Tapa-olho francano
*Priscila da Silva Amaral
É costume da população de cidades pequenas comentar a cultura local como fato
em constante descaso político. A cidade de Franca não foge deste hábito e mostra, em
seus aproximados 330 mil habitantes, um desinteresse pela cena cultural e se satisfaz em
criticar as produções.
Se for, de fato, descaso político, essa discussão cabe aos que procuram entender
um motivo ou solução para o problema. Sem desenhar a atividade dos políticos da
cidade, mas também sem elevá-los a níveis altos demais, a cultura de uma cidade revela
pontos históricos importantes.
Não é apenas de peças de teatro, shows de grandes nomes e atores e atrizes de
excelência que precisam dar as caras no interior de São Paulo, para provar que Franca
recebe atividade. O grande ponto em questão e pouco pensado pelos críticos de plantão
é a falta de vontade da população em dar espaço para novas possibilidades.
O clichê que diz que reclamar é fácil cabe bem ao brasileiro. O francano, por sua
vez, garante que não há espaço para a cultura local, não há verba municipal para peças
teatrais, músicas e diversos shows. Talvez as reclamações tenham tapado alguns olhares
além do básico da visão.
Existem grupos independentes que se reúnem para tocar jazz. Há grupos de RAP
que se encontram para dançar. Há bailarinos por toda a parte se apresentando nos cantos
da velha Franca do Imperador e programas de rádio e TV que exaltam a atividade
cultural. Instituições e ONG incentivam a cultura como educação e começam a semear
uma nova geração.
Lugar para todos os gostos é possível encontrar. Franca é tão miscigenada
culturalmente como a capital. A diferença entre as duas regiões é que uma prefere
condicionar-se a reclamar e a criticar gratuitamente a condição do que participar e
integrar-se. É preciso mais que mudanças políticas para alterar o cenário local. Entender
o problema cultural como um próprio problema da história local é compreender que a
discussão pode refletir mais mudanças que polêmicas disparadas ao acaso.
*Discente em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo