madeira dura e de vários tipos de pontas (lanceoladas em taboca, farpe­adas em madeira, ponta de osso ou ponta rombuda, com pedaços de casco de jabuti) que variam de acordo com os animais e/ou peixes a serem caçados. Na em-plumação (costurada) das flechas, são utilizadas penas de mutum, gavião e arara.

Esse texto é sobre os caçadores que matam os animais com fle­chas. Na ponta da flecha tem veneno. Primeiro, nós fazemos a flecha, daí nós vamos procurar o veneno. Ele é vermelho. A gente passa o veneno na ponta da flecha para ela ficar en­venenada. Depois nós vamos caçar e, quando encontramos a caça - queixada, por exemplo -, acertamos bem no coração. Daí a caça morre rapidamente. Assim é a arma dos Waiãpi. Quando a gente faz muitas flechas, a gente termina de fazer em dois dias. Primeiro a gente tira um pedaço de taboca para a ponta e depois raspa bem. Aí experimenta primeiro, para ver se deu certo. Quando a gente faz errado, a flecha quebra logo quando acerta o animal. O arco é feito com um tipo de pau que existe dentro do mato, mas é difícil de achar. Com o arco acontece a mesma coisa: quando a gente não faz corretamente, a gente não acerta a caça. Quem faz bem caprichado acerta.

Taraku'asi

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Paira Arco, de Secção convexo-plana, entalhado em madeira de árvore morta do tipo paira, o pau-tartaruga (Brosimum guianense). O compri­mento dos arcos varia entre 1,6 e 2,1 metros. A corda de fibra curauá é revestida com resina.

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Objetos de uso pessoal e adornos

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Typoi

As mulheres plantam sementes de algodão na ro­ça. Os homens ajudam as mulheres a plantar algo­dão. O algodão não cresce bem no mato cerrado, por isso nós limpamos o lugar onde plantamos to­da semana. Depois de dois anos, o algodoeiro dá flor e semente, então o algodão está pronto para ser colhido. As mulheres vão tirar algodão na roça e levam um paneiro para trazer o algodão dentro. As mulheres chegam em casa e colocam o algo­dão para secar no sol. As mulheres demoram qua­tro dias para terminar de tirar os caroços do algo­dão. Elas batem o algodão sobre a esteira e depois fiam com o fuso.

As mulheres fazem tipóia para carregar os filhos pe­quenos. Primeiro, as mu­lheres fiam o algodão para tecer a tipóia. Elas fazem uma linha fina. A linha grossa não serve para fa­zer tipóia tecida. Não é muito difícil fazer uma tipóia bonita. As mulheres demoram um dia para te­cer. Tem mulher que tem preguiça para tecer a ti­póia, e então não faz em um dia. A tipóia tecida também é útil para vender na cidade. Elas fazem cinco novelos para fazerem uma tipóia tecida. As mulheres gostam de vender a tipóia para poderem comprar mercadorias na cidade.

Muruti

Professores Waiãpi

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Akanytar Coroa de plumas de papo de tuca­no, adorno cotidiano dos homens também usado pelas mulheres du­rante os rituais. O pingente dorsal desta coroa, denominado 'flor do akanytar' é normalmente constituído por pássaros do tipo anambé ou por elitres de besouro, ou ainda por bicos de tucano.

Quando tem muito açaí, conseguimos matar tu­canos para tirar os papos deles. Nós fazemos uma tocaia junto do açaizal e ficamos esperando os tucanos virem comer. A gente tira o rabo e o papo dos tucanos e colocamos na parede de pa­lha da nossa casa para secar; eles não ficam po­dres, mas se deixarmos no chão, vão ficar sujos. O peito do tucano demora mais ou menos vinte dias para secar. Quando está pronto, tiramos e colocamos dentro da mala koryru ou da caixinha warape'a. Tem que encher a mala para fazer uma coroa. Depois vamos buscar cipó grosso dentro do mato e trazemos para casa para fazer a co­roa. Costuramos cada pluma com fio de algodão bem fininho, que as mulheres preparam. Com fio grosso não dá para fazer.

Parará

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A coroa akanytar é muito difícil de fazer, porque não tem tucano todo dia pelo mato. Tem, mas a gente não encontra sempre; às vezes a gente encontra só um, e fi­ca difícil matar, porque ele te vê, voa e'se esconde. Por isso é muito difícil fazer coroa. Você tem que matar os tucanos no tempo do açaí, porque então tem muito tu­cano. Se você matar três tucanos, não dá para fazer uma coroa, mas se você matar quinze tucanos, aquele papo que não presta você não vai precisar usar. Tem que es­colher os papos mais bonitos para fazer o akanytar. Por isso é muito caro para vender na cidade. Nós usamos akanytar quando tem festa na aldeia. Aí nós, Waiãpi, usa­mos para ficarmos bonitos. É isso que eu queria escrever para vocês saberem.

Moropi

Akanytar soro - Coroa vertical, con­sistindo num aro de cipó sobre o qual estão fixadas penas de tucano e de arara. Este adorno, hoje pro­duzido para comercialização, era usado em certos rituais nos quais os dançarinos representavam o vôo de pássaros que voam alto e através disso, simbolizam o bem estar e a boa saúde do grupo.

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Colar de semente de parakarua

Nós plantamos parakarua na roça, não tem no mato. Quando o fruto está maduro, as mulheres esco­lhem as sementes e furam com agulha. Não é fácil de furar, é mui­to duro. A gente usa só um fio de algodão para enfiar as sementes. Pode colocar dente de onça no meio do colar, mas daí homem não vai usar. Os homens usam o colar bem comprido, as mulheres usam curto.

Colares

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Colar de dente de macaco

Nós matamos macaco e apro­veitamos para tirar o dente para fazer colar. Para fazer o colar é preciso do trabalho do homem e da mulher. O fio de algodão são as mulheres que fazem. A mulher tira o dente e fura com agulha. Quando tira o dente logo depois que o macaco foi caçado, não é duro para furar. Daí vai colocando os dentes no fio de algodão. Pode fazer pulseira também, só que menor. Mulher usa, homem também. Usamos nas festas.

Colar de urupo'yr

Homem e mulher podem fazer colar de urupoyr. A gente faz com tala de arumã. Só fazemos com arumã. Vamos dobrando a tala do arumã, enrolando até sair uma bolinha. Fazemos as bolinhas separadas, depois, quando tem muitas, enfiamos no fio de algodão. Usamos mais nas festas.

Kumare

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Instrumentos Musicais

Awai é semente de cipó do mato. A gente não planta na roça, só tem no ma­to. Nós tiramos awai para fazer enfeite ou chocalho. Primeiro as mulheres fa­zem fio de algodão, mas são os homens que fazem o chocalho. Pega o fio de algodão, amarra e pinta com tinta da árvore misturada com urucum, depois a gente fura a semente no meio, passa o fio de algodão e amarra na ponta. Aí fi­ca seguro. Só os homens usam, as mulheres não usam. Usamos nas festas, em todo tipo de festa os Waiãpi usam. A gente amarra na perna e quando a gen­te dança ele fica fazendo barulho.

Kumare

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Awai Chocalho em fieira de sementes de castanha do tipo 'chapéu de napoleão (Thevetia ahuai A.D.), fixadas numa faixa de algodão tecida.

Só os homens fazem moraka. A gente faz maraka para usar nas festas. Tem um outro tipo de maraka que só pajé usa. Quando a gente faz festa, todo mundo usa. A gente coloca as sementes den­tro de uma cuia pequena. O nome desta planta é ma'y ra'y e a gente planta na roça. A gente coloca também um pedaço de flecha com fio de algodão e amarra pe­nas de arara na ponta. As penas podem ser de tucano também. Pajé usa também, quando cura paciente.

Kumore

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Os velhos gostam de tocar flauta de osso de veado, que chamamos sob kõwer. Quando estão muito alegres, tocam de manhã cedo. Quando não tem ninguém doente, tocam também de tarde. Quando tem muitos doentes, não tocam porque ficam preocupados. Mas se têm vontade de tocar, tocam para não ficar tristes. Eles também tocam para ensinar os filhos. Essa flauta também serve para as meninas solteiras: elas ficam apaixo­nadas. Só com quem toca bem bonito. Se tocar feio, não ficam apaixonadas. Tocamos para elas música dos pássaros, do wyname, do takiriri, para elas não esquecerem mais de nós. Temos outra flauta, erevu. Quem sabe tocar faz a música dentro da flauta. Tocamos essa flauta na festa dos peixes, dos pássaros, das borboletas e do urubu. Quando uma festa vai começar, tocamos uma flauta comprida, jimi'a puku. Tocamos para o nosso criador, Janejar, ficar alegre conosco, porque a gente está tomando a nossa bebida. Não tocamos

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todos os dias, só quando tem bebida, quando tem festa grande. Aí, não paramos de tocar até a festa terminar. Quando acaba, a gente guarda a flauta embaixo da casa para o sol não estragar, porque essa flauta é de Janejar. Antigamente, ele mesmo gostava de tocar, por isso até hoje nós tocamos jimi 'a puku. Tem também cantador de flauta turé. Tem flauta curta, média e cumprida. Quando ele toca, faz uma música dentro da flauta, para outros responderem. Não canta para a gente ouvir, canta dentro da flauta. Por isso, tem que ouvir bem para responder. Cada um tem que responder dentro da sua flauta, cada um vai responder diferente. Na festa do peixe paku, tocamos flautas de taboca, de imbauba e erevu. Essa festa dura dois dias. Quando começa, todo mundo faz fila para tomar caxiri. Quando terminamos de tomar, tocamos as flautas. Quando o dono da festa pára de tocar sua flauta, aí começamos a cantar.

Parará

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Pirara'ãga Máscara utilizada por todos os dançarinos durante a festa do peixe pacu. Esta vestimenta consiste numa armação de madeira à qual está preso, na parte superior, um peixe talhado em madeira; na parte central, um chapéu trançado com fasquias de arumã, faixas de envira escurecidas envolvem as costas do dançarino. Durante a dança, os peixes batem nas armações, produzindo um barulho que representa o movimento dos pacus 'dançando' nas cachoeiras.

Piroraõgo é uma figura de peixe entalhada na madeira. A gente tira um pedaço de uma árvore chamada kaisu e entalha. Os homens que fazem. A gente pendura na flauta ou usa na máscara da festa Pakuasu.

Kumare

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Porque vendemos artesanato

Agora nós dirigimos carros e barcos, e também compramos combustível e ferramentas para a manutenção dos equipamen­tos. Nós precisamos trabalhar sozinhos. Antigamente os Waiãpi viviam bem. Quando o branco encontrou com os Waiãpi, levou doença para a nossa área. A FUNAI chegou para tratar as doenças, que nenhum Waiãpi conhecia. A FUNAI dava muni­ção de graça, armas, remédios, motores para barco, voadeiras, pano vermelho, terçado, anzol, panela e outras coisas que a gente não tinha. Daí os Waiãpi se acostumaram a usar as coisas do branco e a pedir coisas do branco para a FUNAI. A FUNAI dava, dava, e de repente não deu mais as coisas de graça para os Waiãpi. Os Waiãpi sofreram muito. A FUNAI não ensinou como os Waiãpi podiam conseguir dinheiro para comprar mer­cadorias. Nós não sabíamos que as mercadorias dos brancos eram todas compradas, porque a FUNAI não falou para nós. Aprendemos coisas novas com o CTI. Começamos a dirigir voadeira e barco, aprendemos a consertar motor e a usar fer­ramentas. Em 1992, nós começamos os cursos do CTI para a formação de professores waiãpi. Aprendemos coisas novas: falar melhor o português e contar os números. Aprendemos matemática para ninguém enganar a gente na cidade. Apren­demos também a fazer projetos. Daqui a alguns anos nós não vamos mais precisar nem da ajuda da FUNAI e nem do CTI.

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A nossa organização melhorou porque nós aprendemos a escrever e falar português e soubemos coisas novas. Sabe por que precisamos do apoio de vocês para conseguirmos dinheiro ? Quando a gente vende artesanato na cidade, nós não vendemos muito caro para o branco. Munição, panela, pano vermelho, rede e cobertor nós compramos com o dinheiro do artesanato que vendemos na cidade. Na cidade a alimentação não é de graça. Precisamos de dinheiro para a alimentação e para a estadia dos caciques, quando eles vão participar de as­sembléias. Na cidade, não temos condições de ficar sem dinhei­ro. É por isso que nós precisamos vender artesanato para os brancos. Queremos que vocês acreditem em nossa palavra.

Professôres Waiãpi - curso de 1995

Nós estamos plantando frutíferas para termos frutas para ven­der. Vai demorar porque estamos plantando agora, mas vamos querer vender por um preço bom. Não queremos vender bara­to. Também queremos vender outros produtos de nossa terra. Por isso trabalhamos. Para termos coisas para vender, tiramos ouro para vender e outros produtos. Estamos sempre circulan­do na nossa terra para tirar produtos para nós e para vender na cidade. Não vamos deixar nosso modo de ser, mas estamos preocupados em saber como vamos cuidar das coisas dos bran­cos que já estamos acostumados a usar: motor de popa, carro, espingardas. Precisamos ter dinheiro para isso. Nós estamos usando essas coisas que os brancos trouxeram e agora são nos­sas, mas continuamos a viver como índios, com nosso modo de ser. Não deixamos nosso modo de vida.

Kasiripina

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Equipe editorial DominiqueGallois Lúcia Szmrecsányi Ângela Rangel Lílian Abram dos Santos Catherine Gallois

Desenhos Ajãreaty Waiãpi Aikyry Waiãpi Janaina Waiãpi Januari Waiãpi Joje Waiãpi Karapati Waiãpi Kaviano Waiãpi Korõi Waiãpi Kumaré Waiãpi Majuare Waiãpi Namaira Waiãpi Nazaré Waiãpi Nekuia Waiãpi Parará Waiãpi Puku Waiãpi Samõ Waiãpi Seki Waiãpi Singau Waiãpi Taraquasi Waiãpi Tatare Waiãpi Tsiro Waiãpi Wyrai Waiãpi

Textos Aikyry Waiãpi Ajãreaty Waiãpi Emyra Waiãpi Japaropi Waiãpi Kaitona Waiãpi Kasiripina Waiãpi Kumai Waiãpi Kumare Waiãpi Makaratu Waãpi Moropi Waiãpi Muruti Waiãpi Parará Waiãpi Paturi Waiãpi Seki Waiãpi Seni Waiãpi Tapenaiky Waiãpi Tarakuasi Waiãpi Waimisi Waiãpi Waiwai Waiãpi

Fotografias, tradução e textos complementares Dominique Gallois

Projeto gráfico Catherine Gallois

CTI Centro de Trabalho Indigenista Rua Fidalga, 548 sala 16 05432-000 São Paulo-SP tel (11)813 3450 fax (I 1)212 1520 [email protected]

APINA Conselho das Aldeias Waiãpi Rua São José, 1570 Bairro Central 68906-270 Macapá -tel (96)2129146 fax (96)212 9159 [email protected]

Apoio ao Programa de Educação Waiãpi Ministério da Educação e do Desporto Norwegian Rainforest Foundation Operação OD

AP

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Nós, Waiãpi, sabemos tudo e valemos muito. Nós sabemos fazer reuniões. Sabemos fazer festas. Nós somos contadores, canto­res, lutadores, brincalhões, guerreiros. Nós, Waiãpi, sabemos fazer filhos para o povo Waiãpi não acabar. Nós, Waiãpi, somos inteligentes também. Sabemos ler, escrever, fazer projetos, usar dinhei­ro... Sabemos dirigir carro, motor de popa. Sabemos manter a nossa floresta, os rios, nossas famílias... Sabemos criar filhos de animais como filhos de humanos.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO