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    BRINCADEIRA E PRTICAS EDUCATIVASFAMILIARES: UM ESTUDO COM FAMLIASDE BAIXA RENDA1

    EDNA MARTINSDoutora em Psicologia da Educao (PUC-SP); professora da Universidade Ibirapuera.

    HELOISA SZYMANSKIDoutora em Educao ( Psicologia da Educao da Pontifcia Universidade Catlica-SP);

    professora do Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Educao (PUC-SP).

    Resumo: O presente trabalho teve por objetivo compreender a utilizao dabrincadeira como prtica educativa familiar em uma comunidade da periferia dacidade de So Paulo. Seguiu-se, como referncia, as propostas tericas deBronfenbrenner. Foram consideradas questes relativas importncia do brinquedonas prticas educativas dessas famlias, os tipos de brincadeiras que fazem parte docotidiano de suas crianas e as mltiplas relaes entre educao no formal, crianae brincadeira. Os resultados apontaram que o brincar entre adultos e crianasintegram-se s prticas educativas das famlias, mostrando-se como um poderosoinstrumento de socializao e de transmisso de valores e prticas.

    Palavras-chave: brincadeira; prticas educativas na famlia; famlia de baixa renda;brincadeira adulto /criana.

    CHILDREN PLAY AND FAMILY EDUCATIONAL PRACTICES:

    A STUDY WITH LOW INCOME FAMILIES

    Abstract: The present work searches to study if adult/child play can be consideredan educational practice among families living in a low-income neighborhood in SoPaulo. Our theoretical considerations were based mainly on Bronfenbrenner. Ideasin the consideration of themes such as: importance of adult/child play, gameschildren play in their everyday life and the multiple relationships between non formaleducation, child development and play. Our results indicated that adult/child playintegrated educational practices by mothers and could be considered as a socializationtool and a way to inform children about family values and practices.

    Keywords: adult/child play; playing; family; low income family; familyeducational practice

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    Inegavelmente, a famlia o primeiro meio de socializao dacriana, em que ela receber a base inicial do que consiste a vida emsociedade, quer seja um grupo constitudo segundo a estrutura nuclearmoderna que a sociedade como um todo tem como modelo, ouorganizada de acordo com outras possibilidades. Agentes, como escola,igreja e a comunidade em que ela est inserida tambm contribuiropara o processo socializador, trazendo elementos para a construosocial do indivduo.(Berger e Luckmann, 1974; Gomes, 1994).

    A insero da criana no mundo se d em meio a trocas intersubjetivas,e as maneiras de ensinar a criana a existir como um ser social podem serconsideradas como prticas educativas. Para Szymanski (1998; 2001a), asprticas educativas ocorrem de maneira informal ou mesmo sem umplanejamento explcito, porm, vinculadas a uma imensa gama desituaes de vida. O mundo transmitido por homens e mulheres, jovense velhos que formam os grupos familiares por sua vez o mundo queforam por eles, recebidos de outros homens e mulheres que encontraramem suas vidas. Receberam-no (com ou sem ressalvas) e passam-noadiante. Este processo pode ser chamado de prticas educativas porquese do na forma de aes contnuas e repetitivas e incluem uma propostade ser no mundo com o outro, constituindo-se numa herana culturalque possibilita a insero desse novo membro no mundo mais amplo. nesse montante de atividades estimuladoras fornecidas pela famlia,que se d o fenmeno da brincadeira, dos jogos e dos muitos brinquedosque podem auxilar os adultos na educao da criana.

    Em psicologia, o estudo sobre o valor da brincadeira nodesenvolvimento infantil tem sido seriamente discutido em teoriasclssicas como as de Piaget (1946) e Vygostsky (1994), como tambmpor outros autores, que reconheceram a importncia das brincadeiraspara o desenvolvimento infantil. (Bruner, 1986, Kishimoto, 1996; 1997e Ortega 1990).

    Uma reviso na literatura aponta para a riqueza de pesquisasrelacionando brinquedos e brincadeiras com a aprendizagem humana,ou desenvolvimento cognitivo e a importncia do uso dos jogos e

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    brincadeiras na educao infantil (Henniger, 1991; Nicolopoulou, 1994).Alguns desses estudos vo desde as aprendizagens relacionadas linguagem (Tamis-LeMonda e Bornstein, 1994; McCune, 1995),desenvolvimento cognitivo de crianas com relao quantidade debrinquedos que tm disponveis em suas casas (Lacroix et al., 2001),at estudos sobre a influncia de brincadeiras de faz-de-conta noraciocnio dedutivo de crianas em idade pr-escolar (Yunes, 1999).

    No Brasil, muitas pesquisas desenvolvidas buscam compreendera influncia dos jogos e brincadeiras no ensinamento de alguns conceitosescolares. O jogo tem sido muito estudado como instrumento para odesenvolvimento de capacidades cognitivas, como raciocnio lgico elinguagem verbal (Correia e Meira 1997; Moura, 1991; Scarpa, 1991,Santos e Alves, 2000 e Macedo et. al, 2000). So comuns, tambm,pesquisas na rea de psicologia e educao que estudam a interao decrianas, destas com os adultos, em instituies pr-escolares, alm dasinfluncias do brinquedo nestas relaes e o espao dedicado ao brincarnestes locais (Andrade, 1991; Wajskop, 1995; Gonalves 1996; Martins,1998). So desenvolvidas tambm muitas pesquisas sobre interaosocial e o brincar de faz-de-conta, brincadeira simblica ou de papis(Bichara, 1994; Salum, Morais e Carvalho,1994; Mello e Sperb, 1997).

    Alm dos estudos clssicos de Huizinga (1996), pesquisas sobrediferenas culturais em relao brincadeira de criana, aumentaramnas ltimas dcadas. Estudos sobre diferenas inter e intraculturais nainterao de mes e crianas (Zevalkink e Riksen-Walraven, 2001), comodiferenas individuais no jogo de faz-de-conta de crianas pr-escolaresamrico-coreanas e amrico-europias (Farver, Kim e Lee-Shin, 2000)tm contribudo muito para a compreenso das formas de brincar decada cultura e as suas implicaes para o desenvolvimento humano.

    Uma pesquisa realizada com pais e suas crianas na ndia, porRoopnarine, et. al., (1990), demonstrou diferenas culturais entre aforma de cuidado que esses pais tm com seus filhos, incluindo amaneira de jogar dessas famlias. Pesquisadores concluram que, na ndia,crianas so cercadas pelo contato de corpo direto. So constantemente

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    segurados, abraados, e freqentemente so levados no quadril dospais. J que as crianas ficam sempre to prximas fisicamente de seuspais, nesta cultura, o jogo fsico parece no ser uma atividade principaldurante interao de pais com crianas como ocorre nos EstadosUnidos, por exemplo, (Lamb, 1977). Na cultura da ndia, brincadeirasfsicas e turbulentas raramente acontecem entre os pais e crianas eno foram observadas entre as mes e seus filhos.

    H tambm estudos que examinam desde o desenvolvimento debrincadeiras e jogos dentro da famlia, at a influncia desta atividadena interao social e comunicao verbal de crianas com seus pais,mes e irmos. Um estudo de Labrell (1996), por exemplo, apresentadados empricos sobre jogos paternos e maternos com crianasutilizando objetos polivalentes. Os resultados indicam diferenas nomodo como pais e mes brincam com as crianas e como os objetosutilizados durante o jogo podem favorecer o desenvolvimento cognitivo.Outra pesquisa nesta mesma perspectiva realizada por Lindsey e Mize(2000) examinou conexes entre jogo de faz-de-conta de pai-criana ecompetncia social de crianas com cinco anos de idade. O padro deenvolvimento social observado durante o jogo sugeriu que a interaomtua de pai-criana, durante esta atividade de jogo, poderia estarassociada com a competncia social de crianas.

    Na reviso de estudos envolvendo brincadeira e famlia em vriasculturas, verificou-se uma infinidade de trabalhos com famlias em situaode jogos, que observam a maneira de proceder dos pais com seus filhos,em momentos de brincadeira (Power, 1985). Alguns indicam, por exemplo,o quanto as mes usam mais recursos e atividades didticas ou verbaiscom seus filhos e o quanto os pais usam mais recursos e atividades fsicasquando lidam com suas crianas. (Clarke-Stewart, 1978; Osofsky eOConnell, 1972 ; Stuckey, McGhee e Bell, 1982 ), ou ainda o quanto ospais so mais fsicos em suas brincadeiras com os filhos, que as mes(Macdonald e Parke, 1986; Stuckey, McGhee e Bell, 1982 ).

    H, tambm, pesquisas realizadas em laboratrios preparadospara receber crianas e suas famlias em situao de jogo. Utilizam os

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    jogos e brincadeiras, muitas vezes como um mtodo para coleta dedados sobre desenvolvimento da criana ou interaes entre pais,crianas e irmos. H estudos laboratoriais, por exemplo, que verificamo poder do sorriso ou de emoes de alegria ou tristeza dos paisquando esto brincando com seus filhos, revelando vrias relaessignificantes entre o comportamento de olhar de crianas, expressesde emoo, e comportamento de jogo (Termine e Izard, 1988;Dickson, Walker e Fogel, 1997) e ainda outros experimentos queinvestigam a influncia de mes na escolha do brinquedo (Batista,1989), ou envolvendo questes relativas a esteretipos de gnero(Fagot, et al. 1992).

    No Brasil, foram encontradas poucas pesquisas sobre a brincadeirainserida no contexto das relaes familiares, principalmente estudosque consideram o ambiente natural no qual vivem as famlias.Embora, atualmente, a pesquisa sobre jogos e brincadeiras estejaem plena ascenso, a maioria desses estudos parece colocar afamlia num segundo plano, pouco considerando o contexto e asrelaes familiares. O que foi encontrado neste campo sob diferentesprismas so estudos como os de Mello (1999) que investigou abrincadeira de crianas vtimas de violncia domstica, assim comoo de Oliveira (1993), em sua pesquisa sobre relaes sociais em quecrianas so criadas pelos seus avs, que mostra uma experinciarica de brincadeira adulto criana.

    Trabalhos, como os de Biasoli Alves (1989), apontam a diversidadee qualidade dos objetos e interaes que crianas de classe mdiapossuem no ambiente familiar. Em um de seus estudos sobre essatemtica, a pesquisadora conclui que a grande maioria das crianasbrinca com adultos e com brinquedos variados por toda parte dacasa. Estudos que se ocuparam em investigar o brinquedo no mbitofamiliar (Martinez, 1992 e Simionato Tozo, 1996) trazem importantesinformaes a respeito do brinquedo na famlia. Mostram claramentea necessidade de aprofundamento na investigao desta rea,sobretudo, no que se refere relao desta atividade com as prticaseducativas familiares.

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    De acordo com Bronfenbrenner (1996), nas famlias e em suascasas, o pesquisador no precisa introduzir ou inventar sistemasorganizados de relaes entre as pessoas, pois elas j se manifestamnaturalmente no cotidiano, com infinitas possibilidades. na famliaque acontece o maior fluxo de pessoas que interagindo de variadasformas fornecem ao pesquisador ricas observaes. Mes e irmo,assim como vizinhos e amigos vm e vo a todo momento,proporcionando experimentos naturais prontos, com validade ecolgicainata e um planejamento antes-depois em que cada sujeito pode servircomo seu prprio controle (p. 57).

    A famlia constitui uma das fontes mais ricas para se conhecer ainfluncia da ligao de duas, trs ou mais pessoas no desenvolvimentohumano. A grande maioria dos estudos citados so realizados emlaboratrios e no apontam para o contexto onde famlias e crianasinteragem no seu cotidiano e as implicaes e influncias que essesambientes podem produzir na interao dessas pessoas em momentoscomo os de jogos. No se pode descartar a importncia dessesestudos para o desenvolvimento desta rea de interesse cientfico,mas verifica-se a necessidade de uma visualizao e explorao maiornos contextos onde se desenrolam as relaes humanas, quer nafamlia, na escola ou em outros ambientes, para que se compreendamelhor a complexa dinmica de se educar crianas.

    Pensando em crianas que vivem com suas famlias na periferiados grandes centros urbanos e em sua socializao, mediada pelasbrincadeiras, o objetivo deste trabalho foi encontrar um caminhopara se compreender melhor a vida dessas famlias com seus filhos,no bojo de suas relaes, dentre as muitas formas de conhecer omundo social e compreend-lo em sua complexidade. Na tentativade compreender como se manifesta o brincar entre adultos e crianasdentro de famlias da comunidade de Vila Nova Esperana, buscaram-se respostas para a seguinte questo: A brincadeira realizada nasinteraes entre crianas e adultos de famlias de baixa renda, podeter um sentido educativo?

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    Mtodo

    Participantes: as famlias

    Participaram deste estudo duas famlias residentes h mais de umano na Vila Nova Esperana, sub-distrito da Vila Brasilndia, periferiada cidade de So Paulo, com filhos de at cinco anos matriculadosnuma creche da comunidade. Estas famlias foram localizadas porintermdio da direo da creche, representada pelo lder comunitria,e apresentaram-se voluntariamente para a pesquisa. As duas famliaseram chefiadas pelas mulheres, pois o marido de uma encontrava-sepreso acusado de assassinato, deixando-a com trs filhos (o mais velhocom 4 anos e o mais novo, com poucos meses), e o companheiro daoutra fora assassinado na rua de sua casa, deixando esposa e quatrofilhos pequenos (o mais velho com doze anos e a mais nova com5 anos). As duas mes que participaram das entrevistas trabalhavamem servios gerais ou domsticos, uma delas era funcionria da crecheda comunidade e a outra diarista em casas de famlias.

    Procedimentos

    Os dados foram coletados no perodo de maro a outubro de2001, na comunidade da Vila Nova Esperana, subdistrito da VilaBrasilndia, periferia da cidade de So Paulo.

    1- Foram feitos contatos com as famlias que receberam apesquisadora e um assistente de pesquisa em sua casa, propondo-se a participarem do estudo.

    2- Foi realizada uma primeira entrevista com as famlias, noambiente natural onde vivem, suas residncias, baseada naproposta de entrevista reflexiva de Szymanski (2001b). Nessemomento foram informados sobre os objetivos do estudo. Esteencontro inicial possibilitou o levantamento de dados geraispessoais, um breve histrico de vida, e tambm alguns meiosutilizados para a educao de seus filhos pequenos. As entrevistasforam gravadas em fitas cassetes com durao de uma hora emeia, aproximadamente.

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    3- Houve um segundo encontro com cada famlia, depois detranscritas as falas dos entrevistados e realizada uma pr-anlisedos dados obtidos nas primeiras entrevistas. Os elementos dapr-anlise foram expostos, de maneira que os entrevistadospuderam concordar ou discordar da compreenso da pesquisadorasobre os assuntos tratados. Tiveram tambm a liberdade de secolocar de maneira diferente daquela ocorrida no primeiroencontro, sempre expondo suas razes.

    4- Embora o convite para participar da entrevista tenha sidoextensivo a todos da famlia, em algumas entrevistas houveparticipaes de vrios membros, em outras, apenas um ou doismembros estiveram presentes.

    5- Enquanto a pesquisadora entrevistava os participantes, umassistente de pesquisa realizava observaes detalhadas tantoda famlia em suas relaes com suas crianas no momento dasentrevistas, como tambm os ambientes interno e externo dascasas dos entrevistados. Tambm ocorreram observaesimportantes pelas redondezas das casas das famlias. Puderamser observados alguns espaos e locais para se brincar e ospossveis perigos que a comunidade oferece s suas crianasem termos de infra-estrutura.

    Anlise de dados

    Buscando uma opo que fornecesse uma maior abrangncia deolhares sobre o fenmeno social, optou-se pela utilizao da grounded theoryou teoria fundamentada nos dados, proposta por Glaser e Strauss (1967).Este mtodo de anlise de dados definido por seus autores como ummtodo indutivo.Trata-se de uma teoria que derivada dos dados obtidospelo estudo de um fenmeno. Sendo assim, no existe uma nica teoria apriori na qual o investigador se baseie exclusivamente para a anlise dosdados coletados. por intermdio da coleta sistemtica de dados e de suaanlise que a teoria desenvolvida, como apontam Strauss e Corbin (1990).

    De acordo com a grounded theory, as categorias so unidades maisabstratas, devem ter fora conceitual e ser nomeadas pelo pesquisador,

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    de maneira que possam apresentar o significado dos cdigos que elasrepresentam. Nessa fase, importante nomear cada categoria comttulos que, posteriormente, possam ser lembrados, pensados, e acimade tudo, se iniciar o processo de desenvolv-las analiticamente, comoapontam Strauss e Corbin (1990). Seguindo os passos apontados pelagrounded theory, foi construda a seguinte anlise e nomeadas a categoriacentral, as categorias e subcategorias.

    Tabela 1- Representao das categorias e subcategorias das entrevistas

    com as famlias

    Categoria Central Brincadeira e Prticas educativas

    Categorias Subcategorias

    O CONTEXTO Dificuldades Interao Sistema

    FAMILIAR Vividas familiar de Crenas

    e Valores

    CONVIVENDO Risco Conflito Violncia

    COM VIOLNCIA de morte com polcia e televiso

    O BRINCARCoisas de Brincar Brincadeira proibida

    DAS CRIANAS Espaos e companhias Brincadeira de

    para brincar menino e menina

    PAPEL DA FAMLIA

    Oferecer cuidado Inserir no mundo

    NA EDUCAO

    e proteo social

    Ensinar e corrigir Aprender a ensinar

    os filhos

    CONCEPO O Significado O brincar na infncia

    DE BRINCADEIRA do brincar dos pais

    Resultados

    O processo de socializao dos filhos ocorre no contexto familiar,que caracterizado por uma srie de dificuldades vividas pelas duasfamlias e que vo, desde dificuldades financeiras, at dificuldades naforma das mes lidarem com suas crianas na soluo de algunsproblemas. Nesse contexto, desenrolam-se intensas interaes entreos membros da famlia que so norteadas pelos sistemas de crenas e

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    valores, constitudos pela religio crist evanglica de que ambas asfamlias fazem parte e procuram inserir suas crianas.

    O papel da famlia na educao dos filhos acaba baseado emmodelos passados por geraes anteriores. Percebem como suaprimeira funo oferecer cuidado e proteo s suas crianas, ou seja,dar alimentao, cuidar para que estejam limpas e agasalhadas,preservando sua integridade fsica. Ensinar e corrigir os filhos tambmso funes da famlia. Para isso, comum nas prticas educativasdas famlias o uso da punio, representada comumente por castigose agresses fsicas.

    Outra importante ao que faz parte do papel da famlia o deinserir seus filhos no mundo social. As crianas desde cedo soencaminhadas s creches e escolas para que as mes possam ir para otrabalho e isso acaba por contribuir com a famlia em seu papelsocializador. H, na realidade, uma rede de apoio s famlias na tarefade educar e socializar os filhos, como a igreja de que fazem parte, osistema educativo formal e a vizinhana.

    A variedade de brinquedos industrializados das crianas das famliasentrevistadas pequena. Os brinquedos so poucos e conseguidos comcerto sacrifcio dos pais e das crianas. Os maiores interessadosno tm acesso direto a esses objetos que so guardados e dados aeles muito esporadicamente. O cuidado com os brinquedos bastante grande e s vezes as crianas nem chegam a brincar muito,principalmente com aqueles mais caros, que so ganhos de vez emquando. As mes, tios e avs das crianas no tiveram muitos brinquedose utilizam isso como justificativa para no dar s crianas os brinquedosmais novos, ou mais caros. s crianas, so dados apenas brinquedosvelhos, quebrados, para que no tenham a oportunidade de destruiraqueles mais novos e interessantes.

    Esses brinquedos que aparecem nas casas das famlias so derivadosde algumas fontes como amigos e empregadores, que hora ou outraresolvem lembrar das crianas. No so todas as crianas da Vila NovaEsperana que tm a oportunidade de ter brinquedos. Muitas famlias

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    vivem em grande estado de misria e as crianas, quando ganham umaboneca ou uma bola, aproveitam o mximo desses brinquedos.Entretanto, andando pelas ruas da vila, pode-se ver crianas brincandocom jogos tradicionais como: pular corda, jogar amarelinha, brincarcom carrinhos de rolims, empinar pipas ou pular elsticos. Todas essasbrincadeiras, que em sua maioria ultrapassam geraes, passadas depais para filhos, requerem pouco ou nenhum subsdio financeiro e socapazes de divertir e de absorver muito tempo da criana juntamentecom seus companheiros.

    As famlias moram num bairro perigoso, onde crimes e drogaspercorrem os mesmos caminhos das crianas que convivemdiariamente com a violncia. As prticas educativas das famlias,desse modo, so influenciadas pelas peculiaridades existentes nessecontexto. Quando as crianas crescem, e, costumeiramente assistem televiso, comeam a ver as maravilhas da indstria do brinquedoe despertam para algo que, muitas vezes, suas famlias no tm amenor condio de lhes oferecer. As crianas crescem sonhandocom brinquedos caros.

    O Kleber assim, ele sofre mais porque ele, no sei se a televiso, ento ele sonhamuito. Eu acho que ele sonha muito alto. (...) E eu falo para ele: Kleber, noadianta a me fazer, ns passarmos fome, para a me dar as coisas para voc. (...).Ele hoje morre de vontade de ter uma bicicleta grande. (...) A ele quer porque quer umvdeo-game. Da eu falo: Pode deixar um dia Deus vai preparar... (Valda, me dafamlia Torres).

    As famlias tambm acreditam que violncia e televiso tm umarelao bastante estreita, pois reconhecem nesse veculo de comunicaoa mesma violncia que acontece todos os dias nas ruas do lugar ondemoram. Deixar os filhos irem a locais desconhecidos, ainda que sejano prprio bairro, ou que tenham amizades com pessoas estranhas aogrupo familiar, pode significar um risco. H vrios perigos iminentes,como por exemplo: risco de morte por um tiro de bala perdida,envolvimento com traficantes de drogas e conseqentemente com apolcia. O envolvimento com drogas ocorre principalmente emfamlias com filhos do sexo masculino, conforme relatado por elas,

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    demonstrando o medo que essas famlias tm de que eles usem drogasou se envolvam no mundo do crime, j que a oferta desse tipo deatividade muito comum nas ruas e becos da vila.

    Nessas famlias, e em muitas outras famlias da Vila NovaEsperana, h, apenas uma brincadeira proibida: brincar combrinquedos ou brincadeiras que lembrem armas e tiroteios. Para essasfamlias, brincar com armas de brinquedo, representa um perigo paraas crianas que vem pais, irmos e vizinhos sendo assassinados bemprximo deles. O mais interessante de tudo isso que, como relata afamlia, mesmo as crianas no recebendo brinquedos que lembremarmas, elas reproduzem e representam no jogo simblico umaverdadeira guerra armada, com pedaos de madeira, outros objetos e,at mesmo, com gestos e expresses corporais.

    Mas mesmo no dando armas para eles, eles arrumam um jeito de brincar (...)Pegam vassoura mesmo, pedao de pau ... (Elia, me da famlia Jardim).

    ... esse pequenininho dela faz assim com o dedinho bem feitinho e p, p, p! (risos)(Alice, av da famlia Jardim).

    As famlias tambm acreditam em divises de brincadeiras demeninos e meninas, preocupam-se com a descoberta da sexualidade etentam preparar as meninas maiores para as diferenas de comportamentoentre meninas e meninos. Isso notadamente evidenciado na observaodas brincadeiras das crianas pelos adultos. No relato de uma famlia,por exemplo, a me fica atenta quando v sua filha de seis anosrepresentando num jogo simblico a gravidez da irm adolescente.Nesse momento, a me observa atentamente e depois procura um meiopara conversar com a criana, oferecendo algumas informaes sobrecomo estar grvida, o que ser me e todas as dificuldades encontradaspara se educar uma criana.

    (...) ela estava brincando com a Jenifer, uma coleguinha dela e outras colegas, at oKleber tambm estava junto, e eles ficaram brincando de uma brincadeira l que tinhaque beijar o menino. Ento eu converso. Eu peguei, a Jenifer chorou, a eu converseicom ela, falei que elas so menininhas, que elas no podem estar brincando com menino,que os meninos vo querer pegar em certos lugares que no devem... (...) eu j vi a outra

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    de 8 anos brincando de estar grvida. Ento eu a vi deitada de barriga para cima,alisando a barriga e falando: ai, meu nenm (Valda, me da famlia Torres).

    A brincadeira como prtica educativa na famlia pode sercompreendida nas nuanas das prticas educativas familiares interagindocom o contexto onde as famlias vivem. Antes de brincar com ascrianas, as famlias primam pelo seu desenvolvimento e integridadefsica. Enquanto brincam, as crianas devem ser protegidas de riscosevidentes nos ambientes onde transitam. A violncia do bairro capazde cercear o poder das crianas de interagirem mais umas com as outrase terem maior acesso s ruas do local onde vivem. Entretanto comobrincar faz parte da vida da criana, elas brincam quase todo o tempo, comseus poucos brinquedos, criando possibilidades de agir, utilizando-sede elementos da natureza ou das prprias aes humanas em jogosaprendidos com os mais velhos, que, trazem consigo uma gama deelementos favorecedores de aprendizagem e desenvolvimento.

    Consideraes finais

    Famlias da classe mdia, como aponta Bujes (2000), soconsumidoras vorazes de brinquedos, em especial dos jogospedaggicos, como tentativa de dar aos filhos estmulos necessriospara que sejam bons alunos, j que em sua maioria, so seguidoras deteorias pedaggicas que defendem as brincadeiras como excelente meiopara favorecer o desenvolvimento das crianas pequenas. Interessadasnum produto que possa levar os filhos a assumir condutas adequadas,ter um bom nvel de curiosidade e a se expressarem com desenvoltura,as mes acabam valorizando o brinquedo, fazendo com que a suaexplorao caseira passe por objetivos mais voltados a questes dedesenvolvimento infantil.

    Nas famlias participantes desta pesquisa, as brincadeiras ocupamum papel importante dentro do mundo das prticas educativas,demonstram implicitamente desempenharem uma funo preponderantenas relaes entre famlia e criana. O que se pde notar que, apesardos pais brincarem pouco com suas crianas e em seus momentos deinterao com jogos e brincadeiras no relatarem que ajam com

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    intencionalidade voltada para o desenvolvimento cognitivo de seusfilhos, as brincadeiras so motivos de constante observao, reflexo eatuao dos pais, junto a suas crianas. As crianas brincam e os adultosque as rodeiam prestam ateno a essas brincadeiras, interagindo comelas e trocando informaes variadas sobre a prpria especificidade dabrincadeira (como ensinar a brincar de casinha) ou sobre questes domundo social que fazem parte do processo de socializao da criana.Numa anlise um pouco mais aprofundada sobre a questo, os dadossugerem claramente que temas complexos como educao moral ereligio, ligados s crenas e valores familiares, assim como questesrelacionadas a diferenas de gnero e sexualidade transitam de formaconcreta e espontnea dentro do mundo dos jogos dessas crianas.

    A brincadeira entre famlias e crianas, compreendida atravs daproposta de Bronfenbrenner (1996, confirma que as brincadeirasinfantis esto presentes nos vrios ambientes onde a famlia se encontrae tambm nos contextos em que nem todos os membros da famliaesto ou j estiveram presentes. As brincadeiras assumem diferentesformas, conforme o mundo em que a criana vive, no mundo dotrabalho, nas relaes com a vizinhana ou nas prticas educativasformais, como escola e creche, influenciando assim, sobremaneira, ocomportamento das mais variadas populaes do mundo.

    No se pode negar que a brincadeira consiste num dos primeirosveculos de comunicao entre criana e adulto. Por seu intermdio,disseminam-se variados tipos de conhecimento e habilidades entre agrande maioria das crianas. Na Vila Nova Esperana, isso no diferente. As crianas e suas famlias realizam brincadeiras importantespara o desenvolvimento humano e, de maneira semelhante a outrascrianas de outros meios populares, tambm adquirem vriosconhecimentos, experimentando momentos agradveis durante oprocesso de socializao, j que o ldico invariavelmente se faz presente.

    Apesar de serem ainda pequenas, as crianas em suas brincadeirasde faz-de-conta, tal como crianas de outros meios sociais, demonstramter uma compreenso prvia da complexidade da trama social. Sabem

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    como deve comportar-se uma pessoa para ser respeitada pela sociedade.Quando brinca de casinha, por exemplo, a criana tambm aprendehabilidades e comea a representar prticas comuns dentro de umacasa, como organizar bem os utenslios da cozinha, cuidar e alimentarum beb, definindo papis sociais.

    Houve tambm relatos de brincadeira de faz-de-conta e como obrincar tem intensa influncia nos sistemas de crenas e valores e nomodo como as famlias educam seus filhos. O brincar das crianas to permeado pelas prticas educativas num movimento bilateral quea religio da famlia acaba por fazer explicitamente parte de temas debrincadeiras simblicas das crianas. As interaes adulto-crianas,permeadas por suas crenas e valores e pelos diferentes modos deprofessar a f religiosa, supem um contexto social e cultural, e aimerso nesse mundo e a impregnao dessas idias so para a crianainevitveis. , tambm, no brinquedo que ela apreende e elabora essarealidade que a cerca.

    Outra situao que mostra claramente como as brincadeiras somomentos usados pelos adultos como oportunidades educativas aproibio que as famlias fazem de se brincar com armas como formade enfrentamento da violncia que as crianas testemunham j desdepequenas. A proibio para se brincar com armas ou de mocinho,polcia e bandido, foi uma realidade nas duas famlias entrevistadas.Pode-se brincar de quase tudo, mas nunca com armas de brinquedo,como revlver, espingardas, metralhadoras, pistolas e at mesmo comespadas, ou ainda, com brincadeiras que lembram a violncia que assistida diariamente pelas crianas em seus aparelhos de televiso eno mundo sua volta.

    Alguns pesquisadores explicam que brincar com armas debrinquedo no tem nenhuma relao com violncia (La Taille, 19982;Bomtempo, 1999a; 1999b.), entretanto para essas famlias que convivemdiariamente com cenas trgicas de violncia em sua comunidade difcilcompreender esse tipo de informao. Tanto a famlia como outrosagentes socializadores, escola e igreja probem as crianas de brincar

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    com armas de brinquedo. H uma evidente preferncia por brinquedosde guerra pelas crianas do sexo masculino (Goldstein, 1995), talvezpor isso, as famlias que tm filhos homens no admitem que se brinqueesse tipo de brincadeira.

    As mes temem que, pelo fato de morarem naquela regio toviolenta, os filhos possam arrumar ms companhias e enveredem pelomundo do crime ou das drogas.

    Desse modo, nota-se a fora e o poder que a brincadeira tem nessesambientes, em que h poucos brinquedos, mas muita imaginao,criatividade e espontaneidade das crianas, ligadas quilo que elasvivenciam cotidianamente. Para as famlias, as brincadeiras podem tervrias conotaes e favorecer tanto o bem quanto o mal. Assim, pode-secompreender porque uma simples e inocente brincadeira torna-se umaameaa para algumas famlias que tentam, em suas prticas educativas,dar o melhor para seus filhos, num contexto permeado por tantosinfortnios.

    Nesses contextos de tantas adversidades, como o caso da VilaNova Esperana, as brincadeiras so afetadas em todos os seus aspectos.Entretanto, na medida em que vo se inserindo e se adaptando aomeio scio-cultural dessas famlias, pode-se afirmar que a brincadeirano s representa um meio facilitador para os pais e mes educaremseus filhos, mas tambm representa uma prtica educativa em si, j quepor seu intermdio, as famlias e suas crianas podem trocar informaesimportantes para a formao de laos afetivos, socializao econstituio do sujeito social. O estudo de prticas educativas dasfamlias mostrou-se como mais um meio de se conhecer as brincadeirasdas crianas. Este estudo indica que a partir das brincadeiras as prticasse constituem e tomam fora. Permisses e proibies paradeterminados tipos de brincadeiras, divises de brincadeiras por gnero,observao e interao atenta dos pais aos temas de brincadeiras defaz-de-conta e a repercusso que isso tem na vida das crianas,constituem a essncia das prticas educativas familiares, ou um dosprimeiros veios de comunicao entre criana e famlia.

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    Na Vila Nova Esperana, foi possvel rever brincadeiras que htempos no se via nos grandes centros urbanos. Crianas com carrinhosde rolim andando pelas ruas afuniladas em descidas e subidas ngremes,outras olhando maravilhadas uma pipa no cu cinzento da metrpole,em meio a meninas que, entretidas com suas brincadeira de amarelinhaou de pular elstico, davam altas risadas, fazendo um duplo jogocom meninos que, entre linhas de pipa e jogos de bola no meio daterra, trocavam informaes sobre como crescer, como serem sociaise como se tornarem pessoas e cidads. O que se viu tambm e talvezsignifique o objeto maior deste estudo foi uma empolgante alegriainfantil amparada pelo cuidado dos pais e mes que, de suas portas ejanelas, observavam atentos o que se passava bem ali na frente de suascasas, em vielas estreitas, onde as crianas e brincadeiras so aindaobjetos de interesse, na tentativa de se ter, e de se fazer o melhor,mesmo em meio a tantas dificuldades.

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    Notas

    1. Este trabalho parte da tese de doutorado da primeira autora sob orientao da

    segunda. Pesquisa realizada com o apoio do CNPq.

    2. Matria publicada na Folha de So Paulo, de 16/03/1998, sobre armas de brinquedos

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