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  • MenezesOntem e Hoje

    Bezerra de

    *

    Na preparao e organizao desta obra, sob a coordenao de Juvanir Borges de Souza, colaboraram as seguintes pes-soas da Equipe da FEB:

    Maria Alves da Silva Aff onso Borges Gallego Soares Geraldo Campetti Sobrinho Zus Wantuil Marta Antunes de Moura

  • Sumrio

    Nova edio revisada e atualizada .................................................... 9

    guisa de apresentao .................................................................. 11

    Ismael e Bezerra ........................................................................... 15

    PRIMEIRA PARTE

    ARTIGOS DE BEZERRA DE MENEZES PUBLICADOS EM REFORMADOR

    1 Uma obsesso ....................................................................... 21

    2 Evoluo religiosa de Bezerra de Menezes ............................. 25

    3 Bezerra e a unio dos espritas ............................................... 37

    4 A verdadeira propaganda ....................................................... 41

    5 Clama, no cesses .................................................................. 43

    SEGUNDA PARTE ARTIGOS SOBRE BEZERRA DE MENEZES

    1 Bezerra de Menezes, o desenlace .......................................... 51

    2 Homenagens da imprensa .................................................... 59

    3 Bezerra de Menezes e Artur Azevedo ................................... 67

    4 Bezerra de Menezes centenrio de desencarnao ........... 71

  • TERCEIRA PARTE DITADOS MEDINICOS DO ESPRITO

    BEZERRA DE MENEZES

    1 Unificao ......................................................................... 97

    2 Unio com Jesus .............................................................. 101

    3 O programa da FEB ........................................................ 103

    4 Provaes ........................................................................ 107

    5 Orar e vigiar .................................................................... 109

    6 Os benefcios da Doutrina Esprita ................................... 111

    7 Misericrdia divina .......................................................... 115

    8 Provaes reencarnatrias ................................................ 117

    9 Estudo e vivncia do Evangelho ....................................... 121

    10 Continuidade do trabalho esprita .................................... 125

    11 Perseguidores ................................................................... 129

    12 Unio dos espritas ........................................................... 133

    13 Mensagem fraternal .......................................................... 135

    14 Renncia ......................................................................... 139

    15 Aos pais de famlia ............................................................ 145

    16 Divulgao esprita ........................................................... 151

    17 Unificao paulatina, unio imediata, trabalho incessante ... 155

    18 Tempo de luz ................................................................... 159

    19 Casa de amor .................................................................... 163

    20 Amar e instruir ................................................................. 167

    21 Nossa Casa permanece a barca conduzida por Ismael ..... 171

    22 Perseverana ..................................................................... 175

  • 23 O Brasil e a sua misso histrica de Corao do

    mundo e ptria do Evangelho ......................................... 181

    24 O trplice aspecto da Doutrina Esprita ............................ 187

    25 O trabalho esprita da paz ................................................. 189

    26 Lembrana oportuna ........................................................ 193

    27 Rogativa a Jesus ............................................................... 197

    28 Primado do amor ............................................................. 201

    29 Mensagem de estmulo e f ............................................... 205

    30 Novos desafios ................................................................. 209

    31 No temer adversrios ...................................................... 213

    32 Nada pode deter a marcha da Doutrina Esprita ................ 217

    33 Unio dos espritas ............................................................ 223

    34 Espiritismo e Evangelho ................................................... 229

    35 Unio dos espritos .......................................................... 233

    36 No amanhecer de uma Era Nova ..................................... 237

    37 Na transio do milnio ................................................... 241

    38 Fidelidade a Jesus e a Kardec ............................................ 247

    39 Arai e semeai .................................................................... 253

    40 Compromisso com a f esprita ........................................ 257

    41 Brilhe a vossa luz ............................................................. 263

    42 Jesus, sol de primeira grandeza .......................................... 267

    43 Convite luta .................................................................. 269

    44 Prosseguimento na luta .................................................... 271

    45 Orao ............................................................................ 277

    46 O sal da Terra ................................................................... 281

    47 Vivncia do amor ............................................................ 287

  • 48 Instalao da Era Nova ..................................................... 291

    49 Conquistas e responsabilidades ......................................... 293

    50 Sem adiamentos ............................................................... 297

    Registros bibliogrficos de outras atividades desenvolvidas por

    Bezerra de Menezes .................................................................... 301

  • Nova edio revisada e atualizada

    A obra Bezerra de Menezes, ontem e hoje representa um resgate histrico das idias espritas que norteiam o pen-samento do venervel Esprito Bezerra de Menezes no que se refere, em especial, s diretrizes do processo de unio dos espritas e de unificao do movimento esprita, em nosso pas e alhures.

    Os artigos que integram este livro, escritos pelo prprio punho do benfeitor quando ele ainda se encontrava encarnado, ou transmitidos pela sensibilidade medinica de devotados mdiuns, refletem, de um lado a admirvel fidelidade ao Programa traado por Ismael, e, de outro o empenho contnuo de reviver os ensinos de Jesus luz da Doutrina Esprita codificada por Allan Kardec.

    A presente edio traz nova formatao grfica e visual: reposicionamento e destaque de contedos, incluso de notas de rodap, insero de ttulo nas mensagens desprovidas deste e incluso de novas mensagens medinicas transmitidas at o ano de 2007. O contedo est distribudo em trs partes fundamentais, assim especificadas:

    Primeira parte Artigos de Bezerra de Menezes publicados em Reformador Segunda parte Artigos sobre Bezerra de Menezes Terceira parte Ditados medinicos do Esprito Bezerra de Menezes

  • Bezerra de Menezes10

    Consta tambm, ao final do livro, um item denominado Registros bibliogrficos de outras atividades desenvolvidas por Bezerra de Menezes, que contm informaes de alguns Espritos, encarnados e desencarnados, sobre o trabalho que Bezerra vem realizando no plano espiritual desde a sua desencarnao em 11 abril de 1900.

    Guardando a sincera esperana de que os confrades espritas e no-espritas sejam inspirados pela leitura das edificantes mensagens que compem esta obra, agradecemos a este iluminado servidor de Jesus os benefcios que nos tem concedido, atravs do seu amparo e dos seus exemplos de amor ao prximo.

    Nestor Joo Masotti Presidente da Federao Esprita Brasileira

    Braslia (DF), 4 de novembro de 2008.

  • guisa de apresentao

    Completam-se, nesta data, cem anos da desencarnao de Adolfo Bezerra de Menezes, o mais proeminente vulto do Movimento Esprita Brasileiro, tanto pela amplitude, gravi-dade e conseqncias de suas iniciativas em prol da unio dos espritas e da unificao do Movimento Esprita, nos tem-pos pioneiros, principalmente no exerccio da presidncia da Casa de Ismael, quanto por sua ininterrupta, incansvel ativi-dade em favor dos pequeninos, dos deserdados, dos aflitos de toda natureza, em nome da caridade.

    , sem dvida, pelos inconfundveis traos de sua lumi-nosa personalidade que ele ficou justamente conhecido, em nossos crculos, como Mdico dos pobres.

    As revelaes em torno desse bondoso Esprito o apon-tam como um dos diretores espirituais da Seara do Mestre em nossa terra, e, nessa condio, ele tem prosseguido a sua obra aps a desencarnao, invariavelmente fiel misso que o prprio Jesus lhe confiou numa assemblia realizada no Infinito sob a direo de Ismael, o Anjo do Senhor.1

    Assim que, como Esprito, Bezerra de Menezes se tem desvelado no exerccio da caridade e da humildade, aqui con-clamando os adeptos unio fraterna, ali levantando os que

    1 XAVIER, Francisco Cndido. Brasil, corao do mundo, ptria do

    Evangelho. Por Humberto de Campos, cap. 22.

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    tombam, curvados sob o peso das speras provaes terre-nas, acol encaminhando Espritos endurecidos no erro para a regenerao, a todos dando o exemplo da abnegao, do devotamento, da mansido, da benevolncia, da indulgncia, do perdo como nicas vias da felicidade.

    A Federao Esprita Brasileira, como justa reverncia ao eminente Servo do Senhor, d a pblico o presente volu-me que enfeixa uma seleta de seus escritos, em vida fsica e na liberdade da vida espiritual, bem como de algumas pro-dues com que encarnados e desencarnados lhe tm home-nageado a memria.

    Inobstante a existncia das excelentes obras Vida e obra de Bezerra de Menezes, de Sylvio Brito Soares, Grandes espritas do Brasil, de Zus Wantuil, e Allan Kardec (Pesquisa biobiblio-grfica e ensaios de interpretao), de Francisco Thiesen e Zus Wantuil, todas de nossa edio, em que se encontram ricas informaes sobre Bezerra de Menezes, impunha-se disponibilizar o valioso material que compe este livro, o qual, por se achar esparso em colees de Reformador 2 e em livros diversos de edio da FEB, tornava dificultoso o seu conhecimento, tanto ao leitor comum como ao pesquisador. O centenrio de desencarnao do honorvel missionrio propiciou-nos o ensejo para concretizarmos o desiderato.

    Cremos que, com a presente publicao, estamos servin-do aos altos propsitos da atuao daquele venervel apsto-lo do Espiritismo no Brasil, relembrando aos adeptos, pela reapresentao de seus escritos, os critrios por excelncia para a boa prtica da Doutrina, critrios que os espritas s-

    2 Peridico mensal da Federao Esprita Brasileira, fundado por Elias

    Augusto da Silva, em 21 de janeiro de 1883.

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    rios e conscientes vem resumidos nas grandiosas divisas e exortaes: Amai-vos uns aos outros Fora da Caridade no h salvao Trabalho, Solidariedade, Tolerncia Mas o maior dentre vs ser vosso servo Deus, Cristo, Caridade. Elas efetivamente nortearam os passos de Bezerra de Menezes. Seguindo-as, asseguraremos ao Movimento, s nossas vidas, sociedade, a todas as nossas construes, morais e materiais, a solidez que as tornar imunes contra as insidio-sas arremetidas das paixes inferiores com todo o squito de seus deplorveis prejuzos.

    A EditoraRio de Janeiro, 11 de abril de 2000.

  • Ismael e Bezerra

    As abnegadas coortes de Ismael trazem as suas inspiraes para as grandes cidades do pas do Cruzeiro, conseguindo interessar indiretamente grande nmero de estudiosos. [...]

    Antes dessa poca, quando prestes a findar o Primeiro Reinado [1822-1831], Ismael rene no Espao os seus dedi-cados companheiros de luta e, organizada a venervel assem-blia, o grande mensageiro do Senhor esclarece a todos sobre os seus elevados objetivos.

    Irmos exps ele o sculo atual, como sabeis, vai ser assinalado pelo advento do Consolador face da Terra. Nestes cem anos se efetuaro os grandes movimentos preparatrios dos outros cem anos que ho de vir. As rajadas de morticnio e de dor avassalaro a alma da Humanidade, no sculo prximo, dentro dos imperativos das transies necessrias, que sero o sinal do fim da civilizao precria do Ocidente. Faz-se mister amparemos o corao atormentado dos homens nessas grandes amarguras, preparando-lhes o caminho da purificao espiritual, atravs das sendas penosas. preciso, pois, preparemos o terreno para a sua estabilidade moral nesses instantes decisivos dos seus destinos. Numerosas fileiras de missionrios encontram-se dis-seminadas entre as naes da Terra, com o fim de levantar a palavra da Boa Nova do Senhor, esclarecendo os postulados cientficos que surgiro neste sculo, nos crculos da cultura ter-restre. Uma verdadeira renascena das filosofias e das cincias se

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    verificar no transcurso destes anos, a fim de que o sculo XX seja devidamente esclarecido, como elemento de ligao entre a civilizao em vias de desaparecer e a civilizao do futuro, que assentar na fraternidade e na justia, porque a morte do mundo, prevista na Lei e nos Profetas, no se verificar por enquanto, com referncia constituio fsica do globo, mas quanto s suas expresses morais, sociais e polticas. A civilizao armada ter de perecer, para que os homens se amem como irmos. Con-centraremos, agora, os nossos esforos na terra do Evangelho, para que possamos plantar no corao de seus filhos as sementes benditas que, mais tarde, frutificaro no solo abenoado do Cruzeiro. Se as verdades novas devem surgir primeiramente, se-gundo os imperativos da Lei natural, nos centros culturais do Velho Mundo, na Ptria do Evangelho que lhes vamos dar vida, aplicando-as na edificao dos monumentos triunfais do Salvador. Alguns dos nossos auxiliares j se encontram na Terra, esperando o toque de reunir de nossas falanges de trabalhadores devotados, sob a direo compassiva e misericordiosa do Divino Mestre.

    Houve na alocuo de Ismael uma breve pausa. Depois, encaminhando-se para um dos dedicados e

    fiis discpulos, falou-lhe assim: Descers s lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no pas do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforos. Arregimentars todos os elementos dispersos, com as dedicaes do teu Esprito, a fim de que pos-samos criar o nosso ncleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propsitos de reforma e regenerao. No precisamos encarecer aos teus olhos a delicadeza dessa misso; mas, com a plena observncia do cdigo de Jesus e com a nossa assistncia espiritual, pulverizars todos os obstculos, fora de perseve-rana e de humildade, consolidando os primrdios de nossa obra, que a de Jesus no seio da ptria do seu Evangelho. Se a

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    luta vai ser grande, considera que no ser menor a compensa-o do Senhor, que o Caminho, a Verdade e a Vida.

    Havia em toda a assemblia espiritual um divino siln-cio. O discpulo escolhido nada pudera responder, com o corao palpitante de doces e esperanosas emoes, mas as lgrimas de reconhecimento lhe caam copiosamente dos olhos.

    Ismael desfraldara a sua bandeira luz gloriosa do In-finito, salientando-se a sua inscrio divina, que parecia cons-tituir-se de sis infinitsimos. Uma vibrao de esperana e de f fazia pulsar todos os coraes, quando uma voz, terna e compassiva, exclamou das cpulas radiosas do Ilimitado.

    Glria a Deus nas Alturas e paz na terra aos trabalha-dores de boa vontade!

    Relmpagos de luminosidade estranha e misericordiosa clareavam o pensamento de quantos assistiam ao maravilhoso espetculo, enquanto uma chuva de aromas inundava a at-mosfera de perfumes balsmicos e suavssimos.

    Sob aquela bno maravilhosa, a grande assemblia dos operrios do Bem se dissolveu.

    Da a algum tempo, no dia 29 de agosto de 1831, em Riacho do Sangue, no estado do Cear, nascia Adolfo Bezer-ra de Menezes, o grande discpulo de Ismael, que vinha cum-prir no Brasil uma elevada misso.

    Da obra BRASIL, CORAO DO MUNDO, PTRIA DO EVANGELHO, ditada pelo Esprito Humberto de Campos ao mdium

    Francisco Cndido Xavier, 32. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, cap. XXII.

  • I Artigos de Bezerra de Menezes publicados em Reformador

  • Sr. Redator. Em dias do ms de fevereiro deste ano, procurou-me uma pobre mulher de meu conhecimento para pedir-me que desse remdio a seu filho, rapaz de 22 anos, h tempos sofrendo de perturbao mental, e ultimamente aco-metido de verdadeira fria que assusta toda a famlia.

    Pela histria que ela me fez, suspeitei de uma obsesso, e, conforme com este pensamento, disse-lhe que nos trouxesse o doente, visto sair ele rua.

    No dia seguinte, voltou a triste me a dizer-me que seu filho recusava-se tenazmente a vir falar comigo.

    Subiu de pronto minha suspeita, e reiterei a ordem de me trazer o rapaz na prxima quarta-feira, dia em que havia sesso do grupo Luz e Caridade no lugar onde o mandei vir.

    Marquei s 11 horas da manh para no complicar o meu trabalho com os do grupo e de onde estava impus a minha vontade ao doente para que no deixasse de vir, invo-cando ao mesmo tempo o auxlio dos bons Espritos.

    1 Uma obsesso

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    No dia e hora aprazados entrou-me a mulher, dizendo que seu filho, muito constrangido, viera, mas que s o fizera com a condio de no trazer palet.

    Compreendi que seu perseguidor lhe imps aquela condio para demov-lo do propsito de obedecer ao meu chamado e fiz entrar a vtima, mesmo em calas e colete.

    Reconheci um homem desvairado, que dizia coisas sem nexo e at incompreensveis.

    Examinei-o sobre seus princpios religiosos e vi, com surpresa, que neste ponto no desvairava.

    Acreditava em Deus, sem cuja vontade nada faz; na imortalidade da alma, com a responsabilidade por suas obras; enfim era um verdadeiro cristo.

    De leve expliquei-lhe a causa de seu mal, que ele re-conhecia, e perguntei se lhe repugnava orar a Deus por seu perseguidor.

    Respondeu-me que f-lo-ia de boa vontade, o que me fez crer que seu esprito tinha conscincia da justia com que sofria e levava seus sofrimentos com humilde resignao.

    Neste ponto, um mdium que entrara, sem que eu o tivesse visto, sofreu to forte atuao que deu um salto da cadeira, causando-me susto.

    Despedi o doente sob promessa de orar todos os dias por seu perseguidor e dirigi ao Esprito que o abordava pa-lavras de moralizao.

    O mdium foi novamente atuado violentamente, dando assim uma prova de que o infeliz procurava, em sua fria, um instrumento para me repelir.

    No tendo um centro, recomendei ao mdium que resistisse e dei por terminado o trabalho.

    tarde, quando se reuniu o grupo, foi o mesmo m-dium atuado, e disse para mim:

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    Vim pagar-te o sermo de hoje de manh.Foi tremenda a luta com aquele Esprito, que resistiu

    a todos os argumentos, escarnecendo quando eu falava em Deus, e declarando ser-lhe impossvel deixar o prazer de se vingar do que fora seu algoz noutra existncia.

    Debalde o bom Romualdo provou-lhe, com um quadro de existncia sua passada, que o mal que lhe fez aquele moo j fora em represlia de mal igual que ele lhe fizera; e portan-to, que o verdadeiro algoz era ele.

    Riu e escarneceu do quadro e ficou firme em seu endurecimento.

    Romualdo ento falou-lhe por um outro mdium, di-zendo que sua vtima, tendo sofrido resignadamente aquela dura expiao, j merecia a misericrdia do Senhor.

    E pois, que ele no queria comparticipar daquele bem, perdoando-lhe, ser-lhe-ia desde ali tirada a vista e a fala, para que nunca mais pudesse alcanar sua vtima e ao mesmo tempo para que sofresse ele a pena de sua ferocidade.

    Terminada a sesso, disse-nos Vicente de Paula, guia do grupo, que aquele Esprito era da ordem dos que s com je-jum poderiam ser dominados, segundo disse Jesus Cristo.

    Passaram-se trinta e tantos dias sem que pudesse eu ter notcia do meu doente.

    Em meados de maro, veio ele visitar-me e eu senti o mais vivo prazer, verificando que se acha completamente restabelecido, na mais perfeita integridade intelectual.

    Quanta moralidade, quanta luz decorrem desta singela observao!

    Ela revela-nos a pluralidade de existncias no fato de ter sido, a vtima de hoje, o algoz de ontem.

    Revela-nos a influncia malfica e, por oposio, a benfica dos Espritos desencarnados sobre os encarnados,

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    demonstrando que os demnios no so, bem como os anjos, seno seres humanos, escravos ainda, aqueles de suas paixes, elevados estes a um altssimo grau de perfeio.

    Revela que ningum sofre nem mais nem por mais tem-po do que merece, tanto que o moo obsedado foi libertado do seu obsessor desde que, por sua humildade e resignao no sofrimento, satisfez a Justia Divina, pagando sua dvida.

    Revela que vimos aqui expiar faltas do passado, e que aos endurecidos do Espao soa a hora de lhe ser tirada a li-berdade de fazer mal a seus semelhantes.

    Ao demais, o resultado veio provar a verdade de tudo o que se passou na sesso.

    Riam, Sr. Redator, deixe que riam dos que acreditam no Espiritismo esses neo-sbios de nossa terra e de outros pases, que o dia chegar em que os que hoje so vtimas de seus apodos, no riro, mas choraro de sua triste desiluso.

    Emprazemo-los para esse dia em que no acreditam, e roguemos a Deus por eles.

    Extrado de REFORMADOR de 15-4-1890.