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Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo
ARTIGOS:
COPA DO MUNDO DA FIFA –
BRASIL 2014
Produção dos alunos da disciplina CJE
0634 - Jornalismo Esportivo – a pauta
além do futebol, sob orientação do Prof.
Luciano Victor Barros Maluly e
coordenação de Carlos Henrique de Souza
Padeiro, aluno de Mestrado do PPGCOM-
USP e Bolsista PAE.
São Paulo / 2013
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SUMÁRIO
(4) INTRODUÇÃO
(5) FUTURO DO BRASIL APÓS OS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS
Akira Ninomiya
(7) A COPA EM ITAQUERA
Ana Laura Corrêa
(9) POR QUE NÃO O MORUMBI?
Andrea Chaves Barbosa
(11) A COPA DO MUNDO FIFA BRASIL 2014 É PARA OS BRASILEIROS?
Andrey Lino Luiz
(13) SAGA BRASIL: COPAS DO MUNDO
Antônio G. Fernandes
(17) DOA A QUEM DOER
Breno dos Santos França
(19) COPA: PARA BRASILEIROS OU PARA ESTRANGEIROS?
Camila C. Addonoo
(21) PARA O BRASIL SE ABRASILEIRAR
Gabriela Romão
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(25) O FUTURO DO JUIZ
Luciana Arraes
(27) COPA DE 82: A COPA DA EMOÇÃO
Marina Quintas Panizza
(30) A COPA DO MUNDO 2014 VISTA DA FRANÇA: UMA MISTURA DE
ENTUSIASMO E ANSIEDADE
Mattéo Curutchet
(33) ELEFANTE BRANCO NA FLORESTA
Murilo Bioni Caruso
(35) DO PACAEMBU À ITAQUERA: A CIDADE-SEDE PAULISTA TEM NOVO
ENDEREÇO
Natália Zanotti
(37) ARENAS DA COPA DE 2014 E SEUS PROBLEMAS
Nilson Armando Martins
(39) EM MEIO A ATRASOS, PREÇOS ALTOS E MANIFESTAÇÕES, O MUNDIAL
SUSTENTÁVEL FICA PARA 2018
Otávio Dutra
(41) ELE VOLTOU?
Rochelly Suemi Tatsuno
(43) COPAS DO MUNDO DE 1950 E 2014: PARA LEMBRAR OU ESQUECER?
Talita Carvalho da Mota e Silva
(45) POR FORA DAS QUATRO LINHAS
Thiago Esteves Nogueira
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INTRODUÇÃO
Os artigos revelam as informações e as opiniões sobre determinados temas de
relevância social. Detalhes da notícia são esclarecidos, como forma de auxiliar o público
na interpretação daquele acontecimento. Desta forma, o jornalista esportivo condiciona
a importância das atividades físicas e esportivas, desde as modalidades, passando pelas
personagens até chegar às competições. Revelam-se ainda os espaços para discussão do
esporte como interesse público, com destaque para a saúde e educação.
Armando Nogueira, Nelson Rodrigues e João Saldanha foram nomes que
marcaram a chamada crônica esportiva, devido aos textos que ilustravam ao torcedor os
acontecimentos esportivos. Os grandes jornais impressos eram a vitrine na época, sendo
o acesso um obstáculo a ser superado. Agora, com as mídias digitais, ampliaram-se os
espaços, mas a divulgação e o conteúdo continuam a atravancar o diálogo e a
oportunidade de novos autores.
Desses grandes nomes surgiram as lições que precisaríamos reaprender, sendo a
curiosidade o maior legado. Assim, a pesquisa é ferramenta essencial à construção do
argumento. Pautas incorporam desde problemas até novidades, que logo são tratadas por
meio de angulações determinantes para a compreensão da importância do esporte para a
cidadania. Neste contexto, nasce o despertar do pensamento, que é proposto pelas vias
do jornalismo especializado.
Surgem os novos talentos revelados pela criatividade e apuração. As fontes
tornam-se a base de reflexão, neste caso, sobre a Copa do Mundo de Futebol da Fifa, a
ser realizada no Brasil, em 2014. Uma pauta que divide opiniões em torno dos gastos,
do legado, do esporte...
No caso, estes artigos aqui apresentados pelos alunos da disciplina CJE 0634
Jornalismo Esportivo – a pauta além do futebol representam uma tentativa de
instrumentalizar a população diante do bombardeio de informações distorcidas de um
dos principais eventos esportivos do planeta, além de contextualizações históricas.
Sigam as trilhas e, quem sabe, encontraremos as repostas. Uma boa leitura a todos!
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Luciano Victor Barros Maluly & Carlos Henrique de Souza Padeiro
Futuro do Brasil após os megaeventos esportivos
Akira Ninomiya
Em 2007, o Brasil soube que seria sede da Copa do Mundo de 2014. Depois, em
2009, soube que seria sede das Olimpíadas. Aí, veio a enxurrada de comentários,
holofotes e, principalmente, investimentos. O Brasil ficou no centro dos holofotes, e
ainda a economia estava crescendo, apesar da crise econômica que afetou quase o
mundo todo.
Jornais de maior respeito no mundo inteiro se curvavam diante do nosso país,
lotando de comentários e análises otimistas. The Economist, New York Post, La
Guardia, entre muitos outros, noticiavam as novidades: o Brasil, depois de 64 anos,
voltaria a sediar uma Copa do Mundo.
Todo esse frisson fez com que os governos federal, estadual e municipal se
mexessem como nunca antes. Investimentos massivos foram feitos e continuam a
ocorrer. Um estudo da Ernst & Young, em parceria com a FGV, mostra que cerca de R$
142 bilhões em investimentos serão feitos no período de 2010 a 2014. Além disso, o
impacto no PIB, essencial indicador para ver se o país está crescendo ou não, será de
cerca de R$ 64,5 bilhões.
Aqui na maior metrópole do Brasil, em São Paulo, é possível ver os efeitos desse
investimento, sem precedentes.
Um exemplo é o transporte público de São Paulo, que estava estagnado até 2007.
Após os anúncios das sedes, as obras aceleraram e o projeto Expansão SP foi anunciado
para aumentar a quantidade de trens e a extensão dos trilhos. Calculam-se investimentos
em cerca de R$ 35 bilhões no intervalo de 2007-2014.
Outro exemplo é a construção e reforma de estádios para a Copa do Mundo. 12
estádios estão sendo construídos do zero ou sendo reformados, como o novo Mané
Garrinha, em Brasília, que já recebeu jogos internacionais.
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Todo esse investimento em infraestrutura traz desenvolvimento para o já
atrasado país tupiniquim. Porém, o que fica de receio é se os governos vão manter, no
mínimo, a infraestrutura que estão construindo e prometendo.
Em 2017, veremos realmente se o governo vai tentar colocar o Brasil no patamar
de países desenvolvidos, ou se nós seremos eternamente taxados de “País do Futuro”.
Exemplos de abandono pós Copa do Mundo são estádios que não são largamente
utilizados, os chamados elefantes-brancos. No Japão, muitos desses estádios estão quase
abandonados, pois foram construídos para a Copa do Mundo de 2002, em locais onde o
futebol não é muito popular e não há times de grande expressividade para utilizá-los.
Essa é a principal crítica para a construção do estádio em Manaus, onde não há
muita expressividade do futebol, sendo provável o abandono dessa arena futuramente.
Outro grande problema pós-eventos esportivos seria a economia como um todo.
Pela história brasileira, a economia sempre teve booms, épocas de grande crescimento
econômico, mas não por desenvolvimento geral de infraestrutura e educação, e sim por
fatores específicos, como no caso do “Milagre Econômico da década de 1970”.
Na atualidade, se vê uma situação parecida, na qual praticamente 30 milhões de
pessoas conseguiram subir à classe média, consumindo mais e aquecendo a economia
entre 2009 e 2012. Porém, é visível a desaceleração da economia neste ano de 2013, e
não se sabe se o ritmo vai ser mantido após a Copa e as Olimpíadas.
Um terceiro problema possível no futuro seria uma bolha imobiliária. Nas
grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o preço dos imóveis cresceu muito
acima da inflação – num intervalo de quatro anos, os preços subiram cerca de 108%,
segundo consultorias do mercado imobiliário.
O que nos resta saber é se o governo terá a habilidade de fazer planejamentos
futuros, para evitar a possível estagnação ou até um retrocesso na economia, devido ao
abandono em infraestrutura pós-eventos esportivos.
Paradigmas devem ser quebrados, ou seja, o “jeitinho brasileiro” deve ser
mudado, e planejamentos sólidos e pensamentos a longo prazo devem ser feitos nos
moldes de países de Primeiro Mundo, para mostrar que estes eventos esportivos serão
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um salto para que o Brasil nunca volte a ser o país abandonado, de apenas corruptos e
criminosos pairando no poder, o qual era no passado não muito distante.
A COPA EM ITAQUERA
Ana Laura Correa
A Copa do Mundo da FIFA é o maior evento esportivo internacional que
envolve apenas um esporte: o futebol. Parte importante da cultura do brasileiro, o
futebol é disputado em estádios, lugar onde o povo libera suas emoções, algo que não
ocorre em circunstâncias normais. Ou seja, pra maioria é espaço de alegria e de refúgio
do estresse causado pelo caos das grandes cidades, gerando, assim, um lugar de
conforto.
O Brasil foi escolhido para sediar a Copa, e São Paulo, a abertura. Nada mais
justo, pois é uma das maiores cidades do mundo, com o maior centro financeiro e
comercial e maior PIB do país, além de uma população muito diversificada. Restava
escolher o estádio. Após especulações, negociações e propostas, a região escolhida foi a
zona leste, no bairro de Itaquera, para a construção do estádio do Sport Club
Corinthians Paulista. O investimento e a construção de um estádio na região com a
maior população da cidade e um dos lugares mais carentes resultaria em melhoria nos
setores de infraestrutura, imobiliário e econômico, alegou a prefeitura paulistana.
Em relação aos pontos positivos, as intervenções estruturais e de mobilidade
urbana trarão melhorias no transporte, como na Radial Leste, no metrô, na CPTM e no
terminal rodoviário interestadual. Outro projeto será a criação de unidades educacionais,
como Fatec, Etec, Senai e o Parque Tecnológico de São Paulo-Leste, tudo isso
vinculado à geração de empregos, segundo a prefeitura.
Como nem tudo são flores, existem também pontos negativos. Para não haver
tumultos, a FIFA recomendou à SPTrans o fechamento da estação de metrô
Corinthians-Itaquera no período da Copa, o que com certeza afetará a população
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dependente desta. Outro problema, o mais grave, é a desapropriação de terrenos no
bairro, segundo o portal R7.
Há uma grande massa contra, como o vereador Marco Aurélio Cunha, que
critica e acha abusivo os impostos pagarem um estádio privado para um clube de
futebol, mas... voltemos a falar de Corinthians.
Para o Corinthians, só alegria! Quem não quer um estádio próprio, né?! Enfim, é
inegável que a construção de um estádio numa região carente pode mudar a situação da
população, fato que já ocorreu no Brasil e que revitalizou e ajudou no desenvolvimento
de determinadas regiões, segundo Adriano Vicente Froncillo, graduando do curso de
Ciências da Atividade Física, da Universidade de São Paulo.
Para um impacto positivo, o dinheiro deve ser bem investido e os governos
municipal, estadual e federal devem se organizar junto aos responsáveis para atrair
empresas e investimentos futuros na região, sem deixar que atrasos na obra e ameaças a
desapropriação de moradores possam intervir no desenvolvimento da região.
E, para finalizar, que futuramente haja uma análise de qual foi o legado deixado
pela Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
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POR QUE NÃO O MORUMBI?
Andrea Chaves Barbosa
Ao iniciarem debates a respeito de todos os aspectos de infraestrutura que
envolvia a Copa do Mundo 2014, o assunto de maior destaque era: ”quais cidades
sediarão a Copa? Quais estádios acolherão as partidas?”. Era tido como consenso que as
cidades de maior visibilidade internacional e melhor infraestrutura iriam receber o
evento esportivo. Assim sendo, a escolha das cidades fora feita aparentemente de
maneira tranquila e coesa. Porém, o que causou espanto a muitos brasileiros, e cujo
questionamento ressoa até os dias atuais, é o que fora considerado para a escolha dos
estádios.
Após São Paulo ser eleita uma das cidades-sede, obviamente o estádio do
Morumbi, que sempre sediou os maiores campeonatos do Brasil, assim como outros
eventos (shows, espetáculos etc) com maior público, fora o primeiro locus a despontar
na mente dos cidadãos. Porém, em 17 de junho de 2010, a CBF anunciou que o mesmo
não seria apto (mesmo após as reformas propostas) a acolher jogos da Copa.
Este anúncio nos faz questionar a respeito do grau de seriedade do evento e das
diretrizes (financeiras) do governo, afinal o projeto de melhorias fora descartado por
“falta de garantias financeiras”, por não concordar com a reforma completa (que teria
um valor próximo a R$ 630 milhões) e se propor a reformá-lo adaptando-o a todas as
exigências da Fifa por um valor muito mais enxuto (R$ 266 milhões). O governo julgou
mais viável economicamente construir um novo estádio do zero (Arena São Paulo), cujo
orçamento previsto fora de 820 milhões.
A Copa de 2010 evidenciou o impacto que a má administração pública pode
causar. Atualmente diversos novos estádios construídos para a Copa da África do Sul
estão sendo sucateados. Muito provavelmente isto não ocorrerá com o estádio
representante da cidade de São Paulo, pois além do esporte ser amplamente difundido
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na cidade, a mesma é o maior centro financeiro do país. Entretanto, este risco não
parece se distanciar tanto de estádios como a “Arena Amazônia” ou a “Arena Pantanal”.
Infelizmente o caso de insucesso dos últimos anfitriões da Copa aparentemente
não serviu de aprendizado e base para as nossas decisões. O que nos resta é torcer não
só pela seleção, mas também para que no futuro análises financeiras e históricas mais
aprofundadas sejam feitas antes do governo tomar suas decisões a respeito do destino
dos seus investimentos.
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A COPA DO MUNDO FIFA BRASIL 2014 É PARA OS
BRASILEIROS?
Andrey Lino Luiz
Ao falarmos em Copa do Mundo, a primeira coisa que nos vem à cabeça são os
jogadores, representantes das 32 diferentes seleções, entrando em campo. Vem também
aquela imagem de uma festa, não só a que ocorre dentro do estádio, mas também aquela
que transborda este espaço; vem a imagem das cores e de uma grande mistura étnica no
país que sedia a competição. Dentro deste espírito, podemos citar a ultima Copa do
Mundo (2010), que ocorreu na África do Sul, onde diferentes povos de diferentes partes
do mundo se reuniram para uma das maiores festas do esporte.
Porém, algo que não é muito novo em nosso país e tem tomado uma repercussão
maior nos anos que precedem a competição, para os brasileiros outras imagens, tais
como corrupção e superfaturamento, vêm à cabeça. Logo após o inicio das obras, que
previam a adaptação do país às condições necessárias exigidas pela FIFA para a
realização do evento, muito foi falado sobre o legado que seria deixado: melhorias em
estruturas urbanas, de transporte, de saúde, entre outras, seriam criadas, sem contar o
aumento na geração de empregos antes, durante e depois da copa.
Com base no último país sede de uma Copa do Mundo, a África do Sul, fica
evidente que essa promessa de legado pode não existir, ou pior, pode ser negativo.
Contrariando a maioria das expectativas, não só dos governantes, mas também da
população, os sul-africanos são a prova mais recente de um legado negativo. Durante o
Mundial, o país teve que garantir à entidade máxima do futebol que não haveria sequer
uma construção incompleta, e isso influiu diretamente no PIB nacional, que chegou a
quase zero durante a competição. Deixar as ruas “limpas”, escondendo a pobreza, que
pouco foi veiculada durante a competição, foi custoso. As empresas nacionais pouco
lucraram no período, grande parte do rendimento foi gerado por parceiras e
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patrocinadoras da competição, pois, durante os eventos, apenas os produtos delas
poderiam ser comercializados.
Muitos brasileiros pensam em outras questões e procuram não levar esta
discussão adiante, apenas se importando com a possibilidade de realizar um sonho de
poder ver um jogo de Copa do Mundo, ou mesmo, quem sabe, até uma final ou um
titulo de sua pátria. Mas é aí, possivelmente, que entramos em outros ‘poréns’. O
torcedor brasileiro realmente conseguirá ir a campo?
Na Copa do Mundo de 2010, a FIFA teve de tomar algumas medidas para
colocar mais pessoas em seus estádios e também para proporcionar, ao povo que
hospedou a competição, a possibilidade de poder marcar presença no evento. Ao
perceber que alguns jogos possivelmente não teriam um publico razoável, e com receio
que isso pudesse afetar a imagem de sua maior competição, a entidade chegou a
distribuir ingressos pelo país a custo zero e reduzir os valores para o povo local.
No Brasil, foram anunciados os valores de ingressos, que devem variar de R$
150,00 a R$ 1.500,00, fato que proporcionou embates para uma redução e atribuição de
descontos, tais como a meia-entrada. Entretanto, o número de ingressos destinados a
pessoas de baixa renda é pequeno. Mesmo sabendo da baixa renda que o país tem, não
há registros de solidariedade da entidade com o povo.
Ficamos então com a questão: a Copa realmente é para os brasileiros?
Fontes:
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1041
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/ingressos-devem-variar-de-r-150-a-r-1-500/
http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,fifa-da-ingressos-de-graca-para-a-copa-do-
mundo-de-2010,84989,0.htm
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SAGA BRASIL: COPAS DO MUNDO
Antonio G. Fernandes
Para introduzir a “Saga Brasil: Copas do Mundo”, primeiro tenho que fazer uma
escatologia dos Mundiais, evento que teve início em 1930, quando o Uruguai foi sede e
ganhou a primeira copa Jules Rimet. Na sequência, veio a Copa da Itália em 1934, com
a ordem do ditador Benito Mussolini para a Squdra Azzurra: “vencer ou sofrer as
consequências”. E eles venceram fácil.
O palco da terceira foi a França, em 1938, quando a Itália faturou o
bicampeonato, mas o Brasil já fez o artilheiro do torneio – Leônidas da Silva, com sete
gols. Não aconteceram as Copas de 1942 e 1946, devido à Segunda Guerra Mundial.
Em 1950 a Copa voltou, e no Brasil, quando a SAGA poderia ter iniciado.
Disseram que tínhamos um timaço, entretanto quem fez a festa pelo Bi, em pleno
estádio do Maracanã, na final contra o Brasil, foram nossos vizinhos uruguaios. Em
1954, na Suíça, foi a vez da Alemanha ganhar a sua primeira Copa. Dizem os
historiadores que o jogo Brasil 2 x 4 Hungria ficou conhecido como a “Batalha de
Berna”. Nesta Copa, o jornalista Geraldo José de Almeida apelidou a seleção de
“Canarinho”, por ter trocado o uniforme azul e branco pelo amarelo e branco.
SAGA BRASIL: Parte I
Aconteceu na copa da Suécia, em 1958. Não teve pra ninguém! Pelé, aos 17
anos, só não fez chover. Sem falar em Garrincha. Diz a lenda que Nelson Rodrigues
afirmou, no jogo Brasil 2 x 0 Rússia: “Eu imagino o espanto dos russos diante desse
garoto de pernas tortas, que vinha subverter todas as concepções do futebol europeu.
Como marcar o imarcável, como apalpar o impalpável? Na sua indignação impotente, o
adversário olhava Garrincha e concluía: ‘Isso não existe!’”. A dupla detonou as defesas
adversárias, e o Brasil liquidou a dona da casa na final, com um categórico 5 a 2. Eu era
garotinho nesta época e lembro muito bem a festa que contagiou todo o país. Foi
quando comecei a gostar de futebol por causa do Garrincha.
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SAGA BRASI: Parte II
No Chile em 1962, uma continuidade da festa. A seleção era praticamente a
mesma de 58, com Amarildo no lugar de Pelé, que se machucou na segunda partida,
Zózimo no lugar de Orlando e Mauro Ramos no lugar de Bellini, para erguer a taça na
final contra a Tchecoslováquia, após o triunfo por 3 a 1. Pelo que lembro, li e vi em
vídeos, Garrincha foi o “cara” daquela Copa. Ele garantiu o bicampeonato, e de quebra
ainda foi um dos artilheiros com quatro gols. Naquela época, eu já entendia um pouco
de futebol e lembro que o Amarildo se saiu muito bem ao substituir o Pelé, tendo
inclusive recebido o apelido de “possesso”.
Em 1966, na Copa da Inglaterra, tudo foi preparado para os anfitriões vencerem.
Eliminado pela seleção de Portugal ainda na primeira fase, aquela foi considerada a era
da bagunça na seleção, com um mix de jogadores do bicampeonato e uma safra de
garotos, como Tostão e Jairzinho. Entretanto, o técnico Feola não conseguiu montar um
time-base. A Inglaterra sagrou-se campeã no famoso jogo contra a Alemanha, em que a
bola de Hurst nitidamente não entrou no gol.
SAGA BRASIL: Parte III
O lugar escolhido foi o México em 1970, e aquele foi considerado o melhor
Mundial de todos os tempos, assim como o Brasil montou o melhor time da história.
Falaram, inclusive, que o presidente Garrastassu Médice impôs a convocação do
centroavante Dario. Foram seis vitórias em seis jogos, e o Tri conquistado com uma
verdadeira aula de futebol sobre os italianos em uma goleada por 4 a 1. Ficamos de
posse definitiva da taça Jules Rimet por termos conquistado-a por três vezes, como
previa o regulamento da FIFA. O troféu, porém, acabou pouco tempo na galeria da
CBF, pois foi roubado e derretido. Uma vergonha mundial neste contexto.
Em 1974, na Copa da Alemanha, foi instituído o novo troféu “FIFA”, desenhado
pelo italiano Sílvio Gazzaniga. Na final, a Alemanha destruiu “o carrossel” holandês e
obteve o bicampeonato. Teve uma frase do técnico Zagallo que ficou famosa, quando
ele disse, antes do jogo contra a Holanda: “vamos fazer um suco dessa laranja”. Foi a
laranja mecânica, como ficou conhecida a temida seleção holandesa de Rinus Mitchel,
quem fez suco do Brasil – 2 a 0.
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Em 1978 chegou a vez da Argentina ganhar a sua Copa, meio na marra. O Brasil
terminou em terceiro lugar, sem perder nenhum dos sete jogos.
Em 1982, com sede na Espanha, o Brasil montou o melhor time depois de 1970,
mas Paolo Rossi resolveu a parada para a Itália, que sagrou-se tricampeã. Em 6 de julho
de 1982, um dia depois da tragédia de Sarriá (Itália 3 a 2 sobre o Brasil), o jornal
italiano “Giornale di Milano” estampou a seguinte manchete: “Os brasileiros dançam.
Os italianos fazem gols”.
Em 1986, no México, a Copa foi de Maradona e a Argentina sagrou-se
bicampeã. Em 1990 a sede voltou a ser a Itália, e a Alemanha faturou seu
tricampeonato. Aquela foi considerada a pior Copa, sonolenta. E, para nós brasileiros,
ficou conhecida como a “Era Dunga”.
SAGA BRASIL: Parte IV
Disputada nos Estados Unidos, a Copa de 94 foi a da vingança de Dunga. Era
uma seleção desacreditada, apesar de contar com alguns bons jogadores, e acabou, sob a
batuta de Romário, levantando o tetracampeonato. Na final aconteceu a repetição da
Copa de 1970, contra a Itália. No tempo normal o jogo terminou 0 a 0. Na decisão por
pênaltis, Bebeto nem preciso bater o seu, porque antes Roberto Baggio chutara o seu lá
nas arquibancadas. Foi uma Copa que não empolgou o povo, apesar do excelente
futebol mostrado pela dupla Romário e Bebeto.
Em 1998 na França, ocorreu a melhor Copa da década, com um time que até eu
considerei... SAGA BRASIL: Parte V / Episódio 1: momentos antes da final contra a
França, as emissoras colocavam na tela a escalação do Brasil sem Ronaldo, que teve
uma convulsão horas antes do jogo. Porém, quando o time entrou em campo, Ronaldo
estava lá apático, como todos os seus companheiros. Edmundo resmungava como
nunca, lá do banco de reserva, quando o jogo ainda estava 2 a 0 para a França, mas
aquele “piripaque” do Ronaldo ficou mal explicado. A França fez mais um, e Zidane e
seus companheiros comemoraram a primeira Copa francesa. Teve truta nessa copa,
podem crer!
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SAGA BRASIL: Parte V / Episódio 2
Agora é pra valer, e aconteceu em 2002 no Japão e na Coréia do Sul, para onde
levamos uma legião de “R(s)”. Sob o comando de Felipão, constituiu-se a chamada
“Família Felipão”, dos astros Ronaldo / Rivaldo / Ronaldinho Gaúcho e, de quebra,
Roberto Carlos. Eles atropelaram todas as seleções que tiveram pela frente e nos
trouxeram a taça do pentacampeonato. Foram madrugadas inesquecíveis!!!
A sede da Copa de 2006 foi a Alemanha, mas quem faturou o tetracampeonato
foi a Itália. A de 2010 foi a África do Sul e, merecidamente, a Espanha conquistou sua
primeira Copa.
SAGA BRASIL: Parte VI
Estamos preparando tudo para o lançamento mundial em junho de 2014, com
expectativa de mais de 5 bilhões de espectadores em todo o Planeta, quando será
veiculada a logomarca mais conhecida e famosa do mundo.
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DOA A QUEM DOER
Breno dos Santos França
Quando se trata de Copa do Mundo de 2014, muito se fala dos valores dos
investimentos estatais em estádios e infraestruturas adjacentes. Muito se fala em
construções de arenas em regiões remotas do país, que nem sequer têm times de futebol
profissional na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, quando muito na segunda.
Muito se fala a respeito de manobras políticas, interesses privados e até possíveis
desvios e superfaturamentos, como o caso recente das cadeiras na Arena Pantanal, em
Cuiabá. Porém, só agora um problema recorrente no futebol brasileiro e que se agravará
com a Copa do Mundo no ano que vem começa a ser discutido: o calendário.
Segundo o jornalista da ESPN, Juca Kfouri, no dia 25 de setembro um manifesto
com cerca de 70 assinaturas de atletas e integrantes de comissões técnicas dos 20 clubes
da série A do Campeonato Brasileiro deve ser entregue à Confederação Brasileira de
Futebol, CBF, pedindo uma reunião para que o calendário da temporada 2014 seja
rediscutido.
Atualmente, o calendário divulgado prevê que os campeonatos estaduais de 2014
comecem no dia 11 e 12 de janeiro, enquanto que o Campeonato Brasileiro de 2013 terá
sua última rodada realizada no dia 8 de dezembro, portanto com um pouco mais de um
mês de intervalo. Acontece que, segundo a lei, os jogadores de futebol profissional, bem
como os demais profissionais, têm direito a 30 dias de férias.
Sendo a lei cumprida, a atual disposição das datas implicaria na não realização
de pré-temporada para os principais clubes do país, o que geraria, se não um grande
risco à saúde dos atletas, uma enorme queda no nível do espetáculo apresentado.
Nível que já vem em queda durante a atual temporada. Como efeito colateral da
Copa de 2014, o Brasil sediou neste ano a Copa das Confederações, o que, somado a
alguns amistosos internacionais, obrigou clubes como São Paulo, Santos e Internacional
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a realizarem partidas com menos de 66 horas de intervalo, descumprindo um dos artigos
previsto na Lei Orgânica da CBF.
O assunto, pouco debatido na mídia que tem os direitos de transmissão dos
principais campeonatos e não tem interesse na questão, vai ganhando cada vez mais
espaço nos demais veículos.
Todos os anos, questiona-se a legitimidade dos campeonatos estaduais, bem
como a disputa tão longa de um campeonato nacional com 20 clubes de diferentes
cantos de um país de dimensões continentais. Entretanto, o máximo que foi feito até
agora foi uma nova regra um tanto quanto confusa para valorizar a Copa do Brasil, em
detrimento da Copa Sul-Americana.
Os problemas traumáticos do calendário brasileiro, bem como o desejo de novos
dirigentes de realizar jogos internacionais a fim de fortalecer a marca de seus clubes,
vêm engrossando o coro daqueles que defendem que o calendário do futebol brasileiro
deve passar, de uma vez por todas, a espelhar o calendário do futebol europeu, bem
como fez a Argentina alguns anos atrás. O comentarista Paulo Vinícius Coelho, o PVC,
da ESPN, é um dos que defendem esse argumento.
“Até acho que, em relação ao ano que vem, exceto você invertendo a temporada,
já no ano que vem, é muito difícil você pegar tudo que tem pra jogar e colocar em 365
dias. E é impossível transformar esses 365 dias em 395 ou 405 dias. Então, isso no
fundo devia ter sido feito lá trás”.
De qualquer forma, o que se vê é que a questão está ficando a ponto de se tornar
insustentável e em breve a mídia não conseguirá mais ignorar o problema. Porém,
enquanto puder, estes veículos vão continuar confortavelmente apegados aos seus
produtos de fácil retorno, apegados às velhas instituições que defendem seus interesses
e atravancando o crescimento do futebol brasileiro doa a quem doer. Resta-nos torcer
para que nem um eventual hexa nos faça esquecer das nossas questões estruturais mais
básicas.
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COPA: PARA BRASILEIROS OU PARA ESTRANGEIROS?
Camila Campos Addono
As opiniões a respeito da Copa do Mundo de 2014 são diversas. Muito se
especula sobre os benefícios e os malefícios que a Copa pode trazer ao país. Para
equacionar a questão, é necessário se ater aos fatos, aquilo que já está acontecendo e
que será refletido daqui a 300 dias com o início dos jogos, bem como após seu fim.
Aqueles que defendem com unhas e dentes a realização dos jogos, explorando os
benefícios que estes podem causar ao país, tais como o volume de dinheiro gasto pelos
turistas, a visibilidade que o país virá a ter, as possibilidades de investimentos em
diversos setores da economia, não só no ramo da hotelaria, mas de negócios em geral,
esquecem um pequeno detalhe: as possibilidades que a Copa traz ao país não passam de
especulações, que podem, sim, se tornar grandes resultados e gerar crescimento ao país.
Na contramão estão os fatos, aquilo que já repercute no país, antes de colhermos os
frutos de todo o esforço para viabilizar esse mega projeto, do qual os ganhos ainda são
incertos.
A construção do sonho de alguns pode ser o pesadelo de outros. O que será que
pensam a respeito da Copa os milhares de brasileiros que são notificados de que serão
desalojados devido às obras?
Somente na cidade do Rio de Janeiro, até julho 19.754 remoções haviam sido
feitas. O número pode não ser expressivo, se pensarmos no montante de dinheiro que a
Copa pode gerar (e aí nos deparamos novamente com as especulações), mas será que
essas 20 mil famílias (citando apenas os desalojados na cidade do Rio de Janeiro) estão
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tendo o tratamento que merecem? Segundo pesquisa realizada pelo Correio Brasiliense,
além dos moradores serem avisados às pressas, já que as obras estão a todo vapor e
correndo contra o tempo, alguns chegaram a ser ameaçados, caso procurassem a
prefeitura na presença de um advogado, como se os moradores não tivessem o direito de
reivindicar. Sem entrarmos nos méritos das indenizações, campeãs de reclamações
daqueles que recebem cartas de desalojamento. O mais curioso é que o orçamento da
construção de um estádio pode ser revisto, mas para rever as indenizações que serão
pagas às famílias não há tempo.
Segundo levantamento da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa
(ANCOP), esse número salta para 170 mil famílias ameaçadas de remoção forçada em
todo o país. Em alguns casos, há relato que primeiro é feita a remoção e posteriormente
é definido o local para onde as famílias irão, o que, segundo o princípio universal do
reassentamento estabelecido pelo Direito à Habitação das Nações Unidas, não pode ser
feito antes que a família tenha participado e concordado com as negociações,
realocações e recebimento do novo imóvel.
Se o país não consegue solucionar de maneira eficiente problemas que parecem
pequenos se comparados às dimensões do empreendimento, o que acontecerá se
resultados como o da África do Sul, que superestimou os valores que entrariam no país
através dos turistas, ou da Grécia, que teve de lidar com uma dívida pública gigantesca
que só cresceu após a copa, ocorrer no Brasil?
A verdade é que temos exemplos bons e exemplos ruins de empreendimentos
como estes. Já estamos na metade do caminho, não há como recuar. Mas para que sejam
colhidos os bons resultados que os otimistas tanto disseminam, precisamos de uma
Copa construída através de uma base sólida, sem super faturamento, desvio de dinheiro
e, o principal, com respeito aos cidadãos, porque eles devem ser os maiores
beneficiados pela Copa. Os resultados devem ser benéficos para o país, para os
brasileiros como um todo. Para tanto precisamos que a Copa seja um empreendimento
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sustentável, que traga retorno, mas sem prejudicar aqueles que deveriam ser os maiores
beneficiários. Ou a Copa é para gringo ver?
PARA O BRASIL SE ABRASILEIRAR
Gabriela Romão
Copa do Mundo. Um evento que, por si só, costuma mexer com os ânimos dos
brasileiros, mesmo os daqueles que não acompanham futebol com frequência. Com a
realização do evento no Brasil, essa efervescência deveria se multiplicar. No entanto,
não é o que parece estar acontecendo às vésperas do torneio.
É verdade que a conquista da Copa das Confederações, em julho, sobre a atual
campeã mundial Espanha conseguiu alavancar um pouco a empolgação brasileira para
com a seleção. Mas, antes disso, o comportamento da torcida em amistosos deixou claro
a descrença depositada no Brasil, chegando muitas vezes às vaias. O país não entrou
favorito, como de costume, e o troféu era considerado por muitos uma surpresa. E foi.
Diante desse quadro, chega-se a uma questão muito particular: por que a seleção
brasileira, cinco vezes campeã do mundo, com jogadores que atuam em clubes
mundialmente conhecidos, estaria tão desacreditada por seus próprios torcedores?
A resposta, ao meu ver, é bastante simples, embora se ramifique em muitas
outras discussões: falta ao brasileiro identificação para com seu próprio objeto de
torcida. A Seleção, como símbolo, permanece intacta, mas, no lado humano, os
jogadores que vestem a amarelinha não são, pelo menos não ainda, reconhecidos pelos
torcedores como representantes do país.
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Isso se deve a diversos motivos. Em primeiro lugar, a seleção passa por um
período de renovação. Pouquíssimos desses jogadores têm experiência em Copas do
Mundo. Dos convocados para a Copa das Confederações, por exemplo, apenas quatro
já disputaram o torneio mundial (Julio César, Daniel Alves, Thiago Silva e Fred), sendo
que apenas o goleiro esteve presente em duas delas (2006 e 2010). Com a recente troca
de Mano Menezes por Luiz Felipe Scolari, em 2012, jogadores como Diego Cavalieri,
Dante e Fernando passaram a aparecer nas listas de convocação como verdadeiras
apostas do experiente técnico pentacampeão mundial.
Contudo, esse argumento apenas não basta, visto que, curiosamente, a seleção
dirigida pelo mesmo Felipão em 2002 guardava o mesmo saldo de jogadores já
veteranos na disputa do Mundial. Claro que, naquele caso, havia expoentes como Cafu e
Ronaldo, que já integravam a equipe desde 1994, mas ainda assim isso não explica por
que a atual equipe, até poucos meses atrás, destoava tanto das expectativas brasileiras.
Por isso, acredito que haja um segundo ponto a ser levantado. Embora a equipe
ainda não tenha sido 100% definida, quase todos os atletas que provavelmente
disputarão a Copa do Mundo não atuam no Brasil. Salvo exceções, como Diego
Cavalieri, Jefferson, Jô e Fred, a maioria se espalha por clubes europeus e, além disso,
são pouco conhecidos dos brasileiros.
Os casos são variados. Alguns deles, como Daniel Alves e Maicon, por exemplo,
ficaram de um a dois anos no Brasil antes de serem levados, ainda cedo, para o exterior.
Só passaram a estar próximos da torcida através da própria seleção, já que não são todos
os brasileiros que acompanham o futebol internacional.
Piores são os casos de David Luiz e Dante, que atuaram no país de 2005 a 2007
e 2002 a 2003, respectivamente, ambos em times de menor expressão, e já se
transferiram para a Europa. Se pararmos para pensar, são quase dez anos de ausência no
Brasil, e a maioria dos brasileiros mal devia se lembrar deles até serem convocados.
Não construíram uma história, nem mesmo curta, em times nacionais para que ficassem
na memória dos torcedores de um clube ou dos rivais.
Esse fato não revela apenas a falta de identificação do brasileiro para com seus
jogadores. Ele toca numa ferida muito mais aguda, para efeito da qual os clubes
brasileiros já não têm o mesmo prestígio e qualidade de antes. A seleção se
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“desbrasileirou”, não porque tenha perdido sua tradição, mas porque o futebol nacional,
o que está em contato dia a dia com o torcedor, o futebol brasileiro, não corresponde
nem um pouco ao que é a seleção. Prova disso é o número de pessoas que hoje
acompanham o esporte europeu – auxiliados pela mídia, que atualmente oferece mais
opções – e até desconsideram os clubes no Brasil.
Não suficiente, essa ferida ainda abre campo a uma desvalorização dos próprios
jogadores no lado moral. Antigamente, os atletas passavam por poucos clubes na
carreira e, sem a sedução do status do futebol europeu e dos valores financeiros,
acabavam por se identificar com uma camisa por anos, às vezes por décadas. Esse apego
era transferido para o verde e amarelo da seleção, em que a defesa de um Mundial era
identificada pela torcida como amor à camisa e orgulho da nação.
Hoje, é complicado pensar dessa forma, não porque esse amor e esse orgulho
tenham desaparecido, mas porque o próprio torcedor sente dificuldades para acreditar
nesses valores. O dinheiro se tornou, infelizmente, uma peça-chave no cenário
extracampo do futebol e, por essa mesma razão, poucos são os jogadores que ficam por
tempo suficiente no país para que os torcedores enxerguem neles humildade e carinho
pela camisa que defendem. Ao contrário, muitos deles são inclusive tachados de
mercenários, criando uma imagem totalmente deturpada do ser humano dentro desse
esporte. E isso não pode deixar de resvalar em como a torcida enxerga os próprios
jogadores com a camisa do Brasil, substituindo a visão do orgulho pela do status.
Mesmo nesse mar de desilusões, os torcedores, como todos os apaixonados,
buscam salvar a identidade que a seleção brasileira sempre representou para o país. A
campanha de Mano Menezes não era tão ruim para que custasse seu cargo. Mas custou.
Porque a torcida gritava nos estádios e pedia por Felipão. Pedia por Luiz Felipe Scolari,
não só pentacampeão com a seleção, como campeoníssimo nos times brasileiros por que
passou. Embora “especialistas” dissessem que ele era ultrapassado, acredito que a
maioria tenha ficado feliz com a escolha. Ouvi de muitos, inclusive, que passaram a
acompanhar novamente a seleção por conta da volta do técnico. Não é só pela fé em seu
trabalho. É a identificação.
O próprio garoto Neymar é importante para a torcida nesse período de
renovação. A habilidade e o talento da ‘joia da Vila’ são com certeza indiscutíveis, mas
sua paciência e sua ligação com o Santos – mesmo que muitos digam que a escolha de
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Neymar só se deu pelos altos salários que ele faturava – permitiram-no ficar aqui, no
Brasil, e mostrar muito do seu futebol para os brasileiros. Até para aqueles que não
torcem para o time da Baixada, não voltar as atenções para o garoto e seu futebol alegre,
tão raro nos dias de hoje, seria praticamente impossível.
Neymar não é o único exemplo. Em menores proporções, Lucas, Paulinho e
Oscar, por exemplo, ainda não apagaram seus momentos no cenário nacional e
permanecem vivos na memória do torcedor. Até Hernanes, que já embarcou para a Itália
há mais de quatro anos, também ficou marcado pelas boas campanhas que fez pelo São
Paulo e os títulos que conquistou. Ele teve tempo para se destacar. Ele criou a
identificação.
Pode-se discutir estratégias, questionar a qualidade dos jogadores, julgar a
veracidade daquilo que dizem ou que fazem, pode-se fazer tudo isso. Mas no final das
contas, o que fala mais alto no torcedor é o emocional. Até por isso, os estádios da Copa
das Confederações, mesmo com toda a desconfiança depositada sobre o Brasil, lotaram,
computando o segundo maior público da história dessa competição.
Quanto à confiança do torcedor, não há muito o que fazer além de aguardar. Não
é a mídia com seus holofotes gigantescos que vai fazer com que esses jogadores sejam
aceitos, não são as campanhas que fizerem por seus clubes na Europa, não são as juras
de amor que declaram ao Brasil. Será o futebol, jogado com raça, com qualidade, e,
principalmente, com o orgulho de quem carrega nas costas o peso e a honra do país que
já encantou cinco vezes o mundo. Só assim o reconhecimento virá. E o Brasil poderá
novamente se abrasileirar.
Fontes:
www.uol.com.br/quefimlevou
http://www.espn.com.br/noticia/340040_copa-das-confederacoes-no-brasil-tem-2-
maior-publico-da-historia-do-torneio
http://oglobo.globo.com/infograficos/selecao-convocados-copa-confederacoes
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O FUTURO DO JUIZ
Luciana Arraes
Personagem mais xingado no mundo do futebol, protagonista das maiores
brigas, discussões e desentendimentos, figura mítica do embate entre dois times, o juiz
entrou oficialmente em campo em 1891, na Inglaterra, vestindo casaca negra, cartola e
polaina, ainda sob o nome de umpires. Foi conquistando seu espaço e hoje é parte
essencial de uma partida de futebol, desde as ‘peladas’ até as finais de Copa do Mundo.
Está ali para ser um ponto neutro, avaliar as jogadas e decidir de forma que não haja
dúvidas ou injustiças. No entanto, nem sempre isso é possível: errar é humano e juiz
também erra.
Alguns erros em partidas importantes tornaram-se ícones da história do futebol.
Recentemente, na Copa do Mundo de 2010, no jogo Alemanha x Inglaterra, a Inglaterra
teve um gol anulado - a bola bateu no travessão, em seguida dentro do gol e saiu. Na
dúvida, o juiz não deu o gol e o jogo continuou. O fato gerou tanta polêmica que
resultou em um debate sobre erros de arbitragem em Mundiais e fez com que a Fifa
discutisse o uso da bola com chip e de tecnologias de auxílio aos juízes na Copa do
Brasil, em 2014. A instituição é conhecida por ser avessa à utilização de tecnologias
para diminuir erros de arbitragem, deixando claro que esta será a única exceção.
O fato é que os meios de comunicação evoluíram. Atualmente, os jogos são
transmitidos em alta definição, com diversas câmeras posicionadas em todo o campo
para registrar os lances nos mínimos detalhes e em diferentes ângulos – aquilo que o
juiz só viu por um ponto de vista ou sequer viu. Apesar dos árbitros possuírem técnicas
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e treinamentos, como correr em diagonal para ver melhor o caminho da bola, eles ainda
são suscetíveis ao erro. Em uma partida de futebol as situações dependem do ponto de
vista e, para um juiz, nem sempre o que seus olhos veem - em virtude da movimentação
ou posição em que está - corresponde ao que realmente é. As ilusões de ótica
decorrentes de seu posicionamento são a grande dificuldade dos juízes e bandeirinhas ao
dizerem se o jogador está impedido ou não.
No ano passado, o Museu do Futebol apresentou a exposição “Será que foi, seu
juiz?”. A exposição unia ciência, futebol e história para mostrar a complexidade que é
arbitrar uma partida de futebol. Fica a dúvida se a Fifa está certa em não utilizar
tecnologias de auxílio aos árbitros e até que ponto a tecnologia poderia ser útil sem
descaracterizar o próprio esporte.
Enquanto isso, o juiz segue podendo mudar o rumo e se tornar protagonista de
cenas históricas, como no jogo entre Santos e Palmeiras, em 1983, no qual o juiz José
de Assis Aragão fez um gol (a bola ia para a fora, bateu nele e entrou).
Fontes:
http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/12/25/arbitragem-teve-estreia-
do-chip-na-bola-queda-de-chefao-na-cbf-e-duvida-sobre-intervencao-externa-em-
2012.htm?action=print
http://www.museudofutebol.org.br/exposicoes/exposicoes-temporarias/
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COPA DE 82: A COPA DA EMOÇÃO
Marina Quintas Panizza
Esporte tem emoção. Tem sorrisos, tem lágrimas. Tem vitórias, tem derrotas. O
futebol, em particular, é a síntese deste sentimento, é a paixão nacional. Sem explicação,
a emoção toma conta dos torcedores, que sentem junto com o time as alegrias e
sofrimentos. Uma das histórias mais dramáticas do futebol brasileiro foi vivida pela
Seleção canarinho: a famosa eliminação na Copa de 1982, que ficou conhecida como
“Tragédia de Sarriá”.
O Brasil chegou àquela Copa da Espanha como grande favorito. Tinha uma
seleção composta por grandes nomes, como Zico, Sócrates e Falcão, e apresentava um
futebol ofensivo que encantava. Era a seleção do futebol-arte, das jogadas de efeito,
dribles e toques rápidos. A seleção que fez 15 gols em 5 cinco jogos e conseguiu cativar
o público.
Naquela Copa, 1.856.200 estiveram presentes no estádio - média de 33.967 por
jogo, segundo dados do site UOL. Poucas seleções conseguiram ser tão adoradas pelo
público ao longo dos anos.
O Brasil fez uma primeira fase arrasadora, eliminando as seleções da União
Soviética, da Escócia e da Nova Zelândia – as duas últimas com goleadas. No começo
da segunda fase eliminou também a grande Argentina, de Maradona. Para continuar na
competição o time comandado por Telê Santana precisava apenas de um empate com a
Itália, que não vinha jogando bem. Havia um grande clima de euforia antes do jogo; a
maioria já dava a vitória como certa. Naquele 5 de julho, no estádio de Sarriá, o futebol-
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arte foi surpreendido: derrota por 3 a 2. Paulo Rossi, o carrasco, marcou os três gols da
Azzurra.
Após a eliminação, muitos torcedores reconheceram o esforço do futebol-arte
brasileiro. Outros reclamaram do “show inútil”, já que, mesmo jogando bem, o time não
venceu. A partir daí, muitos analisaram o surgimento de uma nova maneira de jogar
futebol: procurar a vitória sempre, mesmo jogando feio.
A emoção da Copa de 1982 ficou resumida por uma foto, estampada na capa do
extinto Jornal da Tarde. A imagem de um menino segurando o choro definiu o
sentimento de decepção e sofrimento de todos. Abaixo da foto, um lugar e uma data:
Barcelona, 5 de julho de 1982. Não era preciso mais nada para entender.
Aquele garoto não tinha razões “reais” para chorar: provavelmente seus pais
estavam bem, ele ainda tinha os mesmos amigos, voltaria para escola depois das férias,
sua vida seguiria a mesma. Apesar de tudo, ele chorava. Seu coração doía com a
decepção. O coração de todos os brasileiros – pelo menos da grande maioria que se
importa com futebol – chorava como aquele menino: peito estufado, camisa Canarinho
vestida com orgulho. O fotógrafo Reginaldo Manente foi o autor da famosa foto que
representou o orgulho nacional ferido. “Imaginei que na Praça da Sé, onde tinha um
telão, os fotógrafos fariam um monte de rostos olhando, assim, com aquele ar parado. E
foi por aí que eu fiz a foto, fui pra arquibancada procurando essa foto”, explica o
fotógrafo. “Esse menino, quando eu o vi, estava localizado num lugar bom pra ser
fotografado e estava junto com a mãe. A mãe tinha sido miss fluminense, era uma
mulher muito bonita, e ela achou que a foto fosse com ela. Isso foi bom porque o
menino não se deu conta de que eu estava fotografando ele”.
Reginaldo não imaginava o sucesso que sua foto faria, mas consegue explicar a
repercussão da cena: “A decepção do brasileiro é a única coisa (para fotografar),
porque mostrar o Sócrates, o Zico não faz mais sentido. O grande momento ali era
tristeza, não de raiva com alguém, mas de orgulho ferido. Aquele menino era o orgulho
ferido do brasileiro”, conclui.
Hoje em dia, o “menino” tem 41 anos e se tornou o advogado Dr. José Carlos
Vilella. “É sobre a foto de 82?”, já adivinha o advogado quando algum jornalista liga
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para ele. Será para sempre um dos símbolos da emoção que tomou o brasileiro naquela
Copa.
Muitos buscam uma explicação para a eliminação brasileira em Barcelona. Não
tem o que explicar. Futebol é assim, uma “caixinha de surpresa”, como diz o velho (e
clichê) ditado. Às vezes, o time ruim ganha e o time bom perde, e vice-versa. Em todos
os casos, o que sobra é a emoção. A emoção de sentir uma partida de futebol, a emoção
de ver seu time campeão, a emoção de chorar pela derrota. Sempre a emoção. Muitos
não entendem a paixão que a maioria sente pelo futebol. “Que besteira chorar por isso”,
dizem. Novamente, não tem explicação, mas não deixa de ser importante e necessário.
Assim como o treinador escocês Bill Shankly uma vez disse: “Futebol não é uma
questão de vida ou morte. É muito mais importante que isso”.
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A COPA DO MUNDO 2014 VISTA DA FRANÇA: UMA MISTURA
DE ENTUSIASMO E ANSIEDADE
Mattéo Curutchet
Nunca, desde 1998, uma Copa do Mundo tem sido tão aguardada na França. Seja pelo
estereótipo atrativo brasileiro, pelas polêmicas ao redor da organização deste evento
mundial e pela densidade dos times participantes. É claro que nenhuma das
competições dos últimos anos recebeu tanta atenção quanto essa edição de 2014.
Com certeza, as descobertas de novos continentes, como a Ásia no ano 2002 e a
África em 2010, eram esperadas desde muitos anos. Mas a excitação que os franceses
sentem hoje não tem nada a ver; a volta da Copa do Mundo à terra sagrada do futebol
por excelência, na nação que não tem inventado esse esporte, mas que o converteu em
uma arte, mais do que um esporte, provoca a expectativa de todos os amantes de
futebol.
Esta Copa do Mundo representa toda a espera do povo brasileiro, que não
conhece o título desde 2002, e que espera sua vingança da edição do ano de 1950 - o
tristemente famoso episódio do “Maracanazo”, quando o Uruguai e seu atacante
Ghiggia causaram um drama nacional, vencendo a equipe brasileira na final diante de
200 mil espectadores, que ficaram silenciosos no estádio do Maracanã. O Brasil espera,
portanto, ansiosamente essa nova edição, depois das recentes esperanças colocadas nos
« Auriverdes », uma equipe que ainda estava com falta de referências e de líderes há um
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ano, mas que foram os vencedores da Copa das Confederações no verão passado,
triunfando na final diante dos espanhóis, campeões do mundo na Copa passada.
Mas esse evento mundial prometido para Neymar e seus companheiros faz
sonhar além do Atlântico, especialmente na França, onde desde 1998, na Copa vencida
em casa, o entusiasmo não tem sido tão palpável.
O estereótipo que acompanha os brasileiros provoca forçosamente uma espera
de uma linda competição em termos de jogo bonito, que os europeus tendem a comparar
com o samba local, de atmosfera ainda mais quente e alegre que os anos precedentes e,
naturalmente, uma espera de suspense, com uma competição muita fechada.
Porque mesmo que o Brasil se apresente favorito, como disse a lenda Diego
Maradona que “se os brasileiros se concentram corretamente, eles são intocáveis”,
muitos times terão algo a mostrar, seja a Espanha, campeã da Copa passada, a Argentina
e seu superstar Leo Messi, que ainda não ganhou uma Copa do Mundo, ou a Alemanha,
sempre bem classificada.
Do lado francês, temos muito menos otimismo, já que a maioria das pesquisas da
imprensa esportiva francesa acha que o time não classificará para o Mundial 2014.
Se essa edição de 2014 está no centro de todas as discussões na Europa, é
principalmente por causa de todas as polêmicas ao redor dela. Muita gente afirma que o
Brasil excedeu por ambição; é de fato o quarto país que organiza a “dobradinha Copa do
Mundo - Jogos Olímpicos”, depois do México em 1968, da Alemanha em 1972 e do
Japão, com os Jogos de Inverno de 1998.
Entretanto, são principalmente as faltas de infraestrutura e suas baixas
qualidades que são salientadas. A construção dos estádios, por exemplo, levanta
dúvidas, em relação a atraso (apesar de que todos serão normalmente finalizados em
dezembro 2013) e, acima de tudo, a seus preços, criticados por uma imensa maioria da
população, como a ex-estrela do futebol brasileiro, convertido em político, Romário,
que atestava para o periódico esportivo francês L’Équipe Magazine: “Em Brasília, 1,5
bilhão de reais foram gastos. A previsão era de 700 milhões. Em Manaus, Cuiabá,
Natal [...] vão entrar em um período de trabalho de emergência, e aqui, meu amigo, vai
ultrapassar os 2 bilhões. E é o povo quem paga isso”.
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E onde os brasileiros veem mais a catástrofe acontecer é quando abordamos o
assunto dos transportes. Aproximadamente 600 mil estrangeiros e 3 milhões de turistas
brasileiros são esperados nas 12 cidades-sede dessa Copa do Mundo, e é claro que a
modernização dos aeroportos e dos transportes públicos nos últimos anos não foi
suficiente. Todos os especialistas concordam nas críticas. O ex-presidente do Sindicato
Nacional das Empresas Aeroviárias, José Márcio Monsão Mollo, declarava há alguns
anos que “o que vai ocorrer é o caos completo, sem dúvida nenhuma”, e o economista
da FGV Gesner Oliveira falava há 3 meses de um possível “desastre”, considerando que
o desenvolvimento das infraestruturas aeroportuárias não seguiu o desenvolvimento do
tráfego aéreo, que subiu 120% nessa última década.
A melhor maneira de resumir esse duplo sentido de excitação e de medo de
falhar é certamente a venda dos ingressos para essa Copa do Mundo. O entusiasmo
popular esperado aconteceu, com mais de 1 milhão de demandas de 163 mil pessoas,
em um curto período de 7 horas depois da abertura da bilheteira. Mas alguns aspectos
negativos podem ser notados, como a não acessibilidade aos ingressos para toda a
população por causa de preços demasiado elevados. Para comparar, Gustavo Mehl,
presidente do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas, falou que “para a final da Copa
de 1950, o ingresso custava pouco mais de 2% do salário mínimo daquela época”, mas
hoje o ingresso para a final representa 50 % do salário mínimo.
Sonho ou pesadelo, teremos a resposta em pouco menos de 9 meses. Mas uma
coisa é certa, essa edição de 2014 nos reserva um show.
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ELEFANTE BRANCO NA FLORESTA
Murilo Bioni Caruso
No popular, elefante branco se refere a uma posse ou propriedade que tenha
grande desproporcionalidade entre o gasto e a sua utilização e que não possa ser
desfeita. No esporte é muito comum, principalmente em grandes competições, pois
nesses casos se constroem estádios grandes que no final acabam sem utilidade. No que
tange à Copa do Mundo do Brasil, discute-se se alguns estádios podem tomar esse
mesmo fim, como no caso da Arena Amazônia.
Construído em Manaus, Amazonas, a um custo de R$ 550,7 milhões, com
capacidade para 42.374 pessoas, o estádio será utilizado em quatro jogos na Copa.
Enquanto isso, o Campeonato Amazonense de 2012 teve média de público de 410
pessoas na primeira fase e 1.785 pagantes na fase final. O maior público do torneio foi
de 3.326 pessoas. Se essa média se mantiver, na primeira fase eles utilizarão apenas
0,96% da capacidade do estádio.
Além disso, o custo anual da arena será de R$ 5 milhões por ano, valor irreal
para esse campeonato, cuja renda total é de R$ 339 mil – dinheiro que não pagaria nem
um mês de custos.
Outro fato é que o governo está construindo mais três estádios que serão
utilizados como centro de treinamento durante o torneio. Reformaram o estádio da
Colina, que terá 11.400 lugares e é de propriedade do São Raimundo, e ergueram o
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Estádio do Coroado, com 5000 lugares, e mais um estádio com 1300 lugares. Estádios
novos, de boa qualidade e que se aproximam mais da realidade do futebol amazonense -
provavelmente eles é que serão utilizados no estadual.
Um caso em comum ocorreu com o estádio Miyagi, na cidade de Rifu, no Japão.
Construído para ser usado durante a Copa do Mundo de 2002, tem capacidade para
49.133 pessoas, mas hoje não é utilizado pelos times de futebol e de basebol da cidade,
que preferem jogar nos estádios antigos de menor capacidade. O time de futebol Vegalta
Sendai, que tem média de público de 17.332 - média maior do que vários times
brasileiros em 2012, como Flamengo, Vasco e Palmeiras -, joga no Yurtec Stadium
Sendai, cuja capacidade é de 20 mil pessoas. Ali, o clube paga um aluguel mais baixo e
o espaço é suficiente para sua torcida.
Uma esperança é de que a Arena Amazônia atraia mais torcedores e faça com
que o Amazonense se torne maior. Já teve um amistoso do Fast Clube contra o Cosmos
(EUA) em 1980, no antigo estádio Vivaldo Lima, com público para 56.950 pessoas.
Outra solução seria atrair eventos como shows, para não deixar o estádio vazio e para
cobrir os gastos.
O futuro dessa arena está bem perto de ser fadado ao fracasso. Aqueles que
escolheram Manaus não pensaram sobre o destino que esse estádio vai tomar. Agora é
tarde! Nesse momento, o governo e os times locais devem agir para que não se torne um
elefante branco no meio da Floresta Amazônica.
Fontes:
http://srgoool.com.br/Noticia/Campeonato-Mineiro-tem-a-melhor-media-de-publico-entre-os-
Estaduais-2013
http://www.d24am.com/esportes/futebol/media-de-publico-do-campeonato-amazonense-pouco-
se-altera/53407
http://en.wikipedia.org/wiki/Miyagi_Stadium
http://www.lancenet.com.br/minuto/Publico-amazonense-encheria-arena_0_496750520.html
http://www.futebolamazonense.com.br/2010/03/ha-30-anos-o-vivaldao-recebia-o-maior.html
http://www.rsssfbrasil.com/miscellaneous/attendn.htm
http://www.playthegame.org/fileadmin/documents/World_Stadium_Index_4_FIFA_WC.pdf
http://www.playthegame.org/theme-pages/world-stadium-index.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio_Vivaldo_Lima
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http://www.lancenet.com.br/copa-do-mundo/estadios-Copa-governo-populacao-
brasileira_0_940705956.html
http://viniciussegalla.blogosfera.uol.com.br/2013/08/24/para-receber-4-jogos-da-copa-poder-
publico-esta-construindo-3-estadios-e-um-campo-reserva-em-manaus/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Elefante_branco
http://globoesporte.globo.com/platb/teoria-dos-jogos/2012/09/21/todas-as-medias-de-publico-
do-brasileirao-2012/
DO PACAEMBU À ITAQUERA: A CIDADE-SEDE PAULISTA
TEM NOVO ENDEREÇO
Natalia Zanotti
Em 1950, São Paulo foi uma das cidades-sede da IV Copa do Mundo de Futebol.
Segundo os dados da Prefeitura de São Paulo, a cidade passava por um dinamismo
intenso, impulsionada principalmente com a expansão do setor industrial. Nessa época,
eram mais de 2,5 milhões de pessoas morando nos bairros paulistanos.
Inaugurado em 1940 e com capacidade para 60 mil pessoas, o estádio do
Pacaembu, localizado no centro da cidade, abrigou os jogos da Copa de 1950. Ao todo,
foram realizadas seis partidas. Em 28 de junho de 1950, o Brasil enfrentou a Suíça no
estádio do Pacaembu e ficou no empate em 2 a 2.
De acordo com os dados da prefeitura, na Copa de 1950 os torcedores utilizavam
as linhas dos bondes e os poucos ônibus que circulavam pelas ruas dos entorno do
estádio. Segundo a autora do livro “1950: O Preço de Uma Copa”, Beatriz Farrugia, as
exigências da FIFA na Copa de 50 eram bem menores. “Eles pediam um determinado
tamanho para o campo de futebol, exigiam uma área para jornalistas, um vestiário
adequado, nada mais do que isso”, comenta Farrugia.
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O cenário atual para a nova cidade-sede é bem diferente da década de 1950. São
Paulo cresceu, mudou de perfil e terá um novo palco para receber os jogos da Copa de
2014. A cidade conta com uma população de mais de 11 milhões de pessoas. Além de
estar no ranking das 10 maiores cidades do Mundo, São Paulo concentra o maior centro
econômico do país.
O novo estádio da Copa está localizado no bairro de Itaquera, na zona leste de
São Paulo – onde se concentra a maior população em números de habitantes e de classe
baixa. O novo campo fica próximo de um shopping e de prédios com moradores do
programa CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). Para chegar
ao novo estádio da Copa, os torcedores terão à disposição uma linha de metrô e outra de
trem, além de diversos ônibus que ligarão todas as regiões da cidade até Itaquera.
O estádio nomeado como Arena Corinthians será o palco da abertura da Copa,
com capacidade para receber 68 mil pessoas. Segundo o Corinthians, o estádio foi
orçado em R$ 820 milhões. As obras tiveram início em maio de 2011, com um quadro
de 2.500 funcionários e previsão de entrega para dezembro de 2013.
Para os organizadores do evento, com a construção do estádio do Corinthians e a
abertura da Copa em São Paulo, a cidade (incluindo o bairro de Itaquera) terá um
retorno de aproximadamente R$ 30 bilhões nos próximos 10 anos.
A abertura da Copa do Mundo de 2014 está marcada para o dia 12 de junho.
Além da abertura, São Paulo receberá mais cinco jogos.
O povo paulistano e principalmente os moradores da zona leste aguardam
ansiosamente por 2014, não só para verem a seleção na abertura da Copa e os demais
jogos em Itaquera, mas querem presenciar o legado da construção do estádio. Itaquera
não se transformará em um bairro como a região do Pacaembu, mas pode ser um local
que disponha de uma qualidade de vida melhor à população que vive em torno da maior
e mais carente região de São Paulo.
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ARENAS DA COPA DE 2014 E SEUS PROBLEMAS
Nilson Martins
Como sempre, os políticos brasileiros, causadores de ações nefastas, eleitos(as)
por voto direto, que existem apenas para criar e se apoderar dos diversos e inúmeros
lucros advindos de super hiper faturamentos, se envolvem em assuntos do Football. Fica
fácil ludibriar os incautos e, por serem sovinas, descartaram as inúmeras possibilidades
de votarem assuntos pertinentes às obras de construção das arenas para eliminarem toda
e qualquer decisão por meio de licitação.
Nessa situação, aparecem os seus parentes diretos obtendo todas as vantagens
possíveis e inimagináveis. Nenhuma dessas arenas possui o mínimo de infraestrutura
necessária e desejável para os deslocamentos, incluindo aqui todo e qualquer meio de
transporte e rede de hotelaria e hospedagem, que, já se sabe, será multiplicada por seis,
que todo e qualquer mortal comum estará obrigatoriamente sujeito e exposto.
Em particular, o SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA, em parceria com
a construtora Odebrecht, fez tudo certo, utilizando-se da legislação vigente. Conheço a
legislação vigente, pois participei diretamente da montagem de plantas industriais no
Brasil e estudos de viabilidade no exterior.
Toda e qualquer empresa que desejar se instalar em território brasileiro,
garantindo que irá gerar empregos fixos e terceirizados, pode usufruir de realizar os
devidos pagamentos de impostos após dez anos, ou seja, quando já tiver absorvido os
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valores para quitação da dívida. Não é como dizem os "candinhas" de plantão
(ignorantes, leigos e profundos ignorantes em relação aos conhecimentos básicos dessa
legislação), de que o clube recebeu dinheiro público para construção de sua arena, local
oficial da abertura da COPA FIFA 2014 na cidade de São Paulo.
Na realidade esse prazo de dez anos será recolhido, como segue: "em janeiro de
2024, o clube irá pagar o imposto desse mês mais janeiro de 2014, e assim
sucessivamente até a quitação completa, que poderá ser antecipada ou não”.
Se não fosse dessa forma, como e onde o CORINTHIANS e outros clubes
conseguiriam obter recursos para ter sua arena?
Teremos aqui canteiros de obras Super Hiper Faturados, ou seja, após o término
da COPA FIFA 2014, haverá um legado de dívidas impagáveis pelos cofres públicos,
que nem nossos tataranetos estarão livres delas.
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EM MEIO A ATRASOS, PREÇOS ALTOS E MANIFESTAÇÕES, O
MUNDIAL SUSTENTÁVEL FICA PARA 2018
Otávio Dutra
Em 2006 houve, por parte do governo alemão, uma diretriz por uso eficiente dos
recursos tanto na construção dos estádios quanto após sua inauguração. Com a
repercussão positiva que compensações de carbono, materiais recicláveis e banheiros
com uso eficiente de água geraram, a FIFA aproveitou para estender o conceito de
Mundial sustentável, pelo menos no discurso, para a África e agora para o Brasil.
Sempre em busca de novas ideias, foi apresentado na Rio+20 o projeto de
sustentabilidade da Copa de 2014, o maior e mais completo já feito. Além de envolver
questões ambientais como energia, resíduos, uso da água, e compensações de carbono,
Luís Fernandes, secretário executivo do Ministério do Esporte, afirmou em entrevista ao
UOL que sustentabilidade não se resume a questão ambiental. As questões econômica e
social também devem seguir padrões de boa governança. Nesses dois quesitos, Fifa e
governo disseram que vão se esforçar para que a Copa colabore para o desenvolvimento
do Brasil.
Ainda que o discurso seja muito alinhado com todos os conceitos de
desenvolvimento sustentável e mitigação de impactos sócio-ambientais, o que se
observa nos estádios e nas cidades é exatamente o oposto. Os painéis solares prometidos
para todas as arenas só estão presentes em sua totalidade no Estádio Nacional, ou Mané
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Garrincha. Foram excluídos completamente de estádios como o Maracanã, a Fonte
Nova e a Arena Corinthians, apesar do aumento considerável nos custos das obras.
Houve também problemas com desapropriações - como no Rio de Janeiro, com
o Museu do Índio, que gerou confronto entre manifestantes e policiais. Além, é claro,
dos casos de violência policial contra manifestantes durante a Copa das Confederações,
mostrando o tamanho do impacto social que a competição vem causando.
Vendo como tem sido pouco seguido o projeto de sustentabilidade, temo que
nem as emissões serão compensadas, uma vez que só ocorrem após a realização do
Mundial, mostrando que a questão sócio-ambiental novamente fica em segundo plano,
ou pior, fica apenas no discurso.
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ELE VOLTOU?
Rochelly Suemi Tatsuno
Que ele é um dos estádios mais querido pelos torcedores, todo mundo sabe.
Que já sediou grandes jogos com torcidas de igual tamanho, qualquer um viu.
Que ele será palco da final do típico esporte brasileiro na sua maior competição,
todos esperam.
Refiro-me ao “Estádio Jornalista Mário Filho”, o Maracanã, o Maraca, que, após
dois anos e oito meses de reformas, está de volta.
Com área construída de 124 mil m², acesso aos cinco níveis da arena por meio
de rampas, elevadores panorâmicos, escadas rolantes, enfim, o padrão FIFA exigido, ele
está de “cara nova”.
E de “dono” novo.
Refiro-me ao “Consórcio Maracanã”. Parceria das construtoras Odebrecht
Infraestrutura e Andrade Gutierrez e acordo com o Governo do Estado do Rio de
Janeiro, Secretaria de Estado e Obras e a Empresa de Obras Públicas – EMOP
projetaram a modernização do estádio em alto nível da engenharia.
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Porém, essas mudanças não agradaram a todos. Principalmente no que se trata
da divisão das rendas das partidas no Maracanã. O Flamengo alega que a divisão
proposta pela concessionária é injusta, prejudicando-o economicamente, uma vez que a
renda que será revertida ao clube é pequena em relação ao valor bruto da bilheteria.
Em resposta, a concessionária alega que “sempre esteve e permanecerá aberta ao
diálogo com a direção do clube, inclusive para eventualmente negociar novos termos de
parceria”.
É triste de ver a maior torcida em discussão com o estádio que é a cara do
futebol nacional.
Enquanto isso, resta a dúvida de que, se por trás de tanta sofisticação e
mudanças, “o Maraca é nosso”.
Fontes:
http://esportes.terra.com.br/futebol/
http://www.maracanario2014.com.br/o-projeto/
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COPAS DO MUNDO DE 1950 E 2014: PARA LEMBRAR OU
ESQUECER?
Talita Carvalho da Mota e Silva
A Copa do Mundo FIFA de 1950 não gosta de ser lembrada por ninguém, já que
consagrou uma das derrotas futebolísticas mais amargas para o povo brasileiro. O dia 16
de julho ficou conhecido como o dia em que o Maracanã se calou, o Brasil se calou. O
time verde e amarelo precisava somente do empate, saiu ganhando e perdeu por 2 a 1.
Mas será que a Copa de 50 pode ser resumida somente em desilusão, tristeza e grande
vontade de esquecimento?
Naquela época, o Brasil foi escolhido por unanimidade para sediar o Mundial,
sendo um exemplo no sentido de infraestrutura e instalações. Muitos atribuem isto a
Getúlio Vargas, que incentivava o esporte como extensão da educação, e à sua
capacidade de administrar o poder público. Associado a isso, as duas últimas Copas do
Mundo haviam sido canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial e a maior parte
do continente europeu estava em ruínas. Se contextualizarmos, o Brasil, naquela época,
tinha como sua capital o Rio de Janeiro. Ir ao estádio era algo para a elite, nem televisão
existia e havia a demanda por construções de estádios (o Maracanã foi construído
naquela época e era o maior do mundo). Mesmo assim, a Copa foi muito bem recebida.
O Brasil tinha estrutura e era possível observar o dinheiro sendo investido em outras
áreas, como saúde e educação.
A Copa do Mundo de 2014 vive outro cenário. Faltando, aproximadamente, um
ano para sediar o maior evento futebolístico do planeta, o Brasil vive um período de
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instabilidade. O país do futebol está se mostrando contra a realização da Copa aqui -
apesar do Datafolha afirmar que 65% dos brasileiros ainda são a favor. Protestos e
manifestações são realizados nas ruas de diversos estados.
Recentemente foi divulgado que o Governo federal irá financiar parte da obra de
construção da Arena Pantanal com recursos do PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento). Serão destinados R$ 120 milhões à obra estadual, através de um
empréstimo da Caixa Econômica Federal ao Estado do Mato Grosso. As pessoas alegam
que o dinheiro destinado a estádios, como o citado anteriormente e o Itaquerão,
deveriam ser investidos em setores mais importantes e que precisam ser melhorados.
Além disso, os governantes precisam assumir grandes gastos após os eventos para
manutenção das estruturas, planejando previamente e incentivando a cultura.
Será que a justa revolta do povo com baixa qualidade da educação e saúde, alta
inflação e baixo PIB e desvio de dinheiro público para obras faraônicas surtirá algum
efeito no andamento da Copa de 2014? E se o time verde e amarelo conseguir levar o
caneco desta vez? Será uma Copa para ser mais lembrada do que a de 50 porque o
Brasil conseguiu sair vencedor ou porque, apesar de ter ganhado, enfrentou muitos
problemas, protestos, manifestações e negações? Afinal, qual será a lembrança da Copa
do Mundo de 2014? Saberemos em breve.
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POR FORA DAS QUATRO LINHAS
Thiago Esteves Nogueira
Nos últimos anos é cada vez mais comum que a mídia comunique sobre mais um
evento que será realizado no Brasil. Não é à toa: segundo dados da Associação de
Congressos e Convenções, órgão encarregado de contabilizar o número de eventos num
determinado país, em 2012 o Brasil passou de 9º para 7º num ranking de países que
mais recebem eventos internacionais no mundo. Somos responsáveis pela vinda de 304
eventos de vários tipos e gostos - um crescimento de 10% se compararmos a 2011 e de
390% se compararmos a 2003.
Caso exista uma gradação de importância e notoriedade destes eventos,
colocaremos a Copa do Mundo como sendo, facilmente, o de maior reputação dentro de
uma vasta gama de outros eventos, como a Fórmula 1 e as Olimpíadas – esta última
possui uma audiência estimada de 4.4 bilhões, enquanto em todo o evento futebolístico
temos algo em torno de 30 bilhões, do começo ao fim dos jogos.
Ainda usando os números, é possível afirmar que a FIFA (junto com o COI e a
IAFF) possui mais integrantes do que a própria ONU. A organização máxima do futebol
registra mais de 200 confederações associadas, enquanto a Organização das Nações
Unidas possui 193, segundo dados dos respectivos domínios virtuais de cada entidade.
Dentro de um cenário ideal (onde todos os envolvidos atuam com o máximo de
honestidade e competência), quando um país recebe eventos de tamanhos faraônicos,
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num futuro não tão distante, o esperado é que este mesmo território atraia mais turistas,
invista no seu sistema de transportes e em todo o arcabouço de locomoção urbana, tenha
uma rede hoteleira mais coesa e expressiva, gere mais empregos, renda ouros e lucros
para os governantes... Enfim, traga um desenvolvimento econômico e social para todas
as partes. Mas e quando esse cenário idealizado não entra em prática?
Não é novidade associar as autoridades públicas brasileiras com corrupção. Num
índice de 0 a 10, que foi determinada por uma pesquisa feita pela ONG Transparência
Internacional, onde os valores mais altos revelam a inexistência de corrupção, o Brasil
possui índice de 3.8 – infelizmente, precisamos reconhecer que essa afirmação não
necessita de nenhuma outra fonte a não ser o próprio hábito de se ler um bom jornal ou
assistir a um noticiário minimamente decente.
Também não é novidade a total incompetência de uma boa parte dos envolvidos
nesses grandes acontecimentos. O exemplo mais claro está no caso do Estádio Olímpico
João Havelange, vulgo Engenhão, que, inaugurado em 2007 para atender as
necessidades do Pan-americano do Rio de Janeiro, seis anos depois foi interditado por
sérias falhas estruturais. A linha amarela do metrô (localizada numa das principais
regiões da cidade de São Paulo) atrasou em dois anos para ser entregue – e só duas
linhas foram, de fato, entregues. Uma obra que começou em 2004 não será totalmente
concluída até o final de 2013 – e não devemos esquecer de mencionar as fortes suspeitas
de desvios de verba pública, como denunciado pela revista Época nos últimos dois
meses.
E como se todos os defeitos que já existem fossem poucos, ainda temos um
sistema que é regido de tal forma que gera uma demasiada burocracia. Cerca de 80%
dos entrevistados de uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional das
Indústrias se queixaram deste problema. Tudo aqui no Brasil é longo, demorado e chega
com atrasos ao seu destino final. Corrupção, incompetência e burocracia, somadas a
uma entidade que traz propagandas de crianças felizes e sorridentes correndo atrás de
uma bola (ou de uma lata), mas tem em seus meandros uma "obscuridade" - como as
denunciadas pelo jornalista Andrew Jennings, da BBC de Londres – que, no mínimo,
giram em torno de compra de votos, enriquecimento ilícito e desvios de dinheiro
público para fins particulares, fornecem uma equação que não nos dará resultados
dentro do (de novo) cenário ideário.
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No grosso, o 1 real previsto para ser investido na construção de um bem público,
acaba virando 1,50...1,60... 2, 3 reais. Ou pior: a cada 1 real planejado para ser gasto
numa determinada obra, só 70 centavos é que vão para o destino final – e os outros 30
centavos são desviados para segundos e terceiros (e isso interfere na compra de
materiais estruturais de qualidade inferior). E os efeitos são sempre sentidos pelos elos
mais fracos da sociedade, como as 400 famílias que foram desapropriadas sem
necessidade da comunidade Vila Recreio, no RJ (segundo a Agência Brasil). Os lucros
de origens questionáveis vão para as partes que possuem maior poder argumentativo,
onde um punhado de sujeitos e empresas lucre descaradamente (e por baixo dos panos)
com um evento.
O Pan-americanos de 2007, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016
foram, são e serão o exemplo prático da ausência desse cenário perfeito. E não é preciso
dizer sobre a herança maldita, que já é conhecida: estádios de 45 mil lugares fixos para
regiões que não possuem nem uma pessoa por km². Não que essas regiões não mereçam
participar da festa (que não será do preto, do feio e do pobre, mas, sim, das camadas um
pouco mais abastadas da nossa sociedade), mas esses estádios não poderiam ser
condizentes com a quantidade populacional de uma dada região?
Enfim, viveremos dias mais desanimadores, com notícias mais negativas, com
participações mais restritas e resultados mais inexpressivos de hoje até, no mínimo,
2016. De que adianta tantos eventos a troco de resultados nulos para o coletivo? A
resposta, que está se tornando quase um mantra para qualquer brasileiro, vem
acompanhada sempre dos piores adjetivos para as autoridades públicas, junto com
críticas pesadas para a maior instituição de futebol no mundo. Agora, nos cabe esperar e
torcer, mas não pela seleção brasileira de futebol, e, sim, por uma renovação de ideias,
de índoles, de leis, de pessoas e de ações.