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2012
Jorge Wilson Nogueira Neves
[AS CONVERSAS DE JESUS]
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O silêncio de Jesus
Jesus saiu dali e foi para a região que fica perto das cidades de Tiro e de
Sidom. Certa mulher cananéia, que morava naquela terra, chegou perto dele e
gritou: -Senhor, Filho de Davi, tenha pena de mim! A minha filha está
horrivelmente dominada por um demônio! Mas Jesus não respondeu nada.
Então os discípulos chegaram perto dele e disseram: -Mande essa mulher
embora, pois ela está vindo atrás de nós, fazendo muito barulho! Jesus
respondeu: -Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de
Israel. Então ela veio, ajoelhou-se aos pés dele e disse: -Senhor, me ajude!
Jesus disse: -Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorros.
-Sim, senhor, -respondeu a mulher-mas até mesmo os cachorrinhos comem as
migalhas que caem debaixo da mesa dos seus donos. -Mulher, você tem
muita fé! -disse Jesus. -Que seja feito o que você quer! E naquele momento a
filha dela ficou curada. (Mateus 15:21-28 BLH)
Esse texto tem um impacto muito grande em nossa vida espiritual. Muitas vezes, em
nossa oração, parece haver um silencio – uma aparente “não-resposta”. O Jesus solícito
de sempre parece-nos faltar aqui e ficamos perplexos.
O cenário
Uma mulher, não judia, aproxima-se de Jesus com seu problema – uma filha
endemoninhada.. Provavelmente já ouvira falar de Jesus e saindo de sua terra de origem
vem ao encontro dEle buscando alívio para a filha.
- Senhor, Filho de Davi, tenha pena de mim! A minha filha está horrivelmente
dominada por um demônio!
- Mas Jesus não respondeu nada.
A aparente frieza de Jesus não parece inibi-la pela reação dos discípulos de Jesus: Então
os discípulos chegaram perto dele e disseram: -Mande essa mulher embora, pois
ela está vindo atrás de nós, fazendo muito barulho!
Longe de desistir o silêncio do Mestre a desafia a continuar. Deve ter sido difícil para ela
ver os discípulos, incomodados pelo barulho que ela fazia, baterem no ombro de Jesus
falando com Ele e apontando para ela, e escutar Jesus dizer : -Eu fui mandado somente
para as ovelhas perdidas do povo de Israel.
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É duro,não? Já pensou você no lugar dela. Qual seria a sua reação? Mateus nem parecia
amigo de Jesus ao colocar esse texto no seu Evangelho, a menos que...
(...tivesse Jesus alguma estratégia em mente?)
A mulher
Provavelmente ela ouvira dos milagres de Jesus incluindo a expulsão de demônios.
Talvez pensasse que ao colocar respeitosamente seu problema perante Jesus, este logo
lhe pediria: “Traga já sua filha, vamos curá-la agora mesmo”.
Porém Jesus não disse uma palavra mas a fez caminhar com Ele um pedaço .Por que
fazer esta caminhada? Por que , às vezes, a resposta à nossa oração parece lenta e
difícil ?
O texto fala que finalmente a mulher ousadamente correu para Ele e se ajoelhou (em
outra versão – o adorou) : Então ela veio, ajoelhou-se aos pés dele e disse: -Senhor,
me ajude!
Tasker, comenta esse trecho :
Com sinceridade, sem acanhamento, ela repete o clamor de maneira mais
abreviada e mais pungente, Senhor, socorre-me!, enquanto se arroja quase
desesperadamente sobre sua piedade. E enquanto Ele lhe recorda, com gentileza e
quase brincando , o conhecido ditado: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-
lo aos cachorrinhos, conquanto ela saiba muito bem que, como mulher gentia, é
impura aos olhos de um judeu como um dos cães enjeitados que vagavam em torno
das antigas cidades orientais, sem abrigo e sem dono, alimentando-se de lixo e
restos das ruas, ela não contradiz o que Jesus está dizendo. Ao contrário, aceita a
implícita alusão feita a ela, e na própria humildade desta aceitação revela sua fé.
(...) Não pondera se o judeu é melhor que o gentio, ou se o gentio é tão bom como
o judeu. Não discute a justiça dos misteriosos meios pelos quais Deus executa o
seu propósito divino, escolhendo uma raça e rejeitando outra. Tudo que sabe é que
sua filha é penosamente atormentada, que necessita de socorro sobrenatural, e que
ali, na pessoa do Senhor, o filho de Davi está Aquele que, só Ele, pode dar-lhe
esse socorro; e está confiante em que, mesmo não tendo direito de sentar-se à
mesa do Messias como um convidado, “cachorrinha” gentia que é, todavia pode
ao menos ter permissão para receber uma migalha das misericórdias de Deus
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alheias à aliança. E tal humildade e fé obtêm o poder curativo do Messias. Ó
mulher, grande é tua fé!Faça-se contigo como queres.i
E no silêncio, o encontro.
A mulher que começa a jornada não é a mesma que termina. Ela aprendeu que só
levamos alguém a Jesus depois que temos um encontro pessoal com Ele – e é que Ele
nos chama para o encontro. E o perdão – para nós ou para os outros, só vem depois
desse encontro. Quantas vezes tentamos levar nossos queridos a Jesus por um
caminho afetivo que ainda desconhecemos! Precisamos fazer essa jornada.
O silêncio aparente de Jesus tem sempre algum propósito. O silêncio de Jesus serviu
para aumentar a fé dessa mulher na graça e misericórdia do Deus de Israel. Sua fé
subiu de nível .
O silêncio de Jesus em relação a mim pode significar que ainda não chegou o tempo
da resposta. Posso também, enganado, estar pedindo algo que não vai ser bom para
mim. O silêncio é o tempo de cuidar do meditar do meu coração.Semelhantemente a
essa mulher devo insistir na oração e se algo mudar, ou se eu mudar, será para
melhor. Afinal, não devo me esquecer que o propósito maior na minha oração não é
mudar a Deus, mas a mim mesmo.
A “teologia” do cachorrinho.
E enquanto espero no silêncio tenho algo a aprender com o cachorrinho da história.
Confiar no Dono, olhar para o alto e crer nas promessas.
Boa meditação!
Jorge Wilson.
i Tasker RVG – Mateus Ed. Mundo Cristão 1991, São Paulo, pág.121.
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Cuidado com você
(8-1b) mas Jesus foi para o monte das Oliveiras. De madrugada ele
voltou ao pátio do Templo, e o povo se reuniu em volta dele. Jesus
estava sentado, ensinando a todos. Aí alguns professores da Lei e
fariseus levaram a Jesus uma mulher que tinha sido apanhada em
adultério e a obrigaram a ficar de pé no meio de todos. Eles disseram: -
Mestre, esta mulher foi apanhada no ato de adultério. De acordo com a
Lei que Moisés nos deu, as mulheres adúlteras devem ser mortas a
pedradas. Mas o senhor, o que é que diz sobre isso? Eles fizeram essa
pergunta para conseguir uma prova contra Jesus, pois queriam acusá-
lo. Mas ele se abaixou e começou a escrever no chão com o dedo.
Como eles continuaram a fazer a mesma pergunta, Jesus endireitou o
corpo e disse a eles: -Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o
primeiro a atirar uma pedra nesta mulher! Depois abaixou-se outra vez
e continuou a escrever no chão. Quando ouviram isso, todos foram
embora, um por um, começando pelos mais velhos. Ficaram sós Jesus
e a mulher, e ela continuou ali, de pé. Então Jesus endireitou o corpo e
disse: -Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar
você? -Ninguém, senhor! -respondeu ela. Jesus disse: -Pois eu
também não condeno você. Vá e não peque mais! (João 8:1-11 BLH)
Jesus está em Jerusalém e é o foco das atenções. Seus inimigos, para detoná-Lo
trazem uma mulher “pega em flagrante adultério”. Poderiam até já ter resolvido o
assunto já que a Lei de Moisés o permitia, ou seja, a mulher seria apedrejada no
ato. Mas, para nosso bem (e dela) não o fizeram, mas trouxeram-na como ardil
para tentar incriminar Jesus e colocá-lo em xeque com Ele mesmo ou com a Lei
de Deus. Se Jesus não manda cumprir a Lei está contra a Deus . Se, por outro
lado, concorda com ao apedrejamento contradiz seu ensino de amor e da
compaixão do Pai pelas pessoas.
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Resumindo, ou Jesus quebra a Lei ou rasga tudo o que tem ensinado até agora!
- (Que hora dessa mulher aparecer! Mas ainda bem que ela apareceu).
Eles disseram: -Mestre, esta mulher foi apanhada no ato de adultério. De
acordo com a Lei que Moisés nos deu, as mulheres adúlteras devem ser
mortas a pedradas. Mas o senhor, o que é que diz sobre isso?
Jesus então começa a escrever no chão com o dedo. Não sabemos o que Jesus
escreveu. Teria escrito no chão o pecado dos que queriam atirar a pedra? Não
sabemos.
Como eles continuaram a fazer a mesma pergunta, Jesus endireitou o corpo
e disse a eles: -Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a
atirar uma pedra nesta mulher!
Note que Jesus não mudou ou torceu a Lei mas trouxe um significado novo para
ela. Ele trouxe o questionamento não só dos oprimidos mas dos opressores. É
como se a partir daí eles começassem a pensar: - O pecado que eu quero
eliminar também está dentro de mim.
Isso mudou a forma de olhar dos circunstantes e algozes.De repente, não viam
mais a pedra indo, mas vindo! Foi como se eles se vissem recebendo em si
mesmos as pedras que queriam atirar, a dor que queriam causar. E aconteceu
uma espécie de “Parábola do Filho Pródigo ao contrário” – a mudança de
entendimento começou pelos elementos mais velhos: Quando ouviram isso,
todos foram embora, um por um, começando pelos mais velhos .Eles
perceberam que “o lado de cá da pedra se tornou o lado de lá”.
Jesus ensina que as pedras que eu pego para atirar nos outros deve antes me
fazer pensar em minha própria vida e sem hipocrisia me ver do outro lado. E aí eu
tenho que me lembrar quantas vezes eu tenho pecado e escapado dos flagrantes
dos homens, mas não do Pai que sempre tem me tratado com a Sua misericórdia.
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O encontro
Não existe perdão de Jesus sem um encontro com Ele, nem que seja na cruz –
(lembra do “bom ladrão”?) . Voltando ao nosso texto, no final dessa cena existe o
encontro com a pergunta - Quando ouviram isso, todos foram embora, um por
um, começando pelos mais velhos. Ficaram sós Jesus e a mulher, e ela
continuou ali, de pé. Então Jesus endireitou o corpo e disse: -Mulher, onde
estão eles? Não ficou ninguém para condenar você? -Ninguém, senhor!
Jesus não aproveita para emitir julgamentos sobre quem quer que seja. O fato é
que Jesus ama opressores e oprimidos, julgadores e julgados pois muitos
opressores de hoje foram oprimidos no passado. Jesus se identifica com os
pecadores não por partilhar seus pecados mas por receber as conseqüências
desses mesmos pecados pelos quais morreu.Ele ama as pessoas que estão dos
dois lados da pedra pois a dor da pedrada – só Ele sabe!
Boa meditação!
Jorge Wilson
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Desça da árvore!
35 Jesus já estava chegando perto da cidade de Jericó. Acontece que um
cego estava sentado na beira do caminho, pedindo esmola. 36 Quando ouviu
a multidão passando, ele perguntou o que era aquilo. 37 -É Jesus de Nazaré
que está passando! -responderam. 38 Aí o cego começou a gritar: -Jesus,
Filho de Davi, tenha pena de mim! 39 As pessoas que iam na frente o
repreenderam e mandaram que ele calasse a boca. Mas ele gritava ainda
mais: -Filho de Davi, tenha pena de mim! 40 Jesus parou e mandou que
trouxessem o cego. Quando ele chegou perto, Jesus perguntou: 41 -O que é
que você quer que eu faça? -Senhor, eu quero ver de novo! -respondeu ele.
42 Então Jesus disse: -Veja! Você está curado porque teve fé. 43 No mesmo
instante o homem começou a ver e, dando glória a Deus, foi seguindo Jesus.
E todos os que viram isso começaram a louvar a Deus. 1 Jesus entrou em
Jericó e estava atravessando a cidade. 2 Morava ali um homem rico,
chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos. 3 Ele estava
tentando ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, pois
Zaqueu era muito baixo. 4 Então correu adiante da multidão e subiu numa
figueira brava para ver Jesus, que devia passar por ali. 5 Quando Jesus
chegou àquele lugar, olhou para cima e disse a Zaqueu: -Zaqueu, desça
depressa, pois hoje preciso ficar na sua casa. 6 Zaqueu desceu depressa e o
recebeu na sua casa, com muita alegria. 7 Todos os que viram isso
começaram a resmungar: -Este homem foi se hospedar na casa de um
pecador! 8 Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: -Escute, Senhor, eu vou
dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou devolver
quatro vezes mais. 9 Então Jesus disse: -Hoje a salvação entrou nesta casa,
pois este homem também é descendente de Abraão. 10 Porque o Filho do
Homem veio buscar e salvar quem está perdido. (Lucas 18:35-19:10 BLH)
A multidão aprovou
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A cura de um cego de trouxe grande alegria à multidão. No mesmo instante o homem
começou a ver e, dando glória a Deus, foi seguindo Jesus. E todos os que viram
isso começaram a louvar a Deus.
Lucas continua a narração. Jesus entra em Jericó e um homem de baixa estatura,
Zaqueu, chefe dos coletores de impostos, homem rico, sobe a uma árvore para ver Jesus
passar. Provavelmente Zaqueu sabia que ninguém teria a boa vontade de arrumar-lhe um
lugar à frente do povo para ver o Mestre, pois coletores de impostos eram malquistos por
todos (até hoje). E Lucas continua: Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para
cima e disse a Zaqueu: -Zaqueu, desça depressa, pois hoje preciso ficar na sua
casa. 6 Zaqueu desceu depressa e o recebeu na sua casa, com muita alegria.
A multidão não aprovou
O fato de Jesus ter dito que iria visitar Zaqueu parece que não pegou bem, pois todos os
que viram isso começaram a resmungar: -Este homem foi se hospedar na casa de
um pecador! “Pois é”, deviam pensar, “deve ter tanta gente guardando a lei e Jesus vai
logo na casa de um explorador do povo, a serviço de Roma, uma potência estrangeira?”
O que Zaqueu largou.
Quando Jesus sob a árvore se dirigiu a Zaqueu , este não só largou a árvore em que
estava mas muitas outras coisas. Foi ao encontro de Jesus para se surpreender e se
deixar transformar pelo novo. Arrependeu-se de seu amor ao dinheiro e restituiu a quem
havia lesado conforme o que dizia a Lei, pois agora tinha prazer nela.
Muitas vezes não temos prazer na Palavra de Deus e nos planos do Pai para nós porque
continuamos agarrados aos galhos da nossa figueira brava particular. São os galhos de
nosso amor próprio, amor ao dinheiro, fama, posição social, falta de perdão,
mágoas,etc...que não queremos largar tentando controlar assim nosso próprio destino.
O que Jesus largou
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O interessante é que Jesus abriu mão de sua popularidade por causa de um pecador.
Largou-a como se fosse um galho de figueira brava, por amor a Zaqueu. Ele faz isso até
hoje (e muito mais) por nossa causa, como diria Paulo mais tarde aos Filipenses:
5 Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus tinha: 6
Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. 7 Pelo
contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo,
tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um
ser humano, 8 ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte-morte de cruz.
9 Por isso Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nele o nome que é mais
importante do que todos os outros nomes, 10 para que, em homenagem ao
nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos,
caiam de joelhos 11 e declarem abertamente que Jesus Cristo é o Senhor,
para a glória de Deus, o Pai. (Filipenses 2:5-11 BLH)
Foi Jesus quem fez o contato e não Zaqueu. Conosco não é diferente. Jesus
continua olhando para nós e dizendo:
(coloque aqui seu nome), desça depressa, pois hoje preciso ficar na sua casa.
E aí, vai descer ou não da árvore?
Boa meditação!
Jorge Wilson
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E quanto a ele?
20 Então Pedro virou para trás e viu que o discípulo que Jesus amava vinha
atrás dele. Este era o mesmo que estava ao lado de Jesus durante o jantar da
Páscoa e que havia chegado para mais perto dele e perguntado: "Senhor,
quem é o traidor?" 21 Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a
Jesus: -O que diz, Senhor, a respeito deste aqui? 22 Jesus respondeu: -Se
eu quiser que ele viva até que eu volte, o que é que você tem com isso?
Venha comigo! 23 Então se espalhou entre os seguidores de Jesus a notícia
de que aquele discípulo não ia morrer. Mas Jesus não disse isso. Ele apenas
disse: "Se eu quiser que ele viva até que eu volte, o que é que você tem com
isso?" (João 21:20-23 BLH)
Acredito que Jesus havia solicitado a Pedro que caminhasse com Ele à beira de lago para
uma conversa em particular e João, separando-se dos outros discípulos, vinha atrás de
Jesus e Pedro. Em João 13:23 já aparece uma referência à João como o discípulo
amado. Pedro, que acabara de receber sua missão diretamente do Senhor Jesus (veja
versículos anteriores), fica curioso com a missão que caberia ao discípulo amado, e
pergunta a Jesus:
-O que diz, Senhor, a respeito deste aqui? (referia-se a João)
- (Certamente algum ministério especial caberia ao discípulo amado)
Mas Jesus responde a Pedro que isto não cabe a ele, Pedro. Basta que cumpra com
fidelidade a missão recebida de Jesus.Se existe algum plano de Jesus para João não
cabe a Pedro conhecê-lo.
E nós?
Muitas vezes somos como Pedro. Ao invés de procurarmos cumprir nossa missão com o
devido uso do nosso dom, ficamos parando para perguntar: -E quanto a ele (ou ela,
referindo –nos talvez a irmãos que parecem mais bem abençoados ou “abençoados”
($$$) que nós)? E quanto a isto, aquilo (circunstâncias da própria vida de cada um)?
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Traduzindo: o que vai acontecer comigo e com minha carreira? Será que vou me
casar ou ficar celibatário(a)?
- (Será que já estão pagando bem a pastor?)
Ao invés de tentar cumprir a missão que o Pai tem prazer em dividir comigo, fico
levantando questões que mais parecem falta de confiança do que outra coisa.
- Jesus diz: “Venha comigo!”
Jesus mandou que Pedro não se preocupasse, pois ele, Pedro, sempre estaria em boa
companhia, assim como João, assim como eu e você. Não confiar nessa palavra só
serve para fragmentar nossa vida. Parece que “uma parte vai e a outra quer ir... mas tem
medo”.
Agora leia novamente o texto de João e coloque-se no lugar do discípulo que vinha atrás.
Boa meditação!
Boa missão!
Jorge Wilson
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Efatá – o sermão de uma só palavra
31 Jesus saiu da região que fica perto da cidade de Tiro, passou por Sidom e
pela região das Dez Cidades e chegou ao lago da Galiléia. 32 Algumas
pessoas trouxeram um homem que era surdo e quase não podia falar e
pediram a Jesus que pusesse a mão sobre ele. 33 Jesus o tirou do meio da
multidão e pôs os dedos nos ouvidos dele. Em seguida cuspiu e colocou um
pouco da saliva na língua do homem. 34 Depois olhou para o céu, deu um
suspiro profundo e disse ao homem: -"Efatá!" (Isto quer dizer: "Abra-se!") 35
E naquele momento os ouvidos do homem se abriram, a sua língua se soltou,
e ele começou a falar sem dificuldade. 36 Jesus ordenou a todos que não
contassem para ninguém o que tinha acontecido; porém, quanto mais ele
ordenava, mais eles falavam do que havia acontecido. 37 E todas as pessoas
que o ouviam ficavam muito admiradas e diziam: -Tudo o que faz ele faz bem;
ele até mesmo faz com que os surdos ouçam e os mudos falem! (Marcos
7:31-37 BLH)
Imagine-se por alguns minutos sem poder falar ou ouvir. É como se tudo fosse um
grande cinema mudo (e sem música). Você só pode ver... e sentir.
Tal era esse homem do texto – engaiolado dentro de si mesmo.
Jesus e os espaços O texto nos diz que Jesus o tirou do meio da multidão e o levou para um lugar á
parte. Procurou se comunicar com esse homem num lugar especial. Ele sempre
tem um espaço especial de cura para as pessoas.
A comunicação Além do contato visual estabelece contato físico nas áreas de deficiência daquele
homem.
33Jesus o tirou do meio da multidão e pôs os dedos nos ouvidos dele. Em
seguida cuspiu e colocou um pouco da saliva na língua do homem.
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Esse homem sentiu o toque de Jesus em suas áreas mais críticas – ouvidos e
língua. Numa espécie de sermão particular e sem palavras Jesus comunicou
acolhimento, amor e compreensão.
A intercessão Em seguida olhou para o céu pois é de lá que vem toda resposta a nossas
orações.Jesus revela mais uma vez sua total dependência do Pai.
O suspiro
Então deu um suspiro profundo. Aqui Jesus demonstra, além de sua compaixão pelo
homem, uma profunda luta espiritual contra qualquer força maligna que estivesse
dominando o enfermo. Ele é como um médico que se permite pela doença para melhor
entender e curar seu paciente.
Então Jesus diz: “Efatá” Em aramaico, quer dizer: “Abre”. É a vitória sobre o mal.
E naquele momento os ouvidos do homem se abriram, a sua língua se soltou,
e ele começou a falar sem dificuldade.
Medite nesse sermão de uma palavra só e alegre-se pois...
... todas as pessoas que o ouviam ficavam muito admiradas e diziam: -Tudo o
que faz ele faz bem; ele até mesmo faz com que os surdos ouçam e os mudos
falem!
Boa meditação!
Jorge Wilson
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Em paz com o meu cenário
1 Jesus disse: -Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Quem não entra no
curral das ovelhas pela porta, mas pula o muro é um ladrão e bandido. 2 Mas
quem entra pela porta é o pastor do rebanho. 3 O porteiro abre a porta para
ele. As ovelhas reconhecem a sua voz quando ele as chama pelo nome, e ele
as leva para fora do curral. 4 Quando todas estão do lado de fora, ele vai na
frente delas, e elas o seguem porque conhecem a voz dele. 5 Mas de jeito
nenhum seguirão um estranho! Pelo contrário, elas fugirão, pois não
conhecem a voz de estranhos. 6 Jesus fez esta comparação, mas eles não
entenderam o que ele queria dizer. 7 Então Jesus continuou: -Eu afirmo a
vocês que isto é verdade: Eu sou a porta por onde as ovelhas passam. 8
Todos os que vieram antes de mim são ladrões e bandidos, mas as ovelhas
não deram atenção à voz deles. 9 Eu sou a porta. Quem entrar por mim será
salvo; poderá entrar e sair e achará comida. 10 O ladrão só vem para roubar,
matar e destruir; mas eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida
completa. 11 -Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a vida pelas ovelhas. 12
Um empregado trabalha somente por dinheiro; ele não é pastor, e as ovelhas
não são dele. Por isso, quando vê um lobo chegando, ele abandona as
ovelhas e foge. Então o lobo ataca e espalha as ovelhas. 13 O empregado
foge porque trabalha somente por dinheiro e não se importa com as ovelhas.
14 (14-15) Eu sou o bom pastor. Assim como o Pai me conhece, e eu
conheço o Pai, assim também conheço as minhas ovelhas, e elas me
conhecem. E estou pronto para morrer por elas. 15 (14-15) Eu sou o bom
pastor. Assim como o Pai me conhece, e eu conheço o Pai, assim também
conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem. E estou pronto para morrer
por elas. 16 Tenho outras ovelhas que não estão neste curral. Eu preciso
trazer essas também, e elas ouvirão a minha voz. Então elas se tornarão um
só rebanho com um só pastor. (João 10:1-16 BLH)
16
O capítulo nove
Nesse capítulo João descreve uma pressão inusitada dos fariseus contra um homem,
cego de nascença que fora curado por Jesus . A verdade é que nem a família desse
homem foi poupada de receber pressão a ponto de terem muito medo , leia:
18 Os líderes judeus não acreditavam que ele tinha sido cego e que agora
podia ver. Por isso chamaram os pais dele 19 e perguntaram: -Esse homem é
filho de vocês? Vocês dizem que ele nasceu cego. E como é que agora ele
está vendo? 20 Os pais responderam: -Sabemos que ele é nosso filho e que
nasceu cego. 21 Mas não sabemos como é que ele agora pode ver e não
sabemos também quem foi que o curou. Ele é maior de idade; perguntem, e
ele mesmo poderá explicar. 22 Os pais disseram isso porque estavam com
medo, pois os líderes judeus tinham combinado expulsar da sinagoga quem
afirmasse que Jesus era o Messias. 23 Foi por isso que os pais disseram:
"Ele é maior de idade; perguntem a ele." (João 9:18-23 BLH)
Esse era o cenário da época- uma cultura religiosa difícil de agüentar. E todos tinham que
viver nela.
No final desse capítulo João narra que alguns fariseus que estavam perto de Jesus
presenciam quando Jesus se apresenta ao cego, pois a cura se deu quando o cego
estava longe lavando seus olhos no tanque de Siloé.:
35 Jesus ficou sabendo que tinham expulsado o homem da sinagoga. Foi
procurá-lo e, quando o encontrou, perguntou: -Você crê no Filho do Homem?
36 Ele respondeu: -Senhor, quem é o Filho do Homem para que eu creia
nele? 37 Jesus disse: -Você já o viu! É ele que está falando com você! 38 -
Eu creio, Senhor! -disse o homem. E se ajoelhou diante dele. 39 Então Jesus
afirmou: -Eu vim a este mundo para julgar as pessoas, a fim de que os cegos
vejam e que fiquem cegos os que vêem. 40 Alguns fariseus que estavam
com ele ouviram isso e perguntaram: -Será que isso quer dizer que nós
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também somos cegos? 41 -Se vocês fossem cegos, não teriam culpa! -
respondeu Jesus. -Mas, como dizem que podem ver, então continuam tendo
culpa. (João 9:35-41 BLH)
A porta e o bom pastor A imagem do curral (ou aprisco) é a do cenário onde se vive, no caso – o judaísmo. É o
curral de nossa cultura, religião (ou falta dela), símbolos, valores reais ou místicos – tudo
que recebemos de nossos pais, nossa religião e ambiente. As culturas são necessárias só
que , têm seu lado difícil. É só lembrar do capítulo nove.
Aquela época os pastores faziam currais grandes , cercados de pedra, para guardar seus
rebanhos à noite e quem cuidava do curral só abriria a porta para pastores conhecidos.
Talvez até o curral fosse útil á noite, mas não resolvia todo o problema pois sua
segurança não era total.. Havia ladrões e bandidos que escalariam os muros para roubar
ovelhas. Ovelha sair sem um pastor, nem pensar. E os lobos do lado de fora – o que seria
da ovelha?
Jesus primeiro diz que nosso “curral” particular tem uma porta que é ele, Jesus. É por
essa porta – Jesus - que podemos ver a saída ,ou seja, uma possibilidade de uma vida
melhor do que aquela que nosso curral propicia.
Por outro lado, quando eu saio, essa porta não se fecha atrás de mim deixando-me por
minha própria conta e risco. Aí Jesus surge como o bom pastor quem vai a minha frente
me livrando dos lobos e guiando-me às pastagens e paisagens que não existem dentro no
curral (ou cultura, ou cenário). Muitas vezes contratei um empregado (em outra versão -
mercenário) para me ajudar a sair do curral –guru , auto-ajuda, mas não há ninguém
disposto a dar a vida por mim quando chegam os lobos, pois sair do curral tem seus
riscos (e os pais do cego sabiam disso).
Em paz com meu cenário Jesus diz que :Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair
e achará comida. Jesus não me manda renegar meu curral, meu cenário cultural e
18
religioso, etc... mas ele vem me ensinar que pela Porta –minha intimidade com ele – e
com ajuda dEle, o Bom Pastor - agora posso entrar e sair desse curral, posso agora
conviver com o cenário cultural que herdei e encontrar a paz – a comida.
Boa meditação!
Jorge Wilson
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Praticando Emaús Prepare-se para ser abordado! Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus estavam indo para um povoado chamado Emaús, que fica a mais ou menos dez quilômetros de Jerusalém. Eles estavam conversando a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus chegou perto e começou a caminhar com eles, mas alguma coisa não deixou que eles o reconhecessem. Então Jesus perguntou: -O que é que vocês estão conversando pelo caminho? Eles pararam, com um jeito triste, e um deles, chamado Cleopas, disse: -Será que você é o único morador de Jerusalém que não sabe o que aconteceu lá, nestes últimos dias? -O que foi? -perguntou ele. Eles responderam: -O que aconteceu com Jesus de Nazaré. Esse homem era profeta e, para Deus e para todo o povo, ele era poderoso em atos e palavras. Os chefes dos sacerdotes e os nossos líderes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. E a nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Porém já faz três dias que tudo isso aconteceu. Algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram espantados, pois foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Voltaram dizendo que viram anjos e que estes afirmaram que ele está vivo. Alguns do nosso grupo foram ao túmulo e viram que realmente aconteceu o que as mulheres disseram, mas não viram Jesus. Então Jesus lhes disse: -Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram! Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a glória. E começou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que falavam dele, iniciando com os livros de Moisés e os escritos de todos os Profetas. Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez como quem ia para mais longe. Mas eles insistiram com ele para que ficasse, dizendo: -Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando. Então Jesus entrou para ficar com os dois. Sentou-se à mesa com eles, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e deu a eles. Aí os olhos deles foram abertos, e eles reconheceram Jesus. Mas ele desapareceu. Então eles disseram um para o outro: -Não parecia que o nosso coração queimava dentro do peito quando ele nos falava na estrada e nos explicava as Escrituras Sagradas? Eles se levantaram logo e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze apóstolos reunidos com outros seguidores de Jesus. E os apóstolos diziam: -De fato, o Senhor ressuscitou e foi visto por Simão! (Lucas 24:13-34 BLH) A saudade!
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Cleopas e seu amigo viajavam sob dois climas: o da morte e o da ressurreição de Jesus (anunciada mas ainda não confirmada pessoalmente ,v.6). Havia muita saudade e muita esperança.. Jesus até havia anteriormente alertado a eles que , com a Sua separação dos discípulos, eles experimentariam saudade e que o remédio para ela se chamava jejum. Jesus respondeu: -Vocês acham que podem obrigar os convidados de uma festa de casamento a jejuarem enquanto o noivo está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar! (Lucas 5:34-35 BLH) -(Mas Jesus aparece e o remédio... bem, ficaria para outra vez!) A abordagem! - O que é que vocês estão conversando pelo caminho? Eles pararam, com um jeito triste. Jesus sempre está perto dos que sentem saudade dEle, dos que estão com um jeito triste.. Nossa fome de transcendência é Ele que supre .Essa fome, humanamente nós só conseguimos distraí-la...e mal! A provisão do Pai para nossas vidas começa quando somos abordados embora, naquele momento não o leiamos assim. “E a nossa esperança era...” Esse homens esperavam alguma coisa de Jesus além da redenção de suas almas – tinham expectativas para esta vida - O Libertador prometido!: E a nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Conosco não é diferente. Todos esperamos muito de Jesus; os homens do caminho também. Diga agora para Jesus o que você espera (ou esperava) dEle! Seja sincero! (pausa para meditar) A tristeza desnecessária. A raiz da tristeza desses homens era não terem aceito a revelação dos profetas nas Escrituras. Sua leitura estava viciada. -Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram! Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a glória.
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E começou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que falavam dele, iniciando com os livros de Moisés e os escritos de todos os Profetas. Leram nas Escrituras apenas o lado glorioso do Messias, mas o lado escuro de Seu sofrimento não foi levado à sério. Não leram os escritos de todos os Profetas. - (A mesma advertência deve valer para nós! Ler e guardar a Palavra pode ser vacina contra tristeza!.) Convidando o Filho (e insistindo no convite). Se existe ocasião em que Jesus se alegra é quando lhe pedimos que permaneça conosco. O texto nos sugere que, se eles não tivessem insistido...Ele iria passar adiante, pois Ele fez como quem ia para mais longe. . Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez como quem ia para mais longe. Mas eles insistiram com ele para que ficasse, dizendo: -Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando. Então Jesus entrou para ficar com os dois Convide-O agora para entrar em sua vida , insista! (Ele adora corresponder a convites insistentes!) O encontro fundamental. Jesus nos aborda na nossa caminhada e nos prepara para o Encontro onde Ele se revela e onde receberemos Seu pão e Sua bênção. De modo que :Aí os olhos deles foram abertos, e eles reconheceram Jesus. É a partir desse encontro que todos os outros farão sentido. Quando os olhos são abertos, passado e futuro poderão ser relidos à luz da Graça de Pai. E quando isso acontece... - Não parecia que o nosso coração queimava dentro do peito quando ele nos falava na estrada e nos explicava as Escrituras Sagradas? (O que eu aprendi? O que ficou disso tudo?)(pausa para meditar) Agora sim, estou pronto para a comunhão dos irmãos, a koinonia! Só após encontrar o Pai e o Filho é que estou pronto para encontrar meu irmão. Eles se levantaram logo e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze apóstolos reunidos com outros seguidores de Jesus
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A saudade do Noivo, uma vez satisfeita, se transforma na saudade do irmão (os convidados). Não existe vida espiritual eternamente solitária. Preciso encontrar minha koinonia e contar para ela o meu encontro de hoje. Também preciso ouvir. Eles também tiveram encontros e devem ter algo a me dizer... ...como eles disseram aos dois homens: De fato, o Senhor ressuscitou e foi visto por Simão! É assim a caminhada de Emaús. Leia novamente o texto de Lucas na primeira pessoa do singular. Participe da cena ; seja o “Cleopas” da história e prepare-se para ser abordado! O resto... depois você conta! Boa meditação!
Jorge Wilson
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Marta e Maria “Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta,
hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta se quedava
assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um
lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então se aproximou de Jesus e
disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tivesse deixado que eu ficasse a
servir sozinha ? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.
Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! andas inquieta e te preocupas com muitas
coisas.
Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só cousa; Maria, pois, escolheu a
boa parte e esta não lhe será tirada.” Lucas 10:38-42
Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços.
Provavelmente ela queria oferecer um banquete ao seu hóspede e achava que
esta não era a melhor hora de Maria “ficar assentada aos pés do Senhor a ouvir-
lhe os ensinamentos.” Seu foco estava naquilo que ela podia oferecer !
Mas, ela descobre que não vai conseguir e então... Marta repreende o Mestre
:“Senhor, não te importas de que minha irmã tivesse deixado que eu fique a servir
sozinha ? Ordena-lhe, pois , que venha ajudar-me”.
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“Senhor, não te importas...?” – é exatamente isto o que pensamos quando
tentamos fazer algo só pela nossa força. Acabamos nos sentimos longe do
Senhor, não conseguimos ver o seu cuidado por nós, e achamos que Ele “não se
importa”.
Jesus reconhece tensão nas palavras de Marta e lhe diz: “Marta! Marta!
(comunicando compreensão e ternura) - andas inquieta e te preocupas com
muitas coisas”. A nossa vida é assim, tem uma demanda de necessidades
impossível de se satisfazer! Quando tentamos, ficamos como Marta - reclamando
com Ele, “inquietos e preocupados com muitas coisas” - e o que é pior, nos
sentindo longe de Jesus e daquele lugar que Ele reserva para nós juntinho dEle (e
que Maria tão prontamente descobriu!).
“Pouco é necessário, só uma cousa”. Descobrir nosso lugar aos pés do “Jesus
que serve” é o que nos liga com a eternidade, com a transcendência. É necessário
estar perto da fonte.Buscar o nosso espaço reservado junto dele é encontrar o
caminho do serviço alegre, da nossa real missão nesta vida.
Sabe o que eu acho? Marta e Maria podem representar dois lados de nós
mesmos: Marta somos nós quando vivemos pela nossa própria força. O Mundo
nos cobra o lado Marta – afinal de contas esse é o nosso lado operoso,
trabalhador, realizador... Mas, o problema é que Marta não aguenta!... É infeliz
porque se descobre fraca, incapaz. E, infeliz, reclama contra Jesus e contra o
próximo.
Entretanto, Maria é o outro lado que devemos procurar desenvolver, é aquele que
descobre o seu lugar reservado aos pés do Mestre. Maria não reclama, pois
descobriu como acalentar a sua própria alma. Maria sou eu, você quando
seguimos o exemplo dela.
Boa meditação! Jorge Wilson
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O Companheiro necessário
5 E agora vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta:
Para onde vais? 6 Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso coração se
encheu de tristeza. 7 Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu
vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for,
vo-lo enviarei. 8 E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da
justiça e do juízo. 9 Do pecado, porque não crêem em mim; 10 Da justiça,
porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; 11 E do juízo, porque já o
príncipe deste mundo está julgado. 12 Ainda tenho muito que vos dizer, mas
vós não o podeis suportar agora. 13 Mas, quando vier aquele, o Espírito de
verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo,
mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. 14 Ele me
glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Jo 16
: 5-14
Jesus fala de sua partida.
Imagine você convivendo com o Mestre e, de repente, Ele avisa que vai embora.
Você não consegue imaginar algo pior. E Ele ainda diz que é melhor assim:
convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós.
Aquele diálogo pessoal , presencial, com Jesus, daria agora lugar a uma
linguagem nova , perceptiva e interior comandada pelo Espírito de Deus.
Jesus avisa aos discípulos que, de agora em diante, teriam um companheiro
diferente: o Espírito Santo que os guiará em toda a verdade. Seria necessário
aprender a se comunicar com o companheiro novo. Bem , isso ficou claro na
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caminhada de Emaús - Jesus desaparece após abençoar e partir o pão e então
os dois discípulos percebem as convicções novas e encorajadoras que agora
nasciam dentro deles (leia Lucas 24).
Paulo em Romanos vem nos ajudar quando nos ensina que esse Espírito tem uma
linguagem própria, ele ora em nós e por nós:
26 E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas;
porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo
Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. 27 E aquele que
examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo
Deus intercede pelos santos. Rom 8:26-27
E vem daí esse amor secreto , essa nossa certeza interior de nos sentirmos filhos
do Pai:
15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em
temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba,
Pai. 16 O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
Davi , consciente desse Companheiro Divino, temeu ficar distante de Deus quando
repreendido por pecado de adultério, e orou:
10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.
11 Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito
Santo (Sl 51:10-11).
Como diz Nouwen:
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Por Jesus, Deus dá-nos o seu divino Espírito, de maneira a podermos viver
uma vida semelhante à de Deus. O Espírito é a respiração de Deus. É a
intimidade entre Jesus e seu Pai. É a divina comunhão. É o amor de Deus a
atuar dentro de nós.*
Leia o Salmo 51 como se fosse seu e acrescente, se for o caso, onde o Espirito
poderia atuar mais em sua vida. Fale isso para o Divino Companheiro.
Boa meditação!
Jorge Wilson
* Nouwen,HJM - Mosaicos do presente. Ed. Paulinas. São Paulo, 2ª ed, pág.125
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O vinho velho é melhor! Algumas pessoas disseram a Jesus: -Os discípulos de João Batista jejuam muitas
vezes e fazem orações, e os discípulos dos fariseus fazem o mesmo. Mas os
discípulos do senhor não jejuam. Jesus respondeu: -Vocês acham que podem
obrigar os convidados de uma festa de casamento a jejuarem enquanto o noivo
está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do
meio deles; então sim eles vão jejuar! Jesus fez também esta comparação: -
Ninguém corta um pedaço de uma roupa nova para remendar uma roupa velha. Se
fizer isso, estraga a roupa nova, e o pedaço de pano novo não combina com a
roupa velha. Ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se alguém fizer isso, os
odres rebentam, o vinho se perde, e os odres ficam estragados. Não. Vinho novo
deve ser posto em odres novos. E ninguém quer vinho novo depois de beber vinho
velho, pois diz: "O vinho velho é melhor”.(Lucas 5:33-39 BLH)
Jesus foi interpelado porque seus discípulos não eram “tão espirituais” quanto os dos
fariseus e os de João Batista! Responde então que Sua presença entre nós é motivo de
festa e, se longe, é motivo de saudade.
Este sim seria o fator desencadeante do jejum - a saudade do noivo!
E já que o assunto é “cerimonialismo”, Jesus faz a comparação dos odres. Bom, antes de
mais nada é bom relembrar o que é um odre. É um recipiente feito de pele intacta de
cabra e utilizado como recipiente para líquidos. Quando velhos, se forem enchidos com
vinho novo, perdem sua elasticidade e arrebentam quando o vinho fermenta.
Quando utilizado para receber vinho, o odre deve ser novo e “envelhecer junto com o
vinho”. Odres com defeito, cheios de rachaduras e inelásticos, não conseguirão ser
recipientes úteis e dessa forma serão perdidos: os odres e o vinho!
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Jesus não está “consertando” o Judaísmo no texto de Lucas. Ele está ensinando algo
novo – O Seu Evangelho! E alerta que, se Sua Graça for colocada nos “odres do
judaísmo” (p.ex. a imposição de jejuns) o resultado será desastroso – o odre não vai
aguentar!
O Mestre nos ensina que a Sua Graça não pode ser contida nas velhas formas da lei. Da
mesma forma, olhando de um modo pessoal, nossos preconceitos, paradigmas,
“regrinhas” religiosas baseadas no “este é o meu jeito de ser” ou “foi sempre assim que eu
fiz as coisas por aqui” podem me fragilizar (eu como sendo um “odre”) e não permitir que
o “vinho do evangelho” em mim envelheça o suficiente para que eu chegue no ponto onde
devo – a maturidade!
Nosso Pai tem expectativa de que amadureçamos, ou seja, vinho e odre envelheçam
juntos e se tornem parceiros em algo de alta qualidade: Depois de tanto tempo, vocês já
deviam ser mestres, mas ainda precisam de alguém que lhes ensine as primeiras lições
dos ensinamentos de Deus. Em vez de alimento sólido, vocês ainda precisam de leite. E
quem precisa de leite ainda é criança e não tem nenhuma experiência para saber o que
está certo ou errado. Porém a comida dos adultos é sólida, pois eles pela prática sabem
a diferença entre o que é bom e o que é mau. (Hebreus 5:12-14 BLH)
Só nos tornaremos odres de qualidade quando estivermos dispostos à metanóia –
mudança de mente, como Paulo nos ensina: Não vivam como vivem as pessoas deste
mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança
da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que
é bom, perfeito e agradável a ele. (Romanos 12:2 BLH)
E assim, se alguém nos conhecer (“degustar”) dirá consigo mesmo à nosso respeito: "O
vinho velho é melhor”.- (Será o melhor elogio que iremos receber!).
Boa meditação!
Bem-vindos à Adega! Jorge Wilson
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Onde estão os nove?
11 De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da
Galiléia. 12 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, 13
que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te
de nós! 14 Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.
Aconteceu que, indo eles, foram purificados. 15 Um dos dez, vendo que fora
curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, 16 e prostrou-se com o rosto
em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. 17 Então,
Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os
nove? 18 Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus,
senão este estrangeiro? 19 E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou.
(Lucas 17:11-19 RA)
Cenário
Naquela época era proibido a um hansênico (ant. “leproso”) entrar numa cidade. Tanto os
dez homens sabiam disso que ficaram de longe. Diferentemente da cura narrada em Lc.
cap. 5:12, desta vez Jesus não tocou nos doentes mas mandou-os ir se apresentar aos
sacerdotes. Os sacerdotes eram como que inspetores sanitários (veja Levítico .cap 13 e
14) que decidiriam se os dez homens estariam curados ou não e se poderiam agora se
reintegrar à sociedade.
Não há dúvida de que os dez tiveram fé - aconteceu que, indo eles, foram purificados.
Difícil dizer em que etapa da viagem aconteceu a cura mas o problema é que Jesus
parece decepcionado ao ver regressar apenas um dos dez homens.
- Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a
Deus, senão este estrangeiro?
A viagem dos dez
Este samaritano ficou tão feliz que queria que todos soubessem que havia sido curado,
pois voltou, dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra
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aos pés de Jesus, agradecendo-lhe.Seus amigos talvez estivessem mais preocupados
com a sua aceitação por parte dos sacerdotes, ou seja, qual seria o julgamento deles,
pois aí é que estaria seu foco - a aceitação pela sociedade e a cura do estigma de ser
hansênico. Só então talvez recuperassem sua alegria.
A minha própria viagem
Em que ponto será que eu estou nessa viagem – a minha viagem! Quantas vezes terei
retornado para dar graças pelo que recebo em minha vida, ou será que ainda submeto a
ação do Pai em minha vida ao julgamento final dos outros? Será que a ação dEle em
mim precisa ser chancelada (aprovada) por alguém (ou algo) mais? ($$$, títulos
acadêmicos,beleza, admiração).
- (Quando Jesus pergunta: Onde estão os nove?- estarei eu incluído?)
- (Pausa para meditar)
E a tal felicidade?
Para Jesus, felicidade deve ser seguida de gratidão ao Pai:- Não houve, porventura,
quem voltasse para dar glória a Deus?Por quê? Bom, se você reparar bem foi somente
o samaritano grato que escutou: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou. A gratidão dele
garantiu além do corpo, a alma.
Procure ser feliz; nada contra a felicidade.
- Só que ela tem de ter memória!
Boa meditação!
Jorge Wilson
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Passando pela peneira
31 Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como
trigo! 32 Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois,
quando te converteres, fortalece os teus irmãos. 33 Ele, porém, respondeu:
Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte. 34
Mas Jesus lhe disse: Afirmo-te, Pedro, que, hoje, três vezes negarás que me
conheces, antes que o galo cante. (Lucas 22:31-34 RA)
Jesus e Pedro estão conversando - uma última conversa. Misteriosamente Jesus diz a
Pedro que Satanás havia solicitado poder peneirá-lo como aos demais (é bom esclarecer
que Satanás não tem direito algum pois Deus é o poder supremo - o que os filhos de
Deus passam em suas provações são apenas o que o Pai permite). Continuando, Jesus
disse que não iria impedir que isso – a “peneirada” acontecesse. Falou que rogaria por
Pedro para que não perdesse a fé. Disse mais: que essa experiência seria de conversão
para Pedro e os demais.
Pedro se dispõe a enfrentar tudo e todos pelo Mestre – até morrer! “Nem morte, nem
prisão iriam afasta-lo de Jesus”.
- Afirmo-te, Pedro, que, hoje, três vezes negarás que me conheces, antes que o
galo cante . Jesus encerra a conversa com esta afirmação.
Imagino que Pedro ficou ali pensando: "Jesus precisa me conhecer melhor, como pode
pensar isso logo de mim?" . Pedro , autoconfiante, mal sabia que a esta altura já estava
sobre a peneira.
E a peneira começou a funcionar.
Logo depois Jesus é traído e preso. Provavelmente Pedro não contava com isto. Cristo
passava da ação à paixão, ou seja, não mais tomava a iniciativa, mas deixava que seus
inimigos a tomassem. Sem esperanças, Pedro agora segue Jesus, de longe. Acompanha
33
os fatos sem se expor. Enquanto Jesus é interrogado na casa do sumo sacerdote, Pedro
caminha disfarçadamente na multidão .Enquanto espera, passa por ali uma empregada
que o reconhece como um dos discípulos de Jesus - Pedro nega. Uns minutos depois,
outra pessoa o vê e comenta: "este também andava com ele" – Pedro nega. Depois,
outra pessoa o reconhece: "Também este estava com ele, porque também é galileu".
Pedro nega pela terceira vez e enquanto tenta se explicar...o galo canta!
Nesta hora, Jesus olha para Pedro que olha para Jesus. O olhar de Jesus revelou a
Pedro quem ele, Pedro, verdadeiramente era.Agora Pedro sabia por experiência própria o
que era a tal peneira, o que ela mostrava!
A peneira, vista pelo outro lado.
Essa história continua, só que agora no Evangelho de João (cap.21).Os discípulos haviam
ido pescar e nada conseguiram. Ao retornar à praia alguém os interroga e sugere que
lancem a rede do lado direito do barco. Assim fazem e a recolhem cheia. O milagre fez
com que reconhecessem que era Jesus. Pedro, que estava nu, coloca suas roupas, e
nada ao encontro com Jesus.
Depois de comerem, Jesus chama Pedro para uma conversa:
15 Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de
João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu
sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. 16 Tornou a
perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe
respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as
minhas ovelhas. 17 Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de
João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez:
Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes
que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. 18 Em
verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti
mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás
as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. (João 21:15-18
RA)
34
Deve ter sido difícil para Pedro receber por três vezes essa pergunta de Jesus:” Tu me
amas?”
Como responder? O que dizer agora depois de afirmar lealdade ao amigo e negá-lo por
três vezes? Agora Pedro não podia enganar nem a si mesmo. Mas, após a “peneirada” o
cascalho ficou para trás. Pedro, que agora se conhecia melhor, declara seu amor ao
Mestre: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. E o curioso é
que esse homem fraco, que ama, é exatamente o designado para fazer o pastoreio.
Para declará-lo pastor de suas ovelhas, Jesus não pergunta qual era teologia de Pedro,
mas como era seu coração. (Santo Agostinho diria mais tarde que, se queremos
conhecer alguém, não devemos perguntar o que ele faz, mas o que mais ama).
Agora Pedro conhecia o outro lado da peneira.
A peneira vem nos ensinar que Jesus está mais interessado em nossa “areia fina”
(dependência dEle) do que em nosso “cascalho” (brilho próprio, autoconfiança). Isso vai
na contramão de nossa cultura que prestigia o forte e o autoconfiante (até para liderança
de ministérios na igreja). Por isso precisamos passar pela peneira para que possamos
conhecer melhor o nosso lado frágil e dependente. Aquele que passou pela peneira é que
terá experiência para ajudar seus irmãos:
...tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos Lc22:32
Apascenta as minhas ovelhas Jo 21:17
A maturidade, conforme Cristo ensina, se caracteriza naquele movimento em que
estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. É preciso
total confiança no Pai para se deixar levar ou abrir mão do controle da própria vida.Só
quem passar pela peneira vai fazer isso!
Nos encontraremos do outro lado!
Boa meditação!
Jorge Wilson
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Pegue sua paz de volta!
11 E, em qualquer cidade ou povoado em que entrardes, indagai quem neles
é digno; e aí ficai até vos retirardes. 12 Ao entrardes na casa, saudai-a; 13
se, com efeito, a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não
o for, torne para vós outros a vossa paz. (Mateus 10:11-13 RA)
Todos queremos tentar “converter” nossos familiares ,cônjuges e amigos ao amor de
Jesus. Quando somos bem recebidos por eles, insistimos, convidamos todos eles para
irem à igreja conosco (até pedimos ao pastor para “caprichar” naquele culto).Se não
vemos o resultado – conversão e batismo – nos frustramos.
Outras vezes, em outros lugares nem somos bem recebidos. Problemas antigos, rixas
familiares atrapalham qualquer possibilidade de um convite bem sucedido.A diferença
religiosa parece aguçar mais ainda essas rixas.
Sem dúvida todos queremos ver nossos queridos tendo o mesmo Senhor que nós.
Jesus nos adverte que podemos ter problemas com a nossa paz quando evangelizamos.
O fato é que quando perdemos essa paz, tornamo-nos muitas vezes rancorosos,
julgadores invocando muitas vezes o jugo desigual para termos base bíblica para
abandonarmos o “ímpio” que não quer se converter.
A lição de Jesus
Jesus, enviando seus discípulos para evangelizar, sabia que cem por cento de sucesso
não haveria (nem curando os doentes, ressuscitando os mortos ou expulsando os
demônios – Mt 10:8). No entanto estava ensinando algo muito importante aos seus
discípulos e aos evangelizadores do futuro – nada deve tirar a nossa paz.
- Por que Jesus estaria ensinando isso (se não fosse importante não precisaria ser
ensinado)?
A conversão das pessoas é obra do Espírito Santo. Somos apenas carteiros,
mensageiros que trazem uma mensagem e saúdam o destinatário ao chegar
desejando dividir com ele a paz que recebem de Jesus.
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Se o destinatário, aceitar, ótimo. Se não...
- Obedeça a Jesus e confie no Espírito: - Pegue sua paz de volta!
Boa meditação!
Jorge Wilson
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Pensando em desistir?
13 Vocês me chamam de "Mestre" e de "Senhor" e têm razão, pois eu sou
mesmo. 14 Se eu, o Senhor e o Mestre, lavei os pés de vocês, então vocês
devem lavar os pés uns dos outros. 15 Pois eu dei o exemplo para que vocês
façam o que eu fiz. 16 Eu afirmo a vocês que isto é verdade: O empregado
não é mais importante do que o patrão, e o mensageiro não é mais
importante do que aquele que o enviou. 17 Já que vocês conhecem esta
verdade, serão felizes se a praticarem. 18 -Não estou falando de vocês todos;
eu conheço aqueles que escolhi. Pois tem de se cumprir o que as Escrituras
Sagradas dizem: "Aquele que toma refeições comigo se virou contra mim". 19
Digo isso a vocês agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer,
vocês creiam que "EU SOU QUEM SOU". 20 Eu afirmo a vocês que isto é
verdade: Quem receber aquele que eu enviar estará também me recebendo; e
quem me recebe recebe aquele que me enviou. 21 Depois de dizer isso, Jesus
ficou muito aflito e declarou abertamente aos discípulos: -Eu afirmo a vocês
que isto é verdade: Um de vocês vai me trair. 22 Então eles olharam uns para
os outros, sem saberem de quem ele estava falando. 23 Ao lado de Jesus
estava sentado um deles, a quem Jesus amava. 24 Simão Pedro fez um sinal
para ele e disse: -Pergunte de quem o Mestre está falando. 25 Então aquele
discípulo chegou mais perto de Jesus e perguntou: -Senhor, quem é ele? 26 -
É aquele a quem vou dar um pedaço de pão passado no molho! -respondeu
Jesus. Em seguida pegou um pedaço de pão, passou no molho e deu a
Judas, filho de Simão Iscariotes. 27 E assim que Judas recebeu o pão,
Satanás entrou nele. Então Jesus disse a Judas: -O que você vai fazer faça
logo! 28 Nenhum dos que estavam à mesa entendeu por que Jesus disse
isso. 29 Como era Judas que tomava conta da bolsa do dinheiro, alguns
pensaram que Jesus tinha mandado que ele comprasse alguma coisa para a
festa ou desse alguma ajuda aos pobres. 30 Judas recebeu o pão e saiu logo.
E era noite. 31 s. (João 13:13-31 BLH)
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Muitas vezes carregamos conosco segredos, dramas existenciais, decepções,
expectativas não supridas que não contamos a ninguém. E o pior que esse silêncio nos
torna reféns desses sentimentos. Em relação a eles não conseguimos nem orar.E assim,
secretamente começamos a criar e alimentar idéias e sentimentos de desobediência que
vão nos afastando progressivamente de Deus. Assim, Igreja é só “o social”, mais nada.
- (Só falta marcar o dia para abandonar tudo – o resto, está pronto!)
Judas e João
Não sabemos a partir de quando começou a nascer em Judas a idéia de largar o
discipulado de Cristo.Talvez tivesse expectativas para um reino terreno, político .Vendo
que não era o caso, não queria sair de mãos vazias.
Esse fato (a traição de Judas) deve ter sido muito forte para João ,pois em seu evangelho
ele nos prepara várias vezes para o fato ,vejam 6:71,12:4 e 13:2. João também coloca
que Jesus havia percebido o que ocorria no coração de Judas, pois em João 13:10 o
próprio Jesus diz: Vocês todos estão limpos, isto é, todos menos um. (João 13:10b
BLH).Jesus já sabia os segredos que Judas alimentava no coração e isto causou grande
aflição ao Mestre: 21 Depois de dizer isso, Jesus ficou muito aflito e declarou
abertamente aos discípulos: -Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Um de vocês
vai me trair.
A chance perdida
Dando uma nova chance a Judas e usando a própria cultura da época, Jesus inicia a
Ceia pelo próprio Judas. Para os judeus receber diretamente do anfitrião (no caso, Jesus)
um bocado de pão era sinal de favor especial, alta distinção para um hóspede
importante.Em Rute 2:14, Boaz faz isso quando convida Rute, com quem depois se
casaria a “molhar no vinho o seu pão”. Na hora do almoço, Boaz disse a Rute: -Venha
aqui, pegue um pedaço de pão e molhe no vinho. Então ela sentou-se ao lado dos
trabalhadores, e Boaz lhe deu cevada torrada. Ela comeu até ficar satisfeita, e ainda
sobrou. (Rute 2:14 BLH)
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O fato de Jesus ter iniciado a Ceia oferecendo um favor especial a Judas deve ser
entendido como um apelo final para que Judas abandonasse seu plano de traição e
agisse como um discípulo de verdade. Até este momento havia retorno para Judas
porque a Ceia sempre dá a todos nós mais uma chance, como Paulo posteriormente
ensinaria:.
23 Porque eu recebi do Senhor este ensino que passei para vocês: Que o
Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão 24 e deu graças a
Deus. Depois partiu o pão e disse: "Isto é o meu corpo, que é entregue em
favor de vocês. Façam isto em memória de mim (...)28 Portanto, que cada um
examine a sua consciência e então coma do pão e beba do cálice. 29 Pois, a
pessoa que comer do pão ou beber do cálice sem reconhecer que se trata do
corpo do Senhor, estará sendo julgada ao comer e beber para o seu próprio
castigo. 30 É por isso que muitos de vocês estão doentes e fracos, e alguns
já morreram. (1 Coríntios 11:23-30 BLH)
Judas recusou auxílio de Jesus e saiu para a noite – uma longa noite.
Eu e meus segredos
A mesma aflição que Judas causou a Jesus posso estar também causando quando
alimento secretamente o desejo abandonar o discipulado de alguma forma. Mas o
Anfitrião me oferece continuamente o “primeiro pão” quando me diz: Isto é o meu corpo,
que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim.
Se você está pensando em desistir do seu discipulado (ou até daquilo ou daqueles que
o Pai te deu para fazer parte de sua vida) é uma boa hora, como diz Joel , para “rasgar o
coração” .
12 O Deus Eterno diz: "Mas agora voltem para mim com todo o coração,
jejuando, chorando e se lamentando. 13 Em sinal de arrependimento, não
rasguem as roupas, mas sim o coração." Voltem para o Eterno, o nosso
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Deus, pois ele é bondoso e misericordioso; é paciente e muito amoroso e
está sempre pronto a mudar de idéia e não castigar. (Joel 2:12-13 BLH)
Boa meditação!
Boa Ceia!
- (À propósito, o “primeiro pão” ainda é seu!)
Jorge Wilson
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A cura não solicitada
10 Certo sábado, Jesus estava ensinando numa sinagoga. 11 E chegou ali
uma mulher que fazia dezoito anos que estava doente, por causa de um
espírito mau. Ela andava encurvada e não conseguia se endireitar. 12
Quando Jesus a viu, ele a chamou e disse: -Mulher, você está curada. 13 Aí
pôs as mãos sobre ela, e ela logo se endireitou e começou a louvar a Deus.
14 Mas o chefe da sinagoga ficou zangado porque Jesus havia feito uma
cura no sábado. Por isso disse ao povo: -Há seis dias para trabalhar. Pois
venham nesses dias para serem curados, mas, no sábado, não! 15 Então o
Senhor respondeu: -Hipócritas! No sábado, qualquer um de vocês vai à
estrebaria e desamarra o seu boi ou o seu jumento a fim de levá-lo para beber
água. 16 E agora está aqui uma descendente de Abraão que Satanás
prendeu durante dezoito anos. Por que é que no sábado ela não devia ficar
livre dessa doença? 17 Os inimigos de Jesus ficaram envergonhados com
essa resposta, mas toda a multidão ficou alegre com as coisas maravilhosas
que ele fazia. (Lucas 13:10-17 BLH)
Esse texto nos fala de uma cura que se dá no sábado, dentro da sinagoga, no espaço
do culto a Deus. Ensinando à multidão Jesus percebe alguém curvado - uma mulher
de costas tão arqueadas que seu horizonte devia ser seus próprios pés. Tudo leva a
crer que era uma mulher piedosa pois mesmo com todo o seu problema físico estava
na sinagoga no dia de sábado.
Lucas escreve que logo após percebe-la , Jesus a chamou e disse: -Mulher, você está
curada. Deve ter sido difícil para ela caminhar até onde Jesus estava, ser o centro das
atenções numa posição física tão pouco digna – curvada sobre si mesma. O que é
interessante é que ao chamá-la Jesus lhe declara a cura, antes mesmo da imposição de
mãos.
Aí pôs as mãos sobre ela, e ela logo se endireitou e começou a louvar a Deus. No
ato da imposição de mãos, Jesus parece falar ao saudável nela, pois já estava curada.E o
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interessante é que ela se endireita e começa a glorificar ao Deus de Abraão, e não a
Jesus.
Mas o chefe da sinagoga – representante da religião oficial - reclama porque acha que
fizeram a cura certa no dia errado. Jesus o chamou de Hipócrita pois havia se dirigido
à multidão mas mandando de fato um recado a Jesus para que não curasse no
sábado.Jesus então lembra o que está escrito sobre os animais na própria Lei.
Hipócritas! No sábado, qualquer um de vocês vai à estrebaria e desamarra o
seu boi ou o seu jumento a fim de levá-lo para beber água. 16 E agora está
aqui uma descendente de Abraão que Satanás prendeu durante dezoito anos.
Por que é que no sábado ela não devia ficar livre dessa doença?
Leon L. Morris, comentando esse texto:
“No sábado todos os animais poderiam ser levados para fora com uma corrente ou
similar, posto que nada era carregado (Shabbath 5:1). A água podia ser tirada para
eles e colocada numa gamela, embora o homem não devesse segurar um balde
para o animal beber dele (Erubin 20b, 21 ). Se os animais podiam receber tais
cuidados, tanto mais uma filha de Abraão podia ser liberta dos laços de Satanás no
sábado. Na realidade Jesus usa um termo enfático,e diz que ela devia ser livrada. A
aflição da mulher era devida à atividade satânica e Satanás devia ser derrotado. Isto
não significa, naturalmente, que a mulher era ímpia. Estava freqüentando o culto, e
a descrição que Jesus dá dela parece demonstrar que ela era piedosa. Mas a
doença dela era maligna”1
A cura da “filha” de Abraão se dá no espaço do culto a Deus. Acredito que Jesus, que
está conosco no culto, quer que saiamos erguidos, tendo de volta nossa dignidade de
filhos de Deus. Ele – sem pedir nossa licença - já nos libertou na cruz, mas é no culto ao
Pai que Ele fala ao saudável dentro de nós , ao Consolador que fará a obra de nos
endireitar e nos dar novos horizontes.
Boa meditação!
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1 - Morris L..L. – Lucas - Introdução e comentário. Ed. Vida Nova . São Paulo. 1ª ed .
1983, pág 210-211.